O Dia do Juízo



O Dia do Juízo



Harry estava ainda deitado na cama, escorado preguiçosamente nos travesseiros enquanto observava Gina se arrumar. Já fazia quase meia hora que ela tinha pulado da cama, aberto as cortinas das janelas e o chamado. Ele a ouvira tomar banho, escolher a roupa que ia usar, besuntar-se de poções na barriga dilatada, e agora ela secava os cabelos com um sopro de ar quente que saía da varinha. Todo o movimento útil dele até o momento tinha sido colocar os óculos e observá-la.

– Você não vai sair da cama hoje? – Ela perguntou olhando-o pelo espelho da penteadeira em que estava sentada.

Harry se espreguiçou lentamente e afundou mais nos travesseiros com cara de sono.

– De onde você tira tanta energia, hein?

– Tenho muita coisa para fazer, Harry – falou num tom prático que lembrava Hermione. – Quero terminar as pesquisas com os livros que trouxe de Hogwarts sobre os poderes de Aradia, e mal comecei as modificações no quarto do bebê. Vamos ter que duplicar tudo. E com a novidade... vou ter de achar um jeito para que o quarto fique legal para os dois.

– Você já contou para o pessoal que finalmente sabemos o sexo dos bebês?

– Pedi para a Edwiges entregar um recado para todo mundo – disse ela sorrindo pelo espelho. – Mamãe quer que eu confirme com a parteira do St. Mungus, mas é só formalidade. Fred e Jorge ficaram um pouco desapontados. Acho que eles queriam que fossem dois meninos para serem outros “Fred e Jorge”.

– Ahh não – Harry fez uma careta – eu acho que o Sean e o Kenneth são suficientes para seguirem os passos dos pais.

Gina riu.

– A Ana mandou um recado de três linhas, onde eu contei uns cinco: “ai que fofo” – Harry fez uma careta divertida. – Mas ela e o Carlinhos gostaram muito e o Rony e a Mione também, é claro. O Rony acha que por serem um casalzinho, quando eles e Sirius entrarem em Hogwarts, já que vão ter pouco mais de um ano de diferença, o novo “Trio Maravilha” já vai estar formado.

Os gêmeos Potter eram um casal, afinal. Harry sorriu em pensar: “gêmeos Potter”. E o futuro que Rony via lhe parecia a coisa mais maravilhosa que se poderia imaginar. Era muito bom pensar “nesse” futuro. Seria ainda melhor se não houvesse tantas coisas na frente desse pensamento. Percebeu que Gina o observava pelo espelho e desviou-se da preocupação dela.

– O que você conversou com eles no sonho?

Gina o acordara toda agitada na madrugada anterior. Tinha tido um sonho em que conversava com os filhos deles. Aquilo parecia estranhíssimo à Harry, mas Gina disse que era comum entre as mães bruxas conversarem com os filhos antes de nascerem. Assim, o tal sonho não tivera para Gina a carga de alarme das visões, pelo contrário, a tinha deixado elétrica e feliz.

– Ah, o que eu já contei para você. Eu entrava aqui em casa e eles vinham correndo na minha direção e me abraçavam. Eram um menino e uma menina de uns cinco anos. Primeiro eu fiquei surpresa e perguntei quem eles eram e, então, eles responderam que eram os nossos filhos. Aí eu mesma me perguntei como não os reconheci imediatamente.

Gina virou-se para ele começando a fazer uma trança nos cabelos, ainda sentada na banqueta da penteadeira.

– A menina tinha cabelos negros como os seus, só que eram lisos e não bagunçados, e o garoto é quase uma cópia sua, mas o cabelo era ruivo, só mais escuro que o da maioria dos Weasley. – Harry sentiu como que um balão inflando dentro dele, só em pensar que em alguns meses aquelas duas pessoinhas iam estar ali, fazendo parte definitivamente das vidas deles, era uma sensação única de felicidade. Era como um primeiro vôo de vassoura. Gina continuou. – Não pude ver direito as cores dos olhos, mas acho que ambos puxavam para o verde.

Harry fez uma cara levemente decepcionada.

– Nenhum com a cor dos seus olhos? Vamos ter que tentar um terceiro, então.

– Meus olhos são castanhos, Harry. Não têm muita graça e não comece a planejar filhos antes destes nascerem ou vai virar outro Arthur Weasley.

Harry riu, mas a olhava intensamente.

– Você sabe que os seus olhos têm um brilho que eu nunca vi em outro lugar? E que, às vezes, eles ficam da cor dos seus cabelos? – Gina ficou um pouco rosada. – Isso não tem nada de sem graça, muito pelo contrário...

A garota deu um grande sorriso e virou-se novamente para o espelho.

– Bem, acho que agora podemos pensar nos nomes – disse ela depois de terminar a trança.

Harry achava que aquilo seria complicado. Até hoje só escolhera nomes de bichos de estimação, não se sentia muito competente em dar nomes que pessoas carregariam pelo resto da vida. A tarefa lhe pareceu esquisita. Ele tinha apenas algumas idéias muito vagas na cabeça quanto a isso. Idéias que rondavam a periferia da sua mente e diziam respeito a homenagear seus pais, ou talvez Dumbledore, mas não queria atropelar Gina. Tinha a impressão que as garotas deviam pensar mais nisso.

– Você tem alguma idéia? – Perguntou.

Por algum motivo obscuro, Gina corou ao invés de responder. Harry se ergueu nos travesseiros, com ar de riso.

– Reação suspeita, moça! Venha cá e me conte o que se passou nessa sua cabecinha.

Gina corou um pouco mais, mas levantou-se da penteadeira e veio obediente se sentar ao lado dele na cama.

– Então? – Perguntou.

– Ah, Harry... são coisas de criança... bobagens.

– Tá, mas eu quero saber – insistiu levando a mão até a cintura dela, fazendo um carinho ao mesmo tempo em que a impedia de levantar.

– É que... – Gina ficava cada vez mais vermelha – bem... hum... quando eu tinha uns dez para onze anos, eu gostava de um garoto, sabe?

Harry deu um sorriso imenso e presunçoso.

– Eu!

– É claro que era você, seu bobo... Eu sabia tudo sobre você, sabe? Achava que você era o garoto mais corajoso do mundo e... depois que te vi na Plataforma 9 ¾, achava que era o mais bonito também. Praticamente devorava as cartas que o Rony escrevia. Pedia para guardá-las depois dos meus pais lerem. Mamãe deixava. Achava que era por que eu sentia falta do Rony, mas eu ficava era lendo o que ele escrevia sobre você e... Pare de rir, Harry, eu era só uma garotinha... – Ela revirou os olhos. – Ah bem, eu fantasiava... nas minhas brincadeiras, sabe? Que um dia eu iria crescer e que nós iríamos nos casar e... – o rosto dela já se aproximava do tom de uma cereja madura.

– Que bonitinho! – Provocou Harry, tendo que quase imediatamente usar seus reflexos anti-balaços para se defender do travesseiro que ela lhe jogou. Pegou-o no ar. – A gente ia se casar e... – incentivou tentando não rir para que ela não parasse.

– Bom, minhas duas bonecas favoritas eram os “nossos” filhos – ela respondeu com uma caretinha. – Um menino e uma menina.

– Que maravilha! Você por acaso tem sangue de vidente? – Ele já não conseguia mais conter as risadas.

– Não enche Harry – reclamou a garota, rindo também. – Não vou contar mais – e já ia se levantar, mas Harry tinha voltado a colocar a mão na cintura dela e a puxou de volta.

– Continua, eu me comporto. Vai, continua.

Gina deu um sorrisinho, ainda muito corada.

– Bem, o menino se chamava Lyan e a menina Joanne.

– Lyan e Joanne? – Ele repetiu.

– É... e os segundos nomes eram os dos seus pais. Na época, eu achava que você iria gostar disso, já que eles tinham morrido.

A idéia de Gina com dez anos, brincando com bonecas que imaginava serem filhos deles e pensando em como agradá-lo, lhe pareceu, à falta de palavra melhor e usando um vocabulário bem “Ana”: a coisa mais fofa do mundo!

– Achei os nomes perfeitos.

– É coisa de criança, Harry.

– Não... são perfeitos... eu adorei! Por mim, estão escolhidos: Lyan e Joanne.

Ela sorriu.

– Bem, um problema a menos, então – disse naquele tom prático hermionesco. – Como eu já escolhi os nomes... Você fica com a escolha dos padrinhos.

– O QUÊ? Isso não vale Gina! – Mas ela conseguiu fugir de suas mãos e lhe jogar outro travesseiro enquanto ele reclamava.

– Só por curiosidade – Harry perguntou alguns minutos depois quando já tinha se levantado e voltava do banheiro – onde estão as suas bonecas, digo, os “nossos filhos”, agora?

– Num armário, lá n’A Toca – respondeu Gina displicentemente calçando os sapatos.

Harry fez uma cara chocada.

– Mãe desnaturada!! Como você pode? Sabe que sou traumatizado com armários, e você faz os “meus filhos” passarem por isso? – Puxou Gina para si. Ela não conseguia parar de rir da indignação fingida dele. – Eu exijo que a gente vá lá resgatá-los.

– Tudo bem, tudo bem! Só tem um problema. Eles estão no sótão há anos – fez uma pausa dramática – com o vampiro... Não tenho idéia de como os encontraremos quando formos lá.

Os dois desceram para tomarem café juntos, Harry agora tinha um enorme cuidado com Gina descendo escadas. O dia estava frio e cinzento, com uma garoa fina, e mesmo a cozinha de madeira clara e cheia de janelas parecia escura. Os pequenos globos de vidro, onde brilhava um fogo mágico de cor azul e que costumavam ser acesos somente à noite e nos dias mais escuros, flutuavam próximos ao teto lançando sombras fantasmagóricas nas cortinas amarelas e clareando suavemente a bela mesa de café que Dobby havia preparado. Passados os meses de enjôos, Gina voltara a ter apetite, o que fazia o elfo se esmerar em tudo o que ela gostava de comer e ainda acrescentar pequenos agrados para Harry, como creme de caramelo ou geléia de ruibarbo. Já haviam quase terminado quando Dobby apareceu saltitando, vindo da sala de estar.

– Dobby pede imensas desculpas por interromper o café de Harry Potter, mas o Sr. Shacklebolt está na lareira e pede para lhe falar – disse fazendo uma reverência tão profunda, que chegou a roçar o nariz fino no chão.

Harry levantou e seguiu rápido para a sala. Gina levou ainda alguns minutos entre encerrar o café e, como Harry não voltava, se mover até a sala. Quim já não estava mais na lareira. Em compensação, Rony, Mione e Sirius, nos braços de Winky, estavam na sala junto com Harry. Pela fuligem nas roupas, o grupo havia acabado de chegar pela Rede de Flu. Dobby e Winky trocavam olhares ciumentos. Afinal, desde que Winky fora trabalhar com Rony e Hermione, ele não conseguia mais chegar perto do pequeno Sirius. Com isso, o garotinho era o único na sala que conservava uma expressão sorridente.

