Te apagando



Harry se viu sentado em uma poltrona, tentando ler um livro, o relógio anunciando 3 da manhã. 'Foi a última vez que te vi'. Harry pensou, sem desgrudar o rosto do livro. Aquilo era uma memória, e ele sabia que não poderia fazer nada para modifica-la, por mais que quisesse. A porta do apartamento se abriu e Luna entrou. Eles estava toda suja de lama e folhas. Ela entrou no quarto e se sentou no chão, na frente dele.
_Eu meio que... bati seu carro. Desculpe.- ela murmurou.
_Você estava estava dirigindo no escuro, de novo? Sem acender os faróis?- Harry perguntou muito bravo. Odiava quando ela fazia aquilo, e se ela batesse realmente o carro e se machucasse, ou pior, morresse? Por que ela era incapaz de ver as conseqüencias de seus atos?
_Você sabe que os Bufadores do Chifre enrugado não gostam de luz.- ela explicou frustada, depois de mais uma busca infrutífera.- Então, a busca precisa ser no escuro total.
_No meio da floresta? Você é totalmente irresponsável! Você podia ter batido em uma árvore e se machucado, ou quem sabe atropelado um animal. E vai saber se não atropelou! - ele exclamou, cansado daquela loucura de Bufador do Chifre Enrugado. Por que ela tinha que acreditar tanto nesse tipo de coisa?
_Eu não atropelei ninguém!- ela exclamou horrorizada- Você só está dizendo essas coisas, porque está aborrecido por eu não ter te levado junto.
_Oh, sim! E eu estou morrendo de inveja por não ter ido procurar, no meio da floresta, no total escuro, por um animal que nem existe! - ele explodiu.
_Como assim, não existe?- ela exclamou branca, ficando de pé.- Você sabe tanto quanto eu que eles existem!
_Não, eu não sei! Eu não acredito neles. Eles são mais uma besteira que você inventou na sua cabeça de lunática! Mais uma coisa que te põe em risco e acaba com sua vida de pessoa normal! - ele gritou, e se arrependeu imediatamente. Ela ficou pálida, lágrimas encheram seus olhos, então ela se virou e saiu do apartamento. Harry ficou de pé em um pulo, e saiu correndo atrás dela.- Loony! Espere!
_Não me chame de Loony!- ela chorou, furiosa, secando as lágrimas nas costas das mãos, sem parar de andar muito rápido.
_Luna! Me desculpe! Eu não quis dizer aquelas coisas.- ele falou desesperado, a imagem dela começando a piscar, aparecendo e desaparecendo da lembrança.
_Mas, disse. Eu posso ser estranha, Harry, e acreditar em um monte de coisas que as pessoas acham besteira. Mas, você me magoou muito, e eu sei a hora de ir embora.
_Eu estava bravo e preocupado com você, sei lá. Me desculpe, por favor.- ele continuou pedindo, mas a distancia entre eles parecia apenas aumentar, e tudo ficou embaçado. Ele a perdeu de vista, e ao longe ouviu uma porta bater.- Luna?

_Outra memória que desapareceu.- Stan sorriu, apertando o botão.- Mary está vindo aqui, hoje à noite.- disse casualmente.
_É?- Patrick perguntou, pouco interessado.
_É. Achei que você gostaria de saber.
_Eu gosto da Mary, até curto quando ela vem nos visitar. Só que ela não parece gostar muito de mim.
_Ela acha que você é ok.- Stan respondeu evasivo, sem tirar os olhos do computador. Sabia que aquilo era mentira, Mary não suportava Patrick. E mesmo ele, Stan, tinha dificuldade de ter paciência com o outro, algumas vezes.
_Então, acho que deveria convidar minha namorada também.- Patrick falou casualmente, casualmente demais- Eu tenho uma namorada agora.
_Faça o que quiser.- Stan deu de ombros.
_Eu tinha te contado da minha namorada?
_Pode pegar uma cerveja pra mim, por favor?- Stan interrompeu, pouco interessado. Patrick provavelmente havia se dado com uma qualquer, e já a considerava a pobre garota sua namorada.
_Claro!- Patrick se levantou, pegando a cerveja na cozinha, e voltando correndo para perto de Stan, embora o apartamento fosse pequeno, com apenas quatro cômodos.- E aí, eu já tinha contado?
_Patrick a gente tem que se concentrar aqui.
_O problema é que .... a situação é estranha. - Patrick continuou, como se não tivesse ouvido Stan- A situação de minha namorada é estranha, quero dizer.
_Claro! Tenho certeza que é!- Stan riu, tomando um gole de cerveja, procurando a próxima memória para ser apagada.

