Da Companhia da Morte a um Ami
Capítulo 6
DA COMPANHIA DA MORTE A UM AMIGO SEM-NOME
"Eu estava chocada. Era impossível me sentir indiferente quanto a algo como aquilo. Traição em pior grau. Principalmente porque eu confiava nela. Eu pensei que ela realmente amasse Harry…
-Chang… Por quê fez isso? -Eu perguntei num fio de voz, ainda mais cética. De repente ela parou de rir e baixou o capuz. Eu vi seu rosto se revelando. Infelizmente eu acertara em cheio. Os cabelos negros e lisos, olhos levemente puxados, característicos dos orientais, a pele alva e os lábios finos, não me deixaram duvidar de minha acertada conclusão- O Harry vai ficar… decepcionado.
-E você acha que eu não estou decepcionada com ele?! -Ela me perguntou perdendo a aparente calma. Parecia estar tendo um daqueles desabafos histéricos.
-Você não tem motivos… para se decepcionar com ele. -Eu ainda estava me esforçando para falar e meu corpo permanecia entorpecido, contudo minha cabeça ainda funcionava a mil. Perto da janela ouvi um pio forte de coruja, a minha amiguinha havia voltado e observava aquilo, parecendo bastante interessada, o que não era muito característico de uma coruja- Muito ao contrário… Você deveria se orgulhar dele.
-Cale-se! -Cho disse mostrando-se irritada e desferiu um forte tapa em meu rosto. Ao contrário do que se esperava, minhas faces se quer arderam, tamanha era a minha falta de sensibilidade. E eu ergui, com incrível esforço, minha face novamente para fitá-la de perto.
-Por quê tanto ódio… contra mim? -Eu perguntei tentando manter minha calma em evidência, o que pareceu irritá-la ainda mais.
-Não precisa fingir nada para mim, Hermione! -Ela disse surpreendendo-me, pois eu não sabia do que se tratava- Eu sei tudo sobre você e o Harry!
-Não seja imatura! -Eu disse num fio de voz, ainda me esforçando para formar palavras- Entre Harry e eu… Só existe amizade.
-Não minta! -Cho começou a olhar-me de forma ameaçadora- Eu não sou cega! Eu via a forma que ele te olhava. E tive a confirmação de tudo, quando ele não veio me salvar.
-Deixe-me ver se entendi… -Eu custava para acreditar no que Cho me dizia- Nas entrelinhas… Você quer dizer que deixou ser pega… Para testar o Harry?
-Basicamente… -Cho disse enfiando as mãos no bolso, com um olhar ferino- Na verdade, eles realmente me capturaram, só que eu não ofereci resistência.
-Harry só não veio… -Eu dizia tentando dissuadi-la e salvar a reputação do meu amigo- Porque o Prof. Dumbledore não deixou.
-Ah sim, -Cho disse com sarcasmo, apontando a varinha para mim- e talvez você ache que não sei que vocês estiveram na Sala Precisa sozinhos, fazendo Deus sabe o quê!
-Isso é um ultraje a minha índole! -Eu disse sentindo-me cada vez menos disposta a discutir.
-Parkinson me contou tudo! -Cho dizia, eu podia ver o ódio crivado nos negros olhos dela.
-E você se deixou manipular… -Eu disse desafiadora, eu realmente estava sendo muito insolente para alguém que estava passando por maus bocados- Porquê fez isso com o Harry…? Ele sempre te amou!
As correntes se soltaram de meus braços, por um instante pensei que tinha conseguido fazê-la ver o quanto estava errada. Entretanto quem estava errada era eu.
-Harry não fez nada para evitar que Cedrico morresse!!! -Cho gritou junto ao momento em que eu também gritava, pois meu corpo, inútil como estava, ao tocar o chão doeu com nunca. Era estranho, já que não reagira ao golpe de fúria dela.
-É mesmo!? -Eu disse gemendo de dor- Quem será que matou seu…ai… querido Cedrico? Não percebeu que se aliou… ao assassino?
-Cale-se! -Cho dizia com as mãos no ouvido, como se lutasse para não me ouvir- Você não é digna de mencionar o nome de um bruxo tão nobre quanto o Cedrico, sangue-ruim!
-Se eu não sou digna, -Eu continuava, com uma coragem que vinha não sei de onde. Em argumentação ninguém nunca me venceria- quem dirá você!
-Você foi longe de mais, Granger! -Cho gritou e, no ápice de sua fúria apontou a varinha para mim- Crucio!
Quando eu achava que não seria mais capaz de sentir dor, meu corpo me surpreende. Com o feitiço, ele pareceu despertar por inteiro. E a dor, que antes só vinha da perna, enquanto os demais músculos estavam adormecidos, iam se propagando a cada recanto de mim.
Sentia como se alguém tentasse enfiar uma faca cega em todas as partes do meu corpo. E que a cada segundo que se passava tentasse encravá-la novamente em mim. A voz finalmente saía de minha garganta, só que para fins desnecessários, já que gritava como nunca havia feito antes. Eu sentia a morte ao meu lado, rindo de minha cara. Dizendo-me para parar de sofrer e me entregar a ela, que eu obteria o descanso eterno.
Contudo eu teimava em dizer que não me entregaria sem lutar. Minha mente não era capaz de achar uma saída. Esta, nunca me abandonara antes, mas lentamente, era o que vinha fazendo. Eu ouvia dizer-me:
'Sinto muito você já me castigou muito. Dessa vez não vou agüentar. Fui uma companheira fiel durante a noite, mas você está pedindo mais do que eu posso lhe oferecer, ao implorar que eu arranje uma forma de nos tirar dessa encrenca. Ouça a voz da morte. Tudo acabará, estaremos bem se você parar de lutar.'
Eu jamais desistiria. Todavia, o que faria se minha própria consciência insistia em me abandonar? Senti-me redundante. Porém meu coração lutava com todas as armas que podia contra a dor. A faca invisível parecia que finalmente perfurara, de uma forma que não podia ver e sim sentir, meu peito. E eu sabia que o golpe que ela desferisse no segundo seguinte, me deixaria muito machucada, se não me matasse.
Eu podia senti-la cortando o ar em direção ao meu peito. Prendi a respiração, logo todo o sofrimento acabaria e eu descansaria em paz. Logo todos os meus tormentos se esvairiam e meus medos se dissipariam completamente e estaria tudo acabado.
Era engraçado como a dor, de repente, abandonara meu corpo. Finalmente eu teria o descanso eterno. Não sentia absolutamente nada. Nem dor, nem medo. Eu parecia incapaz de ter qualquer sentimento. Tudo era escuro. Só senti que estava dentro de um mar, molhada até a cintura. Ouvia alguém me chamar de algum ponto longínquo, não passava de um cicio que o vento trazia até os meus ouvido.
Catch me as I fall
Say you're here and it's all over now
Speaking to the atmosphere
No one's here and fall into myself
This truth drives me into madness
I know I can stop the pain
If I will it all away
Segure-me enquanto eu caio
Diga que você está aqui e que está tudo acabado
Falando para a atmosfera
Ninguém está aqui e eu caio para dentro de mim mesma
Essa verdade me leva a loucura
Eu sei que posso dar fim a essa dor
Se eu desejar que ela vá embora
'Será que é assim? Estou atravessando o mar das almas do mundo de Hades, como na mitologia grega?'
Nunca descobri. Porque poucos segundos depois, eu despertei. A dor voltava a cada músculo. Se eu não soubesse que é impossível sentir dor nos fios de cabelos, eu juraria que senti.
Ouvia alguém gritar meu nome. Reconhecia a voz. Tentei abrir os olhos para confirmar se aquilo não era apenas um sonho de uma alma perdida no limbo, no entanto, era um esforço muito grande para uma pessoa em meu estado.
Tremia de frio, ainda mais convulsivamente que na noite anterior. Senti que alguém tentava me reanimar. Eu queria dizer que estava bem, no entanto, havia total recusa de meu corpo a qualquer coisa.
Senti uma repentina onda de calor que começou em minha boca, e espalhou-se por todo meu corpo. Como se alguém acendesse a lareira dentro de um iglu, sei que é absurdo, contudo foi como me senti. O frio foi derretendo-se, como se fossem as paredes do iglu onde acenderam a lareira.
Conforme me aquecia, conseguia fazer pequenos movimentos com minhas mãos. Sim, eu podia senti-las novamente.
Minhas pálpebras não pareciam pesar tanto quanto anteriormente. As abri muito lentamente, tentando acreditar que ainda estava viva. A primeira coisa que vi foi o rosto de Harry na minha frente.
-Mione, que bom que está bem… -Ele disse me abraçando, parecia levemente pálido, como se tivesse tomado um susto muito grande.
-Como… chegou tão rápido? -Perguntei com grande esforço. Eu diria até que foi um sacrifício proferir palavras.
-Eu estive aqui com você… -Harry disse-me segurando minha mão com gentileza- Eu não contei a vocês, mas sou animago. Eu era a coruja azul.
-Eu sabia que conhecia aqueles olhos… -Eu disse tentado esboçar um sorriso- Como me achou…?
-Shhh. -Ele disse pondo um dos dedos em meus lábios- Não fale! Você está muito mal. Eu abri um novo elo com Voldemort.
Eu quase protestei, contudo, ele tocou meus lábios de novo para que me calasse.
