Famílias
Capítulo 18
Famílias
A Mansão Malfoy em Wiltshire* era um lugar impressionante. Situada no interior de uma imensa propriedade rural que lembrava os antigos senhorios, a construção remetia à inegável ancestralidade de seus amos naquela região. Os incontáveis acres de terra que cercavam o palacete não haviam sido comprados com o ouro dos seus donos, mas conquistados com guerra, intrigas e sangue. Uma forma de aquisição nobre e digna, segundo os antigos códigos.
A casa senhorial datava de um período impreciso. Seu aspecto estendido e palaciano dava a impressão de remontar a uns 400 anos, embora, muito provavelmente, a última grande reforma datasse de meados do século XIX. Apesar do ar decadente que ostentava há quase uma década, não havia como um visitante ocasional não se impressionar com a visão de seus quatro amplos andares; de suas mais de 60 janelas (somente na parte da frente); de seu imenso parque, sobre o qual se estendiam longos e anteriormente muito bem cuidados jardins, onde eram plantadas as mais extravagantes espécies de flores. Na parte de trás, se podia passar por longas estufas, plenas de ervas e fungos dos mais diferentes tipos; um imenso corujal e inúmeras cocheiras, onde já haviam residido os mais belos cavalos alados. Mesmo a paisagem triste, desfolhada e cinzenta do outono parecia aumentar ainda mais a aura de poder que emanava do lugar.
Contudo, seria muito difícil qualquer visitante desavisado chegar até a casa. A Mansão Malfoy era, antes de qualquer coisa, uma propriedade de bruxos. E não pertencia a um tipo de bruxo qualquer, mas a homens e mulheres da mais pura linhagem, ciosos de sua condição, orgulhosos de seus poderes. Nenhum trouxa poderia ver ou chegar até a Mansão Malfoy e, se conseguisse, provavelmente se arrependeria.
Mais de perto, no entanto, a casa mostrava estar perdendo para a ação do tempo a sua antiga majestade. As janelas estavam escuras e sujas, algumas tão quebradas quanto as antigas estufas, que agora eram invadidas pelo mato. O parque e os jardins estavam abandonados às ervas e aos animais daninhos. As cocheiras, há muito vazias, rangiam lenta e fantasmagoricamente ao sabor do vento. A casa exalava um ar definitivamente mal-assombrado, quase trágico.
Draco agradecia que, naquele momento, a casa exibisse aquele ar desabitado. Isso a tornava um esconderijo eficaz até ele ter a exata idéia do que pretendia fazer. A conversa com Snape tinha lhe dado uma vaga imagem sobre o que estava acontecendo. Seu pai e a “titia” Bella estavam juntos num plano para trazer o Lorde das Trevas de volta, o que era ruim em sua atual condição, e se vingar do Potter, o que era sempre bom. Mas, desde que entrara novamente em casa, um outro pensamento começou a rondar perigosamente sua cabeça.
Draco se afastou da janela onde estivera examinando os jardins e recordando. Seu pai tinha lhe prometido um mundo novo. Um mundo em que a natural superioridade de gente como eles seria reconhecida e respeitada. Mais que isso. Seria louvada e obedecida. Correu os olhos pela sala escura e cheirando a mofo em que se encontrava, ao mesmo tempo em que lembrava de seus dias de Comensal da Morte na Mansão Riddle. Um lugar ainda mais decrépito que sua própria casa. Um sorriso desdenhoso cruzou seu rosto pálido, enquanto a imagem se desenhava em sua mente. Todos aqueles bruxos orgulhosos lá, se curvando como elfos domésticos diante do Lord. Vivendo como animais, esperando o glorioso dia em que teriam a total liberdade para sair matando e torturando trouxas e mestiços. Como se, por esse “prazer” idiota, valesse a pena deixar de vestir roupas adequadas à sua condição, fazer refeições decentes, ir a lugares interessantes, ser servido ao invés de servir. É claro que ele reconhecia que o Lord das Trevas era poderoso e tornar-se seu próximo era uma oferta muito sedutora, mas ele, Draco, fora criado para ser senhor e não servidor. Às vezes, lhe ocorria que Lucius era provavelmente tão doido quanto sua tia.
– Meu senhor Malfoy – interrompeu-o timidamente o elfo que o acompanhara desde Durmstrang, fazendo uma enorme reverência, as imensas orelhas roçando no tapete roído de traças. Draco o olhou aborrecido. – A pessoa que estava esperando, meu senhor Malfoy, chegou.
– Mande-a entrar – disse com um gesto impaciente.
O elfo fez uma nova reverência e saiu aos saltinhos em direção a porta por onde, poucos segundo depois, entrou uma mulher de estatura mediana que retirava o capuz da capa de viagem de sobre a cabeça e meio que atropelava o elfo que a conduzia, quase o derrubando. Draco achou que ela havia engordado desde a última vez que a vira. Os cabelos estavam cortados mais curtos, mas ainda eram escuros como os da irmã mais velha, e os olhos azuis, tão parecidos com os da irmã mais nova, tinham uma expressão fria, que Draco não recordava ter visto neles.
– Titia Andrômeda – falou com a voz arrastada e desdenhosa. – Não achei que fosse demorar tanto a atender ao meu chamado. Sente-se – falou com um tédio que deixava bem claro estar apenas cumprindo o ritual de receber. – Posso lhe oferecer algo para beber. Um café, um chá, um vinho, nossa adega permanece a mesma apesar do abandono do resto – fez um gesto largo.
– Não, Draco, não quero sentar nem beber nada – respondeu a mulher muito tensa.
– Não parece contente em me ver tia Andrômeda? – A pergunta tinha um tom de constatação.
– Por que voltou Draco?
– Ah, eu vou bem também, titia. É sempre bom receber o carinho da família quando retornamos ao lar.
Ela não pareceu se abalar com o cinismo.
– Por favor, Draco, me diga que não voltou para se reunir ao seu pai e a Bella. Não dê prosseguimento a essa loucura, menino. Você já estava fora de tudo isso – havia genuína preocupação na voz de Andrômeda.
Draco ergueu a sobrancelha aborrecido e a interrompeu rispidamente.
– Não a chamei aqui para ouvir sermões! – A mulher fechou a boca e voltou a encará-lo com frieza. – Sei que estou em dívida com você, tia. Me ajudou a sair da Inglaterra. Controlou a conta da família no Gringottes e me mandou dinheiro sempre que precisei. Sei que se arriscou por isso, e sou grato por, apesar de tudo, jamais ter revelado onde eu estava. Aliás, até onde eu sei, não revelou nem mesmo qual de suas irmãs tinha realmente morrido.
– Nunca tive certeza de que Bella tinha ficado viva... pelo menos até agora. E a verdade, Draco, é que na época não me pareceu ter muito diferença contar.
