Weasley, Granger e Dursley
Harry já havia se acostumado com as viagens no Expresso de Hogwarts, rumo à casa de seus tios trouxas. Mas naquela tarde, tudo estava diferente. Harry se sentia como se estivesse percorrendo um caminho rumo à liberdade. Sua satisfação deve ter transparecido de seus devaneios, porque Hermione perguntou, curiosa:
-O que você tem que está deixando tão satisfeito?
-última vez que verei os Dursley... Esse verão. A última vez. - respondeu Harry, sorrindo.
-Ah Harry! Isso é ótimo! - exclamou Hermione, feliz. - Não é ótimo, Rony? - completou ela, aumentando o volume de sua voz com o propósito de acordar Rony, que durmia profundamente, com a cabeça caída para um lado. Aparentemente funcionara, porque o garoto acordou assustado, resmungando algo sobre "apanhar de garotas".
Harry riu, mas Mione disse novamente:
-Não é ótimo Rony? Harry finalmente deixará a casa dos Dursley!
-S-s-sim... - disse Rony, bocejando. - Sim, é ótimo, parabéns Harry!
-Obrigado, Rony! - disse Harry, ainda rindo.
Hermione parecia não estar achando a menor graça, mas não conseguiu conter o riso quando Rony voltou a dormir. Virou-se novamente para Harry.
-Sabe onde a Gina foi? - perguntou ela, enquanto Harry olhava pela janela da cabine.
Harry não respondeu. Mantinha o olhar vidrado na janela, como se estivesse vendo uma criatura aterrorizante por detrás dela.
-Harry, você me ouviu? - perguntou Hermione, com a voz mais clara.
-Eu me esqueci. - disse Harry, atordoado.
-O que? Se esqueceu de quê?
-Me esqueci de mencionar o Snape enquanto eu estava conversando com Dumbledore! - disse ele, sua voz se alterando à cada palavra. - Aquele traidor desgraçado! - suas últimas palavras continham um tom amedrontador.
-E Dumbledore também não falou nada? - perguntou Hermione, ansiosa.
-Nada. Tenho certeza de que ele não quis falar. Quero dizer, ele não esqueceu tudo que aconteceu.
Hermione também encarou a janela. O céu agora estava quase totalmente escuro.
-Preciso vê-lo denovo. - disse Harry, de repente.
-Mas quando?
-Não sei, o mais rápido possível.
Rony acordou quando estavam na metade do caminho. Harry contou sua conversa com Hermione, e Rony disse, tranquilamente:
-Tenho certeza de que Dumbledore não mencionou nada por que tinha suas razões. E Harry, você não conseguirá encontrar Snape tão cedo. Nesse momento ele deve estar encolhido em algum buraco sujo, junto com Você-sabe-quem e seus seguidores. Deixa as coisas rolarem, seu momento com ele vai chegar. - finalizou ele,
Harry aceitou bem as palavras de Rony, embora não tivesse desistido de sua idéia de falar com Dumbledore o mais breve possível.
Muitos amigos vieram visitá-los durante a viagem. Entre eles Neville Longbotton, que trazia um grande embrulho de papel pardo, o qual ele disse que foi presente da avó. Parecia feliz, e Harry se lembrou do amigo jogado no chão. Luna Lovegood, parecendo mais normal e serena quanto Harry jamais a vira. E por último Gina Weasley, que entrara na cabine trazendo alguns sapos de chocolate. A mulher do carrinho de comida apareceu logo em seguida. O sr. e a sra. Weasley também estavam no trem, mas não apareceram.
Após o que pareceram algumas horas de viagem, o trem foi reduzindo a velocidade gradativamente, até parar por completo. Harry e os outros desceram do trem para a estação, que estava apinhada de pais desesperados querendo ver os filhos.
-Não devo encontrar os Dursley aqui, certo? - divertiu-se Harry.
Conseguiram avistar o Sr. e a Sra. Weasley perto da barreira que levava ao mundo dos trouxas. Aproximaram-se deles. Terminaram de se despedir com os outros amigos e atravessaram a barreira dos trouxas. Harry não via nem sinal dos Dursley, obviamente. O ano letivo terminara mais cedo, então os tios do garoto não faziam nem idéia de que ele estava na estação de King's Cross. O sr. Weasley se ofereceu para dar uma carona para Harry. O ministério enviara dois carros para ele.
