A revelação



Bem...
Acho que agora sei por que meu pai está tão preocupado por não ser mais capaz de ter filhos.
PORQUE ELE É UM PRÍNCIPE!!!
Meu Deus, Por quanto tempo eles pensavam que poderiam esconder isso de mim?
Embora, pensando bem, tenham conseguido fazer isso por muito tempo. Quero dizer, ESTIVE em Mônaco. Miragnac, aonde vou todos os verões, e também na maioria dos Natais, é o nome da casa de minha vó na França. Ela fica, na verdade, na fronteira com a França, bem perto de Mônaco, que fica entre a França e a Itália. Eu vou a Miragnac desde que nasci. Mas nunca com a minha mãe. Só com meu pai. Minha mãe e meu pai nunca moraram juntos. Ao contrario de muitas garotas que conheço, que vivem desejando que seus pais voltem a viver juntos depois de terem se divorciado, eu me sinto perfeitamente feliz com esse arranjo. Meus pais se separaram antes de eu nascer, embora tenham mantido sempre relações amigáveis. Isto é, exceto quando meu pai está mal-humorado, ou quando minha mãe está pelo avesso, como acontece de vez em quando. Acho que as coisas pioraram muito, se morassem juntos.
De qualquer modo, Mônaco é o lugar aonde minha vó me leva pra comprar roupas no fim de todos os verões, quando fica cansada de olhar pras minhas roupas. Mas ninguém lá jamais disse algo como meu pai ser um PRINCIPE.
Agora me lembro que, há uns dois anos, fiz um dever sobre Mônaco e copiei o nome da família real, que é McGonagall. Mas mesmo nessa ocasião não liguei o nome da família ao do meu pai. Sei que o nome dele é Felipe McGonagall. Mas o nome do príncipe de Mônaco que estava listado, na enciclopédia que consultei como Artur Christoff Felipe Gerard Granger McGonagall.
E aquela foto dele devia ser muito velha, velha. Papai já não tinha cabelo nenhum antes de eu ter nascido (de modo que, quando fez quimioterapia, não dava nem pra ver, por ele já ser praticamente careca). A foto do príncipe de Mônaco mostrava alguém com um BOCADO de cabelo, costeleta e até bigode.
Agora posso entender por que minha mãe se apaixonou por ele, naquele tempo em que ela estava na faculdade. Ele tinha alguma coisa de um Baldwin.
Mas um PRINCIPE? De um PAÍS inteiro? Isto é, eu sabia que ele estava na política é claro, e que ele tinha dinheiro... Quantas garotas da minha escola têm casas de verão na França? Em Martha’s Vineyard, talvez, mas não na França... Mas um PRINCIPE?
Então, o que eu quero saber é o seguinte: se meu pai é um príncipe, por que eu tenho que aprender poções?
Estou falando sério.
Não acho que tenha sido uma boa idéia de papai me dizer na Palm Court, no Plaza, que era um príncipe. Em primeiro lugar, quase tivemos uma reencenação do incidente do short. No inicio, o porteiro não quis nem me deixar entrar. Ele disse:
- Nenhum menor de idade sem companhia de um adulto. – o que acabava com toda aquela xaropada do filme “ Esqueceram de mim 2”, certo?
Eu só dizia:
- Mas, eu vim aqui para me encontrar com meu pai...
- Nenhum menor de idade, sem companhia de um adulto.
Isso parecia totalmente injusto. Eu nem estava usando short. Estava vestida com meu uniforme de Hogwarts. Quero dizer, saia plissada, meias pelos joelhos, a coisa toda. Tudo bem, eu talvez estivesse usando Doc Martens, mas, ora vamos! Eu ERA praticamente aquela garota Eloise, que supostamente mandava e desmandava no Plaza.
Finalmente, depois de ficar em pé ali durante quase meia hora, dizendo o tempo todo:
- Mas meu pai... Mas meu pai... Mas meu pai...
A recepcionista apareceu e me perguntou:
- Quem é o seu pai, mocinha?
Logo que eu disse, ela me deixou entrar. Acho que isso foi porque ELES sabiam que ele era um príncipe. Mas à filha dele, á própria filha dele, ninguém dizia isso!
