Sem Rumo




Naquela madrugada, quando Sirius chegou com Gina no hospital, o estado dela era gravíssimo, ela tinha perdido muito sangue com a hemorragia, estava com inicio de hipotermia e em estado de choque, fora à parada cardíaca que ela teve assim que chegou no St. Mungus. Enfim, os curandeiros fizeram tudo o que podiam por ela, só restava esperar...

À noite que se passou tinha sido exaustiva para todos, tanta física quanto mentalmente. E, apesar das coisas terem se solucionado, ainda havia muito o que discutir. Tecnicamente, todas as provas encontradas no casebre tinham sido recolhidas e anexadas ao inquérito dos envolvidos. As prisões tinham sido feitas e os acusados aguardariam julgamento em Azkaban. A prisão de Narcisa foi a que causou mais alvoroço na comunidade bruxa e, com sorte, ela pegaria muitos anos, tempo suficiente pra torna-la inofensiva. Finalmente, as coisas voltariam ao normal e a paz voltaria a reinar, já que um pouco de tranqüilidade já era mais do que esperado e desejado.

Quando tudo se acalmou na mansão Malfoy, e com o trabalho dos aurores já concluído, os familiares de Gina, assim como Harry, Hermione e Draco se encaminharam para o hospital a fim de saber como ela estava. Draco tinha entregado o bebê para Hermione um pouco depois de tê-lo encontrado, e a criança também teria que passar por alguns exames. Enfim, o resto da madrugada tinha sido longo, e muito cansativo. Todos apenas esperavam. No início da manhã, Hermione e Draco já impacientes, foram falar com o curandeiro responsável:

- E, então doutor, como ela está?- perguntou Draco ansioso

- Bem, ela teve sorte, se tivesse demorado mais um minuto, ela não teria resistido. E, sinceramente, não sei como ela agüentou... - disse calmamente

- Mas, ela ficará bem?- interrompeu Hermione

- Fizemos tudo o que podíamos, mas ainda é muito cedo pra dizer. Ela ficará alguns dias na UTI, em recuperação. E, só então irá pro quarto. Por isso, eu recomendo que vocês vão pra casa, descansem, não há nada que vocês possam fazer aqui.- aconselhou

- E, quanto ao bebê?- perguntou Draco de repente

- Ele nasceu perfeitamente saudável e forte. Mas, por precaução, eu quero que ele fique aqui em observação, além disso, é bom que ele esteja aqui quando a Srta. Weasley acordar.

- Certo. Obrigado, doutor.- disse Hermione

Quando o médico se afastou, Hermione se aproximou de Draco tocando-lhe o ombro:

- É melhor você ir pra casa descansar um pouco, eu fico aqui, não se preocupe.

- Está certo, eu volto a noite. Obrigado, Granger.- disse sincero

Ela sorriu em resposta e ele se foi. Mas, ele não conseguiria dormir, nem se quisesse, estava atormentado demais, sentia-se culpado demais e, por isso, começou a passar todos os dias no hospital, esperando pelo dia que ela fosse acordar. Foi só uma semana depois do acontecido, que ela recebeu autorização para ir pro quarto. Quando ele entrou, havia uma enfermeira lá. Ele permaneceu parado na porta, em silêncio, observando-a dormir. Gina abriu os olhos ainda meio sonolenta devido a medicação e viu que estava respirando por uma máscara de oxigênio. Não se lembrava de muita coisa depois que desmaiou, mas devia ter sido corretamente tratada, porque continuava viva. Sentia-se desorientada, sem saber onde estava. Começou a se sentar, olhando para o rosto desconhecido que se debruçava sobre ela:

- O quê... Onde?- perguntou com voz fraca

- Você está no St. Mungus... Calma. Continue deitada por enquanto.- aconselhou a enfermeira – Está se sentindo mal?

Gina descansou a cabeça no travesseiro e apenas fez um gesto de negativa com a cabeça. Aos poucos sentia a energia voltando ao seu corpo, mas ainda estava fraca demais. Foi então que percebeu que Draco a olhava. Por um segundo, era como se o tempo houvesse parado. Seus olhares se encontraram, e ela sentiu o coração bater mais forte. Sentiu vontade de que ele a abraçasse. Ainda o amava com a mesma intensidade de sempre, embora tudo, tivesse sido um desastre. Quanto mais ela sentia que o amava, mais desesperada ficava diante da indiferença com que ele a olhava. Quando a enfermeira saiu, ele se aproximou da cama. Ambos continuaram em silêncio por uns instantes:

- E, então, sente-se melhor?- perguntou Draco simplesmente

Ela assentiu com a cabeça, antes de perguntar:

- Você já está sabendo de tudo, não é?

