A Maldição Infantil




Era quase meia-noite na grande cidade de Londres. Uma magnífica lua cheia se erguia nos céus, linda e imponente, banhando de luz lupina toda a Londres. A cidade adormecia, depois de mais um tempestuoso e movimentado dia de trabalho.
Mais afastada dos grandes o modernos shoppings e lojas do centro de Londres, havia uma antiga construção, de aparência pútrida e miserável. A construção era rodeada por grades altas e grossas. Em uma extremidade dessas grades, havia um portão duplo de ferro, e dentro do mesmo, uma quadrangular quadra de esportes. Logo atrás da quadra, erguia-se um edifício de aparência velha e acabada.
Dentro desta tão singular construção, sentado em sua cama de colchão fino e rasgado, encontrava-se um menino, um menino de aparência inocente, que observava admirado a tão linda lua, que á muito não parava para observar. Pensava em o quanto seria bom algum dia viajar para lua, em algum dia morar feliz com uma bela mulher e alguns filhos em uma casa bonita, longe dali.
Encontrava-se imerso em tão bonitos e alegres pensamentos quando alguém bate em sua porta violentamente, gritando para ele:
- Abre essa porta Riddle! Eu e os outros garotos temos uma surpresa para você!
Tom fechou os olhos e respirou fundo. “O que eles querem desta vez? Me trancar no armário como fizeram da outra vez? Soltar os cachorros da Sr. Cole novamente para avançarem em mim?”
Tom leva ás mãos á cabeça e respira fundo mais uma vez. Era melhor abrir a porta, ou os garotos bateriam nele no dia seguinte, na hora da merenda. Logo ele levanta-se da cama, e vai á lentos passos até a porta. Logo que gira a chave, nem teve tempo de girar a maçaneta para abrir a porta, pois um garoto do lado de fora á abriu primeiro, de forma brusca, fazendo a porta bater no rosto de Tom, levando-o ao chão.
- Levanta seu preguiçoso, ou não vai poder entrar no nosso grupo!- Diz um menino que aparentava uns nove anos, que tinha os cabelos rapados e usava uma camisa e um short esfarrapados e sujos.
- Do que você esta falando Felipe? –Diz Tom fazendo força para não chorar graças á investida da porta contra seu rosto.
- Ficamos pensando e achamos que devemos deixar você entrar para o nosso grupo –Diz um menino de cabelos loiros e olhos azuis, o maior deles, tendo aproximadamente onze anos. Enquanto falava, o menino ia abrindo livros de Tom, e depois guardando, abrindo seu armário e vendo suas roupas... - Mas para entrar, deve passar por um teste...
Tom ouviu aquelas palavras de boca aberta. Aqueles meninos eram, desde que se conhecia por gente, seu inimigos no orfanato. E agora, de uma hora para outra eles aparecem e dizem querer se aliar á ele...
-Mas...- Tom já iria começar a perguntar coisas do tipo: “Por que querem fazer isso agora?”, ou “Depois de tanto tempo vocês resolvem fazer isso?”, mas percebeu que o garoto de cabelos loiros o observava com um olhar ameaçador.
- Tudo bem...Mas que tipo de teste Gabriel? – Pergunta virando-se para o menino de cabelos loiros.
- Hum...Nada de mais. Terá que pegar um vestido da Sra. Cole do quarto dela sem ela perceber. – Disse exibindo um discreto sorriso e entreolhando-se com Felipe
Tom ouvira aquilo com os olhos brilhando! Apesar de odiar aqueles meninos, fazer parte do grupo deles poderia ser o máximo, afinal ele odiava a Sra. Cole, e a maioria das brincadeiras daqueles meninos tinham como finalidade prejudicar ela.
- Tudo Bem... –Disseram Tom tentando parecer sério, apesar de estar bastante alegre por dentro.
- Olha, você vai lá no quarto dela e pega o vestido dela. Nós te esperamos aqui! –Disse o menino de cabelos loiros, enquanto se sentava na cama de Tom, sendo seguido por Felipe.- Não demore.
Logo depois de ouvir as instruções, Tom vai em direção á porta do quarto. Quando sai do mesmo e vira o corredor á esquerda, pára de fingir que estavam sério e receoso, e exibe seu largo sorriso. Finalmente teria sua chance! De mostrar para aqueles dois garotos que podia fazer muitas coisas!
Dobrando o corredor á direita dessa vez, Tom se depara com um corredor, cheio de quartos, cada um com um número diferente, e no final do corredor, com uma porta mais elegante e bonita do que todas as outras portas, se encontrava o quarto da Sra. Cole.
Para sua sorte, a porta estava entreaberta. Logo ele se aproxima e com o máximo de cuidado abre lentamente a porta, tentando não fazer o menor barulho. O quarto continha um extenso armário cheio de roupas de todos os tipos usadas pelo Sra. Cole, um criado mudo ao lado de uma cama confortável, e uma porta á direita que levava ao closet exclusivo da Sra. Cole.
