Último dia em Godric's Hollow
- Hermione!!! - Harry saiu disparado pela porta do quarto em direcção Às escadas onde Hermione e Ron estavam a beijar-se como se não houvesse amanhã. – Oh, por amor de Deus, parem de inspeccionar as amígdalas um do outro e ouçam!
Ron e Hermione largaram-se num sobressalto com os gritos de Harry, ficando com um ar entre o assustado e o chocado.
- Harry, que falta de…
- Desculpa, Hermione, criticas a minha boa educação depois. – interrompeu Harry. – Olhem só o que eu encontrei!
Hermione e Ron olharam intrigados para o objecto que Harry transportava nas mãos com uma devoção quase religiosa. A boca de Hermione escancarou-se e Ron esbugalhou os olhos.
- Mas, como?... – balbuciou Hermione. – Aqui? Porquê?...
- Onde estava isso, Harry? – conseguiu Ron articular.
- Por estranho que pareça, no meu berço. – respondeu Harry. – Mesmo por baixo dos cobertores. Como se alguém o tivesse escondido ali para alguém o encontrar…
- E esse alguém serias tu. – finalizou Ginny que chegava por trás de Harry.
Harry olhou Ginny intrigado. Ginny continuou a explicar:
- Era obvio que a primeira pessoa a entrar nesta casa serias tu e que irias vasculhar toda a casa em busca de coisas dos teus pais… Mas teria que estar bem escondida para o caso de alguém chegar aqui antes… Afinal, quem estaria interessado num berço?
Apesar de tudo, a explicação de Ginny fazia muito sentido… Mas a questão era, porque tinha ido aquele objecto, tão deslocado de tudo o que tinha naquela casa, parar naquele sítio?
- Harry, posso pegar-lhe? – perguntou Hermione.
Harry passou então a graciosa bainha de espada, de pele de dragão negra, cravejada a rubis e com bordas de ouro. As letras de ouro podia ler-se: Godric Gryffindor. Ao tocar-lhe, Hermione tremeu ligeiramente, o que Harry pensou que se devia à emoção. Logo se apercebeu que era mais que isso. Hermione revirou os olhos e desfaleceu nos braços de Ron, ao mesmo tempo que Harry apanhava de novo a bainha.
- O que se passou? – perguntou Ron, segurando uma Hermione desmaiada ao colo.
- Não sei. – Harry parecia verdadeiramente confuso. Hermione não era o tipo de rapariga de desmaiar por pegar na bainha da espada de Godric Gryffindor.
- Posso pegar-lhe eu? – pediu Ginny.
Harry hesitou, mas entregou o objecto à ruiva, colocando-se mais perto desta para o caso de lhe suceder o mesmo que a Hermione. No entanto, Ginny pegou-lhe e não desmaiou. Mas os seus olhos arregalaram-se em compreensão e entregou de novo a bainha a Harry, tremendo como varas verdes.
- Harry… eu sei porque Hermione desmaiou. – disse Ginny, com um fiozinho de voz. – Eu só me senti assim uma vez ao pegar em algo.
Harry olhou-a, em busca de uma resposta. Finalmente Ginny esclareceu tudo:
- Eu só me senti assim no dia em que peguei pela primeira vez no diário de Tom Riddle.
Harry encarou a bainha. Tinha a certeza do que aquilo era e porque estava ali. Sabia quem o tinha trazido. Sabia também que não estava no berço, mas aí tinha sido posto por alguém que queria que Harry o encontrasse um dia. Não era coincidência. Era a bainha da espada que um dia Harry tinha tirado do Chapéu Seleccionador. Harry tinha a perfeita noção que aquele objecto era agora um Horcrux, fabricado por Voldemort no mesmo dia em que tinha ido a Godric’s Hollow com o intuito de o matar.
- Façam as malas. Temos que sair daqui. – disse Harry, muito seguro de si.
- Mas Hermione… - protestou Ron, ainda a segurar Hermione nos braços.
- Ficaremos apenas o tempo suficiente até ela se recuperar. – disse Harry. – Ela apenas desmaiou por estar em contacto com um objecto que contém uma grande quantidade de Magia Negra, ela vai ficar bem.
