O Maroto traidor



Capítulo XL

Londres
(Setembro de 1980 – Outubro de 1981)



“O senhor deve achar que estou mentindo” – disse o jovem de longos cabelos negros, enquanto seus olhos quase tão escuros encaravam o chão sob seus pés. Não agüentaria jamais olhar para aqueles serenos olhos azuis
“Não sei. Pode ser” – disse Dumbledore, sorrindo – “Mas se você veio aqui, deve ter tido um forte motivo para faze-lo. Por que não lhe dar uma chance de se explicar?”
“Eu...” – Severo subitamente se viu sem palavras. Havia ensaiado tantas vezes e agora elas simplesmente lhe fugiam. – “Eu... Quero mudar de lado”.
“Mudar de lado?” – perguntou Dumbledore, sorrindo ainda mais serenamente – “E de que lado você está?”
“Do lado do mal, ora essa!” – exclamou Severo. – “Eu sou um Comensal da Morte.” – Severo levantou-se de sua cadeira onde até então estivera encolhido e arregaçou a manga esquerda das vestes, mostrando a tatuagem negra. – “Vê? Eu tenho a Marca Negra.”
“E você veio aqui por quê?” – Dumbledore perguntou novamente.
“Já disse, quero mudar de lado.”
“A questão, meu jovem, é o que você considera como o lado do mal. Porque certamente você não escolheria esse caminho que você escolheu se inicialmente o julgasse como um mau caminho. Um dia esse lhe pareceu o caminho a ser seguido, o caminho bom. Por que não se senta e me conta tudo? Tenho a noite toda. Aceite umas acidinhas...” – disse Dumbledore, empurrando um pote cheio de balas coloridas para Snape, que olhou desconfiado e apanhou uma.
“Não sei por onde começar...” – suspirou Snape, olhando para Dumbledore pela primeira vez por cima do pote de acidinhas.
“Posso sugerir o começo?”
“Bem... Acho que o senhor não vai acreditar em mim, mas eu não sabia quem eram as pessoas da profecia, e...”
“Eu falei do começo, Severo.” – interrompeu-lhe Dumbledore, que continuava a sorrir serenamente.
“Muito bem.” – suspirou Severo – “Eu vou contar tudo...”

[...]


Tom observava seu próprio reflexo refletido na bola de cristal maciço. Forçava a própria vista a enxergar alguma coisa no meio daquela névoa disforme, mas tudo o que conseguia ver era o próprio rosto concentrado num esforço inútil, e nenhum pensamento além de “que coisa idiota” lhe ocorria. Nunca tinha sido bom naquilo mesmo, lembrava de ter tirado um “D” – o único de sua vida – em seu N.O.M de adivinhação.
Xingou baixinho novamente. Já estava quase desistindo de tentar enxergar alguma coisa sobre a maldita Profecia através do cristal, quano alguém bateu à sua porta.
“Bella” – cumprimentou, voltando as atenções para a mulher que entrava.
Bellatrix entrou na sala, toda imponente e orgulhosa como era sua postura habitual – embora diminuísse um pouco toda a sua presunção quando diante do Lorde das Trevas, sentou-se na borda da mesa, cruzando o belo par de pernas nuas que se destacavam sob a mini-saia de forma provocante, cobertas até o joelho por uma insinuante bota cujo salto alto fino a fazia parecer ainda mais alta e esguia, embora as curvas de seu corpo fossem proporcionalmente generosas. Uma cigarrilha acesa brincava nas pontas dos dedos de uma de suas mãos, enquanto a outra segurava a varinha. Soltou uma baforada de fumaça, que se enroscou como uma serpente ao redor de seu rosto, e perguntou, num tom ligeiramente insolente:
“O que o mestre estava fazendo?”
“Previsão do tempo. É óbvio que vai estar nublado por esses dias.” – respondeu, sorrindo – “Como vai a procura pelos Longbotton?”
“Nada ainda, senhor” – ela suspirou cansada – “Achamos que eles estão escondidos por um Fiel do Segredo”.
“É bem possível, foi o que fizeram com os Potter”
“E quem é o fiel?” – Bella perguntou.
“Um tal de Sirius Black; reviramos o país todo e não o achamos ainda...”
Sirius Black?!” – exclamou Bellatrix, seus olhos cinzentos subitamente tomando um ar cruel – “Eu conheço o bastardinho! É meu primo! Ou era... Até renegar a a família e fugir de casa. Ora, ele foi morar com Potter até receber uma tal herança. Acho que sei onde ele mora.”
“Sabe?” – perguntou Tom, surpreso.
“Sim. É um vilarejo perdido numa ilha no meio do Mar do Norte, pouco antes de Azkaban. Está isolado lá desde que virou o Fiel, fiquei sabendo por minha irmã Andrômeda, protegido pelos feitiços de sigilo de Azkaban; não haveria lugar melhor para ele se esconder. Então para acha-lo é só ter em mente que se quer achar a casa de Sirius Black, e passar em determinados horários, e lá está.”
“Bem, muito bem, Bellatrix, você fez bem em me informar.” – Tom disse baixinho, voltando as atenções para a bola de cristal novamente.
“Mestre, estamos no final do Outono, se o senhor pretende ter algo além de névoa nos próximos dias, receio que irá ter problemas” – ela curvou os lábios pintados de carmim num ligeiro sorriso. – “No entanto, uma ótima festa de Halloween se desenrola lá embaixo, o suficiente, creio eu, para aquece-lo um pouco.”
“Talvez... mais tarde” – murmurou, fazendo um gesto para que Bella se retirasse.
A bruxa deu de ombros e levantou-se a caminho da porta, e ao abri-la, o ruído alto de conversas e música alta alcançou os ouvidos de Tom.