Desta vez, foi ele quem assentiu:

- Vai adiantar se eu pedir desculpas, se eu disser que faria tudo diferente se tivesse à chance?

- Olha Gina, eu realmente sinto muito pelo o que a minha mãe fez a você...

- Tudo bem, não foi culpa sua.- interrompeu numa ânsia desesperada

- Foi sim, eu já deveria saber que ela tentaria algo... Mas, a questão não é essa, e um simples pedido de desculpas não resolvem as coisas. Certas coisas nos marcam e demoram pra cicatrizar.- disse seriamente

Gina desviou o olhar, se continuasse a encara-lo desataria em pranto. Sentia-se tonta. Tivera frágeis esperanças no futuro, mas elas se dissiparam naquele minuto:

- Eu quero que você fique com isto.- disse lhe entregando um molho de chaves

- O que é isto?

- São as chaves do apartamento. Eu quero que você fique com ele.

- Mas, e quanto a você?- perguntou confusa

- Eu estou indo embora, Gina.- respondeu sem encara-la

- Embora? Mas, e eu? E a gente? E, o bebê?- perguntou com certo desespero na voz

- Até uma semana atrás, eu nem sabia que ia ter um filho. Então, não me venha falar sobre ele agora.- retrucou asperamente

Gina não conseguiu mais se conter, lágrimas involuntárias molharam seu rosto e ela fechou os olhos, incapaz de responder:

- Entenda, isso nunca vai dar certo, Gina. Sempre vai haver coisas e pessoas entre nós. Além do que, você quase morreu por minha causa, de novo... Eu preciso me afastar, ficar longe. É o melhor pra todos... Eu até quis que as coisas tivessem dado certo, mas não deu, acabou. Ponto final.- respondeu com dureza

Aquelas palavras a machucaram ainda mais, e ela não conseguiu se controlar:

- Não é o melhor pra mim. Eu preciso de você... Nosso filho precisa... Por favor, não vá embora, fica...

- É mais seguro pra ele que eu fique longe. Além disso, você não precisou de mim pra tomar as decisões que tomou, não foi?- respondeu taxativo

Numa atitude de desamparo, ela afundou o rosto nas mãos:

- Eu não tive escolha...- murmurou

- Você podia ter escolhido confiar em mim.- retrucou com frieza

- Eu acho que eu já fui punida o suficiente pelas decisões que tomei, não me castigue ainda mais...

- Eu não estou te castigando... Só há coisas que eu ainda não posso esquecer e nem perdoar.- disse com amargura

- Por favor, Draco... Não me faça implorar...- pediu exasperada

- Não torne as coisas ainda mais difíceis, Gina.- disse decidido

Em meio a um choro silencioso e cheio de mágoa, ela perguntou com tristeza:

- Eu só preciso saber se você ainda me ama, Draco? Isso já seria suficiente...

Ele desviou o olhar e não respondeu, logo em seguida, a enfermeira entrou no quarto novamente, desta vez com o bebê nos braços:

- Acredito que este bebê lindo seja seu e esteja querendo a mãe de volta!

Gina abriu os braços emocionada, era a primeira vez que via e segurava o seu filho:

- Ele é tão lindo... E, se parece tanto com você.- observou em meio a lágrimas e sorrisos

Essa era bem uma verdade, a criança tinha os olhos azuis, meio acinzentados, e os cabelos loiros, como os de Draco. Ele, por sua vez, não demonstrou qualquer emoção, continuou impassível de onde estava. Ele sabia que estava sendo orgulhoso, mas ao mesmo tempo, também se sentia derrotado. Precisava ir embora logo, antes que perdesse a coragem:

- Você já o viu?- Gina perguntou

- Apenas uma vez.- admitiu sem nenhuma emoção na voz

- Draco, sinto muito, sinto muito por tudo...- Gina murmurou impulsivamente

Draco não disse nada, se afastou, e já na porta, voltou-se para encara-la:

- Adeus, Gina.

