O clube de duelos
Capítulo VI
Alvo Dumbledore saía exausto de mais uma reunião dos professores. Tinham discutido por mais de três horas sobre suas respectivas disciplinas e sobre mais uma temporada de exames que se aproximava. Lembrou-se do quão penoso e desgastante fora decidir sobre a expulsão de um quartanista da Grifinória que havia empregado poção do amor em quatro garotas diferentes. Aparentemente estava tentando compensar seu rosto coberto de espinhas com uma fama de conquistador que ele realmente não merecia... Depois discutiram sobre uma possível revogação da proibição dos alunos do primeiro de usarem vassoura, que decidiram manter. Por fim chegaram ao tópico que Dumbledore esperava que chagassem: Tom Riddle.
“O garoto é genial. Preparou sua poção para curar furúnculos sem sequer prestar atenção.” – Dizia o professor Slughorn.
“Transformou o palito de fósforo não numa agulha qualquer, mas em duas agulhas de tricô e antes do fim da aula havia tricotado um par de meias.” – Dizia o professor de feitiços, extasiado.
“Nas aulas de vôo é um desastre...”
Dumbledore ouvia atentamente seus colegas. Não estava surpreso. Tom era de fato um menino muito especial e isso ficara bem claro quando soubera dos acontecimentos na loja Olivaras. Era inteligente e estudioso também, e bem comportado como a Sra.Cole o havia descrito. Mas alguma coisa chamava atenção a mais no menino. Alunos inteligentes e estudiosos que realizavam verdadeiras proezas nas salas de aula, Dumbledore conhecia muitos. Mas o que era realmente espantoso era todo o poder que Tom parecia encerrar dentro de si. Resolveu ficar de olho no garoto, observa-lo mais atentamente.
Em suas aulas de DCAT, Tom também parecia se sair muito bem. Embora os primeiranistas não tivessem nenhuma aula prática, ele parecia saber até mais que o próprio livro-texto. Achou que nunca ia esquecer seu discurso sobre vampiros na sua primeira aula, realmente algo prodigioso.
Quando voltava para sua sala já era noite alta e o toque de recolher já tinha sido dado. Absorto em pensamentos, não percebeu que um aluno do primeiro ano, alto e magro de cabelos pretos muito rebeldes, corria assustado em direção às masmorras onde ficava o salão da Sonserina.
Quando Tom chegou no salão comunal viu que Avery estava realmente fazendo seus deveres como havia mandado, então subiu para o dormitório, fechou as cortinas do seu dossel rapidamente e abriu o livro cuja capa feita de cobras havia parado de se mexer. Abriu o livro, ansioso, esperando encontrar segredos ocultos sobre Artes das Trevas, ou pelo menos algo mais emocionante do que...
A bonis bona disce
Absens heres non erit
Draco dormiens nunquam titillandus
[i]Latim.[/i] O maldito livro estava em latim. Tom bufou raivoso e folheou o livro, constatando que este estava totalmente em branco, exceto pelas palavras latinas em sua primeira página, e então atirou-o embaixo da cama.
Como não estava com sono, preferiu descer para o salão; talvez pudesse afanar alguns daqueles bolos de caldeirão que Avery recebia de casa todo dia...
Mas Avery ainda estava muito ocupado com seu dever de história da magia. Quando passou pelo seu pergaminho leu rapidamente os dois parágrafos finais do texto que o colega estava escrevendo e impacientou-se ao perceber que estava tudo errado. Bateu sua varinha de leve no pergaminho apagando tudo que estava escrito e, antes que Avery acabasse de exclamar seu “Ei!”, falou:
“Está tudo errado, Nott. Se eu fosse você não entregaria essa baboseira ao professor Binns, vai ser reprovado. E antes que eu me esqueça, na Bélgica de fala francês e não espanhol como você sugeriu em seu texto.”
Tom parou para gozar do efeito de suas palavras em Avery; o garoto corou profundamente e sem dizer nada continuou a escrever.
