O DIA DOS NAMORADOS EM NOWHERE
Capítulo 8
O DIA DOS NAMORADOS EM NOWHERE
Gina Weasley revirou-se mais uma vez sobre sua cama. Estava em um sono anormalmente intranqüilo. O primeiro desde que chegara a remota ilha chamada Nowhere.
Olhando mais atentamente, você veria que a jovem suava frio, os cabelos vermelhos compridos, colavam-se a sua testa, talvez por causa dos movimentos que fazia devido apenas ao maldito sonho que a assombrava, ou ainda, por medo do que via em sua mente...
Muitas vezes, os sonhos podem simplesmente retratar algo que aconteceu ou até mesmo contar algo que possa comprometer nosso futuro... Seria esse o caso de Gina?
*Sonho da Gina*
"Ela sentia que estava sentada em um lugar limitado. Cheirava estranhamente. O pé apertava algo abaixo de si, fazendo uma forte pressão. A paisagem a sua volta passava rapidamente, de forma que apenas via os borrões de carros, e o mato alto correndo sobre os lados da pista. A sua frente, via apenas o asfalto cinza, levando-a para algum lugar, com apenas as duas linhas retas, amarelas, iluminada apenas pelas fracas luzes de dois faróis… Supôs que estivesse dentro de um carro.
Sentia-se muito brava, o motivo era simplesmente desconhecido. Só sabia que seus razões eram muito mais fortes que seu autocontrole, que na maioria das vezes era extremo. Era algo sem qualquer sentido, mas com toda certeza tinha seu motivo de existir. Gina Weasley não ficava daquele jeito por nada. A raiva a estava fazer pisar mais forte no acelerador. Os dedos tamborilavam impacientes sobre o volante. Sussurrava palavras ininteligíveis e sem qualquer sentido. O som estava alto em uma música que agora, ela não podia identificar, pois a raiva gritava cada vez mais alto em seus ouvidos.
O céu noturno estava mais escuro que o normal, transformando-se num veludo negro, sem qualquer sinal de luzes, a não ser as emitidas pelo seu próprio carro.
Não demorou muito para que pingos fortes de chuva, começarem a estrondar fortemente por toda a lataria do carro. Isso, porém não a assustou e nem a fez diminuir a velocidade. O velocímetro apontava 160 quilômetros por hora. Um carro de passeio como aquele, totalmente trouxa, parecia que tocava o solo apenas superficialmente, como se voasse. Não era algo muito aconselhável a se fazer, ainda mais com a chuva torrencial que caía. Ela sentia o ar-condicionado batendo em seu rosto. As janelas e os pára-brisas começavam a embaçar, devido o fato do carro estar completamente fechado. No banco do carona, estavam apenas seu casaco e sua bolsa negra de camurça, jogada por cima do primeiro, de qualquer jeito.
Apertou ainda mais o acelerador. Sentia as lágrimas caindo dos seus olhos sem controle. Estranhamente sabia que estava lutando contra si mesma para não derramá-las, mas ela não podia evitá-las, eram como se fossem como uma criança pequena, que não se pode proteger do perigo o tempo todo e muito menos contê-la.
Suas vistas agora ficaram momentaneamente anuviadas, de forma que ela apenas via borrões embaçados. E se juntasse isso ao pára-brisa embaçado e ao retrovisor com o qual ela não podia contar, já que sua janela estava completamente embaçada, você teria uma visibilidade terrível.
Ela olhou pelo retrovisor interno, e percebeu seus olhos vermelhos, e a maquiagem levemente borrada. Gina levou uma das mãos que tamborilava pelo volante para enxugar-lhe os olhos. Subitamente sentiu que o carro pulava.
Gina sentiu um grande pavor e voltou sua mão esquerda ao volante, porém sentia que ao passar pelo buraco, o carro perdera a direção. Um pneu parecia que furara. De forma que puxava o carro totalmente para a esquerda.
Ela tentava puxar em direção contrária, mas o carro parecia um dos bichos do Hagrid, totalmente incontroláveis. O medo apenas aumentava. Sentia que o carro estava sendo atirado para fora da pista. Simplesmente se desesperou... Não sabia o que fazer. Queria gritar, todavia quem a ouviria com o estrondo da chuva? Mas o fez e a plenos pulmões. Mesmo que fosse inútil, ao menos teria tentado salvar a si.
-A varinha... -Lembrou-se e rapidamente abriu a sua bolsa procurando, mas nada. O casaco e o porta-luva também não trazia na da em seu interior.
Tudo acontecia muito rápido! O carro já entrara em um mato, arrancara a cerca de uma propriedade, amassando a lataria com estrondoso barulho... O que poderia fazer? O carro continuava correndo pelo mato, que ela mal conseguia enxergar, por causa da escuridão. Um dos faróis quebrara quando arrancou a cerca do lugar.
Em pânico, usara seu ultimo recurso. Pisara no freio do carro. No mesmo momento o carro parou, e sem que ela esperasse, ele virou. Ela entrou em estado de desespero. Sentiu que o carro rodava novamente. Gritou para o nada. Quando o carro virou mais uma vez, ela sentiu algo lhe atingir a cabeça... Subitamente tudo se apagou. Apenas ouvia ao longe alguém lhe chamando..."
-WEASLEY! -Gina abriu os olhos de uma vez, assustada. Estava com uma das mãos no lado esquerdo de sua cabeça, enquanto a outra segurava a sua colcha fortemente. Sentou-se de uma vez. Sentiu uma mão em seus ombros. O contato confortou-a levemente, pois mesmo que não olhasse na direção do dono das mãos, ela sabia exatamente a quem pertencia. A sensação das mãos geladas dele em seu corpo febril, por causa do sonho, fê-la estremecer suavemente.
Draco Malfoy pareceu perceber e afastou-a no mesmo instante, Gina esperou que ele achasse que fosse por causa do sonho e não porque ele ainda provocava sensações estranhamente boas nela.
Ele sorriu, parecendo finalmente reparar na forma como Gina estava.
Gina olhou para si mesma também. Sua camisola verde-água, estava um pouco acima de suas coxas, revelando as pernas esguias e macias, completamente alvas. Sentindo-se embaraçada, puxou-a escondendo novamente suas pernas. Sua coberta jazia caída no chão, quase que esquecida.
Gina sentiu algo quente sobre sua face, seus olhos queimavam como se tivessem atirado areia neles, pois não paravam de lacrimejar. Passou a costa da mão direita sobre sua face e deu-se conta de que o rastro quente incômodo sobre seu rosto, eram lágrimas, nada além disso. Questionou-se como o sonho podia ter dado tal efeito sobre ela. Ela podia sentir fortemente a sensação de ter sido atingida na cabeça. Que raio de sonho seria aquele?
O frio que sentia era extremo, tanto que a fazia tremer dos pés a cabeça, como se estivesse muito fraca, como se estivesse passando mal, como se o coração fosse vulnerável demais. Eram calafrios, talvez de medo. A verdade era que ela permanecia perdida na realidade que o sonho emanava. Efêmera sensação, para ser mais exata, mas ainda assim, tão real que ela jamais poderia ignorar. Aquilo era simplesmente tenebroso!!!
Fechou os olhos, na tentativa de acalmar a si, ou ao menos normalizar a respiração acelerada. Tudo era palpável demais para ser apenas um sonho, verdadeiro demais. Ainda podia ouvir o ruído da chuva batendo insistente pelos pára-brisas, quando fechava seus olhos. Podia sentir o perfume de novo do carro que comprara a menos de três meses. Sim, ela sabia que aquele era o seu carro. Tirara a carteira logo que completara dezessete, juntamente com sua licença para aparatar, apesar de no mundo trouxa poder-se tirar a carteira aos dezesseis...
Podia sentir mais lágrimas escorrendo suavemente pela face. Lágrimas de medo. Não podia dizer que era corajosa, porque no fundo ela sempre soubera que um dos seus maiores medos na vida era morrer. Ela tinha aversão a tudo que pudesse causar dor a alguém. Odiava se deparar com o sofrimento... Era deprimente demais, cruel e extremamente aterrorizante. Talvez por isso não tivesse se juntado a Ordem, se bem que na época, não tinha mais pelo que lutar, já que, depois que se tornara maior de idade, Voldemort já era pó. Talvez por isso tivesse decidido pela medicina, pois odiava qualquer coisa que fizesse mal as pessoas, qualquer coisa que pudesse roubar a vida de um inocente. Principalmente quando essa coisa era o maldito Voldemort.
Sentia-se mal. Era a primeira vez após anos, que tinha um pesadelo tão forte e tão real... Nada a ver com os pesadelos reais que foram com Ridlle, naquela maldita câmara. Porém a sua bondosa mãe já não estava ali para confortá-la e dizer que fora apenas um sonho, que ela estava bem e que nada de mal a aconteceria. É, ela sentia bastante a falta da mãe. Até mais do que poderia admitir. Já eram algo como um mês e alguns dias trancafiada dentro do laboratório na casa de Malfoy.
Essa menção em seus pensamentos só a fez chorar ainda mais abertamente.
-Hum, Hum. -Malfoy clareou a garganta e permitiu que Gina saísse de seu estupor melancólico mental. Ela deu-se conta que ele ainda permanecia ali- Não acho que eu apreciaria um rio dentro de minha casa.
Gina enxugou as lágrimas rapidamente com as costas da mão, numa atitude estranhamente infantil. Ela não sabia, mas aquele gesto deixou Malfoy um tanto inebriado, pareceu-lhe alguém que ele conhecia, porém ele não pode dizer exatamente quem. Sua mente não parecia ser capaz de associar a pessoa dona dos gestos tão infantis e por vezes bruscos e surpreendentes. Talvez se tratasse da própria Weasley, em Hogwarts. Ele sabia que certas coisas nunca mudavam em uma pessoa. Tomava como exemplo a si próprio.
-O que faz aqui, Malfoy? -Gina perguntou erguendo suas sobrancelhas ruivas, assumindo rapidamente um ar indignado, inquisidor. Era hora de virar o jogo. O distrairia, de forma que ele não fizesse perguntas sobre o que ela sonhara- Você não tem cara de assaltante noturno de geladeira, e eu acho que também não tenho cara de cozinha.
Ok, aquela piada fora ridícula. Não! Não foi ridícula apenas, foi deplorável! Mas como podia ela fazer piada se se sentia tão atemorizada? Ninguém podia culpá-la.
-Eu não sou assaltante, mas de qualquer forma, nunca vi cozinhas berrarem. -Ele redargüiu, fazendo o seu exemplo soar muito mais caótico do que anteriormente. Malfoy deu de ombros- Parecia que alguém estava tentando te assassinar, o que não seria tão ruim... Não faria muita falta.
-Só que você, mais dia, menos dia, iria para o mundo do além comigo. -Gina completou levemente irritada. Ele não parecia um homem fácil de se distrair, e isso a deixava levemente frustrada, se bem que com aquela da cozinha, era capaz dela não distrair nem mesmo a sua coruja- Já que não teria Weasley nenhuma para salvar o "nobre" Malfoy.
-Droga, Weasley!- Malfoy olhou-a levemente irritado- Por quê você faz questão de atirar tudo isso na minha cara toda vez que nós conversamos?
-Pelo mesmo motivo que você insulta a minha família e a mim. -Ela respondeu lançando-lhe um olhar vitorioso, mas ao mesmo tempo fulminante. Mas ao contrário do que ela pensava, ele sorriu. Como ele pode sorrir depois de levar uma resposta daquelas? Gina não quis saber, pois neste momento sentiu uma forte tontura.
-Você não parecia tão disposta a discutir cinco minutos atrás... -Sugeriu Malfoy, com um sorriso cínico- Será que tudo isso foi fingimento só para me atrair até o seu quarto?
Gina sentiu sua tontura aumentar, mas mesmo assim levantou de sua cama indignada, postando-se próxima dele. Porém ao sentir o piso gelado sobre seus pés quentes, pareceu-lhe que o choque térmico fazia com que tudo piorasse. Sentia algo ruim, como se vários cenários imaginário circulasse ao se redor e depois se fundissem, tornando as imagens distorcidas. Via o belo rosto de Malfoy em sua frente, em seu lado direito e esquerdo. Estava mal. Isso era uma constatação óbvia, mas ela sabia que não podia deixar de redargüir àquele ser impertinentemente egocêntrico. Nem todas as mulheres caem aos pés dele! Contudo, ela não pode deixar de pensar que ela mesma já o fizera. Recriminou a si mesma mais uma vez por ter se entregado a um desconhecido... Ultimamente ela fazia isso com freqüência. A dor aguda aumentou mais atrás de sua cabeça. Sentia que suas pernas cederiam a qualquer instante, estavam tremendo como nunca, logo estas não mais a sustentaria.