Sem mais delongas, ele partiu. Junto com a mágoa que a torturava, Gina sentiu seu coração partir. Amava-o, não havia dúvidas. E, era uma lástima, uma grande pena, que ele fosse tão orgulhoso a ponto de não conseguir perdoa-la. Mas, estava decidida, tiraria ele da cabeça, iria esquece-lo. Sentindo-se mais aliviada e confortada, abraçou forte o corpinho que segurava, embalando-o. Iria chama-lo de Ewan, Ewan Weasley Malfoy.

Draco saiu sem encarar, nem dizer nenhuma palavra para os Weasley que aguardavam fora do quarto, e nem respondeu as provocações de Fred e Jorge. Ainda não sabia para onde iria, mas no momento, não podia ficar, nem fazer promessas a Gina. Ele ainda sentia-se traído e magoado demais. Precisava de um tempo sozinho para pôr a cabeça no lugar e decidir no que faria da sua vida:

- Gina... Você estava chorando? O que foi que aquele fuinha fez com você?- perguntou Fred preocupado assim que entrou no quarto

Ela sorriu, recuperando a calma:

- Não fez nada, está tudo bem. Só estávamos resolvendo as coisas.

- Se aquele panaca teve a capacidade de brigar com você nesse estado, ele vai ver só o que eu vou fazer com ele.- protestou Jorge indignado

- Eu já disse que está tudo bem.- insistiu Gina sorrindo

- Quer parar de atormentar a menina... Mas, que coisa!- repreendeu Molly

- E, então filhinha, como está se sentindo?- perguntou Arthur

- Vou sobreviver... Vocês já viram que lindo netinho eu dei pra vocês?- perguntou exibindo o filho orgulhosa

Eles sorriram:

- Nós já o vimos sim. É uma linda criança, filha, parabéns!- respondeu Molly contente

- Pena que se parece tanto com o Malfoy.- comentou Fred decepcionado

Molly lançou um olhar ameaçador ao filho:

- Eu já disse pra você parar.

- Eu estou brincando, coroa. Mas, continuo achando que ele ficaria ainda melhor se tivesse nascido com os cabelos vermelhos, afinal é a marca registrada da nossa família.- insistiu rindo

- Não liga não, mãe. Ele só está com ciúmes.- disse Gina rindo

Quando a família saiu, Hermione disse em tom animador:

- Não fica triste não, Gina... O Malfoy é orgulhoso, mas não é má pessoa. Talvez ele só esteja precisando de um tempo pra se acostumar, pra entender tudo... Tenha um pouco de paciência, ele está sendo imaturo, mas é do Malfoy que estamos falando, não é?

Gina sorriu, talvez a amiga tivesse razão, mas não estava disposta a esperar por ele a vida toda. Não mais.

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

No fim da tarde, quando todas as visitas de familiares e amigos acabaram, Gina amamentou o filho e procurou dormir. Aquele dia tinha esgotado suas energias e ela precisava de repouso pra poder ir embora logo. Foi na manhã seguinte, que ela teve uma surpresa, que a encheu de felicidade. Ela tinha acabado de pôr Ewan pra dormir, quando a enfermeira entrou:

- Bom dia, como está sentindo hoje?- perguntou a mulher simpaticamente

- Bem melhor.- respondeu simplesmente

- O suficiente pra receber visitas? Tem uma pessoa aí fora bem ansiosa pra te ver.

- Claro, eu já estava mesmo ficando entediada.- respondeu sorrindo

A mulher saiu e, em seguida, entrou trazendo uma pessoa numa cadeira de rodas. Gina mal podia acreditar no que seus olhos estavam vendo, sua vontade era de pular da cama e encher o amigo de abraços:

- Sebastian!!!- exclamou entusiasmada

- E, aí? Achou mesmo que eu ia te deixar em paz assim tão facilmente... Eu não podia morrer sem antes fazer um testamento pro Tobias, não é? E estou mais do que inconformado de ter perdido as emoções dos últimos acontecimentos. Isso não é justo.- discursou com divertimento

Gina sorriu, era bom ter o amigo de volta:

- Você não toma jeito mesmo... Ah, Sebastian, senti tanto a sua falta... Precisei tanto de você esse tempo todo.

- E, eu não sei? Não é todo dia que se acha alguém disposto a ouvir a mesma baboseira todo santo dia. E, falando no Ser em questão, cadê ele que não está aqui?- perguntou animado

Gina o encarou desanimada e fez um breve relato sobre tudo o que acontecera, no fim, Sebastian a fitava indignado:

- Eu não acredito!!! Depois de tudo o que você passou, todo o sacrifício, ele não foi capaz de ter um pingo de sensibilidade! Bem típico do Malfoy mesmo...