Riddle sentou-se numa das confortáveis poltronas em frente à lareira, e ficou pensando no livro e no significado daquelas palavras em latim, e da canção das cobras para chamar sua atenção. Quando percebeu que um grupinho de garotas do segundo ano o observava entre risinhos, do outro lado da sala. Lançou às garotas um olhar do mais profundo desprezo e retornou aos seus pensamentos. Mas estava ficando cada vez mais difícil pensar, uma vez que o grupo tinha se aproximado e continuava rindo e apontando.
“Mas o que vocês querem afinal?” – Falou numa espécie de grito sussurrado, lívido de raiva às garotas.
“Saber o seu nome seria um bom começo” – Respondeu uma delas com ar de atrevimento, e então desatou em mais risinhos.
“Não creio que isso seja da sua conta” – Respondeu friamente, mas as garotas não pareceram se intimidar.
“Ahhh, mas é realmente uma pena. Sabe, a Francis aqui, ela...” – E olhou para a garota que parecia mais nova das três, gorducha, baixinha e loira, antes de continuar – “Ela estava realmente curiosa a respeito do seu nome. Parece que ela achou você uma gracinha e...”
O quê? Tom não sabia o que pensar, mas teve de desviar o súbito pensamento de ele, Tom, passeando de mãos dadas com a garotinha que devia ser no mínimo uma cabeça mais baixa que ele e então percebeu que tinha desenvolvido uma espécie de nojo por aquelas garotas. Em especial pela Francis. Não soube o que responder. Ficou calado, mas percebeu que para aquelas meninas qualquer coisa poderia significar um “sim”.
“E-eu...Eu n-não... NÃO!”
Gaguejou rapidamente, esperando que tivesse deixando bem claro que não queria nada com aquelas garotas e sentiu-se corar furiosamente antes de subir para o seu dormitório.
Foi com grande assombro que Tom percebeu que já estava no castelo há dois meses e meio. Os testes estavam a duas semanas de distância e só o que os alunos faziam era estudar. Os do quarto ano em diante, especialmente os do quinto e do sétimo anos enterravam-se debaixo de livros e muitas vezes viravam a noite com a ajuda de bules e mais bules de café, de poções da insônia ou até mesmo de suspeitas pílulas trouxas. Ele, Tom, estudava ainda com mais afinco. Não que realmente precisasse, a matéria parecia ser incrivelmente fácil para ele, bem mais que a matéria trouxa, especialmente poções. Mas Tom gostava de impressionar seus professores, sendo Dumbledore o único a quem ele não tentava “cativar”; o bruxo era sempre amável com todos mas Tom tinha sempre a impressão de que Dumbledore o observava e previa seus atos, como se o conhecesse mais que os outros. Era verdade que Tom ainda lhe era grato por ter lhe tirado do Orfanato, e de certa forma o temia justamente por parecer que ele o conhecia mais profundamente que qualquer outra pessoa.
Naquela tarde teriam o primeiro teste, de feitiços. Era um teste complicado que consistia em levitar diversos objetos de peso crescente, desde uma pena a uma bola de chumbo, e faze-los ficarem suspensos no ar por um minuto. Depois de presenciar o desastroso Avery fazer uma bola de boliche cair em seu pé e levar um “A” do professor, foi sua vez de fazer os objetos levitarem. Não ficou surpreso ao ver seu boletim ser preenchido com um “O” e antes que se retirasse, viu o professor falar:
“Nunca tive um aluno como você, Riddle. Você deve ser filho de bruxos muito poderosos para saber manejar uma varinha tão bem!”
O peito de Tom Riddle se encheu de orgulho e ele respondeu, tentando parecer o menos bajulador possível:
“Não senhor, eu sou órfão, e mestiço, senhor. Mas quem me ensinou tudo isso foi o senhor.”
Deu um sorriso inocente para o professor, que o retribuiu e pareceu ter ficado realmente orgulhoso com as palavras de seu aluno preferido.