-Era necessário, Mione! -Ele me disse num sorriso angustiado- Ontem depois de pegarmos a Parkinson e o Rabicho, voltamos contentes. Só que encontramos Rony desmaiado e não havia sinal de você. Eu me desesperei. Então, quando Lupin chegou, ele sugeriu que eu refizesse o elo com Voldemort, pois certamente ele estava satisfeito com os seus servos. Foi o que fiz. Descobri que você estava neste castelo abandonado, me transformei em ave e vim até aqui.
'Vi você e percebi que estava mau, então aparatei até Hogsmead e contei a todos onde você estava. Voltei bem a tempo de ouvir tudo o que Cho dizia. E de repente vi que ela te atacava. Eu ainda tentava me recuperar do choque de saber que Cho era uma Comensal. E enquanto te torturava, ela fazia questão de dizer que terminaria o serviço que não concluíra na noite em que te atacou na Torre da Grifinória.
Percebi que você não resistiria e eu a ataquei.'
-Harry… -Eu dizia sem forças- Leve-me embora!
-Não podemos… -Ele disse com ar pesaroso- Os aurores estão lutando com os Comensais e hoje eu vim decido acabar com Voldemort para sempre. Mas prometo que te deixarei em um lugar seguro!
-Não, Harry… -Eu tentava dissuadi-lo, entretanto ele sequer fraquejou diante de meu protesto. E mais uma vez tocou meus lábios com seu dedo pedindo para que não falasse. Harry me pegou no colo e saiu comigo daquela torre horrorosa.
Ouviam-se ruídos de pessoas gritando em sua dor e últimos suspiros ecoando por toda parte. Eu queria chorar, todavia, parecia não ter lágrima nenhuma para derramar. Sentia meu coração doer com todos aqueles gritos e todas aquelas mortes desnecessárias.
Harry procurava um lugar vazio, enquanto descia as escadas da torre. E logo ao chegar a um corredor, Harry abriu a primeira porta com um chute.
Com tantas portas para se escolher, ele abrira a pior que poderia.
Uma sala com uma lareira grande, uma poltrona que mais parecia um trono, as cortinas negras fechadas, uma cobra enrolada em um tapete e por último… O ser mais desprezível com que já tive desprazer de me encontrar: Lord Voldemort.
Harry me pôs no chão, sem escolha.
-Finalmente chegou, Potter! -Voldemort disse num sorriso torto, pelo visto, ele não tinha o hábito de sorrir.
-Você me chamou ao raptar minha melhor amiga! -Harry respondeu bravamente, empunhando a varinha.
-Espero que tenha aprendido a duelar! -Voldemort disse empunhando também a sua varinha- Não quero te vencer tão facilmente, depois de você me render tantos problemas!
-Você vai ver com seus próprios olhos! - Harry disse preparando-se para desferir o primeiro feitiço.
-Espere! -Voldemort disse pegando uma nova varinha no bolso- Não queremos que você dê sorte de novo, como no cemitério. Vou usar a varinha de sua amiga. Será interessante ver você morrer pela varinha da namorada.
Harry pareceu ficar com ainda mais raiva do homem, que mais se assemelhava a uma cobra do que a uma pessoa.
Voldemort começou atacando e Harry se defendendo. Achei o máximo a forma rápida em que ele desviou-se do Cruciatus, que Voldemort lançara. Harry tentara atacar com azarações, porém Voldemort as repeliam como se não fossem capazes de atingir um elefante bem em frente, como feitiços inúteis.
Eu sentia que Harry não estava pronto para aquele embate. Via isso pelos feitiços pouco eficazes que ele lançava em Voldemort, apesar dele ser tão forte quanto o primeiro. Harry parecia-me completamente preocupado, lançando olhares periódicos para mim. Parecia incapaz de se manter centrado na luta. O mundo pesava em suas mãos e eu não o invejava por isso.
Voldemort era ofensivo, enquanto Harry apenas se defendia. Sabia que não tardaria até Voldemort acertar um feitiço em cheio no corpo de Harry. Eu temia por ele. Era tudo minha culpa. Lamentei-me profundamente por não ter ficado quieta no castelo como me foi ordenado. Agora tudo o que eu havia feito caía em minha cabeça, fazendo meu estomago afundar perante o sentimento constante de lamuriações.
Eu olhei para o Harry, e ele devolveu meu olhar, era um pedido mudo de calma. Como se quisesse me dizer que tudo daria certo… Eu apenas apontei para a luta quando Voldemort simplesmente disparou…
-Crucio! -Ouvia voz de Voldemort ordenar a minha varinha. Harry não foi rápido o suficiente para se proteger, e muito menos para desviar. Senti novamente vontade de chorar, pois a minha varinha estava sendo usada para machucar o meu melhor amigo. Não, ele era mais que isso! Ele era alguém que sempre estivera comigo quando precisei, que me instigou a usar minha mente, nos momentos de apuros. Ele me ensinou o valor da amizade… Ele era como um irmão. E dói muito ver que a gente quer bem, morrendo…
Don't run away
[Don't give in to the pain]
Don't try to hide
[Though they're screaming your name]
Don't close your eyes
[God knows what lies behind them]
Don't turn out light
[Never sleep never die]
Não dê as costas
[Não se entregue à dor]
Não tente se esconder
[Mesmo com eles gritando seu nome]
Não feche os olhos
[Deus sabe o que está por trás deles]
Não apague as luzes
[Nunca durma, nunca morra]
Eu o ouvia gritar e meu coração se partia em mil pedaços. Seus gritos evidenciavam a dor forte que o açoitava. Eu sabia exatamente como ele se sentia. Eu o via e sofria com ele. Queria fazer algo, mas o quê?
Idéias, eu precisava de idéias. Só que dessa vez tinha que ser uma realmente boa.
Fechei meus olhos, tentando ignorar os urros de dor de Harry. A vibração da voz dele era forte e ao mesmo tempo rancorosa. Seus gritos começavam a baixar a entonação e eu sentia que estava deixando um pedacinho de mim morrer. Senti de novo aquela sensação de calor pelo meu corpo. Então finalmente compreendi o que fora o calor que me trouxera de volta.
Harry fizera o feitiço da Troca de Energia. Ele me dera a energia vinda de sua alma para me salvar, enquanto adquiria um pouco do esgotamento de minha alma. Ele fizera uma loucura para me salvar.Uma raiva crescente se apossou de mim. Ele poderia muito bem ter me deixado morrer, era preciso que ele salvasse o mundo e não a mim. Agora eu sabia que se Harry perdesse, eu teria que conviver com a culpa. Uma culpa que talvez corroesse todo o meu ser e jamais me deixasse viver normalmente, tamanha a obsessão que eu teria por vingança… Por que certamente eu enfrentaria Voldemort para me vingar pelo Harry.
I'm frightened by what I see
But somehow I know
That there's much more to come
Eu estou assustada pelo que vejo
Mas, de algum modo, eu sei
Que há muito mais por vir
Ouvi um último grito de Harry, depois um silêncio total. Senti meu coração se acelerar. O remorso corria por todo meu ser.
Sentia-me culpada e responsável pelo corpo de Harry inerte a minha frente. E isso doía. Não como doeu quando fui torturada por Chang, mas sim como a dor do sofrimento. Constatei que nunca havia sofrido verdadeiramente antes disso. Tudo agora era apenas subalterno... Todas as futilidades que eu pensava que antes eram sofrimentos lancinantes, desvaneciam, sobre a imagem da morte segurando uma foice e carregando a alma de meu melhor amigo para o mundo hermético que eu conhecera outrora. Repentinamente, eu tinha a infeliz ciência de tudo que me assombrava. Tinha plena consciência de que meu coração tornara-se do tamanho de uma ervilha e que já não tinha mais o poder de suportar tanta dor sozinho. Meus olhos começaram a arder, eu queria botar para fora tudo o que meu coração não era capaz de guardar, tudo o que eu carregava num silencia mortal, na modorra de minha consciência obscura, que parecia não aceitar o que meus olhos insistiam ver. Eu não podia acreditar que ele simples
Só havia uma forma de ajudá-lo… Entretanto, segundo meus cálculos, talvez custasse a minha vida… Contudo, eu não me importava. Minha vivacidade havia se atenuado a um ínfimo desejo de corresponder a minhas últimas expectativas, quanto a ajudá-lo como eu pensara que podia. Eu não conviveria com a culpa de não ter feito o que podia. Eu não seria chamada pelos livros como a ruína de Harry Potter. Minha vida não era tão importante se fosse comparada aos milhões de pessoas que sofreriam se Voldemort vencesse… Quem se importaria com uma jovem medíocre, orgulhosa e metida? Sim, porque eu sempre tive noção do que eu era e do que sou...
Arrastei-me com certa dificuldade até o lugar em que ele jazia, já que não podia usar minha perna. Tinha um enorme grau de dificuldade para tal fim, era como se tivesse que nadar em alto mar em meio ao cansaço para não morrer afogado. Porém aquele cansaço não era absolutamente nada se fosse comparado ao meu estado emocional, ao meu estado de transição de sentimentos. Como Harry dissera uma vez a mim e Rony: Agora, a morte é apenas a próxima aventura.