-Não seja ridículo, Malfoy! -Gina respondeu, fechando os olhos por um instante e sentindo que seu corpo cambaleava em torno de si. Seria algum problema de labirintite?- Uma barata seria mais atraente...
-Claro! Me esqueci que os Weasley não estão acostumados com seres magníficos. -Malfoy disse irônico, pelo que Gina pode detectar em sua voz, já que lentamente ia perdendo a visão. Ela quase não o podia vê-lo- É claro que você preferiria uma barata, já que você aprendeu a conviver e adorar esses seres ao qual você chama de família.
-Como você se atreve??? -Gina indignou-se o ouvir aquilo. Era muita coragem dele. Gina preparou-se para agir,de alguma forma, porém um zumbido horrível a impedia de qualquer reação. E tudo o que conseguia ver se dissolveu num mundo de escuridão. Gina Weasey acabara de perder a consciência...
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Malfoy imediatamente percebeu que algo não estava bem. Entretanto, era mais que óbvio que não deixaria uma provocação daquelas simplesmente lhe sair impune, então redargüiu ofensivamente. Porém novamente, não esperava que a jovem reagisse daquela forma. Via os tons de vermelho tingirem o rosto pálido da Weasley. Devia ter irritado-a ao extremo... Sorriu ao pensar nisso. Sentia um enorme prazer em provocar dor nas pessoas, principalmente quando abominava essas mesmas.
-Como se atreve???- Ela perguntou soando bastante ofendida.Ele sorriu ainda mais, tentando transpassar petulância neste. No fundo ele sabia que já havia ganhado a batalha, justamente pelo fato de tê-la irritado. As pessoas quando se irritam, parecem não ter mais o poder de articular frases inteligentes ou inofensivas, sentem que devem ficar "por cima" da situação. E é nesse instante em que elas se entregam. Pois acabam sempre lhe revelando algo útil, porque têm que provar que sabem mais que ele. Ou simplesmente irritá-lo de vez com insultos nada decentes, o que nem sempre ocasionava algo muito bom para quem se atrevesse a tal ato. Porém ele ainda não tivera a oportunidade de avaliar como a Weasley se portaria nessa circunstância. A primeira e única discussão que tiveram não fora terminada, tudo devido ao súbito desmaio da jovem. Devia estar passando fome, naquele dia. Fora a única explicação que passara pela cabeça de Draco. Lembrara-se que ela havia ganhado muito dinheiro, mas ela tendo sido a vida inteira pobre, ao ver dinheiro sobrando, devia ter gastado tudo em supérfluos para si e sua família. Draco passou a observá-la atentamente, ansioso pela resposta dela. Simplesmente queria saber o quão boa era ela em um bom debate verbal. Estranhou ao ver o tom avermelhado das faces da jovem esvair-se tão de súbito. Seria aquilo normal? Decididamente não. Ele não era medi-bruxo, mas era óbvio que havia algo errado. Viu-a serrar as pálpebras, como se sofresse de uma dor lancinante, para em seguida voltarem ao normal, como se ela dormisse. Horrorizado, Draco agarrou os corpo inerte, antes que atingisse o chão. O que havia com a Weasley?
Esta era segunda vez que discutiam, e pela segunda vez ela desmaiara. Isso não era normal, e disso ele tinha certeza. Se bem que ele não sabia como ela vinha passando ultimamente já que só falava com ela ocasionalmente, sem se aprofundar em qualquer assunto, fora da área que os interessava. Ele evitava-a, deixando bem claro que ela era tão querida naquela casa quanto a areia que Carmem insistentemente limpava daquela casa a beira-mar.
Deitou-a gentilmente na cama, não por realmente se importar com ela, mas por interesses próprios, pois no fundo sabia que sem a Weasley, ele jamais poderia se curar daquela maldita doença que contraíra. Observando a situação, ele podia ver a peça que a vida lhe pregava. Ter de pedir ajuda a uma Weasley era, na melhor das hipóteses humilhante, para não dizer que simplesmente ia contra todos os códigos de conduta de um Malfoy. Talvez agora ele estivesse pagando por seus pecados, talvez estivesse apenas tendo sua quota de degradação, depois de já ter ferido o ego de tantos. Talvez fosse hora de pensar em ter um descendente para assumir a fortuna Malfoy, já que sua mãe simplesmente não tinha condições nenhuma para administrar todo o dinheiro da família do St. Mungus depois de seu pai ter "acidentalmente" amaldiçoado-a. O que restara de seu pai fora parar no mausoléu da família. Sim, estava decididamente na hora de arranjar um descendente, jamais reverteria toda sua fortuna para uma dúzia das malditas instituições de caridade, e menos ainda a deixaria cair nas mãos daqueles miseráveis mortos de fome do Ministério da Magia.
Porém ele não podia pensar naquilo naquele momento, tinha que chamar alguém para que verificasse se a Weasley estavam bem. Alguém devia estar se divertindo com a cara dele. Weasley era a medi-bruxa, mas a medi-bruxa precisava de assistência. Se Weasley não era capaz de zelar por si mesma, com toda a certeza era hora dele começar a visitar as funerárias a procura de caixões...
Resolver chamar Carmem. Aquela senhora cuidava de Draco desde que ele era um pequeno e frágil bebê, já que sua mãe jamais confiaria seu filho único a um elfo-doméstico desajeitado. Com certeza a bondosa senhora saberia o que fazer para ajudar a Weasley.
Seu quarto era ao lado do da Weasley no terceiro andar da casa. Obviamente ela foi acomodada no mesmo andar que ele para que ela pudesse ajudá-lo caso algo acontecesse durante a noite. Nova ironia quanto ao fato dele ter precisado se deslocar de seu quarto até o dela, ao invés do contrario. Quem estaria mais doente?
Temeu por deixá-la só. Ela era a única no mundo capaz de libertá-lo daquela doença maldita. Era exatamente como ela dissera: Se ela morrer, ele irremediavelmente morre. Essa constatação o deixou consternado. Sua vida estava entrelaçada com a vida de uma Weasley, e ele simplesmente não pode fazer nada, a não ser esperar que ela descubra uma cura para sua doença, ou somente esperar que seu fim chegue. Revolta. Esse era o sentimento que podia descrever perfeitamente o que Malfoy sentia há dois meses.
Desceu apressadamente até o segundo andar, onde se situava o refúgio de Carmem. Estendeu a mão para bater na porta, porém parou a meio caminho, hesitante. Olhou em seu relógio de prata, em seu pulso. Eram cinco e quinze, em mais quinze minutos os primeiros raios de sol invadiriam as janelas de casa e conseqüentemente Carmem se levantaria. Devia esperar?
Lembrou-se da jovem Weasley deitada em seu leito, parecendo muito mal. Não, ele não podia esperar! Talvez fosse algo realmente sério. E a Weasley tinha que estar em condições de seguir em frente com as suas experiências, ela TINHA que lhe devolver a vida que aos poucos lhe eram tomada pela maldita doença!
Com os nós dos dedos, bateu vigorosamente na porta da mulher que fora como uma mãe para ele. Que não o abandonara quando seu mundo ruiu, com a morte de seus pais, e em seguida, quando descobrira sobre o tumor.
A porta não demorou muito para se abrir. Uma nesga de luz escapou pelo lado de dentro do aposento, fazendo que o corredor, antes mergulhado na escuridão, tornasse-se um pouco menos sombrio e assustador.
-Draco? -a bondosa mulher, com o rosto levemente inchado de sono, estava parada a porta olhando-o com estranhamento- O que aconteceu, querido?
Draco observou a senhora a sua frente, de cabelos grisalhos. Eram negros antigamente, segundo a lembrança mais longínqua que Draco conservava. Neste momento, estavam soltos e caíam em cachos um pouco abaixo da cintura, porém viviam presos em um coque a maior parte do dia. Os olhos castanho-esverdeados transmitiam um ar interrogativo, mas sempre passando serenidade através deles. Não devia ter mais que um metro e sessenta.
-Há algo errado com a Weasley. -Ele respondeu devagar e calmamente, tentando não demonstrar qualquer emoção, mesmo porque julgava não as possuir.
-Conte-me o que aconteceu. -Ela pediu saindo do quarto, pegando uma manta salmão que Draco a dera de aniversário e protegendo seu corpo do frio do fim de madrugada.
-Acho que ela teve um pesadelo, não sei dizer exatamente. -Draco respondeu despindo sua voz de qualquer sarcasmo que viesse a aparecer. Ele já não fazia mais isso depois de todo o apoio que aquela senhora lhe dera, tratava-a como uma mãe, por mais frio que fosse esse tratamento respeitoso- Mas eu acordei com os gritos dela. Fui ver do que se tratava. O sono dela era agitado, ela estava suada e tremia bastante. Então eu a acordei.
Draco parou enquanto eles subiam a escada. Sabia que no fundo, ele provocara aquilo, irritando-a.
-Draco? -Chamou Carmem, soando com se o recriminasse. Ela o conhecia bem demais. Conhecia e sabia interpretar aquele silêncio. Aquela era a única pessoa que sabia exatamente identificar os sentimentos contraditórios que se passavam pela cabeça de Draco Malfoy- O que você fez àquela menina?
-Eu não fiz nada. -Draco respondeu dando de ombros, seguindo em frente na escada de mármore- Nós apenas discutimos.
-Você e a sua mania de testar a paciência das pessoas... -Carmem o repreendeu. Draco pensou em corrigi-la. Ele não testava a paciência, e sim media a inteligência de todos- Essa jovem veio aqui para lhe ajudar, mesmo guardando mágoas suas. Você não devia irritá-la. Há algo de muito errado com essa jovem, ela não vem passando muito bem ultimamente.
-Ok, Carmem. -Draco respondeu abrindo a porta do quarto da Weasley e dando passagem a senhora. Se fosse outra pessoa que lhe aplicasse aqueles sermões, com toda certeza já teria sido amaldiçoada, mas Draco a respeitava demasiadamente para fazê-lo- Guarde esse seu discurso moralista para outra pessoa. Sabe que sou um Malfoy e que não costumo dar ouvido a conselhos que vão contra a minha natureza.
-Sinceramente, ainda não consigo decifrar a que tipo de natureza você pertence. -Carmem disse se aproximando da cama onde Gina estava estendida, ainda desacordada- Não acho saudável manter uma vida solitária...
-Olha quem fala! -Malfoy redargüiu sarcasticamente- Até onde eu saiba você também não se casou...
-Chega, Draco! -Carmem falou firmemente pondo umas das mãos sobre a testa da jovem, indo em seguida em direção ao pescoço- Não teste minha paciência. Eu tenho que cuidar da jovem, e não estou disposta a discutir meu passado com você agora, certo?
-Isso é uma promessa de que nossa conversa continuará? -Draco sugeriu sorrindo petulantemente. Ele sempre quisera saber o por quê de Carmem nunca ter se casado. Toda vez que eles começavam a conversar sobre aquilo, Carmem, de alguma forma, desviava o assunto.
-Ela não tem febre... -Carmem sussurrou, ignorando as últimas palavras dele. Depois, deslizou os dedos pelo pescoço da jovem, procurando a artéria aorta, no intuito de verificar o seu fluxo sanguíneo- Mas a pressão arterial está baixa. Não é a primeira vez essa semana... Esta menina está decididamente doente. E eu já tenho minhas desconfianças! Eu só preciso fazer algumas perguntas a ela... Querido, vá até o cozinha e busque um pouco de sal, por favor.
Draco deu de ombros e sorriu. Puxou a varinha e apenas murmurou:
-Accio! -Ele sussurrou e esperou pacientemente o saleiro vir em sua direção. Tomou-o e entregou a Carmem em pouco menos de um minuto.
Carmem entreabriu os lábio de Gina e pôs uma pequena quantidade de sal em sua boca. Draco sabia que era provado cientificamente que o sal fazia a pressão subir. Aprovou em sua mente a atitude rápida e firme de Carmem. Ela era uma bruxa que largara o curso de medicina bruxa, mas ainda assim, sabia muita coisa sobre primeiros socorros.
-Ela vai ficar bem. -Ela disse por fim se levantando e fazendo sinais para que saíssem do quarto- Ela só precisa descansar um pouco. Vai acordar como se nada houvesse acontecido.
