A Cruz de Hórus (Parte I)
(1948-1950)
Tom Riddle observava, sob a fraca iluminação de fim de tarde que penetrava pela vidraça imaculadamente limpa de sua sala, a grande quantidade de papéis que tinham acabado de aparecer magicamente sobre sua mesa.
Mais um daqueles inquéritos chatos...
Bocejou lenta e ruidosamente e olhou pela janela, de onde era possível ver um grande gramado verdejante sobre o qual famílias felizes faziam piqueniques e crianças corriam desembestadas, igualmente alegres. Adolescentes nadavam num grande e refrescante lago no centro. A cena era bastante convidativa ante o calor quase insuportável daquele fim de verão.
Tom fechou as cortinas num puxão e deu as costas à janela, preparando-se para mais uma tarde monótona analisando crime por crime ocorrido naquele lado do Canal da Mancha. Abriu a primeira pasta. Um bruxo em Lyon insistia em vender rádios enfeitiçados para gritar obscenidades. Duas semanas na sede francesa de Azkaban, e seus rádios passariam até a rezar missas.
A segunda pasta continha informações sobre o caso de uma bruxa que seqüestrava crianças trouxas para fazer experiências e tentar torna-las bruxas. A pena: Dois anos de xilindró.
Como se esses trouxas nojentos merecessem o trabalho...
A terceira pasta, porém, chamou sua atenção. Um bruxo francês tentara roubar alguma coisa de dentro de uma igreja trouxa em Roma. E pelo visto era alguma coisa importante, porque as próximas onze pastas tratavam das tentativas do mesmo bruxo de se apoderar do que quer que estivesse escondido naquela igreja, sempre fracassando. Daquela vez, porém, o cara tinha sido pego.
Aí tem coisa...
[...]
O homem chamava-se Antoine Crussier e tinha a típica aparência insuspeita de um espião. Era baixo, moreno e usava roupas espalhafatosas de turista quando foi capturado. Agora, porém, estava vestido com as vestes pretas formais de julgamento e aguardava, nervoso, no tribunal, sozinho de cabeça baixa e sentado numa cadeira solitária no centro da sala em forma de anfiteatro. Um dementador guardava a única porta.
Quando Tom se aproximou, o dementador olhou-o desconfiado e se afastou um pouco mais do que o necessário para admitir sua passagem. O rapaz ficou satisfeito ao constatar que sua fama de envenenador de dementadores aparentemente tinha se espalhado.
Antoine levantou a cabeça e encarou seu interrogador, torcendo as mãos no colo nervosamente. Começava a pensar se valia a pena se sujeitar aquilo só para...
Riddle fechou a porta atrás de si e seus passos ecoaram fantasmagoricamente até que se deteve a menos de um metro da cadeira onde Antoine estava acorrentado.
“Você sabe porque está aqui.” – Disse Tom, rispidamente.
Antoine concordou com a cabeça.
“O que você estava tentando roubar?” – Ele perguntou, sem rodeios.
A pouca cor que restava no rosto de Antoine sumiu completamente. Ele gaguejou qualquer coisa, tentando mudar de assunto, mas os olhos escuros e penetrantes de Riddle continuaram a fitá-lo.
“Eu perguntei o que é que você estava tentando roubar, e o porquê”
“Isso não é da conta do Ministério. Conheço meus direitos; você só tem que perguntar...”
“Não me diga o que fazer!” – Sibilou Tom com sua voz mais letal.
Antoine sentiu medo pela primeira vez desde que fora capturado.
Tom mexeu nas vestes e por um momento, Antoine achou que ele ia sacar a varinha. Mas no lugar dela, o que Riddle tirou do bolso foi um frasquinho de poção transparente. O prisioneiro ofegou.
“Você não tem direito de usar isso! Pode até ser pres-...”
Mas ele não pôde terminar a frase, porque o bruxo mais jovem o tinha petrificado e agora fazia a poção deslizar por sua garganta, descendo asperamente como uísque de fogo, queimando suas entranhas...
“O que você estava tentando roubar?” – Repetiu Tom.
“O mapa para encontrar a Cruz de Hórus” – Respondeu Antoine prontamente; os olhos virando e mostrando apenas a parte branca.
A cruz de Hórus? Mas eu pensei que fosse só lenda...
O brilho no seu olhar se intensificou, e o fulgor vermelho passou por seus olhos...
“Você sabe onde está a Cruz?”