– Oh-oh – Gina negou brevemente com a cabeça. – O “Trio Maravilha” com essas caras a essa hora da manhã – comentou enquanto se abaixava e fazia um carinho no afilhado. – O que aconteceu?

– O Ministério marcou uma audiência disciplinar para apurar as responsabilidades na fuga dos Comensais de Azkaban – respondeu Harry com uma voz neutra.

Gina se ergueu e olhou imediatamente para Rony e Hermione. O irmão estava em pé ao lado do sofá grande, com as mãos fechadas dentro dos bolsos das calças e parecendo tão furioso que era quase impossível distinguir entre as orelhas e os cabelos. Hermione, ao contrário, parecia mais decidida do que brava. Estava sentada em frente à Harry e por um instante desviou os olhos que tentavam divisar as reações do amigo e se virou para Winky.

– Winky, por favor, você poderia ir com o Sirius para A Toca? A Molly já deve estar esperando com as outras crianças lá.

Winky virou imediatamente os olhos imensos para Rony, que confirmou com a cabeça. Ela lhe lançou um olhar da mais absoluta adoração antes de sorrir e responder afirmativamente para Hermione.

– O que foi isso? – Gina perguntou para a cunhada assim que a elfa partiu.

Hermione fez um muxoxo.

– Ela confirma tudo o que eu digo com o Rony. Ainda mais quando eu peço “por favor”. Para ela é a prova de que eu sou maluca.

Harry e Gina tiveram de se esforçar para não gargalharem. Não parecia que isso cairia bem com o clima em Rony e Hermione estavam, especialmente, Rony.

– Dobby já tentou explicar para ela, mas ela não entende que a bondosa amiga de Harry Potter é uma defensora dos elfos domésticos. A Winky é muito burra e teimosa – sentenciou Dobby fazendo negativas indignadas com a cabeça.

Hermione ainda assim ia defender Winky, mas Harry achou melhor intervir. Afinal, ele conhecia bem tanto Hermione quanto Dobby. Uma discussão ali, não ia dar em nada.

– Dobby, por favor, vá você também para A Toca ajudar Molly com as crianças, sim? – Dobby olhou para Gina com uma expressão indecisa. – Não se preocupe, a Gina não vai ficar sozinha.

– Se Harry Potter promete que se ele ou a doce senhora do Dobby precisarem vão chamá-lo, Dobby vai.

– Eu prometo – assegurou Harry e o elfo sumiu.

Gina cruzou a sala indo se sentar na guarda da poltrona dele e colocando a mão sobre os seus ombros. Harry começou a achar que o mutismo de Rony já estava lhe dando nos nervos quando Hermione recomeçou a explicar os últimos acontecimentos para Gina.

– Como se não bastasse tudo o que estamos tendo que nos preparar para a abertura do Livro de Fausto no Dia das Bruxas, o Ministério achou que seria uma “ótima” idéia indiciar a equipe chefiada pelo Harry na noite da rebelião em Azkaban. Não que não estivéssemos esperando algo assim, mas achei que o Quim, seu pai, eu e alguns outros amigos que temos lá dentro, conseguiríamos impedir que o caso fosse para a Suprema Corte. Mas parece que, mesmo contrariado, o Ministro não conseguiu resistir à pressão que a Umbridge e uns outros estavam fazendo. – Hermione deu um suspiro. – A Audiência é para ouvi-los e determinar se houve negligência, imperícia ou conivência da equipe com a fuga dos Comensais.

Harry sentiu um movimento involuntário nas entranhas e Gina fez um carinho em seus cabelos.

– Você não parece muito preocupado – ela comentou com a voz tensa.

– Não estou – respondeu com sinceridade, estava era com raiva. – O máximo que podem fazer é me demitir e... acho que isso já não me incomoda tanto assim. Só vai ter algum problema se eles quiserem punir o resto da equipe, mas acho que não vai acontecer. Vou assumir tudo, afinal, é a minha cabeça que eles querem mesmo.

– Não faz drama, Harry! – A voz de Rony saiu rouca de fúria contida. – Se aqueles filhos da... se aquela vaca da Umbridge... – soltou um palavrão que teria lhe rendido um bom cascudo da Sra. Weasley se ela estivesse na sala. – Se eles se meterem com você vão ter de demitir todos nós.

– Ah Rony, qual é? Acha que vou deixar vocês serem demitidos? A culpa foi minha e só minha. Não faça essa cara... eu não estou tomando as dores de ninguém desta vez, ok? Eu errei. Fiz besteira! Ninguém mais tem que pagar por isso!

– O Malfoy te provocou! – Disse Rony com a voz alta.

– E eu caí! – Retrucou Harry levantando e com a voz ainda mais alta. – Agi como um garoto inconseqüente!

– Ele ameaçou sua mulher e os seus filhos! Ameaçou a minha irmã! O meu pai! Se eu pudesse, eu mesmo tinha jogado aquelas pedras em cima da cabeça dele e achatado aquele nabo super desenvolvido!

– É, mas não fez – berrou Harry. – Quem fez fui eu e vou arcar com as conseqüências, ok? E não quero nem você, nem a Tonks, nem a Ana metidos nisso ou vamos todos para o olho da rua e...

– Ora, vocês dois parem com isso! – Ralhou Hermione com a voz mais alta que a deles e bastante aborrecida. – Nenhum de vocês vai ser demitido.

Os dois ficaram quietos, apenas se encarando por alguns instantes, antes de Harry sentir Gina puxá-lo novamente para a poltrona e Rony sentar ao lado da mulher com um ar desolado.

– Você não pode garantir isso, Mione.

– Rony, eu não estudei direito bruxo apenas para defender elfos domésticos. Eu faço parte daquele tribunal... lembra? Eles não vão fazer nada contra vocês... Na verdade, acho que essa audiência vai ser uma ótima oportunidade...

– E o que vai fazer Hermione? – Perguntou Harry exasperado. – Vai mentir? Vai dizer que aquelas pedras caíram do nada? Vai dizer que foram eles que fizeram aquilo? Ninguém vai acreditar. Você lembra do que o Quim disse? Eles têm medo de mim! Nunca entenderam o que aconteceu no fim da guerra. E tem um monte de gente que acha que eu sou um tipo de mago ultra-poderoso e descontrolado, que a qualquer hora posso virar um novo Voldemort! Faz todo o sentido para eles, eu estar envolvido com uma fuga de Comensais da Morte, talvez para liderar meu próprio bando.

– Na verdade... eu vou fazer uma coisa pela qual espero há anos, sabem? – Hermione suspirou profundamente, apoiou os cotovelos sobre os joelhos e segurou o queixo com as pontas dos dedos. – Uma das coisas interessantes do direito (e se vocês disserem que eu disse isso, especialmente na frente de algum sonserino, eu nego até a morte) é que a mentira e a verdade dependem muito do lado em que você está. – Ela deu um sorrisinho diante dos rostos aturdidos deles. – O conteúdo das acusações contra vocês vai contar muito pouco no fim de tudo. Se as coisas saírem como eu planejo, vocês não vão precisar nem negar nem aceitar as acusações.

Rony se jogou para trás no sofá.

– Garota, você às vezes me dá medo, sabia? Mas por que será que eu tenho a impressão de que você não vai nos contar “exatamente” o que está planejando, Mione? Você nunca nos conta.

– Confia em mim, Rony.

– Eu confio – assegurou ele. – Se você garante que ninguém vai ser demitido, eu confio.

Os olhos de Hermione brilharam

– Bem, não sei quanto a demissões, mas posso garantir que sei exatamente o que vou fazer.




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O velho caderno de anotações da avó de Danna rendeu conversas e especulações entre os cinco amigos durante todo o final de semana. Volta e meia, Mel ou Andrew corriam até a biblioteca para conferir alguma informação ou buscar algum livro que pudesse ajudá-los a clarear algo que não tivessem compreendido, especialmente, sobre o tal Fausto, os beusclainhs e os possíveis rituais do livro. As informações foram poucas, ainda mais pelo fato de nenhum deles poder entrar na Sessão Restrita. Mas, ainda assim, o que acharam deu bastante material para discutirem. Só que, bem antes do que eles esperavam, as coisas começaram a azedar pra valer.

Primeiro foram os ovos das tais aranhas cheias de pernas que eclodiram na tarde de sábado e renderam uma enorme gritaria na Sala Comunal da Corvinal. Mel, que estava no pátio com os amigos, chegou apenas a tempo de ver o prof. Flitwick se esforçando para acalmar suas colegas de dormitório. No domingo, logo após o almoço, os responsáveis pela “brincadeira” foram descobertos e Hector, Josh e Andrew foram chamados para uma meia-hora muito desagradável na sala da Diretora McGonagall, onde estavam presentes, igualmente furiosos, Hagrid e a profa. Sprout. Além da carraspana, e da perda de 20 pontos para a Grifinória e 10 para a Lufa-lufa, os três pegaram quase um mês de detenções. Para a decepção de Hector, porém, nada que envolvesse entrar na Floresta Proibida.

Mas isso foi pouco se comparado às cartas que chegaram para os três na manhã seguinte. A mãe de Andrew mandou um berrador que estourou furiosamente na mesa do café, e ainda disse que ele agradecesse por ser ela e não o pai dele (que segundo Andrew era bem mais bravo) que estava escrevendo. Andrew terminou o café da manhã, tão abaixado no banco, que somente era possível ver as pontas dos cabelos escuros e os olhos azuis envergonhados fixando o prato.

Josh recebeu uma carta igualmente irritada da mãe, mas foi Lane que o incomodou mais. A irmã mais velha não achou nenhuma graça numa brincadeira que envolvesse (argh) aranhas. E, se não fosse Otwani – que rira da audácia do caçula quando a história circulou – intervir, ela teria impedido Josh de ir comer a sobremesa na mesa da Grifinória, como ele sempre fazia.

No caso de Hector, tem-se que admitir, sermões vindos de Remo e Tonks – a não ser em ocasiões realmente graves – não funcionavam tanto quanto os de outros pais. Aliás, é por isso que nunca se deve deixar que os filhos saibam exatamente quem se era na escola. Não é só pela autoridade, que fica seriamente prejudicada, mas pela competição. Hector achava que não seria digno de ser filho de um Maroto – o pai era o mais calmo dos quatro, mas não era santo e o garoto sabia disso – e nem de uma encrenqueira famosa – o tio Gui e, principalmente, o tio Carlinhos adoravam contar para ele essas histórias – se não aprontasse pra valer. Contudo, para Hector, isso pouco tinha a ver com a vontade dele de se meter em aventuras. Esse era o que ele chamava de “seu lado Harry Potter”. Afinal, ele era um menino com poderes mágicos, tinha sobrevivido a um ataque de Comensais da Morte e estava em Hogwarts. A seu ver era um desperdício de talento ir para a escola apenas para se tornar um bom bruxo.