Draco não teria tanta certeza assim. Ela lhe pareceu bastante irritada naquela madrugada e pela lógica, não esqueceria tão facilmente as palavras dele. Ele mesmo não esqueceria se alguém lhe ofendesse como ele ofendera-a. No entanto, não estava arrependido. Ele nunca se arrependera de nada em sua vida e não seria agora, por causa de uma Weasley pobretona que ele começaria.
-É bom mesmo! -Draco respondeu entre dentes, levemente irritado com essa situação. Weasley não podia estar doente! Ela tinha que curá-lo! Não podia perder tempo com uma gripe qualquer!
-Draco, você voltou a procurar aquela jovem de quem você me falou que te ajudou a esquecer um pouco a sua doença? -Carmem perguntou de súbito, como se só houvesse se lembrado disso naquele instante.
-Não, Carmem! -Draco disse um tanto impaciente. Ele não voltara a procurar a jovem Vivian. Aquela havia sido a melhor noite que já tivera com uma mulher, não podia negar aquilo a si mesmo, embora nunca fosse dividir algo tão íntimo com ninguém. Ele apenas dissera a Carmem que aquela mulher o ajudara a esquecer momentaneamente a dor. Carmem com toda a certeza tirara suas próprias conclusões. Mas ele não se importava. Com Vivian fora algo diferente e excitante, algo certamente inesquecível, porém não voltou a procurá-la. Primeiramente porque ele não fazia a menor idéia de como seria o nome verdadeiro, e nem tinha qualquer indicação sobre a existência da jovem. Ele até tentara encontrá-la novamente na boate, mas ela não aparecera nos dias seguintes. Por fim desistira de achá-la. Porém achou estranha a mudança súbita de assunto de Carmem. Por quê estaria ela a perguntar sobre Vivian? Talvez deveria externar sua dúvida...- Por quê pergunta sobre ela agora, Carmem?
"Everytime we lie awake
After every hit we take
Every feeling that I get
But I haven't miss you yet"
"Toda vez que deitamos acordados
Depois de todo golpe que tomávamos
Todo sentimento que eu possuo
Mas eu ainda não sinto sua falta"
-Simplesmente porque eu acho que você deveria procurá-la e buscar um relacionamento sério. -Carmem disse saindo do recinto e recostando a porta calmamente, para no segundo seguinte virar-se para encarar o jovem nos olhos- Você deve compreender que a missão incumbida a jovem Weasley é um fardo demasiado pesado para ela. No fundo você sabe que um ano não é prazo suficiente para que ela tenha uma formula, não é? Levam pelo menos três anos para que você tenha uma base. E Weasley, em menos de dois meses já tem algo que talvez possa te ajudar.
-Eu tenho plena ciência de que Weasley está se esforçando. -Draco disse erguendo a sobrancelha esquerda levemente, numa pura demonstração de curiosidade, misturada ao seu habitual ar sarcástico- Mas ainda não sei onde você pretende chegar com isso.
-Eu estou preocupada com você, Draco! -Carmem redargüiu com um olhar levemente angustiado. Draco podia ver claramente sua preocupação em relação a ele. Queria ser compreensivo, mas simplesmente não conseguia. Não era algo peculiar dele, simplesmente se interessar pelos medos ou meramente tentar entender as emoções que as pessoas sentiam. Ele fora criado com tudo o que sempre quis, todas suas necessidades eram supridas por seus pais, mesmo que essas fossem exatamente fúteis. Isso tornou-o egocêntrico. Não lhe interessava saber o que os outros pensavam ou sentiam. Se ele estava feliz consigo, isso era o bastante- Você tem ciência de que você pode morrer sem ao menos conhecer o amor?
-Amor! Amor! -Draco disse levemente irritado com aquele assunto, odiava a convicção idiota das pessoas sobre esse assunto- Todo mundo fala que ama. É muito fácil dizer isso, não? Mas quantos podem afirmar com certeza que o sentiram? Como podem saber que o que sentem é amor e não uma atração? É medíocre a idéia irreal que corre sobre isso tudo. O amor, como todos os sentimentos, é abstrato! Você o confunde e pensa que ama. São muitos sentimentos que regem um ser humano, então o que seria o amor senão nada mais além de outro sentimento momentâneo e passageiro? Sim, porque todos nós sabemos que todos os sentimentos passam. Desde o medo de algo até a mais profunda dor.
-Você está errado, Draco! -Carmem disse tentando aparentar calma, mas ela deixou a voz tremer quase que imperceptivelmente- Existe amor sim! Não há razão de ser, o amor! Ele sempre vai estar lá, escondido, até que você encontre um alguém que o desperte e faça-o crescer infinitamente, até tomar conta de seu ser.
-Como você pode saber? -Draco questionou intransigentemente. Ele simplesmente sabia que estava se excedendo. Mas ele já tinha essa visão há algum tempo. Descreditava toda e qualquer emoção humana que fizesse a pessoa sair de sua habitual ideologia, embora adorasse se aproveitar dessa fraqueza deles. E novamente Draco se aproveitaria para dar sua cartada de mestre, e enfim descobrir o que tanta queria- Você por acaso já amou?
-Sim, Draco. -Carmem admitiu, fechando os olhos, evitando encará-lo. Ela abriu-os em seguida, Draco pode sentir a dor obscurecendo levemente os olhos castanho-esverdeados da senhora- Eu já amei.
-Então me diga... -Draco perguntou inquisitivo. Lançando um olhar vitorioso a Carmem- Por quê você não se casou?
-Porque... -Carmem começou vacilante. Tinha os olhos fitos em algum lugar além dele. Respirou fundo, como a se encorajar a tocar no assunto- Porque... Ele morreu.
-E você nunca quis saber de outro homem? -Draco perguntou surpreso. Se há uma coisa que ele nunca saberia ser, isso era com certeza, ser fiel a alguém. Draco Malfoy, tal como o pai, nunca seria capaz de dormir apenas com uma mulher. Não gostava de rotina. Não gostava de ser preso. O pai dele certa vez, lhe dissera que ele deveria escolher uma mulher de Sangue-Puro, digna de respeito, partidária das Artes das Trevas, para se casar. Naquele dia Draco o questionara sobre o porquê de dormir com uma só mulher, se ele podia ter várias. Lúcio respondeu que ele não precisava dormir só com a esposa, mas que não deixasse ninguém descobrir, para manter honrado o nome da família Malfoy. Família essa, que chegava ao fim de sua linhagem, depois de todos os sacrifícios feitos pelos seus antepassados. Draco espantou tais pensamentos de sua cabeça. E esperou calado pela resposta de Carmem.
Os traços espanhóis da mulher se carregaram em espanto.
-Não! Nunca! -Carmem respondera espantada com o que Draco dizia, como se aquilo fosse a maior ofensa que ele pudesse lhe fazer- Você pode se apaixonar várias vezes na vida, mas só ama de verdade uma vez. E eu o amava. Logo, não sentia vontade de entregar meu coração a ninguém mais.
-Se você diz que só se ama uma vez, -Draco começou novamente a argumentar sobre a idealização do amor- como pode saber que o que realmente sentiu era amor? Talvez você simplesmente se prendera a alguém e não teve a sua real quota desse sentimento.
-Você sabe que é amor, quando você se preocupa com a outra pessoa, -Carmem começou pacientemente. Draco sabia que ela só estava insistindo naquilo porque realmente queria que ele tomasse consciência do que quer que fosse que ela quisesse ensinar-lhe, pois normalmente já teria deixado aquele assunto de lado, por saber que ele simplesmente estava testando-a- quando você fica feliz simplesmente porque seu amor está feliz. Você apenas deseja o bem a ela. Você quer protegê-la de todas as forma. Quer que ela esteja bem.
-Teoricamente, esse é o sentimento que todo o amigo sente por outro. -Draco provocou-a, num sorriso vitorioso- Não é isso o que dizem de uma amizade verdadeira? Com toda certeza outro mito...
-Chega, Draco! -Carmem disse irritando-se com as teorias estapafúrdias do jovem- Eu só estou tentando dizer que talvez você deva se casar, constituir uma família, deixar a alguém todo o legado Malfoy...
-É exatamente o que eu estava pensando. -Admitiu Draco, interrompendo-a. De certa forma, Draco queria perguntá-na sobre como faria para achar uma esposa ideal tão rapidamente. De toda forma, não seria em um anúncio de jornal.
-Então procure a Vivian... -Carmem sugeriu, dando de ombros e saindo pelo corredor em direção da escada.
Draco parou para pensar um pouco. Vivian Winter... Sim, ele gostara bastante dela. Ela pareceu-lhe ser bastante espontânea, excitante, divertida. Talvez não a esposa comportada e perfeita, mas com toda a certeza a mulher perfeita. Uma das poucas pessoas, se não a única, a conseguir passar em seus pequenos testes. Restava saber um pouco mais sobre a vida pessoal da jovem. Ele tinha de saber se ela era puro sangue, se era adepta das Artes das Trevas.
Adentrou seu quarto, este era completamente escuro. As paredes eram de tons escuros, a janela de madeiras de lei escuras. A cama ainda desfeita, tinha lençóis de seda em tons verdes escuros. O brasão da família, fora bordado à mão, por gerações de Senhoras Malfoy, muito antes do tempo dele.
Uma escrivaninha também de madeira antiguíssima e de lei, ficava perto da janela, que estava aberta. Um armário, tão imponente quanto a cama de quatro colunas, com dossel negro, ficava em frente desta.
O banheiro ficava a dois metros de sua cama, em sua direção esquerda.
O chão de mármore negro, ainda conservava o frio da madrugada, mas ele não se importava com o frio batendo em seus pés desnudos.De fato, ele nem sequer percebia o contato. Pois no fundo, era exatamente congruente a si próprio. Frígido.
Caminhou até a janela. Ele simplesmente precisava pensar sobre o seu próximo passo. Isso caracterizara o Grande Comensal Draco Malfoy. Ele tinha mania de refletir sobre cada passo seu antes que o executasse. A única vez que não o fizera, fora duramente castigado pelo Mestre na Casa dos Gritos, além de ser humilhado pela a Sangue-Ruim da Granger.
Observou a vista de sua janela, estava dava-lhe a visão do mar. Hoje, especialmente, ele estava calmo, parecia estar convidando a todos para um dia maravilhoso. Ele adorava o mar, embora jamais fosse admitir tal coisa, pois pareceria um poeta sentimentalista, e isso, era a última coisa que precisava agora… Já não bastava ter de aturar aquela Weasley pobretona, lhe dando conselhos diariamente! A última idéia dela fora de controlar as suas atividades. Isso era um absurdo! Onde já se vira? Um Malfoy obedecendo a uma Weasley? Simplesmente inadmissível!
Se havia uma coisa que o ajudava distrair os dias entediantes que ele passava ali naquela ilha parada, além de bons livros, era o surfe... Bem, talvez a Weasley não soubesse que ele surfava, pois ele apenas o fazia durante a noite, quando as ondas eram melhores.
A harmonia entre si mesmo e o mar era simplesmente perfeita. Ele sentia o mar contagiá-lo com a sensibilidade que parecia ter, o que contrastava consigo mesmo, pois ele não era sensível a absolutamente nada. Fora criado para não sentir absolutamente nada, a não ser ódio aos Sangue-ruins e também a quem os defendesse e submissão a quem tiver mais poder que ele próprio. O desprezo também fora incluída a sua educação… Desprezo a tudo e a todos que se mostram inferior. A impiedade era um dos principais requisitos da família Malfoy, juntamente com o orgulho, algo mais que sagrado. Nunca houvera lugar para sentimentos tão inúteis e sem compensação quanto o amor.
Para Draco, o amor era algo que nada significava. Era uma palavra que imbecis usavam, para tentar acreditar que houvesse um mundo melhor a espera. Ele tinha suas opiniões formadas quanto a essa besteira inventada para aquecer apenas o coração das jovens idiotas. Algo como um estereótipo para fazer com que as moças se casem e sejam fiéis. Uma bobagem criada apenas para que as moças se conservem intocadas e se diferenciem das que você tem um caso e das que você se casa. Talvez por isso defendesse tanto suas convicções sobre o amor e ao mesmo tempo as discutisse tão arduamente com quem quer tentasse argumentar o contrário, e sempre ganhava, já que esse era o seu jogo.
Mas todos esses pensamentos não o levavam ao mais importante. Deveria ele prosseguir e contatar novamente Vivian Winter? Ele deveria pedi-la em casamento? Ela, de certa forma, era uma completa estranha para ele. Não fora era só porque eles tiveram uma noite quente de sexo, que garantia que ele a conhecesse completamente.
