Epílogo
Estávamos caminhando lado a lado, seguindo para o mesmo lago onde tudo começou. Eu o observava de quando em quando, suspirando ao inalar seu perfume e sentindo o calor de sua mão junto da minha. E então, quando eu menos esperava, quando eu estava completamente distraída memorizando cara traço de seu rosto pela milésima vez, ele retribuía o olhar de forma tão intensa que eu precisava me controlar para não sair tropeçando pelas raízes e arbustos do caminho. Essa era uma grande diferença entre nós, porque enquanto eu precisava muito dos vocábulos para me expressar e para interagir com os outros, Severo conseguia demonstrar suas intenções ou seus sentimentos de forma muito mais inteligível apenas com um olhar enviesado ou um meio sorriso. Mas descobri que adorava aquele jogo e aprendia rápido. Eu estava certa de que não demoraria muito para a mudez ser a forma de diálogo mais eficaz entre nós. Um silêncio cheio de significado e que seria o bastante para nos unir de forma harmoniosa por muito, muito tempo. Evitaríamos a escolha errada de palavras (e eu sabia que eu tinha essa dificuldade porque falava demais e sem pensar), o que poderia causar problemas porque nem sempre interpretaríamos da mesma maneira o que foi dito. E a mentira? Seria quase impossível entre nós. Como mentir para a pessoa que você ama a olhando nos olhos? Talvez Severo, um notório mestre em leitura de mentes e Oclumência, até fosse capaz disso se realmente se empenhasse, já que durante anos enganou o próprio Você-Sabe-Quem. Mas eu confiava nele e decidi acreditar que por vontade própria ele me respeitaria e seria sempre sincero.
Era nosso último dia no retiro e eu já fantasiava sobre minha nova vida. Era engraçado pensar nisso, mas se antes da viagem alguém tivesse dito que esse seria o meu futuro, eu acharia uma idéia totalmente absurda e gargalharia até perder o ar. Nem Sibila Trelawney seria capaz de criar uma previsão tão mirabolante e improvável. E veja o que o destino aprontou...
Nos sentamos sob a sombra de um enorme carvalho e eu repousei a cabeça em seu ombro. Respirávamos a paz causada pela recentemente reencontrada felicidade. Tudo parecia tão novo! O meu modo de sentir o mundo, minhas perspectivas, meus sonhos e minhas vontades haviam mudado da água para o vinho de uma hora para a outra. Eu me sentia capaz de qualquer coisa, capaz até de voar sem usar magia, de cantar sem desafinar, de dançar sem pisar no pé do meu parceiro e de dormir uma noite inteira...sem pesadelos.
Quando ele tomou minhas mãos entre as dele para beijá-las, eu sorri. Imagino que eu deveria estar com uma enorme cara de boba apaixonada, porque ele, caracteristicamente, ergueu uma das sobrancelhas antes de me presentear com mais uma amostra da sua voz aveludada. Minhas borboletas, que haviam se rebelado e não me deixavam mais em paz, já estavam até criando uma coreografia. "Você é encantadora, Ninfadora... Mesmo quando me olha como se eu fosse um enorme urso de pelúcia cor-de-rosa".
Quando conseguimos parar de rir, eu o fitei por alguns minutos, afastando com leveza as mechas negras que teimavam em ocultar seu semblante. Era fácil notar que tudo o que eu sentia era recíproco. Eu também fazia bem a ele, pois as olheiras estavam quase sumindo e ele tinha uma aparência muito mais saudável. Eu o abracei e não pude deixar de suspirar languidamente ao sentir seus braços envolverem minha cintura. "Amanhã será um longo dia. Ninguém vai acreditar quando contarmos, Severo...".
Snape me apertou mais contra si, dedicando a atenção de seus dedos aos cachos do meu longo cabelo. "Seria mesmo necessário tornar pública a nossa relação? Eu apreciaria muito a experiência de passar pelo menos um mês da minha vida sem ser jurado de morte...".
Sorri, pensando em como provocá-lo para tomar parte em mais uma de suas brincadeiras peculiares. "Ora, onde foi parar o seu espírito de aventura? Quem o todo poderoso Severo Snape, bruxo dos bruxos, poderia temer?".
Mais um sorriso significativo para a posteridade. "Quem mais além de Molly Weasley, genitora das genitoras? Quando ela souber que eu confisquei a prometida de um de seus tesouros ruivos, é bem capaz de atentar contra a minha vida usando uma de suas panelas".
A cena esdrúxula que ele havia descrito se formou diante dos meus olhos. Nunca ri tanto em toda a minha vida e Severo pareceu muito satisfeito em me proporcionar esses instantes de divertimento, porque não desviou os olhos cheios de ternura de mim um segundo. Enquanto eu recuperava o fôlego, ele se aproximou ainda mais e tocou gentilmente meu rosto. "Minha bela Ninfadora..." sussurrou, tomando mais uma vez os meus lábios como se fossem delicados botões de flor e depois os consumindo possessivamente como se o mundo fosse acabar naquele instante e ele quisesse levar as lembranças do meu gosto para o outro mundo.
Quando nossos rostos se afastaram novamente e eu recuperei a consciência, a noção de espaço e a voz, não conseguia pensar em mais nada a não ser em como era forte o que eu sentia por ele. "Eu te amo, Severo Snape".
Ele sorriu com o canto dos lábios, provocante. "Eu confesso que já desconfiava disso".