Por outro lado, a peça não foi bem recebida por todos os colegas. A maioria dos estudantes da Corvinal e da Lufa-lufa também se mostrou indignada, já que esse tipo de coisa, em geral, só acontecia entre grifinórios e sonserinos (a não ser, claro, nas vésperas dos jogos do campeonato das casas). Até mesmo alguns grifinórios viraram a cara para Hector e Andrew, embora houvesse gente que tenha achado engraçado. “Humor mórbido”, resmungou Mel. Já a Sonserina estava proclamando que as outras casas teriam de parar de chamá-los de reduto de maus elementos, já que eles preferiam recorrer a boas e velhas azarações quando queriam incomodar alguém e que nunca envolviam nisso artrópodes asquerosos. Andrew perdeu a paciência depois de ouvir essa na aula de Poções. Fez uma cara espantada antes de dizer em alto e bom som que não imaginava que algum trasgo da Sonserina soubesse o que era um artrópode. Resultado: menos cinco pontos para a Grifinória e ameaças nada veladas dos valentões de plantão da casa adversária. Medéia “não viu” essa segunda parte.

Hector achou que a coisa toda tinha realmente abalado a estrutura do amigo por causa do que aconteceu na Sala de Estudos, pouco antes do jantar. Está certo que Andrew já estava com um humor para lá de insuportável. O garoto detestava ser alvo das críticas da escola e acabava virando tudo isso contra os amigos. Não tinha entrado em novas discussões sobre o diário da avó de Danna e, ao invés disso, afundara a cara nos deveres deixando bem claro que, se os quatro não quisessem uma resposta atravessada, era melhor não falar com ele.

Os outros, porém, prosseguiram a aventar hipóteses sobre a possibilidade de Mefistófeles – beusclainh famoso entre os bruxos e cujo temor era registrado até mesmo entre os trouxas – tivesse sido realmente aprisionado em uma garrafa por Fausto e levado para a Inglaterra, séculos depois, por Erasmus de Salpetrière. O qual, por ter sido amigo do diretor Fineus Nigellus Black, e ter sido encontrado morto na Escócia, poderia ter escondido a tal garrafa em, nada mais nada menos, que Hogwarts.

– São apenas especulações – resmungou Andrew, finalmente saindo do mutismo e mostrando que não estava tão fora do assunto assim.

– Bem – respondeu Hector – mas, em geral, algumas especulações se mostram verdadeiras, não? Alem disso, a avó da Danna...

– A avó da Danna somente deixou um monte de suspeitas... Mesmo que tenham fundamento, não tem nenhuma pista concreta para seguir. Admita Hector, são apenas possibilidades. A maior chance que temos é de não dar em nada!

Hector ficou imediatamente vermelho. Detestava quando Andrew usava a lógica de um jeito que quase não o permitia contestar. Olhou para os outros buscando apoio, mas percebeu que Mel, Josh e mesmo Danna pareciam concordar.

– Você está com medo! – Revidou.

– Medo? – Andrew definitivamente estava com sua veia sarcástica à flor da pele. – Medo do quê? De sair em busca de um demônio perigosíssimo, de mais de quinhentos anos, e que é conhecido por ser de uma raça que tem um especial apetite por matar crianças, apenas porque elas podem ver a sua verdadeira face? Por que raios eu teria medo disso?

– Talvez você esteja com medo porque podemos realmente encontrá-lo.

– Shhhh – Mel olhou para os lados já vendo alguns colegas se incomodarem com a discussão dos dois – falem mais baixo. Já não estão encrencados o suficiente? Daqui um pouco vão perder mais pontos.

Os dois voltaram a sentar para trás nos bancos, amuados.

– Acho que o Andrew tem razão, gente – comentou Danna fechando o caderninho que eles estiveram examinando. – Vovó anotou coisas interessantes, mas eu também não sei como poderíamos ir adiante disso.

O desânimo dela não ajudou nada a melhorar o clima dos outros. Hector passou a olhar Andrew como se ele fosse o culpado de sua tão desejada aventura ter malogrado antes mesmo de começar. Mel tentava com todas as forças reunir as peças do quebra-cabeça para ver se achava alguma saída, mas não conseguia encontrar nada que a fizesse deixar de concordar com Andrew.

– A gente podia contar isso para os adultos – arriscou Josh timidamente.

Hector revirou os olhos.

– Perfeito! Vai ser que nem o lance do livro. Eles vêm aqui, resolvem tudo e a gente ainda é capaz de ouvir um monte de sermões por ter se metido onde não devia.

– Mas, Hector – argumentou Mel – se nosso objetivo é ajudá-los e se nós não conseguimos descobrir nada, o melhor é contar para eles. Talvez isso ajude.

O garoto lhe lançou um olhar que dizia com todas as letras: “traidora”.

– Vamos fazer o seguinte – propôs Danna – se não conseguirmos achar nada que nos ajude a ir adiante em uma semana, contamos para os adultos. Afinal, a Mel tem razão. Nosso objetivo é ajudar o Harry, não é? Não faz essa cara Hector. Eu também acho que seria legal fazer uma investigação assim. Nós todos achamos... e queríamos realmente fazer algo de útil – ela parecia bem decepcionada. – Mas o Andy... não disse nenhuma loucura. Estamos de mãos atadas até termos uma pista de onde procurar o que achamos que pode estar na escola.

Hector murchou visivelmente. Quando os cinco saíram da Sala de Estudos para o jantar alguns minutos depois eram a imagem da depressão. Muitos colegas atribuíram as caras derrotadas a um possível arrependimento dos meninos, o que pareceu amenizar os olhares de censura sobre eles. Mel, porém, achou que Andrew tinha ficado um pouco estranho depois de toda a discussão, embora continuasse mal humorado. Estava com o olhar perdido, concentrado, e quase não comeu pelo que ela pode observar quando foi para a mesa da Grifinória comer a sobremesa com eles, como de costume.

Tinham acabado de sair do Salão Principal, quando Rupert Bothwell apareceu na frente deles como se tivesse aparatado.

– Oi gente! – Cumprimentou parecendo um pouco sem graça.

Mel respondeu o cumprimento assim como os meninos. Ela já tinha percebido que de todos os sonserinos, e apesar da irmã intragável, Rupert era um dos poucos que não era hostilizado pelos grifinórios. A maioria o considerava um “cara legal”, na dele, e ele fazia o tipo de quem não se envolvia em guerrinhas, bem ao contrário de Caroline. Mel notou que o menino ruivo estava com os olhos fixos na amiga. Não deu outra.

– Danna, não é? – A menina confirmou com um aceno de cabeça. – Você esqueceu este livro na aula de Poções.

– Puxa – ela olhou para o livro com estranhamento – eu realmente não tinha me dado conta. Obrigada – acrescentou pegando o livro e dando um sorriso.

Mel enfiou o nó dos dedos na boca para não rir da cara do garoto.

– Minha irmã não tem mais te incomodado, tem? – Rupert perguntou parecendo querer alongar a conversa.

– Para o bem da sua irmã, não – atalhou Andrew com cara de poucos amigos.

Rupert encarou Andrew, mas não mudou o tom simpático.

– É... eu soube o que vocês fizeram com as corvinais que andavam fazendo piadinhas da Mel. Meio malvado, mas foi uma ótima peça. Foi idéia de quem?

– De quem você acha? – Perguntou Hector de um jeito presunçoso.

Mel revirou os olhos, mas Rupert riu.

– Achei que fosse. Bem, eu já entreguei o livro. Vou indo, então.

– Tchau! – Disse Andrew de um jeito que pareceu subitamente animado e falso.

O resto do grupo também se despediu, mas agora todos olhavam com estranheza para Andrew.

– O que foi que deu em você, Andy? – Hector parecia chocado. – Não precisava descontar seu mal humor no cara. A gente te atura porque é teu amigo, mas o Rupert... olha, ele é gente fina, veio só fazer um favor.

– Sonserino, gente fina? Me poupe, Hector.

E saiu em direção às escadarias batendo os pés pesadamente no chão e deixando os quatro parados sem entender nada. Afinal, Andrew não era desse tipo de preconceito. A cena toda, definitivamente, não combinava com ele.

– Alguém pode me explicar o que foi isso? – Hector perguntou meio para todos, meio para ninguém.

Mel e Danna deram de ombros, mas Josh, que tinha assistido a tudo quieto, deu um risinho cínico para o amigo.

– Para alguém que se acha tão esperto, Hector. Você, de vez em quando, é bem tapado, não? – Ele riu da própria piada. – Boa noite, galera. – E desceu as escadas em direção a Sala Comunal da Lufa-lufa.

As razões da estranheza de Andrew, no entanto, não ficaram claras no dia seguinte, e nem nos próximos. Ele passava horas na Biblioteca, quase todos os intervalos e não respondia nenhuma pergunta sobre o que estava fazendo. Uns dois dias depois, o seu mau humor tinha diminuído sensivelmente, pelo menos com os amigos, já que Rupert Bothwell não pareceu ser considerado digno de voltar a receber o mesmo tratamento cordial de antes. Mas somente na quinta-feira é que suas horas na biblioteca e os longos silêncios de olhar perdido e testa franzida ficaram explicados.

Andrew os tinha apressado para que almoçassem o mais rápido possível. Tinha algo importante para conversarem durante o intervalo. Os outros ficaram tão curiosos com a urgência, e com o fato dele finalmente querer falar o que vinha fazendo, que acabaram enchendo as mãos de pedaços de galinha assada e pastelão e seguiram o amigo até a parte coberta do pátio onde costumavam sentar nos intervalos. Josh demorou um pouco mais porque teve de fugir da Lane.

– E aí? – Chegou quase sem fôlego se jogando na mureta ao lado de Hector. – O que houve?

Andrew sorriu e lançou um breve olhar para as meninas que estavam sentadas juntas num degrau.

– Vocês querem ou não continuar as investigações?

Hector já ia começar a xingá-lo pela pergunta idiota, mas o sorriso do amigo o fez mudar de idéia antes.

– Você achou alguma outra pista? – Perguntou boquiaberto.

– Talvez... – respondeu o outro fazendo mistério – mas antes vamos repassar o que a gente sabe, ok? Mel?

Mel se aprumou. Eles tinham feito uma divisão de tarefas, meio na brincadeira, mas acabou pegando. Mel era a relatora do grupo. Sua tarefa era anotar tudo o que eles sabiam e tinham feito. Andrew e Danna ficavam com a pesquisa (o que incluía a tradução do diário e que só Danna conseguia fazer) e eram auxiliados por Mel. Hector e Josh ajudavam, mas os dois afirmavam que eram antes de tudo homens de ação!