Porém ele lembrara que ela dissera que era puro-sangue, e isso já contava em seu favor. Dissera qualquer coisa sobre um irmão também... Contudo, ele já não tinha tempo para esperar por uma investigação. Queria ao menos ver seu herdeiro nascer, e segundo sua contagem, ainda tinha dez meses para isso, talvez até nove. Isso era preocupante! Ele precisava de um herdeiro urgentemente. Isso exigia medidas drásticas!
Agora era tudo ou nada pela família... Se seus antepassados se sacrificaram diversas vezes por ela, por quê não ele?
E pensando sobre isso Draco Malfoy começou a tomar suas providências. Mal sabendo ele o quanto pode se surpreender com elas...
"Every room-mate kept awake"
"Todo o caminho que mantínhamos aberto"
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Gina Weasley não acordou lá muito cedo naquela bela manhã de sábado. No entanto, parecia ter se recuperado completamente com as horas de sono a mais. Os pássaros cantavam alegremente como se anunciasse uma boa-nova. Gina simplesmente deu de ombros, espreguiçando-se como se fosse um felino.
Não podia dizer que estivesse exatamente magoada, é claro que Malfoy a ofendera profundamente, e que se o visse era capaz de esquecer que era adulta e civilizada, jogando alguma azaração nele.
"É melhor não jogar." -Disse uma voz vinda do fundo de sua mente- "Ainda é capaz dela se voltar contra você do jeito que é azarada. Isso se não ferrar o Malfoy mais ainda e você se ver forçada a cuidar dele ainda mais arduamente. Esse sim, ia ser um mega castigo! Cuidar de um Malfoy muito mal-humorado ou ouvir as gracinhas dele!"
Na verdade, estava se sentindo com os ânimos renovados depois de dormir tanto, mesmo que a madrugada não tenha sido muito agradável. Do sonho ruim só tinha lapsos em sua cabeça, já não lembrava com tanta vivacidade do que se tratava. Por fim deu de ombros mais uma vez, pouco se importando em filosofar sobre aquilo, mesmo porque o relógio já apontava oito e meia, sendo que seu expediente começava oficialmente às oito da manhã...
O fato é que estava mais animada porque estava tendo bons resultados com suas experiências científicas. Ela achara uma planta que podia retardar os efeitos da doença de Draco Malfoy. Bem, aquele poderia não ser o resultado esperado, mas já era alguma coisa...
Ao menos assim pensava ela. Suas pequenas cobaias aceitaram bem a solução, adiando o agravamento da doença. Na verdade, os camundongos que tiveram o gene alterado, pareciam tão saudáveis quanto os camundongos normais.
Gina não pode deixar de vibrar com tal constatação. É claro que ela descobriu que aquela planta misteriosa que achara no livro, só poderia ser recolhida em situações especiais, com fatores diferentes, mas isso não era problema.
Levantou-se lentamente, preparando-se para o novo dia que já a estava aguardando. Pelo horário, Malfoy já devia ter tomado café. Melhor para ela, pelo menos não teria de vê-lo logo cedo. Ela tentava ignorá-lo ao máximo. Durante todo esse mês que passara na ilha, apenas tivera o desprazer de tomar café com ele apenas uma única vez, e na sua opinião aquela fora à última.
O ar parecia ser feito de concreto e incidir bem em suas cabeças. Era muito desagradável a sensação de ter alguém ao seu lado e não trocarem nem meias palavras, simplesmente por capricho, já que nenhum dos dois fazia questão de ouvir a voz um do outro.
Ela desistira de achar Carter dentro dele depois daquela primeira discussão no dia que chegaram. Ficara mais que provado para ela que Carter fora apenas uma faceta dele para lhe levar para cama. E o que mais doía, era saber que ele conseguira enganá-la facilmente. Mas isso não ocorreria de novo, mesmo porque Vivian Winter é passado! Jamais a veria de novo!
Ocasionalmente, ele aparecia no seu laboratório, querendo saber dos resultados, e ela relatava tudo com paciência, com profissionalismo. Mas nunca fitando-o nos olhos. De certa forma, sentia medo de que ele pudesse reconhecê-la. Não o conhecia bem o bastante para tentar prever como ele agiria caso descobrisse.
Ele poderia agir de várias formas, porém dessas formas que imaginara, nenhuma terminava bem.
Por sorte seus enjôos estavam se tornando menos freqüentes, embora houvesse dias em que ela, decididamente, não acordava bem!
Gina seguiu para o banheiro espaçoso reservado na sua suíte. Ela fez toda a sua higiene em quinze minutos, e simplesmente seguiu para a cozinha. Este era o único cômodo da casa que parecia ser menos intimidante e mais acolhedor.
As paredes eram feitas de azulejos azuis, com graciosas flores brancas decoradas no meio de cada um. Uma mesa de tamanho razoável de madeira de lei ficava no centro do aposento, onde Carmem, uma senhora de seus cinqüenta e tantos anos, colocava o café para ela todos os dias. Malfoy, no entanto, fazia suas refeições na sala de jantar, como todo bom milionário exibicionista.
A casa de Malfoy não parecia tão assustadora, quando as cortinas estavam abertas, como naquele sábado. É claro que a luz do sol sobre os móveis escuros era contrastante, já que a decoração era gélida demais para receber algo tão exultante quanto a luz do sol. O mogno brilhava reluzente, sobre a graciosa luz do sol que serpenteava pela janela, vindo brincar com doçura.
Ao por os pés no aposento, Carmem, que estava voltada para o fogão, começou a falar:
-E então, querido? -Ela dizia num tom evidentemente divertido- Já mandou o presente para a jovem que lhe roubou o coração?
Gina sentiu-se embaraçada, era óbvio que o comentário era dirigido a Malfoy. Só que Draco Malfoy não estava no aposento. Então Gina supôs que Carmem pensasse que fora Draco que adentrara o recinto.
Mas a curiosidade, simplesmente entrara erroneamente em seu ser, e atingia seu âmbito sem piedade, açoitando-a em ciúmes, como ela jamais admitiria que existisse dentro se si. E ainda mais porque se tratava do Draco Malfoy.
-Desculpe-me Carmem, mas não acho que alguém seja capaz de roubar uma pedra… -Gina disse, fazendo-se notar pela mulher branca, de um metro e 60, de cabelos grisalhos, evidenciando o negro que um dia vigorou, os olhos castanho-esverdeados, expressaram surpresa ao ouvir uma voz fina e melodiosa, porém desdenhosa, vindo da porta, ao invés da voz grossa, baixa e calmamente irritante de Draco Malfoy.
-Ora, não diga isso, querida. -Carmem censurou levemente, limpando as mãos no avental rosado que fora amarrado sobre o vestido longo, que ia até as panturrilhas, numa cor salmão com pequenos lírios estampados, suas feições bastante conservadas para uma senhora daquela idade, mostravam-se compreensivas ao comentário dela, embora parecesse não concordar. Com um dedo, indicou à jovem um lugar na mesa de mogno, e tomou a cabeceira, assumindo um ar de quem confidencia um segredo precioso- Talvez ele fosse um garoto com o coração de pedra há algum tempo atrás, mas eu nunca perdi minhas esperanças… Eu sabia que algum dia apareceria alguém capaz de amolecer o coração dele e torná-lo tão humano quanto eu ou você!
-Sinceramente Carmem, eu não acho que alguém seja louco o suficiente para amar Malfoy… -Gina disse tentando esconder as emoções que reviravam o seu íntimo, pois jamais imaginara que Malfoy amasse alguém. No fundo, alimentara esperanças de que Malfoy a reconheceria e que tudo o que passaram naquela noite memorável, retornaria com força maior. Como fora tonta! Tudo não passara de mera e maravilhosa ilusão. Ela devia saber! Malfoy já tinha alguém! Recriminou-se interiormente por esses pensamentos. Não se importava com Malfoy! Ele que ficasse com quem quisesse -Ah, espere! Estou me lembrando de alguém que teria tão pouco cérebro para isso… Pansy Parkinson!
-Bem, querida, não posso dizer que Parkinson tenha realmente um cérebro, mas ela não vem ao caso. -Carmem disse abaixando o tom ainda mais- Draco namorou-a por muito tempo, mas ela não era o que se pode chamar de uma namorada compreensiva…
-Tive o desprazer de conhecer a peça… -Gina comentou entre dentes, não conseguindo conter o ciúme. Algo que ela nunca admitiria que tem. Notando isso, para não dar na vista de Carmem, completou: -Vivia atormentando aos meus irmãos e a mim por sermos menos providos financeiramente. Agora, depois da guerra, ela está sem dinheiro, presa e o mais importante, sem dignidade. Quem é a fracassada agora?
-Draco passou por uma fase muito difícil ao ver a mãe debilitada e o pai nas mãos dos aurores, e ela achava que todo o sofrimento dele era brincadeira… Tudo o que fazia era pedir mais e mais presentes. -Carmem continuou no mesmo tom baixo, segredando-lhe sobre a vida de Draco Malfoy- Draco nunca a amou de verdade e não demorou muito para que os dois terminassem. Eles terminaram pouco antes do julgamento da jovem. No fundo, todo o tempo que Draco passou com a jovem Parkinson foi apenas para não ficar sozinho. Eu cuido de Draco desde quando era um bebê, e nunca o vi se afundar de forma tão desastrosa quanto a que presenciei depois disso tudo. Meu pequeno Draco tornou-se um homem muito belo, mas o que tem de belo, tem de frio. Uma frieza que pode ser comparada à ponta de um iceberg dos pólos. Eu me preocupei bastante com ele, dei vários conselhos. Ele, em respeito a mim, ouviu a todos, mas não seguiu a nenhum.
-Isso é bem a cara dele! -Gina disse pegando uma xícara de porcelana branca e fina, com dourado nas bordas e servindo-se de um pouco de café.
-Passaram-se alguns anos e Draco não mudou. -Carmem continuou levantando-se e pegando uma forma de pães frescos para servir a jovem- Ele vivia em um apartamento em Londres, eu via as mulheres com quem ele saía e sabia que todas elas tinham apenas uma casca bonita, mas que por dentro eram completamente ocas.
-Eis o tipo de mulher capaz de amá-lo. -Gina fez o comentário escárnio, recebendo em troca um olhar repreensivo da senhora.
-Ele começou a passar mal e eu recomendei-lhe que fosse ao médico, mas você sabe como ele é teimoso… -A senhora disse pondo geléia de morango caseira sobre a mesa (hum… eu to com fome, então não espere que eu não vá torturar ninguém.), junto com pequenos brioches recheados de presunto e queijo derretidos, regados de bastante orégano, o cheiro delicioso de pão recém saído do forno inundando o aposento. Carmem ofereceu-lhes a Gina que o pegou e deu-lhe uma bela de uma mordida, deliciada- Mas quando ele começou a ter desmaios, fui obrigada a insistir para que ele fosse ao médico, e assim ele o fez, para o meu alívio. Isso foi há alguns meses…
-Foi na época que recebi o comunicado, não? -Gina perguntou servindo-se do queijo caseiro e verde em sua frente.
-Na verdade, foi quase um mês antes de você ser chamada. -A senhora disse olhando-a comer com satisfação, porém parecia triste- Naquela noite ele ficou transtornado, pense como seria descobrir que se está muito doente de uma hora para outra. Com toda certeza, não era nada fácil.
Ele me pediu para vir para esta casa, aqui em Nowhere e prepará-la para que ele pudesse vir para cá tentar se recuperar. Antes que eu partisse, ele me disse que ia dar uma saída para ver se espairecia um pouco. Eu o vi se arrumar e sair, mas não fiquei em Londres, vim para cá.
-Mas isso ainda não prova que Malfoy tenha coração! -Gina disse começando a se irritar, e sem perceber, impondo um pouco do tom imperativo em sua voz- Isso só mostra que ele é um grande babaca, que poderia ter ido ao médico para se cuidar, mas que preferiu o orgulho idiota e ficou doente…
Porém Gina não chegou a terminar sua frase, pois ouviu um ruído de quem queria se fazer notar na porta da cozinha. Horrorizada, dirigiu seu olhar até a porta. Não estava assustada por ele ter ouvido sua opinião sobre ele, mas sim pelo fato de que talvez ele possa ter ouvido algo, e que talvez seus sentimentos reais houvessem transparecido. Eram preocupações infundadas, na entanto, pois suas opiniões foram típicas de uma Weasley que odeia os Malfoy e não as que tinha sobre Carter.