– Mesmo?! – Exclamou surpreso. – Com uma filha Auror e tão... próxima dos heróis da guerra? Sempre achei que a minha priminha faria a maior festa se soubesse dessas coisas.
A sombra de um sorriso passou no rosto de Andrômeda ao ouvir a referência a Tonks, mas logo se apagou.
– Você não tem que me agradecer, eu devia isso a minha irmã, Draco. Tínhamos nossas diferenças, como as tenho com Bella, mas filhos são filhos... Fazemos loucuras por eles, coisa que Bellatrix jamais entenderá.
– Ainda assim...
– Você podia ter voltado antes, Draco. Você somente não foi completamente inocentado pelo Ministério porque nunca apareceu para se desculpar. Eles estavam inclinados a lhe conceder um perdão oficial, levaram em conta sua juventude e bem... o fato de seus pais serem... Por que agora?
– Curiosidade – respondeu displicente. – Quero saber o que eles pretendem fazer.
– E você já sabe o que eles pretendem?
– Ainda não – falou lentamente considerando o punho da camisa sob a veste. – Também está curiosa, titia?
Andrômeda esfregou as mãos nervosa e fez uma breve careta.
– Desde que seu pai fugiu tenho... – ela se calou – você já se encontrou com ele?
– Nesse caso, eu já saberia o que ele e Bella pretendem, não? – E arrematou antes que as perguntas continuassem. – Eu a chamei aqui para pedir minha chave do banco, tia. Então, basta a senhora devolvê-la e poderemos dar por encerrada a nossa agradável conversa.
Andrômeda o encarou por alguns segundos antes de colocar a mão no bolso interno das vestes e retirar uma reluzente chave de ouro e entregá-la a ele.
– Muito obrigado – respondeu seco, mas Andrômeda não parecia disposta a retirar-se ainda. Ela lançou um longo olhar pela sala.
– Esse lugar devia ser bonito... – comentou com uma voz sonhadora.
– Pensei que já tivesse vindo aqui.
– Ah... – acrescentou – eu vim, mas faz muito, muito tempo. – Os olhos azuis voltaram a encará-lo. – Sabe, você tem dinheiro para reconstruir tudo isso. Poderia até retomar o respeito da sua família, se ficasse do lado certo dessa vez.
O rosto pálido do rapaz tingiu-se levemente do calor raivoso que lhe subia pelo pescoço. Não sabia se estava mais bravo pela nova tentativa de evangelizá-lo ou porque ela estava lendo os seus pensamentos. Agarrou-se com desespero ao que mais lhe atormentava em toda aquela história.
– Você se esquece, “tia” – falou entre os dentes – que os assassinos da minha mãe estão do seu lado “certo”.
Andrômeda não se abalou. Na verdade, retorquiu com muita calma.
– Eles eram tão garotos quanto você e, ao contrário do que você tentou... eles não tinham a intenção de matar Narcisa, eles pensaram que era...
– Eu sei o que eles pensaram – ergueu a voz furioso. – Não pense que perdôo Bellatrix por isso. Tenho certeza que foi ela que convenceu minha mãe a entrar na casa do inimigo usando a sua cara maldita, como se fosse possível ela sair de lá viva. – Respirou fundo. – Mas isso não muda o fato de que aqueles dois a mataram.
– Era uma guerra, Draco! Os dois lados sofreram perdas. Perdas enormes, você não pode...
– Não posso o quê? De fato, o que é que eu posso, tia Andrômeda? Continuar a me esconder como um verme? Eu que nunca matei ninguém. Enquanto o Santo Potter desfila por aí com linda mulher e filhinho depois de ter matado a minha mãe?
– Ninguém está pedindo que deixe de odiá-lo, Draco – era a primeira vez que a voz dela tinha uma autoridade que realmente lembrava o que Draco havia conhecido da família Black. – Apenas quero que pense que futuro terá unindo-se a Lucius e Bellatrix e que futuro pode ter se simplesmente não embarcar na loucura deles.
– E se eles conseguirem? – Desafiou. – E se dessa vez eles vencerem?
– Eles perderam das outras duas vezes... E se ganharem, Draco, vão ganhar exatamente o que?
Draco virou-se para a janela sem conseguir encarar o rosto atento de Andrômeda. Se ela o olhasse de frente, ele tinha certeza de que ela perceberia que tinha feito uma pergunta e que Draco tinha compreendido outra. Afinal, o que ELE ganharia se o Lorde das Trevas retornasse?
– Tenha um bom dia, tia Andrômeda – dispensou-a com a mesma voz entediada sem se voltar. – Não esquecerei minha dívida com a senhora.
– Draco...
Ele estalou os dedos e o elfo imediatamente apareceu e sem que o amo dissesse nada ele começou a empurrar Andrômeda para fora sem muita cerimônia. Ela não resistiu muito tempo. Lançou um último olhar para o rapaz ainda de costas olhando o jardim e saiu a passos largos para a porta da frente. Nem bem cruzou a soleira, ela cobriu a cabeça novamente com o capuz e aparatou num farfalhar de tecido.
Desaparatou longe dali, nos subúrbios de Londres, num beco sujo que dava para uma pequena praça, ao redor da qual se dispunham casas decadentes cobertas de fuligem. Ela começou a atravessar as ruas indo em direção ao gramado central. Deu um sorriso quando viu, sentado no num banco de jardim de tábuas lascadas, um homem alto de vestes marrons lendo um livro. Ele ergueu os olhos percebendo o seu movimento, fechou o livro e levantou indo ao seu encontro.
– Estava preocupado... Não agüentei ficar lá dentro, esperando. Como foi? – Perguntou Remo ansioso.
Ela tirou a capa, mas os cabelos não eram mais negros e o rosto também não estava mais gordinho. Em seu lugar cabelos verde elétrico espetavam para todos os lados e o olhos, ao invés do tom azul pálido tinham uma coloração índigo. Tonks deu um suspiro.
– Exatamente como a mamãe nos falou. O garoto é quase tão escorregadio quanto o pai. Mas vamos entrar, eu conto tudo lá dentro. – Respondeu com a voz desanimada.
Remo concordou e passou a mão sobre os ombros dela enquanto caminhavam para o número doze do Largo Grimmauld, sede da Ordem da Fênix.
– Ele não a ameaçou, não é? Não gostei nada dessa idéia de você ir lá sozinha.
– Não... ele tem uma dívida com a mamãe, não faria nada contra ela... e estava realmente sozinho lá.
– Você ainda está chateada com a sua mãe, não está? – Sondou ele, percebendo a nota amarga na voz dela.
