A Alquimia



Londres
(1957-1960)



“Muito bem.” - Disse, e sua voz denotava a austera autoridade com que costumava se dirigir a seus Comensais – “Quero saber exatamente o que aconteceu lá em baixo, como e porque.”

Mas Ann não respondeu. Ela estava encolhida contra a parede, parecendo mais frágil do que nunca, e seu corpo estava tomado por espasmos que lembravam soluços violentos.

Ann?” – Chamou-a novamente, dessa vez alteando a voz, usando o tom letal e amedrontador.

Mas ela ainda assim não respondeu. Impaciente, Voldemort deu um passo na direção da cama em que ela estava deitada, recolhida em posição fetal, e que tremia junto com o corpo frágil depositado em sua superfície. Então agarrou-a pela gola da camisola que ela vestia e a virou de barriga para cima.
O susto foi tamanho que Voldemort pulou para trás, tropeçou numa cadeira e caiu no chão, e sem sequer levantar, engatinhou em direção à porta, aterrorizado.

Os olhos de Ann estavam baços e giravam fora de órbita, como esferas de vidro branco-leitoso. Sua expressão era de puro terror e dor, e de sua boca entreaberta saía uma espécie de névoa negra, que se ergueu e serpenteou para fora de seu corpo, e em seguida uma névoa branca como a neve, rescindindo a incenso, que também serpenteou para fora, indo se unir à névoa negra, tão negra que a cor preta seria por demais clara para descreve-la, e então se uniram formando um círculo, um bizarro Yin-Yang que girava rapidamente e orbitava ao redor da cabeça da garota. Então, quando a esfera negra e alva completou a volta completa, tornou a se separar em duas cobras de fumaça, que serpentaram uma em torno da outra, formando uma corrente, voltou para dentro de onde havia saído.

Ann acordou com um salto que a fez pular centímetros acima da cama, e então emitiu um urro choroso de desespero, começando a verter rios de lágrimas que não cessavam nunca. Sequer parecia ter notado a presença de outra pessoa no quarto. Só quando Voldemort se aproximou e estendeu uma mão enluvada para afastar seus cabelos platinados do rosto arranhado, ela reagiu.

“NÃO ME TOQUE!” – Gritou, afastando a mão que se aproximava com uma força e violência que não condiziam com seu frágil aspecto físico. “NÃO ME TOQUE!” – repetiu, tornando a se encolher contra a parede se sacudindo em soluços legítimos.
“O que...?” – Perguntou Voldemort, confuso.
E então tornou a estender a mão para tocar o rosto inchado de fúria de Ann, que o repeliu com igual violência.
“JÁ FALEI PARA NÃO ME TOCAR, VÁ EMBORA!” – Urrou, e então começou a arrancar os próprios cabelos e a arranhar o rosto e os pulsos, vertendo sangue nos lençóis, abrindo antigas feridas ainda mal-cicatrizadas.
“ESCUTE AQUI, NÃO É VOCÊ QUE ME DÁ ORDENS!” – Gritou Voldemort, segurando os pulsos da garota com firmeza para impedi-la de continuar retalhando a pele – “ME FALE O QUE ESTÁ ACONTECENDO, AGORA!”
Mas o que Ann fez foi agarrar o bibelô de cobra que enfeitava sua mesa de cabeceira e atirá-lo contra a parede, fazendo-o em mil caquinhos, no momento em que Voldemort largou seus pulsos devido a mais uma Emissão Mágica Involuntária. Então gritou uma dúzia de palavrões pesados que ninguém imaginaria que ela conhecesse – embora os tivesse dito em inglês, ao contrário de Língua das cobras, como tinha feito até então - e começou a socar a própria cabeça.
Impedimenta!” – E o corpo de Ann paralisou-se, mas o feitiço não impediu que ela continuasse a mandar Voldemort ir fazer coisas muito obscenas e que a deixasse em paz.
Como a garota recusasse a calar a boca, ele desferiu um violento tapa em seu rosto que fez um filete de sangue escorrer, indo unir-se ao sangue que manchava a pele alva de seu pescoço, escorrendo dos profundos arranhões que tinha feito em si mesma.
“Quero que me explique o que foi isso que acabou de acontecer.”
“E-eu n-não sei...” – Gaguejou, tomada pelos soluços.
“Você sabe. Não me faça força-la a contar.”
“Nunca me explicaram... Nunca me disseram... Eu nunca soube...”
“Diga só o que você sabe. Acredite, eu consigo detectar mentiras melhor do que você imagina.”
Ann continuou a tremer já que o efeito do feitiço havia passado. Então recomeçou a gaguejar, mais nervosa do que nunca.
“Eu não sei... Não sei direito. Eu cresci nessa cela trancada, isolada, sem qualquer contato humano. É assim desde que eu me lembro. Não sei falar língua normal, só a das cobras, porque nunca me ensinaram a falar. Não enxergo muito bem no claro, porque minha cela era escura demais. Não sei ler, ou escrever, contar, não sei o que é dia ou o que é noite, não sei meu sobrenome, não consigo diferenciar as cores, não distingo barulho de música, homem de mulher. O pouco que eu sei aprendi nos dias em que estive presa aqui, ou lá fora, observando.” – Ela deu uma pausa e avaliou a expressão assustada do homem à sua frente – “Eu vivi como morta, enterrada viva.”

Voldemort parou e observou a garota à sua frente, enquanto elaborava um plano.

