Maioridade
Harry Potter e o Olho do Dragão
Capítulo Quatro – Maioridade
Harry levantou-se bem cedo no dia seguinte. Tinha tido um sono bastante agradável durante a noite, livre de quaisquer pesadelos ou tormentos. Fora acordado por um Rony aturdido, que o balançara até acordar.
- O que foi, Rony? - grunhiu Harry tentando achar os óculos em algum lugar em cima do criado-mudo.
O ruivo o fitava com grandes olhos, parecia estupefato com alguma coisa. Ele brandia uma espécie de papel acinzentado que, minutos depois, Harry percebeu se tratar de um jornal.
- Leia - disse ele entregando o matutino dos bruxos, o Profeta Diário.
O garoto tirou o Profeta das mãos do amigo e se pôs a averiguar o que de anormal causara a mudança no estado de Rony. A manchete principal reportava sobre as outras medidas de segurança expedidas pelo Ministro Scringeuor em todas as repartições públicas mágicas. Logo mais abaixo lia-se sobre a repercussão em Gringotes e numa possível crise dos duendes, que, talvez, poderia até desencadear uma rebelião. Havia fotos dos chefes de alguns departamentos gesticulando algo inaudível para os ouvidos dos leitores, embora tivesse uma legenda abaixo explicando os maiores detalhes. No canto esquerdo, numa coluna especial de Rita Skeeter, noticiava o ataque à estação de trem, a mesma onde Hermione e outros foram atacados. Harry nem quis ler, estava cansado das reportagens de Skeeter.
- Não vejo nada aqui, Rony, que possa realmente ser importante. - exclamou Harry aborrecido pelo fato. – Claro que essa possível rebelião dos duendes é algo que se deve acompanhar - acrescentou fitando o jornal mais uma vez -, mas não é algo que se deva preocupar muito... Sim, a história que Hermione nos contou está aqui também sob cobertura da genial Rita Skeeter.
O ruivo revirou os olhos e apontou com o dedo uma pequena nota bem ao pé da página do jornal. Harry então tratou de ler, antes que Rony explodisse de tanta exaltação:
Harry Potter visita o Ministério da Magia, veja como foi na página 2.
Harry soltou uma exclamação e tentou assimilar aquelas palavras em seu cérebro. Sim, de fato ele lera seu nome ali.
- Como assim!? - perguntou ele a Rony. - Eu não tirei nem os meus pés daqui!
Rony já se preparava para abrir a boca quando a porta se abriu violentamente e uma Hermione passou por ela ainda mais transtornada do que o garoto. Ele, por sua vez, pulou de susto e ralhou a amiga, enquanto tentava esconder algo em suas partes íntimas:
- Mione, como você entra sem avisar? - Foi então que Harry percebeu que o amigo estava só de cueca. Logo também viu a cor vermelha pintar o rosto e as orelhas dele, como era habitual.
Hermione corou um bocado, colocando a mão na boca ante a vergonha que passava. No entanto, ao invés de se virar ela continuava a fitar Rony com um certo interesse, o que fazia o ruivo permanecer em total vermelhidão. Ele pegou a calça de seu pijama e o vestiu rapidamente, para seu alívio.
- De-desculpe, Rony - disse Hermione bem baixinho.
Rony pareceu perdoá-la, mas antes avisou:
- Nunca mais faça isso!
- Claro... - respondeu ela.
A tensão se anuviou entre os dois. Rony vestiu a sua camisa enquanto Hermione entrou no assunto de pronto, talvez numa tentativa de esquecer um Rony quase nu em sua mente:
- Você viu isso, Harry!? - Ela balançava um outro Profeta Diário em suas mãos. - Como é possível uma coisa desta se você passou o dia inteiro aqui? - Ela acordara bastante eloqüente. - Isso só pode ter sido um erro do jornal. Aqui eles contam que você entrou no Ministério e teve uma conversa bastante amistosa com o ministro! Eu me pergunto como!? - Pausou dramaticamente para pensar um pouco. - É claro, além de um possível erro, fato que eu não acredito ter acontecido, pode também ter sido... Hum, vocês pensam o mesmo?
