No Armário de Trófeus
Após contarem até três, Harry se concentrou o máximo que pôde. Estava confiante de que conseguiria, mas mesmo assim limpou toda a mente de algum pensamento que pudesse fazer ele se desconcentrar. Mentalizou a fachada do orfanato, se surpreendendo com a exatidão de imagens que tinha. Sentiu a sensação de aparatar agora muito mais forte, e percebeu que deveria se manter perto de Rony e Hermione. Vultos disformes passavam por eles, sombras coloridas e o gancho que puxava Harry pelo estômago agora pareceu apertar mais. Aumentaram a velocidade. No que pareceu um segundo, o garoto sentiu o chão sólido aos seus pés, e olhou rapidamente para o lado para ver se Rony e Hermione estavam com ele.
-Essa – começou Rony, cambaleando. – foi a pior sensação que já tive...
-Não reclama, Rony. – disse Hermione. – Harry conseguiu fazer uma aparatação acompanhada perfeitamente!
-É, fiz né... – respondeu Harry, sacudindo a cabeça, para coordenar as idéias. Depois prestou atenção no lugar em que estava, e se deparou com um grande prédio caindo aos pedaços. Se algum lugar pudesse morrer, pensou Harry, então definitivamente aquele lugar estava morto.
-Vamos entrar, então? – perguntou Hermione.
-Sim, vamos. – disse Harry, puxando a varinha e se adiantando para a porta, barrada por um grande cadeado de aparência enferrujada. Apontou a varinha e olhou para a rua. Muitas pessoas andavam para lá e para cá na calçada movimentada, e Harry teve um sobressalto.
-Como ninguém viu a gente? – perguntou o garoto, desesperado.
Rony e Hermione acabaram de perceber o mesmo e olharam à volta, cautelosos. As pessoas passavam e sequer olhavam para eles. Hermione, então, deu de ombros.
-Vai ver estão todos muito ocupados.
Harry concordou e apontou novamente a varinha para o cadeado, mas agora prestou mais atenção e fez tudo da maneira mais escondida possível.
-Alohomora. – murmurou. O cadeado fez um barulho engasgado. Harry o retirou, sempre olhando à volta para ver se alguém observava. Mas inacreditavelmente ninguém estava prestando atenção nos três garotos que agora entravam no orfanato abandonado.
- E agora? – quis saber Rony, olhando a volta. – O que vocês esperam que a gente encontre aqui?
- Uma Horcrux, ora. – disse Hermione, impaciente. – Como Harry disse para a gente, esse local foi muito importante na vida do Tom Riddle. Pois foi aqui que ele descobriu que era bruxo, e foi aqui que ele finalmente teve a liberdade e foi aqui que...
-Tá bom, ta bom... – interrompeu Rony. – Já sabemos toda a história. Então, Harry, está tudo como antigamente?
Mas Harry não respondeu. Olhava à volta e agora se sentia extremamente ansioso. O pátio onde as crianças brincavam, estava sujo e esburacado. As paredes estavam descascadas e havia muita infiltração pelo teto. Porém, de alguma maneira, o local parecia exatamente o mesmo de antigamente. E logo imaginou a Sra. Cole indo ao encontro de Dumbledore. Sem aviso, andou até o lance de escadas e começou a subir. Rony e Hermione se entreolharam assustados e acompanharam Harry. A escada estava apodrecida e havia muitos degraus faltando.
-É aqui! – exclamou Harry, parando à frente de uma porta bem velha. Era ali o quarto em que Harry visitara na penseira com Dumbledore. Andou até ela e tentou abrir. – Está trancada... – concluiu, desapontado.
-Não seja por isso! – disse Hermione, se adiantando. – Alohomora!
O feitiço meramente se evaporou antes de chegar até a porta.
-Hum. – fez Rony. – Acho que isso não estava nos nossos planos.
-Talvez se eu... – começou Hermione, mas apontou a varinha logo em seguida. – Bombarda!
O segundo feitiço de Hermione bateu com força e fez a porta tremer. Mas não foi nada além disso. Ela continuava trancada.
- E agora? – perguntou Hermione, começando a se desesperar.
Mas antes que pudesse responder, dar alguma sugestão ou até se desesperar também, um clarão começou a se formar na mente de Harry.
-A porta pode estar querendo um sacrifício... – murmurou ele, alto o suficiente para fazer Rony se sobressaltar.
-Sacrifício? – disse Rony. – Você falou sacrifício?
-Sim. Talvez do mesmo jeito que tive que fazer na caverna. Com Dumbledore. – respondeu Harry. Mas assim que seu pensamento voou para Dumbledore, ele sentiu um nó na garganta e resolveu ficar calado por alguns instantes.
-E como seria isso? – perguntou Hermione, se aproximando de Harry. – Alguém vai ter que... Quero dizer... Alguém vai ter que morrer para abrir essa porta?
-Não! – disse Harry, esboçando um sorriso. – Não, Hermione, claro que não. Apenas precisamos de um pouco de sangue. – e assim explicou todo o ocorrido na caverna.
Após alguns minutos falando, Harry se aproximou ainda mais da porta e já foi puxando a manga para cortar a pele e passar o sangue na porta. Mas Rony se adiantou e segurou o braço do amigo.
-E quem disse que é você que vai dar o sangue? Temos que tirar isso na sorte.
-Não. Nada disso. Essa é minha missão, é meu dever fazer isso. Não posso deixar que vocês se machuquem para cumprir algo que foi incumbido a mim. – disse Harry, muito sério.