-Talvez se esse Malfoy aqui, não fosse um grande babaca e não tivesse preferido seu suposto orgulho idiota, a sua conta bancária não estaria aumentando com tantas proporções como está agora. -Malfoy disse com um sorriso sarcástico contorcido em seus lábios macios, um olhar sagaz nublando o acinzentado azul de seus olhos. Mesmo quando ele a provocava, ele ainda parecia seu anjo-mau. Estava tão lindo quanto nunca, usando uma calça preta que mesmo sendo levemente larga, ainda podiam-se notar os músculos das pernas sob esta. A blusa, para estranhamento de Gina, não era negra como o habitual, apenas azul escura, de mangas. Os ventos matinais, vindos das janelas abertas, pareciam ir e incidir bem em cima de Malfoy, desajeitando levemente os belos cabelos curtos e bem cuidados dele. Incomodado ele tirou uma mecha caindo quase sobre seus olhos e olhou inquisidor, esperando pela resposta de Gina. Esta, então, sentiu-se como se tivesse levado uma chacoalhada. O quê ela estava pensando??? Malfoy não era nada além de um arrogante! Lutando contra a mágica que a fazia olhar para ele, esforçou-se para pensar em algo.
-Você está insinuando que eu estou aqui apenas pelo dinheiro? -Gina levantou-se da mesa irritada ao perceber o que ele dissera nas entrelinhas. Isso fora um dos maiores insultos que já ouvira na sua vida, depois daquele da noite anterior.
-Eu não estou insinuando nada. - Malfoy respondeu num sorriso desdenhoso. Tinha um olhar obstinado- Seu extrato bancário é que está!
-Nem todo mundo é tão corrompido quanto você! -Gina respondeu olhando-o de forma fulminante, sua voz começando a alterar-se levemente- Escute aqui, eu não preciso de seu dinheiro! Eu tenho o suficiente para viver o resto da minha vida em paz e só aceita essa p*** de emprego porque alguém precisava de ajuda e eu faria o que estivesse ao meu alcance, independendo de quem fosse. Não me importaria se fosse o papa ou até mesmo um mendigo o importante, seria que eu desse o meu melhor e cumprisse minha obrigação, como ser humano, de ajudar.
-Belo discurso, Weasley! -Malfoy disse aplaudindo, sua voz grossa e ressonante, agora imprimia um tom zombeteiro- É claro que se fosse eu, teria economizado no palavrão. Até parece que a sua mãe não lhe deu a devida educação. -Malfoy fez-se de um falso tom pensativo, para em seguida concluir- Ah, é verdade, sua mãe não tem muito dinheiro para te dar tal educação.
-Maldito! -Gina disse sacando a varinha rapidamente, Malfoy mostrou-se surpreso. Gina, porém, abaixou a varinha e sorriu triunfante- Bem, se eu não tivesse tido uma boa educação, agora eu não seria uma bruxa renomada. Enquanto você, mesmo tendo uma suposta boa-educação, não consegue nem ao menos se cuidar sozinho, necessitando da ajuda de uma… como você costumava dizer mesmo? Pobretona como eu. Qualquer idiota pode somar dois mais dois e ver quem teve a melhor educação aqui.
Com isso, Gina retirou-se da cozinha, deixando um Draco Malfoy atônito e completamente sem palavras, a porta do recinto. Porém antes de ir, não pôde deixar de notar como os músculos de sua face se contorceram irritado, de uma forma tão linda. Internamente pediu-se para brigar com ele mais vezes, só para ver os músculos se retesarem daquela forma, e ver-lhe a sobrancelha esquerda erguida de tal forma, como estivera. Porém em seguida, balançou a cabeça, afastando esses pensamentos. Lembrando-se que tudo o que queria era odiar Malfoy, e não achá-lo bonito.
"By every sigh and scream we make
All the feelings that I get
But I still don't miss you yet"
"Por todo suspiro e grito que demos
Todos os sentimentos que eu possuo
Mas eu ainda não senti sua falta"
Gina adentrou seu laboratório, onde Tobby, o elfo-doméstico que lhe prestava seus serviços, apenas voltado para as coisas de laboratório, já lhe aguardava.
-Bom dia, minha senhora! -Este lhe disse com uma voz aguda, fazendo uma mesura assim que a viu adentrar o recinto.
-Bom dia, Tobby! -Gina disse com um grande sorriso e um tom animado na voz. O elfo não iria perguntar o porquê do seu atraso, já que ele nunca contestava nada do que ela dizia ou fazia, isso acabara criando uma certa cumplicidade entre ambos- O que temos anotado para fazer hoje?
-Bem, eu ainda não me certifiquei, minha senhora, mas já observei os pequenos. -Tobby, o elfo mais inteligente que já vira, respondeu, referindo-se aos pequenos animais que serviam de cobaia- Há uma pequena reação, aos animais submetidos à experiência sem a flor lunar.
-Oh, não! -Gina disse caminhando na direção dos ratos e examinando-os- Não pensei que por falta desse suprimento nós regrediríamos.
-Foi uma sorte a senhora tê-lo achado naquele livro, não foi? -O elfo-doméstico disse se virando e pegando algo sobre a mesa.
-É, foi sim. -Gina respondeu enquanto examinava com o estetoscópio os ratinhos- Eu a encontrei um dia depois de ter chegado aqui. Tinha pouco dessa flor no estoque, o que me fez ministrar meus testes cuidadosamente, eu estava tendo bons resultados, até o remédio acabar ontem à tarde…
-Chegaram algumas correspondências hoje bem cedo para minha senhora! -Tobby disse levando dois pacotes até Gina, que tirou o estetoscópio, depositando-o na mesa e começou a examinar o primeiro pacote que o elfo lhe entregara.
Tinha 30 por 30 de comprimento de largura, fora embrulhado por um papel de presentes, cheios de luas e estrelas, por cima, tinha apenas um envelope, contendo o que parecia ser uma carta.
Curiosa, abriu primeiramente a carta, que dizia:
"Oi Gi,
Espero que não tenha se esquecido das amigas…
Passou-se tanto tempo desde a última vez que nos vimos, não foi? Acho que foi na nossa formatura em Hogwarts… Mas isso não vem ao caso.
Não pense que esqueci de seu aniversário de 23 anos em setembro passado, então mandei esse presente atrasado, pois naquela época eu estava meio ocupada com uma missão, sendo que só por esses dias eu lembrei-me de teu aniversário (ai, que vergonha! Mas você me conhece, por isso tenho certeza de que vai entender, não? Se não me perdoar, olhe o presente e juro que vai me compreender), mas espero que pelo menos chegue perto do dia dos namorados. Porque o meu presente vai te ajudar a arranjar um rapidinho, você vai ver. Se me ajudou, porque não ajudaria a você também?"
Como um presente poderia ajudá-la? Luna, (Gina percebera que era dela a carta devido à letra corrida, disforme e sempre marcada por borrões de tinta, já que Luna era levemente apressada) como sempre, parecia ter sido impressionada por alguma lenda idiota. O que seria agora? Uma poção do amor milagrosa? Ou seria um novo amuleto maluco?
Gina lembrou-se nitidamente da fixação de Luna por amuletos. Uma vez ela trouxera um chumaço de algodão bruto, com dentes de alho e arruda esmagada, dentro de um pequeno saquinho de tnt, costurado artesanalmente. Ela jurara de pé junto que aquilo lhe protegeria de inveja e vampiros. Quanto à inveja, não adiantou muito, já que o garoto que a namorava foi "tomado" por uma sonserina, e quanto aos vampiros, Gina não sabia dizer nada sobre aquilo.
Dando de ombros, continuou lendo:
"Bem, quero lhe fazer um pedido desde já! Quero que você seja a madrinha do meu casamento! Sim, você não leu errado: Eu vou me casar, amiga!!!
Eu fiz esse pedido a você porque apesar dos anos que se passaram e o nosso trabalho árduo que nos impediu de manter maior contato que não por cartas, mas você ainda é a minha melhor amiga. Espero que você ainda me considere assim.
Você sabe com quem eu vou me casar? Lembra-se do lobo com o qual eu sonhava todas as noites e insistia que era real? Ele existe e é um homem (ou meio homem). E você o conhece!"
Gina lembrou-se da história! Durante o sexto ano das duas, Luna não parava de falar sobre como ela vinha tendo sonhos com um lobo. Só que esse lobo, muitas vezes levava flores na boca para ela, chocolates, e coisas similares, tomando atitudes humanas com princípios e intenções tão ativos quanto estes. Durante muito tempo, Gina tentou convencer Luna de que tudo não passava de meros sonhos, inutilmente. Pelo visto a amiga estivera certa o tempo todo.
Mas quem seria o homem? Ela o conhecia, Luna dissera. Meio-homem, meio-lobo. A compreensão chegou lentamente até o cérebro cético de Gina. Ela sabia a resposta, mas não queria acreditar… Era uma grande diferença de idades. Isso não poderia dar certo! Ou poderia? Ela convivera com aquele homem durante todo o seu sexto e sétimo ano, como professor de Defesa Contra as Artes das Trevas e sabia que ele tinha uma certa anormalidade, mas nunca pensara que a referência dos sonhos jovens de Luna seria voltada a ele!
"Sim, é o Remo!!! Você não imagina o quanto eu o amo! Demorou um pouco para a gente se acertar, mas agora, nada nem ninguém vai ser capaz de nos separar, principalmente depois de tudo que passamos juntos.
Mas isso eu vou te contar em outra carta, afinal essa era para ser uma carta para te parabenizar pelo seu aniversário que foi em setembro passado, mas como dizem: O que vale é a intenção.
Lembre-se apenas de uma coisa: a vida é muito curta e merece ser aproveitada a cada passo.
E o meu desejo de aniversário, é justamente esse. Eu não vou desejar feliz aniversário, e coisas como: "muitos anos de vida e que isso sempre se repita", pois convenhamos, não há clichê maior que isso, não é?
Mas eu desejo que você encontre o homem de sua vida e que seja feliz com ele.
Quanto a isso o que Gina podia comentar? É bem verdade que Luna não é de sair fazendo votos sobre qualquer tipo de data especial de modo convencional e que ela nunca presenteia com coisas normais como roupas, cordões, livros e tudo o que se pode dizer que se espera. Quando Gina fizera 15 anos, Luna simplesmente lhe dera um punhal com seu nome gravado, alegando que era um presente para proteção pessoal, e de prata, a prova de lobisomens.
Quanto a um homem, ela simplesmente não queria pensar nisso. Ela já tinha problemas demasiadamente para se dar ao direito de se encrencar mais. Da última vez que se dera o direito de pensar um pouquinho em se divertir, viera parar em Nowhere, numa situação constrangedora, odiando-se por ter tido algo com Carter, por ele ser seu pior inimigo... Se ouvisse o conselho de Luna, era capaz de ir parar na cama dos Teletubbies...
Sinceramente, depois dessas aventuras, ainda era obrigada a conviver com o seu inimigo, com quem dormira sem saber que ele era o cara que mais odiava! Era melhor nem pensar o que aconteceria se fosse parar na cama dos Teletubbies...
Seu problema agora era caso Malfoy descobrisse quem ela era. Aí sim, ela podia dar-se como morta! Como podia ter dormido com ele??? Ela simplesmente não sabia o que fazer sobre isso... Não contaria nem sob tortura que ela era Vivian Winter, mas às vezes sentia que já não podia esconder aquilo...
Era seu dilema, talvez seu destino convidando-a para um desafio ao qual você nunca consegue encontrar respostas. Ah, e como ela queria uma resposta! Queria saber como se desencrencar. Porque será que as respostas para os problemas nunca vêm escritas nas caixas de cereais com aquelas curiosidades idiotas?
"Francamente! Estou confabulando sobre caixas de cereais? E toda essa decadência por causa de Malfoy? Ai, ok! Sou obrigada a admitir: Decididamente eu cheguei ao fundo do poço! Daqui a pouco vou estar me perguntando o porquê de se comer bacon no café da manhã, isso sim seria o cúmulo!"
Riu-se de si mesma e de seus pensamentos bobos.
"Bem, minha amiga, é isso! E meus parabéns (mesmo que seja atrasado)!!!
Muitos beijos,
Luna Lovegood (quase Lupin).
Post Scriptium - Não se esqueça de ler a carta que está junto do seu presente antes de usá-lo. É importante."
Gina sorriu. A amiga não tinha jeito mesmo! Será que aquilo tudo era material para umbanda? Conhecendo aquela doidinha, havia grandes possibilidades.
"Se bem que no meu caso, nem a tal macumba resolve."
Gina lembrava-se claramente de Luna lhe falando da tal coisa. Na época não entendera e Luna a alugou por um bom tempo tentando explicar, e mesmo sem querer, Gina viu-se aprendendo sobre algo tão… como dizer? Diferente!
