Ouvindo a Verdade
Enquanto Harry se divertia na festa badalada da Sala Precisa, Hermione dirigia-se para seu quarto encontro com Draco na biblioteca, graças ao trabalho que tinham que realizar.
Esperava muito encontrar o exercício, que deixara para o sonserino fazer, resolvido da maneira correta, mas não se surpreendeu ao verificar que não se deve ter tanta esperança quando o assunto é Draco estudando. O garoto até começara bem a verificação de probabilidade, porém se confundiu na conclusão do exercício. Talvez se fosse qualquer outra pessoa seria fácil de indicar-lhe o erro e esperar que se corrigisse da próxima vez. Mas estamos falando de Draco Malfoy, o garoto mais orgulhoso e arrogante que Mione já conheceu.
- Mas, Draco, é claro que eu te expliquei isso ontem! – ela tentava ser cautelosa.
- Você é tão incompetente, garota, que ta até pensando ter dito coisas que não falou. – dizia o loiro, demonstrando como sempre, seu ar de prepotência. – Não falou e pronto! É tão mais fácil admitir que errou! – ele dizia seguramente.
Hermione se sentia terrivelmente injustiçada, mas não surpresa. Tinha absoluta certeza de que não esquecera de dizer um detalhe sequer sobre o que deveria ser feito, no entanto já esperava esse tipo de reação vinda dele em algum momento.
- Ai, como você é idiota! Sinto que vou explodir qualquer dia desses por causa desse trabalho!
Draco possuía um sorriso vitorioso e sarcástico no rosto e Mione parecia realmente estar a ponto de um colapso nervoso. Isso o deixava estranhamente feliz, já que lhe passava uma sensação de dominância.
E, como seus hormônios começavam a ganhar quase vida própria, ele estava numa fase em que observava todas as garotas que o circundavam. É claro que nunca antes tinha parado para perder tempo observando a sangue-ruim grifinória que mais o irritava em toda Hogwarts, mas agora que começava a passar um tempo relativo da semana a sós com Hermione, não conseguia deixar de notar os traços femininos e selvagens da morena ao seu lado.
Tentava tirar tais pensamentos absurdos da cabeça sempre que eles se aproximavam, pois deveria sentir nojo de Hermione e não o nervosismo desconhecido que o perturbava toda vez que percebia os olhos brilhantes e decididos da garota fuzilando-o. Era por isso, inclusive, que evitava olha-la diretamente nos olhos e que falava certas coisas impulsivas, como o “obrigado” que dissera na semana anterior.
- Desisto! Hoje não vou conseguir... – disse Mione, vencida, enquanto fechava os livros e revirava os olhos.
Draco nem fazia questão de continuar com os estudos cansativos aquela noite, achava até que a garota fazia-lhe um favor ao lhe dar uma folga merecida.
Observava Hermione enfiar os livros e cadernos na mochila com raiva nos movimentos e começava a achar surpreendentemente – e vergonhosamente, ele devia admitir - charmoso a maneira como ela franzia o cenho e formava um bico. Não podia negar que a garota deveria possuir um belo corpo sob aquelas roupas pesadas e além de tudo exalava um perfume estranhamente sensual. Ela não devia se tocar disso, mas ele já havia notado.
Vendo Hermione sair quase correndo e bufando da biblioteca, balançou a cabeça compulsivamente e passou a mão com força sobre o rosto, como se estivesse praticando uma incrível estupidez.
Aquela terça-feira teria corrido tranqüilamente normal para Mione se não fossem por três novidades.
Uma delas era a lembrança insuportável da noite anterior, onde tentara estupidamente ensinar a Draco coisas úteis sobre um assunto importantíssimo. Mesmo que soubesse desde o início que o garoto não merecia tanto esforço, ela insistia em pelo menos colocá-lo a par de certos conceitos que seriam necessários para a realização do trabalho que fariam em dupla.
Outra coisa que a deixara desconcertada durante o dia foi ter percebido os olhos observadores de Draco que vez ou outra cruzavam os seus na aula de Poções. Isso quer dizer que ele a observava. Mesmo que arrogantemente, mas a observava.
Nunca pensou que pudesse se sentir tão sem jeito durante uma aula como se sentira aquela manhã. Tentava fazer de tudo para não olhar na direção do loiro, mas sempre que sentia o peso daquele olhar misterioso sentia como que uma força atrativa que sugava seus olhos para aquela direção.
