Sobre Ele



Vida louca vida, vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve"

Sirius Black... ironicamente, a ovelha "negra" da família. E ele conseguia ser o cara mais insuportável da escola, o moleque mais endiabrado, vivendo loucamente. Ele e James Potter, aliás... As pessoas poderiam descrevê-los como "descontrolados". Sempre brincando de se arriscar, sempre com um sorriso maroto. Nos finais de semana em Hogsmead aproveitavam para encher a cara de uísque de fogo e depois iam vomitar na entrada do Salão da Sonserina. E tinham as garotas, várias, uma por semana, as groupies dos Marotos. As festas na Sala Precisa. Tiago era um terrível, e Sirius era pior, sem se preocupar com nada, jogando-se na vida, deixando que ela o levasse. Sempre ao extremo, como se cada dia fosse o ultimo, sempre tragando cada hora, minuto, segundo.

Vida louca vida, vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa

Se lhe perguntassem, nem mesmo ele próprio saberia explicar porquê. Simplesmente deixava-se ir, até acordar quase meio dia em plena segunda feira, com Lupin lançando-lhe um olhar reprovador. Então mandava o mundo para aquele lugar, fechava o cortinado e dormia até as quatro da tarde. Sabia que no dia seguinte receberia um berrador de sua mãe, já avisada que matara aula e fizera algo de errado. Não tinha a menor importância... Evitava pensar na sua casa, se é que podia chamar aquilo de casa... Seus parentes fúteis, babacas! Um pior que o outro, um mais vazio que o outro.

Se ninguém olha quando você passa
Você logo acha
Que a vida voltou ao normal
Aquela vida sem sentido, volta sem perigo
É a mesma vida sempre igual

Quando o verão se aproximava, anunciando o fim do ano letivo, lhe batia uma tristeza tão grande... Lembrava da infância solitária, do pai, que morrera quando tinha nove anos, e tudo que recordava a cerca dele tinha a ver com castigos físicos. Mas o pior era lembrar da mãe: deveria amá-la, não conseguia. Sua mãe, que só lhe dava atenção quando era avisada de estar novamente em detenção, que comentava com os parentes que ele era o único Black a não estar na Sonserina, sua querida mãe com sua mania de pureza de sangue e riqueza.

A princípio, Sirius acreditara que eles estavam certos, que os mestiços eram inferiores, toda essa baboseira inútil. Então começou a andar com James - embora tivessem se estranhado no início - e com Remus e com Peter. Eles lhe obrigaram a mudar de idéia, a pensar diferente daquelas pessoas horríveis, sem coragem, sem amor, sem vida!

Vida... Era tudo que o garoto mais rico da escola tinha. Talvez fosse por isso que esforçava-se ao máximo em gastá-la. Seu lema era viver breve e insanamente.

Se ninguém olha quando você passa
Você logo diz: "Palhaço!"
Você acha que não está legal
Corre todos os perigos, perde os sentidos
Você passa mal
Vida louca vida, vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve

Com os pensamentos mais sombrios, embora fosse pleno Verão, Sirius chegou no casarão 12, no Largo Grimmauld, em Londres. Gastou a maioria dos dias tentando evitar o resto da família... Não era realmente difícil, pois ninguém queria sua companhia. Até mesmo sua mãe, indiferente ao fato do filho ter tirado 11 N., não lhe dirigia a palavra, nem para tripudiar.


Vida louca vida, vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa
Não compensa, não

Passou-se, então, uma semana. Uma solitária semana arrastando-se pelo que lhe pareceram séculos. Sirius sentia falta de conversar com alguém, das pessoas da escola, embora James e Lupin, mais o primeiro do que o segundo, fossem as únicas pessoas por quem tinha algum respeito, sem contar Dumbledore, o velho e bom diretor, "o avô bruxo" como diziam os Marotos.

Na velha casa nem as lembranças boas ajudavam, sentia-se vivendo entre um bando de dementadores. Daí, feito um prisioneiro, riscava nas paredes de seu quarto quantos dias faltavam para julho acabar e depois agosto. Era enlouquecedor como as férias nunca terminavam! Precisava ir embora, precisava estar em Hogwarts, precisava jogar-se no mundo e esquecer...

Tô cansado de tanta caretice,tanta babaquice
Dessa eterna falta do que falar
Vida louca vida, vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida louca vida, vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa

Foi em um dia de muito sol que Sirius Black acordou sem esperança, com uma raiva pulsante de toda essa caretice, dessa "falta do que falar" e foi procurar um pouco de paz longe do resto do mundo, na laje mais alta da casa. Tão alto... Ninguém ia lá... Só ele e seus pensamentos... A rua pequenininha, lá embaixo. Correu escada acima, tropeçou em Bellatrix, "a frieza em pessoa", como costumava dizer. Bella era sua prima. Tinham a mesma idade e apesar de estarem no mesmo ano de Hogwarts, ignoravam-se completamente. Não sabia explicar exatamente porque, mas detestavam-se desde muito novos, como se a presença dele fosse tudo que a mais irritasse e vice-versa. Ainda assim tinham que dividir espaços e sempre trombavam-se nos corredores da Casa dos Black. Era um saco. Ainda mais quando Sirius constatou que a cada Verão, ao vê-la de perto, ela havia tornado-se mais e mais bonita - Bellatrix era morena, porém fugia do sol e sua pele tinha um resplandecente tom pálido, tinha traços fortes e sedutores, praticamente como Sirius seria de fosse uma garota. E os olhos dela era de um azul profundo, quase negro, frios como a alma de Bellatrix. E tinham um quê de tresloucados. Era exatamente isso que ele achava dela: fria e insana. E agora o fuzilava com o olhar.

- Saia do caminho Sirius!

Olhou a prima de cima a baixo. Resolveu descontar a raiva nela, aquela menina esnobe e metida. Fácil detestá-la:

- Não seja grosseira, priminha!

Ela nunca se irritava, ou melhor, não demonstrava, mas naquele dia ela respondeu, a voz esganiçada:

- Vá pro inferno!

Era engraçado vê-la dizer algo assim, simplesmente passou por ela, dizendo ironicamente:

- Já estou nele, Bellatrix.

Não falou mais nada, nem olhou para trás. Apenas subiu os últimos lances de escada, sem correr, ainda que ligeiro, procurando a paz e o calor do sol na laje mais alta...

Vida louca vida, vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
leve, leve, leve...

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