No fim... quem sabe?



Capítulo 06 – No fim... quem sabe?


Era sexta-feira à noite e Lily continuava sem falar comigo. Pode parecer pouco, mas pra mim, esses dois dias sem conversar com ela pareciam uma eternidade.

Tudo bem que ultimamente eu tenho passado mais tempo com os marotos do que com ela... mas de qualquer forma, era por causa dela mesmo, não?

- Vai continuar com essa criancice? – perguntei séria, em pé ao lado da cama dela.
- Que eu saiba, não fui eu quem agiu como criança. – Ela me respondeu brava.
- Deixa de ser boba, Lis. Eu só estava querendo te ajudar. Foi o que eu te prometi, aquele dia no lago.
- Não sei como você espera me ajudar desse jeito. Poxa, Lucy, me fazer perder uma manhã inteira de aula, me levar para Hogsmead, e me deixar trancada com o Potter naquela gruta...
- Me desculpa? Por favor, Lis? Ah, você sabe que eu ajo por impulso, quando eu vi já estava aceitando a idéia do Sirius. Achei que se vocês tivessem alguns momentos juntos e sozinhos, iriam se entender.
- O Sirius é outro motivo que eu não posso te perdoar.

Eu sabia... de um jeito ou de outro Sirius sempre conseguia atrapalhar minha vida!

- E porquê, Lis? Posso saber?

Ela fechou o livro que vinha lendo e se arrumou melhor na cama.

- Quando eu contei pra você que tinha descoberto que gosto do Potter, eu contei pra você. Eu não contei à Alice, não contei ao Remus, não contei à Dumbledore... contei pra minha melhor amiga. Eu confiei em você, Lucy. Você traiu a minha confiança quando contou para o Sirius.

Ai, Merlin, eu tive que rir! Lily fica louca com isso, quando ela está falando séria e eu começo a rir. Mas mil coisas passaram na minha cabeça, e eu não consegui segurar: tive que rir. Já que, possivelmente, em alguns minutos ela estaria descobrindo que não era só o Sirius que estava sabendo e, quando isso acontecesse, eu seria uma Lucy degolada!

- Do que você está rindo, criatura?
- Desculpa, Lis. Ai, isso está ficando freqüente, não?
- Demais. Você só tem feito coisa errada! – Ela ainda estava séria, mas eu conheço muito bem essa ruivinha. Seu coração de pedra já estava amolecendo...
- Se eu erro, é tentando acertar. Eu quero te ajudar, quero que você e o James sejam felizes.

Ela soltou um suspiro e eu vi seus olhos encherem de lágrimas. Sentei na beirada da cama e fiz um cachinho com o cabelo dela.

- Nós nunca vamos ser felizes juntos, Lucy. – Ela falou num fio de voz que fez meu coração gelar de dó. – A gente não combina. Nunca vai dar certo.

Pode parecer estranho, mas eu não consegui fazer nenhuma palhaçada para animá-la. Naquele momento eu percebi que minha melhor amiga estava sofrendo com o sentimento por James. Até então eu achei que ela tinha apenas se dado por vencida e resolvido aceitar as insistências dele, ou ouvido meus conselhos de que ele era um bom partido. Mas não, ela estava mesmo apaixonada por James Potter.

Mas ninguém pode me culpar também. Eu sei que sou a melhor amiga e ninguém antes que eu deveria ter percebido. Mas a Lily é muito reservada com relação à sentimentos. Provavelmente ela deve ter passado muito tempo lutando com a descoberta antes de me falar que estava gostando dele.

Todas essas fichas caindo ao mesmo tempo devem ter me deixado com uma expressão muito feia, pois Lily começou a chorar e a única coisa que eu consegui fazer foi abraçá-la.

Depois de um tempo quando nos separamos, Lily estava com os olhos bastante vermelhos. E eu também. O que eu podia fazer? Não posso ver ninguém chorando que abre uma torneirinha automática embaixo dos meus olhos. Quando Lily secou o rosto e viu meu estado começou a rir.

