Então, Adeus
Harry Potter catava seus livros vagarosamente. Não sabia que utilidade eles teriam agora, mas seriam uma boa lembrança de tempos mais felizes. Seu malão estava aberto no meio do quarto e ele jogava as coisas dentro dele com displicência. Edwiges piava melancolicamente em sua gaiola.
- Você sairá em breve. – sua voz saiu arrastada e seu olhar era cansado. – Estaremos indo embora logo. http://www.floreioseborroes.com.br/editarcap.php?idcap=2333&tCh=10
Ele andou a esmo pelo quarto, como se tentasse decidir o que seria melhor guardar dessa vez. Sem prestar atenção, tropeçou na agenda de deveres de casa que tinha ganhado de Hermione e caiu com um baque surdo no chão.
Xingou baixinho, e já sabia o que estava por vir. Logo ouviu os berros de seu Tio Válter no andar debaixo. Harry de maneira alguma se importava agora. Não tinha mais importância e não causava mais nenhum efeito. Ele poderia gritar o quanto quisesse.
Levantou-se e continuou jogando as coisas no malão. Em cima da escrivaninha, estavam aninhados vários pedaços de pergaminho. Um deles era do ministério.
“Sr. Harry Potter,
O seu teste de aparatação será realizado no dia 5 de Agosto na sede do Ministério da Magia, às 10:00 hs.
Atenciosamente,
O Ministério.”
Harry não estava nada feliz em ter que entrar no ministério. Seria a oportunidade perfeita para Scrimgeour cercá-lo e tentar usá-lo como garoto propaganda do ministério.
A guerra estava cada vez pior. Coisas horríveis vinham acontecendo. Ocasionalmente Harry lia um sobrenome conhecido nos jornais, o que significava que parentes de seus colegas de escola estavam morrendo.
Há algumas semanas ele havia lido sobre uma quintanista da Lufa-Lufa que tinha sido mordida por Greyback. O lobisomem estava no topo da sua lista dos que deveriam morrer. Abaixo de Snape, Voldemort e Bellatrix, logicamente.
- Harry, o jantar está pronto. – ele ouviu sua tia berrar. –
Verificou se não tinha mais nenhuma coisa sua para guardar e fechou o malão com muito esforço. Colocou sua capa de invisibilidade em cima da cama e desceu para jantar.
Remexeu a comida distraidamente. De tempo em tempo olhava para o relógio, ansioso. Ele não queria olhar seus tios nos olhos. Apesar de tudo, seu estômago estava embrulhado por estar deixando aquela casa para sempre.
Sua última ligação com sua mãe. Sua proteção, seu sangue, seu amor. Parou de pensar nisso antes que não conseguisse mais segurar as lágrimas. De repente, ouviu uma batida na porta. Levantou-se de um pulo, derrubando a cadeira e correu pelo corredor.
Anos antes teria sido sua ansiedade que o teria feito correr daquela maneira, mas naquele dia era o conhecimento do perigo que cada segundo do lado de fora daquela casa representava.
Ele abriu a porta para contemplar Tonks, Moody e o Sr. Weasley.
- Olá, Harry.
- Olá. Entrem.
Eles entraram e seguiram para a cozinha. Harry subiu rapidamente e pegou suas coisas. Não perguntou porquê Lupin não havia vindo, era noite de lua cheia. Quando chegou a cozinha, Tonks foi despachar suas coisas para Toca.
- Bom, eu acho que chegou a hora. – ele falou constrangido, sua voz meio embargada na garganta. – Eu não voltarei mais.
- Pra onde você vai? – sua tia perguntou estranhamente. –
- Eu vou para a Toca, depois vou a Godryc’s Hollow e então morarei na casa que meu padrinho me deixou. – ele enumerou sem pensar. –
- Godryc’s Hollow? Você vai visitar o túmulo deles? – a voz dela saiu abafada, quase um sussurro. –
Harry não fazia a mínima idéia de como ela sabia que era lá que eles haviam se escondido, e lá que eles haviam sido enterrados. Mas naquele momento apenas pensou que provavelmente era uma das coisas que Dumbledore tinha escrito naquela carta.