Gina pegou a caixa que Luna lhe mandara e começou a desembrulhar, desanimada, pois no fundo sabia que aquela seria mais uma das coisas birutas e sem nexo que a amiga tinha fixação.
A jovem fitou a caixa levemente pesada de camurça negra, a caixa era muito chique, porém não tinha etiquetas com nome algum de lojas de artigos de magia alternativa. Na verdade, não tinha etiquetas.
Abriu-a impaciente e teve a maior das surpresas que poderia esperar. Não era nada de artigo de umbanda, e nem remotamente algo esquisito que fosse a cara de Luna. Passou a mão pelo fino tecido brilhante, tentando descobrir de que tecido se tratava. Tinha um toque suave ao tato, um tanto macio, parecia que ela carregava as ondas do mar sobre seus braços, o vento parecia brindar o tecido com sua suavidade. Sem poder crer em seus próprios olhos, Gina tirou o tecido da caixa, o azul claro e brilhante reluziu levemente iluminando o tecido, fazendo com que uma luz emanasse do tecido. Era um lindo vestido. De mangas compridas e levemente largas. O vestido era comprido e tal qual as suas mangas, esvoaçariam completamente ao vento. O azul do vestido era celeste, mas estranhamente parecia mudar de cores em determinadas luminosidades.
Gina tinha que admitir, dessa vez Luna acertara em cheio. Ela segurou contra o corpo, tentando ver o efeito que teria. Parecia-lhe simplesmente perfeito. Aquele era o vestido mais lindo que já vira na vida.
-Muito bem, Weasley! -Gina assustou-se ao ouvir uma voz grossa e ressonantemente sexy vindo da porta, e involuntariamente deixou o vestido cair- Parece que você anda usando seu horário de trabalho para provar vestidos.
Raivosamente, Gina abaixou e pegou no leve tecido de ondas do mar, e enfiou-o de qualquer jeito dentro da caixa.
-E se eu estiver? -A jovem ruiva perguntou desafiadoramente, perguntando-se como ele podia ser tão petulante- Eu passo tempo demais nesse laboratório e você sabe disso. Eu só saio no horário das refeições e obviamente para dormir. Não tenho folga. Nós não vivemos mais em regime de escravidão, isso acabou há muito tempo atrás. Então dei me o luxo de dar uma pequena pausa para abrir meus presentes.
-Weasley, recebendo presente do Dia dos Namorados? -Ele perguntou imprimindo a sua voz um tom zombeteiro, juntamente com um sorriso de escárnio que a irritou- Creevey está lhe mandando as fotografias de Potter, autografadas? Ou seria Thomas, enviando artigos de esportes trouxas? Talvez seja o próprio Potter, lhe deixando a resposta daquele poema ridículo. Como era mesmo? Seus olhos são verdes como dois sapinhos... -Malfoy começou a entoar. E naquele momento, Gina decidiu. Ela simplesmente sentia um ódio crescente por ele. Ela não merecia ser ultrajada daquele jeito. Ele feria seu orgulho e isso tinha o poder de simplesmente irritá-la mais ainda.
-Porque isso interessa a você, Malfoy? -Gina perguntou friamente, ignorando-o. Pegou a caixa e começou a procurar a carta que Luna disse que encontraria dentro. Logo achou um outro envelope a um canto da bela caixa. Abriu-o calmamente, fingindo que não havia ninguém mais no recinto além de Tobby e a si- Pelo que saiba isso é um assunto pessoal referente a minha pessoa, que nada tem a ver com a sua. Se eu recebo presentes de amigos ou namorados, creio que isso apenas da MINHA conta!
-E é com prazer que respondo que minha vida não tem nada a ver com a sua. Meu interesse era apenas sumário, pois quando pago a alguém quero ver resultados e zelar para que o trabalho seja executado com perfeição. -Respondeu ele dando de ombros, porém era perceptível a sua surpresa ao ouvir a aspereza das palavras da jovem. Ele parecia, repentinamente, ter erguido paredes de aço em defesa ao redor de si. Todavia, Gina não queria dar importância a isso, só queria que ele sumisse de sua frente, para que o pudesse esquecer e trabalhar em paz.
-Ótimo! Bom para você! Agora, eu ficaria grata se você me desse licença e deixasse me dedicar inteiramente ao meu trabalho. -Gina disse erguendo apenas os olhos em direção a ele, sem mostrar qualquer emoção além do desprezo crescente.
Malfoy com certeza deve ter pensado que aquilo era uma grande insolência, mas não se moveu. Jamais obedeceria a uma Wealey. Então entrou e foi olhar as pequenas cobaias.
Gina deu de ombros, resignada. Sabia que a casa era de Malfoy, porém não podia suportar a idéia de ficar muito tempo perto dele. Pois apesar de tudo, ainda vinha pensamentos pecaminosos a sua mente quando olhava para ele. Pensava em tudo que tivera com o rapaz, e que ele nem ao menos sabia que houvera entre ele e uma Weasley.
"Aqui está Gi, como prometi a você, a história do vestido.
Eu fui a uma loja que encontrei em uma das minhas viagens como auror, em Atenas, na Grécia. Era uma lojinha pequena e misteriosa, uma senhora já de idade, era minha simpática vendedora.
A velhinha me disse que, a cada final de estação, as mulheres idosas se reuniam em uma floresta, onde uma clareira deixava a lua beijar sua mata virgem, em um lugar chamado Nowhere, seja lá onde quer esse lugar fique. E nela elas colhiam fibras de uma planta que dava uma bela flor em noites de lua minguante, com propriedades ainda desconhecidas pela medicina, mas... Elas garantem que tem poder sobre os homens!
Dizem que atrai os olhares dos homens especiais em nossas vidas. E eu tenho CERTEZA de que ela funciona... Eu usei para atrair o olhar do Remo, e adivinha? Funcionou!!! Nós nos acertamos por causa daquele maravilhoso vestido (e um pouco de resistência minha, é claro...)!
E é por isso que eu estou dando-o a você, minha querida amiga... Quem sabe assim você não tem uma chance com Harry Potter? Você não dizia que apesar de sair com outros, você ainda sentia algo forte por ele? Não sei. De qualquer forma, eu espero que você o use e que te ajude a ganhar quem quer que você queira...
Amiga, eu acredito que você vai conseguir o que você quiser...
Sinto por não poder me estender mais, mas eu tenho que andar por aí atrás de um vestido de noiva (como eu nunca havia pensado que um dia usaria...). Papai vai comigo. Ele adorou a notícia do meu casamento. Demorou muito para que ele se acostumasse com a idéia de me casar com um homem bem mais velho que eu, mas no final, ele percebeu como Remo me faz feliz...
Beijos,
Luna Lovegood (futuramente Lupin!!!)
Gina riu. Ela pensando que aquele era um presente normal... Só a Luna mesmo para crer em coisas como aquela. Mas de qualquer forma, era um belo vestido e ela o usaria assim que tivesse uma oportunidade, o que provavelmente não seria ali em Nowhere.
Luna mencionara Nowhere... Seria a mesma planta que teria de colher naquela noite? Ela deu de ombros e sorriu, estranha coincidência.
Quanto a Harry, ela já não esperava mais nada dele. Na maldita noite de Natal em que bebera, ela contara a Harry todos os seus sentimentos. Ele lhe dissera que amava outra mulher. Ela ficara triste, mas não podia negar que seu coração se aquecera ainda mais por ele lhe ter sido sincero. Ele podia muito bem tê-la beijado e passado a noite com ela, jogando-a fora no outro dia, apenas para curar sua dor-de-cotovelo, contudo não o fez.
Ela lembrava-se de ter ficado mais impressionada com ele por causa disso, mas ele lhe confessara que amava Hermione, então ela decidira que daria uma ajuda. Apenas lamentava por não ter tido oportunidade...
Pegou o segundo pacote. Este possuía um tamanho menor. Uma caixa em veludo negro, devia ter 20 centímetros por outros 20. Não se via o remetente. Isso a deixou ensimesmada, buscando em sua memória alguém que lhe daria um presente daquele estilo.
Seu olhar correu pelo aposento. Para seu total alívio, viu que Malfoy se fora. Com cuidado abriu o pequeno lacre, que ela sabia ser de uma daquelas lojas que em sua juventude, pode apenas contemplar do lado de fora as belas peças. Prendeu a respiração a espera do que viria em seguida.
Deparou-se com um belo anel de ouro, bastante grosso, com um grande brilhante em seu meio. Gina observava admirada com o conteúdo da bela caixa e ao mesmo tempo surpresa. Aquele era um tradicional (e caro) anel de noivado.
Olhou furiosa para o anel. Alguém estava brincando com ela. Só podia ser. Quem em sua sã consciência enviaria um anel de noivado para uma mulher comprometida com o trabalho? Era uma brincadeira. Não tinha outra explicação. Outra pessoa não poderia ter mandado.
Mas ainda assim não pode deixar de admirar o belo anel. Ela podia ver o diamante de tamanho considerável reluzir o arco-íris, contra a luz solar que adentrava em pequenas nesgas pelas persianas no aposento. Estava completamente cativada, principalmente porque sabia que no fundo, ninguém a enviaria aquilo a troco de nada.
Pegou-o do estojo e deixou-se admirá-lo de mais perto, como se não cresse que aquela bela jóia estivesse realmente ali, em suas mãos. Estava pondo o anel no dedo quando viu um pequeno fio de nylon agarrado ao anel, suportando um pequeno recado no fim dele. Gina olhou o recado, com a curiosidade a flor da pele. O coração disparado, com a simples menção de que talvez alguém estivesse interessado nela. Fechou os olhos, como se quisesse conter a si mesma, fingindo não estar realmente interessada, querendo apenas provar a si mesma que poderia resistir a curiosidade. Porém foram apenas cinco segundos, pois no minuto seguinte viu-se pegando o fio de nylon que se abriu e mostrou-lhe uma letra caprichosa e arredondada. Ele apenas dizia:
"Vivian, estou a sua espera essa noite. Quero que venha me encontrar, tenho uma surpresa para você. Apenas coloque este anel em seu dedo exatamente às 21:00 horas e você virá direto para mim.
Por favor, não nos negue uma chance,
Mark Carter"
Malfoy??? O anel era de Malfoy? Ok, agora ela estava mais confusa que nunca. Malfoy obviamente não mandara aquilo para ela. O "Vivian" que constava na carta deixava aquilo bem claro. Ele queria Vivian. Mas saberia ele que Vivian não passava de uma invenção de Gina, ou melhor, de um outro estilo da Gina Weasley? Elementar, cara Gina! É óbvio que não. Pois se soubesse jamais faria um convite tão implícito assim a ela, a pobretona, a adoradora de Sangue-ruins... Na verdade, se soubesse que ela era Gina nem mesmo a pediria em casamento, implícita ou explicitamente.
Mesmo que seu âmago lhe implorasse para que ela fosse, não iria. Por quê? Porque ele não a queria. Ele desejava apenas Vivian Winter, uma personagem inventada por ela para apenas se divertir uma noite após tanta preocupação e estudos. Porque o homem que ela encontraria lá, para todos os efeitos ainda seria Malfoy e não o surreal Carter e que quando descobrisse que Vivian era na verdade Gina, ficaria furioso, o que não seria bom para a saúde dele, e conseqüentemente para seus experimentos. Porque sabia que se fosse talvez caísse novamente na lábia de Malfoy e talvez até aceitasse o pedido dele de casamento. E isso a meteria em grandes apuros. Maiores do que qualquer coisa que pudesse trilhar para que pudesse galgar para encontrar uma saída. E acima de todos os motivos: Porque ele é um Malfoy. E uma Weasley e um Malfoy jamais se envolvem, a não ser que seja para brigar.
"Only when I stop to think about it...
I hate everything about you!
Why do I love you?
I hate everything about you!
Why do I love you?"
"Somente quando eu paro de pensar sobre isso…
Eu odeio tudo em você!
Porque eu te amo?
Eu odeio tudo em você!
Porque eu te amo?"
Gina lutava contra si mesma, numa espécie de batalha interna. Seu coração pedia para que fosse, mas seu orgulho ferido dizia que seria idiotice errar de novo daquela forma.
Da primeira vez, apesar de ter sido dura a aceitação, ela ainda tinha seus argumentos... Ela dizia a si mesma de que não tinha idéia de que aquele homem envolvente fosse Malfoy, de que naquela noite, Gina Weasley não era ela mesma. E isso dera certo até que ela percebeu naquele momento, que estava fraquejando a seguir a decisão mais sensata, e constatava que suas barreiras erguidas a custo de um mês de trabalho psicológico, ruíam com uma rapidez estonteante.
