Vigésimo Dia



Capítulo 21 – Vigésimo Dia

A raiva é, em si, um negócio muito relativo.
Um dia, você não agüenta ver a pessoa, e sente aquele azedo por dentro. No outro, no entanto, você tem aquela vontade imensa de voltar a falar urgentemente com a pessoa.
O problema é: você não quer dar, definitivamente, o braço a torcer.
O que fazer: siga a pessoa esbarre nela, tropece nela, olhe para ela com cara de quem está prestes a chorar, desvie os olhos, fique por perto para que a pessoa tenha tempo para criar coragem e vir te pedir desculpas. Assim que a pessoa o fizer, ponto, voltem a falar como se nada – ou quase nada – tivesse acontecido.
Foi o que Virgínia Weasley fez. Seguiu o pobre Draco Malfoy por todos os cantos possíveis e imagináveis – excluindo banheiros e a torre da Grifinória – sem que ele percebesse e, quando ele estava desprevenido, esbarrava nele, ou simplesmente dava um jeito dele perceber que ela estava por perto.
Quando seus olhos se encontravam, ela sempre dava um jeito de mostrar o quão chateava estava, mas, obviamente, não mais se afastava correndo como se ele fosse um punhado de vermes. Apenas o fitava, esperando que ele viesse se desculpar.
Isso, no entanto, não acontecia. Ele olhava para ela, dava de ombros, cruzava os braços, dava um sorrisinho tipo “ahn, oi” e sumia, ou melhor, continuava andando. No entanto, depois de tais abordagens, Gina não mais podia seguí-lo, pois tornava-se óbvio que ele olhava para trás, certificando-se de que a garota não o seguia.
Emburrada, Gina fechava a cara e cruzava os braços, recostando-se na parede e esperando pelo melhor momento para dar um encontrão “acidental” com ele, novamente.
“Você foi muito dura e essa é a conseqüência, está com medo de se aproximar de você, idiota”, pensou uma voz cheia de sarcasmo, dentro dela.
Depois de trocentos esbarrões acidentais e nenhuma iniciativa da parte do garoto, Gina desistiu. Sentou-se perto de Goyle e o resto dos “idiotas desmiolados da Sonserina” e resolveu que estudaria pelo resto da tarde.
Que grave erro cometera.
XxXxX
“Se esbarrar com a Gina mais uma vez, eu juro que peço desculpas”, pensou o garoto, consigo mesmo, enquanto fitava o céu branco de Hogwarts, do jardim.
Nesse mesmo minuto, porém, a garota desistia de correr atrás dele e sentava-se na mesa, pensando em estudar pelo resto da tarde e esquecer que aquele dia havia existido – sentido-se, então, uma idiota.
A tarde correu calmamente, enquanto o horário do almoço se aproximava. Nesse instante, porém, algo fez com que Draco realmente acreditasse que aquele horário que ele havia tirado para relaxar e esquecer – ou, pelo menos, fingir que não lembrava tanto assim dela – a ruiva ia deixar de ser calmo para ser bastante perturbador, por dois motivos:
Primeiro - floquinhos de neve começaram a descer do céu, anunciando que o tempo ficaria ainda mais frio do que já estava.
Segundo – viu um trio de grifinórios saindo para o jardim, lançando-lhe um olhar e, em passos decididos, caminhando em sua direção.
“Ah, não...”, foi o pensamento que primeiro se formou em sua mente.
XxXxX
Da mesma maneira como Gina estava decidida a fazer as pazes com Draco, uma sonserina – chamada Pancy – também havia se resolvido a fazer o mesmo.
Foi isso o que Gina percebeu quando a garota, toda sorridente, sentou a sua frente.
“Olá”, disse, toda simpática.
“Hum, oi”, disse Gina, não querendo ser mal educada, mas nem simpática demais, fazendo-a resolver se demorar mais um pouco.
“O que está fazendo?”
“Estudando, ao que parece”, disse Gina, bufando.
“Hum... Nossa, para quê?”
Gina revirou os olhos e se negou a responder.
“Que tapada! Fala sério!”, pensou, indignada.
“Draco, acho que precisamos conversar sobre... nós, se você sabe o que quero dizer”, disse ela, com aquela voz fina e ridícula que fazia Gina querer arrancar todos os fios de cabelo dela.
“Sim, sei o que você quer dizer, mas também devo acrescentar que não há nenhum nós entre a gente, se você sabe o que quero dizer”, disse, bastante exasperada, e fechando o livro com força.
“Olha, eu sei que você ta nesse lance enrolado com a Weasley...”
“Tava, eu tava, não estamos mais juntos, mas também, não quero nada com você”, acrescentou Gina, rapidamente, ao ver a cara esperançosa da garota ao ouvir as novidades.
“Ora, mas você costumava gostar tanto de mim... Bom, pelo menos na sua cama...”, e pelo jeito como ela ia abaixando a voz, Gina percebeu que ela iria entrar em detalhes, então resolveu cortar o mal pela raiz.
“O que fizemos ou deixamos de fazer não interessa mais, eu não quero! Dá para entender? Não quero!”, fechou o livro e, revirando os olhos, levantou-se. Pegou o material e saiu, achando que conseguiria chegar a torre da sonserina sem grandes problemas.
