DEFININDO GINA



Era uma noite fria de outono. Eles estavam muito juntos na janela da sala de Transfiguração. O vento uivava fora do castelo e ela aconchegou-se no abraço forte e confortável dele.

- Ah, Harry, eu sonhei com esse dia tantas vezes...

- Agora você está aqui comigo, meu amor... – o garoto a apertou mais, segurando gentilmente o queixo, dando-lhe um longo beijo; o beijo que ela sempre quis. Mas, ao se afastar para olhá-lo, seu rosto foi saindo de foco, virando somente um vulto, um vulto que ela não conseguia mais distinguir...



- Gina? Gina! - Hermione a sacudia, acordando-a. – Acorda. Hoje a gente vai ao Beco Diagonal, esqueceu? Levanta!

“É... pelo jeito, não vai passar de sonho...”, pensou uma frustrada Gina, enquanto se arrumava e descia para o café da manhã.

- Bom dia, meninas! - saudou sua mãe. - Dormiram bem?

- Gina, sua cara está horrível! – foi o comentário de Rony.

- Ah, obrigada, querido irmão. Puxei a você. - ela disse, mal humorada.

- Não é isso, Gina... Você me entendeu... – ele tentou explicar.

- Ah... Bem... sonhos estranhos outra vez...

- É a terceira vez essa semana, querida - disse a mãe, servindo mingau com caramelos para as garotas. - Você está com o sono perturbado, é melhor começar a dormir mais cedo...

- Calma, Gina. - riu Fred - Hoje você vai ver o seu querido Harry e tudo isso vai passar! Afinal de contas, ahhhh - ele suspirou com uma cara gozada, imitando Gina e levando um pedaço de pão na cara – o amor é lindo!

- Pára, Fred, não tem nada a ver!

- Não liga, Gina - disse Mione, em seu habitual tom ‘sabe-tudo’. - Meninos são sempre assim! Seus irmãos não querem ver que você está crescendo...

- Ah, sim, crescendo...- exclamou Jorge, levando também um pedaço de pão na cara - Com quinze anos desse tamanho!

- Crianças, parem com isso! – Artur resolveu parar a discussão. Poderia sobrar pão para ele também. - Vamos nos atrasar, ficamos de encontrar Harry no Gringotes. Teremos que usar Pó de Flu.


Ao chegarem ao banco, Harry já esperava. Foram abraços e mais abraços (Gina o cumprimentou de longe); e longas conversas.
- Esperou muito, Harry? - perguntou Rony.

- Não, Hagrid acabou de me deixar aqui. – o moreno sorriu. - Como vão as coisas? E o namoro, Rony?

- Rony não pensa em mais nada - Fred adiantou-se - desde que Mione chegou em casa! Fica com uma cara besta pra ela o dia inteiro!

- Vai bem, Harry - disse Mione, enquanto Rony tentava esmurrar o irmão. - Sentimos saudades! Como estava na casa dos seus tios?

- Péssimo - ele respondeu, com cara de tédio. - Ainda bem que vou ficar com vocês o resto das férias.

- Isso é bom. - cochichou Rony para ele, rindo - Assim Gina perde o medo de você de uma vez! Que tal se você começasse a falar com ela, Harry!

- Mas eu tento. - respondeu ele, no mesmo tom de voz - ela que não fala muito.

- Meninos, vamos começar as compras? - interrompeu Hermione - Temos o resto das férias para conversar!

Como acontecia todos os anos, o grupo se dividiu. Os gêmeos avistaram Lino Jordan e juntaram-se ao amigo, enquanto o Sr. e a Sra. Weasley aproveitaram para visitar algumas lojas e abastecer a despensa da Toca. Deixaram os livros, penas e tintas por conta dos garotos. Sem outra escolha, pois não encontrara nenhum conhecido, Gina acompanhou Rony, Hermione e Harry.

Depois das compras, pararam para tomar um sorvete para refrescar do calor que fazia no meio da tarde. Gina se sentia meio deslocada, afinal não era “íntima” do trio, mas os acompanhava e até arriscava uma frase ou outra. Ela só conversava de verdade quando Harry não estava por perto.


O resto das férias correu bastante bem para Harry Potter. Ele realmente sentia-se em casa na companhia dos Weasley e aproveitava cada momento. Gina percebia isso com clareza, observando o sorriso fácil que surgia naquele rosto que ela já decorara de tanto olhar.

Sentia-se particularmente satisfeita pelo garoto gostar tanto assim de estar com sua família porque assim ela poderia seguir cada movimento dele sem parecer intrometida. Em Hogwarts, ela sequer cogitava ficar tanto tempo observando-o jogando quadribol ou andando pelos corredores, ou mesmo na Sala Comunal.

Ali, ele era dela.

Mas, logo chegou 1º de setembro.



No trem, Gina acabou ficando com Rony, Mione e Harry.

- Eu acho melhor arrumar uma namorada logo - riu Harry - senão vou ficar segurando vela o ano todo!

