Última noite em Godric's Hollo
A tarde em Godric’s Hollow foi passada calmamente. Enquanto Ron e Hermione se mantiveram no quarto a tarde toda a descansar, Harry e Ginny foram arrumando as suas malas e as malas dos amigos, bem como toda a casa. Harry fez um rápido feitiço de limpeza para deixar a cozinha a brilhar. Quando já tudo estava no seu lugar, Harry e Ginny sentaram-se no sofá da sala, exaustos. Ginny estava recostada no colo e Harry enquanto este lhe afagava distraidamente os cabelos, com os olhos vítreos.
- Para onde vamos agora Harry? – perguntou Ginny, observando o ar pensativo de Harry.
Harry focou os olhos e olhou para baixo, observando Ginny. Estudou-lhe cada linha do rosto, cada sarda, o nariz pequeno e bem desenhado, os olhos amendoados, fixos nos seus, os lábios semiabertos e carnudos, os cabelos que lhe caíam aos caracóis nos seus joelhos.
- Não sei. – respondeu finalmente Harry. – Só sei que devemos sair daqui rápido. Não deve demorar muito até a Ordem da Fénix se aperceber que estamos aqui e virem à nossa procura. Sabes que é mais difícil encontrar as Horcruxes se eles souberem onde estamos. Eles nunca nos deixariam fazer isto por nossa conta.
Ginny reflectiu um pouco e acenou a cabeça em concordância.
- Mas onde vamos ficar? Temos que ter um sítio para dormir!
- Não te preocupes. – Harry estava muito seguro de si enquanto falava. – Encontramos sempre um sítio. E sempre podemos conjurar tendas ou dormir em casas abandonadas… Desde que tenhamos as nossas varinhas, estamos bem.
Ginny apertou a mão de Harry na sua e fechou os olhos. Estava de facto exausta. Só de pensar na viagem que teriam que fazer na manhã seguinte já lhe doíam os músculos.
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Ron estava debruçado sobre a cama de Hermione, com a cabeça pousada no colchão, segurando a mão de Hermione na sua. Hermione também tinha adormecido.
Pelo fim da tarde, o estômago infalível de Ron deu um ronco tão sonoro que ambos acordaram com o susto.
- O que foi isto? – perguntou Hermione em sobressalto.
- Hum… - Ron corou até às orelhas e fixou os olhos nas suas mãos que haviam largado as de Hermione. – É que eu estou com fome…
Hermione deu uma gargalhada com gosto, o que fez Ron corar ainda mais.
- Não comeste as bolachas que vieram com o chá, pois não?
- Mas as bolachas eram para ti…
Aí então foi Hermione que corou um pouco… Aquilo nem parecia uma atitude do Ron. Ele estava deveras um cavalheiro.
- Vamos descer para jantar. – disse Hermione, levantando-se.
Ron apressou-se a enlaçar Hermione pela cintura.
- Tens a certeza que podes andar? Bom, aquilo foi um pouco…
Hermione sorriu e olhou nos olhos de Ron.
- Eu estou bem, Ron. – vendo o olhar desconfiado de Ron, completou – Juro!
Ron respondeu-lhe com um meio sorriso e passou a mão de Hermione pelos seus ombros. Saíram os dois do quarto e desceram as escadas até a sala onde estavam Harry e Ginny. Tinham os dois adormecido no sofá, Ginny com a cabeça no colo de Harry, os dois de mãos dadas e a mão esquerda de Harry ainda sobre a fronte de Ginny, como se tivesse adormecido a afagar-lhe o cabelo.
Hermione sorriu ao ver aquela cena tão romântica entre os dois amigos e puxou Ron para a cozinha para que não acordassem os pombinhos.
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Em Grimmauld Place nº 13, a Ordem da Fénix estava reunida para decidir o que fazer. Harry, Ron, Hermione e Ginny estavam desaparecidos havia três dias e todas as corujas que lhes enviavam voltavam com as mensagens intactas.
- Isto só significa uma coisa: as corujas não os conseguem encontrar. – disse Lupin. – Isto pode dever-se a eles terem realizado um feitiço de paradeiro incógnito, mas penso que será demasiado avançado para eles…
- Não te esqueças que Hermione… - começou Arthur Weasley.
- Mesmo para Hermione, um feitiço de paradeiro incógnito é demasiado difícil. – interrompeu McGonnagal. – E numa situação destas eles não devem ter planeado tudo assim tão bem… Foi tudo muito súbito.
Tonks entrou na sala com o bule de chá numa mão e uma bandeja com chávenas na outra. Prevendo tudo numa fracção de segundos, Lupin fez um feitiço de paralisação ao bule e à bandeja quando Tonks tropeçou numa vassoura ali esquecida e foi de encontro à mesa. Tonks sorriu-lhe em agradecimento e Lupin corou até à raiz dos cabelos.
- Mas então em que outras situações é que as corujas não encontram os seus destinatários? – perguntou Molly, impaciente.