- Não fala assim, Sebastian... Ele tem os motivos dele...

- Ah, por favor, Gina... Não me venha defende-lo. Eu não permitirei mais que você sofra, desta vez, ele perdeu todos os créditos que tinha comigo.

- Eu não vou mais sofrer, você tem toda a razão. Está na hora de dar a volta por cima e superar tudo isso.- disse decidida mais pra tentar se convencer do que ao amigo

Sebastian a encarou espantado:

- Gina Weasley!!!Eu nunca acreditei que viveria pra ver esse dia chegar.- comentou divertido

Ela riu:

- Mas, me diz... Como que aconteceu tudo isso com você? Quando você saiu do coma?

- Então, naquele dia eu pensei que o Malfoy tivesse enlouquecido, mas já li as noticias, não era ele no final das contas... Mas, agora já estou bem, acordei faz dois dias, a Hermione que me contou tudo o que aconteceu... Cruz credo hein, Gina... Mulherzinha do inferno aquela, vou te contar!!! Tomara que apodreça em Azkaban.

- Nem me lembre, Sebastian... Foi horrível, achei que iria morrer lá.- contou com uma sombra nos olhos

- Sério mesmo, com tudo o que aconteceu, eu cheguei à conclusão de que você está precisando se benzer, urgentemente. Além disso, que amigos você foi arranjar, hein? Daqui uns dias, só falta eu elaborar um plano maligno contra você.- brincou

- Nem me fale. Isso foi uma das coisas que mais me magoou... Eu esperava tudo da Narcisa, mas ser traída de forma tão cruel pelos meus próprios amigos, por motivos tão frívolos, é muito doloroso.- desabafou com tristeza

- Já chega, vamos parar de falar nisso, já passou. E, quem precisa de mais amigos quando se tem a mim?

Gina riu, era impressionante como a presença do amigo a acalmava:

- E, o seu bebê? Eu o vi ontem no berçário, ele é lindo, Gina. E, já estou reivindicando meu lugar de padrinho, ouviu?

Gina voltou a sorrir:

- Nada mais justo, Sebastian.

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Depois de toda a confusão dos acontecimentos, e com a irmã internada, Rony e Jennifer não tiveram muito tempo pra conversar, pra pôr os pingos nos is. Isso só foi acontecer no meio da outra semana, ela estava de malas prontas pra ir a Nova Yorque entregar os últimos relatórios aos seus superiores, e esperava Rony sentada no sofá, de um jeito, ou de outro, iriam ter que conversar, não dava mais pra adiar. Assim que entrou e a viu, ele não demonstrou qualquer tipo de emoção, continuava tratando-a com indiferença:

- E, então, nós vamos conversar ou não?- iniciou Jenny calmamente

- Quer dizer que agora você quer conversar? Acho que esta conversa veio com seis meses de atraso Ash, ou devo dizer, Jennifer.- retrucou impaciente

Jennifer revirou os olhos:

- Eu já te expliquei mil vezes, eu estava seguindo ordens, no meio de uma missão, não dava pra contar a verdade. Eu estaria pondo o meu trabalho em risco.

- Pois bem, você acabou colocando o seu casamento em risco, se é que existiu alguma verdade nele. Ou se casar comigo também fazia parte da missão?- perguntou com sarcasmo

- Você está agindo feito criança, Rony. Tudo o que aconteceu foi verdadeiro, eu só não fui totalmente sincera, e omiti alguns fatos. É tão imperdoável assim?- perguntou calmamente

- Você mentiu pra mim, Ash, Jennifer, ou seja lá qual for o seu nome... Mas não sei, não tenho condições pra decidir isso agora. Preciso de um tempo pra pensar.- respondeu sério

- Pelo amor de Merlin, Ronald Weasley, quem dá tempo é relógio... Vamos ser práticos, está bem? A questão é muito simples, não tem o que pensar: Ou você quer ou você não quer continuar comigo. E, aí, qual vai ser sua decisão?- perguntou impaciente

Ele balançou a cabeça, confuso:

- Já disse que não sei, o fato é que não estou gostando muito de você no momento, então não peça pra decidir o futuro do nosso casamento como se fosse pra escolher um tomate na feira.- respondeu simplesmente