Quase nunca participava de tais festas, claro, mas era quase uma obrigação promove-las, como se provasse àqueles estúpidos quem é que se dava realmente bem, um símbolo de tudo que eles tinham a ganhar permanecendo leais: enquanto a maior parte do Mundo Mágico sofria e lamentava, lá estavam eles, festejando alegremente.
Bem, alegremente seria exagero - pensou Tom, sorrindo maliciosamente. Os aurores ficariam chocados se vissem no que realmente consistia um verdadeiro festim de Comensais da Morte.

Tom decidiu atender aos apelos de sua cabeça, que começava a doer horrivelmente por conta das horas gastas em vão na frente do maldito orbe, descer e beber alguma coisa, talvez apreciar alguns trouxas serem torturados, e mais tarde, quem sabe, pudesse tomar Bella, se outro (muito provavelmente não o seu marido) não o tivesse feito antes.

Havia, como sempre, uma grande mesa farta de comes e bebes, morcegos vivos flutuando no teto e tochas acesas dando ao lugar um clima sombrio e macabro como era bastante conveniente. Gritos agoniados, risadas, gemidos sugestivos, vozes em conversas animadas, tudo isso mal sobrepunha a música trouxa ensurdecedora composta de batidas reptitivas e sons artificiais que formava a trilha sonora da festa. Viu, de longe, um trouxa sendo torturado sem magia, líquidos incandescentes sendo derramados sobre sua pele, seus gritos compondo o ambiente.

Sobre uma outra mesa comprida, manchada por uma poça de sangue, jazia o cadáver decapitado de um trouxa. Sua cabeça desaparecera e um lençol sujo havia sido jogado sobre o corpo. Do lado, como se nada tivesse acontecido, um outro trouxa bebia qualquer coisa de uma garrafa, os olhos vidrados perdidos em algum ponto do espaço. Outro, excitado, tinha o nariz enfiado num tubo e aspirava carreiras e mais carreiras do pó branco espalhado sobre a mesa. Dois ou três deles dançavam a música forte ignorando totalmente os outros ao seu redor.

Mais à frente, dois trouxas copulavam sob as vistas de um grupo de bruxos animados que vaiavam e riam. Reconheceu Snape, sempre esquivo, sempre de mau-humor, encolhido a um canto, conversando com Lúcio Malfoy. Pettigrew, obviamente não aparecera, devia estar entretido nas inocentes festinhas da Ordem da Fênix que não eram muito melhores que as de Hogwarts. Achou ter visto Bella na penumbra da sala enroscada em um dos Comensais mais jovens, mas no escuro e no barulho ensurdecedor da sala era realmente difícil reconhecer alguém. Aproximou-se de Lúcio, Snape esquivou-se como sempre murmurando alguma coisa sobre ir buscar bebidas.