“Não.”
“E o mapa?”
“Em algum lugar de Roma.”
Pensamentos descontrolados invadiram sua mente. A Cruz de Hórus... Se fosse verdade, se ele conseguisse achar...
“Você não me tem mais serventia, muito obrigado” – Disse Tom para Antoine.
O prisioneiro olhou curioso por um momento para o funcionário à sua frente, mas quando compreendeu já era tarde demais...
“Avada Kedavra” - Murmurou Tom Riddle, apontando a varinha diretamente para o coração do homem.
Estava na hora de deixar sua querida Paris.
[...]
Segundo a antiqüíssima lenda, a Cruz de Hórus era um objeto mágico extremamente poderoso, através do qual era possível obter a imortalidade. Ninguém sabia ao certo do que ela consistia, nem mesmo se ela realmente existia, mas assim mesmo muitos bruxos ao longo dos séculos tinham partido numa busca insana por poder e imortalidade infinitos que a Cruz de Hórus prometia a quem a possuísse.
O caminho final também ninguém conhecia, mas era consenso que a busca começava sempre pela procura de um mapa muito específico que levava diretamente ao esconderijo da Cruz.
Tom achou que essa aventura viera em boa hora. Estava mesmo procurando um motivo para deixar Paris, e agora não teria motivação melhor que a busca do famoso objeto. Então, naquela mesma noite, sem avisar, sem dar explicações a ninguém, ele partiu, antes que o corpo de Antoine fosse encontrado.
[...]
O pequeno hotel chamava-se La Strega Felice e abrigava os tipos mais estranhos que se possa imaginar. De fato, Tom Riddle era provavelmente o ser mais normal que se abrigava sob aquele teto, ainda que tivesse uma Naja de dez metros de comprimento como animal de estimação, e seu quarto fosse abarrotado de livros cujos títulos mais inocentes eram algo como “Maldições Imperdoáveis – Como aplica-las sem ser detectado” e “Formas alternativas de tortura - um guia para quem enxerga além do Crucio”.
Seus vizinhos de porta eram, respectivamente, um lobisomem que sofria de uma estranha mutação que tornava os dias de sua transformação totalmente imprevisíveis e uma bruxa mestiça de veela com vampiro. Seria um tipo realmente encantador se não tivesse herdado quase todas as feições vampirescas de sua linhagem paterna. Da mãe veela sua vizinha herdara apenas os cabelos prateados e escorridos que combinavam horrivelmente com a pele mortalmente pálida e os olhos injetados.
Tom não estava trabalhando. Dedicava todo o seu tempo a rastrear notícias sobre possíveis localizações da Cruz de Hórus.
Naquele dia em particular, um final tenebroso de inverno, alguns meses após se estabelecer em Roma, estava voltando de mais uma daquelas igrejas trouxas onde gastara todo o seu estoque de Veritasserum para descobrir que andava havendo uma movimentação muito estranha numa grande catedral nos arredores de Nápoles.
Saiu de lá decidido a averiguar a história, e começou a pensar em parar num pub bruxo ali por perto e tomar uma boa cerveja amanteigada.
Trilhou o caminho habitual que separava a Roma trouxa da bruxa, através de becos invisíveis e placas encantadas para confundir os trouxas. Parou um segundo diante da porta, enquanto o feitiço lhe reconhecia como bruxo. Então entrou.
Aquele parecia ser o refúgio underground mais barra-pesada da Roma bruxa. Se o La Strega Felice abrigava os piores elementos, bem, certamente eram ali que eles se reuniam para beber. E causar badernas. Naquele dia, porém, tudo estava calmo. Mas o tipo de calma que sempre precede as grandes confusões, e Tom pode farejar no ar o estado de crescente animosidade entre os ocupantes do bar.
Eu bem que estou afim de um duelo... - Ele pensou, tomando um gole de seu copo e olhando ao redor.
Um bruxo com um grande tapa-olho o encarava firmemente por cima de um copo cheio do que parecia ser sangue de dragão. Uma bruxa encarquilhada arranhava compulsivamente a madeira de sua mesa com as grandes garras causando um ruído perturbador de unha contra quadro-negro. Um homem com um aspecto terrivelmente parecido com o de um lobisomem fazia desenhos obscenos no banco com um punhal ensangüentado. Todos, porém, em silêncio mortal, sem trocarem uma única palavra.