“Existe um jeito...” – Falou, muito lentamente – “Um jeito de descobrir o porquê disso tudo.”
Ann levantou um olhar questionador a Voldemort. Então o bruxo se levantou e saiu pela porta do quarto, voltando poucos minutos depois com uma bacia de pedra esquisita gravada com runas.
“O que é isso?” – Ann perguntou, apontando para a bacia de pedra.
“Uma Penseira.” – E então depositou-a na mesa.
“Quero que você tente se lembrar de suas lembranças mais distantes.” – Disse, estendendo sua varinha para Ann, que a olhou apreensiva, mas tomou-a na mão. Ela fechou a cara numa expressão de dor, e Voldemort lembrou-se que varinhas faziam-na ter mais visões.
Então, como demonstração, apontou a varinha para as próprias têmporas e de lá puxou um fio prateado, escolhendo uma memória aleatória, e então depositou a memória na bacia.
O liquido-gás girou por alguns instantes, até que surgiu em sua superfície a imagem de um garotinho pálido de cabelos escuros sentado em um banquinho; um grande chapéu cônico cobrindo o seu rosto, enquanto anunciava “SONSERINA!” e uma multidão vestida de preto aplaudia.
Então Ann apontou para as próprias têmporas e puxou um fio prateado de memória, que veio substituir as cenas da penseira, girando velozmente até a imagem se tornar nítida:

Era um bebê recém-nascido enrolado num lençol, em seu berço apertado ao lado de uma grande e desarrumada cama de casal. Uma mulher estava deitada ali, desfalecida, aparentemente dormindo. Nesse momento, quando o bebê se mexia de modo incômodo, um homem vestido de branco – um médico qualquer – entra na sala, checa o pulso da mulher e abana a cabeça.
“Ela está morta”. – Diz, dirigindo-se ao outro homem que espiava da porta, com ar desolado.
“O que aconteceu?” – Pergunta o outro homem, fitando a mulher morta na cama, agora com lágrimas nos olhos.
“Não sei. O parto não foi difícil, e a gravidez correu normalmente. A criança é totalmente saudável, uma menina.”
“Sim, nós queríamos mesmo uma garotinha” – Murmurou o pai. – “Era o sonho dela, sabe.” – E uma lágrima escorreu de seus olhos, que foi rapidamente enxugada.
“Quem foi a parteira?” – Perguntou o médico, ainda observando a mulher morta e o bebê no berço.
“Ela – a tia - está lá embaixo, na cozinha. Mas se recusa a falar, está muda de espanto. Não quer contar o que aconteceu para deixa-la assim.”
Os dois adultos se retiraram. Poucos minutos depois, entra uma mulher jovem ligeiramente parecida com a mulher morta, que olha preocupada para os lados, e tranca a porta com a varinha.

O quarto era grande e luxuoso e a cama de casal tinha grandes cortinas vermelhas de veludo que caiam ocultando parte do corpo da mulher. A mulher de aspecto sinistro, então, se aproximou da criança e sacou uma faquinha retorcida de prata em formato de lua minguante, que refletiu momentaneamente a luz da verdadeira lua minguante no escuro céu noturno.
“Não posso deixar isso prosseguir. É meu dever...” – Ela ofegou, erguendo a faca acima do corpinho frágil enrolado no berço, hesitando por um momento.
Então, como que pressentindo que algo ia acontecer, o bebê irrompeu em um choro alto e estridente, chamando a atenção do pai, que acabara de entrar no quarto, e por pouco não surpreendia a cunhada em uma tentativa de homicídio.
“O que houve?” – Perguntou o homem, tornando a fechar e trancar a porta com um aceno da própria varinha.
“É muito sério” – Respondeu a mulher, guardando discretamente a faquinha dentro das vestes, puxando a varinha e conjurando duas cadeiras que ela colocou viradas de frente para o berço.
O homem sentou-se e olhou para o bebê que continuava chorando baixinho.
“Ela deve estar com fome” – Disse, fazendo menção de retirar a criança do berço, mas a mulher barrou seus braços antes que pudesse alcançar a menina.
“Ela tem a Alquimia”
O homem piscou confuso, como se sua cunhada tivesse falado-lhe alguma coisa em outra língua.
“Alquimia? Como assim? Do que está...?”
“A Alquimia, sim. Ela não pode viver com os outros, Vernon.”
A bruxa tornou a sacar seu punhal de prata encurvado, e ergueu-o acima do bebê, que reiniciou seu choro escandaloso.
“O QUE É QUE ESTÁ FAZENDO?” – Gritou Vernon, e empurrou a mulher para longe do alcance de sua filha, e ela caiu de costas na cama; a faca indo parar longe no outro lado do quarto.
Mas a bruxa se levantou como se nada tivesse acontecido, e encarou o cunhado diretamente nos olhos, e sendo ligeiramente mais alta que ele, passava uma certa sensação de domínio sobre o homem.
“A maioria das pessoas não é boa nem ruim; ninguém possui a alma feita inteiramente de luz ou de trevas. Todos nós possuímos... Diferentes nuances de cinza. Mas ela – Ann foi o nome que escolheram?”
Vernon assentiu.
“Ann terá uma alma profundamente perturbada, onde o bem e o mal jamais se fundirão, e estará condenada a uma loucura permanente, e suas duas metades lutarão eternamente dentro dela. Ann nunca terá paz, porque as forças opostas dentro dela travarão um combate eterno pelo domínio de sua alma. E mais: ela vai absorver as energias negativas e positivas de todos aqueles que se aproximarem dela por muito tempo ou mantiverem um contato mais íntimo; como um buraco negro; porque estará sempre buscando um equilíbrio entre ambas as forças. Foi por isso que minha irmã morreu.. Você acha realmente justo que ela continue viva, mesmo sabendo que foi a responsável pela morte de Flora e estará condenada a uma vida de tormentos?”