Quando não esperava que acontecesse mais algo assim tão perturbador, foi abordada por Harry à noite à lareira num momento em que não havia mais ninguém no salão comunal.
- Mione... Eu to precisando conversar com alguém...
- Diz, Harry. Sou toda ouvidos! – ela sorriu simpaticamente.
- Pois então é melhor você se sentar – ele apontou a poltrona atrás da garota.
- Ah, sim. Tudo bem.
Harry fez o mesmo na poltrona mais perto de modo que ficasse de frente para a amiga.
- Bom... Eu ainda não falei com ninguém a respeito disso. Até porque acho que eu mesmo só fui perceber há pouco tempo.
Mione balançava a cabeça como que pedindo que ele prosseguisse. Harry passava as mãos nos cabelos, representando cautela.
- Mione... Eu sei que você é minha amiga e eu vou aceitar qualquer tipo de conselho...
- Nossa, Harry! Mas o que foi? To ficando curiosa...
- Eu to começando a sentir algo estranho por uma pessoa que... bem, é uma situação extremamente complicada...
- Por quem?
- Pela Gina...
Mione encostou a cabeça no sofá e abriu mais os olhos. Harry balançou a cabeça positivamente como se tivesse escutado um “não” da amiga.
- Pois é... Acho que você já enxerga a complicação nessa história toda.
E como enxergava. Hermione sabia muito bem o quanto Gina sofrera ao tentar esquecer Harry alguns anos atrás e agora que já estava tão bem estabelecida em seu namoro com Dino poderia ver seu mundo desabar ao saber que o garoto que tanto amara e idealizara estava agora gostando dela.
Por ser tão amiga de Harry, Hermione o conhecia muito bem e sabia o quanto ele mudara nos últimos meses. Se antes já era inalcançável para Gina – pelo fato de ser o melhor amigo de seu irmão e por gostar de outra garota -, agora demonstrava ainda mais perigo. Tornara-se instável, partindo de um relacionamento para outro sem antes pensar nas conseqüências que poderia trazer para as garotas.
- Enxergo, sim, Harry... – ela respondeu ainda reflexiva.
- Eu sei que ela namora o Dino e que é a única irmã do Rony... Sei muito bem, pois já passei um bom tempo pensando em tudo isso tentando de todas as formas tira-la da minha cabeça, mas depois de ontem...
- O que houve ontem?
Harry engoliu em seco. Não podia entregar à amiga que estivera em uma festa na Sala Precisa.
- Ah, é que ontem... Erh... Eu a vi com o Dino e, putz... Desejei muito estar no lugar dele. Mas percebi que ela estava, aliás, está, feliz ao seu lado e então eu... Eu fiquei com uma outra garota.
- Que garota? – Mione demonstrou curiosidade
- Ah, Iara Newton, uma quintanista... – ele respondeu sorridente.
- Ta vendo, Harry?
- O quê?
- Você ta aqui falando o quanto gosta da Gina, mas admite que no primeiro momento em que se sentiu ameaçado procurou os braços e beijos de uma outra garota qualquer... Como você quer provar que merece a Gina?
- Mas não era uma garota qualquer! – ele protestou.
Hermione lançou-lhe um olhar repressor.
- Ah, quero dizer... Não é bem assim, Mione, que as coisas acontecem...
- E como são então? Pode me explicar.
- Pôxa, eu gosto da Gina, sim. Mas me sinto atraído por outra pessoa e, sabendo que será difícil conseguir a garota que gosto, tento ao menos me divertir um pouco...
- Isso não se trata de um jogo de conquistas, Harry! Olha só... você disse no início da conversa que eu sou sua amiga e que aceitará qualquer tipo de conselho... Então aqui vai um: Se você gosta de alguém e quer tê-la ao seu lado, prove que merece! Além do mais, estamos falando aqui da Gina. Uma garota que por um bom tempo gostou e sofreu por você, Harry. E você sabe muito bem disso! Então eu acho que se você estivesse realmente pronto para estar ao lado dela, não faria nada que a fizesse duvidar disso...
Harry encarava o chão. Ouvir aquelas palavras todas era como receber um tapa na cara, pois sabia que Hermione não falava nada mais que a verdade.
- Você acha mesmo que ela merece se desgastar e sofrer mais uma vez? – perguntou Hermione.
Harry balançou a cabeça negativamente.
- Então faça o que é mais sensato no momento... Esqueça a Gina.
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