Brincando Com Fogo

Às oito horas da noite, em ponto, Rony saía do banho enxugando os cabelos bruscamente com uma toalha. Estava já atrasado para a hora que marcara com Mione na biblioteca a fim de estudar sobre Transfiguração.

“Ela não vai gostar nada, nada do meu atraso”, pensava enquanto catava um casaco para vestir. Sorriu então, imaginando a amiga dando-lhe uma bronca com aquele biquinho que ele tanto já estava acostumado de ver.

Quando descia as escadas do dormitório masculino verificou no relógio que já passavam das oito e quinze. “Xi... agora eu tenho que correr!”.

Chegando à biblioteca a encontrou de costas bastante concentrada em um livro qualquer. Ficou um tempinho ali, observando-a. Como era linda! Mione era a garota que mais o deixava sem-graça. Sim, já eram amigos há muito tempo. Mas desde que descobrira que sentia algo diferente por ela, não conseguira mudar tal situação. E olhe que ele tentou. Enfim, o que importa é que Mione o deixava tão sem-graça que às vezes – na maioria das vezes, melhor dizendo – ele sentia raiva dela. Por isso que discutiam por qualquer coisa.

Antigamente ele fazia de tudo para achar defeitos nela, mas agora não havia mais jeito. Ele era obrigado a suspirar pelas qualidades e virtudes da amiga e, entretanto, trata-la mal.

Rony definitivamente não estava bem em Transfiguração e Mione, por mais que evitasse a presença perigosa do amigo, não queria vê-lo se dar mal na matéria.

Não havia mais ninguém na biblioteca e, enquanto Rony não chegava, Mione estudava o livro A Aritmancia Através dos Séculos. Pensou ouvir passos, mas estava tão concentrada que não queria se virar para ter certeza. Segundos depois, começou a se sentir incomodada com a sensação que tinha da presença de alguém. Virou-se bruscamente e encontrou o amigo parado.

- Ai, que susto, garoto!

Rony corou de imediato e não soube o que dizer.

- Ta esperando o quê? Venha logo, que a gente tem muito o que estudar – continuou Mione com rispidez.

Rony saiu do lugar e sentou-se ao lado da amiga, ainda meio sem jeito. Era como se a garota tivesse lido seus pensamentos e se isso realmente acontecesse ele teria que se enterrar em algum buraco.

- Hum... Deixe-me ver... Por onde a gente começa? – Mione passava os olhos pelas folhas de seu livro de Transfiguração. – Até onde você realmente sabe, Rony? Porque assim a gente já pouparia tempo, sabe...

- Na verdade... O que eu sei é pouca coisa. Seria melhor revisar tudo!

Mione abriu a boca em espanto.

- Tudo?

Observava aqueles olhos penetrantes de Rony. Os cabelos ruivos do garoto caíam desordenadamente sobre a testa da maneira mais charmosa possível. Tais pensamentos a enchiam de vergonha e tudo o que queria era desistir daquela idéia maluca de dar aulas a Rony. Como agüentaria encara-lo daquela forma, a sós, sabendo que no outro dia o encontraria aos beijos com Lilá Brown? Não, ela não sabia se suportaria.

- Tudo bem, então... – disse Mione, desanimada.

- Mas se você não quiser, Mione... Tudo bem, comigo! – respondeu Rony, mesmo que contra a vontade.

- Quê? E como é que ce iria se virar? Ta maluco? Não... Nada disso. O senhor tem que se sair bem em Transfiguração... – Mione não sabia ao certo de onde saíram essas palavras, mas sentia-se orgulhosa por dize-las. – Erh... Vamos começar, então.

Rony não conseguia prestar atenção no que Mione lhe dizia. “Ela se preocupa comigo”, pensava. Observava a maneira como a garota gesticulava com as mãos à medida que falava alguma coisa e como sua boca abria e fechava formando sempre um biquinho.

- ...Agora me diga quantas vezes é preciso agitar a varinha antes de dizer o feitiço.

- Ã? É... quantas vezes o quê?

- EU NÃO ACREDITO, RONALD WEASLEY! – Mione ficou de pé com as mãos apoiadas na mesa. – Eu estou aqui, gastando o meu tempo revisando TODO o assunto de Transfiguração e você não dá a mínima? Quer saber? Eu tenho mais o que fazer. Dá licença.