- O que eu faria sem você, Lucy? – Ela me perguntou risonha.
- Teria uma vida normal?

Nós duas rimos e eu aproveitei o momento de bom humor pra perguntar:

- Há quanto tempo? Quanto tempo faz que você gosta tanto ‘daquele traste’?
- Nem sei. – Ela encarou a porta do dormitório – Foi de repente, comecei a achar o cabelo dele bonito despenteado daquele jeito. Percebi que ninguém voava melhor do que ele e que era bem feito pro Ranhoso ser azarado pelos marotos.

Ela ficou em silêncio um instante.

- O sorriso dele também é lindo. E mesmo sendo tão pretensioso, é uma boa pessoa. – Ela voltou a me encarar. - Eu o vi ajudando alguns alunos do primeiro ano a fazerem os deveres. Essas coisas, coisas pequenas, que eu me permiti reparar... foi isso que começou a mudar meu conceito dele.
- Você falando assim, estou quase me apaixonando por ele também.

Lily riu.

- Seu coração é do Sirius.

Essa mudança brusca de assunto não me fez bem. Fechei a cara de repente e cruzei os braços.

- Merlin me livre daquele cachorro! Meu coração está livre e desimpedido. – Falei tão convicta que até Lily se assustou.
- Você não estava tentando conquistá-lo? E aquela propaganda toda sobre ele ser lindo, divertido, uma ótima companhia? Não estou te entendendo! Até hoje de manhã você assistiu todas as aulas com ele.

Há há há. Mais uma goles fora... Havia me esquecido do nosso antigo plano!

- Ele é passado! Não me merece e nem nunca me mereceu.

Acho que ela aceitou essa minha desculpa, pelo menos não falou nada.

- E o que eu posso fazer pra te ajudar, Lis? Tudo o que eu tenho feito foi tentar deixar você e o James juntos pra ver se vocês conversam e se entendem.
- Eu não quero me entender com ele. – Lily ficou repentinamente séria – Nem quero que você faça alguma coisa. Ele já me esqueceu, eu posso muito bem fazer o mesmo!

Senti que nossa conversa estava encerrada. Murmurei um boa noite pra Lily e saí do dormitório.

O salão comunal estava vazio. Me sentei perto da lareira e fiquei observando o fogo. Sempre gostei de fazer isso quando precisava pensar.

Devo ter passado horas ali, pois acordei assustada quando alguém tocou no meu ombro.

- Remus? – perguntei com os olhos arregalados.
- Não, o lobo mau.
- Esse trocadilho não ficou bom! – falei sorrindo.
- O que você está fazendo aqui?
- Dormindo?
- Isso eu sei. Queria saber o porque de você estar dormindo aqui no salão comunal.
- Ah! Não sei. Fiquei aqui olhando o fogo, pensando na vida, olhando o fogo, pensando... acho que adormeci.
- Você está ansiosa! Não devia se preocupar, se tiver que ser, será.
- Queria ter essa sua confiança. Como você consegue ser sempre tão calmo? Ter tanta certeza das coisas?
- Eu não tenho certeza de nada, Lucy. – Eu me acomodei no canto da poltrona e ele sentou ao meu lado. – Só acho que a gente não deve se preocupar à toa. O James e a Lily se gostam, não importa quanto tempo leve, eles vão sentir a falta um do outro.

Eu pisquei os olhos surpresa. E logo senti meu rosto esquentar.

- Na verdade...
- Você estava pensando em você, não?
- Mais ou menos.

Ele levantou uma sobrancelha e eu decidi desabafar.