- E se eles fizeram um feitiço do paradei… - começou Tonks, sentando-se à mesa ao lado de Lupin e começando a servir o chá.
- Já pensamos nessa hipótese, Tonks. – informou McGonnagal, interrompendo-a. – Está fora de questão.
- Hum… - Tonks parecia verdadeiramente aborrecida por não ter sido prestável.
Notando a sua expressão triste, Lupin procurou a mão livre de Tonks por baixo da mesa e entrelaçou os seus dedos nos dedos de Tonks. Tonks surpreendeu-se com o toque inesperado de Lupin e respondeu acariciando a sua mão com o polegar e ofereceu-lhe um breve sorriso.
- Há mais uma maneira de eles não serem detectados pelas corujas. – constatou Tonks.
- Há? – surpreendeu-se Mr. Weasley. – Qual?
- O feitiço do segredo. – concluiu Tonks. – Eles podem estar numa casa protegida pelo feitiço do segredo e ser essa a razão pela qual as corujas não chegam até eles.
A sala ficou toda em silêncio até que alguém se atreveu a perguntar:
- Chegaram a desfazer o feitiço do segredo em Godric’s Hollow?
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Os quatro em Godric’s Hollow tinham acabado de jantar e discutiam o destino seguinte.
- Algum sítio que te pareça provável que esconda um Horcrux, Harry? – perguntou Ron.
- Há uma coisa que Dumbledore me mostrou no Pensatório que me deixa muito intrigado. Talvez seja lá a próxima paragem, pelo menos para buscar novas pistas.
- E qual é esse sítio? – inquiriu Hermione.
Harry fez uma pausa.
- O orfanato de Voldemort.
Os outros três entreolharam-se.
- Achas que há mesmo um Horcrux lá? – Hermione parecia algo incrédula.
- Se não houver, ao menos averiguamos outras coisas acerca de Voldemort.
A conversa ainda durou mais alguns minutos, mas os quatro ainda queriam aproveitar uma última noite de paz em Godric’s Hollow, por isso, daí por uns momentos, os quatro subiam as escadas em direcção aos quartos.
Ao chegarem ao vestíbulo que dava entrada para todos os quartos da casa todos ficaram algo embaraçados e não sabiam bem o que fazer, por isso, Hermione e Ginny tomaram iniciativa e entraram as duas no seu quarto desejando uma boa noite aos rapazes. A Harry e Ron restou-lhes dirigir-se cada um para o seu quarto.
Harry fechou a porta atrás de si. O quarto parecia-lhe bem mais vazio e sem graça quando Ginny não estava lá. Com um suspiro desabotoou a camisa e atirou-a para cima do berço. Fez o mesmo com as calças. Os sapatos, guardou-os debaixo da cama com as meias dentro, e assim que caiu na cama e pôs os óculos na mesa-de-cabeceira fechou os olhos e apagou-se como uma vela.
Já no seu quarto, Ron lançou-se sobre a cama vestido e fixou os olhos no tecto. Não conseguia parar de pensar em Hermione. Estava tão feliz que uma espécie de ar mágico parecia encher-lhe o peito. Se Fred e George o pudessem ver naquele momento tinha a certeza que eles o iriam ridicularizar… Estava com um sorriso de orelha a orelha, um ar deveras extasiado.
Sentiu então um leve bater à porta.
“O que será que o Harry quer?” – pensou.
Mas ao abrir a porta não era Harry quem o esperava do outro lado, mas sim Hermione.
- Pensei que estavas a dormir?
- Decidi fazer-te uma visitinha, afinal, nem te dei um beijo de boa noite. – Hermione corou e depositou um beijo na bochecha de Ron. – Boa noite.
Desta vez não fez menção de sair e Ron sorriu. Puxando Hermione para dentro do seu quarto, Ron fechou a porta atrás dela. Assim que ouviu o clic da porta a ser trancada, Ron beijou os lábios de Hermione, encostando-a ligeiramente à parede e segurando-a pela cintura. Hermione respondeu ao beijo enlaçando os seus braços à volta do pescoço de Ron.
Depressa já estavam os dois a beijar-se apaixonadamente, agarrando-se mutuamente e dirigindo-se aos poucos para a cama. De repente uma espécie de aviso sonoro despontou na cabeça de Hermione e gritava “Isto não está certo!” no exacto momento em que sentiu o colchão roçar nos seus joelhos.
Gentilmente, Hermione separou-se de Ron, empurrando os seus ombros ligeiramente e olhou para o lado, evitando olhar directamente para Ron. Já Ron parecia estar algo surpreso com a atitude de Hermione.
- O que se passa? – perguntou.
Hermione ficou o ponto abaixo do queixo de Ron e tentou responder-lhe. Abriu a boca algumas vezes, mas sempre que o fazia não sabia bem o que dizer. Então aconteceu-lhe algo que não era habitual. Sentiu os olhos a humedecer e teve uma crise de choro mesmo em frente a Ron.
Abismado, Ron segurou Hermione pelos ombros e inclinou a cabeça na direcção da cara de Hermione e perguntou:
- Eu fiz algo de errado?