“Não deve ter sido fácil enfeitiçar todos esses trouxas e traze-los para cá” – Tom comentou.
“Sequer precisamos, senhor” – Lúcio respondeu, sorrindo – “Um pouco da envolvente música deles, drogas à vontade e bebidas, e eles estarão sob nosso controle melhor do que qualquer Imperius que pudéssemos lançar sobre eles.”
“Mas cuide para não deixar nenhum deles vivo.” – disse Tom, também sorrindo e conjurando um copo de bebida.
“Não se preocupe, senhor” – respondeu Lúcio excitado.

Tom parou por um momento, apreendendo a cena (o trouxa torturado acabar de ter as tripas arrancadas para fora e Macnair ria maniacamente), pensando que afinal, seu reino era sólido e firme demais para ser derrotado por um bebê, não importasse quantas profecias se fizessem a respeito deles. Mas, bem, bebês cresciam, e ele faria bem em matar o pirralho enquanto ainda não houvesse chance dele se defender. O problema era exatamente qual pirralho matar. Havia o puro-sangue e mestiço, e conforme Nagini lhe sugerira, era bem mais provável um igual a ele ser seu inimigo... Mas ele era o herdeiro de Slytherin, oras, como podia ser igualado a um mestiço qualquer? Sua cabeça começou a doer novamente, e Tom resolveu que era mesmo hora de se recolher. Que os idiotas continuassem a se embebedar, ele tinha coisas mais importantes para tratar no dia seguinte, muito obrigado.
Seus olhos esquadrinharam rapidamente a sala em busca de Bellatrix, mas ela já desaparecera.
Um trouxa, os olhos injetados e ar desvairado, cruzou seu caminho, fungando, os braços repletos de picadas recentes. Tom, enojado, sacou a varinha e murmurou o feitiço; o trouxa estava morto antes mesmo de chegar ao chão.
Escória...” – exclamou, e sequer virou-se para olha-lo novamente.


[...]


Petúnia Dursley, a mais recente moradora da Rua dos Alfeneiros, vivia muito bem, obrigada, com seu filho recém nascido Duda e seu marido Valter.
Acabara de lavar a louça do café da manhã (Duda comia muito mais do que qualquer outro bebê que Petúnia já houvesse visto) e se ocupava agora em estender roupas no varal no quintal. Não que nutrisse muitas esperanças de elas secarem; não com toda aquela névoa estranha pairando, mais do que seria normal mesmo naquela época do ano. Quando, de repente, ouviu um ruído incomodamente familiar. Uma coruja, diferente da que estava costumada a receber acabara de pousar sobre o lençol imaculadamente limpo que acabara de estender no varal.

Xô!” – exclamou, espantando a ave com um gesto. A coruja meramente lhe dirigiu um olhar de censura e estendeu a pata, onde estava amarrada uma carta.
Virando a cabeça para os lados numa busca frenética por vizinhos enxeridos, Petúnia finalmente parou de ignorar as bicadas agressivas que a coruja dava em suas mãos e apanhou a carta.


Godric´s Hollow, 27 de dezembro 1981

Petúnia,

Vocês têm de sair daí. Agora. Ou pelo menos deixar Dumbledore conjurar feitiços de proteção na casa, não podem continuar desprotegidos como se nada estivesse acontecendo; estamos em guerra e você sabe disso.
Voldemort continua nos caçando e a uma família amiga, os Longbotton. Não são eles que estão mais preocupados, somos nós, por alguma razão Voldemort parece concentrar esforços em achar eu, James e Harry.

Traga Valter e Duda, eu imploro. Vocês estarão muito mais seguros conosco e ninguém precisará ter a memória alterada.
A guerra está ficando realmente perigosa, são tempos negros, Petúnia. Amigos são atacados e morrem como moscas. Você, como minha família, corre perigo, você não faz idéia dos meios que Voldemort usa para atrair suas vítimas.

Semana passada, você deve ter visto nos jornais, toda a família Bones foi assassinada. Não foi a primeira nem será a última. Eu imploro, Petúnia, e continuarei a implorar até que seu bom-senso fale mais alto, porque não só eu, mas você indiretamente também faz parte deste mundo que está em guerra.

Névoa estranha, furacões no sul, “eclipses” súbitos, chuva meteoros por dias seguidos, pessoas e até mesmo famílias inocentes inteiras aparecendo mortas sem que a perícia seja capaz de determinar a causa mortis, situações as mais diversas, estranhas e inexplicáveis, são resultados, você sabe, da guerra cruel que se densenrola aqui.