Encontrei papai a minha espera numa mesa. Todo mundo acha que chá no Plaza é um negocio importante à beça. Vocês deviam ver todos aqueles turistas alemães batendo fotos uns dos outros enquanto comiam bolinhos de aveia com chocolate. De qualquer modo, eu ficava toda animada quando era menininha e, como meu pai se recusa a acreditar que 14 anos não é mais idade de menininha, a gente ainda se encontra lá quando ele está na cidade. Oh, a gente também vai a outros lugares. Por exemplo, a gente sempre vai assistir a “A Bela e a Fera” , meu eterno musical favorito da Broadway. Não dou a mínima para o que a Gina diz sobre Walt Disney e sua suposta aversão a mulheres. Eu vi a peça sete vezes.
E meu pai também. A parte favorita dele é quando aparecem os garfos dançantes.
De qualquer modo, a gente estava ali tomando chá e ele começa a me dizer em voz muito séria que ele é o príncipe de Mônaco e que essa coisa horrível acontece: Começo a ter soluços.
Isso só acontece quando bebo alguma coisa quente e como pão depois. Não sei por quê. Isso nunca aconteceu antes no Plaza, mas, de repente, meu pai começou a falar assim:
- Mione, quero que você saiba a verdade. Acho que você já tem idade suficiente agora e o fato é o seguinte: agora que não posso ter mais filhos, esta situação vai produzir um impacto enorme na sua vida e é apenas justo que eu lhe diga. Eu sou o príncipe de Mônaco.
- É mesmo papai? – soluço
- Sua mãe sempre acreditou sinceramente que não havia nenhuma razão pra você saber disso e eu concordei com ele. Eu tive uma infância... bem, muito insatisfatória...
E ele não estava brincando. Viver com Minerva (vovó) não podia, de jeito nenhum, ter sido um piquenique (soluço).
- Concordei com sua mãe que um palácio não é lugar para criar uma menina. Claro, na ocasião, eu não pensava que ela tivesse intenção de criar você no sótão de uma artista boêmia em Greenwitch Village, mas reconheço que isso não parece ter lhe causado qualquer mal. Para dizer a verdade, acho que crescer na cidade de Londres instilou você um sadio volume de ceticismo sobre a raça humana em geral...
(Soluço). E ele nem conhecia Fleur Delacour.
-... Que é algo que só adquiri na faculdade e que acredito ser responsável, em parte, pelo fato de eu ter tanta dificuldade em estabelecer relacionamentos interpessoais íntimos com mulheres... O que estou querendo dizer é que sua mãe e eu pensamos que, não lhe dizendo nada, estávamos lhe fazendo um favor. O fato é que nunca imaginamos que poderia surgir uma situação na qual você poderia ascender o trono. Eu tinha apenas 25 anos quando você nasceu. Eu tinha certeza que ia conhecer outra mulher, casar com ela, e ter mais filhos. Mas agora, infelizmente, isso nunca vai acontecer. De modo que você, Mione, é a herdeira do trono de Mônaco.
Tive outro soluço. A coisa estava ficando embaraçosa. Não eram soluços bonitinhos de mocinha educada. Eram enormes e faziam meu corpo todo pular da cadeira como se eu fosse algum tipo de rã.Os turistas alemães continuavam a olhar para nós, soltando risinhos e fazendo outras coisas. Eu sabia que aquilo que papai me dizia era supersério, mas não podia controlar os soluços. Simplesmente continuava a soluçar! Tentei prender a respiração e contar até trinta... Só cheguei até dez, antes de soluçar de novo. Botei um cubo de açúcar em cima da língua e deixei que se dissolvesse ali. De nada adiantou. Tentei pregar um susto em mim mesma, pensando em minha mãe e o Professor Snape em um beijo de língua. – e nem nisso funcionou.
Finalmente, papai disse:
- Mione? Mione, você está me ouvindo? Ouviu alguma palavra do que eu disse?
- Papai, você pode me dar licença um minuto?
Ele pareceu magoado, como se o estômago lhe doesse, e voltou a se afundar na cadeira, daquele seu jeito derrotado, mas disse:
- Pode ir
E me deu 5 galeões para dar a servente do banheiro, que eu, claro, guardei pra mim. Cinco galeões para a servente! Mas, Deus, minha mesada inteira é 10 galeões por semana.