Tom adentra o quarto andando na ponta dos pés, olhando para todos os lados, como se esperasse uma Sra. Cole de rosto severo segurando uma vara de bambu para bater nele. Andava vagarosamente, e quando passou perto da cama da Sra. Cole, percebeu que a mesma estava vazia.
“Que estranho” - Pensou ele. Mas depois de analisar a situação, deu os ombros, afinal ficaria mais fácil para ele invadir o quarto se o mesmo estivesse vazio.
Depois de passar pela cama, se deparou com o extenso e pomposo armaria da Sra. Cole. Logo ele eleva seu pequeno braço hesitante e segura o “pegador” do armário. Logo começa a puxa-lo para si, abrindo o guarda-roupa vagarosamente. O armário estava quase totalmente aberto quando derrepente...Alguma coisa preta e peluda pula em Tom, agarrando seu rosto e o arranhando todo, fazendo Tom quase enfartar de susto. Era o gato da Sra. Cole.
Com o susto, Tom cai para trás, produzindo um moderado estrondo no piso de madeira velha, fazendo com que o gato se assustasse e fosse embora. Logo ele ficou alguns segundo estático, apurando os ouvidos para detectar o barulho da Sra. Cole indo em sua direção, afinal, não seria surpresa se ela tivesse ouvi um barulho vindo do quarto dela. Mas para seu espanto, ninguém foi lá, nenhuma Sra. Cole foi até lá bater nele. Ao constatar essa informação verdadeira, Tom solta a respiração, que estava presa antes, e passa suas pequeninas mãos pelo rosto, manchando suas mãos de sangue dos cortes produzidos pelo gato. Aos poucos foi se levantando, e logo depois se lembrou do seu objetivo principal: Pegar o vestido. Tom vira-se para o armário, que agora já se encontrava aberto, e observa o vestido de cetim vermelho tão bem cuidado da Sra. Cole. Algo lhe dizia para não fazer isso, mas ao imaginar á si mesmo andando numa gangue, e prejudicando a odiada Sra. Cole, não teve dúvidas sobre o que fazer.
Logo ele estende seu braço para dentro do armário e agarra com cuidado o “vestido-alvo”. Tão rápido como colocou, ele retira seu braço carregando o vestido de lá de dentro. Nesse momento seu coraçãozinho pulou de alegria e satisfação! Havia feito o que os meninos haviam pedido sem ser pego! Seu sorriso era visível de orelha á orelha.
Depois de ter o vestido salvo em suas mãos, Tom corre alegremente de volta ao seu quarto, com um pensamento de missão comprida. Tinha certeza que as coisas iriam mudar daquele dia em diante...Porém sua mente jovem não sabia que mudariam sim...Mas para pior.
Ao chegar na porta de seu quarto, encontrou-a fechada. Sem pensar duas vezes abriu a maçaneta, esperando encontrar seus “novos aliados”, mas o que encontra é algo totalmente diferente. Seu quarto estava todo bagunçado...Sua cama estava desarrumada, seu poços e surrados livros se encontravam jogados no chão, algumas páginas arrancadas de seus devidos lugares, suas roupas estavam jogadas no chão, algumas até rasgadas.
Tom corre para dentro e se abaixa, pegando seu livro preferido, a única lembrança que tinha de sua mãe, jogado no chão, sem diversas folhas. Em meio ao espanto que a situação lhe proporcionava, ouve uma voz á sua porta:
- Foi ele Sra. Cole! Ele pegou seu vestido! –Dissera uma conhecida voz, uma voz infantil.
Logo que Tom vira-se para ver o que acontecia, encontra o menino de cabelos loiros apontando o dedo para ele, e o menino de cabelo raspado logo atrás. E ali, do lado do menino, estava uma severa e irritada Sra. Cole, que o olhava com um olhar que parecia perfura-lo.
Diante de todos os recentes acontecimentos, diante da possível proposta em que sua vida mudaria, diante do estado atual de seu quarto, diante desta traiçoeira apunhalada pelas costas, e mais que tudo, diante da Sra. Cole, Tom apenas leva suas infantis e delicadas mãos ao rosto, e pôe-se a chorar. Pôe-se a chorar de medo, de susto e principalmente, começou a chorar de ódio. Naquele momento tudo de mal que pudesse imaginar era o que desejava aqueles dois meninos. Tom, nesse momento de puro ódio olha para os dois meninos, como se pudesse prejudica-los só com o olhar, amaldiçoa-los...Lágrimas brotavam de seus olhos, mas agora não tinham mais nada a ver com medo ou susto...Agora eram puro ódio...Mas tempos depois, Tom descobrirá as conseqüências desse ato.
Logo a Sra. Cole se vira para Tom e diz, frisando a palavra “dolorosa”:
- Vejo que teremos uma longa e dolorosa noite...







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