– Estou – respondeu emburrada. – Eu não acredito que ela me escondeu isso por tanto tempo. E o pior... acho que se ela não tivesse ouvido nós dizermos que o Snape tinha nos contado da volta do Draco, ela ia continuar sem falar nada.
– Tonks, a sua mãe teve... – tentou contemporizar, mas ela não deixou.
– Eu sei que teve motivos, Remo, tive de decorá-los para falar com o garoto... – Fez um gesto exasperado. – Ah, deixa pra lá! Eu sobrevivo.
À frente deles, o número onze e o número treze da rua começara a se encolher enquanto no meio ia surgindo o número doze como que inflando entre as casas vizinhas.
– Então, já conseguiram abrir o livro? – Falou mudando de assunto.
– Desde que você saiu, não – Remo respondeu bem humorado – mas Snape mandou uma coruja dizendo que logo chegaria com novidades. Estamos esperando.
– Malfoy e Snape no mesmo dia... – Tonks deu um suspiro desalentado. – Ninguém merece.
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UMA SEMANA ANTES
Um silêncio pesado tinha baixado sobre A Toca. Era madrugada de segunda-feira, mas o sono e o cansaço alegre da festa que se seguira ao anúncio da chegada dos gêmeos tinham sumido dos rostos dos Weasley. As crianças já estavam acomodadas no andar de cima, dormindo sob os cuidados de Dobby e Winky que haviam sido chamados para que os adultos pudessem conversar. Carlinhos havia acabado de contar o que Ana e ele tinham descoberto e agora fixava com muita atenção um furo na madeira do assoalho. Parecia não ter nenhuma vontade de encarar os pais, os irmãos e as cunhadas e, decididamente, não dava nenhuma mostra de querer olhar para o lado da sala em que estavam Harry e Gina.
Ana, ao contrário, olhava nervosamente para cada um dos presentes tentando captar o que estavam pensando. Mas fora os rostos chocados, ninguém parecia disposto em romper o silêncio que já se tornava exasperante. Ela teria esperado, na verdade, uma reação bem mais violenta do que a que estava vendo. Molly tremia consideravelmente, mas não chorava. Fleur estava grudada no pescoço de Gui apertando os lábios fortemente enquanto ele lhe acariciava os cabelos. Rony estava sentado no chão, encostado nas pernas de Hermione que se curvara para frente, abraçando-o, os dois não tiravam os olhos de Harry. Tonks e Lupin estavam em um canto próximo à lareira com os olhares igualmente desfocados e perdidos. Jorge encarava o teto e Alicia tinha o rosto escondido entre as mãos, debruçada sobre os joelhos. Fred, como Ana, não parava de procurar reações nos outros, enquanto Cátia tinha uma das mãos na boca ainda segurando um grito que não dera. Gina estava deitada no sofá com a cabeça no colo de Harry, os dois mantinham, desde que Carlinhos parar de falar, um de diálogo mudo sem desgrudar os olhos um do outro. Foi Artur o primeiro a reagir.
– Parece... – falou como quem testa a voz para ver se não a tinha perdido – que eles... hã... não estão brincando mesmo, não é?
– Eu temia que algo assim aparecesse – falou Lupin rouco, quinze pares de olhos viraram para ele. – Sabemos com quem Fausto mexeu para conseguir os rituais desse livro – apontou para o volume de capa negra sobre a mesa. – Mas eu realmente não achei que eles... que os Comensais da Morte tivessem coragem de se aliar...
– Eles não têm nada a perder Remo – esganiçou Hermione. – E isso, talvez, seja o pior de tudo. Não há nada que possa pará-los. Eles vão usar qualquer coisa... o que puderem.
Rony segurou as mãos dela que tremiam visivelmente. Ana deu um suspiro curto parecendo agradecer o fato de que se voltara a falar na sala.
– O que me incomoda – disse contrariada – é como se têm tão pouca informação sobre essas coisas. Quero dizer, sou uma Auror certo? Como é que deixaram eu entrar no Ministério sem que me informassem nada sobre isso.
– Você fez um curso menos longo que o meu, Ana – explicou Rony. – Claro que sendo bruxo de nascença eu já tinha ouvido falar, mas acredite, as informações que a gente recebe são mínimas e isso nem aparece nos testes finais.
– Na verdade – começou o Sr. Weasley – os únicos que têm acesso a informações mais completas são os que formam um grupo dentro dos Inomináveis do departamento de Mistérios. Mas a gente não sabe muito bem nem quem eles são, nem o que fazem.
– Mas isso é um absurdo completo! – Indignou-se a brasileira.
– En Beauxbattons, nós aprrendemos sobrre os Beusclain en nosso último an... Non erra muita coisa, mas pelo menos non ficávamos ignorrantes come vocês.
Dez anos “melhorando” o inglês não tinham diminuído muito o sotaque de Fleur e menos ainda suas contínuas comparações entre o mundo bruxo inglês e o francês. Para ela, o do seu país continuava sendo muito melhor. Os cunhados disfarçaram revirares de olhos e antes que um dos gêmeos resolvesse puxar uma discussão, Harry resolveu intervir.
– Acho que você vai ter que começar a se acostumar com os absurdos que os bruxos fazem, Ana. Mas a verdade – a voz de Harry tinham um tom ligeiramente pensativo – é que isso tudo não muda muita coisa.
O grupo inteiro se mexeu como se fosse um só. E esse um não tinha entendido o que exatamente Harry tinha querido dizer com aquilo.
– Você não pode estar falando sério Harry? Essas... essas coisas são... matéria de pesadelos! – Disse Alicia chocada.
– Eu sinto muito, Alicia, mas eu estou falando sério – ele lançou mais um olhar para Gina – eles vão usar todas as armas possíveis e nós vamos fazer o que for necessário para nos defendermos. Saber dos beusclainh – um arrepio rodou a sala – não altera as posições que tomamos.
Jorge passou o braço pelos ombros da esposa que ainda olhava para Harry como se ele fosse de outro planeta.
– Estamos com você, Harry – falou Fred. – Eles não vão conseguir. Nós vamos impedi-los. Já fizemos isso antes!
– Sente-se, Fred, estamos falando de uma guerra e não de um jogo de Quadribol – a Sra. Weasley tinha um tom cansado. – Não importa o quanto somos bons ou o quanto merecemos ganhar e viver em paz – a voz dela começou a falhar e tremer perigosamente. A-Alícia está certa... é tudo mu-muito sé-e...rio... – E desmontou sobre o lencinho que tinha na mão, fazendo com que o senhor Weasley se levantasse para ir confortá-la.
– Vamos lá, Molly, não fique assim... – disse dando palmadinhas no seu ombro.