Enquanto fazia o percurso de um metro até ele, via uma aura bruxuleante nos meus braços. Quando cheguei perto dele, eu já estava pronta para fazer uma nova troca de energia. Pois a troca de energia era feita quando você realmente queria salvar alguém. Quando o desejo vinha do fundo de seu coração. E não havia nada que eu mais quisesse do que salvar a vida dele e provar a mim mesma que talvez eu pudesse ser heróica. Pois no fundo eu sabia que só tinha ido atrás dos Comensais da Morte no Salgueiro Lutador porque queria um pouco de glória, porque eu queria que as pessoas me apontassem como alguma coisa além da 'Garota que Passou Metade de Sua Vida na Biblioteca'! Mas agora, o que aquilo me importava? Eu queria redimir-me com Harry e comigo mesma. Sentir-me livre de todas as obrigações, e esquecer-me que um dia tive tanto egocentrismo a ponto de por em risco tudo o que eu mais amava. E todos esses sentimentos confundidos em minha cabeça, ao mesmo tempo em que se misturavam, fa
Immobilized by my fear
And soon to be blinded by tears
I can stop the pain
If I will it all away
Imobilizada pelo meu medo
E logo estarei cega por lágrimas
Eu sei que posso acabar com a dor,
Se eu desejar que ela vá embora
Voldemort riu, acho que ele não entendera o que eu queria fazer.
-Tentando se despedir de seu namorado, bruxinha? -Ele disse irônico a mim. Eu não dei atenção.
Senti-me penalizada ao vê-lo daquela forma: olhos fechados, os lábios entreabertos, na expressão, uma fragilidade que eu jamais vira em Harry.
Baixei meus lábios até os dele. Voldemort ria de forma fria da cena. Soprei minha energia para dentro do corpo dele. Lentamente, fui perdendo a mobilidade dos pés, pernas. Ao invés deles, sentia-me sendo atirada ao nada, escuro e impenetrável. Entrei em desespero, pensando que o último sentimento que a vida me veria ter, era o medo crescente. Sempre sonhei que morreria com o coração cheio de amor… Constatei que isso era mais um sonho tolo de uma adolescente, que crescera sob proteção incessante, vinda de todos os lados.
Percebi que meu corpo caíra sobre o de Harry, pois minhas mãos pararam de sustentar o meu peso, devido ao fato de não haver mais nenhuma energia que pudesse me manter a altura dele, porém sabia que nossos lábios ainda se tocavam, pois a energia continuava se esvaindo. Suavemente, vi que minha capacidade mental diminuía, sabia que Harry estava sorvendo cada pedacinho de energia que eu poderia ter. Restava pouco até o momento em que tudo acabaria. Em que toda a minha vida, não passaria de uma bela e feliz lembrança.
Finalmente vi meu último pensamento ser atirado a uma fímbria, sem vida, sem palavras e sem o calor que um dia eu sentira, sob o bom teto de Deus. Oficialmente, eu já não pertencia ao mundo dos vivos.
Mas algo estranho aconteceu. Vi todos os meus pensamentos voltarem com rapidez estrondosa. Tanto que me entonteceu, instantaneamente.
Minha consciência foi parar em algum recanto, do qual não pude identificar. Estranhamente Harry estava lá, de costas para mim parado.
Era o mar, ou melhor, o limbo. Estávamos no mesmo oceano em que eu estivera anteriormente por causa de Chang. Eu não sabia se me alegrava por vê-lo ou lamuriava-me por minha morte. Por fim, decidi-me por felicitar-me por ter conseguido alcançar a alma de Harry.
-Harry! -Eu disse correndo para abraçá-lo. Ele retribuiu bastante feliz.
-Mione! -Harry disse soltando-me. Nossos olhares se encontraram- O que faz aqui?
-Eu vim te avisar, Harry. -Eu disse pegando a mão dele e arrastando-o contra a forte correnteza que se formou subitamente- Precisamos voltar! Ainda não acabou! Esse mar sou eu quem vai atravessar. Trocamos de lugar. Você volta e luta!
Percebi que em minha azáfama, minhas palavras não pareciam fazer sentido. Porém tinha esperanças de que ele tivesse compreendido e que eu não precisasse perder muito tempo explicando-o.
-Você não pode ficar, Mione! -Ele disse sem soltar a minha mão, mas caminhando contra a correnteza, que repentinamente partiu-se no meio para que ele passasse, como o mar Vermelho abrira-se a Moises em uma passagem bíblica que eu havia lido. Porém, a correnteza continuava a me arrastar. Eu sabia que era somente ele quem deveria voltar- Vamos voltar juntos!
-Não! -Eu disse fechando meus olhos e sorrindo-lhe, tentando demonstrar serenidade- Para mim a vida acabou, mas você tem de seguir.
-Mione, você se sacrificou por mim? -Ele me perguntou, começando a percorrer a estrada de volta, tentando embrenhar-se no mar.
-Eu só devolvi a sua energia! -Respondi sorrindo-lhe de forma encorajadora- Vou tentar te ajudar daqui.
-Mione, eu não conseguiria viver com tamanha culpa… -Harry disse tentando voltar ao mar.
-Então honre a minha partida e salve o mundo de Voldemort! -Eu argumentei tentando soltar-me de sua mão, que era o único elo que me retia a vida. Em outra época me acharia tola por desperdiçar a última chance de voltar a viver, contudo, ele estava perdendo muito tempo comigo. Um tempo ao qual necessitava-se dele em outro lugar- Prometo que vou te ajudar e se der, eu vou voltar.
-Mione, eu te… -Ele tentou dizer, todavia, não ouvi o resto, pois minha mão deslizou pela dele e o mar me tragou.
Don't run away
[Don't give in to the pain]
Don't try to hide
[Though they're screaming your name]
Don't close your eyes
[God knows what lies behind them]
Don't turn out light
[Never sleep never die]
Não dê as costas
[Não se entregue à dor]
Não tente se esconder
[Mesmo com eles gritando seu nome]
Não feche seus olhos
[Deus sabe o que está por trás deles]
Não apague a luz
[Nunca durma, nunca morra]
Vi montes de imagens brancas no mar, e percebi que aquele oceano era o mar das Almas. Sem opção deixei-me carregar por aquela maré. Sentia alguém retendo minha perna, me assustei e olhei para ver o que era. Deparei-me com a alma de Harry. Analisei mais um pouco, e percebi que não era Harry, mas sim, seu pai: Tiago Potter.
Ele tentava me avisar de algo, mas tudo me soava ininteligível. De repente vários cicios rompiam de todas as almas, quase estouravam meus tímpanos.
Fallen angles at my feet
Whispered voices at my ear
Anjos caídos a meus pés
Vozes sussurradas no meu ouvido
Quando cheguei mais perto para entender, senti que meu corpo alçava vôo. Vi que ganhava altura, o ar cortante passava por mim, fazendo uns barulhos engraçados. Vi que, a certa altura, o efeito era inverso, e eu caía novamente. Senti medo, apesar de não saber se naquele lugar eu podia sentir algo. Cai com um baque no chão, porém não senti nada. Absolutamente nada, mostrando-me que eu realmente estava… Que eu… Deixara a vida ao qual Harry estava tão atado.
Levantei-me e dei de cara com uma bela mulher, com aparentemente seus trinta anos, cabelos longos e loiros, corpo esbelto.Trajava um vestido justo, negro.
-Hermione Granger, o que faz no limbo novamente? -A mulher me perguntou parecendo desconfiada. Com um aceno de suas mãos, um pergaminho apareceu e ela começou a consultá-lo. Não sei porque, mas achei engraçado. Parecia que lia um roteiro de filme ou algo assim. Depois de uns minutos em silenciosa minúcia, ergueu seus olhos azuis e profundos para mim- Parece que você quer morrer a qualquer custo, hein?
-De forma alguma! -respondi displicente, não gostei da forma como a voz dela soou sarcástica- Só que existem coisas acima da vida e da morte, entende? Eu dei a minha vida a Harry, porque acho que ele vai salvar todos. E convenhamos, o que seria eu apenas deixar o mundo dos vivos, comparado aos milhões de vidas que serão poupadas se Harry destruir Voldemort?
-E se Harry Potter tiver o mesmo fim que os pais dele? -A mulher perguntou-me desafiadora, ela parecia me testar ou simplesmente medir forças. Caso fosse a segunda alternativa, eu não entendia por que. Afinal, quem mediria forças com uma alma desencaminhada?- Sua morte terá sido em vão!
-Não! -Eu respondi sentindo meu coração se abrir àquela mulher, alguma coisa, involuntariamente me levou a dar um voto de confiança a ela- Minha morte jamais terá sido em vão, porque eu terei minha consciência limpa e saberei que fiz o que pude para ajudar.
-Mesmo tendo sido por sua causa que Harry enfrentou a morte previamente? -A mulher disse com um sorriso malicioso. Ela tocara em um ponto fraco. Na verdade, aquele era o ponto mais vulnerável de minha alma.
-Ele poderia ter me deixado a mingua. -Eu respondi dando de ombros- Foi opção dele vir me salvar.
-Você sabe com quem está falando? -A mulher disse pondo a mão em meus ombros gentilmente.
Eu realmente tinha uma certa idéia, contudo, não plena certeza. Ocorria-me apenas duas pessoas na cabeça: A Vida ou a Morte. Todavia, o vestido negro me fez deduzir logicamente que aquela era a Morte. Incrivelmente, eu não sentia medo, ou frustração. Nem mesmo ódio por estar à mercê da morte. Não sei como pude manter a frieza e até mesmo a indiferença. Nunca me imaginei encontrando-me com essa figura lendária sem sentir-me atemorizada, sem ouvir gritos de dor, sem ver algo de características deploráveis...