Todos pareciam realmente felizes, quando estavam no carro, indo para a Rua dos Alfeneiros. Harry ficava satisfeito com isso, embora tivesse a clara noção de que Dumbledore estava morto e tudo por causa de Draco e Snape. A raiva de Harry era mesclada com um felicidade estranha. Ele concluiu, então, que devia ser porque Dumbledore afinal não desaparecera pra sempre. O diretor sempre estaria ali, no quadro em seu escritório, com um sorriso em seu rosto tranquilo e pronto para conversar horas e horas com Harry.
Depois de um tempo, chegaram no número 4, da Rua dos Alfeneiros. Harry observou a casa, e viu que ela continuava como sempre foi. Respirou fundo, e saiu do carro, nutrindo o pensamento de que faltava pouco para nunca mais ver os Dursley.
-Bom, vamos ficar aqui então, não é? - disse Rony, de repente, já fora do carro e olhando a casa de cima a baixo. - Parece bem aconchegante.
Harry se espantou, e quando virou para olhar Rony melhor, viu que a Hermione também estava fora do carro.
-Você esqueceu do que falamos em Hogwarts? - falou a garota, sorrindo. - Acompanharíamos você aonde você fosse.
A sra. Weasley desceu do carro, beijou todos no rosto e disse:
-Dumbledore disse que vocês precisavam acompanhar Harry, mas por favor, não façam nenhuma besteira enquanto estiverem aqui. - completou ela, suplicando. - E a propósito, o casamento de Gui vai ser depois de seu aniversário, Harry, quando você já puder sair daqui pra sempre. - finalizou ela, sorrindo.
-obrigado, sra. Weasley. - agradeceu Harry, feliz.
-Vamos Molly, preciso passar no ministério ainda hoje. Até mais, meni...
Mas o Sr. Weasley foi interrompido quando Gina saiu correndo do outro carro que acabara de chegar e pulou nos braços de Harry. Todos pareceram bastante impressionados. Todos, inclusive Harry.
-Gina... Eu te disse... É perigoso... - tentou ele, abraçando Gina e falando baixinho.
-Já passei por muito perigo, Harry. E nunca nenhum deles valeu tanto a pena quanto esse. - disse Gina, olhando nos olhos dele. - Se eu pudesse ficava aqui com vocês, mas a mamãe nunca vai deixar.
Harry não tinha palavras. Em vez de falar, ele preferiu beijá-la na bochecha.
-Deixa eu ir lá, então, Harry... Depois... Bem, até mais. - disse ela, retribuindo o beijo e indo em direção ao carro. Harry ficou parado, olhando para ela, mas virou-se de um salto logo em seguida, quando a porta de entrada da casa dos Dursley se escancarou, revelando um Tio Válter de roupão, parecendo muito assustado.
-Que confusão é essa na frente da minha...? - começou ele, mas parou, quando viu a quantidade de bruxos que estavam ali.
-Cheguei mais cedo. - respondeu Harry. - E trouxe uns amigos. E eles vão ficar aqui. Rony, Hermione, vou mostrar meu quarto pra vocês. Até mais Sr. e Sra. Weasley.
Depois que todos se despediram, eles entraram na casa. Passando pelo Tio Válter, que ainda estava parado na porta, com uma expressão assassina em seu rosto. Harry chegou na sala de estar e a encontrou vazia. Não podiam estar durmindo, afinal, ainda deviam ser umas sete horas da noite.
-Onde foi todo mundo? - perguntou Harry, colocando seu malão no sofá. Rony fez o mesmo e começou a andar pelo local, analisando tudo. Hermione parecia bastante envergonhada, e decidiu ficar parada perto deles.
Tio Válter não tinha palavras para falar. Fechou a porta com um estrondo e apontou um dedo maciço na direção de Harry:
-Você! Quem lhe deu permissão de trazer essas aberrações para cá? - gritou ele, cuspindo a cada palavra.
Rony arregalou os olhos e cruzou os braços. Hermione deu as costas para o Tio Válter e pareceu muitíssimo interessada na instante de livros.
-Primeiro de tudo. - retrucou Harry, andando em direção ao Tio Válter. - Não ouse chamá-los de aberrações. E segundo, não vou mais aturar esse tipo de tratamento. Faço dezessete anos esse ano, e sairei daqui para sempre.
Tio Válter resmungou algo parecido com "já não era sem tempo".
-Agora me responde, onde está todo mundo? - perguntou Harry, alterando a voz.
-Saíram. Petúnia levou Duda para visitar a avó. - respondeu Tio Válter entre os dentes. Obviamente não estava gostando do modo que Harry falava com ele.
-Ahn sim. - disse Harry, indiferente, embora nunca tivesse pensado à fundo em seus avós. Decidiu que colocaria uma visita para os avós em sua lista de afazeres e fez um sinal para seus amigos o acompanharem até o seu quarto.