- Sim. Você deveria ir junto.
Ele não percebeu o que tinha dito antes que já tivesse escapado. Ouviu as palavras sendo ditas como se outra pessoa estivesse falando. Se arrependeu por ter feito o convite, provavelmente era uma coisa que Dumbledore queria que fizesse sozinho.
- Não, obrigada. – ela respondeu friamente. –
Os dois se observaram por um longo tempo. Moody havia pousado seu olhar cortante em cima de Válter o tempo todo, enquanto o Sr. Weasley observava a cozinha encantado. Tonks estava encostada na porta, observando Duda.
- Então, adeus. – ele finalizou. –
Ele se dirigiu a porta. Devagar, observando cada detalhe da casa. Então o Sr. Weasley segurou seu braço.
- Não Harry, nós vamos aparatar.
Harry fechou os olhos e preparou-se. Foi incômodo como sempre, mas logo eles estavam em frente a Toca. Assim que eles entraram, seguidos por Moody e Tonks.
Hermione levantou-se da mesa e jogou-se no pescoço dele. Então Rony, Carlinhos e obviamente a Sr.ª Weasley vieram abraçá-lo. Quando conseguiu se desvencilhar do abraço, todos sentaram-se em volta da mesa. Ele sentiu falta de Gina, mas resolveu não perguntar diretamente.
- Onde estão os outros? – Harry perguntou, tentando parecer inocente e evitando o olhar de Hermione. –
- Os gêmeos, Fleur e Gui estão no trabalho, Gina está no quarto... – Harry estremeceu quando ouviu o nome, mas Rony não percebeu e continuou a enumerar. – Percy também está trabalhando e Draco está lá em cima.
- Rony? – Hermione gritou em advertência. –
- Draco? - Harry perguntou ao mesmo tempo que a amiga, furiosamente. –
- É, Harry. – Hermione respondeu. – Aconteceu uma coisa horrível.
- Mamãe. – ele ouviu alguém dizer. –
Ele se virou e viu Tonks abraçando uma mulher, parada na porta. Ela era alta e tinha cabelos pretos. Embora Harry nunca a tivesse visto antes, achava que era bem óbvio, mesmo que Tonks não tivesse a chamado de mãe. Ela era uma mistura das irmãs, embora fosse bem mais corada.
Ela cumprimentou o Sr. e a Sr.ª Weasley.
- Esses são meus filhos. – ele apontou para Rony e Carlinhos, que deram sorrisos amarelos. – Você conhecerá os outros. Essa é amiga dos meus filhos, Hermione Granger. – Harry percebeu a maneira estranha como ele havia dito a palavra amiga e tentou conter um riso. – E este é Harry Potter, eu acredito que você saiba.
- Olá. – ele cumprimentou. –
Ela se aproximou dele e sorriu.
- Olá. Muito prazer, Andrômeda. – ela estendeu a mão e ele apertou. – Nymphadora fala bastante de você.
Harry viu Tonks em um canto revirando os olhos e escondendo o rosto nas mãos, enquanto corava estranhamente.
- Sente-se, Andrômeda. – o tom da Sr.ª Weasley era excessivamente gentil, o que lhe dizia que havia algo errado. – Posso servir-lhe alguma coisa?
- Não, obrigada Molly. – ela respondeu docemente enquanto se acomodava de frente para Harry. –
Todos ficaram em silêncio, trocando olhares estranhos. O Sr. Weasley suava estranhamente, Tonks estava encolhida entre um armário e o fogão, como se quisesse desaparecer, Moody escondeu rapidamente o rosto em seu chapéu coco, a Sr.ª Weasley e Carlinhos tentavam fazer alguma coisa para não ter que se virar para o centro da cozinha.
Ele olhou para Rony e Hermione, os dois engoliram em seco. Ele e Andrômeda se olharam por um tempo, percebendo que todos estavam escondendo alguma coisa deles.
- Nymphadora? Você me disse para vir porquê precisava me contar uma coisa importante. O que houve?
Tonks saiu vagarosamente de onde estava, sentou-se ao lado da mãe e segurou sua mão carinhosamente. Ela respirou fundo e a olhou nos olhos.