- Estava pensando em como nossos cupidos são completamente cegos. Lily não queria gostar de James e está perdidamente apaixonada. E eu... – fiz uma pausa – Eu queria gostar de uma pessoa, mas não consigo.
- Posso dar minha opinião? – Eu acenei que sim com a cabeça – Eu acho que o Sirius gosta de verdade de você.
- Eu queria que fosse você... – falei baixinho encarando minhas pantufas.
- Ninguém manda no coração, Lucy. E também, nós dois não daríamos certo. – Ele falou paternalmente.

Eu sorri pra ele.

- É. Acho que você faz muito o papel de meu irmão mais velho.
- Exatamente. Você queria que fosse eu porque eu te dou atenção, cuido de você e te entendo. (e não é que é isso mesmo!), mas eu faço tudo isso porque te considero a irmã que eu nunca tive. Como casal, a gente não iria combinar. E lembre do que eu te falei. Com o tempo, as coisas se acertam. Agora, é melhor você ir dormir, mocinha.
- Ok. – Levantei num pulo do sofá, estava bem mais alegre – Obrigada, Remus.
- Não precisa me agradecer. Irmão, é pra isso! – Ele me falou piscando um olho e eu voltei para o meu quarto.




Estava bastante animada no outro dia. Apesar de ter dormido mal no salão comunal e no fim das contas ter dormido apenas algumas horas, eu sentia que era a pessoa mais feliz daquele castelo! Minha animação vacilou quando encontrei Sirius sozinho na mesa da Grifinória.

- Onde está o Remus? – perguntei ao me sentar em frente ao maroto.
- Bom dia, Lucy! – Ele me abriu um imenso (e lindo!) sorriso.
- Bom dia, Sirius. Onde está o Remus?
- Não vem.

Eu continuei o encarando, com uma sobrancelha arqueada, mas ele parece não ter percebido, já que folheava calmamente o Profeta Diário.

- SIRIUS! – gritei e ele deu um pulo, batendo a mão na xícara de café que derramou nos meus biscoitos.
- Você é maluca?
- Você não estava me dando atenção, tive que gritar. Agora me fala: porque o Remus não vem?
- Que insistência nesse assunto! O Remus não vem porque ele não quer.
- Não quer? – Minha animação indo por água abaixo...
- Ele disse que confia em nós dois. Acha que conseguimos dar conta do recado.

Esse tipo de injustiça devia ser proibida! A pessoa acorda animada, feliz, achando até a neve branca que cai lá fora, a coisa mais colorida do mundo.

De repente ela encontra uma criatura que dá a notícia mais terrível que ela podia esperar! Sim, porque passar o dia inteiro sozinha com o Sirius é uma grande tortura!

É ou não é um mundo muito injusto?




- Não vou mesmo! Já estou ficando treinada, quando você vem com essa conversa de ‘relaxa e vamos passear’, alguma coisa terrível está para acontecer comigo!
- Lily, a dramática da dupla sou eu, ta? Por favor!
- Já está anoitecendo, ta frio, nevando, o que você quer fazer lá fora?
- Te mostrar um lugar que eu encontrei. E tem que ser agora! Na volta a gente pode passar pra tomar um chá com Hagrid, faz tempo que não visitamos ele.

Lily me olhou pensativa. Era minha última cartada. E pra falar a verdade, se essa não desse certo, temo que não desse nunca mais.

- É rápido?
- Só vai depender de você! – falei com um imenso sorriso. Lily não resistiu bancar a durona muito tempo e acabou cedendo.
- Então vamos.

Antes de sairmos, consegui convencê-la a trocar de roupa. Me limitei a responder que era um acontecimento importante.

Lily vestiu um vestido de cor creme, liso e longo até o tornozelo. Era justo até a cintura e depois descia em algumas camadas de tecido mais volumosas. Estava linda! Por cima, nós jogamos um sobretudo de pele, e eu arrumei o cabelo liso dela em cachinhos.

Parecia uma bonequinha de porcelana.

Lá fora, o vento estava terrivelmente gelado. A neve tinha parado de cair e finalmente eu conseguia agradecer Merlin por alguma coisa.