Antes mesmo de Mione fechar os livros e enfia-los na mochila, Rony segurou-lhe o braço. Ela parou o que estava fazendo e passou alguns minutos encarando-o sem entender qual era a dele. Estava realmente chateada com a falta de respeito que o garoto tinha por ela, mas não pôde deixar de se arrepiar ao toque inesperado da mão dele em seu braço.

- Por favor, Mione... Me desculpe!

Era raro vê-lo se redimir assim, ela tinha que confessar.

- Está bem, então. Mas só com uma condição.

- Qual?

- Só se você me disser em que estava pensando enquanto devia estar ouvindo às minhas palavras.

Mione temia ouvi-lo dizer que pensava em Lilá e percebeu que o amigo corava.

- Ah, não... Aí é golpe baixo!

- Então nada feito! – disse a garota com rispidez.

- Não, Mione! – Rony puxou mais uma vez seu braço. – Tu-tudo bem... Eu conto.

“É agora ou nunca”, pensava Rony. A idéia de confessar a Hermione que a observava com novos interesses nunca havia-lhe passado pela cabeça. Mas agora que havia a possibilidade disso acontecer, ele começava a leva-la a sério.

- Cadê? Vai dizer ou não? – insistiu Hermione, vendo que Rony não abria mais a boca.

O garoto tornava-se mais vermelho que pimenta quando disse:

- Eu só tava te observando... Se tinha alguém em quem eu pensava agora, esse alguém era você.

Mione, de início, ficou séria. Mas segundos depois, quando parecia ter se tocado do que se tratavam as palavras de Rony, caiu na gargalhada.

- Ai, ai... – disse a garota, enxugando as lágrimas. – Ta bom, Rony... Conta outra, vai!

Mas Rony continuava sério. “E se o que ele falou for verdade?”, Mione começava a se questionar. De imediato, começou a sentir-se corar também. Engoliu em seco.

- É brincadeira, né? – perguntou apreensiva.

Rony balançou negativamente a cabeça.

- Eu to falando sério.

“E o que ele quer dizer com isso?”, ela se perguntava. Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, lentamente, e o encarava com ar de dúvida.

- Mione... – disse Rony pousando uma mão sobre a dela. – Não agüento mais... Eu gosto de você.

Mais uma vez, ela engoliu em seco. Sempre soube que sentia-se extremamente atraída pelo amigo, mas nunca admitiu para si mesma que gostava dele. Até porque ele estava namorando Lilá Brown. A possibilidade de que ele poderia sentir por ela o mesmo que ela sentia por ele, nunca parecera-lhe cabível.

E agora ele estava ali, ao seu lado. Mais sério do que nunca, uma mão sobre a mão de Hermione. Ela podia sentir o fogo que passava por aquela união de pele. Engoliu em seco mais uma vez. Seu coração batia mais acelerado do que em qualquer outro momento de sua vida.

Ele se aproximava lentamente. Parecia enfeitiçado, olhando para a boca da amiga. Ela não se movia, o coração começava a bater cada vez mais rápido. Fechou os olhos. Parecia que sempre desejou aquilo.

A outra mão de Rony, que não estava em contato com a de Mione, foi ao encontro da nuca dela, fazendo-lhe se arrepiar até as pontas dos dedos com aquele toque inesperado.

Mione abriu os olhos devagar e sua boca já estava aberta para facilitar a respiração que tornava-se difícil a cada segundo. Ele se aproximava.

E os lábios se encontraram. O toque foi sutil, proporcionando a alegria suprema a Hermione. O beijo ansiado iniciou lentamente como se eles tivessem todo o tempo do mundo.

Ele fechava os olhos com força como se tivesse lutado a vida toda contra aquele beijo. Mas a verdade era que aquilo tudo era mágico. Beijar a garota que se ama é algo realmente de outro mundo. Muito mais proveitoso e valioso do que a sensação que ele tinha quando beijava a namorada.

Mas o beijo não parecia correto para Hermione. Por mais maravilhoso que estivesse, não estava certo. Ele tinha namorada e os dois eram melhores amigos. Então, como se tivesse acordado de um sonho, Mione tirou o rosto de supetão.