– Co-como Artur? – Ela fungou. – Vocês por acaso olharam pa-a-ra... o re-ló-gio? – Imediatamente a família inteira se voltou para o estranho relógio dos Weasley, o qual, agora tinha em seus ponteiros, além de Harry, todas as senhoras Weasley e as crianças. Como se o objeto tivesse ouvido o relato de Carlinhos, todos os ponteiros, agora estavam acotovelados sobre o ponto que marcava “Perigo Mortal”.
Harry conhecia tão bem a coragem dos Weasley, demonstrada por Fred, como os medos expressados por Alíca e pela Sra. Weasley. E não conseguia deixar de se sentir um pouco culpado por estes últimos.
– Eu realmente sinto muito Sra. Weasley. Eu não...
– Não seja tolo, Harry – atalhou a Sra. Weasley rapidamente enquanto se afastava do marido e enxugava as lágrimas decidida. –Você não tem culpa de nada e nem deve se abalar com uma manteiga derretida como eu. – Ela tentou sorrir. – Você e Fred é que estão certos – Fred arregalou os olhos de forma cômica, jamais estivera certo em toda a sua vida, pelo menos para a mãe. – Temos agora é decidir o que fazer.
Harry deu um sorriso.
– Eu apenas queria dizer – recomeçou – bem, não podemos fingir que eu não tenha nada a ver com o que está acontecendo. E sou grato por, apesar de tudo o que já aconteceu, vocês terem aceitado que eu continuasse aqui entre vocês e...
Protestos irromperam na sala, com todos os garotos dizendo que os Weasley eram conhecidos traidores do sangue e que Harry era como se fosse irmão deles muito antes de ficar com Gina. E Jorge arrematou que se não o tivessem recolhido como o cãozinho perdido que ele era, provavelmente Gina teria fugido de casa para ficar com ele, o que os levava, de novo, ao fato de que seriam obrigados a aturá-lo de qualquer maneira. As palavras dos cunhados fizeram com que Harry risse acompanhado pela ruiva ainda deitada no seu colo.
– Eu sei, eu sei... – Harry interrompeu erguendo a mão que antes estava pousada nos cabelos de Gina. – Mas vocês estarem comigo, como vocês dizem, apenas os põem num perigo ainda maior... não façam essas caras que é verdade, só que as garotas – apontou vagamente para as esposas dos Weasley. Hermione jogou-se para trás na cadeira sabendo de antemão que não estava incluída. – Não tinham nada a ver com tudo isso e agora...
– Esperra aí Arry! – Fleur ergueu a voz indignada. – Eu poderria ter ido emborra a muito tempe e non fui.
– Você ficou pelo Gui.
– Vivo com essa família há dez anos, é a minha família tambén! Penso exatement come Fred! – Gui lançou um olhar de devoção para a esposa.
– Harry, por que você sempre acha que é tudo culpa sua? – Perguntou Ana, entre indignada e sem paciência. – Acha que alguma de nós vai sair correndo daqui?
– Será que vocês não percebem? – Ele assumiu um tom exasperado. – Gina me falou isso ontem e ela está certa. Independente de qualquer coisa... as pessoas dessa sala são o alvo principal. Vai ser para cima da gente que eles vão vir. O que quero dizer... e não estou assumindo culpas irreais, Ana... é que Rony, Mione, Gina e eu somos os primeiros da lista e quem estiver conosco também.
– Deixa eu ver se eu entendi – falou Cátia – você acha que Alicia, Fleur, Ana e eu poderíamos não estar incluídas nisso?
Harry não sabia como explicar, mas era isso mesmo. Cátia ergueu ainda mais a voz quando viu que ele abria a boca para falar.
– Vamos lá: um, você salvou a minha vida quando ainda estávamos na escola, o que já seria suficiente para que eu estivesse aqui; dois, Alicia perdeu familiares nas duas guerras, e se eu a conheço, isso é motivo mais que suficiente para ELA estar aqui; a Fleur já deu os motivos dela e Ana...
– Eu escolhi estar aqui, lembra? **
– Mais do que isso, Harry – era Alicia que falava – nossos filhos são Weasley! Não podemos e nem vamos fugir disso.
Harry buscou algum olhar compreensivo na sala, mas fora Rony e Mione que, em todo caso, não manifestaram nenhum apoio ao que ele dizia, os outro trocavam apenas olhares inchados de orgulho. O que significava que Harry não conseguiria convencer as garotas a tentarem ficar de fora daquilo tudo. Deu um longo suspiro. Era gente demais e teimosa demais para ele bater de frente.
– Certo! Se á assim... Vamos nos organizar.
O tom de voz dele foi o suficiente para Gina se erguer do seu colo e dar espaço para que Harry começasse a falar. Todas as pessoas da sala conheciam aquele tom de voz. O tinham ouvido muitas vezes durante a guerra. Os mais velhos lembravam de Dumbledore usar um tom parecido em momentos igualmente tensos. Ninguém pensava em contestar o que fosse dito naquele tom. Harry começou a andar pela sala.
– Primeiro, o mais importante. A partir de agora nenhuma das crianças fica sem proteção. Ou seja, quem tem parentes trouxas – seu olhar foi para Mione e Cátia – deve tomar o cuidado de somente deixar as crianças com eles se tiver um bruxo adulto com elas ou um elfo. Dobby está à disposição de vocês, por enquanto. Mas acho melhor que as crianças sejam deixadas com a Molly quando estiverem trabalhando. Winky e Dobby poderão ajudá-la e reforçaremos todas as defesas mágicas d’A Toca.
Houve acenos de concordância. Os da Sra. Weasley foram os mais enfáticos, acompanhada com igual entusiasmo pelo marido.
– Segundo – ele fez uma pausa e se virou para Gina – você não fica nem mais um minuto sozinha... e nem ouse contestar.
– Céus – resmungou Gina – eu nem iria... Mas agradeço se você demonstrar preocupação comigo sem me dar ordens.
Harry sentou imediatamente do lado dela como um menino que tinha levado um puxão de orelhas e a puxou num abraço murmurando desculpas.
– Por favor... – disse Rony revirando os olhos – será que vocês não podem discutir isso mais tarde? Gina, o papai e a mamãe estão na sala... aaii Mione!
Rony se virou para reclamar do cutucão, mas foi acertado por uma almofada vinda não se sabe de onde. Virou-se para Harry e Gina que estavam rindo até serem acertados por outra.
– Meninos!! – Ralhou a Sra. Weasley.
– Estávamos apenas chamando a ordem mamãe – Jorge forçou uma cara angelical pouco convincente.
Demorou um tempo até que o riso e as brincadeiras com Rony, Harry e Gina acabassem. Um minuto antes de interrompê-los, Harry pensou que uma das coisas que mais gostava dos Weasley era que sempre se podia contar com eles, especialmente os gêmeos, para trazer o riso no momento em que ele se fazia mais necessário.