Vernon parou, atordoado, e olhou para a mulher sem saber o que dizer. Então, desabou sobre a cadeira, tomando o cuidado de afasta-la do berço onde Ann ainda chorava, e então perguntou; a voz quase tão chorosa quanto a voz do bebê que clamava por alimento às suas costas.
“Como isso foi acontecer? É alguma espécie de maldição, quem sabe, ou de profecia?”
“Não” – Respondeu a bruxa, secamente, e puxou o cobertor para cobrir o rosto pálido da irmã morta – “É algo aleatório; não segue nenhum padrão. E muito raro, também. E então? Já decidiu o que vai fazer?”
“Ela é minha filha...” – Suplicou o pobre homem.
“Ela tem a Alquimia! Eu entendo que você não queira mata-la, mas entenda você, que ela jamais será igual às outras crianças. Só para citar; ela será ofidioglota e suas lágrimas terão poderes curativos como as de uma fênix!”
“Você está me pedindo para matar a minha própria filha?”
“Há outras opções, mas acredite-me, a morte seria melhor.”
“E o que são essas outras opções?

A mulher parou novamente, e analisou o bruxo cuidadosamente. Então falou:

“Podemos entrega-la ao Ministério.”
“Acho... Acho que isso seria preferível.” – Disse, e escondeu o rosto nas mãos, sem ver que a bruxa se debruçava sobre o berço e recolhia a criança, e segundos depois, aparatou para algum lugar.



Voldemort sentiu novamente o ar gélido do quarto engolfa-lo, e se sentiu levemente aturdido até se dar conta de que estava encarando uma Ann quinze anos mais velha, uma Ann que ainda chorava copiosamente, lamentando qualquer uma das desgraças que preenchiam sua existência.
“Como é que você se lembra disso?” – perguntou, assombrado, enquanto seu cérebro trabalhava arduamente, processando a enorme quantidade de informações que tinham surgido de repente.
“Quando se vive numa cela escura e trancada, sem nenhum contato humano, não se tem muitas memórias ocupando a cabeça”
“Bem... é algo realmente... Mas você não entendeu, não é? Você não sabe falar...”
“Não sei falar língua de gente. Não tive contato suficiente com outros seres humanos para aprender” – Ela disse, e sorriu melancolicamente.
“Você ficou trancada desde bebê nessa cela?”
“Sim, creio que sim.”
“Mas você falou que não era a primeira vez que fugia de casa!”
“Eu menti.” – Ela disse, simplesmente, e Voldemort lamentou que não houvesse usado a Legilimência naquele dia.

Voldemort agora dava voltinhas pelo quarto, tentando juntar seus pensamentos embaralhados. Era uma história triste, realmente, mas o seu lado sonserino logo tomou as rédeas:
Como poderia tirar proveito disso?

“Então... A Ofidioglossia teoricamente simboliza as forças das trevas, e as lágrimas curativas, as forças da luz. Faz sentido...” – Falou em voz alta, mais para si do que para Ann, que arregalou os olhos e continuou a observar Voldemort.
“Tem mais? Mais memórias?”
Ann não respondeu – parecia estar envergonhada do fato de não saber falar; apanhou a varinha ao lado da penseira, apontou-a para a cabeça e de lá tirou mais um fio de lembrança prateada, que girou velozmente na bacia de pedra até que a imagem se tornou nítida novamente.


Era mesmo uma cela escura e sombria, mas não havia grades nem outros prisioneiros no mesmo prédio. Havia apenas uma pequena janela cuja vidraça ficava permanentemente fechada, mas da qual era possível distinguir belos campos verdes e ensolarados – embora a luz solar não fosse suficiente para iluminar todo o quarto, e ainda tivessem que acender algumas velas. Também era possível distinguir a grande altura que separava aquele quarto do chão: era uma torre imensamente alta.

No quarto circular parcamente iluminado, havia uma cama razoavelmente confortável, uma mesa e cadeira com um prato com restos de comida e uma outra porta que dava para um banheiro.
As paredes eram enfeitadas com inúmeros desenhos incrivelmente realistas, mostrando cenas macabras e alguns vislumbres abstratos.
Em cima da cama, aparentemente adormecida, estava uma garotinha muito magra e baixa para a idade, de uns onze anos.
Então, de repente, a mesma bruxa que Voldemort havia visto tentar mata-la, a tia de Ann, entrou no quarto cautelosamente. Ann acordou imediatamente e se sentou na cama; o olhar fixo na tia.
“Essa carta chegou para você” – Ela disse, sacudindo a carta com o brasão de Hogwarts debaixo do nariz da sobrinha, que obviamente não compreendia suas palavras.
“O Ministério não deixou, claro.”
Ann sacudiu a cabeça, confusa, e se aproximou mais, como que apurando os ouvidos para ouvir melhor.
“Será possível que você é tão burra que não entende o que eu estou falando?” – Gritou a mulher, furiosa, e agarrou a sobrinha pelo antebraço, fazendo-a ficar cara-a-cara consigo.
Ann gaguejou algumas poucas palavras incompreensíveis em inglês, que Voldemort supôs que ela não soubesse o significado exato:
“Ann sair?”
“Você acha que vai sair daqui, seu monstrinho?”
A garotinha abaixou a cabeça, mas a bruxa a segurou pelo queixo violentamente, forçando-a a manter o contato visual.
“Não me admira seu pai ter fugido; eu teria te matado.”
Ann sacudiu a cabeça, e a mulher mais velha pulou para trás, largando a garota, como se tivesse recebido uma ferroada na mão.
Furiosa, a bruxa desferiu um violento tapa contra o rosto pálido da sobrinha.
Ann gemeu, caindo de bruços na cama, mas voltou a encarar a tia, e com uma expressão rebelde na face, desfiou um punhado de palavrões e ofensas, as mesmas palavras que a tia lhe dirigia.
A mulher ignorou-as, mas seu olhar passou a sustentar um brilho malicioso.
“O recado está dado. Dumbledore quer falar com você. Eu disse que você não entenderia, mas... Ele insiste.” – E então suspirou – “Não sei porque ainda insistem...”
Alguns minutos se passaram, durante os quais, Ann apenas se limitou a encarar o teto e observar seus próprios desenhos.