Só paramos nossa caminhada em frente ao Salgueiro Lutador.

- Mais um plano mirabolante? – Ela me perguntou desconfiada, mas com uma expressão de riso.
- Nem tanto assim. – falei sorridente – Vamos?

Ela encolheu os ombros e me seguiu. Procurei por algum tempo um galho comprido, e quando achei, toquei um nó no caule do Salgueiro Lutador.

Instantaneamente os galhos paralisaram e Lily me olhou estupefata. Tive que rir da expressão dela. Será que foi assim que eu fiquei de manhã quando vi Sirius fazer o mesmo?

Havia uma abertura quase imperceptível na árvore. Foi por ali que entramos.

- Foi isso que você encontrou?
- Quase.

Fomos subindo, Lily fazendo perguntas e eu cantarolando uma música das ‘Esquisitonas’. A madeira sob nossos pés rangia, e o vento lá fora fazia um barulho amedrontador. Além do lugar todo ter uma aparência assustadora. Era muito deserto, cheio de teias de aranhas, móveis quebrados e madeiras podres.

Chegamos enfim ao nosso destino: o último andar da casa dos gritos. Empurrei a porta que deu um leve rangido.

- O que está acontecendo? – Lily perguntou num misto de surpresa e desconfiança.

Aquele cômodo estava magnífico. Era o único lugar limpo da casa dos gritos. No chão, um tapete vermelho. Todas as paredes estavam cobertas com pesadas cortinas, verde esmeralda (enfeitiçadas para não se mexerem e assim não chamar a atenção de ninguém em Hogsmead). Em volta do quarto, várias velas de todos os tamanhos criavam um clima muito agradável.

No centro da sala uma mesinha baixa, com duas cadeiras, estava forrada com uma toalha da mesma cor das cortinas e tinha um bonito arranjo de flores no centro.

- O que você achou? – perguntei um pouco receosa.
- Está lindo, mas porque...

Nesse momento, James e Sirius entraram no quarto. Lily virou para eles surpresa. James deixou escapar um risinho no canto dos lábios ao ver a sala e depois ele e Lily ficaram se encarando.

Nenhum grito. Nenhuma palavra. Foi a minha vez de encarar Sirius surpresa. Será que tinha sido assim tão fácil?

Mas existem perguntas que você nunca deve fazer, nem mesmo em pensamento. Lily abotoou novamente o sobretudo e me encarou séria.

- Já entendi, Lucy. Eu tinha te dito...

Eu não ia deixar a oportunidade passar assim, não é? Interrompi Lily na hora. Não antes de respirar fundo, muito fundo. Se desse errado, era nossa amizade que estava em jogo.

- Tinha me dito, Lily que não queria que eu me metesse mais nisso. Mas eu sou uma amiga chata e enxerida. E preciso falar isso na frente de vocês dois, pra não restar dúvidas! – Me virei para James - Você sempre gostou da Lily, e ainda gosta! Não adianta negar ou dizer que está esquecendo, eu vejo nos seus olhos, James. Não é pouco o que você sente pela minha amiga. E mesmo que passem anos, você não vai conseguir esquecer desse sentimento.
- E de que me adianta? – Ele me perguntou triste.

Olhei pra Lily.

- E você, Lis, devia deixar de ser tão cabeça dura. O James é um garoto de ouro. Tem um sorriso lindo, é amigo, companheiro, sincero e apaixonado! Completamente apaixonado por você! Eu sei que você consegue encontrar e ver as qualidades dele, então pra que sofrer mais?

Lily fitou o chão um tanto ruborizada.

- Nós preparamos essa noite pra vocês. Ao menos tentem se entender. – falou Sirius.
- Não deixem passar essa oportunidade. Pra que continuarem como cão e gato, se vocês podem viver em harmonia?