Dizendo isto, dirigiu-se ao quarto e começou a arrumar as malas, atirando as roupas desordenada e atabalhoadamente para o seu interior, pouco importando se estavam dobradas ou não. Ginny assomou à porta do quarto. Aproximou-se de Harry.
- Que se passa Harry? – como Harry não fez menção nem de lhe responder nem de parar, Ginny prendeu-lhe os braços e obrigou-o a encará-la. – Podes dizer-me o motivo de toda esta pressa em sair daqui?
- Ginny, estamos na pista certa! – explicou Harry. – Encontrámos um Horcrux, não podemos parar agora!
Virou-se e continuou a arrumar a mala.
- Podíamos ao menos passar aqui mais uma noite. – disse Ginny, docemente. – E Hermione… não parece que esteja em condições de voar.
Harry reflectiu por um momento, encarando a rapariga à sua frente. Queria passar uma última noite com Ginny ali, nos seus braços, uma última noite de paz antes de partir para a aventura seguinte.
- Ok, Ginny. – assentiu. – Ficaremos mais uma noite. Estou exausto mesmo.
Ginny sorriu. Sabia que aquela era uma desculpa e que na verdade Harry queria era ficar ali mais uma noite. Saiu do quarto para ir avisar Ron da mudança de planos enquanto Harry arrumava novamente a mala a um canto e se deitava sobre a cama. O sol brilhava intensamente lá fora e devia estar na hora do almoço. Verificou o relógio: uma e cinco.
Espreguiçou-se e saiu do quarto em direcção ao andar de baixo para fazer um chá. Logo de seguida Ginny chegou e enlaçou-o pela cintura de surpresa. Harry sorriu e virou-se para lhe beijar o pescoço. Ginny encolheu-se ao sentir cócegas e passou-lhe a mão pelos cabelos, sorrindo-lhe.
- Acho bom que estejas a fazer chá para nós quatro. – gracejou. – O Ron está lá no quarto a tratar da Hermione. Eu fiz-lhe um feitiço para a acordar, mas ela está meia fraca. Ela precisa de se alimentar.
Foi então aos sacos de compras que Harry e Ron tinham trazido e tirou de lá umas bolachas de chocolate, dispondo-as num tabuleiro. Assim que o chá ficou pronto, fez a bandeja flutuar até ao primeiro andar com as coisas para Ron e Hermione. Logo que voltou para a cozinha, Harry já arranjava uns scones num tabuleiro para eles dois, o qual levou para a sala, para poderem comer sentados.
Lá em cima, Ron segurava a mão de Hermione.
- Ron, já disse que estou bem, só um pouco zonza… - Hermione esclareceu. – Não precisas de te preocupar assim.
- Ora Hermione! – Ron afagava agora a mão de Hermione com a sua mão livre. – Tu estás fraca…
Ron fora interrompido por um tabuleiro flutuante que entrava no quarto. Foi até ele de imediato, pousando-o na mesa-de-cabeceira e enchendo a chávena de Hermione.
- Isto vai fazer-te sentir melhor. – disse.
No entanto, Hermione agarrou-lhe a mão que pegava no bule e Ron pousou-o.
- Passa-se alguma coisa? – perguntou Ron, algo perturbado.
- Não, Ron. – Hermione sorriu. – Pára de te preocupares tanto.
- Então porque me estás a agarrar a mão? – Ron estava cada vez mais confuso.
Hermione entrelaçou então os dedos nos dedos de Ron e puxou a mão para si, fazendo Ron sentar-se na beira da cama.
- Porque quero que estejas perto de mim. – respondeu simplesmente.
Ron sorriu timidamente e inclinou-se para beijar os lábios de Hermione, seguindo-se um curto abraço. Só de pensar que aquela rapariga, a mais inteligente de Hogwarts, que de empertigada e mandona tinha passado a meiga e adorável, estava agora ali, nos seus braços. Dele, Ron Weasley, o pobretão Weasley, o preguiçoso, o irritante Weasley. E contra todas as suas diferenças estavam ali, juntos, apaixonados.
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