Hermione abanou a cabeça e tapou os olhos com as mãos. Sem saber mais o que fazer, Ron abraçou Hermione, encostando a cabeça dela no seu peito e aconchegou-a nos seus braços. Quando Hermione se acalmou procurou a cama para se sentar e Ron sentou-se ao seu lado, tomando as mãos dela nas suas. No entanto não lhe fez nenhuma pergunta, visto que as suas perguntas a pareciam estar a transtorná-la.
- Desculpa. – murmurou Hermione. – É esta coisa toda da guerra, fico assim meia pateta.
- Nem tens de que te desculpar. – respondeu Ron. – Eu só queria saber o que se passa aí dentro. – e dizendo isto bateu levemente com o dedo indicador na teste de Hermione.
Hermione fitou as suas mãos entre as mãos de Ron.
- É que eu sinto que não estou preparada… É só.
Ron olhou-a por alguns segundos. Então soltou uma gargalhada que estava entre o alívio e a incredulidade.
- Isso nem me passou pela cabeça! – esclareceu.
Hermione fitou-o e soube que Ron estava a dizer a verdade. Sentiu uma vontade imensa de se enfiar pelo chão dentro e desaparecer. Que vergonha! Agora o que iria o Ron pensar dela?
Mais uma vez escondeu a cara entre as mãos, mas Ron segurou-as e afastou-as da cara dela. Em seguida beijou-lhe as mãos e aproximou-se dela. Beijou-lhe a bochecha e acariciou-lhe a face, olhando-a nos olhos. Hermione caiu-lhe nos braços num abraço apertado.
- Eu amo-te Ron. – aquilo parecia-lhe a única coisa acertada a dizer naquela noite, por isso disse-o.
- Eu também te amo, Hermione.
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Ginny abriu a porta do quarto de Harry e entrou pé ante pé. A respiração profunda de Harry não enganava: Harry já tinha adormecido. Ginny demorara demasiado tempo a lá chegar. Fechou a porta devagar e aproximou-se da cama. Harry estava enrolado debaixo dos lençóis, imóvel e de olhos fechados.
Ginny sentou-se na beira da cama devagar. Harry não moveu um músculo. Então, com muito cuidado, Ginny deslizou para debaixo dos lençóis e deitou-se ao lado de Harry.
Harry manteve-se imóvel por um instante, mas de seguida passou o braço em volta da ruiva e sussurrou-lhe, ainda de olhos fechados:
- Não és tão silenciosa como imaginas.
Assustada, Ginny soltou um gritinho. Harry abriu os olhos e riu-se. Ginny deu-lhe um safanão, o que fez Harry rir ainda mais.
- Acha que tem muita graça senhor Potter?
- Eu não acho, eu tenho a certeza. - e dizendo isto, deu-lhe um beijo curto nos lábios. – E o que anda a menina a fazer fora da cama a estas horas e ainda por cima a enfiar-se em camas alheias enquanto as pessoas dormem?
- Se quiseres posso voltar para a minha cama. – brincou Ginny.
- Nah, há espaço suficiente aqui. – disse Harry.
E dizendo isto agarrou-a e puxou-a para cima dele para a poder beijar melhor.
- Será que daqui por uns anos ainda vamos fazer isto? – perguntou Ginny.
- O quê? Beijar-nos na cama dos meus pais? – brincou Harry. – Acho que se pode arranjar qualquer coisa.
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Em Grimmauld Place nº 13 todos dormiam. Todos menos Lupin e Tonks. A lua cheira seria daí por 5 dias e eles queriam aproveitar algum tempo juntos.
Estavam sentados à mesa na cozinha, Tonks com a cabeça pousada no ombro de Lupin enquanto este lhe acariciava a mão direita.
- Estou preocupada com aqueles miúdos. – disse Tonks. – Como é que eles se arriscam assim? Pregar um susto destes na gente? Ainda bem que amanhã de manhã vamos logo buscá-los a Godric’s Hollow, antes que aconteça alguma coisa séria. Eles nem pensam no perigo que correm!
- É normal Nimpha. – respondeu Lupin sem deixar de acariciar a mão de Tonks. – Com a idade deles, nós teríamos feito a mesma coisa.
- Ah, mas vocês eram os maiores foras-da-lei de Hogwarts. – brincou Tonks.
Lupin fez de conta que pensava.
- Quer-me parecer que há uma certa menina de cabelo cor-de-rosa que acabou por se apaixonar por um deles… Que por acaso até era o mais certinho do grupo.
Tonks riu com gosto.
- O mais certinho do grupo? Isso até soa mal.
De seguida beijaram-se carinhosamente. Tonks abraçou-se a Lupin e sussurrou-lhe ao ouvido:
- Vamos para cima Remus?
- Tudo o que quiseres.
E dizendo isto pegou em Tonks ao colo e levou-a escadas acima, com uma força que ele desconhecia havia anos e só Tonks tinha sido capaz de lhe dar. Como amava aquela rapariga!
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