O Sussurro da Serpente

O Sussurro da Serpente



Percorreu as enormes escadarias da escola o mais rápido que pode, indo em direção a torre onde se localizava o escritório da Prof.a McGonagall. Pois embora a professora fosse a diretora da Grifinória, não tinha o costume de favorecer os alunos da sua própria casa, e certamente um atraso não iria aliviar em nada a já desconfortável situação do rapaz.
Estava com os pulmões em brasa ao chegar até o alto da vertiginosa torrinha que para a grande infelicidade de Neville, muitos anos atras McGonagal havia escolhido para se instalar. Bateu na porta de madeira ainda ofegante, sentindo que a qualquer momento suas pernas poderiam se desprender do corpo, o que até poderia ser uma boa desculpa para não comparecer ao castigo, no entanto quando professora de olhar severo abriu a porta, suas pernas ainda se encontravam atarraxadas os quadris.
A professora fez sinal para que o garoto entra-se na sala, onde para a surpresa de Neville também se encontrava a professora Sprout, e uma garota de pele pálida, cabelos negros e lisos e uma cara de pouquíssimos amigos. McGonagall indicou uma cadeira ao rapaz, onde ele prontamente se sentou.
--- Bem Sr. Longbotton, antes de tudo quero dizer que sua atitude na noite anterior foi simplesmente inaceitável --- Disse McGonagall, lançando ao garoto um severo que parecia sólido como pedra --- E quanto a você Srta. Blair, devo dizer que sua atitude é tão reprovável quanto a do Sr. Longbotton --- Disse a professora se voltando para a garota sentada ao lado da Prof. Sprout.
--- Ora Minerva, não a razão para ser tão severa, afinal nenhum dos dois causou um grande dano --- Disse a Prof.a Sprout com sua natural gentileza.
--- Mas ambas sabemos que as conseqüências poderiam ter sido bem piores.
--- Ora Minerva, não seja tão exagerada --- Exclamou a Prof.a Sprout rindo.
--- Bem, indiferente a isso o castigo de ambos será ajudar a Prof.a Sprout na estufa essa noite --- Disse a professora encarando ambos os alunos --- E agradeçam a Prof.a Sprout por uma punição tão amena.
--- Creio que eles não terão muito a agradecer quando virem a tarefa que reservei a eles --- Disse a Prof.a Sprout esboçando um sorriso que ao olhos de Neville soou levemente sinistro.
Os dois alunos e a professora se despediram de McGonagall, descendo apressadamente as escadarias da escola em direção as estufas do castelo, onde segundo a Prof.a Sprout, uma tarefa não muito agradável os aguardava, baixando mais ainda os ânimos de Neville. Enquanto se dirigiam as estufas, Neville trocou rápidos olhares com sua companheira de castigo, cujos olhos pareciam carregados de insatisfação.
Não sabia sequer o nome do garota, com exceção do seu sobrenome, o qual a Prof.a McGonagall havia mencionado enquanto os repreendia em sua sala, e estranhamente aquele nome lhe soava familiar, só não conseguia se recordar ao certo de onde o havia ouvido.
Quando alcançaram o exterior da escola onde se encontravam as estufas, Neville notou que a lua cheia brilhava alto no céu, iluminando fartamente os jardins da escola, porem no entanto quando se aproximaram da estufa, notaram que seu teto havia sido coberto com uma grande lona, e pelos paredes de vidro, seu interior parecia demasiadamente escuro. Reparou também ao passarem pelo jardim externo que se situava ao lado da estufa, que as pequenas Vênus haviam desaparecido, e onde estiveram anteriormente, havia apenas pequenos montinhos de terra revirada. Quando adentraram a estufa, ainda imaginava a natureza da tarefa que lhes fora reservada pela Prof.a Sprout, e teve um grande espanto ao notar, aproximadamente duas dúzias de pequenas bocarras verdes, todas plantadas em vasinhos marrons sobre a mesa.
Pareciam adormecidas, havia aprendido que as Vênus só são ativas quando estão em contato com a luz, de formo que na sua ausência, se tornavam tão inofensivas quanto uma samambaia. Isso explicava a lona que havia sido colocada sobre a estufa, a luz forte da lua já seria suficiente para despertar os pequenos demônios mordedores verdes, e o rapaz já havia aprendido por experiência própria que as mordidas eram bastante dolorosas.
--- Bem, o trabalho de vocês é bastante simples --- Anunciou a Prof.a Sprout --- Tudo que vocês terão a fazer é replantar estas pequenas diabinhas naqueles vasos maiores que estão sobre o balcão --- Disse a professora apontando para uma série de vasos marrons sobre um balcão de madeira.
A gorducha bruxa apanhou um par de pequenas pás de jardinagem dentro de uma gaveta e as entregou ao par de alunos, que se mostravam visivelmente desanimados com a enfadonha tarefa, mesmo Neville, que era um grande entusiasta da Herbologia.
--- Mas por que a senhora decidiu tomar a tutela dos nossos castigos – Perguntou Neville sem poder conter mais a curiosidade.