Harry saiu do prédio e viu Luna no fim da rua, ela andava muito rápido. Olhando em volta, viu seu carro e correu para ele.
_Você tem que estar brincando.- Harry gritou furioso, a lateral direita do carro estava arruinada. Mas, não tinha tempo de lamentar o carro. Entrou e dirigiu até ela.- Luna! Me deixe pelo menos leva-la para casa, está tarde e frio, e você está sozinha,
_Vai embora, Harry. - ela pediu calmamente, mas com muito sofrimento, tentando secar as lágrimas que insistiam em escorrer.
Harry ouviu um enorme barulho, carros caiam do céu em volta, assim como pedaços das casas e dos telhados. Mas, ele não se importava. Sabia o que estava acontecendo. Haviam destruído o núcleo da memória, que desaparecia, desmoronando a sua volta.
_Ei! Sabe o que estou fazendo?- ele gritou, mas ela pareceu não ouvir.- Estou te apagando de minha memória, e estou feliz com isso!- mas, ele não estava. O que sentia era falsa alegria de vingança, que ao mesmo tempo o fazia se sentir mal e envergonhado. - Afinal, você fez isso comigo primeiro! Eu não acredito que fez isso comigo! - ele murmurou furioso, saindo do carro e a seguindo, Luna estava virando a esquina- Luna! Você pode me ouvir? De manhã você terá ido embora! O perfeito final para essa história ridícula.
Ele chegou na esquina, mas estava vazia. Quando se virou para seu carro, viu que ele estava estacionado a seu lado, e andando do outro lado do quarteirão, caminhando para a esquina estava Luna. Ele sacudiu a cabeça confuso. Mesmo assim, a seguiu.
_Tem alguma coisa errada com uma garota se sentir atraída por mim?- a voz de Patrick soou na cabeça de Harry. Ele odiava essa parte do processo, o sono não o impedia de se manter surdo ao que acontecia a sua volta, fora de sua cabeça.
_Não, é só engraçado.- Stan respondeu.
_O quê? Quem você acha mais bonito, eu ou esse cara?
_Vamos nos concentrar, Patrick, por favor.- Stan insistiu.- Além do mais, esse é Harry Potter. O garoto-que-Sobreviveu- umas-mil-vezes. Ele derrotou Você-Sabe-Quem. Isso deve contar para alguma coisa, entre as garotas.
_Lembra da garota da semana passada? A dos olhos grandes? - Patrick perguntou.
_Aquela garota?- Stan perguntou- É a garota dele!
_Essa mesmo.- Patrick concordou.
_Bem, ela era. A gente cuidou disso.- Stan riu.
Harry, que estivera prestando atenção na conversa, chegou na outra esquina, para se ver novamente ao lado de seu carro, Luna se afastando para o lado oposto. Falou um palavrão em voz alta, não havia jeito de mudar a memória. Ele não a seguira depois dessa esquina, na vida real, e por isso não podia faze-lo em sua lembrança. Tudo o que podia fazer era vê-la ir embora, de novo.

_Eu meio que me apaixonei por ela aquela noite.- Patrick exclareceu para Stan.
Stan riu, mexendo no teclado.
_O que foi?- Patrick perguntou.
_Ela estava inconsciente, cara.- Stan riu mais.
_Mas, ela é linda... - e Patrick se levantou, completando em um cochicho secreto.- E eu roubei uma calcinha dela.
_O quê? - Stan parou de digitar, olhando para Patrick chocado. Ele era estranho, mas não podia ser tão estranho assim!
_Qual o problema? Não é como se... eu quero dizer, estava na gaveta. Limpa e tudo!
_Pára! Não diz que fez besteira, eu não quero ouvir essa história.
_Mas, estava limpa!
_Pára! Eu não quero ouvir. Não me conta essas coisas. A gente tem que trabalhar.
_Está certo, se acalme.
Na rua Harry ouvia a conversa, enquando andava de um lado para o outro, sempre chegando na mesma esquina que deixara para trás. Ali, não havia saída, e isso o estava deixando frustado.
Então, de repente ele estava em cada, sentado no sofá ao lado de Luna. Ela tinha fitas verdes em todo o cabelo. Ambos comiam comida chinesa. Ela olhava o aparelho no canal trouxa com interresse, sugando o macarrão. Harry sorriu, quase se esquecera o quão doce ela podia ser.
_E tem mais.... - uma voz fraca falou e Harry suspirou, prestando atenção.