- Ah, não vai ser tão difícil assim - Rony lançou um olhar malicioso para o amigo. - O colégio inteiro sabe quem você é. Você certamente tem um fã clube! Todas as meninas querem te beijar e namorar “Harry Potter”!

“É, inclusive eu...”, constatava tristemente Gina. “Se você quisesse, Harry... eu não tenho muita experiência, mas sei que você não iria se arrepender!”

Ela já tinha beijado alguém. Bom, foi só um beijo... um momento de fraqueza, mas não tinha sido tão ruim. Claro, não foi com quem ela queria que fosse...

“Não foi mesmo tão ruim...”, ela ponderou, “Sim, ele é bonito, mas nem se compara ao Harry... Tão simpático, bonito, famoso, jamais me machucaria... Ele não...”

- Gina, em que planeta você está? - perguntou Rony, despertando Gina dos seus devaneios com um pedaço de papel. - Tô te chamando há uns três minutos!!

- Ahn...? – ela piscou e olhou espantada para o irmão. - O que foi??

- Perguntei se você concorda comigo!

- Com o que, Rony? – Gina ficou furiosa por ter sido interrompida. Ela era um tanto temperamental com esse tipo de intromissão. - Ah, você tá maluco - disse ela, saindo da cabine. - Vou procurar doces.

- Alguém entendeu? - perguntou Rony, olhando os amigos com uma cara estranha.

- Sua irmã é maluca - decretou Harry.

- Ela tá assim desde que começou a ter esses sonhos esquisitos... - comentou Mione.

- Que sonhos? – os dois perguntaram em uníssono.

- Não sei, - a garota deu de ombros. - por mais que eu pergunte, ela não quer contar.

Do lado de fora, Gina voltava aos seus pensamentos.

“Mas que droga, Gina, por que você não pára de pensar ‘nele’ por um segundo? Você sequer fala com ele e fica aí, toda besta!”

BAM!!!

- Hei! – ela protestou contra aquela falta de tato. - Olha por onde anda!

- Eu?? Você quem estava aí olhando pro chão! Ah! – Draco Malfoy exclamou ao ver em quem tinha esbarrado, com uma expressão de desprezo - Tinha que ser. Weasley. Preocupada demais com Potter pra olhar pra frente?

- Cala a boca, Malfoy. Pelo menos eu penso em alguma coisa.

Sem pensar direito no que falou, acabou voltando à cabine para não ter que continuar na agradável companhia do sonserino.

- Ué, desistiu? – Rony implicou, enquanto a garota batia a porta.

- Aquele idiota do Malfoy me fez perder a vontade. – sentou-se no canto perto da janela e cruzou os braços.

Pouco tempo depois, aparece na porta um garoto aparentemente desconhecido. Era alto, com os cabelos loiros cuidadosamente cortados na altura das orelhas e olhos verdes. Ele examinou rapidamente o interior da cabine.

- Ah, não, ocupada também. – ia saindo quando olhou para a janela e sorriu. - Olá Gina, há quanto tempo!

- Cai fora, Alex - disse ela, sem nem olhar para o garoto. Ele pareceu não ouvir, pois endireitou-se melhor na porta e olhou com insistência para ela.

- O que foi? Desde o fim do ano passado você está fugindo de mim!

- Sai daqui. - ela continuava olhando pra janela.

Rony, Harry e Hermione pareciam assistir uma partida de ping-pong, olhando ora para um, ora para o outro. Harry resolveu falar:

- Não sei quem é você, mas parece que ela não quer papo agora. - ele levantou e foi até a porta - Por que não volta outra hora?

- Olha, Gina - o garoto provocou - o seu querido Harry está te protegendo, não vai dar um sorriso?

- Sai daqui... - ela falou, se levantando e olhando com raiva para ele. - Eu já falei, e não aparece nunca mais, senão eu juro que te transform....

- Tá, tá - disse ele, antes que ela terminasse a frase - Já vou. Mas ainda não entendi, Gina... afinal, foi você que... - ela tirou a varinha do bolso. Então o loiro finalmente saiu e bateu a porta. Gina se sentou e cruzou os braços outra vez.

- Quem era, Gina? – Hermione quis saber, cautelosamente. Conhecia o gênio Weasley muito bem.

- Ah, um garoto da Corvinal. – ela explicou, de má-vontade. - Do sexto ano. Ajudava Snape ano passado. Mas não quero falar disso, tá legal? - Os outros perceberam que ela realmente não estava bem e mudaram de assunto, tornando a comentar as últimas notícias do Profeta Diário. A ruiva sequer prestou atenção à constância cada vez maior de ataques à comunidade bruxa, perdida na paisagem borrada da janela.

Gina ficou séria o resto da noite, mesmo com todas as novidades de ano novo em Hogwarts. Ela não estava interessada na canção do Chapéu Seletor, nas advertências de Dumbledore ou na contratação mais recente para o posto, vago pela Profa. Trelawney. Depois de beliscar distraidamente seu jantar, subiu direto para o dormitório e fechou as cortinas da cama antes que alguém falasse com ela.

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