Rony abriu os olhos assustado.

- O que foi...? – perguntou.

Mione já arrumava as coisas.

- Isso não está certo, Rony. Acho melhor eu não te ensinar mais... Me desculpe!

- Mas...

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Como seus amigos estudavam na biblioteca, Harry foi obrigado a estudar sozinho no Salão Comunal. Havia poucas pessoas. Apenas algumas alunas quartanistas que o observavam de longe e uns alunos do segundo ano que, pela expressão no rosto, deviam estudar DCAT.

Ele pensava nas meninas que já tinha ficado e nas que pensava em ficar. Achava estranho não querer nada sério com elas, como desejava com Cho Chang há dois anos. Era tudo tão diferente. Ele realmente mudou nesse pouco tempo.

Enquanto escrevia um texto para Feitiços, ouviu duas garotas passarem pelo buraco da mulher gorda fazendo muito barulho. Eram Gina e Luna, suas amigas quintanistas.

- Ele vai ter o que merece, Gina. Pode ter certeza disso! – Luna parecia fora de si.

As duas se sentaram em um sofá próximo a Harry e pareciam não ter notado a sua presença enquanto ele as observava.

- Ow, amiga. Fica assim, não! – Gina tentava consola-la.

- Pôxa, Gina. Só porque as pessoas me consideram assim um pouquinho, é... digamos, diferente do normal, ele não tem o direito de dizer na minha cara que eu sou louca! Ou você acha que ele tem?

- Claro que não!!

- Bom, eu vou dormir... Quem sabe assim eu não esqueço esse dia péssimo, não é mesmo?

Gina balançou a cabeça afirmativamente.

- Vá lá, amiga. Eu vou ficar aqui, talvez o Dino apareça.

Luna se levantou e Gina levantou o olhar percebendo que um certo par de olhos verdes a observava. Sentiu o rosto queimar e abriu um sorrisinho para o amigo.

Harry saiu da cadeira e foi sentar-se ao lado de Gina, onde antes Luna estava sentada.

- O que foi que houve? – perguntou, colocando um braço na cabeça do sofá.

- Ah, você não vai acreditar – respondeu Gina, entre risos. – É que a Luna tava tendo um rolinho com o Ernesto McMillan - Harry abriu a boca. – Pois é, mas hoje eles estavam discutindo porque a Luna tem sido muito difícil e ele acabou xingando ela. É que você sabe o quanto ela é pessimista.

Harry caiu na gargalhada. Para Gina, ele estava se tornando, sem sombra de dúvidas, o bruxo mais lindo da face da Terra. Ou pelo menos entre os estudantes de Hogwarts. O cabelo preto bagunçado aparentava um ar de despreocupação e ao mesmo tempo ele estava sempre cheiroso, demonstrando que a vaidade não era deixada de lado.

Gina proporcionava a Harry uma sensação esquisita. Uma sensação de tranqüilidade, de paz. Ele podia passar horas ali rindo com as coisas engraçadas que ela dizia. O estranho é que aquela ruivinha já fora extremamente tímida diante dele e agora, talvez porque já o esquecera, falava de tudo com a maior tranqüilidade. E ele percebia que ela não tentava ser outra pessoa, como faziam as outras garotas com quem conversava. Era o mais natural possível.

Mas não deixava de ser tão linda quanto - ou ainda mais que - as outras. Não tentava nada além da amizade porque havia algo de sagrado nela. Talvez por ser a irmã mais nova de seu melhor amigo, ou talvez por ser tão delicada e verdadeira. A verdade era que ele até sentia-se atraído por Gina e a idéia de que não podia fazer nada com relação a isso só o deixava ainda mais na vontade.

Gina também ria do que acabara de falar e percebeu que Harry a fitava com um semblante que se tornava sério e observador. Ela achou estranho e sentiu-se corar. Mas resolveu mudar de assunto, não queria voltar a sentir por Harry o que sentira desde o dia em que o conhecera até um ano atrás.

- Erh... Cadê o Rony?

- Ele ta estudando com a Mione na biblioteca – Harry se tocou que a deixara sem graça.

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