Até que, do canto mais escuro do bar, quase invisível à partir do ângulo que formava com o banco onde Tom estava sentado, irrompeu uma calorosa discussão.
Dois bruxos, um alto e outro um tanto baixo, ambos esguios e louros discutiam em altos brados:
“...e não me importa o que Dumbledore disse; eu não vou dá-los a você!” – Berrou o bruxo encapuzado mais alto.
Tom sentiu como se uma lâmpada de acendesse dentro de sua cabeça. Há quantos anos não ouvia aquele nome, Merlin?
“Você sabe que não pode levar isto adiante sozinho!” – Retorquiu o outro vulto, rispidamente.
O primeiro bruxo sacou a varinha das vestes e apontou-a para seu colega. O outro também puxou a sua e com o movimento brusco, seu capuz caiu. Era surpreendentemente jovem, não devia ter mais de quinze anos.
“Dê-os para mim e poderemos mantê-los seguros em Hogwarts” – Disse o adolescente louro.
Hogwarts! Do que será que eles estão falando?
Tom passou a ouvir mais atentamente a conversa.
“Como é que eu vou saber que você não os quer para si?” – Provocou o bruxo mais velho.
O garoto deu de ombros.
“Não seja tolo!”
Mas o bruxo mais velho estava decidido a manter o que quer que fosse a que eles estivessem se referindo afastado das mãos de Dumbledore. Puxou novamente a varinha e gritou:
“Estupefaça!”
“Protego!” – revidou o adolescente, e seu adversário teve de se esconder atrás do bruxo com o tapa-olho, que recebeu o feitiço e caiu no chão como uma pedra, imóvel.
Tom não pode deixar de reparar que o pirralho lutava muito bem...
“Crucio” – Disparou o bruxo mais velho.
O garoto caiu no chão, urrando e se contorcendo de dor, enquanto todo o bar –exceto por Tom – caía na risada. O realizador da Maldição preparava-se para fugir...
“Impedimenta!” – Gritou Tom, e o atacante caiu imóvel à sua frente.
O bar parou de rir e encarou Tom como se ele estivesse atrapalhando um espetáculo muito interessante.
Abaixou-se para acudir o garoto, que agora tinha o rosto pálido tingido de verde-vômito.
Ele pode me ser útil... O que será que Dumbledore está planejando? E o que Hogwarts teria a ver com essa história?
“Você está bem?” – Perguntou Tom ao moleque.
“Sim, sim... Escute, obrigado. Obrigado mesmo. Se dependesse desses aí...” – E apontou para os ocupantes do bar, que olhavam feio para a cena – “...eu ia morrer sendo torturado aqui.” – O garoto deu um meio sorriso agradecido e se levantou.
Tom reparou em suas vestes finas e caras.
Deve pertencer a alguma dessas famílias aristocráticas, ricas e de sangue-puro, certamente...
O rapazinho, agora totalmente recomposto, estendeu a mão.
“Aldo Ambrosi” – Ele se apresentou.
Tom apertou a mão estendida e também se apresentou:
“Lord Voldemort”
[...]
Durante o percurso de volta ao La Strega Felice, os dois jovens homens conversaram sobre amenidades. Tom rapidamente descobriu que, como imaginara, Aldo era filho único de uma longa linhagem de ricos bruxos sangue-puro, algo equivalente aos Black na Grã-Bretanha. De fato, sua mãe era ninguém menos que Amélia Crouch, meio-veela, que fora uma grande cantora quando mais jovem. Seu pai era vice-Ministro da Magia Italiano e segundo Aldo, forte concorrente nas próximas eleições. Nenhuma palavra sobre a discussão no bar, porém, foi dita. Tom registrou apenas o estranho fato do garoto italiano estudar em Hogwarts – aliás, na Grifinória.
Então, quando Tom alcançou seu destino, Aldo o convidou para jantar no dia seguinte em sua casa, alegando que seus pais gostariam muito de conhecer o homem que salvara sua vida.
Em condições normais, Tom Riddle jamais aceitaria um convite como este. Aliás, em condições normais, Tom Riddle jamais salvaria ninguém; muito pelo contrário, provavelmente ele teria prazer em ver o garotinho estrebuchando e se contorcendo no chão. Acontece que se Lord Voldemort tem algo a ganhar com qualquer coisa que seja, então ele fará essa coisa.