Daquela que muito lhe estima,

Lily Potter.


Petúnia simplesmente não podia acreditar na audácia da irmã! Era a terceira vez que ela lhe escrevia pedindo a mesma coisa: que se mudasse com filho e marido para aquela aberração de lugar onde moravam, cercados de aberrações como ela. Há! Como se sequer cogitasse tal hipótese! Reunia numa caixa todas as cartas mandadas pela irmã em todos aqueles anos, cartas essas que ela respondia uma em cada dez, sempre curta e o mais seca possível.

Puxou caneta e papel e se preparou para escrever a resposta. Quando já pousara a caneta no papel , foi mais uma vez interrompida por um barulho, desta vez mais forte e irreconhecível, como o escapamento de um carro explodindo. Curiosa e um tanto temerosa, Petúnia largou a caneta e espiou pela porta dos fundos. Antes que pudesse reconhecer os rostos mascarados, porém, foi atingida por um feitiço estuporante e caiu desacordada.

[...]

“Ela não deve demorar a vir, mestre” – sentenciou Bellatrix, olhando enojada para a trouxa desacordada amarrada e amordaçada presa por grilhões na parede da cela de pedra fria.
Petúnia abriu os olhos claros cheios de terror e fez um som nasal como se gritasse, embora fosse impedida de emitir qualquer som.
Bellatrix chutou-a com força no estômago, fazendo-a calar.
“Espero que você tenha tratado sua irmã muito bem, porque agora sua vida depende dela.” – disse Tom sorrindo e apontando a varinha ameaçadoramente para Petúnia, que desabara num choro silencioso. – “Acho que devíamos deixa-la falar”
E retirou a mordaça que cobria sua boca.
Aberrações! Anomalias, abortos da natureza!” – Petúnia gritou descontroladamente
“Como ousa...?!” – exclamou Bellatrix indignada e apontou a varinha para Petúnia, o jato de luz verde, porém, foi desviado pela mão de Tom e ricocheteou nas paredes abrindo um buraco.
“NÃO!” – Tom gritou – “Precisamos dela viva!”
“Vocês... São gente dela?” – Petúnia sussurrou assustada
“Que quer dizer? Não somos iguais à ralé de sangue-ruim da sua irmã!” – exclamou Bella cada vez mais furiosa.
“Tenha calma, Bella” – Tom disse para a Comensal, e se abaixou ao lado de Petúnia. – “Dursley, precisamos de umas informações sobre sua irmã” – disse quase gentilmente - “Se cooperar conosco, talvez saia daqui viva.”
“E o que querem saber?” – ela perguntou agressivamente
“O que há com os olhos de Lily Potter?” – Tom perguntou rapidamente
“Ora, eu sei lá!” – exclamou Petúnia – “São os olhos de papai, são iguaizinhos, não sei o que há de diferente neles!”
“Muito bem” – disse Tom crispando os lábios – “Presumo que você não possa dizer onde ela está escondida?”
“Eu...” – Petúnia hesitou – “Não consigo”
“É claro que não.” – disse Tom e levantou-se, tornando a apontar a varinha para Petúnia, que encolheu-se amedrontada – “Você sabe ao menos onde ela trabalha, se trabalha?”
“Não faço idéia” – murmurou Petúnia de cabeça baixa.
“Não minta para Lord Voldemort, trouxa!” – Tom exclamou – “Crucio!” – e os gritos enxeram a sala, reverbendo nas paredes, fazendo surgir nos olhos do homem que comandava a tortura um brilho ligeiramente maníaco. Sustou o feitiço.
“Ministério... Ministério de alguma coisa.” – Petúnia falou ofegante.
“Ministério da Magia.” – completou Tom
“Sim, é isso. Departamento de... Departamento de alguma coisa, ela não fala muito sobre isso...”
“Departamento de Mistérios?” – questionou Tom, pressuroso.
“É, acho que é isso.” – disse petúnia, o corpo magro tomado de soluços e o rosto ossudo banhado em lágrimas.
“Rookwood” – disse Tom, virando-se para Bella. – “Ele deve saber alguma coisa a respeito.”
“Mas mestre, o que afinal há de tão especial na cadelinha de sangue-ruim?” – perguntou Bella impaciente.
“Não me questione, Bella...” – Tom disse em tom letal.

“PETÚNIA!” – exclamou alguém às suas costas.