– Bem – começou Mel seriamente – sabemos, pelo que o Hector ouviu o Prof. Lupin falar, que a Gina começou a ter visões quando ficou grávida. Por causa dessas visões, eles começaram a achar que havia um plano dos Comensais da Morte com alguma coisa envolvendo Voldemort. Aí, o Morcegão – ela fingiu ânsia de vômito – disse para eles que as visões da Gina se pareciam com rituais tirados de um tal livro que foi usado pelo bruxo Grindelwald em 1945. E que, se havia Comensais envolvidos, então, Gina e o bebê, digo, bebês – dessa vez ela sorriu – poderiam estar em perigo.

– Mas – Hector continuou enquanto Mel tomava fôlego – o Snape também disse que se poderia descobrir o plano dos Comensais com o livro original, já que o que os bandidões parecem ter é uma cópia. Depois, a gente descobriu que o livro era o tal Livro de Fausto e que somente Dumbledore (ou o quadro dele) poderia saber onde ele estava. Bem, essa parte a gente sabe como acabou – falou num tom que não escondia a decepção – o Harry e o Rony vieram aqui e acharam o livro.

– Isso! – Os olhos de Andrew brilhavam. – E aí a Danna nos trouxe o caderno de notas da avó dela com coisas sobre os mistérios de Hogwarts.

– Tá – Josh confirmou o raciocínio dos amigos – é aí que entra toda a coisa do tal Mefistófeles – falou com um estremecimento. – Vocês têm certeza de que querem continuar se metendo nisso?

Os outros quatro claramente preferiram ignorar a pergunta. Andrew prosseguiu da mesma maneira febril.

– Nossa única prova de que as especulações da avó da Danna poderiam estar certas vêem do pedido de Dumbledore para que ela não deixasse que suas descobertas chegassem aos ouvidos de Tom Riddle, certo?

Os outros confirmaram com as cabeças. Era possível sentir que uma certa excitação tinha começado a correr em meio ao grupo, como se todos estivessem se deixando contaminar pela empolgação que Andrew demonstrava na voz.

– Achei que não conseguiríamos ir além, mas passei três dias pensando nisso, juntando as coisas, pesquisando... A minha conclusão foi: e se o Riddle, de algum jeito, ficou sabendo? E se ele soube que Hogwarts poderia esconder não só o Livro de Fausto, mas também o demônio que praticamente o ditou? Nós já lemos e ouvimos muito sobre o Lord das Trevas. Sabemos que ele era tão obcecado por ser imortal quanto por tomar a escola. A gente não tem idéia do que tem no livro, mas pelo que sabemos que está envolvido... bem, tudo é possível, não é?

Os quatro o olhavam com as bocas meio abertas e Andrew prosseguiu sem esperar resposta.

– Além disso, num dos livros que nós pesquisamos no final de semana, o autor sugere que Fausto viveu pelo menos uns 300 anos e usou vários nomes, sabem por quê? Porque todo mundo sabe que o único alquimista do mundo a conseguir fazer uma Pedra Filosofal foi Nicolau Flamel. Logo, ele deve ter feito outra coisa para viver tanto tempo, não é? Algo ligado à magia negra poderosa.

– Mas o tal Fausto morreu, não morreu? – Perguntou Josh incerto.

– Morreu. Mas ele rompeu o pacto com o beusclainh e isso pode ter atrapalhado a imortalidade dele. É o que os livros dizem – assegurou Mel.

– Bem, o que eu estou querendo dizer – Andrew continuou com o mesmo entusiasmo, como se não houvesse sido interrompido – é que o tal livro pode ser uma espécie de chave para imortalidade, vida longa, ressurreição ou sei lá. Só que tem um detalhe: a avó da Danna disse que ela tinha lido que alguns rituais só teriam eficácia se fossem feitos com a presença de Mefistófeles... – Andrew fez uma pausa dramática, esperando que alguém completasse o seu pensamento. – Vocês não sacaram? Se a coisa toda realmente envolve o Lord, então eu aposto o que vocês quiserem como nesse momento existe em Hogwarts um espião dos Comensais procurando por Mefistófeles! Porque sem ele a coisa toda pode não funcionar.

O grupo arregalou os olhos até a estratosfera.

– Não seria a primeira vez – disse Mel com as duas mãos sobre a boca. – Digo, eles já se infiltraram aqui antes, não é?

– Correto – assegurou Andrew.

– Você está sugerindo que a avó da Danna não atendeu o pedido do Dumbledore? – Perguntou Josh, um pouco chocado. – Que ela deixou que o Riddle soubesse?

– Nahhh, mas ela já tinha contado para alguém, não tinha?

– Griselda Marchbanks – disse Danna – melhor amiga da minha avó, monitora da Corvinal, neta da mais antiga examinadora de N.I.E.M.S do Ministério...

– E namorada no sétimo ano de Reginald Lestrange – completou Andrew, ao mesmo tempo em que tirava um recorte de jornal do bolso e o entregava para Danna.

Hector, que não tirava os olhos do amigo como se fosse capaz de antecipar as descobertas do outro, finalmente se manifestou.

– Reginald Lestrange é...

– Isso mesmo – Andrew deu um pequeno sorriso – o sogro de Bellatrix Lestrange e um dos primeiros Comensais da Morte, pelo que contam os livros de história.

Danna segurava o recorte de jornal onde o casal, coroado de rei e rainha do Baile de Formatura de 1945 acenava alegremente. Mel notou que ela parecia meio triste contemplando a foto.

– Vovó fala, mais adiante no diário, que a sua amiga noivou com ele... Acho que a minha avó não gostava dele. Ela escreve várias vezes que achava que ele tinha alguma culpa.

– Culpa do quê? – Perguntou Josh.

– Griselda se matou quando tinha 18 anos. O noivo casou menos de seis meses depois com uma sobrinha do Ministro da Magia da época.

Um mal estar correu o grupo e Andrew delicadamente puxou o jornal das mãos da amiga. Era melhor guardá-lo. A menina não fez nenhuma resistência, pelo contrário, ergueu os olhos para ele com grande admiração.

– Nossa, Andy – Danna sorriu – estou impressionada. Minha avó teria adorado o que você descobriu.

Mel e Josh acharam melhor olhar para o teto, porque se olhassem para Andrew iam desmontar de tanto rir. Hector, porém, parecia alheio. Dava quase para ouvir as engrenagens do cérebro do garoto se movendo febrilmente.

– Então – ele puxou a atenção dos outros para si – se a gente achar o espião poderemos pegar o fio da meada, certo?

Andrew confirmou sorrindo, e parecendo excessivamente corado para alguém que estava parado no mesmo lugar a quase vinte minutos.

– Você tem alguma idéia de quem poderia ser, Andy? – Perguntou Danna.

– Bem, acho que podemos aí seguir a pista que a sua avó deixou com aquele recorte de jornal que estava no caderno?

Hector, Josh e Danna não pareceram compreender, no primeiro momento.

– Widenprice! – Mel completou com um sussurro abismado. – Se o antepassado dele acobertou atividades de bruxos das trevas na Grã-Bretanha, ele bem pode ser um Comensal da Morte... Embora não pareça – comentou incerta.

– O Quirrel também não, pelo que Harry, Rony e Hermione contam – contemporizou Hector.

– Então? – Quis saber Andrew. – O que acharam?

– Você é um gênio cara! – Disse Josh batendo nas costas do garoto.

– Eu tinha certeza que você não ia nos abandonar – Hector não podia parecer mais feliz.

Mel, no entanto, tinha uma fisgadinha incômoda num canto da cabeça.

– Não podíamos contar tudo isso para os adultos? – Arriscou.

– Não. – E dessa vez, os três garotos responderam em uníssono.

Ela olhou para a amiga, mas Danna não parecia menos empolgada que os meninos. Mel sabia que ela estava amando a idéia de ajudar Harry e Gina. Tinha ficado muito impressionada com os dois assim que os viu. E, depois, quando Mel e Hector a apresentaram, Danna pareceu estranhar e a atenção e o carinho com que foi tratada. Mel estava acostumada com adultos que se desmanchavam com crianças, mas Danna... Ela tinha até medo de perguntar como a amiga acabara ficando tão arredia. Acabou dando de ombros resignada, e juntando a cabeça aos outros quatro que agora planejavam as formas pelas quais iam seguir e descobrir as ligações escusas do Prof. Archibald Widenprice III.



*********************


O dia da Audiência no Ministério da Magia chegou rápido. E a verdade é que Harry tinha novamente tantas preocupações na cabeça que foi somente na véspera, quando Gina lhe perguntou a que horas deveriam chegar ao Ministério, que ele se deu conta de que poderia estar prestes a ser demitido. Nem de longe isso o incomodava tanto quanto tinha lhe incomodado o último enfrentamento direto com o Ministério. A possível expulsão de Hogwarts fizera muito pior aos seus nervos e ao seu senso de justiça. Da outra vez, ele tinha só quinze anos e estava certo, agora, ele era um homem de vinte e seis anos e estava errado.

Hermione mandava-o ficar quieto toda vez que ele dizia isso em voz alta. Com um ar de vingança, que ele só vira a amiga ter quando descobriu que Rita Skeeter era um animago ilegal, ela repetia que não tinha a menor importância o que era ou não verdade nas acusações. E que se Harry não queria manter a boca fechada por si próprio, então que o fizesse pelos amigos. Harry parou de falar no assunto.

Os nervos de Rony, Ana e Tonks pareciam bem mais abalados. É claro que eles confiavam em Hermione, mas ainda assim nenhum deles tinha a segurança financeira de Harry para simplesmente não se preocupar. Enquanto descia as escadas em direção ao Décimo Tribunal[1], localizado no andar mais profundo nos subterrâneos do Ministério, Harry podia ver os quatro agrupados junto à porta de entrada da sala parecendo soberbamente nervosos. Rony estava com as mãos nos bolsos, embalando-se para frente e para trás, e Harry tinha certeza que nunca tinha visto Ana tão pálida ou Tonks tão séria, com os cabelos num corte chanel em tom rosa bebê e a estranha mistura de um longo casaco bruxo e uma calça camuflada do tipo usada pelos exércitos trouxas. Até mesmo Hermione, vestindo as vestes cor de ameixa com o W bordado em prata no peito e com o chapéu que identificava os membros da Suprema Corte dos Bruxos, parecia alterada e não exibindo a calma irritante dos últimos dias.

Harry chegou ao fim das escadas com as entranhas dando voltas. Detestava aquele lugar! Em todo o tempo em que trabalhava no Ministério tinha feito de tudo para nunca ter de ir ali. Tinha algumas das piores recordações da sua vida ligadas àqueles corredores que separavam o Departamento de Mistérios e o Décimo Tribunal. Trincou o maxilar pensando que a Umbridge, muito provavelmente, havia convencido o Ministro a usar aquela sala para a audiência querendo abalá-lo. Gwidion Norwood não era Fudge, pelo contrário, era um homem inteligente e prático. Substituíra Amélia Bones no Departamento de Execução de Leis da Magia após o assassinato desta e, logo depois da guerra, assumira o cargo de Ministro. Mas, como todo o político, ele gostava de um pouco de bajulação e, talvez por isso, Dolores Umbridge tenha permanecido, mais uma vez, como Sub-secretária sênior do Ministro da Magia e ainda conseguisse mover algumas coisas, dentro do Ministério, como ela queria.