- Mamãe, a tia Narcisa foi assassinada.
Harry sentiu seu estômago embolar. Olhou para Andrômeda. Ela parecia estar congelada. Por um tempo, ela nem piscou. Então grossas lágrimas escorreram por seu rosto.
Depois de alguns minutos, ela voltou a si. Soltou um soluço abafado, enxugou as lágrimas e tentou se recompor.
- Como aconteceu?
Todos se entreolharam, ninguém parecia querer contar, muito menos Tonks. Harry entendia, no ano anterior tivera que ficar repetindo que Snape tinha matado Dumbledore e como tinha acontecido, e tudo mais soubesse e era doloroso. Além do mais, era perdera um primo, Sirius e um pouco mais de um ano depois, perdia uma irmã. Era bem como ele se sentia.
- Nós podemos falar disso depois, mamãe? – ela pediu. – É melhor que absorva isso primeiro. E também, o motivo pelo qual eu te pedir pra vir. Draco. Ele está aqui.
- Nós achamos... – O Sr. Weasley interrompeu. – Como você é parente e Lúcio está em Azkaban, e Bellatrix... bom, não vamos falar dela, ela não ficaria com o garoto...
- Eu terei o maior prazer de ficar com meu sobrinho. – ela completou com a voz meio engasgada. – Se ele quiser, e se Lúcio permitir.
A partir daí, ninguém falou mais nada. Todos haviam se encolhido de forma estranha depois da notícia.
- Rony, por que você e Harry não sobem? – A Sr.ª Weasley perguntou nervosa. –
- Mas mãe, o Draco está no meu quarto. Onde o Harry vai ficar?
- Lá, com vocês. – ela respondeu friamente. -
Diante do tom incontestável dela, Harry, Rony e Hermione se levantaram e subiram. Harry queria perguntar mais sobre a morte da mãe do Malfoy, principalmente se iria dividir o quarto com ele, mas não sabia como. Ele olhou para Hermione, que sacudiu levemente a cabeça.
- Eu também acabei de chegar e ninguém parece disposto a repetir a história por inteiro. – ela olhou para Rony, que virou o rosto, fingindo que não havia escutado. –
Quando eles chegaram ao quarto de Rony no sótão, encontraram Draco sentado na cama, no escuro. Rony acendeu a luz, mas ele não pareceu Ter percebido isso ou suas presenças no quarto. Harry sentia pena dele. Sentou na cama de Rony, de frente pra ele e esfregou os joelhos nervosamente, procurando o que dizer.
- Eu sinto muito, Draco. Se você quiser conversar...
Os dois ficaram ali por um bom tempo. Ocasionalmente, Harry lançava um olhar a Rony e Hermione, encostados na parede, mas eles também não pareciam ter nenhuma idéia.
- Eu acho que vocês realmente deveriam falar, Draco. – Rony falou. – Vocês tem muito em comum.
Draco virou a cabeça lentamente e olhou para Rony, com lágrimas nos olhos. Hermione também estava encarando o ruivo, furiosa com sua indelicadeza. Harry apenas conseguiu corar e abaixar a cabeça.
Hermione pegou Rony pelo braço e o puxou para fora do quarto, batendo a porta.
- O que ele quis dizer com isso? – Harry perguntou encabulado e ficou ainda mais nervoso ao perceber que tinha dito em voz alta aquela pergunta que era só pra ele. –
- Talvez que...bom, nossas mães foram assassinadas por Voldemort.
- É. – a ferida da morte de sua mãe voltou a doer intensamente em Harry. – Bom, talvez você queira conversar com alguém que sabe o que você está sentindo...
- Você não sabe o que eu estou sentindo. – Draco estava chorando agora. – Eu deveria estar morto, e não ela. Ela se sacrificou por min.
Harry estava entendendo melhor o que Rony quis dizer. De certa forma, Narcisa havia feito o mesmo que sua mãe.
- A minha mãe também. – ele murmurou cabisbaixo. – Ele queria a min, ele disse a ela que ela não precisava morrer, ele a mandou sair da frente, mas ela não quis. E o sacrifício dela acabou salvando minha vida. Foi por isso que ele não conseguiu me matar.
