O DIA DOS NAMORADOS EM NOWHERE



O DIA DOS NAMORADOS EM NOWHERE – PARTE III
N/A: Assistindo ao anime que ganhei num concurso de cosplay na Baixada (minha velha casa), encontrei esta musica fofa, que eu acho que tem tudo a ver com esse capítulo, então separei as parte que acho que pertence a Draco e Gi, mesmo porque, mais um cap song e acho que vocês me matariam. Então vai ficar mais como citação...

“Sashite kizuita takini

Quando me dei conta

Kangaeteru no wa kimi no koto de

Só pensava em você

[…]

Sugaka iya dattari omaete

E pensava que fosse ruim (Gina)

Sore wa boku ga kimochi wo

Isso porque tenho medo

Tsutaeru koto ga kwai kara de

De transmitir meus sentimentos (Draco)

Atama de asae tsukete mo

Mesmo me segurando na cabeça

Kakoro wa dousuru koto mo dekinakute

O coração não pude controlar (Gina) ”

Música de Fechamento do anime Midori no Hibi (Midori Days)



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Gina conteve-se para não dar uma resposta mal-criada a Malfoy. Era estranho ter de agir com ele, como agiria com um amigo. Estranho por já estar acostumada a associar o belo rosto dele à respostas ambíguas e mal-humoradas. Era como se ela tivesse de controlar um animalzinho dentro de si, animal este, que queria jogar na cara dele o ódio que lhe sentia, a vontade de simplesmente dizer que era uma Weasley que estava ali em sua frente. Será que tudo o que os separava era o sobrenome? Se ele podia aceitar uma Winter, por que não uma Weasley?

Obviamente porque um Weasley nunca seria bom o suficiente para carregar o sobrenome Malfoy. Sobrenomes... Por que os humanos sempre criam meios de segregar uns aos outros e complicar ainda mais suas vidas, ao invés de fazer algo para unir? O sobrenome era mais um meio de preconceito. Se você era um Weasley, não tinha vaga e um restaurante bruxo chique, por mais que pagasse, enquanto uma Malfoy, sem qualquer reserva, seria aceito e tratado com a maior pompa. Ao inferno! Tanto os sobrenomes, quanto os preconceitos. Estranhamente você era tachado somente por ter sido registrado com um nome. Era coberto de glorias por causa de sobrenomes! O mundo é mesmo ridículo! Ás vezes desejava jamais ter nascido em uma sociedade assim. Talvez se tivesse nascido na idade da pedra, teria sido mais feliz, por todos serem iguais e irracionais e fazerem o que os instintos mandam.

Por que ela não podia fazer o que seus instintos mandavam? Embora sua razão jamais admitisse, saiba que queria pular nos braços de Malfoy e beijá-lo loucamente! Até que sua respiração se fosse por completo, que a terra girasse ao seu redor.

Mas a coisa não era bem assim. Existiam sobrenomes. Existia um abismo que os separava, por mais que ela sequer confessasse a si mesma que o queria. Mas seu corpo ansiava. Tremia de desejos por ele. Fechou os olhos com força e propôs-se a afastar aquilo tudo e agir como pretendia. Não aceitar o pedido e sumir dali. Esperar que ele saísse dali e dançar pra planta.

E também devia se lembrar de não ficar muito mais... Ela era apenas “comercializável” para ele.

-O que o fez pensar que não viria? –Gina respondeu com um sorriso um tanto fraco e pouco convincente. Por dentro, Gina se xingou. Ela devia ser convincente e não arruinar tudo! Vamos! Ela tinha que entrar no espírito de Vivian e não de Gina. Por que isso se tornara tão difícil da noite pro dia?

Talvez por que, por mais que sua vida fosse ainda mais chata agora do que anteriormente, ela tinha certeza de que não precisava de uma aventura. Não pra arriscar que aconteça algo tão... tão... ela não tinha palavras para descrever o encontro com Malfoy na boate. Problemático? Hum, a palavra exata para a conseqüência. Mas o momento não fora tão ruim. Quer dizer, ela realmente gostara de estar com ele. Em todos os sentidos. Então... Por quê? Por que as conseqüências tinham de ser tão grandes?

-O fato de nunca ter aparecido na boate nos dias seguintes. –Malfoy respondeu tocando-lhe o rosto com suavidade por cima da mesa. Meu Deus! Era um toque maravilhoso. Como alguém tão sarcástico e mesquinho podia ser tão doce e gentil? Era uma resposta para a qual a ruiva, que agora se disfarçava de loira, não tinha respostas. Não tinha e nem pretendia ter. Tinha de ser firme em suas resoluções. E ao mesmo tempo, Gina tinha que agir como Vivian agiria. Como Viviam faria. E foi sobre esse pretexto que permitiu-se estremecer com o leve contato entre as peles. Novamente aquela sensação... Novamente aquela sensação de entrega. Um toque e ele já a possuía. Incrível! Como podia? Era quase mágico o modo como se sentia quando as duas cútis se tocavam, espalhando uma sensação enorme de bem-estar por todo o seu ser, fazendo com que seu coração tamborilasse de alegria e que suas faces se tingissem de um vermelho intenso- O fato de ter-me deixado sem se despedir aquela noite. Por que o fizera, Vivian?

-Puxa, sem chance de começar com um simples “boa-noite”, não? –Gina respondeu sorrindo irônica, tentando ganhar um tempo. Ela não podia responder que fora embora porque não queria qualquer envolvimento. Isso a podia tornar fútil, mesquinha e volúvel aos olhos dele. E por mais que ela quisesse sair fora disso tudo, não podia deixar que ele tivesse uma impressão tão ruim da mulher com quem ele passara a noite. Por mais que Vivian não existisse, ela estava dentro de Gina, era uma parte oculta de sua personalidade e jamais desejara o mal a si mesma. Que sua personagem fosse mal interpretada ou algo assim. Ela mesma não gostaria de ser mal interpretada.

-Então você quer que eu a cumprimente? –Draco respondeu passando os dedos suavemente sobre os contornos suaves de seus lábios cheios, fazendo com que ela fechasse seu próprios olhos para apreciar o suave contado de seus dedos viris. Numa atitude, sabe-se lá surgida de onde, tocou o dedo dele com a ponta da língua. Ele estava querendo brincar com ela e suas reações? Então vamos ver quem cai primeiro! Depois de alguns segundos, ele quebrou o contato. Sorriu misteriosamente. Parecia satisfeito com sua reação. Com isso, levantou-se.

-Claro que quero. –Ela respondeu servindo-lhe um dos sorrisos mais provocativos que sabia esboçar. Se o jogo era sedução, por mais que ela nunca tivesse jogado este jogo antes da Vivian surgir, então ela participaria! Era uma forma de manter Gina e Vivian ali. A Vivian, o lado sensitivo da Weasley, queria ser inteiramente dele, enquanto Gina, a razão da moça, queria que sua rivalidade e ódio seguissem. Uma relação meio estranha, isso de amor e ódio. E contraditória também. Por mais que o lado Gina, da razão, não quisesse sequer imaginar uma hipótese como essa, Vivian, o coração, queria de alguma forma estar sempre junto a Malfoy. - Ou você pensa que alguns meses foram capazes de apagar de minha memória o quanto um cumprimento seu pode ser interessante?

Draco levantou-se de seu lugar e deu a volta calmamente, até ficar de frente com ela. Gina levantou-se no mesmo instante, tentando fixar seus olhos no dele, como normalmente fazia com todas as pessoas. Gostava de contatos visuais. Era mais fácil se captar o espírito do interlocutor. Ela parecia ter esquecido que teria de dissimular como Vivian. Parecia não precisar mais de artifícios, porque ela já incorporara a Vivian. Fizera isto no momento em que ele a tocara. Incorporara uma Vivian diferente, é claro. Pois essa Vivian ainda tinha Gina por perto, mas sem dúvidas, ela já era dele! Se não tivesse sempre sido.

-Menina, você continua brincando com o fogo! –Draco sorriu ao notar-lhe a expressão marota, levemente entregue, mas ainda assim, com o queixo erguido e um sorriso provocante nos lábios maravilhosamente macios.

-E você parece ainda não se dar conta de que não sou uma menina. –Gina respondeu num sussurro sensual- Não teve o bastante naquela noite?

-Não. Talvez mil noites de amor não me fossem suficientes! –Ele disse ficando sério repentinamente- Eu quero mais! Escute, menina, quero você para o resto de minha vida!

Gina segurou-se para não rir. Malfoy? Falando que queria algo, que não fosse a si próprio? Ah! Claro! Ela se esquecera que o “resto da vida” dele era curto! Obviamente era só mais um capricho de um riquinho mimado! Ele no mínimo, só queria se divertir até seus últimos momentos... “Ah, Malfoy! Sua lábia não cola comigo!”