Dumbledore – um Dumbledore bem mais velho do que Voldemort podia se recordar – entrou no quarto e fechou a porta atrás de si.
Ao contrário do seu habitual, Dumbledore não estava sorrindo. Seu rosto expressava puro desgosto, e ele balançava a cabeça negativamente.
Então viu a garotinha deitada na cama, olhando assustada para sua figura, e finalmente, abriu um sorriso um tanto melancólico.
“Não posso repreende-la por se assustar. Creio que fazem, se eu não me engano, quatro anos desde que um ser humano diferente pôs os pés aqui. Eu mesmo teria vindo visitá-la antes, mas confesso que apenas recentemente fiquei sabendo de sua situação.”
Ann entreabriu a boca, meio impressionada, meio curiosa.

“Oh, mas naturalmente, há problemas de comunicação entre nós, creio. Passar onze anos trancada numa cela sem contato humano não é algo saudável. Achei que eles pudessem pelo menos se dar ao trabalho de conviver o suficiente com você para que aprendesse a falar, mas tal esperança se revelou tola.”

E então Dumbledore sacou a varinha do bolso das longas e chamativas vestes cor-de-abóbora, e conjurou uma pequena cobra que passou a controlar com a voz, e que repetia tudo que este falava, de modo que Ann se surpreendeu ao constatar que era capaz de entender tudo que Dumbledore falava.

“Não gosto muito de cobras.” – Disse o bruxo. – “Mas pelo visto você não compartilha da mesma opinião que eu.”
E Voldemort percebeu que Dumbledore estava se referindo aos desenhos em uma das paredes, que retratavam cobras de diversas cores e tamanhos, numa variedade surpreendente para alguém que nunca havia visto uma pessoalmente na vida.
“Mas eu gosto das fênix.” – Disse Dumbledore, apontando para outra parede coberta de desenhos de fênix. – “São muito bons. Você que os desenha?”
A cobra repetiu todas as palavras do bruxo, e Ann concordou, acenando a cabeça.
“Nunca entendi porque insistem em trancar aqueles que têm a Alquimia, e isola-los do resto da humanidade. É verdade que, se mal treinados, os dons podem levar os bruxos que a possuem a cometer atrocidades, e claro, não creio que seria prudente expô-la a um ambiente tão carregado de magia como Hogwarts, dada a propensão da sua visão de piorar cada vez que você mantém um contato com um objeto mágico como uma varinha. E também, de certo, seria prudente protege-la da cobiça de elementos inescrupulosos que porventura venham a desejar compartilhar de seus dons e utiliza-lo em proveito próprio.”

Voldemort notou que Ann não compreendia metade do que Dumbledore estava falando, uma vez que nem sequer sabia o que era Alquimia, mas como ela se mantivesse calada, o Diretor supôs que ela estivesse entendendo. E então continuou:

“Mas, como disse, o Ministério insiste em mantê-la prisioneira, então achei que ficaria contente em saber que estou tentando mexer meus pauzinhos para ao menos lhe dar uma vida decente, e já temos notícias de uma família em Birmingham que gostaria de adota-la. E que não se preocupasse, porque eu venho fazendo pesquisas sobre o assunto, e descobri que você não é nenhum buraco-negro que suga as energias ao seu redor; isso só acontece em momentos de tensão elevada. E você deve se preocupar mais com os outros do que os outros com você, então não se culpe por nada.” – Completou Dumbledore, com um sorriso, pegando a mãozinha trêmula da garota com as suas.
“Ser diferente não necessariamente é algo ruim, querida. Veja, você tem a Visão, e se bem controlada, é muito útil. Você tem lágrimas com poderes curativos, e mesmo a ofidioglossia pode ser algo realmente interessante. Não se deixe levar pelo que os outros falem ou achem de você. É pura intriga da oposição.” – E deu um risinho simpático, no que foi acompanhado por um sorriso tímido de Ann.

A cobra havia se enrolado ao redor no pé da cama, e encarava Ann fixamente, enquanto repetia as palavras de Dumbledore, fazendo um bizarro serviço de tradução. Por fim, Dumbledore se levantou, após alguns minutos analisando os desenhos. Parecia particularmente interessado num dos mais antigos, desenhado em papel amarelado pelo tempo e num traço infantil, embora surpreendentemente bem feito. Retratava um duelo entre dois bruxos velhos enquanto um rapaz jovem de cabelos escuros os observava atrás de uma tapeçaria. A cena também pareceu bastante familiar a Voldemort, que não pôde deixar de se lembrar da derrota de Grindewald.

“Acho que está na hora de eu ir, querida criança. Nos veremos em breve.” – E com um aceno de sua cabeça de longos cabelos prateados, Dumbledore saiu pela porta.
Ann observou o Diretor se retirar, e assim que tornou a ficar sozinha, puxou uma folha de papel em branco e um lápis de uma caixa debaixo da cama e começou a retratar Dumbledore, com uma precisão assustadora, e o desenho foi tomando quase a configuração de uma fotografia. Mas antes que o desenho estivesse completo, porém, Voldemort sentiu seu corpo voltar à realidade de quatro anos após aquele evento, e novamente sentiu o frio cortante do quarto de hóspedes de sua casa o envolver e o olhar assustado e penetrante de Ann o interrogar.


“Então você não foi adotada?”
“Não, eles desistiram. Dumbledore também nunca mais voltou” – Havia um tom de amargura em sua voz – “Eu disse que nunca ninguém me explicou o que era essa tal Alquimia.”
“É um dom. Sua alma é metade boa e metade má, e essas duas metades lutam entre si para dominar você, e isso faz com que você tenha visões, ouça vozes e tudo o mais; são forças opostas tentando lhe atrair para um dos lados. E eles trancaram você porque temiam que pudesse sugar as energias boas e más de todos à sua volta, já que sua alma estaria eternamente buscando um equilíbrio. O ataque que você teve agora pouco foi provavelmente resultado da grande tensão a que você foi exposta ao me ver baleado, e por conta do esforço de produzir as lágrimas de fênix.”