– Ok – disse alteando a voz – acho que podemos agora ir para nossa terceira prioridade, certo? – O grupo fez silêncio. – Temos que saber o que esse livro diz.
– Vocês já tentaram abri-lo, Harry? – Perguntou Lupin.
Mas quem respondeu foi Hermione.
– Já, mas ele parece protegido por algum tipo de feitiço, não houve como fazer essa fechadura que tem sobre a capa abrir.
O livro virou imediatamente o centro da atenção. Tinham buscado ele por tanto tempo e agora que o tinham encontrado o Livro de Fausto ele havia sido deixado de lado, primeiro pela notícia dos gêmeos e depois pela dos beusclainh. Carlinhos pegou o volume e começou a analisá-lo com Gui e Ana. Mas logo todos foram se aproximando da mesa e o livro passava de mão em mão, enquanto cada um dava um palpite sobre como poderiam fazer para abri-lo ou especulava sobre os possíveis encantamentos que o cercavam.
Eram três e meia da manhã quando o cansaço pareceu finalmente começar a vencer o grupo. E era tanta gente e tantas coisas e crianças a serem recolhidas que A Toca não esvaziou antes das cinco, quando finalmente o Sr. e a Sra. Weasley puderam se recolher.
Harry e Gina chegaram em casa com a garota quase desmaiando de sono e teriam subido imediatamente se Dobby, que tinha chegado alguns minutos mais cedo, não aparecesse correndo, vindo da cozinha com uma coruja parda mal equilibrada sobre o gorro que usava na cabeça.
– Harry Potter! Harry Potter! Esta coruja trouxe uma mensagem para o meu senhor – disse parando perto deles, enquanto a coruja esticava a pata Harry pegar o pedaço de pergaminho que estava amarrado ali.
Harry abriu o pergaminho e olhou o fim da mensagem para saber de quem era.
– É do Snape – murmurou para Gina e correu os olhos pelas palavras, teve a impressão que mais viu do que realmente leu o bilhete. Deixou a mão que segurava o pergaminho cair com uma expressão profundamente contrariada. – Sério, Gi... ou alguém lá em cima não vai com a minha cara ou tem um senso de humor pra lá de cínico.
Gina o olhou com a sobrancelha erguida.
– O Draco voltou para a Inglaterra.
A garota pegou o bilhete das mãos dele e leu igualmente séria. Depois colocou calmamente o pergaminho em cima de uma mesinha e o pegou pela mão, puxando-o para o andar de cima.
– Espera, Gi... eu tenho que...
– Minha vez de dar ordens, Potter – disse ela imitando o tom que Madame Pomfrey usava com os pacientes, o que fez Harry sorrir. – O senhor já teve emoções demais por hoje e você não vai se preocupar com Draco Malfoy antes de ter dormido pelo menos umas sete horas. Nem que eu tenha que amarrá-lo na cama! – Ela olhou para trás para ver se ele reagia contra, mas ele tinha certeza que não era bem essa a sua expressão. – Não foi isso que eu dis... eu falei dormir e... Que mente suja que você tem Harry Potter – disse estreitando os olhos e em seguida caindo na risada.
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A semana que se seguiu à estada do quarteto Grifinório em Hogwarts foi muito menos interessante do que Hector imaginava que seria. Quando tinham ido visitar Gina no sábado à tarde e no domingo, o garoto tinha dado um jeito de perguntar sobre o tal livro e conseguiu com isso duas coisas. Primeiro, a confirmação de que o mistério que ele achava que tinha para ser resolvido na escola já tinha sido solucionado. Segundo, um enorme sermão de Hermione sobre não se meter em assuntos que não lhe diziam respeito. Harry e Rony não disseram nada, talvez por acharem que não tinham moral para isso, mas não ajudaram Hector e a turminha. O silêncio dos dois acabou soando como apoio para Hermione.
Ele também tinha tentado várias vezes com a ajuda de Andrew, Mel e Joshua, arrancar alguma coisa a mais da frase de Danna sobre eles desistirem fácil. A colega, no entanto, se limitava a responder “intuição”, e logo depois mergulhava no seu mutismo característico que fazia Hector ficar ainda mais contrariado. Mas na sexta-feira, ele já achava que não havia nada que fosse pior do que Andrew repassando os encontros deles com o famoso Harry Potter e sua turma. Até Mel, que costumava acompanhar entusiasmada os comentários do amigo, já começava a revirar os olhos para cima, impaciente, quando Andy recomeçava com os seus: “eles são muito legais, não é?”; “gente fina, mesmo”; “a gente até pensaria que eles seriam metidos, mas são super simples e...”.
– Sério, Andy. Se você não se controlar, eu vou azarar você! – Ameaçou Josh perdendo definitivamente a paciência enquanto os cinco faziam os deveres na sala de estudos, antes do jantar.
Andrew fechou a cara para o colega, visivelmente magoado, enquanto Hector e Mel abafavam risadinhas.
– Desculpe por atrapalhar sua vida, Shacklebolt, mas quando é para ouvir VOCÊ falar da Medéia, eu escuto.
– É diferente – disse Josh num sussurro zangado, mas não pode continuar porque a professora passava naquele minuto em frente à mesa deles. No fim da tarde, hora que a sala ficava mais cheia, havia sempre um professor presente. Naquele dia, era Medéia Shadowes que cuidava para que os estudantes não perturbassem uns aos outros. Josh continuou assim que ela se afastou. – É diferente, eu tenho outros assuntos, ok?
Andrew fechou a cara ainda mais, mas não retrucou. Puxou o dever para perto e começou a escrever como se o estivesse atacando. Por um tempo só se pode ouvir o ruído das penas raspando os pergaminhos. Hector ergueu a cabeça para puxar um livro e conferir se estava respondendo corretamente sua redação de Astronomia e viu que Mel tinha parado de escrever. A garota acompanhava fixamente os movimentos da professora pela sala, um ruguinha formada na testa.
– Que foi? – Perguntou curioso.
Mel se voltou para os amigos que agora olhavam para ela.
– Vocês não acharam estranho a Medéia ter sumido todo o final de semana?
– Vai ver que ela achou que teria concorrência para chamar a atenção – resmungou Andrew lançando um olhar provocador para Joshua.
– Talvez ela estivesse doente no final de semana, tá? – Respondeu o garoto.
– Acho que não... – continuou Mel pensativa. – No domingo de manhã, eu estava voltando da biblioteca e encontrei com ela no corredor e ela me parecia bem saudável... Ela me perguntou, assim como quem não quer nada, se eu sabia se Harry Potter e os amigos já tinham ido embora. Eu disse que não, que pelo que eu sabia eles iam ficar todo o fim de semana. Aí ela falou: “ah, claro” – Mel imitou a voz meio sussurrada e insinuante da professora e os amigos, menos Josh, riram – “bem, é que eu achei que como a esposa dele tinha passado mal...”