Ele devia estar bem desesperado! Quer dizer, Malfoy admitindo que precisa de alguém ao seu lado a não ser seu grande ego? As coisas de repente mudaram de posição! O mundo estava louco e distorcido! Ou quem sabe, Malfoy estivesse drogado? O Draco Malfoy que ela sempre conhecera e odiara jamais dizia querer ou – mesmo que subliminarmente – dizer que precisava de alguém. Nem mesmo a ela, que podia salvar sua vida.

-Não brinque com isso, moço! –Gina advertiu-o, concentrando-se novamente em seu personagem. Não podia se dar ao luxo de ter acessos de Gina e acabar falando alguma besteira, por mais que quisesse pedir para que ele parasse de desrespeitar seu tratamento e tomar drogas para comparecer a encontros completamente “doidão”... Por mais que ela soubesse que ele sequer estava drogado!- O resto de sua vida pode ser algo muito longo. E uma vida em comum não se resume a sexo. Você nem ao menos me conhece. Não sabe sobre minha vida, estou certa! Tal como não sei nada sobre você.

-Minha dama quer que eu me apresente? –Draco perguntou com um sorriso brilhante. Coitado! Estava esperançoso! Se ele não fosse Draco Malfoy, sentiria pena! Mas era o Malfoy, então continuaria com o teatro! E faria questão de pisotear seu coração! Por mais que quisesse beijá-lo até que o ar lhe faltasse, as cicatrizes eram bons alertas para que fugisse dele. Alheio a isso, ele parecia calmo e paciente. Talvez já esperasse que algo como isso viesse à tona. Ele a pedira em casamento, subliminarmente, mas pedira. Ele devia saber que precisaria se apresentar e fazer uma fichinha completa sobre si próprio- Então assim o farei. Meu nome é Draco Malfoy.

Ele deu uma pausa esperando que Gina esboçasse alguma reação, devido ao nome. Depois de alguns segundos, Gina finalmente pareceu perceber isto. Devia se lembrar que, para todos os efeitos, ele devia pensar que ela nada sabia sobre sua identidade real. Sem mais o que fazer, fingiu uma perfeita cara de surpresa.

-Hum... Malfoy??? Você é o Malfoy? –Gina fingiu-se de chocada histérica. Ria-se por dentro. Por pouco não pediria um autografo!- Uau! Jamais pensei que conheceria uma figura tão marcante quanto a sua.

-Sim! –Ele respondeu com um sorriso marcante de triunfo, ou algo semelhante- O último da linhagem de Puro-Sangue dos Malfoy. E você? Quem é?

Se ele visse como ela desenvolvera sua capacidade de dissimulação, estaria espantado. Lembrava-se que ele comentara que ela era incapaz de esconder seus sentimentos. E agora... Dava um show ali, bem debaixo do nariz dele. Se bobeasse, ainda sambaria sobre seu coração e ele sequer perceberia. Ela ergueu o queixo e estendeu sua mão para ele. Queria rir-se, por poder manipular a situação. Podia dar o nome a si mesma que bem entendesse. No entanto, seria mais engraçado se ela confirmasse a história que dera a ele de manhã...

-Sou Valery Wilder. Minha família é dos Estados Unidos, meu pai trabalhava no Ministério e foi transferido pra cá, então concluí meus estudos em Hogwarts. Depois disso, me especializei e me tornei uma cientista. –Gina disse ainda de mão estendida, enquanto Malfoy a fitava levemente incrédulo. Ò Céus! Queria ter uma máquina fotográfica para gravar a expressão de Malfoy! Parecia ter engolido um sapo. Seu choque era tamanho que sequer reparou em sua mão estendida. UM A ZERO PRA ELA!

-Você não é noiva, ou casada, é? –Malfoy perguntou parecendo temeroso. Gina se divertia por dentro, pois o via empalidecer, ficando ainda mais branco que o normal, se é que isso fosse possível. Pela primeira vez após saber que Carter era Malfoy, finalmente sentia que toda aquela história estava valendo a pena. Sentiu-se vitoriosa e que todos os sacrifícios que fizera até agora, valera a pena... “Prove um pouco de veneno, Malfoy! Veneno que guardei durante anos contra você!”

-Na época em que nos conhecemos, eu era noiva. Prestes a casar! –Gina disse recolhendo sua mão, sabia que eles estava chocado demais para aceitá-la. Por dentro exultava com a reação dele- Agora, sou apenas solteira e nada mais. Não namoro, nem qualquer outra coisa. Viu o que fez comigo, Malfoy? Este tempo todinho, deixou-me louquinha por você.

Gina se aproximou de Malfoy e tocou-lhe o rosto, deslizando o seu indicador do rosto até o tórax. Não sabia exatamente por que havia se esquivado de uma possível cartada para sair daquela situação. Podia dizer-se casada e sair dali sem maiores contratempos. Talvez porque seria ainda mais interessante vê-lo deitado a seus pés... Implorando para que ficasse, enquanto ela se divertia a suas custas. Ou...Talvez apenas não quisesse ir sem receber pelo menos um beijo dele.

-Por que a pergunta, gostosão? –Gina perguntou inocentemente, enquanto mordia os próprios lábios sedutoramente. Sabia que eles inchariam como se tivesse acabado de sair de um beijo ardente e que isso chamaria a atenção dele, deixando-o louco. É... Aquele era um jogo que certamente podia jogar e se divertir- Depois de ver uma bundinha como a sua, ao inferno compromisso com outra pessoa!

-Gostou da minha bunda? –Ele riu maravilhado, enquanto a mão dela espreitava-se para a debaixo da blusa dele- Fique comigo e terá muito mais que meu traseiro!

-Hum... –Gina disse enquanto passeava a mão pelo tórax definido dele- Acho que posso pensar em uma oferta assim... Não recebo nada tão tentador desde o dia na boate... Digamos que meu noivo não fosse tão quente...

-Então, você não se sente magoada por ter terminado o noivado, sente? –Malfoy perguntou olhando-a longa e profundamente. Não parecia se importar muito com o fato de ter sido o motivo do término de algo que ela estava tendo. Ele parecia precisar ouvir aquilo. Estranho, vindo de Malfoy. Muuuito estranho! Havia algo incomodando-o por dentro, ela podia claramente ver. De alguma forma, ele parecia ter abandonado a máscara de imparcialidade e frieza, e parecia pela primeira vez mais... mais... humano? Será que era isso? Ele parecia falar com ela como um igual fala a outro, sem seu ar superior, sem desprezo ou raiva... Apenas como o Draco sensitivo que existe... Isso é, se não for teatro dele também!

-Chateada? –Gina perguntou, e riu zombeteira da expressão dele, por mais que ele estivesse quase fazendo-a acreditar que estava sendo minimamente honesto, ela não era tão tola a ponto de pular de cabeça. Não mesmo, pois sabia que pode se afogar. Era bem melhor manter o jogo como estava.- Não! Eu estava com o Richard porque meu pai o considerava um bom partido. Não era como se eu realmente o amasse. Talvez se eu o amasse, jamais teria pisado naquela boate.

-Ótimo! –Malfoy disse sorrindo confiante, enquanto tomava-a pela cintura de forma ríspida e possessiva- Acho que ainda estou te devendo meu cumprimento, não estou?

-Sim, está! –Gina respondeu, enquanto fechava os olhos numa enorme expectativa. Ela o sentiria de novo, próximo a ela! Isso a animava. A fazia explodir em uma sensação de plenitude que ela desconhecia dentro de si mesma, a não ser quando era tocada por Malfoy. Não tinha como impor seu personagem nessa hora. Ansiava por ele de um jeito ou de outro- E quero que pague com juros e correção monetária!

Ela enlaçou-o pelo pescoço, trazendo-o para mais junto de si. Parecia incapaz de aguardar por mais qualquer segundo a ausência dele. Podia sentir o corpo másculo e viril contra o seu, o mesmo corpo que emanava um calor e uma sensação de segurança que a fazia puxá-lo com mais força contra si, mas que, ela saiba, ainda não era tudo o que ele poderia lhe oferecer.

Já não sentia o vento forte que vinha direto contra o corpo de ambos, nem a música lenta acariciando seus ouvidos, nem o aroma adocicado emanado à distância pelas flores que se revelavam muito brilhantes, graças aos primeiros raios da lua que alcançavam suas pétalas, como se estas fossem verdadeiros diamantes brilhando sob a luz do sol. O vestido de Gina também o fazia, embora nem mesmo ela ou Draco parecessem atentar para este detalhe. Pois não passava disto, um detalhe. Era pouco se comparado ao desejo e ânsia que um sentia pelo outro. Era um momento deles, onde sensação nenhuma a não ser o bater forte de dois corações unidos e o pulsar do desejo embalando os corpos na mais bela canção que possa existir, podiam ser sentidas, propagadas ou entendidas.