E foi assim que às oito em ponto ele aparatou diante da enorme mansão de estilo colonial, soturna e soberba. Um dos elfos-domésticos mais estranhos (incluindo Hockey aí nessa conta) que Tom já vira o recebeu. A pequena criaturinha usava uma fronha ao redor da cintura como uma saia e uma grande guirlanda natalina enfeitava sua cabeça. Em seu nariz batatudo brilhava um nariz vermelho de plástico que piscava como as árvores natalinas dos trouxas.
O Sr. E a Sra. Ambrosi esperavam o convidado sentados numa grande mesa no centro da sala reluzente de luxo ostensivo. Aldo se aproximou e apertou a mão de Tom. O Sr.Ambrosi assim também o fez. Quando chegou a vez da Sra.Ambrosi o cumprimentar...
Era, de fato, a mulher mais obscenamente linda que Tom já vira em toda a sua vida. Certamente, nem mesmo uma veela poderia ter exercido tanto encanto sobre ele. Ela tinha longos e refulgentes cabelos loiros, olhos estranhamente púrpuras, mas que combinavam perfeitamente com a pele imaculadamente branca e lisa, como a de um bebê. E um corpo, oh, Merlim, que corpo! Vestia um vestido vermelho colante que revelava cada ângulo arredondado de suas formas generosas que se insinuavam, parecendo provoca-lo de propósito, brincando com as sensações que causavam no corpo do pobre Tom, que sentiu todo o controle se esvaindo rapidamente e todo o seu sangue fluindo inadvertidamente para um único ponto de seu corpo...
Ele iria, é claro, fugir com ela, fugir para qualquer lugar que fosse... Pouco lhe importavam o maldito Projeto Secreto de Dumbledore, a Cruz de Hórus, o Mapa, nada... Perguntou-se vagamente porque ainda não a tinha agarrado e aparatado centenas de milhas longe dali e então a beijaria e a amaria loucamente...
O olhar que a bruxa lhe dirigiu, porém, foi o mais insinuante de tudo, que arrematava lindamente o belo conjunto. Um olhar que dizia claramente que a recíproca era verdadeira... E pela primeira vez na vida, Tom Riddle realmente deu importância e ficou feliz ao constatar que era muitíssimo atraente. O Sr.Ambrosi, no entanto, não parecia ter notado nada entre a esposa e o convidado. Tom teve seus devaneios interrompidos pelo pigarro alto de Aldo, que ao contrário do pai, tinha notado o crescente interesse de Voldemort pela anatomia de sua mãe. O garoto puxou uma cadeira para a mulher e então fez uma menção para que seu pai e Voldemort se sentassem na mesa, este último com Amélia Ambrosi exatamente à sua frente, o que veio a se tornar uma grande inconveniência, porque os olhos de Tom pareciam ter ganhado vida própria e insistiam em fitar o volumoso conteúdo do decote da bruxa.
Mas havia, afinal, mais um prato posto na mesa. Quando Voldemort se perguntava quem haveria de ocupar aquele lugar vago, ouviu-se um som típico de aparatação do lado de fora, e imediatamente, uma campainha. O elfo-doméstico fantasiado de rena foi atender a porta.
Era ninguém mais, ninguém menos que o Ministro da Magia Inglês em pessoa. Para sorte de Tom, ele não pareceu reconhece-lo. Perguntava-se o que, afinal, teria acontecido com Hepzibá Smith e se alguém tinha suspeitado dele.
Quando, de repente, um lauto banquete surgiu magicamente às suas frentes, fazendo Voldemort se lembrara automaticamente de Hogwarts. A comida estava realmente ótima, mas o Ministro Inglês e o Sr.Ambrosi não pareciam se importar minimamente com detalhes mundanos como alimentação. A conversa sussurrada dos dois girava, pelo visto, ao redor do mesmo assunto da discussão de Aldo com o outro bruxo no dia anterior. O garoto também parecia muito atento às palavras do pai.
“...Você acha que Dumbledore terá condições de proteger devidamente?”
“Sim, acho que sim... Não há nenhum lugar no mundo mais seguro que Hogwarts.”
“Estive pensando, será que não seria melhor simplesmente destruirmos...?”
O Sr.Ambrosi, no entanto, pareceu tomar a sugestão como ofensa pessoal. Ambos começaram a discutir em sussurros gritados; o interesse de Aldo e de Voldemort crescendo.