Sentiu um aperto suave e quente em sua mão. Gina caminhava ao seu lado e o olhava com tal entendimento que parecia que ele havia expressado todos aqueles pensamentos em voz alta. Harry levou a mão da esposa aos lábios e beijou, enquanto a ruiva lhe devolvia um sorriso cheio de coragem.

– Vocês demoraram – reclamou Rony em voz baixa, quando os dois chegaram à porta do Décimo Tribunal.

– Como se você não conhecesse as grávidas, Rony – devolveu Harry com um falso bom humor.

Gina revirou os olhos.

– Ah... Tava demorando. Agora a culpa é sempre minha. Suponho que você passar vinte minutos olhando para o teto, antes de levantar e mais trinta com os olhos parados em frente ao guarda-roupa também foi culpa minha?

Tonks, Ana e Hermione desataram a rir baixinho, não ficaria bem acusados e defesa rindo antes de entrarem no Tribunal.

– E o Oates? – Perguntou Harry tentando recuperar a dignidade abalada com as troças de Gina.

– Deve estar chegando – respondeu Tonks, controlando o riso. – E a Minerva, Hermione? – Ela fez um gesto com as mãos ajeitando o cabelo chanel como se houvesse a sua frente um espelho invisível. – Ela confirmou que vem, não?

– A McGonagall aqui? – Rony atropelou antes que Mione respondesse. – Por quê? Aliás, Mione, por que toda essa gente veio? Quase toda a Ordem está aqui e até a minha família compareceu inteira, e eu nem sabia, o que...?

Hermione deu um suspiro consultando o relógio de pulso.

– Vieram porque é uma audiência pública, Rony.

– Mas por quê? Quero dizer, essa não é a praxe.

– Não, não é – ela concordou. – Mas eu pedi ao Ministro que fosse, por ser de interesse público e – ela deu um daqueles sorrisos que faziam Harry e Rony agradecerem ela estar do lado deles – todos acharam uma excelente idéia. Não faz essa cara, Rony. Já disse que sei exatamente o que estou fazendo.

Rony não pode contestar porque naquele momento outras duas pessoas entravam no corredor do Décimo Tribunal. Harry achou que tinha feito algum grande mal a alguma pessoa muito importante em outra encarnação. Rita Skeeter avançava seguida por um fotógrafo, ela parecia levemente curiosa ao ver o grupo em frente à sala e, é claro, seus olhos faiscavam por trás dos óculos com pedrinhas já buscando avidamente uma manchete sensacionalista para descrever a cena.

– Aqui estou Sra. Weasley! – Disse dirigindo um sorriso desagradável para Hermione. – Como sempre, disposta a atender as suas “graciosas” solicitações.

– Fico feliz que tenha podido vir, Rita – Hermione respondeu com uma cordialidade fria. – A audiência vai começar em minutos.

– Aham – ela pôs uma mão na cintura e outra sob o queixo e estudou o grupo. – Será que posso tirar uma foto? Não? Quem sabe apenas da Sra. Potter... tão linda... – olhou Gina de cima a baixo. – Soube que são gêmeos...

Harry segurou Rony pelo ombro e percebeu que Tonks fez o mesmo com uma Ana de punhos cerrados. Não tinha idéia do que Hermione queria com aquela mulher ali, mas certamente não era para ela fazer nenhum artigo sobre Gina ou os bebês.

– Rita – ele chamou com uma voz suave e ela o olhou – nem se atreva.

– O Potter tem razão, Skeeter. Afinal, você já vai ter bastante o que escrever após o fim da audiência. – Minerva McGonagal surgiu atrás deles e pareceu ser a deixa para Rita sumir pela porta do Tribunal. Harry sabia que poderia se arrepender, mas ele realmente assustava quando queria.

Hermione se adiantou para cumprimentar a diretora.

– Muito obrigada por ter vindo, Profa. McGonagall.

– Ora, Hermione – Harry achou que só vira Minerva tão animada na última vez em que eles tinham ganhado a Taça do Campeonato de Quadribol das Casas. – Eu não perderia isso por nada deste mundo. Espero por este dia há anos! – Disse com um sorriso muito semelhante ao que Hermione exibia e que só poderia ser qualificado como aterrorizante. Ela se voltou para Harry e Gina. – Soube que os gêmeos são um casal. Parabéns! Já escolheram os nomes?

– Lyan e Joanne – respondeu Harry antes que Gina pudesse se manifestar e a garota sorriu feliz.

A professora arqueou a sobrancelha por um instante.

– Nomes interessantes... de guerreiros... – ela pareceu pensar por um momento antes de dizer – espero que tenham o talento de vocês três para o Quadribol – disse abarcando Rony. – Deus sabe o que a Grifinória tem sofrido nas mãos da Lufa-lufa com aquele goleiro deles. – Olhou por cima do ombro. – O Quim que não me escute, mas estou muito feliz que o Otwani esteja se formando. Pomona tem andado intratável nos últimos dois anos. Bem, vou entrando.

E com um aceno de cabeça e um sorrisinho para Hermione ela entrou para o Tribunal. Ana abriu a boca para perguntar alguma coisa, mas foi brutalmente interrompida por um Rony furioso.

– Rita Skeeter? – Ele perguntou em voz baixa e com os olhos fixos na mulher. – Mione! Rita Skeeter? Você enlouqueceu? Já não bastavam o Colin e a Luna da imprensa? Você tinha que chamar essa... essa...?

Hermione bufou.

– Dá para se controlar, Rony? Eu já disse que sei o que estou fazendo, ok?

Harry viu que a briga iria continuar se não fosse a chegada intempestiva de Richard Oates que avançou correndo como um doido pelo corredor, seguido por uma mulher que vinha de mãos dadas com ele. Rony provavelmente achou que se daria melhor incomodando o colega do que discutindo com Hermione.

– Ora Oates, estamos encantados que você tenha resolvido vir.

– Não enche, Weasley! – Richard respondeu erguendo o queixo em desafio.

Mau negócio. Rony estava uma pilha. Mais um pouquinho, ele estourava e Harry sabia que se fosse com o Richard ia ser bem difícil segurar o amigo. Por segurança, ele largou a mão de Gina e firmemente empurrou Rony pelo peito para longe do colega. A mulher que estava com o jovem Auror sorriu para o grupo e entrou para a sala do Tribunal. Harry percebeu que Gina e Ana fizeram caretas para o perfume forte da garota.

Foi quase com alívio que, alguns minutos depois, ele pode soltar Rony para que os cinco entrassem no Tribunal, junto com Hermione. Gina tinha entrado na sala logo após a acompanhante de Richard e Harry a procurou com os olhos antes de qualquer coisa. Sentiu um ligeiro incômodo ao vê-la muito pálida no primeiro banco da arquibancada da esquerda. Talvez ela não devesse estar ali. Fora egoísmo deixar que ela viesse. Isso podia fazer mal para ela e os bebês. Hermione dissesse o que dissesse, ele sabia como eram aquelas malditas audiências. Ergueu um pouco a cabeça e fez um sinal discreto para Alicia, que estava sentada ao lado de Jorge. A curandeira entendeu e se movimentou para perto da cunhada. Só depois disso, ele conseguiu fixar a sua atenção no tribunal.

À luz dos archotes, as paredes de pedra escura da masmorra tinham um brilho úmido que lembrava a um piche salpicado de pontos de tinta coloridos, representados pelos rostos e pelas vestes dos inúmeros bruxos que estavam ali. As arquibancadas que ele vira vazias há mais de dez anos, estavam agora repletas. Parece que colocá-lo na berlinda tinha atraído um bocado de gente, mas Harry não pode deixar de se sentir grato pela porção de rostos amigos que estavam ali. Embora, certamente, encher a sala de amigos de Harry Potter não tenha sido a intenção de Umbridge, ao concordar com uma audiência pública. Logo, não foi difícil divisar rostos conhecidos de gente que há muito tempo queria que ele se desse mal.[2]

Os cinco caminham até o meio da sala, onde estavam dispostas cinco cadeiras, com as mesmas correntes que costumavam ganhar vida para prender criminosos. Elas retiniram ameaçadoramente quando eles sentaram, mas ficaram no chão. Hermione conjurou uma sexta cadeira, mas de madeira estofada e linhas sinuosas, ao lado de Harry e sentou antes que os seis encarassem os bruxos de vestes cor de ameixa que se sentavam na arquibancada em frente, tendo ao centro o Ministro Norwood, ladeado por Kingsley Shaclebolt e Dolores Umbridge.

Gwidion Norwood era um bruxo completamente careca que provavelmente fora muito gordo e depois emagrecera. Tinha uma enorme papada flácida sob o queixo e um rosto chupado que parecia indicar que ele provavelmente era mais parecido consigo mesmo quando era mais gordo. Um bigode cinzento com fios loiros e ruivos completava sua aparência. O Ministro parecia desconfortável ao olhar os pergaminhos que estavam a sua frente com um suspiro cansado, mas quando ergueu a cabeça falou com voz solene e formal.

– Audiência disciplinar do dia 21 de outubro para apurar a conduta dos Aurores Ronald Bilius Weasley, Ninphadora Tonks-Lupin, Richard Roger Oates e Ana Anhan...Anh... Hã... Ana Weasley[3], sob o comando de Harry Tiago Potter durante os acontecimentos da madrugada do dia 2 de setembro e que culminaram na fuga de três criminosos da mais alta periculosidade da Prisão de Azkaban.

“Inquiridores: Gwidion Abelardo Norwood, ministro da Magia; Kingsley Nelson Schacklebolt, chefe da Seção de Aurores; Dolores Joana Umbridge, subsecretária sênior do ministro. O membro desta corte, Sr. Percy Inácio Weasley, atuará como relator.”

Harry sentiu um movimento rápido ao seu lado. Se não estivesse enganado, Rony tinha acabado de rosnar. Olhou para a arquibancada da direita e percebeu que o amigo não era o único com cabelos e rosto vermelhos a encarar o bruxo ruivo com óculos de aro de tartaruga. Nem mesmo a Sra. Weasley tinha um ar condescendente, mas Percy parecia ignorar a sanha assassina da própria família enquanto apontava erros no trabalho do jovem escriba que se sentava ao seu lado.

– Como Inquiridora de Defesa: Hermione Granger-Weasley, membro desta corte. Podemos começar. As acusações são as seguintes:
“Que os Aurores aqui presentes, em exercício de suas responsabilidades profissionais, atuaram com negligência, imperícia, imprudência ou conivência nos eventos da madrugada do dia 2 de setembro, que resultaram na fuga de três perigosos assim ditos Comensais da Morte, membros da antiga armada que apoiava Vocês-sabem-quem. A apuração da verdade dos fatos em vista da gravidade das acusações se faz de imensa relevância para a segurança da Comunidade Mágica e a credibilidade do trabalho realizado por esse Ministério.”
“Sendo assim, passo a palavra para o Chefe dos Aurores, Sr. Kingsley Nelson Shacklebolt para que ele proceda à primeira inquirição dos acusados”.