O momento do reencontro dos corpos que por um momento longo esperaram para se juntarem novamente, onde os dois realmente se desejavam, onde não haveria repúdio após a carícia, onde nenhuma mentira poderia resistir ou ser escondida, era chegado. Draco roçou seus lábios sedosos nos dela primeiramente com uma certa suavidade. O cuidado de um beija-flor para com sua fonte de vida. Primeiro, nada além de um toque, tão suave e tão carinhoso quanto o próprio beija-flor, dando-a a sensação de reconhecimento. A sensação intensa da alegria e euforia de um dia quente de verão, onde se é uma criança para sempre, onde apenas a sinceridade de um beijo verdadeiro de amor possa transpor tais dias euforicamente nostálgicos.

Os lábios de Gina se entreabriram para receber o beijo que ele continha e guardara para a Vivian, mesmo após alguns meses. Não era como o beijo que ele dera em Virginia Wealsey, meio sem querer, meio na brincadeira, sem qualquer significado real, sem sentimentos reais. Este era o beijo do Anjo-Mau, Carter, para a Criança, Vivian. Lábios que se buscaram por muito tempo, que sofreram com as noites glaciais de solidão, após conhecerem o calor que um transmitia ao outro.

Gina sentiu-o invadir sua boca com uma inesperada voracidade. Parecia que o primeiro toque gentil, despertara nele, algo muito forte, tanto quanto o despertado nela, que o levou a buscá-la de forma ávida. Seu corpo apenas se entregava a ele, sentindo os arrepios, e a calidez das mãos deles acariciando suas costas com suavidade sensual. Ele a acariciava de forma tão afoita que era impossível que ela ficasse indiferente. Suas mãos também passeavam inadvertida pelas costas dele por debaixo da camisa, até alcançarem suas calças e se insinuarem perigosamente para dentro delas.

Draco soltou um gemido surpreso, que foi abafado veementemente pelo beijo de ambos. Vagarosamente, Gina apertou as nádegas dele, incitada pelo desejo pelo corpo dele que sentia.

A moça apenas pôde sentir quando ele interrompeu o beijo. Ela mal podia crer que ele apenas o fizera para poder contemplá-la. Sentiu uma sensação de vazio, de que algo a tornara dividida mais uma vez. Novamente voltara a ser apenas ela e não mais o único ser que se completava nos braços dele. Como podia sentir algo tão intenso? Perguntava-se se não era pecado sentir tanto quanto sentira nos braços dele. Era inegável a forma que reagia aos beijos dele. Realmente novo e delicioso. Céus! Como podia ser assim? Tão... Tão... Oh, teria que criar uma palavra que transmitisse o quão perfeita é a sensação de estar nos braços dele!

Ela sentiu seu rosto queimar. Obviamente o olhar dele estudava-a, enquanto Gina mantinha os olhos bem fechados.Timidamente tirou as mãos da calça dele, parecendo um tanto envergonhada pela atitude impulsiva que tivera. Por mais que soubesse que Vivian o faria, não podia deixar de pensar que ela, Gina, o fizera, por livre e espontânea vontade. Abriu os olhos e deparou-se com aqueles belos olhos, encarando-a de forma divertida. Ele finalmente a soltou do abraço forte e estrito no qual estavam.

-Eu... –Gina começou, parecendo sem-graça. Sem realmente saber o que dizer. Algo que era meio novo pra ela. Ela costumava ter cortes e soluções para toda e qualquer situação constrangedora. Contudo, as palavras ainda apareciam confusas em sua mente, incapazes de se formularem uma frase lógica. Ainda estava sobre o efeito dos beijos maravilhosos de Malfoy. Deveria criar na física-química uma nova reação de princípios ativos e extraordinariamente estimulante, o efeito Malfoy

-Shh... –Ele tomou-lhe a mão direita e virou-lhe o pulso, onde Gina tinha uma marca de nascença na forma de uma margarida. Draco beijou-lhe exatamente sobre a flor, enquanto seus olhos inquiriam a atenção da moça. Gina achou interessante o fato de que ele não esquecera a marca que ela possuía no pulso. Poderia ele realmente saber desses detalhes todos porque ele remoera todas as noites centenas de vezes o que ocorrera entre eles na boate, exatamente como ela?- Não diga nada! Apenas ouça o que tenho a lhe dizer.

Gina confirmou com um meneio leve de sua cabeça.

-Vamos tornar isso eterno, criança... –Draco pediu com delicadeza, olhando fixamente em seus olhos, como se buscasse neles a resposta para todos os seus problemas, como se dependesse de tal contato para o segmento do resto de sua vida- Pense em como seria poder sentir tudo isto o tempo todo. Como seria acordar ao meu lado todas as manhãs. Ou como seria viver em um lugar lindo como este, comigo. Dia após dia, nos amando e nos conhecendo. Diga que casa-se comigo.

-Eu... –Gina começou pegando o máximo de fôlego que pudesse, um tanto hesitante. Era chegado o momento. O maldito momento de esquecer. O momento de abandonar, virar as acostas e ir embora de uma vez, sem qualquer chance de arrependimento, ou sentimento contraditório que a pudesse confundir. Ela queria muito que o ar passasse por suas cordas vocais e levassem com ele o som de apenas uma palavra negativa, uma simples recusa. Uma simples exoneração que acabaria de vez com toda a culpa que carregava, que provavelmente lhe deixaria em paz consigo mesma. Entretanto tais palavras não eram proferidas, porque tudo o que ela queria era abrir os braços e gritar uma aceitação. Por mais que soubesse que ele era o Malfoy de sempre, ela não queria dizer que não podia. Não queria que seu coração reclamasse futuramente por ela tê-lo recusado quando mais o queria. Não queria carregar nada disso consigo. Queria aquele Malfoy! Queria aquele homem, não importava o sobrenome, a cor de pele, ou dos cabelos, não importava o sobrenome. Apenas queria dizer que não se importava com nada, se pudesse ficar daquela forma com ele por todos os dias pelo resto de sua vida!

-Não precisa me responder neste momento... –Malfoy respondeu com um sorriso compreensivo. Céus! Malfoy estava sendo gentil com alguém! Gina desarmou-se. Naquele momento todas as suas armas acabavam de ir ao chão. Que espécie de monstro era ela? Estava brincando com os sentimentos de alguém! Por mais que esse alguém seja Malfoy, depois das palavras dele, já não sabia mais como fora capaz de entrar em algo como aquilo. Ele estava ali. Fazendo algo que ele não faria a ninguém. Ele baixara suas defesas para que ela entrasse em seu coração, mostrara-se como uma pessoa legal e amável, com sentimentos. Diferente do que ele sempre parecera ser. Não havia frieza naqueles olhos, nem mesmo desprezo, ou frigidez. Muito pelo contrário, via apenas um homem olhando-a apaixonadamente, sorrindo-lhe com intensidade- A noite ainda é uma criança para nós. Talvez não tão linda quanto você...

-... O... Obrigada! –Ela respondeu pega de surpresa. Não era acostumada a ouvi-los com freqüência. Quer dizer, vivera trancada por cinco anos em laboratórios e agora, em Nowhere, onde tinha trabalho ainda mais árduo e Malfoy por perto, não ouviria um elogio nem debaixo d’água. Corou inocentemente. Ao que ele sorriu, tocando-lhe as maçãs rosadas com carinho.

-Ficou ainda mais linda agora... –Ele continuou com um sorriso atipicamente emocionado, ele aproximou-se das bochechas róseas da moça, tentando depositar alguns beijos na perfeição a qual ele admirava com tanto fervor e interesse. Com um sorriso maroto, Gina afastou-se dele, rindo-lhe da incompreensão.

-A sério? –Ela perguntou enquanto o via, ainda sem entender o porque da esquiva, contemplá-la. Em resposta a isso, ela apenas disse- Uma garota legal deve se preservar, certo? Não pense que eu sou fácil!

-Nunca fui tão ingênuo a esse ponto. –Draco sorriu resignado ao vê-la iluminada pela luz da lua. Aquela cena sem dúvida ele jamais esqueceria. A luz lunar prateada fazia com que o vestido ficasse com uma luz meio prateada-azulada como se ela fosse envolta por uma aura celestial, que brincava com o acentuado ar angelical de seus cabelos dourados. Seu rosto corado, brilhando como uma rubi, os lábios cheios, convidando-o a experimentar novamente o paraíso. Tão linda quanto uma ninfa, uma princesa da noite, chamando, clamando, exalando sensualidade concomitantemente com inocência. Uma mistura entre um anjo e uma criança, ali com um sorriso matreiro e alegre, de braços bem abertos, numa verdadeira imagem divina oferecido a ele.