Ela o encarou frustrada:

- Está bem então, eu tenho que viajar, volto dentro de uma semana, não sei bem ainda. Esse será o seu tempo. Pense bem, Rony.- disse antes de pegar as malas e sair

- Vou pensar.- respondeu resoluto

Nos dias que se passaram, ele ficou se sentindo extremamente sozinho. A verdade, é que a traição de Luna tinha deixado marcas profundas, talvez porque ele estivesse se sentindo extremamente culpado e ainda não tivesse superado isso. O fato é que estava punindo sua esposa e nem sabia bem porque, ele já tinha perdoado as mentiras há algum tempo, mas continuava incapaz de dizer isso a ela e, por mais que negasse, sentia falta dela. Ele estava num estado de melancolia profunda e dedicava a maior parte do dia aos cuidados da filha, tentando compensar os erros que tinha cometido com Luna e diminuir sua culpa. Exatamente, uma semana depois Jennifer voltou, ele brincava com Kyra na sala e nem se deu ao trabalho de olha-la quando a porta bateu:

- Não vai perguntar se eu fiz boa viagem?

- Não é preciso, é? Você está aqui viva, não está? Então, aparentemente, a viagem foi ótima.

Ela bufou impaciente:

- Ainda bravo comigo?

- Preciso, realmente, responder?- retrucou com irritação enquanto ia pra cozinha

Ela sentou-se no sofá cansada, talvez cabesse a ela decidir partir... E quando ele voltou da cozinha, lá estava ela segurando as malas, decidida. Quando a viu, ele perguntou confuso:

- Aonde você vai?

- Acho que já está mais do que claro que você não vai me desculpar, então, estou indo embora.- respondeu resignada

- Como assim? Você não vai embora.- disse taxativo

- Como eu não vou embora? Essa é uma decisão minha.

- Não é não. Como seu marido, eu digo que você não vai embora.

- Como meu marido? Quer dizer que ainda estamos casados?- perguntou divertida

- É, estamos, mas isso não muda o fato de eu ainda estar bravo com você.- respondeu calmamente

- Ah, é? Nem se eu te der muitos beijinhos e abraços?

Ele pensou por uns instantes:

- É, posso pensar no seu caso, quem sabe com alguns beijinhos, eu não mude minha opinião a respeito.

- Ronald Weasley, eu poderia te prender por chantagem, sabia?

- É, mas você não vai.- disse antes de toma-la nos braços e beija-la – Me desculpe, Jenny. É que eu estou tão bravo comigo mesmo, me sinto tão responsável pelo que aconteceu com a Luna, acho que acabei descontando minha frustração em você.- desabafou

Ela o abraçou com carinho:

- A culpa não foi sua, Rony. Você pode ter sido meio imaturo no inicio, mas reparou o erro a tempo. A escolha foi exclusivamente da Luna. E é ela quem deve se sentir culpada pelos danos que poderia ter causado a filha.

Ele sorriu mais aliviado:

- Talvez você tenha razão.

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Uns dias antes do natal, Gina saiu do hospital acompanhada de sua família. E, apesar, de Draco ter lhe entregado as chaves do apartamento, ela preferiu ficar no antigo, se sentiria menos pior. Sua mãe, juntamente com Hermione, tinha sido bem atenciosa, preparando o apartamento todo para chegada da filha e do neto. E, Gina ficou emocionada com o quarto que ela preparara para Ewan:

- Ah, mãe. Obrigada! Está tudo muito lindo.- agradeceu

- Que é isso. Não me custou nada. Eu só acho muito cedo pra você vir pra cá sozinha. Você poderia passar uns dias em casa. Poderíamos cuidar melhor de você lá.

- Sua mãe tem razão, filha.- insistiu Arthur

- Está tudo bem, pai... Sério. Eu prefiro ficar aqui, cuidando das minhas coisas, curtindo meu filho. Eu vou ficar bem sozinha, não se preocupem.- disse sorrindo

- Se você prefere... Mas, qualquer coisa não hesite em nos chamar.- pediu Arthur preocupado

- Pode deixar.