Ann estava boquiaberta, completamente chocada. Lágrimas recomeçaram a rolar sobre o seu rosto ainda cortado. Então ela tornou a se sentar sobre a cama e escondeu o rosto nas mãos.

“Tem algum jeito de me livrar disso?” – Ela perguntou, muito baixinho.
Voldemort analisou-a, meditando acerca do que Ann poderia fazer se soubesse o poder que encerrava dentro de si.

Todo o poder da Luz ou das Trevas... Dentro de uma única pessoa! A magia na sua forma mais primitiva e pura! O que não daria para possuir aquilo?

Uma criaturinha cobiçosa havia acabado de nascer dentro dele, e clamava para ter sua fome de poder saciada, e para ela, Ann parecia uma presa particularmente saborosa.

“Acho... Não sei. Talvez se você fosse submetida a uma situação suficientemente impactante, o fluxo poderia ser interrompido e manifestações de um lado ou outro poderiam vir a ocorrer. Vou pesquisar sobre isso...”

Mas quando Voldemort acabara de colocar a mão sobre o maçaneta da porta, e a girava para abrir, Ann tirou as mãos do rosto, que parecia mais pálido do que nunca e dise:

“Espere... Tem uma última lembrança que eu preciso mostrar.”

E pegou a varinha, colocou-a numa têmpora e puxou um terceiro pensamento prateado, que tornou a girar na penseira. Voldemort se aproximou e tornou a mergulhar nas memórias da garota; sentindo uma súbita vertigem até se ver de volta à cela escura e ainda mais abarrotada de desenhos.

Uma Ann vários centímetros mais alta e dona de um corpo que mostrava sinais de querer se transformar no de uma mulher, a Ann de quinze anos que Voldemort conhecia, estava sentada no chão encostada na parede, ofegando intensamente, os braços estendidos à frente como que tentando agarrar alguma coisa, embora ela estivesse de olhos fechados.
Uma Ann tendo uma visão aparentemente bastante desagradável.
Não posso... Não posso... Me desculpe, eu não posso ir...” – Ela gemia, agoniada.
Quando, de repente, uma mulher – a tia de Ann - abriu a porta violentamente.
Ela caminhou a passos lentos até a sobrinha encolhida no chão, que continuava a gemer coisas incompreensíveis.
“Será que você não consegue fechar essa boquinha imunda e falar feito gente?” - Urrou a bruxa, e agarrou Ann pelo antebraço, e a jogou sobre a cama.
“Veja” – E a mulher atirou um punhado de fotos velhas em cima da sobrinha. – “Hoje é aniversário de morte da sua mãe. Sabia que foi você que a matou, cobrinha nojenta?”
Mas Ann continuava a não entender nada daquilo. Recolheu as fotos de uma bruxa ruiva e olhos negros – sua mãe – e passou a analisa-las cuidadosamente. Nunca tinha visto uma fotografia antes.
“Ah, e claro, é seu aniversário também.” – Completou a mulher, desgostosa, mirando a sobrinha com uma expressão de completo nojo.
“Você não tem vergonha? Como tem coragem de ficar olhando para ela assim?” – E tornou a puxar Ann pelo braço, fazendo ambas se encararem. Lágrimas escorriam pelo rosto de Ann e de Susan, lágrimas de revolta e ódio, respectivamente.
“Você entendeu, não entendeu? Afinal você não é tão burra. Já a tinha visto antes.” – E apontou o desenho extremamente realista da mesma bruxa da fotografia, colado na parede como tantos outros.
“Como foi? Foi numa dessas visões demoníacas? Você fica relembrando da morte de sua mãe? Será que você se lembra de como foi naquele dia? Você se lembra da alma dela sendo sugada? Você se lembra dos gritos de dor, dos pedidos de piedade?”

E então Susan desferiu um violento tapa no rosto de Ann, fazendo um filete de sangue escuro escorrer pelo canto de sua boca, e as lágrimas aumentarem em quantidade, as de dor indo se juntar às provocadas pela visão que continuava tendo.
“Flora pediu que eu lhe entregasse isso quando você fizesse quinze anos.” – E então atirou-lhe uma correntinha dourada com um pequeno diamante em forma de coração pendurado como pingente.
“É claro que ela não tinha como saber o que você ia ser! Uma cobrinha nojenta, imunda, demoníaca, perversa...” – E então desferiu um novo golpe contra Ann ao tornar a fitar o desenho que ela fizera da mãe. E outro, e mais outro tapa, até que todo o rosto de Ann estivesse inchado e rosto, mal podendo se defender.
Logo ambas tinham se engalfinhado numa luta inflamada; Susan histérica de ódio, e Ann tentando se defender dos golpes, até que, num rápido clarão, a bruxa é lançada para trás; as costas batendo na parede.
“NÃO!” – gritou Ann em inglês, e se jogou para apanhar a varinha da tia largada ao lado.
“Que é que você vai fazer, monstrinha?” – rugiu Susan, sorrindo maniacamente. – “Além de tudo, poderia apostar como você é um aborto. Você causa tanta vergonha à Casa dos Black que seu nome sequer está na árvore, sabia?”

Mas Susan logo descobriu que Ann não era um aborto, e tampouco precisava de conhecimentos relativos a magia para realizar um feitiço poderoso. Porque as palavras que saíram de sua boca foram impulsionadas por uma força muito mais maligna.