– É... – comentou Hector, que agora também acompanhava a professora com os olhos – é um pouco estranho sim. Nunca tinha visto a Medéia perder a oportunidade de ir desfilar no Salão Principal quando tem gente de fora da escola.
– Ah, qual é? – Resmungou Josh. – É provável que ela apenas se sentisse nervosa com a presença do Harry e dos amigos. Vocês viram o estado do Widenprice ao lado do Rony?
– É diferente, Josh. O professor Widenprice É nervoso, ele não ficou estranho por estar ao lado do Rony, ficou apenas mais estranho. – Disse Mel.
– E se ela tiver medo do Harry – retrucou Josh sem se dar por vencido. – Quero dizer, meu pai diz que muita gente tem medo dele porque ele matou Vocês-sabem-quem e as pessoas acham que alguém que conseguiu fazer isso pode ser muito perigoso.
– A Medéia com medo? – Hector recuou na cadeira incrédulo. – Tente outra coisa Josh, porque isso definitivamente não combina com ela.
– Vocês implicam com a Medéia só porque ela é da Sonserina.
– E você a defende só porque acha ela bonita – alfinetou Andrew.
– Talvez ela só não quisesse encontrar com eles – disse Danna, abrindo um livro que puxara da pilha em frente a Andrew.
Houve um breve silêncio que não pareceu incomodar a garota. Hector o rompeu.
– Odeio quando você faz isso Danna.
– Faço o que? – Perguntou a menina o encarado.
– Fala como se soubesse mais do que a gente.
Danna deixou cair os ombros.
– Não seja bobo, Hector. Como é que eu vou saber mais do que vocês?
A resposta de Hector, no entanto, morreu na boca. A profa. Shadowes acabava de se aproximar sinuosamente da mesa, com um sorriso tão distendido na boca vermelha que mais parecia um gato contemplando um aquário.
– Acho que vocês não entenderam bem o funcionamento da sala de estudos, não é queridos? Vou ter que tirar cinco pontos de cada um de vocês – ela lhes deu um olhar de pesar. – Isso vai ajudar a lembrá-los de não atrapalhar a concentração dos seus colegas.
Os garotos nem pensaram em protestar. Simplesmente baixaram as cabeças e voltaram para os deveres. Medéia deslizou para longe da mesa.
– Defende agora – rosnou Hector furioso para Josh.
– Shhhh – ralhou Andrew. – Vamos perder mais pontos.
Até a hora do jantar os cinco não falaram mais nada. Mas quando finalmente levantaram para ir para o Salão Principal, meia-hora depois, Hector estava convencido da idéia de que Danna, fosse por pressentimentos ou por fatos, sabia mais do que dizia para eles. E ele ia armar um jeito de pressionar a colega a falar. Teria, é claro, que convencer pelo menos Mel a ajudá-lo nisso.
Quando chegaram na porta do Salão, que já estava cheio àquela hora, Josh deu um suspiro conformado ao ver a irmã o chamando para sentar ao lado dela. Dava para ver que Lane já tinha servido um enorme prato com legumes cozidos para ele. O menino murmurou um até mais e saiu em direção à mesa da Lufa-lufa arrastando os pés. Mel não parecia mais feliz em ir jantar na mesa da Corvinal.
– Encontro vocês na sobremesa – acenou infeliz.
Hector, Andrew e Danna prosseguiram em direção a mesa da Grifinória. Os dois meninos se sentaram de frente para a amiga.
– É revoltante o jeito como essas meninas da Corvinal têm tratado a Mel*** – falou Andrew francamente indignado. – Quero dizer, é o tipo de coisa que se espera de gente como Caroline Bothwell e daquele bando de hienas sem cérebro que seguem ela por toda parte. Mas das corvinais... eu jamais acreditaria se ma contassem.
– Tem gente que não agüenta conviver com pessoas diferentes – comentou Hector servindo um pratarraz de purê de batata com uma enorme quantidade de molho de carne. – Acham que é muito melhor ser “normal” e medíocre. Sou filho de uma metamorfaga e um lobisomen, sei o que estou falando e acredite, a Mel está melhor sem elas.
– Também acho que está – concordou Andrew servindo suco de laranja nos copos dos três. – Mas dá raiva. Olhem lá – apontou a mesa da Corvinal – parece que a Mel tem um tipo de doença contagiosa que pega se falarem com ela.
Hector e Danna acompanharam o dedo do colega e realmente as meninas estavam ignorando acintosamente a amiga deles. Um sorriso pra lá de maldoso se instalou no rosto de Hector. Andrew notou na mesma hora.
– Não Hector. Nem pensar.
– Ah, qual é Andy? Elas estão merecendo.
– Não. Você não pode.
– Só uma pecinha, vai, deixa... – Hector juntou as mãos rindo e fingindo implorar, o que de fato, era só mais uma piada, porque ele já tinha decidido que ia dar um jeito de vingar a amiga, independente da concordância de Andrew.
Danna também começou a rir, para o desespero de Andrew, pois isso significava que ela estava apoiando Hector.
– Você vai nos meter em encrencas.
– E quando foi que eu fiz isso? – Quis saber o amigo, cuja expressão demonstrava estar com a cabeça já funcionando a mil por hora.
– Desde o primeiro dia em que comecei a andar com você – respondeu Andrew pouco conformado voltando à atenção para o prato.
Ante que os três tivessem acabado a refeição, Mel e Joshua já chegavam espremendo-se para sentar entre eles. Josh puxou o prato de Danna, que já havia acabado e serviu-se de montes de batata frita enquanto a comida não desaparecia para dar lugar à sobremesa.
– Ahh! – Exclamou enfiando uma quantidade generosa na boca – finalmente comida realmente “adequada” a minha idade.
– Bem – comentou Mel virando o rosto para não acompanhar o espetáculo de Josh engolindo batatas com rapidez antes que o jantar fosse encerrado – sua irmã tem razão, não é? Legumes são mais saldáveis.
– Quem foi que falou em saúde? – Perguntou ele no intervalo entre duas garfadas.
Mel virou os olhos para cima.
– E aí? – Quis saber – o que estavam conversando?
Andrew lançou um olhar exasperado para Hector, será que ele ia contar à colega o que pretendia fazer?
– Nada demais – Hector era o retrato da calma. – Então, quais são os planos para sábado de manhã?
– Dormir – disse Josh, contemplando com tristeza o sumiço das batatas fritas. Agora a mesa estava se cobrindo de sobremesas coloridas.