Harry estava ainda surpreso pelo jorro de palavras da Mione, e nem sequer deu a sua opinião para o caso. Rony deu de ombros e esperou a própria Hermione dar o seu veredicto:
- Bem, eu não sei, temos que investigar - começou ela modestamente - Mas não me surpreenderia se alguém usasse a poção Polissuco, passando-se por você, Harry.
- Polissuco!? - Harry exclamou. - Por que alguém faria isso?
- Talvez possa ser um plano de... de Voldemort para se infiltrar no Ministério! - sugeriu Hermione.
- Mas por que o Harry? - indagou Rony preocupado. - Não seria melhor se passar por alguém menos conhecido? Como, por exemplo, um funcionário qualquer?
Hermione não respondeu de imediato. Por incrível que parecesse, Rony tinha razão no que falara. Caso o plano fosse infiltrar no ministério, seria muito mais fácil passar despercebido em seus intentos.
- Eu não sei, mas pode ser, dependendo do fim que Voldemort o está empregando... Bem, eu acho que isso é coisa dele.
- Há esse problema ainda - suspirou Harry desanimado. - Não sabemos de fato se isso é coisa do Voldemort ou de seus Comensais. Não me admiraria se fosse também armação do Ministro - acrescentou ele.
- Scringeour? - Rony exclamou. - O que ele ganharia com isso?
- Harry tem razão - disse Hermione, sentando-se na cama de Rony. - Com essa onda de “o eleito” é bem capaz que Rufus Scringeour tenha armado esse encontro para promover a tranqüilidade na comunidade mágica, tendo o grande Harry Potter ao seu lado.
- Ele falaria com Harry antes... Eu acho - falou Rony não muito convincente.
Os três mergulharam num silêncio bastante demorado, divagando sobre as hipóteses daquele fato bem estranho. As informações se reduziam somente nisso: “Harry” visitara o ministério por volta do meio-dia, dizendo que queria uma entrevista com o ministro. Todos ficaram muito felizes com a presença do garoto ali, dispensando-o até mesmo da revista obrigatória. A reunião durara meia hora, sem o pronunciamento do ministro quanto o teor da conversa, porém fora amistosa, palavras do próprio Rufus Scringeour. E pronto, nem uma linha a mais sobre o caso.
Uma coisa muito estranha, foi a definição do Sr. Weasley para o fato, quando o trio contou o ocorrido para ele na cozinha. Harry, Rony e Mione desceram do quarto cansados de tanto matutar, sem chegar num consenso. Acharam melhor ouvir uma opinião mais consistente, e procuraram o Sr. Weasley para solucionar o mistério. E lá estava o bruxo agora, sentado com o jornal aberto em cima da mesa, lendo mais uma vez.
- E então, pai? - questionou Rony interessado na opinião do chefe da casa.
Ele não respondeu, continuou com aquele olhar vago por cima do mundo de letras e palavras que o jornal trazia. A demora era muito angustiante para os três e também para a Sra. Weasley, que tinha acabado de se juntar em torno do marido.
- Como disse, uma coisa muito estranha. Porém creio que Hermione tenha razão - afirmou ele finalmente depois de um suspiro. - Erro do jornal é muito improvável. Eles revisam cada matéria depois de pronta.
- Você acha então, querido, que Você-Sabe-Quem está por trás disso tudo? - perguntou a esposa vagarosamente.
- Pode ser ele sim, como também qualquer outro louco. Não se esqueçam que hoje há vários loucos por aí a fora, e talvez um destes seja um fã desmiolado do Harry.
O garoto se avermelhou diante a menção de seu nome.
- Bem - prosseguiu o Arthur -, vocês disseram que também suspeitam de Scringeour?
Harry e Hermione balançaram a cabeça afirmativamente.
- Não acho que ele tenha feito isso, Scringeour tem a cabeça no lugar - arrematou o Sr. Weasley. - Agora, porém, vem algo na minha cabeça que é interessante para o fato, digo até mais... Talvez seja uma pista!
A Sra. Weasley soltou um “oh” abafado enquanto os jovens depositaram mais ainda suas atenções para o bruxo ali sentado.
- O que está pensando, Sr. Weasley? - Harry lhe incentivou.
