Discussão



Hoje, quando acordei, os pombos que moram na escada de incêndio do lado de fora da minha janela estavam arrulhando feito desesperados ( Bichento estava no peitoril da janela – bem, pelo menos o quanto que ele cabia ali – vigiando eles), e o sol brilhando. Levantei na hora, acreditem ou não, e não tive que apertar sete mil vezes o botão do despertador. Tomei um banho e não me cortei quando raspei as pernas, encontrei no fundo do armário uma blusa quase sem rugas e até consegui deixar meus cabelos mais ou menos apresentáveis. Era sexta-feira. Sexta-feira é o meu dia predileto, fora os sábados e domingos. Sextas-feiras sempre significam dois dias – dois gloriosos dias de relaxamento – SEM poções pela frente.
Entrei na cozinha e lá estava aquela luz cor-de-rosa entrando pela clarabóia, batendo bem em cima de mamãe, que estava usando seu melhor quimono e fazendo torrada francesa com ovos desidratados em vez de ovos de verdade, mesmo que eu não seja contra ovos desde que soube que eles não são do tipo gelado e, portanto, nunca poderiam vir a ser pintos.
Eu estava toda pronta para agradecer a ela por pensar em mim, quando ouvi aquele ruído baixo.
E lá estava meu PAI sentado à mesa da sala de jantar (bem, é apenas uma mesa, já que a gente não tem sala de jantar, mas enfim...), lendo o Profeta Diário e usando terno.
Terno. Às sete horas da manhã.
Mas depois me lembrei. Não posso acreditar que tenha me esquecido:
Eu sou uma princesa.
Oh, meu Deus. Tudo que havia de bom em meu dia, simplesmente foi embora pela janela depois disso.
Logo que me viu, meu pai ficou cheio de:
- Ah, Mione.
Eu sabia que não ia escapar. Ele só diz “Ah, Mione” quando vai me dar um baita sermão.
Ele dobrou com todo o cuidado o jornal e colocou-o de lado. Meu pai sempre dobra os jornais com capricho, deixando todas as bordas certinhas. Minha mãe nunca faz isso. Ela geralmente amassa as páginas, deixando-as fora de ordem no sofá ou junto ao vaso sanitário. Esse tipo de coisa faz meu pai ficar doido e é provavelmente a razão por que eles nunca se casaram.
Percebi que minha mãe havia posto a mesa com nossos melhores pratos Kmart, aquele com listras azuis, e os grandes copos de plástico em forma de cacto para tomar com cerveja amanteigada, comprado na Ikea. Chegou até a colocar um buquê de girassóis artificiais no centro da mesa, com um vaso amarelo. Ela havia feito tudo isso pra me animar, eu sabia, e tinha provavelmente acordado bem cedo para fazer isso. Mas, ao invés de me animar, tudo isso, só me deixou mais triste.
Porque aposto que não usam copos de cerveja amanteigada em forma de cacto no café da manhã no palácio de Mônaco.
- Nós precisamos conversar Mione. – disse meu pai. É sempre assim que começam seus piores sermões. Exceto que, desta vez, ele olhou meio esquisito, antes de começar - O que foi que houve com seu cabelo?
- Por quê? – Levei a mão à cabeça. Eu achava que pra variar, meu cabelo estava legal.
- Não há nada com o cabelo dela, Felipe. Sente-se Mione, e coma alguma coisa. Eu até esquentei o xarope pra torrada francesa, do jeito que você gosta.
Fiquei grata por essa gentileza da mamãe. Fiquei mesmo. Mas eu não ia me sentar e conversar sobre meu futuro em Mônaco. Quero dizer, dá um tempo!
- Oh, eu adoraria, de verdade, mas tenho que me mandar. Tenho exame hoje de Runas Antigas e prometi a Gina que a gente se encontraria para comparar as anotações...
- Sente-se.
Cara, meu pai realmente fala, quando quer, como comandante de nave espacial da Federação.
Sentei. Mamãe empurrou umas torradas francesas pro meu prato. Derramei xarope por cima e dei uma mordida, apenas para ser educada. O gosto era de papelão.