Com um aceno, ela tirou a própria varinha e conjurou almofadas e mais almofadas sob as rochas iluminadas as margens do rio que seguia seu curso, inabalável. Duvidava que ele assim permanecesse, se ele tivesse a visão da mulher a sua frente que Malfoy tinha.

-Que tal deitarmos aqui e olharmos as estrelas enquanto falamos sobre nós mesmos? –Gina sugeriu, deitando-se nas plumas multicoloridas. Mas antes, claro, fez seu jogo. Sentou-se bem vagarosamente, enquanto acariciava as próprias pernas, levantando o vestido bem vagarosamente, parando de súbito e puxando-o de volta para seu lugar. Estava decididamente provocando-o!

-Deitar ao seu lado não será nenhum problema! –Draco respondeu maliciosamente, enquanto ia até ela com um sorriso- O drama será fazer com que eu me levante daqui mais tarde.

Gina não pôde deixar de sorrir com o comentário dele. Mal podia crer que aquele era Malfoy. Ao menos não o que ela conhecia. Não o que ela desprezava. Como podia haver alguém tão... tão... legal, por trás do homem frio e zombeteiro? Saiba que já havia feito esta pergunta a si mesma por várias vezes esta noite. Mesmo por que era difícil para que sua mente assimilasse que o Malfoy que por muitas vezes as provocava quase a beira da insanidade, fosse o mesmo Malfoy que lhe sorria calorosamente. Não podia ter extremos assim tão distintos dentro de uma pessoa, podia? Não! Claro que não! Ele estava representando... Em um dos dois papéis. Embora ela não soubesse discernir em qual deles, pois qualquer que fosse, ele fazia com perfeição. Com uma exímia que nem mesmo um ator conseguiria.

Malfoy sentou-se ao lado da moça, observando-a paciente e vorazmente. Ao perceber isto, Gina passeou as mãos por suas costas como em uma massagem. Ele sorriu aos sentir as mãos delicadas da moça novamente em seu corpo. Ao chegar em seu largos ombros, ela parou e apertou com mais força, ao que ele levantou-os devido ao susto do gesto inesperado.

-Hum... Por que está tão longe de mim? – Gina perguntou em um tom falsamente magoado, ao que puxou-o pelos ombros, fazendo com que deitasse ao seu lado. Depois fez um biquinho e cruzou os braços, fingindo-se magoada- Você não me quer ao seu lado?

-Do meu lado? Claro que não! –Draco respondeu virando-se de lado, na direção onde ela esta deitada. Ela pareceu realmente ultrajada e triste com aquilo. Então ele se aproximou do ouvido dela e sussurrou- Eu quero você grudada em mim o tempo inteiro!

-Ah, é? –Gina perguntou olhando-o divertida- Você vai desejar jamais ter dito isso, quando sentir minhas mãos se estreitando pra dentro das suas calças... Elas não vão desgrudar do seu traseiro.

-Interessante! –Draco declarou, enquanto a observava aconchegar-se em seu tórax- Como se eu já não soubesse... Não sei se já lhe disse, mas adoro sentir suas mãos maravilhosas em meu traseiro...

Ela riu. Jamais imaginara ver Malfoy como um cordeirinho fofo e entregue. Ele era uma mistura interessante de sensualidade e meiguice.

-Bem, deixemos isso para depois... –Ela disse calmamente, enquanto deixava seus dedos brincarem com o rosto dele- Eu ainda tenho que te conhecer, lembra?

-Eu já não te disse quem era? –Draco perguntou arqueando levemente a sobrancelha em estranhamento.

-Até disse! –Gina respondeu pacientemente. Este era o momento em que tentaria arrancar algum podre de Malfoy e depois ridicularizá-lo por isso, como Gina- Mas sabe, eu não sei que tipo de música você ouve. Não sei qual é o seu livro favorito. Sabe, essas coisas que os trouxas perguntam a pessoas candidatas do greencard americano quando casam com imigrantes ilegais...

Ele riu da piada. E que riso maravilhoso. Era diferente de tudo que já ouvira vindo dele. Draco Malfoy sempre ria cheio de escárnio, ódio, raiva, triunfo ou qualquer outro modo irritante, mas ela nunca o vira simplesmente rindo por achar algo divertido ou engraçado. E como era maravilhoso ouvi-lo. Sua voz grossa ecoando por todo o belo cenário, acariciando-lhe o ego, limpa de qualquer propósito subliminar como magoar alguém. Era apenas um riso de alegria. Apenas uma risada que provavelmente ele nunca havia dividido com ninguém antes.

-Bem, mas não somos ilegais e muito menos queremos greencard. –Draco respondeu com simplicidade.

-Eu não preciso. –Gina respondeu lembrando-se de sua mentira anterior. Manteve o tom de brincadeira- Nasci nos Estados Unidos.

-Ah, é! –Draco redargüiu ao lembrar-se que anteriormente ela havia mencionado isso- Mais um motivo para que você se casar comigo. Passagem livre no Estados Unidos garantida. Até poderíamos passar nossa lua de mel lá.

-Mas e quanto seu tratamento? – Gina disse sem pensar. Estava falando como médica dele! Uh, oh! E pelo jeito, falara demais! Gina condenou-se veementemente. Como explicaria a ele sobre isso? Tomara que ele não tenha prestado atenção! Tomara!

Ele a olhou de imediato, completamente estarrecido. Parecia assustado com o que ela dissera.

“Eu e minha maldita boca! Como pude ter sido tão boba e ter deixado escapar um trem desses!”

-Como sabe que estou em tratamento? –O loiro perguntou em um tom falsamente contido. Daí era um passo para que ele descobrisse tudo.

Ela tinha que pensar rápido em uma desculpa. Mais que rápido! Ela tinha que pensar na velocidade da luz. Qual não seria a reação dele ao descobrir que ela era Virgínia Weasley? O que ele faria se soubesse que estava sendo enganado este tempo todo e que pedira um WEASLEY em casamento?

-B...Bem, eu trabalho na mesma empresa que Virgínia Weasley, na verdade, sou estagiária dela. –A moça começou a explicar. Na verdade, ela apenas recitava as cartas que tinha contra ele em voz alta, esperando que seu cérebro pegasse no tranco e arranjasse uma boa desculpa e se ele acreditasse, melhor ainda. Agora ela já não tinha mais nada a perder. O pior que podia acontecer seria ele descobrir! Não o pior! Isso não seria o pior. Seria mais que isso! Seria algo como uma catástrofe nuclear em sua vida.- E é claro, por ser assessora direta dela, tenho consciência de tudo que ocorre com ela. Sou eu quem passa os relatórios dela ao chefe. Como não poderia saber que ela estava aqui cuidando de você? Safada sortuda! Quem dera ser eu no lugar dela! Só que eu não sabia que você era o Malfoy. Sempre soube que não era Carter, como você me dissera, mas também não esperava que fosse Draco Malfoy.

-Hum... Entendo. –Malfoy respondeu parecendo tranqüilizado. Ela quase suspirou em alívio, mas estaria dando muita oportunidade ao azar. Afinal, ele não era burro e perceberia seu alívio se o fizesse- Então você sabe sobre tudo o que está acontecendo comigo.

-Não deveria, pois os relatórios são confidenciais, mas... Sim, eu sei! –Gina admitiu, fingindo fazer uma expressão de culpa.

-Então sabe no que implica este pedido de casamento que faço a você, não é? –Draco questionou com um olhar levemente perdido. Parecia pela primeira vez, triste. Como se lhe faltasse um pedaço. Parecia-se o velho Malfoy que ela sempre conhecera.

-Eu sei... –Gina baixou os olhos, recusando-se a encará-lo. Podia ser ainda mais torturante o fazê-lo, pois ela sabia que estava absolutamente TUDO em suas mãos. Não podia fingir que de alguma forma aquilo não a afetava. Ela sabia que a vida dele estava em suas mãos- Mas não se preocupe, Gina é competente! Ela vai conseguir! Eu sei que vai!

-Eu já não tenho tanta certeza... –Malfoy declarou, olhando as estrelas- Eu não gosto dela e ela não gosta de mim. Não duvido que ela, por mais que tivesse encontrado a cura, jamais me daria. Há muita mágoa e ressentimento entre nós. Eu admito que minha postura com ela nunca foi das mais politicamente corretas, mas o que eu posso fazer se ela parece viver para me irritar? Ela faz questão de jogar na minha cara que eu preciso dela o tempo todo. Sabe, eu sei que é verdade, mas eu tenho orgulho-próprio. Não gosto de ficar ouvindo o tempo todo dela que estou doente e que posso cair morto em pouco tempo. Isso me deixa ainda mais doente.