Isso nunca poderia dar certo! -Dizia a si sem mais saber como seguir com aquilo tudo. Estava visivelmente desnorteada- "Tudo o que fazemos quando estamos juntos é brigar. E como duas crianças insensatas. Crianças essas, que não aceitam perder um para o outro em hipótese alguma. Não dá! Simplesmente não dá! Ele jamais aceitaria o fato de que eu sou uma Weasley. Eu mesma não sei se aceito o fato dele ser um Malfoy."
Fechou os olhos confusa. Queria simplesmente nunca ter ido até aquela maldita boate naquela noite. Um enorme remorso começou a corroer o seu ser. Sentiu seu rosto enrubescer, porém não era capaz de separar esse sentimento dos restantes. Portanto, nunca soube se o que sentia era uma amarga e constrangedora raiva, ou simples e inofensiva vergonha de suas atitudes.
Quis chorar por tudo isso. Sentindo-se impotente perante o grandioso quebra-cabeças da vida. Quebra-cabeças do qual ela não podia fugir e que tinha plena ciência de que era apenas mais uma peça maleável dele.
Ao abrir os olhos, viu que um béquer explodira, espalhando cacos de vidro por todo o laboratório. Era a sua bendita raiva se externando. Porque no fundo ela sentia que perdia a batalha contra si mesma e isso a enfurecia profundamente.
Sacudiu a cabeça e pôs a caixinha dentro da gaveta, tentando não olhá-la para que fosse possível trabalhar em paz. Sem que a lembrança do belo sorriso de Carter lhe viesse à cabeça. Ela não sentia a falta dele! Ao menos era nisso que ela queria acreditar...
"Everytime we lie awake
After every hit we take
Every feeling that I get
But I haven't miss you yet"
"Toda vez que deitamos acordados
Depois de todo golpe que tomávamos
Todo sentimento que eu possuo
Mas eu ainda não sinto sua falta"
Gina olhava em volta do aposento, abria alguns livros e os folheava, mas naquele dia, simplesmente não conseguia se concentrar. Dizia a si mesma que era tudo besteira, que estava simplesmente sendo emotiva demais, que para acabar com aquilo era somente não comparecer.
Seria muito fácil, se ela realmente não quisesse. Se ela realmente tivesse o esquecido como afirmara inúmeras vezes durante aquele mês. Se ela não acalentasse lembranças daquela noite, todos os dias após encontrá-lo, antes de dormir.
Porque as pessoas tinham que se sentir solitárias? E porque tinham que encontrar o toque especial que faltava em suas vidas no que lhes era nocivo. Sim, pois aquilo que acontecera entre ela e Malfoy fazia muito mal a saúde mental dela. Era como se ela fosse uma criança que espera pela páscoa. Sempre observando de longe o momento de abrir aquela gostosura, mas parece que o dia nunca chegava. Alimentando-se apenas das lembranças da páscoa passada onde se fartara até não ter mais... Só que com Gina era pior, ela podia se lembrar do passado, contudo diferente da criança, jamais reviveria tais momentos.
Droga de dia! Estava exatamente chato e estressante. Olhava para o relógio a cada cinco minutos. Para sua irritação, eram apenas 10:23 da manhã, não era um dia em que ela conseguisse se concentrar em algo.
Depois de algum tempo, baixou sua cabeça até o livro, e deu um suspiro, mostrando-se entediada. Quanto tempo demoraria até o 12:00? Sorte que naquele dia só trabalhava obrigatoriamente meio expediente... Não se sentia disposta a passar toda a tarde enfiada naquele laboratório! Apesar de ser o que ela fazia todos os sábados, ela não passaria o dia enfurnada ali. Já não bastava as noites infindáveis que dedicava a experiência de Malfoy! Naquele dia iria a praia! Pensando bem, ela iria mesmo. Não era apenas mais uma das promessas de que iria se divertir que fazia a Carmem, mas nunca cumpria. Iria curtir o mar que tanto amava. Ou ao menos tentar parecer menos branca, pegando um sol.
"Nossa! Falando assim até pareço a Hermione... Ela decididamente não se permitia divertimento até que todos os assuntos pendentes fossem encerrados."
-Chega de pensar em Malfoy, em pesquisa, em problemas, em Vivian! -Gina disse a certa altura, levantando-se e jogando um livro que estivera pousado em seu colo no chão- Que todos se explodam, mas hoje eu vou a praia!
-Senhorita! -Tobby gritou sobressaltado- O que está acontecendo?
-Não é nada demais. -Gina respondeu pegando o livro e o deixando sobre sua escrivaninha, desligando o laptop e parando em frente ao elfo- Eu apenas resolvi tirar o sábado livre, como eu não venho fazendo desde que cheguei aqui.
-Então vão ser adiadas todas as tarefas da tarde? -o elfo perguntou sem muita convicção, meio descrente das palavras da jovem.
-Não todas... -Gina disse a meio caminho da porta- Seria te pedir muito que cuidasse da verificação a cada três horas das minhas pequenas cobaias?
-Claro que não, senhorita! -o elfo disse com um sorriso disforme em seu rosto verde, com toda certeza era de satisfação. Ele, apesar de saber coisas especiais como ler e escrever, diferindo-se dos outro elfos, não podia renegar sua raça submissa- E a noite a senhorita terá de colher a planta, certo?
-Para mim está ótimo! -Gina disse saindo pela porta e indo até o quarto no qual estava hospedada.
Vestiu-se rapidamente com um biquíni que encontrara separado no guarda roupas. Para sua surpresa, o biquíni verde-água lhe servira perfeitamente, apesar de ser um pouco diminuto, mas serviria para tomar um sol. Pôs um vestidinho largo por cima, todo trabalhado em crochê, de alças que hora ou outra lhe escapavam os ombros. Fora sua mãe quem o fizera, mas por conta da sua má-alimentação, este vestido também se tornara largo.
Deu de ombros e fitou o relógio: Eram 11:57. Passaria na cozinha e pediria para Carmem lhe dar uma pequena sexta de piquenique para que comesse com a orla marinha.
Saiu descalça mesmo em direção as cozinhas.
-Carmem! -Chamou da porta do recinto bem iluminado.
-Sim? -Respondeu a voz doce e calorosa da senhora, depois se espantou ao vê-la ali- Virgínia??? Meus olhos não crêem no que vêem. Você fora daquele laboratório no horário correto do almoço? E com roupas de praia? Você está bem, menina?
-Estou ótima, Carmem, querida! -Ela disse correndo para abraçar a senhora que lhe era como uma mãe desde que chegara- Decidi apenas aproveitar o sol lá fora... Será que você pode arrumar algumas frutas numa cesta para que eu possa levar comigo?
-Claro! -A senhora respondeu prontamente, se separando do abraço da jovem- Gostei de ver que você vai sair para se divertir, depois de tanto trabalhar. Até os gênios merecem folga, querida!
-Eu sei, Carmem. -Gina disse num sorriso- Mas eu não sou um gênio, sou apenas Gina Weasley...
-Não seja modesta, menina. -Carmem recriminou, mas sorriu- Jamais se rebaixe, mas também não se supervalorize. Tenha tudo na medida exata.
-É o que tento fazer, Carmem. -Gina respondeu enquanto via a senhora arrumar a cesta- Minha mãe costumava me dizer o mesmo.
-Senhora esperta, a sua mãe. -Carmem comentou, entregando a cesta a ela- A propósito, Draco estava com você?
-Não. Ele saiu de lá do laboratório bem rápido. -Gina respondeu franzindo o cenho- Porquê?
-Ele sumiu desde cedo, com alguma comida. -Carmem respondeu parecendo preocupada- Mas ele já é adulto, deve estar bem.
-Bem, eu já vou. -Gina disse caminhando para a porta dos fundos.
-Gina! -Carmem chamou, ao que Gina virou-se- Parabéns! Você provou a Draco que pode ser bastante inflexível! Esse é um teste do Draco, ninguém costuma passar com louvor, como você fez.
Gina acenou e brindou-a com um belo sorriso satisfeito. Depois saiu pela porta apressadamente, chutando a areia fina que passava por entre seus pés. Espalhava-a pelo caminho alegremente, como não fazia há realmente muito tempo, talvez desde que era criança.
Calmamente fitava o mar sereno, semelhante ao dia em que chegara. Porém sabia que um dia jamais era igual a outro. Sempre, cada um tinha sua particularidade, seja essa boa ou ruim, para os próprios mortais. O mar parecia estar sofrendo efeito direto de Poseidon, deus dos mares. Bem, ela não estava na Grécia? Talvez o próprio Deus tivesse mexido seu tridente mágico e o feito tão límpido e bonito naquele dia. As espumas das quebras das ondas vinham tocar-lhe docemente. Ao primeiro contato, Gina pulou. A água estava realmente fria, perfeita para esfriar os pensamentos que mais podem consumir a alma de um pobre mortal. Em seguida, ao acostumar-se com ela, saiu chutando as águas para todas as direções, sem se importar, como fazia na infância... Infelizmente não tinha Percy para gritar pela mãe dizendo que Gina o estava molhando todo.
Iria procurar um lugar tranqüilo para repousar. Ela tinha colocado dentro da bolsa que trazia junto ao cesto que Carmem lhe dera, um romance que achara o prólogo interessante. Iria lê-lo enquanto repousaria ao sol. Perfeito! Nada melhor do que passar o dia dos namorados sonhando com um homem maravilhoso, que ela sabia só existir em romances mesmo. Ok, não era tão perfeito assim... Mas era bem mais agradável do que se meter em mais furadas como fizera anteriormente, junto ao suposto Carter.
Um dia dos namorados sem namorado... Mais um. Gina não sabia porquê, mas sempre se sentia melancólica quando chegava esta data e se encontrava novamente só. Já não era surpresa. E ela tinha ciência de que não podia reclamar, ela assim escolhera quando entrara na Faculdade.
Ela olhou em volta de si. Já estava longe o suficiente de todos. Na verdade, se afastara até o penhasco que vira quando chegara, e adorou vislumbrar aquele espetáculo da natureza: as ondas quebravam sobre ele suavemente, e as gotículas de água que se espalhavam docemente pelo local, quando o sol as capturavam com a sua luz, brilhavam com milhares de arco-íris em toda parte, parecendo pequenos diamantes divinos.
Sem desgrudar os olhos daquele espetáculo, ela pegou a canga de praia que achara e estendeu sobre a areia, largando a bolsa no chão e sentando-se em seguida, ainda a admirar as ondas e seus efeitos.
Depois despiu o vestido. Precisava pegar um solzinho, já não estava branca e sim anêmica, de tão alva!
Pegou em sua bolsa um pequeno livro que achara escondido no quarto. Lera a sinopse. Era a história de uma jovem bióloga que voltava para a sua cidade após muitos anos em busca de vingança, pois um homem de lá havia desonrado sua irmã mais nova. Ela fica abrigada na casa de um homem que é especializado em cultivo de escorpiões e usa isso como pretexto para estar na cidade, mas tudo o que ela quer é acabar com o homem que fez mal a sua irmã. O maldito, é melhor amigo do especialista em escorpiões. Ela entra num conflito interno, pois se apaixona pelo sedutor Milo (o dos escorpiões), mas deve conquistar Carlo (o cara que fez mal a jovem irmã), para depois humilhá-lo. Parecia algo interessante.
Se aquilo fosse mesmo real, havia com toda certeza, uma mulher menos afortunada que ela. Pelo menos a mulher do livro não tinha passado uma noite com o seu pior inimigo! Talvez o odiasse ainda mais, como ela, Gina! E talvez não estaria tão tentada a aceitar o convite dele para que saíssem naquela noite!
Droga! Odiava toda essa situação!
Queria saber porquê o destino insistia em pregar essa peça nela. Ela nunca fora alguém malvado ou mal-intencionado. Porquê teve de ser Gina Weasley? Algum motivo tinha. Pois ela aprendera que na vida, absolutamente nada acontecia por acaso. Será que Draco sabia dessa ligação de destinos que passara a existir entre eles? Provavelmente nem imaginava, principalmente porque se tratava de Gina e não da Vivian inexistente.
"Only when I stop to think about it…
I hate everything about you!
Why do I love you?
I hate everything about you!
Why do I love you?
Only when I stop to think about you…
I know
Only when you stop to think about me…
Do you know?"
"Só quando eu paro para pensar nisto…
Eu odeio tudo sobre você!
Por que eu o amo?
Eu odeio tudo sobre você!
Por que eu o amo?