Rony deu um olhar expressivo para Hermione, e os dois decidiram que não adiantaria insistir. Harry, por sua vez, puxou a manga mais uma vez e, com o primeiro objeto pontiagudo que sua visão alcançou, ele fez um corte pequeno no antebraço. Gotas de sangue começavam a escorrer, e, com dois dedos, Harry apanhou um pouco, e passou na porta. Quase que instantaneamente, ela rangeu. E com um barulho muito fino, abriu.
-Pronto. – disse Harry, limpando o corte e abaixando a manga. – Vamos com calma, agora.
O garoto caminhou lentamente até a porta entreaberta. Empurrou-a com pouca força e deu uma espiada no interior. Tudo estava destruído. Desde as camas, até o chão, paredes, teto. Rony comentou:
-Parece que teve uma guerra aqui dentro!
Mas Harry não respondeu. Um armário, oculto por destroços de uma cama, estava intacto e acorrentado de uma maneira que trouxas levariam muito tempo para abrir. Isso se conseguissem de fato abri-lo.
-Está simples demais... – murmurou Harry, suando frio.
-Ah, que isso, Harry! – disse Hermione. - Vai ver só está acorrentado porque fica num lugar de acesso a trouxas. Até porque nenhum bruxo pensaria em procurar aqui.
Harry pensou um pouco. Hermione poderia estar certa. Mas se estivesse errada, eles correriam um sério perigo.
-Acho ainda, – continuou Hermione. – que não deveríamos sair daqui sem investigar.
-Mas e se você estiver errada? – perguntaram Harry e Rony ao mesmo tempo.
-Bom... É um risco que devemos correr. – disse Hermione. – E é o que Dumbledore faria. – completou ela, olhando de esguelha para Harry.
As últimas palavras de Hermione foram conclusivas para Harry. O garoto percebeu que deveria fazer o que tinha ido fazer. Mas não podia colocar os amigos em perigo.
-Ok. Então saiam do prédio. – disse Harry, decidido.
-De jeito nenhum! – exclamou Rony. – Deixamos você se cortar para passar pela porta. Tudo bem... Agora não iremos deixar você sozinho aqui.
-Não mesmo! – concordou Hermione. – Não desgrudaremos do seu lado um minuto.
Harry procurou palavras para retrucar, mas não as encontrou. Ter seus amigos por perto era muito reconfortante, mas não queria que eles se machucassem. Depois pensar um pouco, decidiu concordar com os dois.
- Tudo bem. Vamos abrir. – disse Harry, respirando fundo.
Hermione se adiantou.
- Alohomora! – exclamou. As correntes que envolviam o armário se desprenderam umas das outras e caíram pesadamente no chão.
Harry olhou o armário por um momento, enquanto seu corpo se recusava a andar. Hermione, que parecia estar muito ansiosa para verificar o armário, caminhou até ele.
-Hermione, vai com calma... – sugeriu Rony.
Aquela cena era realmente estranha. Hermione caminhando em direção ao armário, enquanto um Harry calculista evitava ações precipitadas. Rony parecia um juiz, em meio às opiniões adversas dos amigos.
-Deixa que eu abro. – disse Harry.
Hermione olhou para ele. Era óbvio que ela ficara desapontada.
-Ah, Harry... Eu abro, não se preocupa. – disse ela, agora frente a frente com o armário.
Mas antes que Harry pudesse evitar, a amiga já pusera as mãos no armário. Para a surpresa de todos, nada aconteceu. Hermione simplesmente afastou as portas, deixando à mostra uma taça muito lustrosa, com um “H” cheio de floreios.
-A Taça de Helga Hufflepuff... – murmurou Harry. Era incrível. Eles estavam encarando um artefato que além de ser uma raridade muito preciosa, era um objeto de importância incontestável. Era uma horcrux.
-E o que fazemos agora? – perguntou Rony, confuso.
-Ora, agora nós pegamos ela! – disse Hermione.
-Hermione, não! – gritou Harry. Tinha sido tarde demais. A amiga já tinha posto as mãos na taça. O chão começou a tremer violentamente, as janelas sacudiam e muita poeira começou a cair do teto. O prédio estava prestes a implodir em si próprio.
-Precisamos sair daqui! – exclamou Harry. – Agora!
Sem olhar muito o caminho, Harry, Rony e Hermione corriam para achar a saída do prédio. Estavam no meio de um caos. Janelas caiam, paredes rachavam, o teto estava quase desmoronando. Após desceram aos pulos a escada e desviarem de pedaços do teto que caiam, chegaram ao térreo do orfanato. Mas a porta estava bloqueada.
-E agora??? – desesperou-se Hermione.
Harry tentava raciocinar em meio ao barulho e à poeira. Rony tentava, inutilmente, tirar os objetos que bloqueavam a porta.
-Protejam-se! – berrou Rony. – Bombarda!
O feitiço do garoto fez com que a porta ficasse livre, mas antes que pudessem correr para ela, o teto fez um barulho muito alto. Os três olharam para cima, Rony ainda com a varinha em punho. O teto ia cair. Com um reflexo muito ágil, Harry se aproximou dos amigos.
-PROTEGO! – bradou no mesmo instante em que o teto cedeu.
Harry estava correndo por uma floresta escura. Estava sendo perseguido, tinha que se apressar. Virou à esquerda numa árvore particularmente grande e avistou a construção mais sinistra que já vira na vida. Seu coração bateu mais acelerado do que nunca. Mas do nada, ouviu seu nome ser sussurrado às suas costas. Era uma voz feminina, suave. Virou-se para olhar, mas sua visão embaçou. Harry acordou assustado e levantou-se de um pulo da cama. Olhou ao redor e avistou Gina Weasley parada ao seu lado
-Está tudo bem, Harry. – disse ela, tranqüilamente. – Você está em casa.
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