Todos os olhares da sala se voltaram para uma jovem de longos cabelos vermelhos e olhos profundamente verdes que entrara correndo, nervosa, atirando-se nos braços acorrentados da irmã. De repente, Lily pareceu se dar conta de onde estava e sacou a varinha – mas estava cercada por outras quatro.
“Que é que vocês querem com ela, seus monstros?” – Lily rosnou para Tom.
“Não se preocupe, Potter. Você não vai morrer, nem tampoucou sua querida irmãzinha, se nos ajudar.” – disse Tom, olhando-a enojada.
Lily virava-se freneticamente, apontando a varinha para os quatro bruxos que a cercavam, eles apenas riam.
“Jogue seu jogo” – Lily disse, olhando com igual desprezo para Tom. Prostrava-se na frente de Petúnia, protegendo-a com o corpo.
“Seus olhos. O que há com eles?”
“Não há nada de errado com meus olhos” – disse secamente, enquanto recuava contra a parede, cada vez mais próxima da parede onde Petúnia estava acorrentada.
“Não minta para mim! Eu sempre sei, sangue-ruim, sempre...” – exclamou Tom – “Talvez mais uma dorzinha? Pode escolher: você ou sua irmã.”
“Seu imundo!” – Lily cuspiu – “O que quer conosco, afinal? Nos deixe em paz!”
“Você trabalha no departamento de Mistérios, não é?” – Tom ignorou o último comentário de Lily – “Sei que tem alguma coisa a ver, sei que tem...”
“Bom, então está perdendo o jeito, ó Lorde das Trevas onisciente” – debochou Lily, recuando mais contra a parede até tocar Petúnia, que soltou um lamento baixo.
Cruc-…!” – começou Tom, raivoso, mas quando o jato de luz vermelha saiu de sua varinha, tocou apenas a parede nua abrindo um outro buraco.

Lily havia partido, levando Petúnia consigo, e foi apenas alguns minutos de uma busca frenética desesperada depois que perceberam que os grilhões que prendiam Petúnia haviam sido deixados para trás, uma Chave de Portal vazia.

[...]

Tom achava-se sentado em sua confortável poltrona de frente à lareira; nevava um pouco lá fora e a maior parte dos Comensais havia partido para passarem o natal e o ano novo com suas famílias.

Ele pensava naquilo, naquele exato momento. Por que as pessoas tinham que partir para passar os feriados com as famílias? Famílias, pois sim! Indivíduos desconhecidos que não escolhemos por parentes que só por levarem o mesmo sobrenome que nós se vêem obrigadas a gostar de nós e nós que temos de gostar deles também. Mas, bem, eles faziam mesmo questão daquilo, e de qualquer maneira, era uma oportunidade para Tom se ver sozinho com seus próprios pensamentos.
Andava pensando nos olhos de Lily Potter desde a primeira vez que a vira. Olhos verdes, idênticos aos da garota sacrificada na caverna, olhos que jamais esqueceria.

Mandou chamar Rookwood, o que trabalhava no Departamento de Mistérios. O homem veio, parecendo como sempre meio sombrio, como se escondesse segredos escusos até o fundo de sua alma. Não era a primeira vez que Tom sentia-se roendo de curiosidade de saber o que acontecia no famigerado Departamento de Mistérios, mas sabia que muitos dos segredos que eram confiados a Roowood, se revelados, o fariam enlouquecer.

“Sente-se, Rookwood” – disse Tom friamente, indicando a poltrona em frente à sua – “Você trabalha no Departamento de Mistérios, eu presumo.”
“Sim, senhor” – ele respondeu ansioso.
“Você conhece uma mulher chamada Lily Potter?”
“Conheço, senhor, somos colegas...”
“Então me diga, Rookwood, e não ouse mentir para mim: O que há com os olhos de Potter?”
“Meu senhor...” – começou Rookwood nervoso – “O senhor sabe que não posso falar muito a respeito desse assuntos... É um projeto ultra-secreto. Há no Departamento, o senhor sabe, uma sala dedicada a cada Mistério, são doze delas. Cada dupla de funcionários trabalha para tentar desvenda-los. Há uma porta sempre trancada, onde dentro reside uma força a qual nenhum de nós é capaz de resistir. Dois funcionários já morreram ao entrar lá e três saíram malucos. Mas Potter não. Lily é capaz de absorver a tal energia, ou é imune a ela. Não é a primeira a consegui-lo, acreditamos que seja uma herança genética, daí os olhos de um verde tão profundo. Ela sendo sangue-ruim, é provável que essa resistência não seja típica de bruxos, mas de trouxas,o tipo de magia dos trouxas. Magia desconhecida, senhor, mas poderosa” – ele sentenciou, e por fim calou-se.