Dois testes depois os alunos do primeiro ano foram liberados. Tom reuniu-se a Avery e mais meia-dúzia de colegas que estavam presentes quando Tom explicou que era descendente direto dos Gaunt. Quando Tom contava a seus “amigos” mais uma vez a história de Nagini e a Caverna, esbarrou acidentalmente em um sextanista mal-encarado, com as vestes amarelas da Lufa-Lufa. Era pelo menos cinqüenta centímetros mais alto que Tom, tinha cabelos cacheados e pretos também, um nariz achatado e pele marcada de espinhas. O garoto não pareceu achar que as desculpas de Tom fossem sinceras, ou estava afim de brigar, porque assim que lhe deu as costas, ele lhe lançou um “tarantallegra” que fez Tom dançar e atraiu a atenção de todos que estavam no pátio exterior.
Lívido de fúria ante os risos de seus colegas, sacou sua varinha e desfez o encantamento gritando um jorro de palavrões que fez o sextanista rir e apontar a varinha mais uma vez para Tom. Mas antes que o garoto da Lufa-Lufa pudesse gritar um novo feitiço, Tom já tinha conjurado seu escudo “protego”. Aparentemente ignorando as defesas do adversário, o mal-encarado atirava uma série de azarações e feitiços cada vez piores, que ricocheteavam no escudo mágico e faziam Tom rir.
Quando o professor Slughorn entrou no pátio acompanhado do professor Dumbledore para averiguar o motivo de tamanho tumulto, encontrou Tobias Falkley coberto de furúnculos, os dentes cinco vezes maiores que o normal, petrificado e rindo sem parar. Aparentemente seus feitiços tinham se virado contra ele e segundo as testemunhas, tudo o que Tom fizera fora conjurar um poderoso escudo. Trinta pontos perdidos para a Lufa-Lufa mais tarde, Tom Riddle encontrava-se tomando um chá na sala do professor Slughorn.
“Chamei-o aqui, meu caro menino, porque observei-o duelando com Tobias. É certo que ele não é nenhum grande bruxo, vive metendo-se em confusão, mas... Não é comum primeiranistas duelarem com sextanistas, e vencerem tão facilmente. Quero convida-lo para o clube de duelos que acontece uma vez por semana, aos sábados a noite. Não costumo convidar menores de quinze anos para unir-se a minhas aulas... Mas creio que você não irá se incomodar de ter umas aulinhas extras, se é que me entende. E você poderá fazer muitos contatos interessantes, Riddle, e aprender coisas que os professores de Hogwarts não ensinam e nem...” – Slughorn parou para analisar a expressão interessadíssima de Tom – “E que não estão nos livros”
Os olhos de Tom brilhavam. Era por aquilo que esperava, conhecimento além de livros. E, como quem não quer nada, sorrindo inocentemente, perguntou:
“O senhor... O senhor poderia... Quero dizer, como o amplo conhecimento de magia que o senhor provavelmente tem... Poderia me ensinar um pouco a respeito... A respeito das Artes das Trevas?”
Tom falou gaguejando, baixinho. Temia levar um passa-fora, temia que Slughorn ralhasse com ele, que dissesse que aquilo não era coisa que se dissesse ou que se pedisse numa escola como Hogwarts. Mas o professor parecia ainda mais interessado em Tom e o encarava fixamente, como se tentasse enxergar além de seus olhos e finalmente disse:
“Acho você muito novo para se interessar em tais assuntos. Mas se seu talento provar-se grande como eu suspeito, não vejo porque não ensinar-lhe pitadas do assunto, sabe, temperar, afinal conhecimento nunca é demais, certo?” – E deu uma risadinha incômoda.
Tom sorriu e percebeu que mais tarde teria passe livre para tornar a lhe perguntar coisas do tipo.
“Sim, senhor” – Respondeu, sorrindo, e escorregou para fora da cadeira, realmente contente. Talvez Slughorn pudesse ajuda-lo a desvendar o livro com a capa cheia de cobras. Depois lembrou-se que o havia roubado da sessão reservada e desistiu de pedir ajuda a qualquer professor.
“E tome cuidado, os colegas de Falkley estão furiosos!”
Slughorn gritou antes que Tom saísse do alcance de suas vistas.
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