Quando, de repente, Tom sentiu uma coisa morna e macia subindo pela sua perna. O susto foi tamanho que uma grande espinha de peixe foi se alojar diretamente em sua traquéia, fazendo-o se sacudir em uma tosse violenta; ajudado pela mulher que dava fortes tapinhas em suas costas, se aproximando mais do que o necessário para ajuda-lo. Quando ele olhou para cima, viu a pura luxúria nos olhos da mulher...
Quando o pé descalço dela voltou a se insinuar lentamente subindo por sua perna por debaixo da mesa, Tom não se engasgou. Apenas sorriu e retribuiu o olhar cheio de lascívia...
Nada, porém, parecia distrair os outros homens da mesa de sua conversa. Tom sentia que devia prestar atenção naquilo, algo lhe dizia que era importante, que poderia ter alguma relação com o Mapa... Mas quando o pé finalmente atingiu o vértice entre suas pernas, ele desistiu de pensar racionalmente; apenas gemeu baixinho parecendo apreciar o salmão mais do que o prato realmente merecia... Amélia Ambrosi mordeu uma cenoura de forma muito obscena, lambendo os lábios carnudos... Quando Tom sentiu a última gota de auto-controle se esvair, quando sentiu que não poderia esperar sequer mais um segundo para agarra-la ali mesmo, Alfred e Aldo Ambrosi se levantaram, acompanhados do Ministro Inglês e anunciaram:
“Teremos que nos ausentar por uns instantes... err, assuntos ultra-secretos. Amélia, você pode mostrar a casa para nosso caro Lord Voldemort. Aldo irá também...” – Ele disse, sem maiores explicações, e os três aparataram, embora Aldo não parecesse ter idade para isso.
Tom e a Sra.Ambrosi se encararam por alguns nanosegundos antes de se atracarem e seus corpos se enroscarem de tal maneira que eles talvez tivessem quebrado alguma lei da física sobre dois corpos não poderem ocupar o mesmo lugar no espaço. Estavam sem roupa antes mesmo de chegarem ao quarto.
[...]
Tom nunca soube ao certo quando, mais em algum momento durante aquelas horas imensamente prazeirosas que passou ao lado da Sra.Ambrosi, se deu conta de que o escritório de Alfred se localizava exatamente ao lado do quarto, e que a porta estava destrancada.
Eles não se permitiram dormir – não sabiam quanto tempo o Sr.Ambrosi levaria para retornar. Mas naquele momento Amélia estava deitada descansadamente sobre os braços, olhando para o teto. Tom, numa derradeira demonstração de desrespeito, tinha saqueado a gaveta do criado-mudo e agora fumava um horrível charuto fedorento que o fazia tossir (coisa que ele disfarçava muito bem), sentindo-se vivo como nunca, de volta à adolescência. As coisas pareciam incrivelmente mais divertidas quando feitas às escuras, proibidas, excitantes...
Então levantou-se da cama e abriu a porta do escritório. Havia uma simples mesinha de fórmica e um arquivo pesadão trancado de aparência muito antiga. Mas o que o interessava realmente era uma pasta fina sobre a mesa... Se aproximou com cuidado. A capa era gravada com um Olho de Hórus no pergaminho. Uma rápida folheada e então entendeu tudo... Aquilo era literalmente a definição de unir o útil ao agradável...
O Mapa estava ali, ao alcance de suas mãos! Era naquilo que Dumbledore estivera trabalhando o tempo todo com o Ministro Italiano, e que Grindewald queria desesperadamente pôr as mãos... Era aquilo que eles estavam pensando em esconder em Hogwarts, afinal. O mapa que o levaria até a Cruz de Hórus... E Aldo não era um pirralho qualquer, era um agente infiltrado em Hogwarts, vigiando, tomando conta, verificando se a barra estava limpa...
“No que você está mexendo aí, mylord” – Disse a voz debochada de Amélia, que levantara da cama enrolada em um lençol e agora o abraçava por trás, mordiscando sua orelha.
Tom sentiu um arrepio ao ouvir alguém o tratando por mylord...
Virou-se e retribuiu o beijo caloroso. E então disse:
“Será que tem problema se eu tirar uma cópia disso aqui?” – E apontou para o fichário com o Mapa.
A Sra.Ambrosi ergueu uma sobrancelha, numa expressão de sarcasmo.
“Você está querendo me comprar com favores sexuais?”