_E tem mais.... - Patrick falou, enquanto entrava na cozinha - Depois que apagamos a memória dela.... eu meio que a visitei no dia seguinte, no trabalho, e a chamei para sair.

Harry ficou de pé, ou via vozes um pouco fora de sintonia vindo do apartamento, da sala e da cozinha. Luna continuava sentada, como se não ouvisse nada. Harry chegou na cozinha, que estava vazia.
_Patrick, você tem idéia de como isso é antiético?- Stan continuou, enquanto Patrick voltava da cozinha, comendo.
_Não é tão ruim. O quê? Não me olha assim, tira essa expressão da sua cara.
_Patrick, você roubou a calcinha dela.
Patrick então caiu na risada, acompanhado em seguida por Stan.

Harry voltou para a sala, onde ouvia risadas, mas não viu ninguém. Não podiam estar usando capas de invisibilidade, porque se estivessem, Luna os teria ouvido também. Mas, ela parecia perdida em um mundo paralelo, como sempre fazia. Além do mais, mesmo que fosse na direção das vozes, Harry não conseguia encontrar nada sólido ali, além de suas coisas.
_Tem alguém aqui.- Harry disse a Luna.- E ele roubou sua calcinha.
_Sério? Eu não vejo ninguém.- ela respondeu olhando em volta curiosa. Então a voz dela pareceu sair de sintonia.- Pode pegar meus óculos especiais para eu checar? Estão na minha mesa de cabeceira.
Harry olhou novamente para a cozinha, e quando voltou os olhos para Luna, viu que o apartamento estava vazio. Ele já não segurava o pacote de comida chinesa, e nem os pauzinhos. Então, como se fosse empurrado, caiu na poltrona que apareceu do nada.
_Harry, você viu minhas botas?- Luna perguntou olhando em volta.- Ah, aqui estão!- ela exclamou as vendo perto da porta.
_Once você está indo?
_Procurar Bufadores.- ela respondeu, calçando as botas.- Volto mais tarde.- e saiu o deixando sozinho.
E de repente, eles estavam juntos, de braços dados, no Beco Diagonal. Luna parou para fazer carinho na cabeça de um bebê, que estava no colo dos pais. Eles a olharam desconfiados, mas ela não reparou, sorrindo feliz.
_Onde você quer ir agora?- Harry perguntou.
_Eu quero ter um bebê. - Luna respondeu sorridente.
_Vamos falar nisso mais tarde.- Harry respondeu corando, tentando desviar o assunto.
_Por que mais tarde? Eu quero ter um bebê o mais rápido possível. Já imaginou Harry, uma pessoinha só nossa? Que jogasse quadribol como você, e fosse para a Corvinal como eu?
_Eu... eu acho que ainda não estamos preparados para isso.
_Você não está preparado.
_Luna, você acha que poderia cuidar de um bebê?
_O que você quis dizer com isso?- Luna perguntou, soando magoada.
_Eu não quero falar disso agora.- Harry insistiu, sabia que aquilo não ia acabar bem.
_Por quê? Você costumava a confiar em mim. Agora nós nem conversamos mais.- Luna o soltou, brava. Toda a rua parou para olha-los.
_Eu não quero falar sobre isso aqui.- Harry falou baixo, tentando não chamar mais atenção.
_Pois saiba que eu faria uma ótima, mãe. - Luna insistiu.
_Tenho certeza que sim, Loony.
_Não me ache esquisita e incapaz, como todos os outros. - ela pediu desesperda.- Não você!
E com isso foi embora, sem espera-lo, antes que Harry pudesse responder. Ele a seguiu, triste. Odiava discutir com ela! E isso estava acontecendo com tanta freqüencia ultimamente. Tentou bloquar as pessoas na rua, que o encaravam e cochichavam sem disfarçar. E parecia que estava funcionando. Tudo estava desaparecendo. A feira, Luna, a voz dela. Tudo desaparecia em um borrão.

N/A- Eu sei que está um pouco confuso, mas logo as coisas vão se acertar, e ficar mais bonitinhas. Beijos, Mary

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