A orientação de Hermione era para que eles simplesmente ficassem quietos. Mas e se Quim fizesse perguntas? Eles não poderiam se negar a responder, ela certamente não queria que Harry levantasse ali e começasse a mentir descaradamente.

Porém, Quim não fez perguntas. Simplesmente ajustou as costas e falou com a sua voz retumbante que ele confiava plenamente na atuação dos seus subordinados. E que, para ele, bastava a leitura do relatório que havia sido feito sobre a referida madrugada dos eventos. Acrescentou que acreditava que a palavra de membros qualificados e experientes do seu Departamento, pessoas de sua mais alta confiança, e a sua própria, que por tantos anos se dedicara à comunidade bruxa, deveriam bastar àquela corte. Dito isso, passou a ler o longo relatório que apontava cada uma das ações dos Aurores e da equipe de Harry em Azkaban.

Não que o relatório fosse mentiroso, de forma alguma. Harry sabia que tinha sido Ana, junto com Hermione, que o haviam escrito. Sem nenhuma inverdade, a conclusão final do texto deixava a entender que as pedras da prisão haviam caído por causa dos feitiços usados nos duelos e não por causa de um único feitiço de Harry e ainda por cima realizado sem varinha. Harry achou que, se não tivesse presenciado os fatos, o relatório pareceria bem convincente. Umbridge ouviu tudo com um sorrisinho falso e Harry notou que ela deliberadamente procurava não olhar para o lado em que ele estava sentado. Quando Quim terminou, houveram vários acenos de concordância entre os bruxos que se sentavam atrás do Norwood, mas isto não pareceu abalar Umbridge.

– Passo a palavra para que Madame Umbridge faça a contestação do relatório, se for o caso, inquirições aos Aurores, se assim quiser, e recoloque as acusações que ainda persistirem. – Disse o Ministro quase instantaneamente ao fim da fala de Quim.

– Hem... hem – a bruxa pigarreou daquele jeito irritante que arrepiava qualquer aluno que tivesse estudado em Hogwarts entre 1995 e 1996. Depois se inclinou para frente parecendo, mais do que nunca, com um enorme sapo claro de peruca crespa e que procurava moscas pela sala. A única coisa que destoava era o sorrisinho afetado e extremamente desagradável que lhe contorcia a boca exageradamente grande. – Bem, Ministro e senhores da Suprema Corte, creio que o relatório lido pelo Sr. Skacklebolt, embora muito interessante, foi... um pouco vago, não?

Ela olhou ao redor com uma expressão meiga, como se esperasse que o público respondesse: “Sim, Madame Umbridge.” E Harry pode contar algumas cabeças concordantes. Ela alargou um pouquinho o sorriso.

– Quero dizer, o relatório não conta exatamente o que aconteceu, conta? – Continuou com o mesmo tom doce. – Mas nós sabemos que a Sra. Lupin e a Sra. Weasley tinham ficado para trás. Sabemos que o Sr. Oates foi estuporado assim que o grupo ficou frente a frente com os Comensais da Morte. Restaram o Sr. Weasley e – ela fez uma pausinha teatral como quem coloca o alvo exatamente onde quer – o Sr. Potter.

Harry intuiu o movimento nervoso e indignado dos amigos, mas continuou com os olhos grudados em Umbridge. Nunca deixaria que ela pensasse que poderia intimidá-lo. Ela podia até fazer a sua caveira, mas ia fazer isso olhando para ele. Se ele a estava incomodando, ela não demonstrou quando voltou à carga depois de alguns segundos para o público seguir seu raciocínio.

– Ora, sabemos que Azkaban é protegida por feitiços muito fortes e que a estrutura do prédio não iria ruir apenas por azarações comuns. Por outro lado – Harry achou que ela tinha engolido uma mosca particularmente suculenta – nunca ouvimos falar de nenhum talento mágico excepcional do Sr. Weasley, ou dos referidos Comensais, já... do Sr. Potter...

Aquelas pausinhas que acabavam no nome dele já começavam a irritar. Um pensamento absurdo lhe ocorreu, será que ela conseguiria irritá-lo tanto quanto o Malfoy? Seria interessante se a masmorra desabasse: ela morreria, provavelmente, mas pelo menos provaria seu ponto de vista de que ele era poderoso demais e descontrolado demais para continuar solto. Teve de conter a incoerente vontade de cair na risada, isso não melhoraria em nada nem a situação dele, nem a dos amigos.

– A senhora pretende dizer exatamente o que Madame Umbridge? – O Ministro não tinha interrompido Quim, mas Umbridge parecia o estar deixando desconfortável. Afinal, fora ele que, pessoalmente, aceitara Harry no Ministério. Se o rapaz fosse condenado ou assumisse sozinho o que acontecera, isso poderia respingar em sua carreira. Não era segredo para ninguém que ele havia concordado com a audiência muito contra a vontade e por pressões dentro e fora do Ministério.

– O que estou dizendo Ministro – ela falou com aquele tom infantil que usava ao explicar algo para os alunos, aquele tom que dava a entender que ela os achava completamente idiotas ou fortemente retardados. – É que, mesmo com o apoio de sua equipe, provavelmente o único com condições de mexer com as estruturas de uma fortaleza como Azkaban era o Sr. Potter.

Ela deu um suspiro penalizado e encenou uma expressão tristonha.

– Sei que muitos, julgando o passado heróico do Sr. Potter, irão dizer que isso não tem importância. Mas Ministro, estamos falando da segurança da comunidade mágica. – Ela fez um gesto em direção às arquibancadas e Harry percebeu pelos cantos dos olhos que havia cabeças concordando. – Será que podemos confiar a nossa segurança a alguém tão poderoso e que parece, ao mesmo tempo, tão sem controle... Afinal, já tivemos problemas antes com bruxos com características bem parecidas.

A assistência, até então quieta, estourou. Harry reconheceu as vozes dos gêmeos xingando Umbridge em altos brados, mas eles não eram os únicos. Neville estava vermelho de indignação e o olhar da Sra. Weasley tinha o furor de um basilisco irritado. E Harry certamente nunca vira o Sr. Weasley atingir a cor que era tão comum na esposa e nos filhos, embora ninguém superasse o olhar de fúria gelada da jovem ruiva sentada junto a eles e que tinha ao seu lado uma Alicia aos berros. Colin parara de tirar fotos para xingar a ex-professora e até mesmo alguns bruxos da Suprema Corte chamavam de absurdo e loucura o que Umbridge dizia. Harry sabia que apenas o olhar repressor de Hermione é que segurava Rony, Tonks e Ana nas cadeiras.

– Silêncio! – Berrou o Ministro. – Silêncio ou evacuarei a sala. Isso é um tribunal e não um circo. Calem-se! – A última ordem foi dada para os gêmeos, que não tinham atendido, como a maioria, o primeiro grito de “silêncio”. Carlinhos pôs a mão sobre o ombro de Fred, fazendo-o sentar e Gui puxou Jorge pelas vestes, obrigando-o a fazer o mesmo. – Madame Umbridge – recomeçou o Ministro, passando um lenço sobre a careca coberta de suor – a senhora pode concluir o conteúdo das acusações.

– Obrigada, Ministro – Umbridge não parecia nem um pouco abalada com a reação do público e certamente estava adorando o rascar desatinado da pena verde ácido de Rita Skeeter. – O que peço é que esta corte considere que a Comunidade Bruxa não pode estar à mercê de alguém como o Sr. Potter num cargo tão importante. Sabemos que este jovem – ela lançou a Harry um de seus olhares penalizados – sofreu muito antes e depois da guerra. Não podemos nem nos admirar dele ser um pouco... desequilibrado.

Sua cretina, desgraçada, depois de tudo o que você fez com ele...

Harry achou que não era o único que estava ouvindo Ana sibilando impropérios em português, sentada entre Rony e Tonks, embora achasse que ninguém poderia distinguir o que a brasileira falava, afinal o idioma estranho e o chiado raivoso faziam com que o som lembrasse muito a língua das cobras. Tonks, cujo cabelo tinha passado do corte chanel rosa-bebê por uma longa e revolta cabeleira vermelho-sangue, segurava a mão da amiga como se uma estivesse contendo a outra.

– Madame Umbridge conclua, por favor – pediu o Ministro.

– Claro... – ela distendeu a boca de sapo – eu peço a corte, Ministro, que suspenda as atividades do Sr. Potter como Auror. Cargo, aliás, que ele, apesar do seu histórico e talvez, por causa dele, jamais deveria ter ocupado, como eu sempre disse. Afinal, ser Auror exige responsabilidade e obediência ao Ministério. Duas coisas que sabemos que o Sr. Potter jamais demonstrou. É claro que o Sr. Potter sempre foi eficiente em ter amigos nos lugares certos, sempre prontos a defendê-lo. Mas pergunto, Sr. Ministro, se o senhor e o resto da comunidade bruxa devem ou não ficar à mercê da opinião de meia dúzia de pessoas, enquanto o Sr. Potter usa poderes desconhecidos e deixa livres Comensais da Morte? A Suprema Corte não quer fazer nada até ter certeza do perigo que este rapaz representa? E ela vai ter certeza quando? Quando as ações desequilibradas deste jovem derrubarem as paredes do ministério da Magia? Ameaçarem a pessoa do próprio Ministro?

Umbridge estava inflamada como Harry só a vira no dia em que Marieta Edgecombe entregara a AD. E se ela queria ver alguma parede cair, ele não pode deixar de pensar que ela estava indo pelo caminho certo.

– Acho – ela voltou ao tom infantil habitual – que a Suprema Corte deve determinar o afastamento imediato e definitivo do Sr. Potter.

Ela terminou e olhou para platéia esperando uma nova explosão, mas esta não veio. A arquibancada onde estavam os amigos de Harry ofegava como um enorme bicho raivoso e olhava para Umbridge como se ela fosse a coisa mais asquerosa que jamais pudesse existir. Os bruxos da Suprema Corte pareciam igualmente desconfortáveis. Olhavam silenciosos para o Ministro, aguardando. Mas dava para ver alguns sorrisos satisfeitos na platéia geral. Percy estava muito sério em seu canto da sala.

– Bem – o Ministro secou a testa com o lenço, mexeu nos pergaminhos, secou a testa, pigarreou e se voltou para Hermione com um olhar de súplica – Madame Weasley, a senhora se dispôs a contra-argumentar nas acusações apresentadas por Madame Umbridge. Comece, por favor.

Hermione levantou calmamente, mas dava para perceber que as mãos e a voz dela tremeram um pouco quando ela começou a falar. Mas foi só no começo.