-Eu conheço a Gina. –A própria saiu em sua defesa. Ele a chamava de má profissional, de irritante e tudo mais! Ela não podia ficar calada. Contudo, também não podia dar na vista que era ela que estava ali. Então porque não tentar ser imparcial? Mas ainda assim se defender? Ela podia tentar.- Ela não implicaria sem motivos. Ela não é uma pessoa que faça isso. Se ela o trata assim, algo você fez.

-Conheço a Weasley dos tempos de escola, e nunca gostei dela ou da família dela. Meu pai não gostava, meu avô não gostava, logicamente, eu não gosto. É como uma hierarquia. –Draco tentou explicar, ainda sem encará-la- Nunca me importei com pessoas que não pudessem me ser úteis de alguma forma. E pra que eu o faria? Que vantagem eu levaria? Eles são de classe social diferente da minha, e tudo o que é diferente é fortemente reprimido. E eu o fazia. Achava divertido. Acho divertido.

-Porque você precisa fazer parte desse jogo de hegemonia e dominação? O que há de tão diferente entre você e ela? Não têm olhos, braços e pernas? Não respiram o mesmo oxigênio? –Gina perguntou com o cenho levemente franzindo. Aquela poderia ser sua chance de melhorar um pouquinho que fosse, o velho Malfoy. Quem sabe ele parasse de ser insuportável o tempo todo, assim?- Não pisam sob o mesmo chão?

-Claro que isso tudo é muito bonito, em teoria... –Malfoy redargüiu fazendo um gesto vago de descaso- Mas na prática é completamente diferente. Não é como se você fosse igual a todo mundo. Não é como se você pudesse fazer sempre o certo, mesmo porque, não é possível fazer o que é correto o tempo todo! Por mais que esteja cheio de boas intenções, sempre vai haver alguém que pode se valer delas contra você. Há pessoas e mais pessoas no mundo e nem todas elas curtem esse negócio de bondade. E eu sou uma dessas. Prefiro passar a perna, a ser passado. Mera questão de sobrevivência.

-Essa é uma forma terrível de se pensar. –Gina comentou subitamente assustada com as palavras dele. Era incrível o modo como ele tinha tão pouca fé na raça humana. Ele provavelmente não acreditava em ninguém, a não ser a si próprio. Devia ser uma existência realmente degradante. Muito triste e paranóica. Não se confia em ninguém, não crê que alguém possa ajudar, não crê na própria felicidade. Era como se aos pouquinhos, ele fosse matando a si próprio. Matando por medo... Medo de ficar só, medo de nunca poder se libertar daquelas correntes horrorosas que o faziam sempre desconfiar, atacar e ferir, nem mesmo quando você não quer fazê-lo. Duro deve ser olhar para o lado e ver rostos de montes de estranhos, que falam contigo, te cumprimenta, até mesmo lhe sorrir, mas são apenas isso, estranhos em que não pode por sua fé. Então esse era o verdadeiro Malfoy. O cara que não crê em Deus, muito menos em Diabo, não crê no bem, e nem no mau, no medo ou na confiança, nem no amor, e tampouco no ódio. Ele apenas respirava. Não tinha uma razão pra a própria existência. Não acreditava em um futuro feliz, sequer acreditava em felicidade, pois não devia ter sido feliz pro sequer um minuto. Por um instante, ela pôde compreendê-lo. Pela primeira vez, em tempos sabia realmente que todas as atitudes de Malfoy não eram meros caprichos de garoto mimado que foi criado tendo absolutamente o que queria. Ele tivera dinheiro, tivera os brinquedos mais caros, as melhores vassouras, tivera roupas de grife, mas nunca tivera o mais importante na vida de um ser humano... Nunca tivera sequer uma gota de amor. Talvez Carmem até tentasse, mas ainda assim, ela não era mãe de Malfoy, a pessoa que mais deveria se devotar a ele.

Talvez ela até o amasse, mas não demonstrava seus sentimentos abertamente para o filho. Provavelmente, Lucio Malfoy não permitia. Conhecendo o tipão mau dele, devia achar que aquilo podia deixar o filho fraco, e a mulher devia se resignar. Simplesmente abaixar a cabeça e anuir.

Fora criado para ser um peão. Uma marionete para quem quer que tivesse poder e enaltecesse o poder do clã Malfoy, o usasse como entendesse. Esquecendo-se que acima de tudo, aquele homem ao seu lado tinha sentimentos.

Afinal, que espécie de gente fora a família dele? Pessoas que criavam seus filhos para peões de bruxos malignos? Gente que cobrava cada vez mais, quando pouco era oferecido? Que reprimia lágrimas quando tudo o queria fazer era chorar? Aquilo fazia mal! Reprimir os sentimentos era como tomar doses de veneno bem aos poucos e ir morrendo bem devagar, até que chegasse o dia, onde não existisse mais nada, a não ser um corpo sem alma.

Malfoy só devia ter ouvido, por toda a sua vida, cobranças e mais cobranças. Nunca os parabéns por algo que tivesse feito.

E isso lhe doía. Ela sempre fora parabenizada. Sempre fora tratada com carinho e amor. Sempre ganhara festas de congratulações quando conseguia realizar algo grande. Sempre fora feliz, justamente porque podia sentir a sensação de ser querida. Por poder confiar em todas as pessoas. Por poder olhar para os lados, sem medo de lhe passarem uma rasteira e atirá-la no chão.

Abraçou-o com força ao que ele a olhou sem entender o por quê desta atitude. Não o condenava. Ele não podia ter idéia do que se passava em sua mente. Não podia saber o que ela acabara de descobrir sem ele. E também não sabia que, de uma certa forma, ela estava disposta a ajudá-lo. Não só com a doença. Tentaria mostrá-lo que a podia confiar nela. Tentaria mostrar que podia contar com ela para qualquer coisa.

-Mas eu lhe compreendo. –Ela completou seu pensamento- Eu realmente entendo. Eu só lhe peço que tente...

Ela hesitou. Iria falar: Confiar em mim. Mas não podia! É claro que não! Ele se decepcionaria quando ela recusasse seu pedido de casamento! Não devia dizer isso. Daria apenas mais uma razão para que ele desconfiasse do mundo a volta.

-Dar uma chance às pessoas. –Gina disse carinhosamente, passando suas mãos pelo rosto dele com cuidado, como se ele fosse seu mais belo boniequinho de porcelana de coleção- O mundo não é tão ruim quanto parece. Apenas tente abrir seu coração e entenderá o que estou dizendo. Quero que você seja feliz!

-Eu serei, se você estiver ao meu lado. –Ele respondeu pegando sua mão e beijando com suavidade. Esse gesto inesperado de gentileza, fez com que a jovem fechasse os olhos e apreciasse uma sensação de calor subindo por sua espinha. Mordeu os próprios lábios. Se ele começasse, não seria capaz de resistir. Foi então que ele fixou seus belos olhos nos dela. Ela sentiu uma sensação inquietante. Era como se ele tentasse lhe ler a alma com aquele gesto. Como se ele, com os olhos fizesse uma súplica velada por ela, bem junto a si, ali naquele momento, não importando o que realmente pudesse acontecer consigo mesmo daqui pra frente. Ele parecia querer viver o agora, esperando que ele ficasse ao seu lado, por quanto tempo ele tivesse.

-Valery, eu não acho que eu vá viver muito. Nunca liguei para minha existência. Claro que morrer eu também não planejei, mas todos nós sabemos que um dia isso vai acontecer conosco. –Draco começou sentando-se, enquanto Gina fazia o mesmo, sem quebrar o contato visual- Sinceramente, não me importo com o que vai me acontecer, não me importo com meu dinheiro, ou meus bens. Não vou levar nada disso comigo. A verdade é que, na minha vida toda, nada realmente me importou. Nada me fazia ser menos vazio, ou mais feliz. Eu nunca fiz nada para que pudesse ter me orgulhado de mim mesmo. Nunca fui um homem honesto, ou bom. Nunca fui generoso, e tenho consciência disso. Tampouco digo-lhe que lamento por isso. Pois é a soma disso tudo que me torna este homem a sua frente. Por mais que isso tudo seja ruim, ou terrível, é a única coisa capaz de me dizer quem eu sou. Sem isso, eu não tenho identidade.

Os olhos dele brilhavam, ela não podia dizer, se graças ao brilho da lua ou a outra coisa. Falar sobre aquilo, admiti-lo em si, parecia ser algo que lhe custava muito. Algo que ele não estava acostumado a fazer e que lhe doía. Não que parecesse que alguma forma arrependido ou quem sabe, triste. Ele tinha alguma razão naquilo que dizia. Ele parecia sinceramente, convicto, como poucas vezes ela vira em qualquer pessoa.