– Biblioteca – responderam Mel e Andrew quase juntos e Danna confirmou a mesma coisa com a cabeça, servindo-se de um docinho de limão.
– Hummm, pode funcionar... – resmungou Hector pensativo.
– O quê? – Josh tinha dado um salto, os olhos arregalados, conhecia aquele tom.
Hector demorou um pouco para responder. Os olhos esverdeados fixos na mesa da Corvinal, e uma expressão concentrada.
– Me diz uma coisa, Mel. Suas colegas Corvinais sempre se encontram na Biblioteca no sábado de manhã, não?
– É... por que?
Mel fez uma cara desconfiada e Hector se inclinou para frente para que apenas os amigos os ouvissem.
– Vão até lá amanhã, peguem os livros que precisarem e encontrem comigo e o Josh na sala de estudos. Ah, e deixem que elas vejam vocês fazendo isso e saibam onde vão. Vai ser melhor assim.
Andrew lançou um lamento alto, mas Josh, que pareceu ter pego a idéia no ar – ele já vinha reclamando do que as corvinais estavam fazendo com Mel há horas – exibia, agora, um sorriso tão maroto quanto o de Hector. Mel não entendeu muito bem, mas não havia dúvidas que os amigos planejavam alguma coisa e que essa coisa envolvia suas colegas de quarto, e ela também sabia qual era o motivo. Muito embora seu senso de justiça fosse frontalmente contra vinganças, a idéia de que os amigos poderiam se dar mal por causa dela a incomodou bem mais.
– Meninos, sério... não precisa, eu...
– Não precisa, o quê? – Hector e Josh tinham caras de santos.
– O que vocês estão planejando. Hector, por favor, me diz que não vai azarar as garotas.
– Azarar? – Hector fingiu indignação. – Pelo amor de Deus, Mel... você me julga assim tão... sem imaginação?
Mel e Andrew passaram o resto do jantar tentando dissuadir os dois meninos, sem nenhum sucesso. A altura do fim do jantar, Andrew já havia concordado ajudar, de má vontade, claro, mas sua capitulação ao plano – ele era uma peça fundamental, segundo Hector – deixou Mel sozinha na tentativa de evitar o “ataque”. Quando eles a deixaram perto da sala da Corvinal, ela já estava até pensando em avisar as garotas para tomarem cuidado, mas logo varreu a idéia da cabeça. Aí seria deslealdade com os SEUS amigos, e isso ela não faria. Talvez ainda desse para convencer Hector a desistir no café da manhã.
Mas Hector só apareceu quase no fim do café. Estava suado, com a roupa amarrotada e com os cabelos encaracolados entremeados por folhas e galhinhos.
– Tudo certo! – Disse se jogando na cadeira e enfiando uma torrada praticamente inteira na boca.
– Hector... – começou Mel com o que achou ser seu tom mais persuasivo.
– Não perca seu tempo, Mel – cortou o garoto com a boca cheia.
– E se você pegar uma detenção? Olha o seu estado? Acha que ninguém vai desconfiar? O Hagrid disse que se você aprontasse, ele ia...
– Bom – o garoto virou meio copo de suco num único gole, parecia ter pressa – isso não me incomoda. Quem sabe numa detenção com Hagrid eu finalmente consiga entrar na Floresta Proibida.
Mel fez um muxoxo impaciente.
– Meu Deus, garoto! Você tem uma fixação nisso, hein? Não quer uma cicatriz na testa também? – Ela tirou a varinha das vestes e a ergueu. – Se esse é o caso, escolhe o formato que eu faço uma para você ou tem que ser necessariamente um raio?
O menino não pareceu se abalar. Na verdade, ele riu. O que deixou Mel ainda mais brava.
– Você não merece, Mel. Mas ainda sim vou continuar o meu plano... por você – terminou o suco enquanto Mel fazia contínuos “nãos” com a cabeça, e levantou para sair novamente. Josh se apressou em segui-lo. – Vamos Andy.
Andrew olhou para elas com uma expressão conformada e saiu com os dois.
– Ah, Danna, bem que você podia me ajudar, né? – Reclamou Mel.
– Seria perda de tempo, Mel – retorquiu Danna dando de ombros. – Acho que o Hector gostou ainda mais da idéia quando você e o Andy começaram a dar contra.
Mel não parecia conformada.
– Não se preocupe – assegurou Danna com sensatez. – Não acho que o Andy teria concordado se fosse algo realmente perigoso. Você sabe que quando ele realmente quer, ele enfrenta o Hector e, às vezes, até consegue fazer com que ele pare. Mas os três têm andado bem furiosos com as suas colegas de quarto, então...
– Eu sei me defender – resmungou Mel.
Mas ela foi interrompida por um farfalhar de penas que vinha do alto anunciando a chegada do correio. Pediu mentalmente que os pais não tivessem mandado nada pela imensa Harpia que era agora a ave-correio da família. Se ouvisse alguma piadinha por causa do tamanho do bicho que trazia suas cartas de casa, provavelmente, acabaria dando razão a Hector. E isso ela não queria. A ave dela não veio, mas em compensação uma pequena coruja rajada de preto e ocre pousou em frente a Danna quase virando o açucareiro com um embrulho amarrado na pata. A garota acariciou a ave e depois desamarrou o pacote feito num papel pardo muito amarrotado com um pequeno sorriso.
– De quem é? – Quis saber Mel, cheia de curiosidade.
– Do meu pai – respondeu a menina, abrindo o pacote e conferindo o conteúdo. O sorriso se alargando nos lábios.
– Ah tá! – Respondeu Mel não muito interessada. Lançou um olhar geral para o salão enquanto Danna examinava o pacote. Um menino ruivo na mesa da Sonserina parecia olhar hipnotizado para o lado delas. Mel tinha certeza que o garoto era o irmão da sebosa da Caroline, Rupert era o nome dele, se não estava enganada. Mel acompanhou o olhar dele até a menina ao seu lado. Danna estava concentrada, mas ainda sorria para o conteúdo do pacote. Mel abafou um risinho que chamou a atenção da outra.
– O que foi?
– Nada não, desconversou com uma expressão divertida. E aí, que foi que seu pai mandou para você?
– Ué, vocês não queriam saber porque eu tinha a intuição de que os mistério envolvendo Hogwarts e o Livro de Fausto ainda não tinha acabado? – Perguntou fechando o papel pardo e o colocando o embrulho cuidadosamente na mochila.
Mel arregalou os olhos, pasma.
– Mas... então... mas – a menina balbuciou admirada levantando da mesa para seguir Danna que já tinha a mochila nas costas e a esperava para se encaminharem a saída.