Assim, aos poucos, Gina foi se acostumando com a nova vida. Se ela estava feliz? Não completamente. Mas, tinha conseguido atingir uma serenidade que já era suficiente. E, logo, que voltasse a trabalhar, não teria mais tempo de pensar em Draco ou em qualquer outra coisa além do filho. No entanto, a noite anterior à véspera do natal, abalou a sua serenidade, novamente mexendo com suas emoções. Ela estava dormindo quando foi acordada por um daqueles choros noturnos desesperados de todo bebê normal. Ela se remexeu na cama, criando coragem para se levantar, já fazia algumas noites que não tinha sonos completos, por isso, enrolou pra sair da cama. E, quando finalmente abriu os olhos de verdade, percebeu que tudo estava silencioso, que Ewan parara de chorar. Subitamente ela levantou, assustada, e com o coração aos pulos foi para o quarto do filho. E, assim, que abriu a porta, suas narinas foram invadidas pelo cheiro inconfundível do perfume de Draco, mas não havia ninguém lá. Quando se aproximou do berço do filho, ele a olhava, sorrindo. Naquele momento, tivera certeza de que ele tinha estado ali, de que ele acalmara o filho. E, novamente, seu coração se agarrou a esperanças para o futuro. Talvez nem tudo estivesse de fato, perdido. Aspirando o perfume e com Ewan nos braços, ela sorriu:

- Papai esteve aqui, não foi?

Como se estivesse entendendo, a criança sorriu:

- Meu lindinho...- disse antes de coloca-lo no berço

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Gina não conseguiria, nem se quisesse, esquecer o que se passara e aquilo ficou tão forte em seus pensamentos que no natal, até sua família percebeu o quanto ela estava distraída. Ela inventou uma desculpa qualquer para família e só contou o que tinha acontecido para Hermione:

- Você tem certeza mesmo, Gina?- perguntou ela descrente

- Claro que tenho. Ele esteve lá, Mione. Eu tenho certeza.- afirmou com veemência

A amiga a encarou sem saber o que dizer e como se lesse os pensamentos dela, Gina disse calmamente:

- Eu sei o que você está pensando, mas não se preocupe... Eu não pretendo ficar esperando por mais seis anos e nem posso. Eu tenho que pensar no Ewan agora, não mais em mim. Ele fez uma escolha e, por mais que isso me machuque, eu vou respeita-la. E, vou supera-la também.

- É bom ouvir isso, Gina. Por isso, como amiga, eu peço: não deixe que estas visitas afetem você. Isso acaba te fazendo mal.- observou sincera

- Eu sei...- admitiu frustrada

Fred e Jorge que estavam testando um tipo mais avançado de orelhas extensíveis acabaram, inevitavelmente, escutando toda a conversa entre as duas. No final, os dois se encaravam indignados:

- Eu sabia que aquele filhote de trasgo tinha feito alguma coisa pra ela.- disse Jorge

- Eu disse que iria mata-lo se ele a magoasse...- continuou Fred

- Ainda mais depois de tudo o que ela passou. É muita insensibilidade mesmo.

- Nós vamos ter que tomar uma atitude.- decidiu Fred

- Vamos mesmo. E eu já até sei por onde começar.

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Na noite de natal, sem ter para onde ir, Draco acabou indo parar no bar onde Rebecca trabalhava. Ela o reconheceu assim que o viu:

- Draco, oi... Quer alguma coisa?- perguntou simpática

- Um uísque, sem água e sem gelo, por favor.- pediu desanimado

Enquanto ela o servia, ele perguntou normalmente:

- Trabalhando na noite de natal?

Ela sorriu:

- Pois é, são ossos do ofício. Mas, e você? Não devia estar em casa, não? Comendo um belo peru, com um bom vinho?

- Isso se eu tivesse uma casa... Mas, não me olhe assim, estou feliz do que jeito que estou, não dá pra ver?

Ela riu:

- Claro, é quase contagiante.- disse com divertimento e ironia

No quarto uísque, ele já tinha desabafado tudo o que tinha acontecido, Rebecca o ouvia penalizada:

- Eu tive um filho, e só fiquei sabendo quando ele nasceu... É demais, até pra mim...E, olha que eu gostava dela, de verdade... Por que vocês são assim, hein? Por que vocês fazem isso com a gente?

Rebecca sorriu, aquiescendo:

- Talvez ela tenha tido os motivos dela.