Ri, depois de dar um falso tapa no ombro dele. "Seu convencido! Isso não foi nada romântico!".
"E o que seria romântico?".
Pergunta polêmica e que geraria horas de debate. É lógico que eu queria ouvir dos lábios dele que ele também me amava, mas achei que era cedo demais para começarmos a discutir a relação. Era pedir muito de um homem que viveu quase como um ermitão nas masmorras durante anos. "Prefiro não opinar. Acho que você tem plenas condições de deduzir isso sozinho...".
Ele riu, beijando delicadamente minha testa, as maçãs do meu rosto, a ponta do meu nariz e meu queixo antes de posicionar os lábios a uma distância quase nula da minha boca. Quando falou, sua voz era suave e baixa, me fazendo fechar os olhos ao sentir seu hálito resvalar em minha pele. "Na verdade, posso pensar em algumas coisas, mas não sei qual se aproxima mais da sua concepção de romantismo. Estaria de bom tamanho dizer que te amo de uma forma tão forte e completa que me esqueci de quem fui, das coisas horríveis que fiz e testemunhei? Que já não tenho pesadelos? Que agora só o que me interessa é estar ao seu lado a cada segundo da minha existência e dedicar todas as minhas forças a te fazer sorrir? Que estou me sentindo um adolescente idiota e bastante ridículo, mas mesmo assim não caibo em mim de felicidade?".
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu sorri tão sinceramente e por tanto tempo que meus músculos faciais até ficaram doloridos. Naquele momento, antes de agarrá-lo e beijá-lo até ele pedir que eu parasse, eu realmente o olhei como se fosse um enorme e rechonchudo urso de pelúcia. O mais fofo do mundo. E era meu...
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E o que mais posso dizer? Quatro anos se passaram tão rapidamente que eu ainda me lembro de nosso primeiro beijo com riqueza de detalhes. Sentada aqui nessa escrivaninha no meio da madrugada e escrevendo besteiras em um diário que um dia quero mostrar à nossa filha e aos netos que ela nos der, consigo sorrir como uma menina ao me lembrar que posso olhar a qualquer minuto para trás e encontrar meu amor dormindo satisfeito, como o mais feliz dos homens. Severo não é um homem fácil, mas eu também não sou uma mulher com o mais doce dos gênios, e nós sabemos lidar um com o outro muito bem. Posso sussurrar em seu ouvido todas as noites, relembrando os velhos tempos, e confesso que faço isso com uma certa freqüência. Gosto de pensar que assim ele sempre sonhará comigo.
E Remo? Não, eu não o esqueci e não tenho receio de que isso aconteça porque sei que é impossível. Sinto saudades, mas ao mesmo tempo sei que ele está sempre comigo. Ele vive em uma parte de mim, em meu passado doce e cheio de esperanças de antes da guerra. Ocupa em meu coração aquele lugarzinho cativo do primeiro amor. Posso imaginá-lo sorrindo para mim, rindo comigo sempre que Severo solta uma de suas pérolas do humor negro, sempre que estou em um mal dia e destruo metade da casa com meu jeito desastrado, sempre que minha filha, com apenas um olhar meigo muito bem encenado, convence o pai relutante a lhe contar estórias antes de dormir.
Severo também é parte de mim. Aliás, acho que eu já nem existiria sem ele. É meu presente e meu futuro. Estou completamente apaixonada, totalmente entregue ao que ele me faz sentir. O pai da minha filha, o amor da minha vida. Meu anjo...meu anjo negro das masmorras...
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Olá, leitores e leitoras!! :o)
Desculpe, demorei mais que o normal para postar o "Epílogo". Um dos motivos foi a falta de tempo, porque voltei às minhas atividades normais (acabaram as férias...snif). Mas também tem a questão da fic estar terminando...acho que fiquei triste e acabei adiando o momento...rs... Também não sabia se o final estava bom ou se eu deveria reescrever... Bom, mas já era hora de atualizar, né? E aí está! :o)
Espero que gostem! Gostaria que todos comentassem agora que acabou, dizendo o que achou do final e da fic no geral. Dependendo da resposta de vocês, se acharem que eu tenho capacidade de escrever uma fic decente, talvez eu me aventure em outra story quando tiver tempo... :o) Porque foi muito legal escrever essa!
Queria agradecer a todos que leram e em especial para o pessoal que comentou e acompanhou:
LadyStardust, Morgana Black, Hannah M.D.Snape, Bruna Figueredo, Krika J. Lupin, Mrs Radcliffe, RenataT, Cris, Christy (TheBlueMemory)
Valeu mesmo meninas! Vocês me ajudaram muito com os comentários!!!Agora vou continuar acompanhando as fics de vocês, viu?!
Um agradecimento também para nossa amiga Rowling, que criou os protagonistas dessa narrativa. E um MUITO OBRIGADA para a encantadora Ninfadora Tonks e para o nosso sarcástico, inteligente, misterioso e vitaminado Professor Snape! :o) Sevvie, nós confiamos em você! :o)
Até mais, pessoal!!!
Respirem fundo e voem alto sempre! :o)
Comentários (1)
Nossa eu amei essa fic, gostei demais do jeito como vc descreveu o Severus, o humor negro dele é simplesmente encantador, tbm gostei muito da Tonks, e a história ficou bonita e não ficou forçada, vc acertou na medida. Nota 10!!!
2011-09-28