-Qualquer ser lhe reconheceria, Miss Morte. -respondi suspirando, não sei, entretanto, subitamente senti-me cansada daquilo, como se cada minuto que se passasse, coisas e mais coisas fossem pesando sobre minhas costas- O que deseja de uma pobre alma perdida como eu?
-Hermione Granger... -A Morte disse-me olhando com simpatia, porém pigarreou e começou a olhar-me duramente- Eu estou aqui para julgá-la!
-Julgar-me? -Eu estava visivelmente desnorteada com as palavras dela. Afinal, eu seria julgada pelo quê? O que estava acontecendo? Morrer é tão complicado assim?
-Sim, jovem! -A Morte me respondeu, assumindo um ar compreensivo- Você está aqui para ser julgada pelo gesto que acabou de ter com Harry Potter.
-Se a Senhora se refere à energia que devolvi a Harry, condene-me por interromper o curso da vida! -Eu disse cética e sentindo-me mal, o peito ardendo. Jamais me arrependeria por ajudar Harry retornar e salvar o mundo, isso é, se ele conseguisse... Eu sempre soube que existem recursos que não podem ser usados para interromper o rumo natural do Destino, contudo existem coisas que simplesmente devemos fazer e senti-me na obrigação de ajudá-lo...
Death before my eyes
Lying next to me I fear
She beckons me, shall I give in
A Morte perante meus olhos
Deitada ao meu lado, eu temo
Ela se aproxima de mim, eu devo me render?
-Acho que você tem plena ciência de que não se deve desviar o Destino de seu caminho natural, não é? -A Morte questionou-me parecendo inflexível. Achei incrível a capacidade da Morte mudar rapidamente suas expressões e sentimentos. Em um segundo ela é cruel e impiedosa e no seguinte, ela é simplesmente amável e compreensiva.
-Sim, Miss Morte, eu tenho! -Respondi firmemente, tentando parecer segura de que considerava correto a minha atitude- A culpa de tudo o que ocorrera fora só minha, e da minha teimosia... Harry jamais morreria se eu tivesse ficado quieta no castelo. Sei que estou aqui para prestar contas e pergunte-me o que quiser, pois não lhe negarei resposta alguma.
-Ótimo! -A Morte transpareceu estar levemente satisfeita, e com um aceno, conjurou pena e pergaminho- Você me poupará um enorme serviço, se me disse toda a verdade. Então, o que considerou na hora de decidir entre sua vida e a de Harry Potter?
-Confesso que fui motivada por um grande senso de remorso, além de uma crise de 'ninguém me ama, ninguém me quer, então ninguém liga se eu morrer'... -Respondi com sinceridade, pois era exatamente aquilo que eu havia tido,se analisasse aquilo de forma neutra, como agora. A pena copiava tudo o que eu dizia... Como a Pena de Repetição Rápida da Rita Skeeter, só que a pena era negra...
-Você acha que pode voltar a vida depois de tudo isso? -A Morte perguntou-me, fitando meus olhos de forma inquisitória.
-Sinceramente, não me importa, um dia eu vou ter que morrer, mesmo... -Eu respondi dando de ombros olhando-a com indiferença, entretanto deixei escapar um suspiro de desesperança- Eu queria apenas que o Harry vencesse...
A Morte me fitou por um longo momento. Aproximou-se vagarosamente.
-Hermione Granger, feche seus olhos e abra sua mente para mim... -A Morte disse seriamente, com sua voz baixa, como um cicio ou um guia em meio ao nada, era calma e ressonante, profunda e controlada... Eu obedeci de imediato, pois aquilo me soou como uma ameaça ou algo parecido... Parecia que não deveria ser contestada e nem sequer questionada.
Upon my end shall I begin
Forsaking all I've fallen for
I rise to meet the end
[I rise to meet the end]
Perto do meu fim, devo começar
Abandonando tudo pelo que lutei?
Eu me ergo para encontrar o fim
[Eu me ergo para encontrar o fim]
Vi várias das minhas lembranças passando-se com estrondosa velocidade, realmente desfocadas. Via cada pensamento passar como se fosse um furacão devastador. E confesso que me senti levemente baqueada. Era estranho, sentir algo como se ainda fosse viva. E pela primeira vez, percebi que talvez tivesse a remota chance de que eu realmente estivesse.
Sabia que a Morte estava lendo minha mente e senti-me tão desconfortável e amedrontada quanto no dia em que o Chapéu Seletor me selecionara. Lembrava-me muito bem da saudável sensação de apreensão, talvez fosse a mesma que eu sentia naquele momento... Só que o que seria decidido, não era simplesmente a Casa que me acolheria e sim a minha vida. Jamais pensei que um dia chegasse a isso.
Repentinamente uma imagem que estava guardada bem lá no fundo da minha mente hígida e totalmente clara, veio à tona. E me causou uma dor intensa, vinda de não se sabe onde. Minha cabeça latejava com tais proporções que fui sentindo-me tontear, parecia que eu andava num mundo de cabeça para baixo, meus ombros pesando mais que qualquer outra coisa, me repuxando para os lados. Parecia um peso morto sobre minhas costas... Eu via que não conseguia me manter firme em meu lugar, algo me puxava para o chão, como a atração imperativa de um imã, ao atrair seu oposto até a si. Eu tentava relutar, mas minha visão tremulava, escurecendo-se, para depois girar e fazer-me ver tudo em dobro, como se estivesse alcoolizada.
Então, de súbito tudo parou. Eu demorei um pouco para me situar e voltar a enxergar tudo perfeitamente. Vi a imagem da Morte se delineando vagarosamente, como se esta estivesse readquirindo sua forma habitual, ganhando cores e vivacidade.
Quando a imagem da Morte tornou-se nítida, pude ver um sorriso sincero saindo do coração dela. Ela segurava algo prateada em sua mão, que parecia um filme, daqueles de fotografia trouxa.
-Vejo que sempre, durante toda a sua vida, fazia as coisas bem intencionadas... -A Morte disse revendo alguns dos filmes- Como quando usou o vira-tempo para ajudar um inocente a se libertar de um fim trágico! Devo parabenizá-la!
-Não precisa! -Eu respondi ligeiramente envergonhada- Fiz apenas o que considerei correto.
-Não me refiro apenas a isso. -A Morte disse examinando cada um dos filmes com uma minúcia espantosa- Parece que você já sabe algo importante: Não importa o quão grande foram alguns dos seus mais honrosos atos, porque realmente não são eles que fazem a vida de uma pessoa mais feliz. O que importa são as pequenas alegrias proporcionadas pela vida, que fazem de você a pessoa que realmente é.
-De alguma forma metafórica você está querendo dizer que retornarei para ajudar Harry? -Eu disse alegrando-me repentinamente com a notícia. Um sorriso sincero brotou do meu coração com vivacidade e contentamento, como não fazia há muito tempo. O aceno positivo da cabeça da Morte fez-me alegrar e sem ao menos esperar, pulei no pescoço dela em um forte abraço fraterno. A Morte mostrou-se hesitante em corresponder ao meu abraço, mas por fim o fez.
Depois de algum tempo, soltei-a, e ela, parecendo sem-graça, perguntou, me:
-Quer voltar agora? - Num tom de voz suave, Miss Morte conjurou uma foice. A sua lâmina reluzia a fraca luz do lugar, mostrando o quão assustadora era.
-Sim, quanto mais rápido, melhor. -Eu disse preocupada com estado que Harry estaria naquele momento, já que eu podia meramente supor.
-Antes de te enviar, será que eu posso... -A Morte começou hesitante, parecia insegura de algo- Será que eu posso ficar com algumas cópias de seus pensamentos e lembranças?
-Mas isso é possível? -Perguntei, um pouco descrente, sinceramente, não via o porquê daquilo. Porém uma chama me cobriu em seguida... Uma idéia fervilhava em minha cabeça.
-Na verdade, é contra as regras divinas. -A Morte respondeu assumindo uma expressão inflexível, parecendo não gostar de que eu tivesse tocado no assunto- Mas imagine como é a vida da Morte? Sabe qual foi a última vez que encarnei? -Eu apenas respondi negativamente com um suave menear da minha cabeça. Ela continuou.
'Foi em 1532, para sofrer tudo o que uma pessoa poderia. Era uma camponesa pobre, que trabalhava duro desde bem pequena. Meus pais eram totalmente relapsos quanto a minha educação. Pensavam apenas em trabalhar dia e noite, para poderem pagar os impostos.
Eu comecei a manifestar poderes mágicos aos 8 anos e meus pais me jogaram em uma floresta, onde morri de fome e sede. A mentalidade da época era ridícula. Embora o temor dessa época não seja menor, embora por outros motivos...
Então fui julgada, e devido ao tanto que sofri e o ódio que guardei de todos os seres humanos, me transformaram em Miss Morte. E permaneço aqui há mais de 450 anos, acredita? Tudo por causa dessa raça maldita!
Meu trabalho é incessante. Sabia que a cada dois minutos, morre alguém no mundo por ataque cardíaco fulminante? Imagine se somar isso a outras doenças...
A 1ª e a 2ª Guerra Mundial foram um tormento para mim. Que raça encrenqueira, a humana! Isso quase lotou este lugar de almas, esperando julgamento.