Grande erro, pois Pancy a seguiu.
“O que há com você, Draco? Por que está tão frio comigo nesses últimos dias?”
“Pancy, não torne isso mais humilhante para você, por Merlim!”, indignou-se Gina “Você é... bem... bonitinha, e tem um corpo legal, pode arranjar alguém bem melhor que eu”.
“Mas eu te amo desde, bem... sempre!”
“Desculpe-me, Pancy, mas...”
“EU ME ENTREGUEI À VOCÊ E VOCÊ DISSE QUE ME AMAVA!”, berrou ela, olhando para Gina com dureza “Você conseguiria mentir sobre isso? Quero dizer, sei que você é meio seco e áspero, e, ás vezes, até meio arrogante, mas conseguiria mentir sobre uma coisa como essa?”
“Querida, você tem que entender que ele é Draco Malfoy, um cara idiota, insensível, que está cagando e andando para qualquer pessoa que não seja ele e... ele! Porque ele está mais preocupado com o bolso dele do que com os sentimentos de qualquer garota! Porque ele é um idiota estúpido que não merece as lágrimas de ninguém, mesmo que esse ninguém seja uma vaca idiota como você, meu amor...”, pensou Gina, revoltada.
“Sinto muito”, foi tudo o que veio à cabeça de Gina naquele momento.
Deu às costas a garota em prantos, querendo muito que pudesse falar tudo o que pensara, mas, infelizmente, não podia.
Em passos largos, caminhou em direção à Torre da Sonserina e de lá não sairia tão cedo.
XxXxX
“Gina, precisamos conversar”, disse Rony, tentando parecer calmo.
“Pois bem, falem”, disse Draco, sem nem mesmo erguer os olhos da fonte.
“É sobre esse lance todo do tipo ‘você-e-o-Malfoy-saindo-juntos’...”, começou Harry, recolocando o óculos no lugar.
“Se é sobre isso, não gastem sua saliva, não estamos mais juntos”, disse Draco, sentindo-se cortar por dentro ao admitir isso a si mesmo.
“O quê?”, perguntou Harry, mal conseguindo disfarçar um pingo de esperança que começava a nascer dentro dele.
“Não tem mais nenhum lance ‘eu-e-o-Malfoy-saindo-juntos’, acabou, Pot... Harry”, disse Draco, nervoso, ao ver a felicidade estampada na cara do rapaz.
“Como isso aconteceu?”, perguntou Hermione, curiosa “Quero dizer, vocês pareciam tão... bem... juntos”
“Aparências enganam”, limitou-se Draco, ainda se negando a olhar nos olhos de qualquer um dos três.
“A dele não enganava”, resmungou Rony, sério.
“Como?”, perguntou Draco, confuso “Do que está falando?”
“Bom... Você sabe... Estava na cara que ele ia acabar te trocando por... dinheiro, Gin... Quero dizer, ele está mais ocupado com ele do que com qualquer outra pessoa. Você sabe que ele é assim”, disse Hermione, hesitante.
Draco começou a sentir um peso imenso.
“Era sobre isso que queríamos falar com você, Gina. Sobre como ele é um idiota e ia te largar por alguns galeões cedo ou tarde, mas parece que você já sabe, nós vamos indo”, disse Rony com sua peculiar falta de tato, enquanto saía puxando Harry por um braço e Hermione por outro.
Hermione soltou-se e murmurou algo como “nos vemos depois”, caminhando em direção a Draco.
“Sinto muito que tenha que ser assim, Gina”, murmurou, sentando-se ao seu lado.
Draco queria mandá-la embora, como ela teria coragem de falar coisas tão grossas sobre ele sem nem mesmo conhecê-lo direito.
“De qualquer maneira, ela está certa, pois foi exatamente o que você fez, largou Gina para ter a sua herança”, disse uma voz na cabeça dele, com seriedade.
“Eu gosto dela... dele, sabe? Muito, acho”, resolveu se abrir, Draco, mesmo sabendo que a sangue-ruim não aprovaria o que ele diria “Quero dizer, terminei tudo com ele, mas gostaria de poder voltar no tempo e... puxa, se eu pudesse... nunca teria me separado dele...”
“É natural... acho que ele gostava de você também, não sei, não conheço aquela cobra...”
“Não fale assim”, praticamente implorou Malfoy, pois não agüentava ouvir eles falarem de si mesmo de tal maneira e – pior ainda – com certa razão.
“Certo, desculpe, deveria saber que não te agradaria esse tom de voz”, repreendeu-se Hermione “Bom, mas quero que você saiba que pessoas melhores gosta – e digo gostam mesmo – de você”
“Hum? Quem?”, perguntou Draco, sentindo aquele ciúmes estranho aflorar novamente.
Um ciúmes que faria ele matar qualquer pessoa que olhasse para Gina com olhos cobiçosos, ou fosse falar com ela quando ele não podia.
Hermione moveu a cabeça levemente, em direção a Harry e Rony, o moreno de olhos verdes lançava um olhar para Draco e Mione, enquanto esses conversavam. Ao ver que Draco o observava, desviou os olhos e concentrou sua atenção em Rony.
Hermione bateu de leve no joelho de Draco e levantou-se.
“Pense no que é melhor para você, Gina”, disse, dando um sorriso amigável e indo embora, na direção dos dois garotos.
Draco continuou em silêncio pensando na última frase dita por Hermione.
“Pense no que é melhor para você, Gina”
Continua...

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