- Mione, - disse mamãe. Ela ainda estava tentando acabar com o sermão de papai. - Eu sei como você deve estar chateada com tudo isso. Mas, na verdade, a coisa não é tão ruim quanto você está pensando.
Oh, tudo bem. De repente, alguém me diz que sou uma princesa e devo ficar toda feliz com isso?
- Quero dizer, a maioria das meninas ficaria provavelmente felicíssima ao descobrir que o pai é um príncipe! – continuou mamãe.
Nenhuma menina que eu conheço. Na verdade, isso não é verdade. Fleur Delacour, provavelmente, adoraria ser princesa. Na verdade, ela já pensa que é.
- Simplesmente pense em todas as coisas lindas que poderia ter, se fosse morar em Mônaco. Como um carro voador! Você sabe como é impraticável ter um carro voador aqui na cidade. Mas em Mônaco, quando você fizer 16 anos, tenho certeza de que seu pai comprará... Ou um hipogrifo! Você sempre quis um hipogrifo não quis? Em Mônaco você pode ter um! Igual aquele do Hagrid...
- Mamãe, o que você está fazendo? Você quer que eu vá morar com papai? Esta cansada de mim ou é alguma outra coisa? Quer que eu vá morar com papai, para que você e o Professor Snape possam... Possam...
Não pude continuar porque comecei a chorar. Mas mamãe estava chorando também. Saltou da cadeira, deu a volta na mesa e começou a me abraçar, dizendo:
- Oh, não, amor! Como é que você pode pensar uma coisa dessas? Eu quero só o que é melhor pra você.
- Eu também. – disse papai parecendo aborrecido.
- O melhor pra mim é ficar aqui mesmo e terminar hogwarts. E, depois, vou investir no F.A.L.E e ajudar os elfos domésticos.
Papai disse:
- Você não vai investir no F.A.L.E.
- Vou, sim, e vou também para a Islândia para ajudar os elfos.
- Não vai de jeito nenhum – falou furioso – Você vai para outra escola de magia. Durmstrang, acho.
- Papai, Durmstrang é escola masculina...
- Então Beauxbatons talvez.
Isso me fez chorar mais ainda.
Mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, mamãe levantou a mão e disse:
- Felipe, não. Nos não estamos conseguindo nada aqui. Mione tem que ir para a escola. Ela já esta atrasada...
Comecei logo a procurar a mochila e o casaco.
- Isso mesmo. Tenho que renovar meu bilhete de trem.
- Moody leva você.
Eu disse a papai que não era necessário, porque me encontro todos os dias com Gina em Kings Kross, onde pegamos juntas o trem da linha 9 e meia.
- Moody pode levar sua amiga também.
Olhei para mamãe, que estava olhando para papai. Moody é auror, mas resolveu servir como motorista de papai para me dar segurança. Ele agora vai a todos os lugares aonde papai vai.
OK, a ultima coisa que eu queria era que o segurança de papai me levasse para a escola. Como eu ia explicar isso a Gina? Oh, não liga pra ele. Ele é apenas o motorista de papai. Até parece. A única pessoa em Hogwarts que chega de carro voador é aquela menina podre de rica, Luna Lovegood, o pai é editor de O Pasquim, que agora virou moda. E todo mundo acha engraçado porque o pai dela fica preocupado com medo que ela seja seqüestrada. Na rua onde ela mora.
Mas papai foi inflexível na questão do motorista. Como eu agora sou uma princesa oficialmente, tem que haver toda essa preocupação com meu bem-estar. Ontem, quando eu era Mione Granger, não tinha problema andar de trem. Hoje que sou a Princesa Hermione, esqueça.
Bem, tudo bem. Não parecia valer a pena discutir isso. Quero dizer, há coisas piores com que tenho com que me preocupar.
Como em que país eu vou morar no futuro próximo.
Quando eu estava saindo – meu pai mandou Moody subir ate o sótão e me escoltar ate o carro, uma coisa realmente ridícula – ouvi dizer ele dizer a mamãe:
- Tudo bem, Helen. Quem é esse tal Snape sobre quem Mione estava falando?
Ops.

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