Só quando eu paro para pensar em você…
Eu sei
Só quando você pára para pensar em mim…
Você sabe?"
Abriu o livro, tentando por tudo afastar seus pobre e decadentes pensamentos daquilo tudo. Afinal, estava ali para esquecer, e não se afundar ainda mais dentro desses pensamentos.
Era o capítulo em que a heroína chegava a Grécia, sob o seu próprio disfarce. Era totalmente sedutora, tal como Vivian. Oh, não! Recordara-se de novo de Vivian!!! Inoportunamente comparando-a com a personagem de um livro que não tinha nada em comum com a sua pobre vidinha subversiva.
Pôs os olhos de novo no livro. Marianne se encantara assim que vira Milo, tal como ela e Carter. Porém não saíram trocando beijos apaixonados, como Gina fizera.
Prometeu a si mesma que não iria mais comparar sua história com Carter, com aquele romance! Então abaixou a cabeça no livro e continuou a ler, dessa vez deixando seus pensamentos vaguearem, entretendo-se realmente no romance, como se ela fosse a protagonista.
Era interessantíssimo, cheio de ação e suspense. Quando menos se esperava, Marianne aprontava algum para cima de Carlo, mesmo tendo risco de ser desmascarada.
Agora ela estava na casa de Carlo, dentro do quarto dele, em busca de evidências, quando subitamente a porta se abriu e...
Gina não conseguiu saber, mesmo estando com os olhos arregalados de curiosidade, pois vira o livro ser tomado de sua mão. Olhou para a direção que o livro voara, com o rosto queimando de raiva.
Avistou Malfoy pegando o livro no ar, já que usara um feitiço convocatório. Ah, como o odiou naquele momento! Como ele se atrevera a tomar-lhe o livro na melhor parte???
Ele estava usando apenas um calção, estava todo molhado, devia ter saído da água. Gina não pôde deixar de notar, os ombros largos, tórax musculoso, e os braços fortes dele, sem mencionar o maravilhoso sorriso de desdém estampado em sua face.
-Eu não esperava encontrá-la aqui, Weasley. -Ele disse fitando-a a uma distância de dois metros, tendo de apertar os olhos para enxergá-la, já que a luz solar estava contra ele.
-Para sua informação, Malfoy, são 1 e 25, portanto meu expediente neste sábado está encerrado. -Gina disse dando de ombros ao comentário dele.
-Então finalmente deixou Carmem fazer sua cabeça para largar aquilo um pouco. -Ele observou em tom baixo, mais para si mesmo que para ela, depois ergueu a cabeça para fitá-la melhor. Fez isso de alto a baixo e soltou um assovio baixo- Você fica bem sem aquelas roupas todas, embora eu ache que deveria ficar melhor sem nada...
-Como se atreve? -Gina perguntou sentindo-se ofendida pelo comentário dele, nem se tivessem intimidade deixaria de se ofender- Eu jamais lhe dei liberdade para fazer esse tipo de comentários! Olha que eu posso te processar por assédio sexual!
-Sim, você poderia. -Malfoy considerou por um momento, para depois sorrir triunfante- Mas jamais teria como provar suas acusações. Vê alguém aqui além de nós dois?
-Ora, Malfoy! Não seja ridículo! -Gina disse sentindo um sorriso brotar de seu rosto- Você bem sabe que hoje, qualquer um compra uma testemunha.
-Weasley, a pobretona, boa samaritana, defensora dos pobres, oprimidos e babacas, -Draco disse em meio a um sorriso zombeteiro e uma falsa expressão de surpresa- está me dizendo ser capaz de manipular o nosso "maravilhoso" sistema judicial. Estou surpreso! Será que foi por isso que Potter a deixou?
-Não seja imbecil! -Ela começou com um ar de desaprovação- Harry e eu nunca tivemos nada além de uma grande amizade.
-Mais revelações bombásticas, por Virgínia Weasley! -Draco continuou com um sorriso sarcástico- O próximo best-seller mundial. Como Harry Potter, o idiota que sobreviveu, deu um pé na bunda de Virgínia!
-Seu idota! -Gina exclamou entre dentes, mas sorrindo em seguida- Tenho um best-seller melhor para você: Como Draco Malfoy se tornou um pedófilo ao passar noites com crianças inocentes em boates super movimentadas.
Draco Malfoy arregalou os olhos, tamanha foi sua surpresa. Gina sabia que não deveria ter tido um ataque de impulsividade e simplesmente ter mencionado algo como aquilo. Ele podia reconhecê-la, e isso não seria nada bom. Recriminou-se por ter dito aquilo, mas manteve um sorriso superior estampado em sua face.
-Como... Como você pode saber disso? -Ele disse se recuperando do susto que levara.
-Então você realmente passa noites com meninas inocentes? -Gina perguntou fingindo estar perturbada com a reação dele, querendo fazê-lo pensar que ela apenas jogara aquele comentário para cima dele para ver se colhia algo. Depois substitui sua falsa perturbação para um tom de puro escárnio- Que coisa feia, Malfoy! Isso dá cadeia!
Malfoy se calou. Sabia que se fizesse algo, podia perder a calma e entregar-se ainda mais nas mãos dela. Jamais imaginou que Weasley podia ser tão esperta. Teria ter cuidado ao jogar com ela. Pareceu-lhe que ela sabia algo sobre Vivian, talvez fosse apenas imaginação sua, não tinha como saber, já que a expressão de espanto dela parecia ser autêntica. Odiou-a por tê-lo feito revelar mais que devia.
Baixou os olhos para o livro. Surpreendeu-se ao notar que não se tratava de nenhum livro científico e sim um daqueles romances vagabundos que sua mãe costumava ler.
-Weasley, lendo essas porcarias! -ele disse zombeteiro, rindo-se do súbito rubor que acometeu as faces dela- Não sabia que você acreditava em príncipes encantado montados em cavalos brancos.
-Quem lhe disse que eu acredito? -Gina disse na defensiva, sentindo-se como uma criança que aprontara alguma e fora pega por seu pai- Eu poderia muito bem estar testando uma tese sobre o efeito do ocitocina* nas mulheres ao lerem esses romances e talvez tenha me oferecido como voluntária.
-A quem você pretende enganar com isso Weasley? -Malfoy respondeu ao notar que ela acabara de inventar uma grande mentira, já que não conseguira encará-lo- Porquê não deixa seu orgulho de lado e admite que sonho com um homem perfeito que só existe na cabeça das pobres mulheres solteironas que ainda sonham em se casar.
-Eu não quero me casar! -Gina disse tomando aquele comentário como uma forma de chamá-la de solteirona- Sou auto-suficiente e bem mais esperta do que qualquer um de você, homens!
-Weasley, a tia solteirona! -Malfoy provocou-a com satisfação ao perceber que estava dando certo, e que ela começava a corar violentamente de raiva- Deveriam chamá-la assim nos livros de história, já que você não está muito longe disso.
"I hate everything about you!
Why do I love you?
You hate everything about me!
Why do you love me?"
"Eu odeio tudo sobre você!
Por que eu o amo?
Você odeia tudo sobre mim!
Por que você me ama?"
-Se eu sou ou deixo de ser uma tia solteirona, isso é apenas problema meu, Malfoy! -Gina respondeu realmente chateada, estava a ponto de azará-lo, tamanha a animosidade entre eles- Vá cuidar da sua vida e me deixa em paz!
-Quem deveria estar cuidando da minha vida é você, já que é paga para isso! -Malfoy retrucou num sorriso.
-Você não perde uma oportunidade para jogar na minha cara que eu não estou no laboratório como você gostaria, não é? -Gina retrucou irritada- Mas tenho algo para lhe dizer, não posso continuar a pesquisa sem aquela planta da qual lhe falei. Não pense que é incompetência minha ainda não ter arrumado-a, mas ela deve ser colhida em uma data específica, no caso hoje à noite. Então tenho a tarde livre e nem você vai estragar minha diversão!
-Acalme-se, Weasley! -Malfoy disse num sorriso zombeteiro- Não quero te irritar a ponto que você coloque cianureto em meus remédios!
-E agora vem atentar o meu profissionalismo... -Gina comentou contendo sua raiva- Malfoy, me dê esse livro e se manda daqui! Eu preciso terminar minha experiência com a ocitocina!!!
-Venha buscar! -Ele disse sorrindo de forma marota.
Gina correu para cima dele para pegar o livro, que ele ergue bem alto acima da sua cabeça.
-Não seja infantil, Malfoy! -Gina gritou irritada, pulando e tentando arrancar o livro da mão dele, mas Malfoy levava vantagem por ser bem mais alto- Eu tenho mais o que fazer do que ficar brincando com você!
-Está com medo de não conseguir me vencer, Weasley? -Desafiou-a num sorriso maroto, extremamente belo e convidativo.
-Você acha que não sou capaz? -Questinou-o com um sorriso, aceitando o que lhe era proposto.
-Sim, eu acho! -Malfoy apenas respondeu, quando viu que Gina prendera uma de suas pernas com a dela, tentando derrubá-lo. Na verdade ela foi muito eficiente, já que ele realmente estava perdendo o equilíbrio e estava a meio caminho da areia. Ele apenas teve tempo de puxá-la consigo, fazendo-a cair em cima de si.
-Eu fiz aulas de defesa pessoal! -Ela disse rindo da expressão completamente surpresa dele- Uma moça deve saber como se defender, embora não tenha saído exatamente como eu queria.
Draco riu da resignação dela conto a execução de seu golpe, parecia ter se esquecido que era uma Weasley que estava deitada sobre ele. Olhou o rosto angelical dela, os lábios cheios, os olhos castanhos, iluminados pela euforia do riso. Pela segunda vez desde que ela chegara a Nowhere, se surpreendera com a beleza natural dela.
Lentamente ela notou que ele havia parado de rir e que a encarava estranhamente. Uma nova atmosfera parecia ter acometido os dois, agora podia sentir o calor dos raios de sol sob suas costas, mas estes não eram mais quentes do que o calor que vinha onde seus corpos se encostavam. Ele passou seus braços musculosos ao redor da cintura dela, pousando uma de suas mãos sobre a cabeça dela, puxando-a para mais perto de seus lábios. Gina mostrou um olhar turvado de desejo, para em seguida fechar seus olhos, submissa ao seu desejo e ao dele. Ela apenas esperava ansiosa pelo toque dos lábios dele novamente nos seus. Mal podia conter sua excitação, sonhava com seus beijos de novo desde a noite na boate.
Ela sentiu os lábios dele roçarem no seus bem devagar. Ela mal podia crer.
Draco Malfoy, seu Mark Carter, estava beijando-a!!! Ele estava BEIJANDO Gina Weasley!!!
"I hate!
You hate!
I hate!
You love me!
I hate everything about you!
Why do I love you?"
"Eu odeio!
Você odeia!
Eu odeio!
Você me ama!
Eu odeio tudo sobre você!
Por que eu o amo?"
*ocitocina: Hormônio que os cientistas acreditam que é o causador das reações aos estímulos causados pelo sentimento que chamamos amor. Sim, este é o hormônio do amor.
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Era tão bom sentir aquela sensação dos beijos dele novamente. O movimento lento e ritmado dos lábios dele faziam seu coração se descompassar. Não era o mesmo beijo que trocaram na boate, este era mais seguro, mais atencioso, mais delicioso. [...]
Deus, o quê ela estava fazendo??? Ela, Gina Weasley, estava beijando seu pior inimigo em sã (?) consciência!!! Aquilo não podia continuar, teria que se desvencilhar dele! Não podia continuar![…]
Ela estava em frente a uma bela cachoeira, era nas margens do pequeno riacho que ficavam as flores. Nunca vira coisa mais linda! […]
O quê??? Como podia? Malfoy estava ali??? Meu Deus! Se ele a visse, descobriria que ela era Vivian Winter! O que ele estava fazendo ali? Era para ele estar plantado em algum lugar longe dali, esperando pela Vivian! […]
COMENTEEEEEEEEEEEEEEEEEEEM...
Notas:
Cláudia & Kamilly: Tah nós sabemos q vcs kerem mata a gnt por demora a caloka o cap no ar mais a questão é a seguinte: o nosso curso de férias tah mto foda e se a gnt naum passa no curso a gnt naum passa de ano e a gnt naum to afim de faze o 1° ano de volta...
Tah eu vo pega férias mais prometemos q se conseguirmos fala com a Eini e com a Fairy a gnt posta ateh o cap 10 antes do dia 6 de fev., mas as duas estaum se mudando e taum sem nete e naum estamos conseguindo fala com elas no celular... intaum gnt por favor calma, e please comentem...
me mandem e-mails...
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