Das almas que busquei, nunca vi uma como a sua. Têm pensamentos vívidos e rápidos, inteligência e frigidez para dar e vender. O mais perto que cheguei de alguém como você foi quando um escritor bastante depressivo passou por aqui. Acredito que tenha sido Willian Shakespeare, ou algo do tipo. Sabe, até a Morte precisa de amigos. A solidão é tediosa, principalmente quando é muito longa.
Estou cansada de vida tão tediosa, essa de Morte! Os anjos me disseram que eu fora abençoada no julgamento, mas não vejo graça em observar a vida de todo mundo daqui, observar as lições que aprendem e as confusões em que se metem. Tenho certeza de que se fosse humana, não seria tão cega quanto aos meus sentimentos.'
-Miss Morte, tenho uma proposta para você. -Surpreendi-me falando, com uma cara-dura, que nunca soube de onde tirei. Entretanto sabia que provinha de meu coração, pois minha determinação era palpável.
-O que seria? -Ela olhou-me interrogativamente, como quem desconfia de uma traquinagem de criança.
-Bem, er... Você me disse que se sente sozinha... Correto? -Perguntei com pouca firmeza sobre o olhar ambíguo da Morte. Esta, apenas confirmou com um aceno de cabeça- Então, pensei que talvez você quisesse-me como amiga.
-Amiga? -A Morte perguntou desconfiada, depois mudando de expressão de súbito- O que quer em troca?
-Porque pensa isso? -Eu perguntei a ela, tentando manter uma expressão constante, contudo temia que mostrasse minha vacilação, quando fui pega pela repentina constatação dela.
-Ora, em tantos anos de observação, acha que não aprendi que a raça humana apenas é generosa quando se trata de seus interesses? -A Morte sorriu irônica a mim.
-Ok, está certa! -Respondi resolvendo abrir o jogo, não adiantaria esconder meus planos da Morte. Ela lançou-me um sorriso vitorioso, e ao mesmo tempo debochado- Eu preciso da sua ajuda!
-Por que acha que eu a ajudaria? -Ela perguntou-me com escárnio.
Pensei rápido. Eu era ótima nisso!!!
-Por acaso você nunca desejou que a Morte tivesse uma imagem favorável aos mortais? -Eu argumentei astutamente, sabia que deveria estar com a maior cara de maníaca, porque eu dependia daquilo para salvar todos- Porque não dá um fim a todo esse mito? Eu tenho orgulho de dizer: 'Eu conheço a Morte e ela é maravilhosa!'. Talvez se você me ajudasse, eu poderia te ajudar com essa publicidade...
-Hermione Granger, você é muito hábil! -A Morte sorriu sagaz- Sabe minar a firmeza de uma decisão pelos pontos fracos de um ser. Meus parabéns! Mas há algo de errado nesse plano, porque eu não quero publicidade.
-Miss Morte, você quer alguém que esteja a disposição para te ajudar, não? -Eu disse entrando em desespero, agora já não insistia por necessidade, mas por puro e egoísta orgulho- Aqui estou eu! Não me importo de passar a eternidade discutindo com você, no entanto, realmente há milhares de pessoas que precisam de sua ajuda. E você não pode simplesmente virar as suas costas e fingir que nada disso acontece! Sei que a raça humana não foi generosa com você quando era mortal, mas nem todos são maus! E é justamente para as pessoas que valem a pena de se conhecer, que você está virando as costas. Porque não desconta sua raiva em quem realmente merece, ao invés de simplesmente fechar os olhos e fingir que não vê?
Don't run away
[Don't give in to the pain]
Don't try to hide
[Though they're screaming your name]
Não dê as costas
[Não se entregue à dor]
Não tente se esconder
[Mesmo com eles gritando seu nome]
A Morte hesitou ao ouvir minhas últimas palavras. Pareceu-me exatamente cansada e abatida. Todavia eu não estava minimamente preocupada com ela. Meus sentimentos eram egoístas, porém ao mesmo tempo necessários. Pude ver cada emoção adornando as sombras do rosto de Miss Morte. Primeiro confusão, seguido de seguido de remorso, ambos estampados no olhar vago que ela lançava ao mar. E por último, compreensão.
-O que você quer? -Respondeu por fim. Eu sorri e a abracei, pela segunda vez. A Morte, ao contrário do que se pensa, era bastante calorosa. Emanava um conforto, indescritível. Como a uma mãe acalentando seu filho, ou um irmão ajudando ao outro. Algo tão comum e ao mesmo tempo tão significativo...
Quisera eu, que meu irmão mais velho fosse assim...
Quando a soltei, ela me olhou nos olhos. Ela não estava tão contrariada, como pensei, ao invés parecia satisfeita com algo. Eu jamais descobri o que era.
-Morte, por favor, me acompanhe e transmita nossas mentes e energia para Harry, junto de mais três almas. -Eu disse segurando as suas mãos, como fazem amigos de infância. Ela olhou-me parecendo hesitante. O desânimo dominou-me, como se eu simplesmente não tivesse vontade própria, como a um animalzinho indefeso- Você não pode?
-Eu posso... -A Morte disse me olhando parecendo ainda mais melancólica que antes- Mas se o fizer vou ter vários problemas com o Congresso.
-Então, acabou? -Perguntei sentando-me numa pedra, sem esperanças. Meu plano soando a minha mente como uma utopia- Eu vou voltar a viver em um mundo devastado?
Não pude me conter. E comecei a chorar. As lágrimas caíam involuntariamente. Não era necessário que eu piscasse, para que elas deixassem de turvar minha visão, pois pareciam adquirir vontade própria. Não demorou para que o gosto salgado do choro alcançasse meus lábios, e que eu degustasse um pouco de meu próprio tormento. Lembrou-me vagamente a água do mar, que eu jamais veria como anteriormente. Nunca mais veria pessoas felizes na praia, pois a maioria deixaria de freqüentar por estarem perdidos demasiadamente em sua depressão. Pois perderiam vários entes queridos, pelas mãos de Voldemort e sua ralé.
Senti uma mão acolhedora em meu ombro esquerdo. Ergui meu olhar, e encontrei a Morte sorrindo para mim.
-O Congresso é lento. Há vários casos para se examinar antes do nosso! -A Morte respondeu-me num sorriso que carregava a esperança de uma vida feliz a todos no mundo- Vamos, pegaremos as outras almas e iremos até Harry Potter. Advirto-a, no entanto, de que um dia terá de voltar e prestar contas sobre isso...
Eu sorri, sem acreditar. Novas lágrimas rolaram quentes pelo meu rosto, porém essas carregavam toda a felicidade que meu coração não conseguia conter.
-Certamente virei aqui te ajudar, quando for a hora! -Eu disse com o coração explodindo de alegria.
-Quais são almas em que você estava pensando? -A Morte perguntou pegando sua assustadora foice, abrindo uma passagem no mar de almas, como acontecera com Harry anteriormente.
-Você já deve ter adivinhado, não? -Perguntei com o meu sorriso superior, pois minha idéia era simplesmente perfeita, e não era difícil de se deduzir.
Miss Morte sorriu. E então, apontou sua foice para o lado direito do mar de imagens branco-peroladas, que tomara o lugar do aflitivo mar negro. De lá, três vultos, com consistência semelhante à neblina, assumira postos atrás de nós.
Expliquei-lhes rapidamente o meu plano. Eles concordaram. E inclusive opinaram. Confesso que fiquei feliz em reencontrar Sirius Black, juntamente de Tiago e Lílian Potter, pois sempre tive a curiosidade de conhecê-los, devido à forma a qual todos me falavam tão respeitosa e positivamente, dos dois últimos.
A Morte abriu um portal dourado, com um formato gozado, semelhante àquelas torres de castelos indianos. Por um instante, toda aquela luz ofuscou meus olhos, e simplesmente fechei-os ao atravessar. Quando os abri novamente, não havia sequer sinal da luz que tomara meu campo de visão inicialmente.
Tudo o que sobravam era trevas. Por todos os lados, e confesso que me amedrontei. Senti-me desamparada.
Tudo o que via era uma pequena nesga de luz transluzente, sobre algo, no meio de toda a treva intimidante.
Corri até a luz, num instinto protetor, podia ouvir meus passos ecoando por todo aquele lugar. Decididamente, era algo fechado e vazio. Podia ouvir vários outros passos ecoando junto com os meus, certamente, eram os outros me acompanhando.
Ao chegar próximo ao pequeno círculo de luz, notei que o que jazia ali, na verdade, era o espectro de Harry. Parecendo sem forças, ou pior ainda, parecia sem vida.
Tentei atravessar aquele feixe de luz, contudo ao correr, na tentativa, fui simplesmente atirada a alguns metros. Meus braços ardendo, onde tocaram naquela barreira luminosa.
Sem um momento sequer de hesitação, me aproximei da barreira junto dos outros e começamos a gritar o nome de Harry.
-Harry!!! -Gritávamos desesperados- Levante-se e lute.
Porém Harry se mostrava, tão imobilizado quanto antes. Meu medo era crescente. Será que toda a minha luta fora em vão? Será que tudo o que planejei daria errado? Estaria Harry tão ferido a ponto de fechar-se em sua própria mente? Meu Deus, de repente tudo me pareceu perdido. Minhas esperanças, que eram as únicas que sustentavam minhas convicções se esvaíam lentamente, como se um fio de nylon sustentasse um grande peso morto de 500 quilos. E este fio se rompia vagarosamente.