-Mas acima de tudo, sou um Malfoy. Não importa o que sinto, não importa meus objetivos, tudo o que tenho que fazer é zelar pelo meu clã. E no momento ele não é um dos maoires, pois sou o ultimo. –O moço continuou olhando-a tranqüilamente- Mas naquela noite, realmente senti, que pela primeira vez na minha vida, valorizava algo. Você, de alguma forma, me fez sentir menos... menos... Eu! Fez com que eu sentisse que havia coisas na vida com que eu pudesse me importar. Coisas nas quais eu sabia valer a pena lutar. E é por isso, por este sentimento, que estou aqui, pedindo que se case comigo, e ao menos, torne o fim de minha existência como essa noite. Calorosa, apaixonada e por que não? Feliz. Case-se comigo.

-Eu... eu... Estou lisonjeada! –Foram as primeiras palavras na qual Gina pôde pensar, pois sem dúvida estava desnorteada. Realmente não sabia o que responder. Que dizer, sabia o que queria responder, e o que deveria dizer. Ela queria se casar com ele! Depois dessa noite, duvidava que continuaria encarando Malfoy da mesma forma que fizera antigamente. Sentia algo diferente. Não era mais desprezo, não era mais ódio. Era... O que era? Ela não sabia dizer. Mas era forte. Fechou os olhos. Ele finalmente soltou suas mãos e lentamente aproximou seu rosto do dela. Os lábios dele, tocaram suas bochechas bem de leve. Ela fremiu de leve ao sentir este contato e abriu seus grandes olhos, encarando-o com visível indecisão.

Queria imensamente ficar com ele. Malfoy já não parecia mais tão ruim aos seus olhos. Na verdade, queria realmente poder fazê-lo sentir-se feliz, realizado, ou o que fosse... Queria poder abraçá-lo sempre e dar-lhe forças. Agora sabia, faria mais que o impossível para salvá-lo. Malfoy ainda tinha jeito. Mas... ele não a queria. Claro que não! Ele queria Valery Wilder. Uma personagem maldita que ela inventara! Virgínia Weasley era pouco mais que um verme na concepção dele.

-Eu não mereço sua lisonja. –Malfoy respondeu em um sussurro. Gina conteve uma pequena lágrima que queria rolar por seu rosto. Era de tocar o coração o que Malfoy dissera, entretanto era extremamente doloroso saber que não podia atendê-lo.- Eu sequer mereço sua presença aqui, esta noite.

Gina sorriu fracamente. Ela sabia que ele não merecia. Ela sempre soubera. Ele era mau, sem escrúpulos, irritante, chato e... lindo! Mas incrivelmente, ela não sentia como se isso a importasse no momento. O ódio que sempre estivera dentro dela parecia simplesmente ter fugido dali e ter deixado algo tenro e peculiar em seu lugar. Algo ao qual ela não estava acostumada a sentir. Algo que talvez, não quisesse sentir. Não por Draco Malfoy.

Suspirou. Não o deixaria pensar assim. Não podia deixá-lo imaginar que a vida não valesse a pena, porque a vida, não interessa o quão ruim seja, vale a pena!

-Não diga isso! –Gina advertiu-o calmamente, enlaçando-o e abraçando-o com carinho. Os dedos de sal mão esquerda começaram a acariciar-lhe a nuca- Todo mundo merece uma segunda chance. Nada é tão ruim a ponto de não poder ser revertido.

-Talvez... –Ele respondeu correspondendo ao abraço dela- Ajude-me a reverter. Fique comigo.

-Você não precisa de mim pra reverter isto. –Gina respondeu com simplicidade- Só depende de você.

-Eu preciso de um motivo para querer reverter. –Draco admitiu, murmurando em seu ouvido- E o meu motivo é você.

Ele mordiscou de leve o lóbulo do ouvido da moça. Ela conteve um suspiro. Aquela atitude fazia com que algo se ativasse dentro dela. Os braços dele em torno dela já faziam com que isso ocorresse.

-Eu... eu... –Gina hesitava. Não PODIA aceitar! Contudo, não queria feri-lo – sem contar a si própria – dizendo que não aceitaria. –Não sei... Não sei o que devo fazer...

-Deixe-me ajudá-la a decidir. –Draco disse vagarosamente, enquanto estreitava ainda mais o contato entre os corpos. Com voracidade, ele baixou seus lábios até o pescoço longo da jovem e juntou seus lábios sobre a cútis tão alva de Gina. Esta, fechou os olhos. Parecia que de súbito, perdera toda a capacidade de raciocinar. O toque que a faz fremir como uma folha tremula ao vento, fomentava a sua vontade de lhe dar uma resposta positiva. Tudo o que queria sentir, era seu hálito quente sobre sua pele arrepiada, quase molhada pelo suor que o contato tão estrito entre os corpos começara a proporcionar. Queria que mais uma vez fossem um e apenas isso. Esperava sinceramente que o resto do mundo explodisse, contanto que Malfoy estivesse ao seu lado, ensinando-a mais uma vez a arte de amar- Case-se comigo...

Ele tornara a pedir. Céus! Como ele pudera? Ele não podia ter feito isso! Não quando ela sentia-se tão vulnerável, tão propensa a dar-lhe a resposta que ele queria ouvir. Suspirou pesadamente. Isso era jogo sujo! Daquela forma, ela sabia que não conseguiria resistir muito mais. Sabia que seus pensamentos estavam a instantes de abandoná-la, dando vazão as palavras que ele queria ouvir.

Incrivelmente seus lábios se entreabriram, por um momento, ela torcera para que fosse apenas um suspirou ou, quem sabe, um gemido. Mas...

-Sim! –Gina respondeu vagarosamente. Enquanto as palavras se ordenavam sozinhas, talvez porque estas viessem de um recanto oculto que nem mesmo Gina pudesse ignorar.

-Diga que será minha e só minha. –Draco pediu com doçura e um certo ar possessivo, por entre os beijos que ele distribuía. Era mais do que ela podia agüentar. Era mais do que sua sanidade pudesse suportar e se manter. Sua razão mandava que fosse embora e corresse dali, antes que falasse mais alguma besteira, porque ela sabia, falaria. Os laços podiam se estreitar tanto, que ela tinha medo de que não conseguisse ir embora e deixá-lo. Exterminar definitivamente com Vivian. Já sentia-se perdida. Seu corpo não respondia mais aos seus comandos e seu cérebro lentamente vinha sendo invadido por um torpor. Malfoy já tinha controle sobre ela.

-Sua... Só sua! E você será meu! –Gina respondeu, perdida nas próprias emoções. Não tinha mais consciência. E mesmo se houvesse alguma agora pertencia a ele.

-Prometa-me que ficará comigo até o fim. –Draco pediu com suavidade, ao pé do ouvido da jovem, passando a língua de leve por trás dele.

Não dava mais conta do que proferia, do que prometia, sabia unicamente que o queria. Que todas as promessas que fazia, tinham um fundo verdadeiro, refletiam seus mais bem guardados e odiados anseios. Tanto que mesmo o medo que sentia pelas conseqüências que isto podia acarretar nela já se encontravam esquecidos e largados em algum lugar ao qual ela não mais comandava.

-Sim, Draco! –Ela balbuciou- Juntos até o fim. Nós estaremos unidos para sempre pelo que sentimos um pelo outro.

-Deixe-me torná-la minha mulher mais uma vez. –Ele pediu vagarosamente, enquanto ouvia a respiração ruidosa dela contra o seu rosto, que estava perdido no dela- Mas desta vez com a promessa de que quando acordarmos amanhã, ainda haverá “nós”.

Em resposta, ela sorriu para ele de forma confiante, enquanto procurava os lábios dele para que a promessa fosse cumprida.

XXX

A planta ficou bastante satisfeita quando os viu fazendo juras de amor um pro outro. Era um começo... Sabia que não duraria muito e que na manhã seguinte, seriam meras recordações e nada mais que isso, no entanto, era apenas o primeiro degrau galgado por ambos. E provavelmente o primeiro obstáculo que teriam de superar para se mostrarem dignos da companhia um do outro.

Era triste saber que os humanos ainda complicavam tudo. Era triste saber que algo tão perfeito quanto o que havia entre ambos, provavelmente se perderia se não fossem capazes de superar aquele detalhe.

Normalmente relacionamentos nascidos de mentiras, ou omitidas, como era este o caso, não davam muito certo no final. Mas ela, particularmente, torcia para que este casal tivesse um fim feliz. O começo podia ter sido uma mentira, mas os sentimentos mantidos um pelo outro, não o eram. Não podia terminar assim que ela se levantasse. Um amor deve sempre ser guardado e preservado, pois é uma das coisas mais importantes existentes no mundo.