Tom achava-se imerso em pensamentos novamente. Mal se dava conta da presença de seu Comensal que o encarava nervoso. Dispensou-o. Precisava daquele poder, precisava de todo tipo de poder. Precisava de Lily Potter viva.

[...]




Bella,

Que bom saber que você está retomando os laços familiares. De fato, desde que eu tive meu nome... ah, expurgado da árvore da família, quando me casei com Ted, não tenho mantido contato com niguém mais além de Sirius, e agora, de você. Que bom que está com saudades de Sirius, embora eu deva admitir que isso seja uma surpresa para mim – vocês nunca se deram muito bem... Você vai visitá-lo? Pobrezinho, está escondido num fim de mundo, não quis me explicar direito o porquê, mas você pode visita-lo sempre às cinco horas de sábado, que é quando o feitiço de proteção cessa e alguém pode entrar lá.
Nymphadora está ótima, você sabia que ela é matamorfomaga? Pode mudar de aparência à vontade, quando ela superar a fase dos narizes estranhos será ótimo.

Com afeto,

Andrômeda Tonks


“Aqui está, mestre” – disse Bellatrix orgulhosa, entregando a carta para Tom. - “Instruções para encontrar Sirius Black, o fiel do segredo dos Potter.”
“Muito bem, Bella.” – disse Tom sério – “Mas não sei se isso vai adiantar muita coisa. O Fiel tem de dizer o segredo por livre e espontânea vontade, não pode ser forçado através de Legilimência ou Veritasserum. Diga, Sirius Black tem alguma família?”
“Não, senhor” – Bella respondeu após pensar um pouco – “Que eu saiba, só tem os amigos, todos na Ordem da Fênix.”
“Então teremos de lidar com ele sozinho” – declarou.
Tom olhou para o relógio, que marcava quatro e meia.

[...]

Sirius Black, agora refugiado numa ilhota perdida no meio, perguntava-se por que afinal tinha concordado com aquela loucura, se era perfeitamente capaz de se defender. Se aqueles Comensais viessem lhe pegar, nunca poderiam forçar-lhe a dizer o segredo, e Sirius estava pronto para morrer por seus amigos. Mas Lily, James e Remo argumentaram que se Voldemort estava realmente decidido a acha-los, teriam de fazer o possível para impedi-lo, e que não queriam ninguém morrendo por eles.

Então Sirius estava ali, apreciando a bela vista do mar gélido e violento que tinha a partir da janela de sua casa, quando ouviu um estalo característico de aparatação do lado de fora. Não se preocupou, eram cinco horasde sábado e provavelmente alguém tinha vindo lhe visitar. Remo, provavelmente; Lily e James andavam muito ocupados com Harry, principalmente que Lily mal parava em casa com todo aquele trabalho no Ministério. Não que algum deles fizesse a mais remota idéia do que ela fazia dentro daquele Departamento de Mistérios, claro.

Gritou um “pode entrar”, esperando que Remo tivesse trazido uma garrafa de Cerveja Amanteigada extra, porque o inverno naquela maldita ilha era quase ártico.

Mas quem Sirius viu parado à porta não foi nenhum de seus amigos. Foi a última pessoa que Sirius gostaria de ver no momento.

“Bellatrix!” – exclamou muito assustado, e num reflexo sacou a varinha. No segundo seguinte, era desarmado com facilidade pela outra figura encapuzada ao lado dela.
“É ele mesmo, Mestre!” – disse Bella excitada

Tom se aproximou de Sirius já imobilizado no chão, gritando maldições e palavrões raivosos.