Tom não respondeu; continuou folheando as páginas de pergaminho amarelado. Palavras como Hor´s cruxes e Pirâmides de Furmat saltavam aos seus olhos...
A boca dela agora se concentrava em algum ponto entre sua orelha e a nuca, fazendo subir uma nova onde de arrepios.
“Suponho que não haja problemas...Pode levar o que quiser daí” – Ela disse, sugerindo o arquivo com a cabeça, num gesto de desprezo.
Tom pensou ter visto um brilho vingativo no olhar da mulher...
E então percebeu que a diferença de idade de quase trinta anos entre Amélia e Alfred não devia ter sido levada em conta quando arranjaram seu casamento...
De repente, ouve-se um barulho de desaparatação no térreo abaixo deles. Um gesto da varinha de Tom, e o quarto estava imaculado novamente e ambos vestidos. O Mapa que o levaria até a Cruz de Hórus agora seguro em suas mãos... Nada poderia ter saído mais perfeitamente.
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Análise do capítulo \o/
Esse capítulo foi realmente divertido de escrever. Como o anterior, escrevi todo num dia só, então ele não saiu tão comprido. Em média um capítulo dessa fic leva umas 6 horas para escrever, esse eu devo ter levado umas 4.
Tenho muito o que explicar sobre a tal Cruz de Hórus, não é mesmo?
Então vou dar uma “aulinha” básica de Mitologia Egípcia para leigos... Eu também não sei muita coisa, vou explicar o que eu sei.
A palavra Horcrux é composta de Hor + Crux
Sendo “Hor” um dos nomes utilizados para o Deus do Céu egípcio, Hórus. O famoso símbolo “olho de Hórus” pode ser visto aqui:
Então, Horcrux seria, litrealmente, “Cruz de Hórus”. A história de Hórus é mais ou menos assim (BEM mais ou menos hehe):
Hórus fazia parte da suprema tríade divina egípcia (algo como pai-filho-espírito santo em versão egípcia), sendo filho de Ísis e Osíris. Eis que um dia, o irmão invejoso de Osíris (não me lembro o nome, acho que foi Seth) o mata e divide sua alma (!) em catorze pedaços. Ísis e Hórus partem numa missão para catar os pedaços de Osíris e revive-lo. Tem tudo a ver com nosso Voldie, não?
Guardem bem essa lenda, ela será EXTREMAMENTE importante no desenrolar da trama, e vocês verão (e alguns poucos entenderão) o porquê no próximo capítulo.
Pois bem, nesse capítulo também vemos a crueldade e a frieza com que o Tom passa por cima de tudo e de todos para conseguir o que quer.
Ele joga o emprego pro alto novamente e parte para Roma em busca do Mapa que o levará até a Cruz de Hórus. Por que Roma? Ah, sei lá, talvez eu ande lendo Dan Brown demais, mas eu queria que o Tom passasse uma temporada nas principais capitais européias, sabe, dá um ar “cosmopolita” ao cara hehehe...
Depois, ele conhece o tal Aldo, que na verdade “espiona” em Hogwarts para ver como vão as coisas, se passando por aluno. Vai ver ele nem mesmo é filho no Alfred e da Amélia, vai saber hehe... Isso aí eu vou decidir ainda. Talvez ele esteja apenas sustentando um disfarce, quem sabe, quem sabe...
Depois, outra “noite de amor” (no caso do Tom, seria “noite de sexo” mesmo por motivos já citados aqui ad nauseum hehehe...), que dessa vez não vai resultar em nada, só serviu mesmo para ele pegar o mapa, vingança da Amélia que provavelmente odeia o marido por ele ser um velho e ela, como citado, uma jovem belíssima. Sabe como são esses casamentos arranjados né...
Próximo capítulo vai ser mais divertido ainda, prometo! Hehe...
Ah, e os agradecimentos a todos que comentaram, à Belinha, à Nia e ao povo que curte a fic...
Aviso que à partir de agora só vou funcionar no seguinte sistema: 5 comments = 1 capítulo.
E uma troca de favores, vocês fazem o favor de ler meu lixo imaginativo e comentam e eu faço o favor de aumentar a quantidade de informações inúteis na cabeça de vocês huahuahua...
É isso aí...
Bjs,
Lillith R.
p.s.: Que tal as ceninhas quase-NC-17? Sei lá, quero dizer, tecnicamente eu não posso escrever essas coisas; eu só tenho 14 anos. Bem, quem se importa? Hehe...
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