– Vem vamos procurar os garotos. Conto quando estivermos todos juntos. – E acrescentou dando o mesmo sorriso luminoso novamente. – Mas prepare-se. Depois de pregar uma peça que há horas ele quer e ouvir o que eu tenho pra contar, o Hector vai ficar insuportável!
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*Ver Harry Potter e a Ordem da Fênix, p. 256.
** Ver Harry Potter e o Segredo de Sonserina, fic de Belzinha.
*** Ver Harry Potter e o Segredo de Corvinal, cap. 5 “Harpias”, fic de Belzinha.
N/A: Mil desculpas, gente! Sei que devia ter atualizado na semana passada, mas entrei numa crise criativa que me fazia ficar horas na frente do PC sem articular nem uma frase. Mesmo eu tendo a história na minha cabeça, o texto não vinha de jeito nenhum. Espero que isso não se repita e prometo que vou atualizar o mais breve que puder.
Sobre o capítulo! Bom, foi outro dos chamados capítulo de ligação, mas eu não podia passar por cima do que coloquei aí, e também tinha que encaminhar umas coisas. Aí foi isso que saiu...
Darla: Minha beta amada. Espero que logo vc tenha mais tempo e possa me ajudar como sempre tem feito, mas desta vez não tive coragem de te incomodar. Te adoro e sinto muito a tua falta. Obrigada pelo teu carinho e amizade! Beijo grande!
MarciaM: Que bom que vc curtiu o momento H/G, Marcia. Dá para imaginar o Harry mais velho sendo fofo assim, né? Não se preocupe, vai ter mais. Eu não resisto, hehe. Bjus.
Maria Luiza: Imagina o meu sorriso ao ler o seu coment, Maria Luiza :D :D :D!! Beijão!
Bernardo: Pois é, não deu para o Snape entrar neste, como a Tonks achei que ele e o Malfoy seriam demais (pelo menos para o tamanho do capítulo, hihi). Quanto aos seus nervos em frangalhos e as coisas sinistras... acho que pelo bem dos dois, não vou dizer nada, hehe.
Belzinha: Bel, amada! Obrigado pelo comentário, sabe como amo essas coisas longas e numeradas, não sabe? Bem, agora tenho que pensar em como proteger o gêmeos é da Ana. Essa coisa de mordidas, sei não, hihihi. Beijão linda! Melhoras!!!
Kika: Valeu Kika. Quanto as paredes do castelo e os novos Marotos, vamos ter que confiar nos fundadores, porque o Hector não vai pegar leve, estou avisando, hihi. Beijão!
Charlotte Ravenclaw: Como disse o Rony, se os gêmeos não puxarem o gênio dos pais já vai ser uma sorte, hehe. Adorei o comentário, minha cara excêntrica!
Morgana Black: :D :D O meu tb! Que bom que curtiu o capítulo e eu aaaamooooo os seus comentários. Mas sério, com vc e a Bel, eu já estou ficando preocupada com a integridade física das crianças Weasley. Essa coisa de morder e apertar... Tadinhos! Detalhe: já imaginou o que devia ser o Hector com uns dois para três aninhos, quando o Remo e a Tonks pegaram ele? Devia ser a coisa mais cuti do mundo.
Anderson Potter: Até vc menino!! Hahaha, adorei! Seu comentário tb ficou muito fofo!
GraziDSM: Hahaha, desculpe te dizer isso Grazi, mas pelos seus comentário, eu acho que vc já adora crianças. Obrigada por dizer que os meus e da Belzinha são bem criados, a gente se esforça. E já que vc gosta do pentágono, hihi, aguarde, vem mais por aí!
Luna Weasley: Ai, Luna, sabe que suspiro lendo seus comentários. Essa sua atenção aos detalhes é muito fofa em vc sabia. Dá gosto de escrever e ler vc depois. Brigadão. Te adoro!
Rafael Delanhese: Puxa garoto! Vc me deixou toda boba com seu último comentário. Obrigada mesmo. E adicionei vc sim, ok? Só não deu ainda para passar na sua fic, porque meu tempo está realmente limitado. Vou lá assim que der, ok? Beijo grande!
Carolshimi: Obrigada, obrigada!! Garota, li seu coment com um sorrisão e seu pedido de atualização tb, viu? Muitos beijos!
Trinity Skywalker: Eu queria comentar cada ponto do seu comentário MA-RA-VI-LHO-SO, só não vai dar por causa do tempo! Adorei tudo o que vc escreveu. Você sabe o quanto considero o que vc escreve e vc ter gostado já me deixa feliz demais :D :D :D!! Beijo imenso amiga!
Bruna: Fico feliz que tenha curtido o capítulo! Olha, eu adoro os livros. Para mim, livros são sempre melhores que filmes, mas curto as versões cinematográficas, apesar de todos os equívocos dos roteiros, acho que eles mantêm a magia e isso me dá vontade de vê-los. Bj.
Bruna Perazolo: Tava sentindo falta sim, tá! Vcs pensam que eu não sei o nome de todo mundo e quando comentam e o que comenta. Tenho uma memória de elefante. Mas amei demais o seu coment. Você é um doce mesmo, Bruna, obrigada! Espero que vc tenha se dado bem nas provas, ok? Beijo imenso.
Carolzinha: Linda, obrigada pelo comentário delicioso. Fico super feliz de vc mencionar cada partezinha que gostou. Eu tb tenho imaginado muito os bebês Potter. Você conhece um fanart do Harry e da Gina com um bebê ruivo? É quase a cena que imagino mais adiante, o sorriso bobo está lá. E, como vc pode ver tb adoro a Gina, acho lindo demais o amor dos dois. Acho que comecei a escrever esta fic só compensar o fim do livro 6.
Ana Carolina Guimarães: Obaaaaa! Leitora nova! Adorei seu coment, garota! Valeu pela leitura! Eu amo o quarteto também, acho que por isso não consigo imaginá-los separados. Mas juntos, como uma família. Acho que tem tudo a ver, não?
Vanessa Almeida: Ebaaa, mais uma leitora nova! Obrigada por ler e comentar!
Sheil@_Potter: Nem esquenta, garota. Só vc dar um oizinho eu já fico feliz. Brigadão!
Carline Potter: Menina, amei conhecer vc pelo MSN, você é realmente uma graça de pessoa, e eu realmente estava sentindo muuuiiitaaa falta dos seus coments aqui. Beijo imenso (do tamanho das suas resenhas, hehe).
Gente, vcs têm sido maravilhosos! Os comentários (cada vez maiores, ebaaaaa) têm sido a base dos meus sorrisos. Vou fazer o possível para continuar atualizando e não decepcionar ninguém, ok?
Obrigado mesmo e COMENTEEEEEE!! (Hehe, só para não perder o costume).
Beijo e até o próximo!
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