--- Ora, sem dúvida nenhuma foi uma grande sorte minha dois dos meu melhores resolveram se meter em confusão justamente na época do replantiu das pequenas Vênus --- Respondeu a Prof.a Sprout sorrindo --- E não foi tão difícil convencer a Prof.a McGonagall a me ceder vocês dois.
Neville lançou uma rápida olhadela até sua companheira de castigo, tentando imaginar uma garota que aparentava jamais haver tido contato com luz do sol direta sendo uma das “melhores” alunas de Herbologia da escola, afinal, a primeira vista, ela aparentava ser uma havida frequentadora da aula de poções, ainda mais levando-se em conta que a garota parecia ser uma jovem versão feminina de Snape, com exceção talvez do nariz, que embora fino, não lembrava o bico de um corvo, e o cabelo, que não aparentava ter sido alisado com gordura de cozinha, como o do recém nomeado professor de Defesa contra as artes das trevas.
A professora deu as ultimas instruções sobre o modo correto de executar a tarefa, que embora não se mostra-se realmente complexa, acabava dificultada pelo fato de ser extremamente enfadonha. Trabalharam silenciosamente por algum tempo após a professora haver abandonado a estufa, prometendo voltar em algumas horas para dispensa-los da tarefa, a qual era executada com destreza, tanto pelo grifinório, quanto pela sonserina.
Ocasionalmente, o garoto espiava com o canto dos olhos o andamento do trabalho de sua colega de castigo, que demonstrava uma habilidade superior a sua, o que o teria feito engolir sua palavras caso as tivesse dito. Quando o silencio começou a se tornar desconfortável, decidiu que o melhor seria tentar iniciar uma conversa, assim como fizera com Luna, durante a viagem no expresso algumas semanas atras.
--- Puxa, você é boa mesmo nisso --- Disse Neville tentando esboçar um sorriso.
--- Obrigada --- Respondeu a garota secamente, sem em momento algum desmanchar a petrificada expressão de descontentamento.
--- E então, por que esta em detenção ? --- Exclamou Neville, imaginando que de todos os assuntos para “quebrar o gelo”, aquele seria o melhor.
--- Extuporei um idiota da minha casa --- Disse a garota franzindo a testa, sem desviar a atenção da tarefa que realizava --- Um tal de Goyle, estava tentando bancar o espertinho pra cima de mim, mas acho que esperteza não é o forte dele.
--- É isso realmente é verdade --- Respondeu o garoto sacudindo a cabeça em sinal de afirmação.
E pela primeira vez durante o tempo em que estiveram ali, Neville pode testemunhar sua companheira de punição, esboçar um leve sorriso, fazendo com que o garota percebesse que sem aquela terrível expressão de descontentamento, o rosto da garota era bastante bonito.
--- É parece que nem todos os sonserinos são repteis --- Disse Neville distraidamente.
Foi então que o grifinório se deu conta da enorme gafe que havia cometido, virou rapidamente para a garota esperando algum tipo de protesto, contra ofensa ou até mesmo coisa pior, dada a aparente índole agressiva da garota, mas no entanto, ela apenas se resumiu a por sua vez, também sacudir a cabeça em sinal de afirmação.
Aquilo no entanto pareceu ser o estopim para uma longa conversa partindo pela parte da sonserina, a qual fez o tempo parecer voar e rendeu a Neville o conhecimento de uma série de fatos embaraçosos sobre vários membros da Sonserina, incluindo Draco.
--- Mas a propósito qual seu nome ? --- Perguntou o garoto se dando conta que embora estivessem conversando a tanto tempo, não sabia o nome da garota, apenas o sobrenome, que no entanto lhe soava bastante familiar.
--- Louise --- Respondeu a garota encarando Neville, como se já esperasse que ele soubesse seu nome.
Neville fez esforço para se lembrar de onde aquele nome lhe era familiar, mas com os acontecimentos do dia e da noite anterior, devia admitir que sua mente ainda se encontrava bastante embaralhada. Nesse instante, uma sorridente Prof.a Sprout cruzava a porta, parecendo bastante contente em ver que boa parte do serviço já havia sido feita o que certamente iria facilitar seu próprio serviço, pensou Neville.
--- Muito bom meus queridos, fico muitíssimo grata pela ajuda de vocês --- Disse a gorducha bruxa parecendo extremamente satisfeita --- Nem sei como lhes agradecer.
--- Não precisa --- Respondeu secamente Louise --- Isso não foi um castigo de qualquer forma ?
--- Claro que foi minha querida, mas não significa que eu não deva lhes agradecer --- Exclamou a professora sem parecer alterada --- Mas de qualquer forma estão liberados.
Louise lançou um leve aceno a Neville e saiu pela porta da estufa sem olhar para traz, sendo seguida pelos olhares de um atônito Neville e uma levemente desconcertada Prof.a Sprout.
--- Ai, essa Srta. Blair, tem tanto potencial para a Herbologia, mas tem o temperamento de um trasgo raivoso --- Disse a professora, mais para si mesma, que para Neville --- Espero que não tenha sido uma companhia muito desagradável meu rapaz.
--- Na verdade não, conversamos bastante para ser franco.