“Dirija-se a mim com respeito. Diga sim, senhor Lorde das Trevas! Impero!”
Sim, senhor Lorde das Trevas” – repetiu Sirius com alguma relutância.
“Muito bem” – disse Tom - “Agora por gentileza, queira me dizer o paradeiro de Lily e James Potter.”
“NUNCA!” – gritou Sirius.
Crucio!” – exclamou Tom, e os gritos de Sirius tomaram o ambiente.
Bella sorria malignamente, o olhar brilhando. O feitiço foi sustado por alguns instantes para que Tom tornasse a perguntar:
“Você ainda precisa de mais persuasão, Sirius Black?”
“Acho que sim.” – respondeu Sirius com firmeza.
Crucio!” – e Sirius tornu a gritar e se debater. Dessa vez, o fez por quase dez minutos, até que Tom tornou a lhe perguntar o que Sirius se negou a responder novamente.
Você vai ter que me matar, Voldemort!” – Sirius sussurrou trêmulo, pregado ao chão e arfando rapidamente.
“Você seria capaz e morrer por seus amigos, não seria, Black?” – perguntou Tom com um ligeiro ar de zombaria – “Pense melhor. Eu não posso mata-lo, ou o segredo morreria junto com você, mas há muitas outras formas de se conseguir uma confissão.”
Sirius não respondeu. Continuava ofegando, agarrando ao chão como se temesse cair.
“Você é forte e corajoso, Black, e eu admiro isso. Você sabe que não é páreo para mim. Você sabe que, se eu quero algo feito, essa coisa será feita. Você sabe que os Potter morrerão. Por que morrer junto? Quando tudo isso acabar, você ainda vai se voltar para mim e implorar perdão. E quer saber? Eu não perdoarei. Todos aqueles que foram contra mim morrerão assim como os Potter. Junte-se a mim, Black, você só tem a ganhar.”
A resposta de Sirius foi uma gargalhada fria e sem emoção.
“É uma pena, Black. Se fosse um pouco mais esperto, já teria percebido que confiar em amigos é inútil.” – disse Tom, e abaixou a varinha. – “Nos veremos novamente em breve, Black.”

E onde estava um corpo humano enfraquecido Sirius Black, surgiu um enorme cão preto, que mancando ligeiramente, correu para fora da casa até sumir das vistas do grupo.


[...]


Pedro Pettigrew era, para Tom, a prova definitiva de que não existia lealdade verdadeira entre amigos, apenas a conveniência de ter alguém com quem contar às vezes. Jamais tivera amigos de verdade, e se houvera um tempo em que até lamentava sua incapacidade de desenvolver laços com outras pessoas, hoje em dia dava graças aos céus por isso. Merlin sabia o que poderia acontecer se depositasse sua interia confiança em alguém que pudesse lhe trair.

O homenzinho baixinho de nariz pontudo e olhos pequenos e claros, lembrando vagamente um focinho de rato, entrou na sala, como sempre parecendo muito nervoso e amedrontado, mas dessa vez levava um enigmático sorriso nos lábios finos que fez Tom se perguntar o que havia acontecido para que Rabicho estivesse tão feliz a ponto de quase esquecer o medo que beirava a fobia que tinha dele.

“Mestre...” – Rabicho disse trêmulo – “Uma notícia maravilhosa.”
“O que houve?” – Tom perguntou rapidamente
“Aconteceu, mestre... Lily e James Potter me nomearam Fiel do Segredo.”


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Aí o têm, capítulo 42, o penúltimo. Sinceramente, eu gostei dele, e considerando que eu sou a pessoa mais perfeccionista do mundo, isso não é pouca coisa. Se bem que a cena da fuga da Lily com Petúnia foi meio mal escrita... mas tá beleza ^^
Ahh acharam que eu ia dar mole e contar o segredo do Snape? Nãããooo!! :D
Gostaram da reunião de Comensais, regada a sexo, drogas e rock´n´roll? Nhahh, eu não sei se foi meu lado meio sadomasô falando, mas eu gostei. Uma coisa meio rave...
Ah, e eu copiei descaradamente a piada do Rony sobe a bola de cristal e o templo nublado hehe... Desculpem se eu fiz da Bella uma vadia, se agarrando com qualquer um, mas eu queria quebrar o climinha de romance entre os dois.
Pobre Sirius, torturado... OK, esperem pelo último capítulo, provavelmente será , mais curto e talz...
Agradecimentos a todas as almas pacientes que estão lento isso aqui até agora. Miss Robsons, Morgana, Kurt Black, Samoa, Gut´s… Ah, claro, antes que eu esqueça, publiquei recentemente uma outra fic, tradução de uma short muito engraçada, muito mesmo, uma das melhores que eu já vi. Então se quiserem verificar ^^

Beijos,

Lillith

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