Estava disposta a ficar ali o tempo que fosse preciso pra eles conversarem, mas James olhou para Lily e depois pra mim. Quando nos encaramos ele abriu um sorriso tímido, um sorriso de agradecimento.

- Vocês podem... hum, nos deixar a sós? – Ele perguntou e nós três olhamos para Lily. Ela levantou os olhos e mordeu o lábio inferior.

Eu entendi como um sim, e saí puxando Sirius pela mão.

- O que vamos fazer agora? – perguntei quando saímos do Salgueiro Lutador – Temos que ficar meio por perto.
- Vem comigo. – foi a vez dele me puxar.




Quando Lucy e Sirius saíram do quarto, eu fiz uma enorme nota mental de nunca mais contar um segredo para Lucy Eyelesbarrow. Especialmente se esse segredo envolver um amor impossível. Lucy é do tipo de pessoa que não conhece limite e não aceita ‘não’ como resposta.

Se a situação já estava ruim, o Potter fez questão de deixá-la pior. Andou calmamente até uma das cadeiras, sentou e ficou me observando.

- O que foi? – perguntei arisca.
- Você está linda. Quer dizer, você é linda, sempre foi, mas...
- Mas... – eu incentivei.
- Ultimamente eu tenho procurado não enxergar isso.
- Ah!

Ficamos em silêncio. Eu andei até a mesa e sentei na cadeira em frente à dele. Apoiei os braços na mesa e o encarei pensativa.

- Porque a gente briga tanto?
- Não sei. Na verdade, acho que eu sempre te provoquei tanto pra ganhar um pouco da sua atenção.

Senti meu rosto queimar.

- É verdade... o que a Lucy falou? – perguntei.
- Ela e o Sirius vêm trabalhando muito nisso, de nos juntar, não é? Mas sim, ela tinha razão. Eu ainda não consegui te esquecer.

Não consegui mais encará-lo. Estava muito sem graça por toda a situação em si.

- Hum, que tal a gente aproveitar então o que eles prepararam pra nós? – Perguntei baixinho. Ele abriu um sorriso lindo.
- Você está falando sério?
- Estou. Lucy é uma ótima cozinheira, não duvido que o jantar esteja maravilhoso.

Foi impressão minha ou ele fez uma careta de decepção? Se fez, soube disfarçar muito rápido. Mas o que ele estava esperando? Que eu dissesse ‘Sim Potter, vamos começar a namorar’. Foram raras as vezes que nós tivemos uma conversa civilizada, não podíamos passar direto para o ‘eu aceito’, não é?




- Onde você está me levando, Sirius? – perguntei temerosa.

Meu mau humor indo às alturas. Estava frio e escuro. A neve do chão estava bastante disforme, e em alguns lugares a gente afundava uns trinta centímetros. A barra do meu sobretudo já estava encharcada.

- Confie em mim, ok? – Ele perguntou sorrindo. E eu, é claro, gargalhei.
- Confiar em você? A última coisa que eu faço nessa vida é te dar um voto de confiança, Sirius. – Ele parou subitamente e me encarou sério. Não sei porque, mas na hora eu parei de rir.
- E porque?
- Como assim porque? Você não é o tipo de pessoa em que a gente pode confiar.
- Eu já te fiz alguma coisa?

Olhando por esse lado, eu fiquei sem resposta. Mas só por alguns segundos, rapidamente eu me recompus e recomecei a andar.

- Diretamente, não. Mas eu vejo o que você faz com as garotas dessa escola. Você despedaça corações, faz elas sofrerem.
- Eu já te fiz sofrer alguma vez?

Minha vez de parar subitamente. Eu não estava gostando dos rumos dessa conversa. O encarei por alguns segundos, depois pedi delicadamente, como se fosse esse o assunto que discutíamos.

- Você se importa de me dar seu sobretudo? Estou morrendo de frio.
- Ah, tudo... tudo bem. – Ele piscou os olhos surpreso e tirou o casaco.