Se a planta tivesse uma cabeça, teria simplesmente balançado-a com força, afastando tais pensamentos. Não queria pensar sobre o que aconteceria com aquele belo casal. Não queria mesmo. De alguma forma sabia, o caminho até o final feliz – se ocorresse – não seria dos melhores aos dois.

A planta apenas sentiu-se desperta de tais pensamentos, quando uma corrente fina fora atirada em suas folhas e caiu bem próxima a sua raiz. Malfoy havia tirado do pescoço dela, por julgar que esta de qualquer forma o estivesse privando de tê-la. Se esta tivesse lábios ou dentes novamente, o teria sorrido. Pois Gina e Draco, ela sabia, conquistariam o direito sobre as flores que ela sabia que daria a eles.

Agora, já era mais que inegável a simpatia que sentia pelo casal. Tão diferentes, tão indiferentes um com o outro, tão arrogantes, mas quando juntos, tão perfeitos, tão singulares, tão peculiares. Decididamente um era do outro, pois se completavam, tal como o dia e a noite, contudo, juntos geravam os dias, as semanas e os meses, um após o outro.

Ela sabia que não demoraria para que ela presenciasse a melhor dança que alguém poderia ter executado a ela. E ela forneceria a eles a melhor leva de flores que já tivera. Pois era uma questão de tempo para que ela presenciasse a mais bela dança existente, o mais lindo estágio onde alguém pode alcançar. A planta apenas esperava a dança no compasso do ritmo do amor. O único que tinha o poder de tornar o mundo um lugar melhor, mesmo com a presença impura humana.

XXX

Draco acordou com os primeiros raios de sol ferindo-lhe as pálpebras, contudo manteve seus olhos fechados, tentando assimilar por que raios seus olhos eram feridos pela luz, já que sempre fechava seu quarto completamente para impedir a entrada da luz.

Pera aí! Ele não estava em seu quarto... Não! Não estava mesmo!

Lembrou-se de lábios febris procurando um ao outro. Toques ousados e ardentes. Roupas sendo atiradas ao longe. Promessas de amor. Gestos carinhosos.

Era isso! Ele conseguira! Incrivelmente ele alcançara seu desígnio próprio. Tinha a promessa de Valery de que ela seria sua esposa e isso o deixava realmente animado com essa perspectiva. Teria um herdeiro! Já não seria o último dos Malfoy. Teria um herdeiro pra ser mandado para a Sonserina, para crescer e conquistar o coração de todas as garotas, para ser tão frio e insensível quanto ele, ostentando nos olhos azul-acinzentados como os do pai, o equilíbrio e auto-confiança que apenas um Malfoy teria. Era perfeito demais! Era exatamente o que ele queria!

Mas... Não fora apenas isso... Tivera mais do que seus objetivos em jogo... Haveria mais do que ele próprio acreditara ter... Ele sentira que essa noite, fora ainda mais especial que a primeira, embora jamais fosse admitir isso em voz alta. Fora uma sensação totalmente diferente da primeira vez. Viv.. Ou melhor, Valery, não tinha qualquer resistência em afastá-lo, em deixá-lo fora de sua vida. Ele sentiu que a loira o queria tanto quanto ele queria ter um filho agora... Ah, por mais que sua existência não fosse durar muito mais, sabia que daqui pra frente, seria muito melhor viver. Malfoy não sabia exatamente o motivo, mas não acreditava que a Weasley fosse conseguir salvá-lo. Não por falta de profissionalismo. Sabia que ela estava fazendo o possível, apesar de odiá-lo. Todavia, ocasionalmente sentia dores em sua cabeça, em seu peito, em seus rins, sendo apenas crises. Começavam fortes e por segundos, ele imaginava que iria enlouquecer, contudo, depois passava com a mesma rapidez com que chegara.

Ainda não tivera tempo de perguntá-la sobre coisas da vida dela, entretanto, não se importava. Seu tempo estava se acabando e ele precisava de um herdeiro. E daí se ela não fosse partidária das trevas? E daí que fosse assistente da Weasley? Tanto melhor, pois podia ajudá-la a achar a cura. E daí se ela fosse mestiça? Trouxa ele sabia que ela não era, caso contrário, o pai dela não teria sido transferido dos Estados Unidos para o Ministério Inglês. A linhagem Malfoy estava ameaçada o fato dos sangues serem misturados não seria mais tão importante, uma vez que era importante que os Malfoy simplesmente vivessem. Era só instruir a seu filho através do Antigo Código dos Malfoy, que ele deveria se casar com uma Puro-Sangue, mantendo assim os futuros Malfoy o mais limpo possível de toda a praga dos mestiços.

Tateou em direção a ela, que devia estar ainda a seu lado, nua e bela, esperando para ser acordada com um beijo dele. Estava pensando em levá-la para sua casa agora cedo. Apresentá-la a Carmem e esfregar na cara da Weasley que Valery não foi apenas mais uma de suas conquistas.

No entanto, sentiu ao seu lado apenas o toque frio e insensível do vazio. Ela não estava ali com ele, em meio as almofadas de plumas que conjurara. Mas que diabos estava acontecendo?

Draco abriu os olhos rapidamente, assustado! Ela não podia ter partido! Não podia! Ela prometera e ali ela estava! Ele sabia que ela estava ali! Ela tinha de estar! Ela tinha de lhe dar o herdeiro que tanto queria! Ela não podia por em risco o futuro de seu clã! Não tinha esse direito! Não depois de todas as bobagens melosas que ele tivera o cuidado de dizer. Aquele discurso romântico nunca falhava!

Olhou para o lado ansiosamente, e para sua decepção a moça já não estava mais lá. Não estava ao seu lado como prometera na noite anterior.

Olhou esperançosos por toda a extensão daquele lugar maravilhoso, mas tudo o que ele viu foi a cachoeira derramando sua cascata de vida com a pureza sincera nas pedras e no rio. A mesa estava abandonada, sem nem ao menos sinal de alguma coisa que pudesse justificar o paradeiro dela! Ela não deixou um único bilhete ou aviso. Ela se fora e nada mais além disso. Mais um vez partira e fora-se sem importa-se em dizer um “adeus”. Como se nunca tivesse ocorrido coisa alguma entre eles.

Levantou-se em justo abrupto e mal-humorado. Não podia estar de outra forma. A moça só viera para curtir com sua cara! Parecia achar divertido essa coisa de desaparecer sem sequer dar sinal.

Recolheu sua roupa íntima que estava jogada perto da margem. Não havia outra atitude senão essa a se tomar. Vestir-se e ir embora. Talvez se trancasse no quarto o resto do dia para resolver o que faria agora que o tempo era ainda mais curto e ele não tinha sequer uma pretendente em vista.

Ao abrir sua cueca, viu um pequeno pedaço de papel cair no chão. Fora caprichosamente dobrado. Curioso, porém bastante contrafeito, Malfoy abriu o bilhete.

“Sinto muito, Malfoy.

Não há chance para o “nós”, porque ele nunca existiu. Eu mesma, nunca existi de verdade. Sou apenas uma ilusão de alguém reprimido, apenas um sonho de uma noite de inverno.

Não passo de uma personagem que fugiu de seu conto de fadas pra viver algo intenso e real, mas que no final, é obrigada a voltar para a sua história.

Sou como a Cinderela, personagem de um conto infantil trouxa, que não é nada além de uma serva desse mundo escuso e complicado, encontrando o seu Príncipe Encantado em uma noite, para depois voltar a ser o que era. Originalmente o final é feliz, todavia, nós dois sabemos que não somos crianças e que fins felizes são meras histórias para iludir os pequenos, afirmando que o mundo não é tão ruim quanto o que se pensa que é.

Queria que tudo fosse como nos filmes ou livros românticos. Que de súbito, meu nome, meu verdadeiro eu, não mais existisse. Que eu fosse apenas eu, sem sobrenomes, sem classes sociais, sem preconceito que possa nos separar. Mas há! Tudo isso existe e a felicidade não podia bater a porta de uma pessoa como eu, que vive de mentiras e estigmas. O que nasce de pseudônimos não pode acabar bem. Eu sou alguém a quem você deve odiar veementemente, não porque queira ou porque realmente deva, mas simplesmente porque você é quem é, e eu sou quem devo ser.

Acredite-me. Eu sei que não daríamos certo nunca. Sou um alguém que não se pode dar-se ao luxo de ser envolvida, porque no final das contas, continuaria vivendo para o meu trabalho. Há coisas sobre mim que espero sinceramente que você jamais descubra, pois o encanto do “nós” temporário que um dia existiu, não mais seria real. E o que um dia pode ter sido amor, tornaria-se ódio.