– Sr. Ministro e Sr.s membros da Corte, eu nada tenho a acrescentar em defesa da ação dos Aurores, além do que já foi dito no relatório lido pelo Sr. Shacklebolt e como ele e Madame Umbridge, também não tenho nada a perguntar para os acusados aqui presentes. – Um murmúrio percorreu a sala. – Todo o resto apresentado aqui são apenas as interpretações de Madame Umbridge sobre o ocorrido.

– Não são só minhas, querida.

Hermione lançou-lhe um olhar de desprezo.

– Eu não interrompi seu discurso, “cara colega”. Peço ao Sr. Ministro que garanta que Madame Umbridge, não interrompa o meu.

Harry observou com satisfação a sapa velha inflar quando o Ministro pediu que ela não interrompesse Hermione.

– Obrigada, Ministro. Como eu ia dizendo... interpretações de Madame Umbridge, sem provas e sem testemunhas. Agora, se considerarmos as acusações, os senhores vão concordar que no entender de Madame Umbridge, a única pessoa que deve ser responsabilizada pelo que aconteceu é Harry Potter. – Ela não esperou nenhuma concordância. – Nesse caso, Ministro, creio que os outros Aurores devem ser imediatamente inocentados de qualquer acusação de negligência, imperícia ou conivência em sua atuação no dia 2 de setembro.

A platéia da esquerda vibrou.

– Mas a equipe certamente acobertou...

– Madame Umbridge, por favor! – O Ministro parecia preferir a lógica de Hermione. Concordo com Madame Weasley. Algum dos membros da Corte é contra a moção de Madame Weasley? – Harry contou uns quatro braços erguidos além do da própria Umbridge. – Ótimo! Prossiga, Madame Weasley.

Hermione sorriu parecendo mais calma. Mas Harry ainda não conseguia atinar por que ela o tinha reprimido tanto quando ele quis assumir tudo sozinho, se agora ela fazia exatamente isso.

– Bem senhores, agora que temos um único culpado para julgar, eu gostaria que os senhores levassem em conta os termos usados por Madame Umbridge para qualificar o Sr. Potter aqui presente. – Ela atravessou a sala até o escriba e retirou sem cerimônia o pergaminho das mãos do rapaz, sob o olhar indignado de Percy. – Hã... Ah, aqui... Poderoso demais... sem controle... desequilibrado... É – Hermione devolveu o pergaminho – acho que isso resume bem. E, na verdade, eu não posso dizer que não concordo com Madame Umbridge. Também acho uma temeridade poder demais nas mãos de pessoas sem controle e desequilibradas.

Harry achou que tinha ouvido metade da platéia parar de respirar.

– É por isso que peço aos senhores que desconsiderem completamente as acusações de Madame Umbridge a Harry Potter.

Umbridge moveu-se com violência na cadeira, mas o Ministro encarou Hermione com grande interesse.

– Com base no que a senhora pede isso Madame Weasley?

O sorriso da garota se alargou e ela retirou a varinha de dentro das vestes[4], junto com um frasquinho minúsculo. Ela conjurou uma pequena mesa e depois se encaminhou até a platéia estendendo os braços em direção à Profa. McGonnagal que também segurava a própria varinha. Minerva fez um movimento largo e instantaneamente a Penseira de Dumbledore – agora pertencente à Diretora da Escola – se materializou nos braços de Hermione.

– O que? – Umbridge ergueu a voz com urgência. – O que significa isso?

– Penseiras podem ser usadas em julgamentos e outras audiências disciplinares como provas – explicou Quim com a voz grave e calma. – Decreto de Execução de Leis da Magia número 198 de 1925, se não me falha a memória. Estou certo, Sr. Weasley?

Percy observava atônito Hermione levar a Penseira para o centro da sala, mas confirmou. Hermione depositou cuidadosamente a Penseira sobre a mesinha. Harry ainda não tinha a menor idéia do que ela pretendia e parecia que tampouco Rony ou Tonks tinham entendido. Richard parecia calmo e curioso, estando inocentado, voltara a exibir a arrogância de sempre. Apenas Ana parecia ter compreendido e exibia uma expressão voraz e deliciada.

– Bem – recomeçou Hermione – eu ia pedir uma das Penseiras do Ministério, mas acabei me confundindo com a burocracia... – ela fez uma expressão de quem pede desculpas. – Então, a diretora McGonagall gentilmente me emprestou a Penseira de Hogwarts, que somente ela poderia conjurar aqui.

Harry não podia deixar de admirar a sutileza de Hermione. Pegar uma Penseira do Ministério era deixar que Umbridge soubesse em parte qual era o seu plano, já que esse tipo de coisa circulava por memorandos. Por outro lado, era evidente que McGonagall estava adorando participar daquilo.

– Agora – disse Mione abrindo o frasquinho com um toque de varinha e derramando o seu conteúdo prateado, ao mesmo tempo líquido e gasoso na Penseira – eu poderia usar uma memória minha, ou do Sr. Potter ou do Sr. Weasley ou da Sra. Potter ou do Sr. Longbotton ou mesmo da Sra. Creevey[5]. Afinal, todos estavam presentes, mas para que não houvesse nenhuma dúvida quanto a autenticidade da memória, eu pedi a Srta. Bulstrodge, que foi membro da Brigada Inquisitorial de Madame Umbridge quando ela foi diretora e Alta Inquisidora de Hogwarts, que me fornecesse esta. Mas acho que este sábio Tribunal saberá reconhecer se a memória foi ou não alterada, embora eu garanta sob juramento que não foi.

Dizendo isso, ela deu um toque com a varinha e imediatamente um grupo de figuras translúcidas emergiu da Penseira. Harry reconheceu a si mesmo jogado no chão, Umbridge apontando a varinha para ele e Rony, Mione, Gina, Neville e Luna manietados pelos membros da Brigada Inquisitorial.

Muito bem... – a voz da figura de Umbridge ecoou alta e clara no tribunal absolutamente silencioso. – Muito bem... você não me deixa alternativa... isto é mais que um caso de disciplina escolar... é uma questão de segurança ministerial... sim... sim...

A bruxa se acercou da figura de Harry parecendo hesitar por alguns segundos.

Você está me obrigando... eu não quero, mas às vezes as circunstâncias justificam o uso... Tenho certeza que o ministério entenderá que não tive escolha... A maldição Cruciatos deverá soltar a sua língua.

O “não” gritado por Hermione quase foi abafado pelo bufo indignado e apavorado da platéia.

Profa. Umbridge, isso é ilegal. O Ministro não iria querer que a senhora desrespeitasse a lei, Profa. Umbridge.

O que Cornélio não sabe não lhe tira pedaço... Ele nunca soube que mandei dementadores atrás do Potter no verão passado, mas ainda assim ficou encantado em ter a oportunidade de expulsá-lo.

Foi a senhora? – A voz de Harry soou cheia de indignação. – A senhora mandou os dementadores atrás de mim.

Alguém tinha que agir... Estavam todos se queixando que queriam silenciá-lo, desacreditá-lo, mas fui eu a pessoa que realmente fez alguma coisa... mas você conseguiu se livrar não foi, Potter? Mas não hoje, nem agora... Cruc...

Não! [6]

O grito indignado de Hermione foi o último som que saiu da Penseira antes das imagens se dissolverem e voltarem a circular no seu leito prateado. Mas o silêncio continuou quase palpável na sala. Umbridge ofegava.

– Como eu dizia Ministro – recomeçou Hermione com uma voz suave – poder demais nas mãos de pessoas sem controle e desequilibradas é realmente muito perigoso. Ainda mais quando a pessoa em questão é capaz de lançar uma maldição imperdoável num bruxo desarmado e menor de idade. E eu acho que nenhum membro deste tribunal vai se sentir confortável em levar em conta as acusações de Madame Umbridge contra Harry Potter depois disso. Não depois dela ter se mostrado tão disposta a persegui-lo, torturá-lo e até matá-lo, se fosse o caso. Acho que não há nenhuma dúvida sobre quem é desequilibrada aqui.

Aconteceu muito rápido. Harry achou que seu instinto o tinha dominado de novo, pois quando se deu conta ele tinha dado um salto e jogado Hermione no chão protegendo-a com o próprio corpo, enquanto um raio verde voava sobre a sua cabeça e batia furiosamente na porta do Décimo Tribunal. Ouviu a voz de Quim e outros gritarem feitiços de impedimento e desarmamento e um urro de Rony que avançava em direção à arquibancada da Corte. Quando Harry ergueu a cabeça viu um monte de fumaça, várias cadeiras de pernas para o ar e Umbridge estuporada, caída sobre a arquibancada.

Harry se ergueu e ajudou Hermione a levantar. Longe de aparecer apavorada, ela sorria com todos os dentes.

– O Rony tem razão, Hermione. Você é assustadora, brilhante... mas realmente assustadora.

Harry olhou para amiga com enorme admiração e completou, sorrindo.

– Eu é que não quero jamais ter de brigar com você.




***********************
[1] A descrição do Décimo Tribunal do Ministério da Magia é feita no Capítulo 8 da OdF por JKR.
[2] Para compreender melhor isso leia Harry Potter e o Segredo de Corvinal, da Belzinha.
[3] O nome impronunciável de Ana, para os ingleses, é Anhangüera.
[4]Parti do princípio que os funcionários do Ministério podem portar varinhas no tribunal (isso aparece na OdF e inclui Dumbledore, que era um visitante), mas parece que não é aceito para acusados (é o que acontece com Harry em OdF).
[5] Sobre Luna e Colin Creevey ler a fic da Belzinha, O Segredo de Corvinal.
[6]OdF, p. 605.
N/A: Gente, antes de tudo, desculpem pelo tamanho do capítulo. Ficou realmente imenso. Acho que passei dos limites, mas em minha defesa tenho a dizer que todos os leitores que consultei me incentivaram, então... deu nisso. Pensem tb que ele compensa assim a demora, ok?
Sobre o capítulo: Novas desculpas. Não devo ter atendido as expectativas de vcs sobre o capítulo (aguardem o próximo, prometo que não falho). Acho que sacrifiquei um pouquinho a história para uma vingancinha bem pessoal. Em minha defesa, digo apenas que isso estava planejado desde o início e que só depois de escrever isso, vou poder voltar a ler a OdF com o coração leve, hahahaha (*risada maquiavélica*).