Os olhos de Harry tremeram, e seu peito tomou mais ar do que o usual. Eu já sabia o que viria… Aquele era o último suspiro dele.
Sentia algo molhando meus lábios, estranhamente, não senti o gosto salgado das lágrimas, mas apenas degustei o adocicado sangue que escorria de meus olhos. Minha vista estava turvada de vermelho. Como eu poderia estar sangrando se estava no plano espiritual?
Levantei-me decidida. Jamais deixaria o meu melhor amigo morrer bem diante dos meus olhos. Limpei meus olhos com as minhas mãos, não seria um pouquinho de sangue que me impediria. Não sabia como eu podia sangrar, contudo em seguida me lembrei que eu era um espectro vivente, portanto submetida a tudo que os humanos passavam.
Corri até a barreira e tentei empurrá-la com minhas mãos. Subitamente, o brilho dourado se expandiu a todos os recantos do lugar. Revelando apenas uma luz muito forte sobre nós. Assumindo uma forte aura dourada, que se assemelhava ao sol levando sua luz, brilho e calor a todo o recanto que havia treva, afastando assim o medo e os sentimentos negativos da mente dele.
Sem mais delongas abaixei-me ao lado de Harry.
Senti-me impotente, não sabia o que fazer. Então me lembrei de um dos mais importantes detalhes… Eu havia me esquecido que estava na cabeça de Harry. E tudo que ele imaginasse tornar-se-ia real, se ele verdadeiramente desejasse muito.
Lentamente baixei meus lábios ao ouvido dele e comecei a sussurrar.
-Não se entregue agora! -Eu disse em tom urgente. Temia por sua vida- Pense em todos que dependem de você. Ele não é tão poderoso assim. Vamos, confie em mim! Basta você querer. Sei que é tentador acabar com tudo agora, mas existem coisas mais importantes. Existem pessoas que acreditam em você agora e esperam que você supere isso tudo. E eu sou uma delas.
Don't close your eyes
[God knows what lies behind them]
Don't turn out light
[Never sleep never die]
Não feche seus olhos
[Deus sabe o que está por trás deles]
Não apague a luz
[Nunca durma, nunca morra]
'Vamos, Harry! Eu quero ver nossos filhos em Hogwarts, aprontando como nós três aprontamos. Vivendo como vivemos. Aprendendo como nós aprendemos. Amando como nós amamos. E nós três reunidos como antigamente, falando sobre tudo o que passamos juntos em nossa infância.'
Eu o vi abrir os olhos, parecendo aturdido. Estava fraco, eu podia ver, e em minha felicidade, eu apenas o abracei.
Ele hesitou até me devolver o ato de carinho.
-Hermione, onde estamos? -ele me perguntou parecendo-me confuso, mas ainda agarrado a meu corpo.
-Na sua mente, Harry! -Eu apenas respondi acariciando-lhe os cabelos desarrumados. -Estamos todos aqui para lhe ajudar.
Harry levantou a cabeça e olhou ao redor. Sorriu ao ver Sirius e os pais. Estes se aproximaram e abraçaram Harry com carinho, o que acabou fortalecendo-o.
O amor pode ser uma arma poderosa contra qualquer coisa e eu sabia disso.
Ele olhou-nos parecendo cético.
-O que fazem aqui? -Harry perguntou depois de abraçar a todos.
-Estamos aqui para te ajudar, filho. -Lílian respondeu com um sorriso reconfortante. Ela era mesmo uma pessoa maravilhosa! Era capaz de passar serenidade apenas com um sorriso. Ela fazia qualquer um se sentir bem, porque no fundo ela era uma pessoa iluminada.
-Eu não sei o que fazer! -Harry disse parecendo desesperançoso- Ele é bem mais forte do que eu.
-Isso nunca foi um problema para você antes, foi? -Sirius perguntou sorrindo de forma encorajadora- É claro que ele é bem mais forte que você. Mas tente se lembrar, porque você escapou dele das últimas vezes?
-Bem, eu nunca fiz isso sozinho. -Harry respondeu parecendo incerto. Eu sabia onde Sirius queria chegar. Em todas as outras vezes, Harry contara com pessoas que o amavam para ajudá-lo. E dessa vez, quando parecia só, ele simplesmente não podia fazer o que deveria ser feito.
-E é para isso que estamos aqui, Harry. -Tiago disse fitando os olhos do filho- Volte e lute. Ouça seu coração e faça apenas o que ele desejar. Voldemort não conta com o elemento surpresa.
Eu o abracei, e repentinamente, palavras que eu se quer pensara em pronunciar me escaparam:
-Vá, eu prometo que estarei aqui quando você voltar.
Ele sorriu e uma luz o tragou. Eu já não o podia ver mais.
A Morte conjurou uma esfera, semelhante à bola de cristal com o tamanho de uma bola de futebol.
-Essa é a primeira vez que vocês vão ver uma bola de cristal que realmente funciona. -A Morte disse tocando a ponta da foice na bola.
E a imagem surgiu. Harry estava debruçado em meu corpo. Vi-o despertar e levantar-se.
-Então você não é tão fraco quanto seus pais, não é? -Provocava o maligno ser em frente a Harry.
Harry ficou calado. E estranhamente fechou os olhos. Nós pudemos ouvir vozes de várias pessoas clamando. Pedindo em uníssono apenas uma coisa:
"Servatis A Periculum; Servatis A Maleficum"
"Nos livre do perigo, nos livre do mal"
Surpresos, nós apenas o ouvimos sussurrar um feitiço, com uma voz firme e bastante peculiar.
-Finite a Maleficum! -Nós todos fomos tragados da mente de Harry, como se estivéssemos viajando pela rede de Flu. Tudo rodava e meus olhos se apertavam, com o medo crescendo. O que estava acontecendo?
Eu apenas planejei irmos até a mente de Harry e darmos apoio moral, nada além daquilo.
No entanto, me vi assumindo uma forma branco-perolada, saindo com flexibilidade da varinha. Mesmo não acreditando muito na realidade inegável que estava perante meus olhos, eu sabia o que devia fazer. Era como se tudo o que eu precisava saber fosse murmurado aos meus ouvido e que tudo dependia apenas de minha coragem e fé. Todavia eu não me achava corajosa o suficiente. Durante anos invejei a Harry e Rony por nunca hesitarem em fazer o certo, só que eu simplesmente não era assim.
Vi as imagens de Sirius, Tiago e Lílian correrem, deixando um rastro dourado pela sala onde meu corpo jazia a um canto. Era realmente assustador observar a si próprio de outro ponto de vista, que não seja a um espelho. Como se eu não fosse a pessoa que sempre fui acostumada a ver o espelho refletir.
A Morte alçou vôo e pairava sobre a cabeça de Voldemort. A foice carregava um véu negro de um tecido semelhante ao da capa da invisibilidade, sobre ela, de forma que pudesse ser atirada a qualquer momento.
Voldemort começou a gritar e a proferir feitiços contra a Morte e as almas de Sirius, Tiago e Lílian. Contudo eles eram atraídos pelo véu negro e fino da Morte, e depois se voltavam contra ele.
Víamos Voldemort cair, a cada feitiço que ele lançava. Toda sua genialidade parecia não ser capaz de mostrá-lo no que errava. A simples menção do pensamento de que ele estava perdendo parecia deixá-lo mais furioso, e torná-lo menos racional ainda, pois ele aumentava a força de seus feitiços, mesmo que a cada um que o atingia, deixasse-o mais ferido.
Eu estava com medo, pois sabia que os outros precisavam de mim para derrotar Voldemort, e eu estava imobilizada pela simples menção de que o futuro do mundo estava em nossas mãos.
Harry apenas observava a situação, parecendo surpreso. Quando ele finalmente pareceu recuperar-se, ele olhou para mim. Um olhar fixo, que parecia conter muito carinho e de certa forma compreensão, flamejando em seus brilhantes olhos verdes.
Ele sorriu para mim de forma encorajadora, parecia que pela primeira vez, desde o início dessa batalha, ele acreditava que tudo ficaria bem. A ponta da varinha dele ainda iluminava de modo ofuscante o aposento, como fizera outrora na mente dele.
Quando olhei de novo para Voldemort, eu o vi lançando um último feitiço.
-Avada Kedavra! -Ele apenas murmurou, com a voz falha. Seu corpo todo machucado, o sangue escorrendo de diferentes pontos, empapuçando as vestes de qualidade que ele usava, todas negras. Respirava com dificuldade. Nunca imaginei que veria o famoso Lord das Trevas naquele estado. Que o veria definhar por sua própria magia. Tudo por causa da ambição.
A Morte o cobriu com o véu. E Harry ergueu novamente a varinha.
-Finite a Periculum! -Harry disse com uma calma que aparentemente não era característica dele. A verdade, é que nunca havia ouvido falar sobre esse feitiço que ele usou, e apenas mais tarde vim, a saber, que aquele feitiço não existia e que Harry o primeiro a executá-lo. Embora, saiba que nunca ninguém havia enfrentado as circunstâncias que eu vivenciei.
Porém não tive muito tempo para pensar naquilo, pois a força da varinha me impeliu a voar velozmente em forma espectral até o corpo de Voldemort, junto das outras almas dos entes queridos de Harry.