“Avada Kedavra” – A voz de Ann soou; não débil e fraca como costumava ser, mas forte, grave e carregada de maldade.
Susan caiu morta. Num impulso provavelmente causado pelo rompante da parte negra de sua alma, Ann escancarou a porta ainda com a varinha da tia, estuporou o guarda e saiu correndo, descalça e vestindo apenas uma simples veste de verão, embora fosse final de outono lá fora.
Desceu os inúmeros lances de escada, não encontrando ninguém em seu caminho, e ao chegar à entrada da torre – localizada acima de um rochedo no meio do mar – se atirou do alto, caindo com estrépito na água gelada. Seu braço direito, porém, bateu numa rocha e fraturou.
Ainda não dando importância para o braço machucado, e mesmo sem saber nadar, Ann se debateu, conseguindo milagrosamente se manter na superfície até alcançar a faixa de areia.
Voldemort notou que a varinha da tia de Ann ainda estava na mão da garota, e foi isso que provavelmente incitou as visões, porque ela continuava a gritar, cada vez mais alto:

“Estou indo, estou indo...”
Ann continuou a correr pela faixa de areia; o vento agitando seus longos cabelos platinados e colando as vestes molhadas no corpo esguio. Três vezes Ann caiu, contudo, ela não se intimidou e continuou a correr.
“Estou indo!” – Gritou mais uma vez, e sua voz saiu como o som de algo que se rasga, rouca e desesperada.
“Estou indo, estou indo, pare com isso, por favor...”

Então Voldemort reconheceu a entrada de sua caverna em Hogmuggle, e assim que Ann entrou no grande salão de rocha, sentiu a conhecida vertigem, e voltou a sentir os pés firmes no assoalho de madeira escura de sua própria casa.
Atordoado, voltou a olhar para Ann e disse:
“Oh, bem, isso explica muita coisa”.

[..]

Como foi que descobriram?” – Rugiu Voldemort quando, no dia seguinte, ainda à mesa do café-da-manhã, se deparou com a seguinte manchete no Profeta Diário:

Massacre de trouxas e o roubo da Cruz de Hórus


A reportagem relacionava a Marca Negra deixada sobre a casa atacada ao lendário símbolo que marcava a relíquia mágica e o crime ocorrido na noite anterior com um suposto “Lord Voldemort”, que por sinal, no momento se perguntava como raios eles haviam descoberto seu nome. Apenas supôs que deveria haver alguém por acaso naquela rua, naquela noite. O jornal, no entanto, não havia conseguido nenhuma foto, e sequer provava que havia sido ele mesmo a comandar o massacre.
No final, o repórter ainda completava com a história da Cruz de Hórus, e de como ela havia desaparecido misteriosamente, dando sustentação à hipótese.
Enfurecido, Voldemort amassou o jornal e atirou-o na lareira.

Como pudera ser tão descuidado?
Ao menos não haviam provas contra sua pessoa. Mas uma coisa não poderia mais negar: que fora ele quem roubara a Cruz de Hórus.
Pensando bem - Disse para si mesmo - Não foi uma perda total. Agora pelo menos o mundo saberá do que Lord Voldemort é capaz.

[...]
Ainda precisava de um último objeto para transformar em Horcrux. E ele já sabia o que queria: Um objeto de cada fundador. Sempre se sentira atraído à história de Hogwarts, e ter uma relíquia de cada fundador lhe parecia mais do que apropriado. Agora, tinha o medalhão de Slytherin e a taça de Huffle-Puff. Precisava voltar a Hogwarts atrás de alguma pista que indicasse o paradeiro das outras relíquias, e assim sendo, mandou uma coruja a Hogwarts – agora dirigida por Dumbledore - requerendo uma visita para tentar o cargo de Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, cargo que sempre desejou. Não que gostasse particularmente de crianças, mas também não desgostava – as via como um diamante bruto, que podiam ser lapidadas de acordo com suas intenções futuras, e isso era algo muito precioso. Conhecera Slughorn, e o observara bem o suficiente para perceber o quanto um professor podia ser influente na formação de seus alunos.

Então, numa noite particularmente fria de nevasca, pegou o trem para Hogsmeade junto com um bando de comensais, imaginando se Dumbledore já teria abandonado sua costumeira desconfiança para com sua pessoa.

Sentiu um grande fluxo de lembranças – algumas prazerosas, outras nem tanto – invadindo-o violentamente assim que pôs os pés na estação de Hogsmeade. Sorriu tolamente ao pensar que o lugar não tinha mudado nada, e parecia mais do que nunca com um cenário de pesinho de papel, com suas casinhas e chalés cobertos de neve branca, como muffins com glacê açucarado.
Seus comensais também sorriram animados, como um bando de estudantes, e logo tomaram o caminho do Três Vassouras.
“Esperem aí” – crocitou Voldemort para seus asseclas – “Vocês não vieram aqui para beber Cerveja Amanteigada, não. Vão para o outro bar, menos suspeito, e aguardem ordens minhas.”
E então aparatou nos portões de Hogwarts, onde os vastos campos verdes dos jardins começavam, e de onde era possível avistar o campo de quadribol (onde um minúsculo pontinho solitário voava acima dos aros, caçando outro pontinho dourado menor ainda).

Então, novamente uma avalanche de lembranças soterrou sua mente, e Voldemort se viu relembrando dos momentos tão felizes vividos no castelo, e voltou a desejar nunca te-lo deixado.
Subiu pelas escadas do Salão Principal, onde quase podia sentir o cheiro gostoso da maravilhosa comida dos elfos de Hogwarts, tornou a lembrar do Baile de Formatura; passou pelo segundo andar e pelo banheiro onde ficava a entrada para a Câmara Secreta, onde ficou contente ao constatar que Murta ainda gemia e lamentava; depois pelo sétimo andar e a tapeçaria dos trasgos dançarinos e as lembranças que teve o fizeram corar levemente.

Finalmente chegou na torre do escritório de Dumbledore. Encarou a porta por uns momentos, perguntando-se o que Dumbledore acharia de seus últimos feitos, e então bateu.