Harry jamais imaginou que contaria isso a Malfoy, mas se sentia melhor em encontrar alguém que houvesse passado por uma experiência tão parecida. Se sentia menos sozinho. Ele levantou a cabeça e contemplou o rosto chocado de Draco.
- Pelo menos você teve seus pais por dezesseis anos. – Harry acrescentou, tentando ser positivo. –
Draco ainda estava muito abalado.
- Eu preferia ter perdido ela há dezesseis anos atrás, sabendo que foi tudo rápido e sem nenhuma dor, do que vê-la passando pelo que ela teve que passar. – Draco respondeu amargamente. –
- O que aconteceu? – Harry perguntou, curioso. –
Draco contou tudo. Harry ficou ainda mais nauseado. Sentia pena de Draco e da sua mãe, acima de tudo. Ele dificilmente encontraria as palavras certas pra consolar o garoto.
Depois de muito tempo sem falar nada, ele resolveu descer, mas Draco não quis jantar, não quis descer. Quis apenas ficar sozinho. Quando chegou a cozinha, viu que Andrômeda estava branca. Tonks ainda segurava a mão da mãe e as duas estavam chorando. Harry deduziu que ela estava contando tudo.
Aproximou-se sem ser notado e sentou-se ao lado de Hermione e Rony, bem perto das duas, para ouvir a história horrível novamente.
- Você está bem, Andrômeda? – a Sr.ª Weasley perguntou. – Porquê se você precisar vomitar novamente...
- Não. Eu não preciso.
Harry olhou para Hermione. Ela estava em choque, com uma expressão horrorizada no rosto e as mãos tremidas sobre a boca. Rony passou o braço pelo ombro dela e desajeitadamente, beijou-lhe na bochecha.
Ele olhou em volta imediatamente para ver se alguém tinha percebido e Harry disfarçou, mas mesmo assim o amigo ficou vermelho.
- Você está bem, mãe?
- Bom, eu acabei de ouvir que a minha irmã foi perversa o suficiente pra seqüestrar minha outra irmã e entregá-la a Você-sabe-quem, e ainda por cima torturar a ela e ao nosso sobrinho cruelmente. Não, eu não estou bem.
Ela escondeu o rosto entre as mãos e chorou baixinho. Rony puxou Hermione e a ajudou a subir. Harry se perguntou se deveria ir atrás deles, mas acabou indo. Eles foram para o quarto dos gêmeos, que estava vazio.
Hermione sentou-se na cama e Rony sentou-se ao lado dela. Harry preferiu ficar em pé, na porta, de onde poderia ir embora sem ser notado.
- Você está bem, Mione? – o ruivo perguntou. –
- Bellatrix Lestrange é a pior pessoa que já conheci. – ela brandiu. – Os pais de Neville, Sirius, e agora a própria irmã.
- Isso é porquê você não ouviu da boca do Draco, no dia que ele chegou aqui, transtornado. Foi muito pior. A Tonks suavizou bastante a história.
- Como isso pode ser pior?
- O Malfoy e mãe ficaram trancados, por vários dias, sem comida, ou água. A única maneira da mãe do Malfoy conseguir que Bellatrix desse água pro Draco, era deixando que a irmã a torturasse, por diversão. – Rony definitivamente não tinha tato pra coisa e Hermione saiu correndo do quarto, tropeçando. – O que aconteceu com ela? – ele se virou pra Harry. –
- Eu acho que ela foi vomitar. – Harry respondeu, sem graça. –
Rony ficou vermelho, levantou-se e foi atrás dela. Harry achou melhor descer. Tinha esquecido do jantar e francamente não acreditava que alguém fosse Ter apetite naquela noite.
Bom, talvez Rony.
N/A:
Jeferson Nalevaiko - Valeu, muito orbigada. Eu continuarei me esforçando.
Annah Granger - Obrigada Annah, que bom que você ficou com pena dele. Era essa a intenção. Chega de Draco mimado.
Madame Selina - É sobre o Draco sim. Espero que você leia e goste. Eu adoro a sua fic e estou ansiosa pelas atualizações.
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