Entramos dentro do corpo de Voldemort em um turbilhão de imagens indecifráveis, todavia senti que meus braços se grudaram a algo extremamente escuro e ruim. Algo que me fez sentir-me mal e melancólica. Pensar em tudo de errado e ruim que fiz. Em toda a culpa que me ameaçou anteriormente, quando vi Harry sucumbir bem em minha frente.
Sirius, Tiago e Lílian, no entanto pareciam estar lutando com seus demônios. Podia ouvir os gritos de cada um deles, me aturdindo mais ainda.
Será que aquela era mais uma das armadilhas de Voldemort? Bem, eu nunca soube, pois em seguida, percebi, que eu não estava tão perdida em meus temores quanto eles.
-Vamos! -gritei a eles, tentando puxar a pesada alma de Voldemort para a direção retilínea a minha frente, trilhada por um caminho bruxuleantemente obscuro.- Harry precisa da gente! Temos que seguir!
Eles pareceram acordar de um sonho ruim. Eu podia ver o medo embaçando a cor vívida dos olhos de cada um deles, que eram os únicos que não tinham cor de neblina e sim a sua cor natural.
Vi que eles seguiam, como eu. Fechei meus olhos, e no minuto seguinte, estávamos novamente na sala, onde a Morte prendera o corpo de Voldemort.
A Morte tirou o véu de cima do corpo, agora inanimado, de Voldemort. Este apenas caiu, inerte. A alma negra ainda presa em meus dedos com força, eu não o deixaria escapar. Não agora, que conseguimos pegá-lo. Rapidamente, a Morte bateu sua foice na cabeça de tão desprezível alma, que com um último grito, que me fez gelar, de tão agudo, frio e sôfrego, foi-se para as profundezas do mundo aos quais eram destinadas as almas sombrias.
Miss Morte olhou para mim, parecendo preocupada. Então se aproximou, e pela primeira vez perdeu sua compostura. Abraçou-me bem apertado como uma irmã e pôs-se a chorar.
-Hermione… -ela disse enterrando a cabeça em meus ombros, e chorando copiosamente. Eu simplesmente não podia sequer supor o por quê de tal atitude… Ela parecia preocuposamente desesperada. Eu apenas afagava-lhe os louros cabelos dela.
-O que há, Miss Morte? -Eu perguntei ainda sem saber o que fazer, eu estava completamente desnorteada, afinal, eu nunca fui uma boa ouvinte e também nunca soube consolar as pessoas. Acho que simplesmente sou uma negação no campo sentimental. Sempre foi fácil para mim falar sobre assuntos relacionados a política, porém não tenho o mesmo tino quando se trata de assuntos do coração.
-Nada. -A Morte disse se recompondo com a velocidade espantosa com a qual me surpreendera no Limbo. Ela enxugou as lágrimas e levantou-se. Assumiu uma expressão pétrea e assustadora, que antes eu nunca vira nela.- Apenas saiba que isso ainda não acabou… Você ainda vai sofrer muito por causa disso tudo.
-Por causa do julgamento? -Perguntei quase que certa de que era isso.
-Embora esse também seja um problema, não é a isso que me refiro! -A Morte disse-me arrancando-me um olhar questionador, beirando o inquisitivo.- Mas você terá que escolher um dos três caminhos que o Destino lhe dará. Você pode seguir o caminho do Amor Verdadeiro, e ser feliz por uns tempos, até que isso tudo o que vivemos volte a te assombrar. O segundo é o caminho triste de uma vida solitária e sem perspectivas. E o terceiro é o caminho da Mentira, que é o que você está mais inclinada a seguir. Porém, sabia que não importa o caminho que escolher porque eu sempre estarei por perto para te apoiar.
Confesso que essas palavras me emocionaram… Eu nunca havia tido alguém que realmente pudesse chamar de amiga. Mesmo amando meus pais, minha mãe nunca foi uma amiga a qual pudesse contar tudo o que sentia. Gina Weasley fora uma boa amiga, mas de certa forma, nossos mundos eram diferentes. Era como se existisse um abismo entre nós. Estava feliz e ao mesmo tempo preocupada com as palavras da Morte. Quando as coisas são apresentadas assim, por indicações de caminhos, até mesmo uma criança saberia qual escolher. Mas o que se pode fazer quando os caminhos parecem aos seus olhos exatamente iguais um ao outro e você está completamente desnorteado?
Em questões matemáticas, é uma chance em três para você escolher o caminho certo. E eu realmente nunca fui boa escolha.
-Obrigada Morte… -foi tudo o que consegui dizer com a voz se embaraçando em minha garganta, saindo tremida e emocionada. Toda a pressão emocional que pesava em meu corpo, parecia finalmente estar se exteriorizando através das lágrimas que rolavam em meus olhos, lentamente tudo parecia dissolver-se, como se tudo não tivesse passado de um pesadelo.
-Mais uma coisa… -A Morte disse antes de estender a foice e abrir a o portal dourado- Você não pretende ter filhos, pretende?
-Eu ainda não decidi isso… -Eu disse entendendo menos que anteriormente- Por quê?
-Sinto muito, eu não posso te dizer, mas… -A Morte disse dando de ombros antes de acenar para que as almas entrassem- Apenas tome cuidado com uma certa maldição que foi rogada para você pela jovem vingativa!
E dizendo isso, ela se foi.
Bom, Rose, o resto da história você já conhece, não?
Nós fomos aclamados como heróis pelo mundo da Magia. Depois disso tudo, houve várias festas, das quais participamos da maioria, depois de sair, uma semana depois, do St. Mungus.
Porém isso não nos livrou dos NIEM's. Eu e Harry fomos bem nos exames, Rony, no entanto, cometeu alguns deslizes em poções. Nós nos formamos no final de junho e cada um seguiu seu caminho."
Hermione não achou necessário contar a Rose que fora noiva de Rony, simplesmente não queria sofrer mais do que seu pobre coração podia agüentar em um dia.
Ainda sem encarar a amiga, continuou molhando os pés na correnteza do riacho.
Sentiu uma mão sobre seus ombros, mas estranhamente, aquela não era uma mão fina e pequena, como se espera da mão de uma mulher e sim uma mão grande e áspera, que de certa forma contra a sua pele, fazia-a sentir tremores, descendo de sua espinha. A leve pressão dos dedos cálidos sobre seu ombro frio, apesar de agradável, foi o bastante para fazê-la olhar para trás assustada.
-Você não é Rose! -Hermione disse fitando-o completamente amedrontada. Ele era um homem estranho, esboçado pela escuridão. Ela não conseguia ver-lhe o rosto, por ele estar justamente contra a luz do luar, que gentilmente tornava a pele de seu ombro translúcida. Ele tinha os cabelos compridos e bagunçados, quase tocando os ombros, não podia ver a cor dos olhos, ou qualquer outro traço das feições dele, mas ele tinha um belo corpo. Pele morena, provavelmente reação provocada pelo sol abundante daquela região francesa. Um corpo forte e másculo, que fê-la morder os lábios para segurar um suspiro de admiração. A camisa branca de botões que ele usava, estava aberta, revelando o tórax definido. Ela não pode deixar de olhá-lo de alto a baixo para avaliá-lo.
Não podia negar que o homem sentado ao seu lado na ponte de pedra era simplesmente irresistível. E engolindo em seco, esperou que ele lhe respondesse.
-Sei que não sou Rose! -Ele disse em tom divertido, porém ao mesmo tempo mantendo seriedade- Porém preferi não te interromper. Sei que nunca se livraria de todas as mágoas se eu simplesmente aparecesse e a intimidasse.
-Você não me intimida! -Hermione disse assumindo um ar desafiador, e ao mesmo tempo endireitando-se e tornando-se rígida. Ele percebendo isso tirou a mão dos ombros dela, parecendo resignado. Por um instante, ela sentiu-se como se algo faltasse sem o toque dele, mas condenou-se em seguida.
-Que bom. -Ele respondeu, claramente dando de ombros.
-Ainda não acredito que abri meu coração para alguém que nem sequer conheço ou me conhece. -Hermione respondeu, subitamente envergonhada, como se a verdade lhe tivesse dado um tapa forte na cara e a fizesse acordar sobre aquilo.
-Eu te conheço. -O estranho redargüiu num protesto de divertimento- Você é Hermione, estou errado?
-Como pode saber disso? -Hermione respondeu surpresa.
O estranho riu. E para horror de Hermione, a risada dele soou-lhe extremamente sexy, como se fosse a melhor música que um maestro pudesse lhe oferecer.
-Você citou quando a Morte lhe chamou. -Ele disse divertido- E qualquer um poderia deduzir que você faz parte do grande trio de Potter, depois de ouvir o que disse.
-Ótimo! -Hermione disse se levantando decidida. O estranho estava por acaso fazendo piada com a sua cara?- Acho que já falei demais! Se me permite… Não pretendo ficar e contar mais sobre mim!
-Não fique assim, doce flor silvestre! -O homem disse levantando-se em seguida e segurando-lhe o braço- Não há pecado algum em ser apenas um humano, sujeito a emoções. Ou você acha que existe alguém no mundo que nunca derramou uma lágrima por algum motivo, por mais fútil que seja?
-Eu não quis dizer isso… -Ela disse voltando-se por um instante.