Não sei se você já esteve alguma vez no banheiro feminino do Plaza, mas é, com certeza, o mais legal de Londres. É todo cor-de-rosa, com espelhos e pequenos sofás por todos os lados, para o caso de a gente se olhar e sentir ânsia de desmaiar por causa de nossa beleza ou de qualquer coisa assim. Entrei batendo a porta, soluçando feito uma louca, e todas aquelas mulheres em seus penteados chiques ergueram os olhos, aborrecidas com a interrupção. Acho que fiz com que elas borrassem o batom ou alguma outra coisa.
Fui até um dos reservados, cada um dos quais, alem do vaso, tem uma pia particular com um espelho enorme e uma penteadeira com uma banqueta com borlas pendentes. Sentei-me no vaso e concentrei-me não em não soluçar mais, mas apenas no que meu pai havia dito.
Ele é o príncipe de Mônaco.
Nesse momento, um monte de coisa começou a fazer sentido. Como, por exemplo, quando eu viajava de avião para a França, entrava pelo terminal, mas quando chegava lá, era escoltada para fora do avião antes de todo mundo e embarcava numa limusine para ir ao encontro dele em Miragnac.
Eu sempre pensei que isso acontecesse porque ele tinha privilegio de viajante habitual na companhia.
Agora acho que era porque ele é príncipe.
E também o fato de que sempre que Minerva (vovó) me levava ás compras em Mônaco, isso acontecia antes ou depois do expediente das lojas. Ela telefonava antes para que houvesse gente á nossa espera e jamais alguém disse não. Em Londres, se minha mãe tentasse fazer isso, as vendedoras da Gap teriam morrido de rir.
E quando estou em Miragnac nós nunca saímos pra jantar em algum lugar. Sempre fazemos as refeições no castelo, ou, às vezes, em outro castelo próximo. Mirabeau, de propriedade de um daqueles nojentos franceses que tem um monte de filhos esnobes dizendo:
- Isso é podre
Ou
- Você é um punheteiro.
Uma das meninas mais novas, Nicole, era meio minha amiga mas, uma noite, ela me contou que estava fazendo amor francês com um garoto francês, e eu não sabia o que era amor francês. Eu só tinha 11 anos nessa época, o que não é desculpa, porque ela também tinha 11. Eu simplesmente pensava que amor francês era uma esquisitice francesa, como gafanhoto frito, ataques aéreos ou coisa assim. E falei isso na mesa de jantar, na frente dos pais de Nicole, e daí em diante, nenhuma das crianças falou mais comigo.
Eu bem que gostaria de saber se os franceses sabem que meu pai é príncipe de Mônaco. Aposto que sabem. Deus, eles devem ter pensado que eu era retardada ou coisa parecida.
A maioria das pessoas nunca ouviu falar de Mônaco. Sei que quando tivemos que fazer nossas pesquisas, nenhum dos garotos sabia que país era esse. Nem minha mãe, é o que ela diz, antes de conhecer meu pai. Ninguém famoso nasceu nesse lugar. E quem nasceu lá jamais inventou alguma coisa, escreveu alguma coisa, ou se tornou astro ou estrela de cinema. Muitos caras que nasceram em Mônaco, como meu avô, lutaram contra os nazistas na II Guerra Mundial, mas, fora isso, não são realmente conhecidos por coisa nenhuma.
Ainda assim, pessoas que ouviram falar de Mônaco adoram ir lá porque o lugar é belíssimo, com o sol quase o tempo todo, com os Alpes cobertos de neve lá no fundos e o Mediterrâneo cristalino bem na frente. O País têm um monte de colinas, algumas delas tão inclinadas quanto às de San Francisco e a maioria com oliveiras crescendo nos lados. O principal produto de exportação de Mônaco, lembro por causa do meu trabalho de pesquisa, é azeite de oliva, o tipo caro pra caramba que mamãe só usa para temperar salada.
Lá há também um palácio. É mais ou menos famoso porque foi usado uma vez como cenário de um filme, um filme sobre os três mosqueteiros. Eu nunca estive lá, mas passamos de vassoura por fora, eu e Minerva. O palácio tem todas aquelas torretas, contrafortes avançados, esse tipo de coisa.
Estranho que Minerva nunca tenha dito, quando a gente passava de vassoura lá, que morou ali em outros tempos.
Meus soluços sumiram. Acho que posso voltar sem medo a Palm Court.
Vou dar um galeão a atendente do sanitário, mesmo que ela não tenha me atendido.
Ei, eu tenho dinheiro para dar uma de mão-aberta: meu pai é príncipe!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.