--- Talvez você e a Srta. Blair pudessem andar mais juntos, quem sabe você não consegue lhe ensinar um pouco como ser amável meu rapaz, creio que ela não seja muito popular, mesmo e sua própria casa --- Disse a professora pensativa --- Mas é melhor que você vá indo, nos vemos amanhã na aula.
Neville se despediu da professora e cruzou os terrenos da escola em direção a entrada do castelo, quando viu Louise parada próxima a uma arvore observando o céu noturno enquanto segurava um objeto que a distancia o rapaz não conseguia identificar em suas mãos. Quando se aproximou da garota, notou que ela sussurrava algo, como se recitasse o que quer que estivesse dizendo apenas para si mesma.
--- Louise, tudo bem com você ? --- Disse o rapaz se aproximando cautelosamente, ainda temendo o temperamento explosivo da garota.
--- Ah, claro Neville --- Respondeu ela, que pela forma amável como respondeu o rapaz, parecia ser outra pessoa --- Estava apenas agradecendo ao meu amuleto.
--- Amuleto ? --- Perguntou ele um tanto confuso.
--- Sim, meu amuleto --- Respondeu ela lhe mostrando um pequeno amuleto dourando onde duas pequenas serpentes se entrelaçavam a uma opala verde e brilhante --- Meu pai dizia que ele realizava desejos e que pertenceu a Slytherin em pessoa.
--- E pertenceu mesmo ? --- Perguntou o garoto, bastante impressionado.
--- Quanto a isso eu não tenho muita certeza, mas ele parece mesmo realizar desejos --- Disse ela parecendo bastante feliz, enquanto guardava a pequena jóia no bolço.
--- Puxa e qual foi seu desejo ?
--- Hum, nada demais, provavelmente você acharia que foi uma bobagem
--- Claro que não --- Respondeu ele firmemente.
--- Bem, meu pedido foi passar um tempo agradável com uma pessoa.
--- E você conseguiu passar?
--- Consegui sim --- Respondeu ela sorridente.
--- Mas acho melhor sairmos desse frio não acha ?
--- É tem razão --- Disse ela já se dirigindo a porta de entrada --- Não quero faltar as aulas de Herbologia.
Ambos seguiram até o saguão de entrada, de onde Neville se despediu de uma radiante Louise, que tomou o caminho das masmorras, onde se situava a sala comunal da Sonserina, enquanto ele tomou uma das passagens secretas atras de uma tapeçaria, em direção a sala comunal da Grifinória.
No caminho, foi imaginando por que o nome de Louise lhe parecia tão familiar, e quando cruzou com um quadro onde um bruxo de chapéu roxo tentava ensinar truques a seu pequeno poodle branco, se deu conta de por que aquele nome lhe soava tão familiar, Louise era a garota da Sonserina que Dino havia lhe dito estar interessada nele na noite anterior, a menos é claro que ouvisse outra Louise Blair na Sonserina.
Mas aquela idéia foi rapidamente arrancada de sua mente quando entrou na sala comunal da Grifinória, e viu que num canto conversando sentados em duas cadeiras estavam Dino e Simas, e achou que seria melhor resolver aquela questão com o rapaz sem mais delongas.
--- Ei Dino, posso falar com você ? --- Disse Neville se aproximando do rapaz, cujo olho parecia muito melhor.
--- Hum, claro --- Respondeu ela parecendo um tanto emburrado.
--- Só queria lhe pedir desculpas pela noite passada --- Disse Neville com sinceridade --- Não sei por que me descontrolei daquele jeito.
--- Olha cara, acho que não deveria ter dito aquilo mesmo, meu pai sempre diz que eu devo aprender a controlar minha língua --- Respondeu Dino se levantando da poltrona --- Se você gosta da Luna ninguém tem nada a ver com isso.
--- Certo, mas eu não tenho nada com ela, somos só amigos.
--- Claro, claro, mas desculpas aceitas e espero que você aceite as minhas também --- Disse o garoto dando estendendo a mão a Neville.
Neville prontamente a apertou sacudindo com firmeza, se sentindo muito satisfeito por não haver mais desentendimentos entre eles. Logo em seguida, Harry e Rony se uniram a eles e eles passaram algum tempo discutindo os últimos acontecimentos antes de todos se recolherem a suas camas.
Porem Neville custou um pouco a adormecer, mesmo por que já havia dormido um pouco durante a tarde na sala precisa. Pensava sobre os acontecimentos do dia, sobre Luna, sobre os momentos extremamente agradáveis que passara com Anna, e sobre as coisas que havia ouvido de Louise. Não sabia ao certo o que fazer, não sabia ao certo o que sentia em relação a Luna e o que sentia em relação a Anna, embora soubesse exatamente o que ela sentia em relação a ele.
Durante a noite teve novamente o sonho em que ele e Luna se encontravam na vasta planície gelada, no entanto dessa vez o garoto não acordou banhado em suor como da vez anterior, e tão pouco sentiu-se perturbado a ponto de perder uma noite de sono, apenas levantou-se sentindo-se um tanto triste, com uma leve sensação de vazio em seu interior, mas felizmente, não faltavam mais de quinze minutos para a hora em que estava acostumado a se levantar.

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