-Sei que não! -ele respondeu tocando com a mão um dos cachos que caíam sobre os olhos de Hermione e afastando-o. A atmosfera ao redor deles tornou-se docemente convidativa, um ar fascinantemente sedutor tomou conta de ambos- Uma pessoa não pode viver por trás de uma máscara, ser uma pessoa que não é. Você pode parecer forte para o resto do mundo, mas nos fundo sei que ainda é uma menina desamparada. Porque eu sei exatamente como você se sente. Sei que é ruim quando todos pensam que você é algo, que você realmente nunca chegou perto de ser. Sei o que é não corresponder às expectativas das pessoas, quando todos pensam que você tem capacidade para fazer algo mais. Porém uma hora, essa máscara pode cair bem na frente de todos e você se ver mais desamparada que nunca. Então minha doce flor silvestre, você deve se desfazer dessa muralha que criou para se proteger deixe seu coração sentir o calor do amor, do ódio, da paixão…
Hermione sentiu-se encantada com as palavras dele, ele parecia ser exatamente como ela… Parecia ter vivido na pele, sofrido todas as conseqüências de ser alguém inexpressivo e gélido. Sentiu seus lábios ressecarem-se, sem pensar umedeceu-os com a língua, não imaginando o quanto aquilo podia ser insinuante visto aos olhos do estranho.
Ele puxou-a para junto de seu corpo, de forma possessiva. Ela se segurou nos ombros dele para não cair, pois fora um gesto brusco e inesperado para ela. Apenas viu-o inclinando seu corpo em sua direção, sabia o que se seguiria. Pediu a si mesma que desviasse os lábios, no entanto estava bastante curiosa para saber o que vinha em seguida para poder desviar. Apenas fechou os olhos, em muda submissão, esperando o contato dos lábios macios. Mas para sua surpresa, os lábios dele roçaram por sua face, deixando um rastro de fogo por onde passaram, em direção ao seu ouvido.
-Ainda não é a hora certa, minha doce flor silvestre. -Disse o estranho com a voz grave e baixa, que fê-la experimentar um terno arrepio de excitação percorrendo sua coluna. Não sabia porquê, mas ele a fazia sentir-se diferente. Como se fosse a única mulher na face da Terra. Percebeu o quanto ele era atencioso com ela. Prendendo a respiração, no intuito de tentar acalmar-se, pensou que nem ao menos sabia o nome do homem que a provocava tão inquietantes sensações. Como se não pudesse mais conter sua própria curiosidade, abaixou sua entonação de voz, para algo baixo e que pensou que fosse sedutor o bastante. Na verdade, ela não sabia o por quê de estar agindo como uma adolescente, porém sentia que era o que deveria fazer, pois seus hormônios pareciam estar vibrando de uma forma estranha dentro do seu corpo.
-Qual o seu nome? -Perguntou ainda sentindo-se encantada por ele. Percebeu, porém, que o estranho retesava seus músculos, pareceu ficar subitamente tenso, quase protestou quando ele afastou-se levemente do corpo dela.
-Meu nome não é importante! -Ele disse em um tom neutro, que tornava de certa forma, acalorada a frieza dele quanto à referência de seu nome.
-Mas claro que… -Hermione começou a falar, numa forma rápida de expressar suas convicções sobre aquilo. Porém não conseguiu terminar a frase.
-Hermione… -Rose gritava, desviado sua atenção do homem e fazendo seu corpo voltar-se em direção a sua casa.
Ela acenou com a mão, para chamar a atenção de Rose e ao mesmo tempo, dizer que estava bem.
Rose respondeu com outro aceno e veio correndo em direção a ela.
-Você está bem? -Perguntou por fim, depois de um minuto de constrangedor silêncio.
Antes de responder, Hermione virou-se à procura do homem, porém ele tinha simplesmente SUMIDO. Ela deu um giro completo, porém não viu nem sinal do homem que a perturbara como nenhum antes.
-Não se preocupe, Rose! -Hermione disse puxando a amiga pelo braço, em direção a casa.- Passou! Eu só precisava de um tempo só.
Rose sorriu, e como se nada tivesse acontecido, voltou a tagarelar, como de costume, sobre coisas com as quais Hermione sequer se importava, e que talvez jamais a importasse.
Pouco antes de entrarem, Hermione ainda lançou um último olhar para o campo e a ponte, pois durante todo o trajeto, sentiu suas costas queimarem sobre olhares diligentes, contudo deu de ombros ao constatar que não havia ninguém, e entrou.
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-Meu senhor, conseguiu ver a moça? -Uma voz baixa perguntou ao homem que estava parado em frente à janela de sua casa, observando Hermione galgar o caminho de volta para a casa do lado oposto a dele em Wish's Valley.
-Sim, velho amigo, eu consegui. -O misterioso homem respondeu sem olhar a quem o perguntou. Os olhos fixos na figura esguia de Hermione que parecia entretida numa conversa com a outra mulher que ele não conhecia- Ela está mais linda do que antes.
-E o que o senhor vai fazer? -Perguntou a outra voz que deveria ser do suposto servo do homem misterioso.
-O que eu posso fazer? -O homem perguntou parecendo pouco animado- Ela foi a única mulher que sempre teve poder sobre mim, a única que eu realmente amei. Mas parece que eu não tenho chances. Não se ela souber quem eu sou. Ela nunca me perdoou.
-Ora, meu senhor… -O servo disse com um sorriso maroto- O senhor não precisa conta a ela quem você é. Existem coisas que são melhores serem ocultadas…
-Eu não sei se seria justo com ela… -o homem respondeu ao seu servo ainda sem desgrudar o olhar por um instante da figura que amava.
-O senhor já deve ter ouvido que não existem regras no amor e na guerra, não? -O servo perguntou aproximando-se da janela.
-Sim, meu amigo, mas não sei se essa regra se aplica a minha doce flor silvestre. -O homem respondeu suspirando e fechando as cortinas ao constatar que a jovem entrara.- Ela sempre foi um caso a parte. Sempre respeitava as regras, mas sempre tinha um argumento válido para achar exceções nessas mesmas regras.
-Eu sei que um dia ela vai te perdoar! -O servo disse antes de fazer uma reverência e sair em direção a cozinha.
-Espero que esteja certo, velho amigo! -Ele sussurrou paro nada.
Nota da Autora: Confesso que esse foi um capítulo particularmente difícil de se escrever. Principalmente o final de Voldemort, porque minha fase depressiva havia se passado e eu já não tinha mais motivos para continuar com aquilo, então finalizei de forma simples, mas espero que tenham gostado... Para me dizer cliquem no botãozinho pra deixar uma review, porque eu tô precisando de motivação para continuar...
Fairy- É claro que eles gostaram, porque eu ajudei! É sim, ela deixou eu meter o meu bedelho no final da Mione!!! O que acharam? Olha, que eu peguei leve! Não teve nada mais interessante, mas como vou escrever o próximo capítulo… He, he, he!
Fighter- Não gostei dessa risadinha maliciosa! Será que vai ser mais um cap imoral???
Ah, antes que me esqueça… O próximo cap vai ser dedicado ao dia dos namorados, mesmo que ele já tenha passado. É sempre bom ter um pouco de romance para aquecer o coração dos solitários.
Fairy- Ela quis dizer "encalhados"! Porque eu nunca vi alguém enrolar tanto para arranjar um namorado.
Fighter- Ai, ai, ai!!! Eu não falei sobre mim, mas sim num aspecto geral.
Fairy- Ahn han, sei... E eu sou um gnomo!
Fighter- Bem, como eu não estou disposta a brigar com Fairy, porque estou muito feliz para discutir, já que minha primeira apresentação na escola foi um sucesso...
Fairy- Mas ela quase teve de sair carregada por uma maca, de tanto nervosismo...
Fighter- Ah, não me denuncia!!!
Os agradecimentos especiais vão para a Cláudia, que está sendo muito legal em mandar e-mails e fazer perguntas (Fairy- Nós adoramos quando as pessoas fazem perguntas… P/ você também vai agradecimento Kakau); para a Mayara, que também me dá a maior força; para a Annie, que mandou um e-mail bacana; para a Dani que também enviou sugestões bacanas. E é claro que para a M^_^L@, que é minha super amiga; para Íris Branden que sempre me dá sugestões valiosíssimas, sem as quais essa fic sequer estaria no ar; para Lari (Não pense que esqueci de você, tente me mandar um e-mail, porque eu não consigo te responder, o e-mail volta); para Cami Rocha (q eu tenho certeza de que não lê a fic, mas que é super gente boa, além de ser a 1ª pessoa a conversar comigo na caixinha J); a Sinistra Negra (que está pacientemente ouvindo minhas pobres e podres idéias...); a Pelúcia (que ouve as histórias bizarras da minha vida se m reclamar); ao Danilo que começou a mandar reviews bacanas, ao Lord Asrie
Fairy- Eu agradeço a todos que mandaram e-mails para a Fighter pedindo para me deixar escrever o próximo cap!!!
Continuem mandando COMENTS!!! Eu e Fighter responderemos a todos!!! A propósito, a música desse cap é Whisper, do Evanescence. Eu AMO Evanescence!!!
Cláudia- Aê ainda bein q elas naum se esquecem di mim, Eini desculpa fazer isso, mais é q vc sabe q eu sou impaciente... E por Merlim me manda logo o começo da fic q a gnt tah escrevendo...
BJUX PARA TODOS E POR FAVOR COMENTEM!!!!!!!!!!
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