Até hoje eu não sei bem como aconteceu. Mas nós conseguimos conversar durante todo o jantar. Nenhuma briga! Descobri que ele é muito divertido e, mesmo não lendo tanto quanto eu, conversa sobre qualquer assunto. E quando ele não sabia de alguma coisa, apenas dava um sorrisinho e me pedia educadamente que o explicasse.

Acho que não mencionei, mas Lucy e Sirius haviam pensado em tudo, tudo mesmo! Desde que eles saíram, o ambiente se encheu com uma melodia suave, e as músicas eram trocadas magicamente.

Eu já estava um pouco mais à vontade na presença de James, sim, já conseguia chamá-lo de James. Também permiti o ‘Lily’. Evans estava formal demais para a situação.

De repente começou a tocar uma música das Esquisitonas. Minha favorita! Encarei o aparelho de som e olhei para James. Ele me estendeu a mão.

- Aceita?

Eu titubeei, mas acabei colocando minha mão em cima da dele, e fomos dançar. Não era propriamente uma música lenta, mas tínhamos que dançar juntinhos. Senti que meu coração podia pular pra fora da boca a qualquer momento e espero que minhas mãos não estivessem tão geladas quanto eu imaginava que elas estariam!




- Acho que você está com muito frio. Quer seu casaco de volta?
- Não precisa, não faz mal sentir um pouco de frio.
- Um pouco? Você está ficando roxo, Sirius. – Eu já estava ficando preocupada.
- Já estou terminando aqui. Daqui a pouco a gente já sai desse tempo frio.

Nós havíamos contornado a casa dos gritos e parado embaixo da janela em que estavam James e Lily. O problema é que para chegarmos perto da janela, teríamos que subir três andares.

Sirius estava improvisando com magia e algumas madeiras velhas, um meio da gente subir. Eu sei que é feio, também condeno esse tipo de atitude, mas tínhamos que espiar um pouquinho, não? Afinal, nosso nível de curiosidade só aumentava a cada minuto. Lá em cima parecia estar tudo tão tranqüilo.

Falando em nível, minha animação estava estável. Sirius parou de me aborrecer, e eu estava com muita dó dele só de calça e um suéter naquele frio de -10º.

- Acho que está pronto. – Ele sorriu satisfeito, observando as madeiras empilhadas e presas umas nas outras por alguma coisa que talvez só ele e Merlin sabiam.
- Você acha? Isso é, sem dúvida alguma, animador!
- Primeiro as damas.

Suspirei resignada e subi. Quando cheguei lá no alto tive uma grande surpresa!

- Sirius, nós colocamos cortinas no quarto. E as janelas estão trancadas por dentro. Não vamos conseguir ver nada desse jeito!

Ele ficou pensando por um tempo e depois sorriu.

- Tenho uma idéia!

Ai, Merlin! As idéias do Sirius não é o que a gente pode chamar de ‘perfeitas’, e eu queria sair viva dessa história. O problema é que eu não conseguia pensar em nada.

- Se ao menos Remus estivesse aqui. – falei baixinho completando minha linha de pensamento.
- Ele não nos deixaria dar uma espiadinha. E a uma hora dessas estaríamos no salão comunal jogando Snap Explosivo.

Bom, não deixa de ser verdade.




Não imaginava que fosse assim tão bom ficar perto de James. Ele conduzia a dança com uma facilidade que aquilo parecia fazer parte dele. Aos poucos a música foi ficando mais lenta, mais lenta... James chegou ainda mais perto, segurando firme minha cintura. Apoiei o rosto no ombro dele.

Nesse momento ouvimos um barulho estranho de alguma coisa quebrando. Mas parecia ter sido lá fora.

- Algumas corujas vêm caçar ratos aqui. – Ele me falou sorrindo e eu fiz uma careta de terror: odeio ratos.