Uma dica para os fãs da Danna: Como eu falei a Danna é descendente de selkies. O povo selkye é uma lenda do norte da Europa, especialmente das Ilhas. Para saber mais sobre a lenda minha dica é ver o lindíssimo filme O Mistério da Ilha, considerado uma das melhores adaptações já feitas sobre o tema e dar uma olhada no site http://www.orkneyjar.com/folklore/selkiefolk/index.html

Bernardo: O que posso dizer? Acho que concordo com sua opinião sobre o seboso, mas admita, é divertido vê-lo em cena, tendo que conviver com quem detesta, não é? Adoro seus comentários. Beijos.
Charlote Ravenclaw: Não sei se atendi suas expectativas nesse capítulo, mas espero que tenha gostado da garotada e da minha pequena vingança, hehe. Beijo imenso.
Belzinha: Co-autora e assessora para assuntos jurídicos seu comentário me deixou besta. Obrigada mesmo! Fiquei até sem jeito com tantos elogios. Quanto as suas perguntas... Bem, só posso responder que as mudanças do Morcegão têm um por que, nada muito extravagante, mas tem um por que, sim. Quanto ao Widenprice? Vc acertou em cheio!
Samoa: Que bom que vc voltou a comentar! :D Quando alguém deixa de aparecer eu sempre fico com a impressão de que desagradei e a criatura preferiu me dar solenemente às costas. Quanto ao Fausto... bem, acho que as únicas coisas em comum aqui com o livro original (na verdade são 2) são os nomes de Fausto, de Mefistófeles e o pacto deles em troca de uma sabedoria ilimitada. Se quiser saber mais, de uma olhada em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/livro_fausto.htm
MarciaM: Fico feliz que tenha gostado Márcia e não, claro que a Gina não iria, seria perigoso demais para a nossa gravidinha, mesmo ela sendo tão poderosa. Beijos!
Paty Black: Valeu pelo comentário querida. Eu tb adoro escrever o Harry e a Gina... Falando nisso... a senhora está devendo atualizar uma certa fic, não? *pezinho batendo impaciente* Estou esperando. Beijão!
Bruna Perazolo: Gente, o Hector precisa de umas palmadas e todo mundo se derrete com ele? Hehe... tá bom, admito que o moleque sabe ser fofo, até mesmo sedutor, e faz uma dupla do barulho com a Mel. Fiquei muito feliz de vc dizer que gostou da forma como escrevi essa parte. Quanto a reunião da Ordem? Parar de olhar no buraco da fechadura e entrar na sala era exatamente o que eu queria. Beijos grandes.
Morgana Black: Pode deixar que dou seu recado, hehe! Que bom que alguém não se incomoda com a demora. Eu gostaria de postar mais rápido, mas quero que fique tudo direitinho, aí dá nisso. Esse capítulo, mesmo tendo pouca ação exigiu um monte de pesquisa, acredite, fiz um monte de malabarismos para não fugir do Canon. A Danna e o Hector pelo visto já tem fã-clubes, hehe. Isso deixa a mim e a Bel muito felizes. Quanto ao Ranhoso, acho que nem escrevo o cara, ele entra na cena e faz o que quer (hahaha), mas ele ainda é o Ranhoso, viu? Beijo, linda, e obrigada sempre.
Maria Luisa: :D Adorei seu comentário morganiano, hehe. Acredite, temos os mesmo sentimentos em relação a Bella (nós e a torcida do Flamengo, imagino). Quanto às confusões dos garotos... vem mais. Hector e Mel... humm, eles ainda são pequenos... por enquanto, hehe. Beijo grande.
Luna Weasley: Ai querida, estou com uma saudade de vc! Faz um tempão que a gente não se fala. Desculpe pela demora em atualizar, mas como diz minha avó: este deu trabalho. Adorei seu comentário e que bom que vc gostou da referência ao Aladim. Eu sou uma viciada em desenho animado, então quando comecei a escrever, essa a frase ficou quicando na minha cabeça. Quanto aos casos que vc está vendo... só posso dizer que vc... (ops, deu problema no teclado, hihi). Beijo, linda!
Douglas Lucena: Adorei vc ter vindo conferir esta fic depois de ter lido a outra. Fiquei lisonjeada, muito abrigada, beijos!
Carline Potter: AHHHH! Como é que eu vou responder a esta tese? Não estou reclamando. Eu amei e, para falar a verdade, cobrei que vc não andava aparecendo, não é? Bem, primeiro eu tenho que agradecer a sua leitura cuidadosa e cheia de detalhes. Ler seus comentários me faz pensar em muitas coisas sobre a fic e me mantém alerta. Obrigada. Agora, vc sabe que não posso responder a todas as perguntas que vc fez, não é? Então vou colocar só algumas, ok? 1.Não, eu não esqueci de nenhum personagem e todos eles, digo os PO que parecem ter alguma relevância (mesmo que não estejam aparecendo sempre), vão ter realmente, mas na hora certa. Minha dica é: preste atenção neles. Aí nada é por acaso. 2.Quanto ao Harry... não tinha notado o que vc disse, mas talvez seja verdade... não sei... mas eu não deixo de achar que de vez em quando ele faz umas bobagens. O que vc falou sobre os sentimentos foi um grande elogio para mim, mas só busco ser coerente com os personagens e tento ver as coisas do ponto de vista deles. Fico feliz que isso soe com a intensidade que vc descreveu. 3.Gina e Aradia estão irremediavelmente ligadas. 4.Não há ligação com bracelete da fic da Belzinha. 5.Religare? Nada a declarar. 6.Qual é a da Medeia? Nada a declarar. 7. Danna, Rupert e Andrew? Vc leu este capítulo, não? Hehe. 8.Sim, o desenho é Aladim. Tb adorei conhecer vc e peço desculpas pela demora do capítulo. Beijão amiga!
Géia: Garota, sabe que de tanto andar pela Floreios a gente acaba cruzando várias vezes com algumas pessoas. Eu já conhecia vc e respeitava seus comentários em outras fics (o que significa dizer que se vc estava comentando, eu acabava entrando para ler, especialmente nas fics H/G – tb sou fanática). Agora vc vem aqui e ainda diz que gostou! Puxa! Fiquei sorrindo de orelha a orelha. Engraçado, vc trazer a coisa da magia da gestação, já que a primeiríssima imagem que me veio da fic é que Harry e Gina estariam começando a própria família e tudo acabou se desenvolvendo em torno disso. Estou muito feliz em tê-la lendo e comentando aqui. Um beijo enorme para vc!
Grazi DSM: Quem agradece de vc vir sempre ler e comentar sou eu, querida. Tb morro de medo de aranhas, mas o que posso fazer se o menino é uma peste? Quanto aos nomes dos bebês, espero que tenha gostado – ainda tem um detalhizinho sobre eles, mas ficou para o próximo capítulo. Beijão!
Kika: Não precisa se desculpar querida, vc chegando é a conta, hehe. Só vc, a Carolzinha e a Trinity comentaram a escapada do Rony e da Mione (acho que os dois estão adorando ter uma babá, hihi). Beijos grandes!
Andrew Stepking : É sempre bom ler comentário de gente nova, ainda mais saber que já acompanha há tanto tempo. Obrigada. Quanto ao Hector. Bem, eu acho ele uma peste, mas não acho tão incompatível com o Lupin, talvez isso fique mais claro quando ele for maior, e não esqueça que ele é filho da Tonks. Mas se vc quiser saber exatamente a imagem que tenho dos pais do Hector leia http://www.floreioseborroes.com.br/menufic.php?id=11286, da m.dashwood. Quanto aos beusclainh, o nome é uma criação minha, não sei, simplesmente me veio quando a imagem deles se formou na minha cabeça. Me inspirei nos medos infantis sobre demônios. Pode esperar que vou aparecer na sua fic assim que der, ok? Beijos!
Carolzinha: Eu amei o comentário gropesco, Carol. Quanto a ajudar o Snape, o cara é um mala, não é? Mas ele vinha sofrendo há anos com dores atrozes e achei que se poderia dar um refresco. Aguarde para ver no que vai dar. Eu tb adoro as tiradas do Harry desde a vez que ele disse para o Crabe, travestido de garota que ele era bem bonitinha, hihi. Beijos linda!
Leo Potter: Oba, mais gente nova no pedaço. Valeu! Que bom que vc gostou e não se intimidou com os meus capítulos imensos. Fiquei bem feliz. Beijo grande.
Rafael Delanhese: Pois é, Rafa, eu tinha adiantado o título para vc, mas acabei trocando. Achei que o atual coube bem mais quando o capítulo ficou pronto. Mas o próximo por enquanto, ainda vai se chamar: Dia das Bruxas. Beijão, querido!
Trinity Skywalker: Menina, espero que vc esteja melhor da sua gripe, e que seus problemas com o PC se resolvam logo, porque estou já sofrendo de síndrome de abstinência da sua fic. Sério! Fico feliz que com toda essa loucura vc ainda tenha podido passar aqui e deixar esse comentário maravilhoso. Vc sabe o quanto eu fico feliz quando vc gosta, não sabe? Quanto aos meninos, acho que temos procurado fazê-los bem moleques e vc sabe como meninas tendem a ser repressoras, aí dá nisso. Que bom que curtiu o Rony e a Mione, tb adoro os dois. O que achou da nova dinâmica com a Winky? Sim, concordo, a Gina é tudo de bom! De novo obrigada pelos elogios e saiba que são recíprocos, ok? Um beijo carinhoso.
Regina McGonagall: Que bom que vc curtiu a coisa da reunião da Ordem, eu queria matar aquela vontade que fiquei no livro 5 de entrar na cozinha dos Black e ouvir tudinho, hehe. Quanto ao seu “irmãozão”, admita que ele tem um prazer imenso em incomodar, hihi, mas eu acho divertidíssimo quando ele faz isso. Beijo grande Regina!
Sônia Sag: Vc voltoooooouuuu!!!!!!! Yupiiii!! Estava sentindo muita falta dos seus comentários aqui e me sentindo abandonada. Ao seu primeiro comentário, a minha resposta é apenas: O Snape é o Snape! Hehe. Quanto ao dia das bruxas eu vou dar uma de Sônia e dizer que espero que os meus planos não decepcionem ninguém. Beijo grande e bem-vinda de volta.

Valeu pelos comentários e votos e pelos 3000 e tantos acessos e pelos leitores silenciosos.
Beijo e até o próximo!

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Comentários (1)

  • Priscilla Florêncio

    Eu realmente não iria comentar aqui, na verdade nem sei vão ler meu comentário... Mas, como leitora não posso deixar de expressar a minha opinião... Estou acompanhado a história, e estou gostando bastante... Tem aventura, ação, comédia e ramance... Os seus personagens originais, são ótimos, todos têm muita personalidade própria, e isso acaba nos conquistando... Mas estou aqui por uma coisa que realmente me deixou muito incomodada, e não é apenas um detalhe... Os nomes que você escolheu para dar aos filhos do Harry e da Gina... Eu não gostei nenhum pouco, na verdade me deixou muito decepcionada, como leitora, por que até então, estava tudo certo... Eu realmente nunca pensei havia outros nomes em cogitação, afinal, os pais do Harry morreram, e eu estava certa de que seria Tiago e Lilian, o que seria perfeito... Mas, não foi isso o que aconteceu... Então estou fazendo um desabafo aqui... Realmente, isso me decepcionou muito... E por esse motivo, que para muitos, pode até ser um detalhe idiota, para mim não é... Vou tentar continuar a ler a história com o mesmo entusiasmo de antes, mas acho que não vai dar... Infelizmente. Isso me deixo muito triste... Enfim, é só um desabafo... 

    2016-01-11
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