"Entre".
"Boa noite, Tom", disse Dumbledore docilmente. "Não quer sentar?”.
“Obrigado", disse Voldemort, e ele afastou o assento para o qual Dumbledore tinha gesticulado
"Eu ouvi que você tinha se tornado o diretor"
"Fico satisfeito que você aprove", disse Dumbledore, enquanto sorria. "Eu posso lhe oferecer uma bebida?".
"Seria ótimo", disse Voldemort. "Eu vim de longe".
Dumbledore levantou e dirigiu-se para o gabinete onde mantinha a Penseira agora, mas que então estava cheio de garrafas. Tendo dado para Voldemort uma taça de vinho e servido uma para si, voltou ao assento atrás da escrivaninha.
"Então, Tom... a que devo o prazer?".
Voldemort não respondeu imediatamente, mas somente tomou um gole do vinho dele.
"Eles não me chamam de Tom mais", ele disse. "Agora, sou conhecido como—”.
"Eu sei como você é conhecido", disse Dumbledore, enquanto sorria, agradavelmente. "Mas para mim, me desculpe, você sempre será Tom Riddle. É um das coisas irritantes de professores velhos. Eles nunca chegam a esquecer a juventude de seus pupilos”.
"Eu estou surpreso por você ainda permanecer aqui". disse Voldemort, depois de uma pausa curta. "Eu sempre desejei saber por que um bruxo como você nunca desejou deixar esta escola".
"Bem", disse Dumbledore, enquanto ainda sorria, "para um bruxo como eu, não pode haver nada mais importante do que transmitir artes antigas, aj8udar a afinar a mente dos jovens. Se me lembro corretamente, você se sentiu atraído pelo ensino também".
"E ainda me sinto", disse Voldemort. "Eu somente desejei saber por que você —que recebe pedidos freqüentemente do conselho para Ministério, e a quem por duas vezes, eu acho, já foi oferecido o posto de Ministro—".
"Três vezes à última conta, de fato", disse Dumbledore. "Mas o Ministério nunca me atraiu como uma carreira. Novamente, algo que nós temos em comum, eu penso".
Voldemort inclinou a cabeça, sério, e tomou outro gole de vinho. Dumbledore não rompeu o silêncio que estirava entre eles, mas esperou, com um olhar de expectativa agradável, que Voldemort falasse primeiro.
"Retornei", ele disse, depois de um pequeno tempo, "tarde, talvez, mais que Professor Dippet esperava... mas voltei, e agora, vim pedir o que ele me disse uma vez que eu era muito jovem ter. Eu vim pedir a você que me permita voltar a este castelo, ensinar. Eu acho que você sabe que tenho visto e feito muito desde que eu deixei este lugar. Eu poderia mostrar e contar a seus estudantes que os tornarão melhores que qualquer outro bruxo".
Dumbledore olhou Voldemort durante algum tempo por cima do topo da própria taça antes de falar.
"Sim, eu sei certamente que você viu e fez muito desde que nos deixou", ele disse calmo. "Rumores de seus feitos chegaram a sua velha escola, Tom. E eu lamentaria ter de acreditar em metade eles”
"A grandeza inspira a inveja, a inveja engedra o despeito, o despeito produz a mentira. Você deve saber disso, Dumbledore".
"Você chama isto 'grandeza', o que você tem feito?”, Dumbledore perguntou delicadamente.
"Certamente. Fiz experiências; levei as possibilidades da magia a extremos a que jamais alguém levou...”
"De alguns tipos de magia", Dumbledore corrigiu-o tranqüilamente "De alguns. De outros, você permanece... me perdoe... completamente ignorante".
Pela primeira vez, Voldemort sorriu. Era um olhar lascivo, uma coisa má, mais ameaçador que uma expressão de cólera.
"O velho argumento", ele disse suavemente. "Mas nada que eu vi no mundo apoiou as suas famosas declarações de que o amor é mais poderoso que meu tipo de magia, Dumbledore".
"Talvez você tenha procurado nos lugares errados", sugeriu Dumbledore.
"Bem, então, que lugar melhor para começar minhas novas pesquisas que aqui, em Hogwarts?”, disse Voldemort. "Você me deixará voltar? Compartilhar meu conhecimento com seus estudantes? Coloco a minha pessoa e meus talentos à sua disposição. Estou às suas ordens.”
Dumbledore elevou suas sobrancelhas.
“E o que acontecerá àqueles que recebem as suas ordens? Que acontecerá àqueles que se intitulam, ou assim corre o boato, Comensais da Morte?”
"Meus amigos", ele disse, após breve pausa - "continuarão sem mim, seguramente".
"Eu estou alegre em ouvir que você os considera como amigos", disse Dumbledore. "Eu estava tinha a impressão que eles eram pra você, não mais que criados".
"Você está enganado", disse Voldemort.
"Então, se eu fosse esta noite ao Hog´s Head, eu não acharia um grupo deles —Nott, Rosier, Mulciber, Dolohov -esperando seu retorno? Amigos dedicados realmente, viajar esta distancia com você em uma noite de nevasca, somente para lhe desejar boa sorte em sua tentativa de obter um cargo de professor”.
"Como você é onisciente, Dumbledore".
"Oh não, apenas mantenho boas relações com os donos de bares locais", disse Dumbledore descontraído. "Agora, Tom...”.
Dumbledore deixou o copo vazio e ajeitou-se no seu assento, as pontas dos dedos juntas em um gesto muito característico.
"Fale abertamente. Por que você veio aqui, cercado de capangas, hoje à noite pedir um trabalho que nós dois sabemos que você não quer?".
Voldemort olhou friamente surpreso.
"Um trabalho que eu não quero? Pelo contrário, Dumbledore, eu quero muito".
"Oh, você quer voltar a Hogwarts, mas quer tanto ensinar aqui quanto queria aos dezoito anos.Que é que você está procurando, Tom? Por que não experimenta pedir abertamente uma vez na vida?".
"Se você não quer me dar um trabalho—”
"Claro que não quero", disse Dumbledore. "E eu não acho que por algum momento você esperou outra coisa. Não obstante, você veio aqui, você pediu, você deve ter tido um propósito".
Voldemort levantou.
"Esta é sua palavra final?"
"É", disse Dumbledore, também de pé.
"Então nós não temos nada mais dizer a um ao outro".
"Não, nada", disse Dumbledore, e uma grande tristeza encheu a face dele.
"Já se foi o tempo em que eu podia assustá-lo com um guarda-roupas em chamas e força-lo a compensar seus crimes. Mas quem me dera poder, Tom, quem me dera...”