Mas não reclamei por isso. Estava tão bom, não ia quebrar o clima com um pavor infantil de ratos! Deitei novamente a cabeça nele e James subiu a mão da minha cintura, acariciando meus cabelos.

- Eu te amo, Lily. – Ele sussurrou no meu ouvido.

Parecia que o chão tinha sumido debaixo dos meus pés. Não era mais como ele gritar isso pra mim no salão comunal ou me mandar um bilhete no meio da aula. Aquela frase falada ali, naquele momento, me desarmou completamente.

Virei a cabeça para encontrar os olhos castanho-esverdeados dele me olhando esperançosos. Me permiti um sorriso e ele retribuiu.

- Não vou te fazer sofrer. Você é única pra mim, Lily. Eu te peço uma chance, apenas uma.
- Eu... eu também te amo, James. – falei num fio de voz.

O sorriso dele abriu ainda mais. Entre todos os sorrisos que eu já vi, aquele, sem dúvida, foi o mais lindo de todos.

E antes que eu pudesse perceber o que estava acontecendo, ele me enlaçou pela cintura novamente e me beijou. Foi o melhor beijo da minha vida. As borboletas no meu estômago dançavam felizes, e eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. O beijo, no início tímido, foi aprofundando, e a cada segundo ficava melhor.

Tinha medo de me separar dele e descobrir que aquilo tudo não passou de um sonho. Mas nos separamos e, pra tirar a prova, eu me belisquei.

- Eu também devia fazer isso. – Ele falou apontando pra marca vermelha no meu braço e nós dois rimos. – Lily, você aceita namorar comigo?

Eu também sorri bastante e o abracei forte.

- É claro que eu aceito! – foi tudo o que eu consegui dizer antes que ele me beijasse novamente.




A idéia do Sirius era bastante simples. Fiquei surpresa, já que os planos dele eram cheios de complicações. Descemos e ele pegou uma pedra grande e pesada: Exatamente, ele iria quebrar a janela.

- Até você acertar no vidro, eles já vão ter fugido da casa, pensando que ela vai desabar.
- Lucy, eu sou o melhor batedor da história do time da Grifinória! – Ele nem se acha! – Aposta que eu acerto na primeira?

Contabilizei. Já tinha ganhado dez barras de chocolate de Remus, afinal o plano dos marotos não tinha dado certo, em compensação, eu devia dez barras para Petter, pois, incrivelmente, ele não comeu nada fora de horário durante os dias de execução do nosso plano.

- Melhor não. Vou confiar em você dessa vez.
- Já é um progresso! – Ele falou sorridente e jogou a pedra na janela mais alta.

Ótima pontaria! Entendi porque ele é o melhor batedor de Hogwarts! Acontece que o barulho que fez, certamente teria atrapalhado os pombinhos. Ficamos escondidos por um tempo, caso aparecesse um deles na janela, não seríamos descobertos.

Subimos o mais silenciosamente possível. Graças à Merlin, o rangido das madeiras era abafado pelo barulho do vento.

Qual não foi a minha surpresa e ‘felicidade’ quando olhei pela janela! Mas foi Sirius quem falou primeiro.

- Nós enfeitiçamos as cortinas, para não se mexerem! Mas isso foi idéia sua, Lucy.
- É, eu sei, mas não lembrava!

Isso me deixou, um tanto... irritada.

- Você podia desfazer o feitiço, não?
- Vou tentar. – Ele me empurrou um pouco para o lado. – Não se mexa! Com a tendência que você tem para desastres, vai acabar caindo, e pode sofrer danos irreversíveis.
- Você também sofrerá danos irreversíveis se não ficar quieto!

O difícil era fazer o feitiço. Sirius tentou várias vezes, mas não estava dando certo. Tínhamos tirado um feitiço congelante de um livro da biblioteca, e não esperávamos usá-lo naquela noite, então como lembrar do contra-feitiço?