As promessas que lhe fiz, acredite, se cumprem a cada segundo em minha imaginação. E talvez eu jamais possa ignorá-las. Procure por mim em sua memória e voltaremos a ser um só. Se seu amor for real, saiba eu lhe espero a cada momento aí, dentro de você.

V.W.”

Malfoy amassou o bilhete assim que terminou de ler. O que diabos ela quisera dizer com aquilo? Era ridículo! Tudo o que ela dizia o era! Não fazia qualquer sentido para ele.

Ela escrevera e escrevera, mas no fim, não lhe passavam de palavras soltas e desconexas.

Cinderela? Pra que ela citara algum conto trouxa idiota? Por que não o acordara e dera o fora nele como todo mundo? Precisava ter prometido tudo e tê-lo deixado esperançoso?

Garota estranha! Maldita garota! Como pudera deixá-lo ali. Ninguém jogava fora uma chance com um bruxo como Malfoy... Pelo visto, ninguém exceto ela! E para seu azar, escolhera logo uma garota que não se importava com seu nome! Que não era comercializável, como todas as outras.

Que droga! Adeus sonhos com um filho! Adeus perspectivas da propagação da raça Malfoy! O que ele faria agora? Estava desesperado! Tinha menos de um ano para arranjar uma noiva, se casar e ter um filho!

Ele precisava pensar! E bem rápido! Uma atitude devia ser tomada ainda naquela data!

Malfoy vestiu sua roupa íntima e a calça que estava jogada ali por perto.

Que merda! Atuara tão bem para que pudesse convencê-la de que a amava e agora isso? Fizera tudo o que pudera. Tentara parecer o perfeito estereótipo de Príncipe que as mulheres procuravam e sabia que o executara bem. Então o que? O que dera errado?

Agira magistralmente. Se tivesse cronometrado o tempo, não teria feito de nenhuma forma melhor! O que havia de errado? Ele sempre conseguira a garota que queria sem muito esforço! E o jeito, ele sabia que nunca perderia! Era uma qualidade hereditária.

Malfoy caminhou até sua blusa, jogada perto de uma planta que atirara neles, a noite, centenas de maravilhosas flores.

Por falar em flores, não sobraram muitas no chão. Por um momento se perguntou sobre onde teriam ido parar todas elas, mas logo lhe ocorreu que o vento podia tê-las carregado para dentro do rio e de lá a correnteza fizera o resto do trabalho.

Abaixou-se, para pegar a própria blusa. Tinha vontade de socar tudo, destruir o mundo com um tufão e jogar uma maldição imperdoável no primeiro ser que aparecesse em sua frente... Torceu para que fosse a Weasley! Não ia reclamar se ela sumisse misteriosamente do mapa! Não estava sequer com cabeça para provocá-la. Não aturaria piadinhas ridículas dela hoje. Simplesmente não tinha humor nenhum para isso. E se ela lhe perturbasse muito, ainda a amordaçaria e colocaria pendurada nua no telhado de sua casa!

Ao esticar a camisa para vestir, ouviu um tinido leve e metálico vindo do chão. Estranho! Algo metálico contra o chão? Imediatamente o olhou, procurando a origem daquilo.

O sol refletiu exatamente na prata, fazendo com que Malfoy fechasse os olhos com força, por um momento. Não agüentaria o reflexo solar nos olhos de novo. Não quando queria rasgar a tudo, destruir a todos, quebrar tudo em sua frente! Entretanto, sentiu a luz penetrando os seus olhos do mesmo jeito, como se quisesse perfurá-los de uma só vez.

Quebrando o contato da luz, Malfoy abaixara-se e pegara o pequeno cordão de prata com o pingente em forma de um daqueles vidros estranhos que a Weasley tinha no laboratório.

Ele o reconhecia. Ele mesmo o havia atirado por aí ontem a noite. Estranhamente, achara um objeto para depositar a sua raiva. Aquele maldito cordão ainda tinha o cheiro dela, ainda tinha aprisionado dentro de si a maldita essência dela!

Malfoy segurou com o pingente pendendo em sua frente e sem muito pensar impulsionou-o para atirar dentro do rio. Era melhor assim! Vivian estaria afogada em suas lembranças para sempre. Ele já não teria que conviver com o sentimento amargo da falha. Que para ele, era quase que inaceitável.

Sentimento que só enfrentara uma vez, quando falhara em uma missão como Comensal. Do qual se envergonhava e queria fugir! Desejava distância... Desejava esquecer a vergonha de ter que engolir seu orgulho masculino. Queria poder ter controle sobre tudo! Tanto suas ações e conseqüências!

E era por isso que se livraria da lembrança de Vivian de uma vez por todas. Por isso ia fazê-la um passado ruim. E nada mais! Uma pena que ela não o quisesse. Realmente. Contudo, não seria ele que choraria e lamentaria a ida dela. Tinha muitas mulheres por aí que dariam um braço e uma perna para ficar com ele...

Talvez fosse essa a resposta para seu problema... Pegar sua agenda de contatos femininos e escolher a melhor. Depois, era só marcar o casamento...

E para que isso acontecesse, o primeiro passo era apagar por completo a presença dela! Como se ela jamais tivesse ocorrido em sua vida!

No momento em que ia tirar, percebeu o sol reluzir em uma pequena inscrição por trás do pingente. Draco forçou-se a parar o movimento de repulsão e a olhar com mais atenção para o pingente.

O que ela poderia ter escrito ali? “Val, a garota fugitiva”? “Val Cinderella”? Curioso, forçou a vista para descobrir do que se tratava.

As letras eram pequenas e floreadas, porém ele não pôde deixar de entender.

Soltou um grito estrondoso de ódio, que ecoou por toda a floresta e fez com que animais e plantas estremecessem e se debandassem.

Talvez o grito mais vigoroso e cheio de sentimento que ele já tivesse dado na vida. Puro e completamente cheio de emoções, como ele pouco foi capaz de sentir.

Queria que aquilo fosse apenas um pesadelo! Não era possível! NÃO PODIA SER!

Mas... Tudo fazia sentido... Todas as informações sobre ela, o bilhete... Tudo!

Era mais que óbvio. Seria muita coincidência que Vivian trabalhasse justamente para Weasley. E daí até ela dividir tudo sobre sua vida pessoal com ela... Era outro salto. E como Vivian poderia ter sabido de sua doença? Claro que havia todo aquele negócio de sigilo e tal. Uma mera assistente não deveria ter acesso a relatórios tão sigilosos.

A surpresa da Weasley quando o vira pela primeira vez. Era claro! Ela soubera desde aquele momento!

Céus! Como podia! Vivian Winter ou Valery Wilder era, na verdade, a VIRGINIA WEASLEY!

Ele dormira e pedira em casamento uma WEASLEY!!!

Sentiu a raiva e o ódio consumindo todo o seu ser. Queria ir agora até ela e realmente usar uma maldição imperdoável nela! Maldita! DESGRAÇADA, WEASLEY!

N/A: Acabou!!!!!!! Acabou!!!!! Huahuahuahua.

Fairy: Credo! Você está muito má!

Fighter: Bem, vocês andavam me perguntando como Malfoy ia descobrir! Aí está! Da pior forma possível! Bem, eu ia colocar a parte da Gina fugindo, mas o capítulo ficou grande demais, então tive de colocar só o Malfoy dando o pitti (com razão) dele. Sobre esse capítulo, originalmente era o final do 8. Mas aconteceu que a Sini mandou eu cortá-lo, mesmo porque o outro estava com mais de 37 páginas. E também o encontro deles estava realmente ruim e pobre... Eram cerca de 5 páginas, como vêem, eu estendi para 9, o que melhorou consideravelmente o capítulo... Se querem saber, acabei esse capítulo antes que imaginava... O que é muiiiito longo pra vocês, né? Mas em relação a Mione, pra mim ta difícil pra caramba escrever sobre ela, e olha que a parte dela era a que eu mais gostava de escrever... Então resolvi adiantar este pra vocês... Vou continuar o da Mione que eu puder... Não precisa os fãs na Mione tentarem me matar pela demora! É que já são três caps com a Gi e meio que a gente entra no samba e se empolga... Mas eu juro que volto a Mione!

Não foi um cap muito grande quanto o que vocês estão acostumados, mas estou com mais 4 fics em andamento + escola, + cursinho vestibular, + curso de inglês, + aulas de reforço em química... Então o tempo ta pesando muito. E descobri que quando escrevo capítulos menores, eles saem mais rápido... Infelizmente com o tempo que estou, nem mesmo uma folha ta saindo.


E beijos pra todos que lêem e não comentam! Crianças, vocês moram no meu coração!

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