E então, furioso, deu as costas e saiu. Dumbledore fechou a porta com força à sua frente, e com a raiva crescendo mais ainda, gritou para o outro lado da porta:
“Ah, é assim? Pois se eu não posso ter esse emprego, ninguém o terá por mais de um ano!”
E saiu a passos firmes em direção à saída, enquanto murmurava uma maldição terrível para aquele que ocupasse o cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

[...]

Ia tão absorto em planos de vingança, que quando deu por si tinha descido mais do que pretendia, e já se encontrava nas masmorras, tão familiares.
Não pode suprimir a curiosidade e, sentindo a saudade apertar, esgueirou-se pelos corredores; passou pela sala de poções vazia, onde Slughorn continuava a ensinar, até chegar ao trecho de parede lisa por onde costumava entrar no Salão da Sonserina.
Fitou a parede lisa, como se fosse uma janela através da qual pudesse enxergar as cenas de um passado tão distante.
E então passos em sua direção ecoaram; eram férias de natal e portanto, haviam poucos alunos ali, no entanto um rapaz de uns quinze anos, carregando uma vassoura ao ombro e um minúsculo pomo de ouro na outra mão, se aproximava. Era um rapaz alto, forte, de porte atlético, bonito como ele próprio fora em juventude, pálido de cabelos e olhos escuros, e vestia o uniforme verde de quadribol da Sonserina.
Era visivelmente um mestiço ou nascido trouxa, a despeito do fato de estar na Sonserina, porque assoviava uma famosa música trouxa e havia uma cobra em formato de “S” enrolada em seu antebraço.
Assim que o olhou, o reconheceu, e aparentemente também o rapaz, que largou a vassoura e pomo de ouro que saiu voando para longe, e escancarou a boca. Ambos se encararam por segundos intermináveis, até que Voldemort deu um passo à frente, estendeu uma mão para tocar seu braço tatuado, como que para se certificar que ele era real e ofegou nervosamente:
Ricky!
VOCÊ!” – Ele rugiu, e puxou de volta o braço, com que agarrou novamente o pomo dourado que voava acima de sua cabeça.
Ricky fez menção de puxar a varinha, mas antes que o fizesse, a entrada do Salão Comunal se abriu, permitindo a passagem de um outro estudante vestido de verde.
“Aí está você, Benson!” – Disse o outro estudante, parando por alguns momentos e apreendendo a cena. – “Quem é esse?”
“Ninguém” – Respondeu Ricky, dirigindo ao pai um olhar do mais profundo nojo, recolhendo a vassoura caída e entrando de volta no Salão Comunal.

Voldemort ficou olhando a barra das vestes de Ricky sumirem, e então, lentamente, embora o choque ainda o deixasse ligeiramente atordoado, voltou à superfície de seus pensamentos e indagações que pipocavam histericamente em sua cabeça, e tomou a direção das escadas que levavam à saída.

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Aêê! Que capítulo esclarecedor, não?
Temos a triste (e confusa) história da Ann, o porquê de suas visões, as vozes, a loucura, as lágrimas curativas e a ofidioglossia (nunca tive muita certeza se essa palavra existe...).
Os flashbacks na penseira (não me perguntem como ela fez pra se lembrar de uma lembrança dela recém-nascida...), como ela foi parar naquela caverna, tudo. E sim, sim, Ann é uma Black! Não acharam o nome dela na árvore divulgada? Bem, ela foi considerada uma vergonha tão grande que sequer foi mencionada hehe...
E sim, maluca da tia a culpava pela morte da mãe, e sim, ela maltratava muito a Ann.
E outra: não me joguem pedras pelo fato da Ann não saber falar; isso acontece. Imagine que você viva numa cela isolada do resto da humanidade, com alguém te visitando em intervalos de quatro, seis anos, ninguém seria capaz de falar assim. Saibam que um bebê aprende a falar observando os outros falarem ao seu redor, e pobre Ann, ninguém nem chegava perto dela.
E vocês devem estar se perguntando o que ela tem a ver com a história do Tom, não? TUDO A VER!! Fiquem de olho.

Por fim, o diálogo de Voldemort com Dumbledore, descrito no livro (está em negrito), ele azarando o posto de Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas e finalmente, um breve encontro com o Ricky que vai deixa-lo encucado por muito tempo...
Ahhh, antes que eu me esqueça! A idéia da Alquimia foi quase toda da Nia Riddle, ela realmente foi uma luz na escuridão, porque eu tava meio sem saber o que fazer com a Ann. Obrigadinha, amiga. UM MILHÃO de agradecimentos a quem comenta; Morgana Black e Miss Robsons, minhas leitoras assíduas (cada uma escreve melhor do que a outra), é realmente uma honra ter leitoras como vocês ;-) e nooooossa eu fiquei tããããããoo feliz pelos últimos comentários, minha mãe achou até que eu estivesse apaixonada rsrsrsrsrs...
Não sei se devia escrever um livro... Eu até tenho umas idéias mas sei lá... Nunca me empolguei quanto me empolguei com essa fic! Obrigada mesmo também pelo comment da Nohara**Tonks, fiquei emocionada sniff...
Beijos,
Falou, pessoal...


Lillith R.

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