Depois de algum tempo estávamos sentados na madeira lado a lado, apenas observando a floresta. Tínhamos desistido. O que quer que estivesse acontecendo lá dentro, definitivamente, não era da nossa conta!

- É linda a paisagem daqui!
- É. – foi tudo o que ele me respondeu.
- Quer seu sobretudo? Já não estou mais com tanto frio.
- Pode ficar. – Ele me sorriu. Já estou ficando em dúvida quanto àquela história da minha imunidade ao charme dele. – Ele fica muito melhor em você, do que em mim.

Sirius Black, o galanteador. Esse tipo de coisa não funciona comigo.

- Vamos voltar para o castelo, então? Não temos muito o que fazer por aqui.

Descer aquela ‘escada’ era uma tarefa muito complicada. Sirius foi na frente, o que, na minha opinião, foi um enorme erro! A barra do casaco dele que eu estava vestida, ficou presa em um pedaço de madeira, me puxando pra trás. Como estava descendo, eu me puxei pra frente e quando o sobretudo soltou eu caí por cima de Sirius e nós saímos rolando até bater com tudo no chão.

Rapidamente eu saí de cima do maroto e ele levantou. Estava com o rosto coberto de neve e eu comecei a rir.

- Você acha engraçado, é? – Ele perguntou enquanto se agachava.
- Muito! Muito mesmo! E... – Não pude terminar, uma imensa bola de neve me atingiu no rosto e eu engoli um bocado.

- Sirius, você me paga! – Peguei mais neve do chão, mas minha mira é terrível, depois de cinco tentativas eu consegui acertá-lo na perna.

Ficamos algum tempo nessa guerra de neve, até que deitamos no chão exaustos. Eu tinha perdido feio, já que ele não errava uma! Minha roupa estava encharcada.

- Você é péssima de pontaria! – Ele falou risonho.
- Não se pode ser perfeita em tudo, não é mesmo? – Ele riu mais ainda.
- Ataque de modéstia? Remus diria que está na hora de você se afastar um pouco de mim.
- E você, o que acha? – Ainda não sei porque eu fiz essa pergunta idiota. Ele olhou fundo nos meus olhos e se aproximou.

Pra evitar qualquer ação constrangedora, eu fiquei em pé num pulo, pisando na perna dele no processo de levantar.

- Também acho que devia se afastar. Você é muito perigosa! – Ele falou massageando a perna.

Eu sorri. Não pelo o que eu tinha escutado, mas pelo o que eu vi. Apontei para Sirius uma claridade se movendo em direção ao castelo, e dois vultos de mãos dadas.

- Tudo se acerta, no final. – Usei a frase de Remus e não cabia em mim de felicidade. – Acho que a gente sofreu tanto à toa. Estava na cara que eles iam ficar juntos.
- Pelo menos foi divertido.
- Divertido? – Perguntei estendendo a mão pra ele levantar - É... até que foi. Mesmo assim, nunca mais vou concordar com um plano seu.
- Não tenha tanta certeza assim, Lucy Eyelesbarrow! – Ele falou passando o braço sobre meu ombro.

Eu sorri, mais uma vez. Quem sabe ele não tinha razão?



FIM





N/A:
Acabou... snif, snif... vou sentir falta disso aqui!

Meus queridos, nem tenho palavras pra agradecer o carinho que eu recebi de vocês durante esses trinta e sete dias de postagens... Eu me diverti e me emocionei muito com cada comentário, cada elogio, cada crítica, cada vez que vocês me contavam a reação da fic em vocês...

Muitos e muitos beijinhos para Wheezy Bruna (minha fiel leitora), Vigzinha (que sempre votou e comentou na fic), Giulinha (que nunca deixa de comentar), Cicy Grint Aluada Black (que gostou da Lucy chocólatra) e Bruna (que tem a bondade de adorar a fic!).

À vocês que me fizeram tão feliz nesses últimos dias, quero dedicar cada linha dessa fic! XD

Beijinhos, Luci Potter.

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