Quando chegaram lá em cima, Rony se jogou na cama, olhou para o teto e disse:
-Agora sei o que você passa aqui. Esse seu tio trouxa é intragável.
-Eu achei uma extrema grosseria dele. - disse Hermione.
Harry deu uma risada, puxou a cadeira de sua escrivaninha e a ofereceu para Hermione, que se sentou, enquanto ele jogava algumas coisas do malão para dentro do armário.
-Eles sempre foram assim, sabe. Nunca mudaram. - dizia ele, enquanto jogava umas meias dentro da gaveta.
-Nem todos os trouxas são assim. Meus pais, por exemplo... - falava Hermione, mas parou logo em seguida. Arregalou os olhos numa expressão de surpresa. - Meus pais! Preciso avisar a eles que estou aqui, e o que vou fazer!
-Use Edwiges. - disse Harry, e estendeu a gaiola da coruja, que dormia encarrapitada. - Ela não fez um barulho sequer durante a viagem, quase que me esqueço dela!
Rony levantara da cama sobressaltado.
-Mas eu esqueci do Píchi! - disse ele, colocando as duas mãos na cabeça. - E agora, como é que eu...
Mas ele parou de falar quando ouviu um barulho na janela. Os três olharam. Uma coruja muito pequena estava parada dando bicadas no vidro.
-Pichi!!! Mas como? - exclamou ele, correndo pra abrir a janela. Pichi trazia no bico umm bilhete. Rony o abriu e leu em voz alta:
Weasley,
Por pouco sua coruja não fica na escola. Você teve sorte de eu precisar despachar uma coruja para o ministério. Ela estava fazendo um estardalhaço por estar sozinha. Mais cuidado da próxima vez.
Profª Minerva McGonagall
-Isso é o que chamo de sorte! - disse Rony, sorrindo. - Agora como ela sabia que era essa minha coruja?
-Alguém deve ter dito a ela... - disse Hermione.
Se Harry achou que Tio Válter não ia reclamar por ter dois bruxos em sua casa, ele estava muito enganado. Um grito ensurdecedor veio do andar de baixo.
-HARRY!!! DESÇA JÁ AQUI!!! - Tio Válter berrava.
O garoto olhou para os amigos assustados, e disse:
-Esperem aqui! Eu já volto!
Harry desceu as escadas e se deparou com Tio Válter apoiado na mesa da cozinha. Ele avançou para o garoto, e começou a sacudí-lo pelo ombro.
-COMO OUSA INVADIR MINHA CASA E AINDA TRAZER SEUS AMIGUINHOS ANORMAIS???
Harry tentava controlar sua raiva o máximo possível.
-TRATE DE SAIR DAQUI AGORA!!! TODOS VOCêS!! NÃO VOU PERMITIR ISSO NEM MAIS UM SEGUNDO!!!
-CALE A SUA BOCA, TROUXA! - gritou Harry, apontando a varinha para a testa do tio.
Tio Válter olhou para o garoto com uma expressão de incredulidade. Com o propósito de dar mais segurança a si mesmo, disse:
-Você não pode! Você seria expulso da sua escola! Você naão tem permissão!
-Pois fique você sabendo que Howarts está para fechar! E mesmo ela reabrindo, eu não voltarei. Tenho negócios a tratar fora da escola. - retrucou Harry, irritado.
Mesmo sabendo que seria prejudicado, Harry acha que não seguraria a vontade de lançar um feitiço no Tio Válter. Rony e Hermione entraram na cozinha, de varinhas em punho. E Tio Válter percebeu que estava em desvantagem.
-ÓTIMO!! - gritou ele, dando um soco na mesa. - VOCÊS FICAM!! MAS NÃO OUSEM CRUZAR O MEU CAMINHO!! VOU SAIR DE CASA PELA MANHÃ PARA TRABALHAR E SÓ VOU VOLTAR A NOITE! SE EU ENCONTRAR ALGUMA COISA FORA DO LUGAR, EU JURO QUE...
Mas ele não terminou de falar. Harry dera as costas e tornou a subir as escadas. Rony e Hermione o acompanharam. Ao chegarem no andar de cima, terminaram de arrumar tudo, muito quietos. Harry ainda nervoso com a discussão. Quando já era bem tarde, Harry preparou duas camas em seu quarto para os amigos e apagou a luz. Deitado em sua cama, falou, baixinho:
-É bom ter vocês aqui...
Rony deu uma risada e disse:
-Essas férias vão ser bem divertidas.
-Tenho certeza de que serão. - disse Hermione, mas Harry tinha certeza que a amiga estava sendo irônica.
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