- Besteira!- protestou indignado

- Se você gosta dela e está sofrendo, por que você não a procura? Não diz como se sente? Sei lá, talvez te faça bem.- sugeriu Rebecca

Ele a olhou contrariado:

- Talvez em outra vida... Neste momento, a única coisa de que preciso é de outro copo de uísque.- disse decidido

- Está bem, mas está na hora de você parar de beber... Se você quiser, tem um quarto pra alugar aqui mesmo, você pode ficar esta noite.

- Tanto faz.

- Vamos, anime-se. É natal... Que tal dividir uma cerveja amanteigada comigo?

Ele deu um fraco sorriso em resposta:

- Pode ser... Eu não tenho nenhuma outra opção mesmo.

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Desde o momento em que Draco aparecera, Gina nunca mais tivera uma noite tranqüila. Ficava a espera dele. Na noite de ano novo, ela acabou adormecendo na poltrona do quarto de Ewan e foi à noite em que ele voltou. Ele não percebeu que ela estava lá e quando ela acordou, o encontrou velando pelo sono do filho:

- Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, você iria aparecer.- disse simplesmente

Ele foi pego de surpresa, mas não se virou para encara-la:

- Eu só queria ver como ele estava.- explicou sério

- Ele é seu filho, tanto quanto meu, Draco. Você pode vir vê-lo sempre que quiser. Não precisa vir escondido no meio da noite.- disse com calma

- Eu sei. Só estava tentando evitar conversas como essa.- retrucou com dureza

Aquela frase a magoou, deixando-a irritada:

- Se esse é realmente o problema, é só avisar o dia que você vem, que eu saio e deixo alguém esperando pra te receber. Não se preocupe, eu não vou mais te importunar com as minhas tolices românticas.- disse ofendida

Ele não respondeu, apenas comentou orgulhoso:

- Eu esperava que você aceitasse o apartamento.

- Eu não quero nada seu.

- Eu não estou dando nada pra você, estou dando pra ele.- retorquiu com superioridade

- Ele também não está precisando de nada. Estamos bem aqui. Além do que, eu não conseguiria dormir na cama pra onde você levou outra mulher.- admitiu com mágoa

- Não me culpe, você me levou a fazer aquilo.- afirmou friamente

- Claro, eu também sou culpada por isso.- disse irritada

Ela já estava se sentindo tão cansada, tão cheia de mágoa, que talvez ele não merecesse tudo o que ela havia feito, talvez fosse à hora de ambos recomeçarem uma nova vida, virar a página. Exausta destas discussões que não levavam a nada, que só machucavam ainda mais, ela decidiu parar de lutar por aquele amor de menina, pelo casamento. Talvez, todos tivessem razão, talvez tudo fosse apenas uma doce ilusão, que por tanto tempo, ela insistiu. Ela desejava um amor pleno, que fizesse bem, não este tipo de amor, cheio de jogos e palavras duras... E, por mais que doesse o que ela estava prestes a fazer, ela o fez:

- Olha Draco, eu posso não ter feito a melhor escolha, mas eu fiz o que achei sensato. Eu só não queria perder você de novo, achei que estaria te protegendo. Mas sabe, eu já estou tão cansada disso tudo... Tão cansada de tentar te convencer, de lutar por nós dois sozinha... Que eu estou desistindo aqui e agora... Eu vou pedir o divórcio, seguir a minha vida, deixar você seguir a sua. Talvez me faça bem usar o pingo de dignidade que me restou. E, Me desculpe por ter te amado demais.- anunciou com uma tristeza melancólica

Ele permaneceu calado por uns instantes, antes de dizer:

- Tomara que você seja feliz. Boa noite, Gina.

Depois que ele partiu, as palavras que tinham trocado passavam por seus pensamentos numa repetição sem fim e ela desabou, como se naquelas lágrimas coubessem toda a mágoa, toda tristeza, toda dor que estava sentindo, mas ela jurou pra si mesma, que seria a última vez que choraria por ele.




N/A:Oiii, até que não demorei tanto desta vez, né? Bem, está aí então o penúltimo cap. Desta história, em breve estarei postando o último!!! E, o que estão achando? Não deixem de comentar!!! Desde já, agradeço a todos que sempre comentam, vocês fazem esta escritora aqui muito feliz, rsrsrs. Então, vou tentar postar o último cap. Semana que vem, não desistam de esperar, já está acabando...
Então é isso, muito, muito obrigado pelos comentários positivos, vocês não têm idéia de como isso dá ânimo pra escrever. Falows... bjaum... Até mais. Feliz Fim de Ano pra todos vocês!!!!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.