- A hora da visita do falso Harry - respondeu, fitando o rosto de Harry frontalmente. O garoto o estranhou com o olhar, e isso fez Arthur continuar rapidamente. - Vejam bem, meio-dia! O que isso lhes sugerem?
Foi Hermione quem respondeu primeiro:
- Claro, foi quase na mesma hora do ataque na estação de trem! Entendo onde o senhor quer chegar!
Rony balançava a cabeça freneticamente, sinal que ele não entendia patavina.
- O que tem a ver o ataque dos comensais com a visita do “Harry”? - perguntou ele, acabrunhado.
Novamente uma resposta de Hermione:
- O falso Harry parecia que queria o terreno no ministério livre! Com o ataque na estação de trem um bom número de aurores deixaria o ministério para dar assistência a Tonks e Moody, uma segurança a mais para “Harry”, caso o plano desse errado... Isso então só leva a um autor!
- Voldemort! - disse Harry, batendo violentamente com a mão contra a mesa.
O Sr. Weasley voltou rapidamente a atenção de todos para si:
- São coincidências, devemos lembrar bem disso! - advertiu ele. - Caso essas suposições sejam verdadeiras, devemos analisar primeiro. Vou ver o que posso fazer para investigar esse caso e darei a vocês uma resposta o mais breve possível. - Ele se ergueu da cadeira, confiante.
O bruxo pegou seu casaco e varinha, beijou a mulher e disse:
- Cuide deles, Molly - Olhou zangado para os rostos dos jovens. - Não deixem que eles se metam numa encrenca! - E saiu da cozinha.
- Vocês ouviram, não? - resmungou a bruxa em tom de censura. - Não quero vocês saindo em busca de mais pistas ou qualquer coisa que venha acontecer.
Os três balançaram a cabeça vivamente, para alívio da Sra. Weasley. Ela se levantou e foi preparar o café da manhã.
- Porque Voldemort queria conversar com Scringeour? - questionou Harry aos amigos em voz baixa.
- Acho que só o Sr. Weasley poderá saber - respondeu Mione, desapontada por também não achar uma solução para a pergunta do amigo. - Mas pelo menos entendo porque Voldemort usou você - disse ela olhando para Harry.
O jovem se ansiou para saber.
- Você é o único que poderia ter uma reunião sem precisar marcar uma, ou qualquer coisa do tipo que se resolva burocraticamente. Scringeour estava querendo mesmo falar com você e eis que você aparece para um bate-papo! Além disso, você, digo, o falso Harry não precisou se submeter aos testes de segurança, pois quem desconfiaria de Harry Potter!?
- Puxa, a Mione está certíssima - exclamou Rony exibindo um sorriso bem largo para ela. Mione se resignou, envergonhada.
- Até nisso a minha fama atrapalha - bufou Harry irritado.
A conversa se encerrou por aí quando a Sra. Weasley retornou à mesa para colocar os quitutes da manhã. Nesse instante entraram Gui e Fleur para também tomarem o café da manhã. Gui continuava com aquele tremendo arranhão rasgando parte do seu rosto jovial, devido ao Grayback durante a invasão de Hogwarts, e também com o extravagante brinco de osso, que deixava a Sra. Weasley possessa. Sua noiva, Fleur Delacour, exibia um sorriso encantador e, para Harry, estava mais linda do que a última ocasião que a vira.
- Harry, meu querrido, é uma pena que Gabrielle ficarra na casa de meus tios ontem - informou ela depois de terem se sentado à mesa. - Ela estava tão entusisamada, querria muito te ver.
Harry mostrou um sorriso e falou algo parecido como “oh, é mesmo uma pena”. Fred e Jorge entraram em seguida, mas saíram depois de poucos minutos, dizendo que teriam muito trabalho na loja pela manhã. Antes, porém, perguntados pela Sra. Weasley, responderam que Percy (fazendo caretas quando pronunciaram o nome do irmão) e Carlinhos tinham saído bem mais cedo.
O que veio a seguir foi uma surpresa enorme para Harry. Todos começaram a cantar a música de feliz aniversário e a bater palmas para o garoto, que tinha se esquecido completamente daquele dia tão especial para ele. Harry se avermelhou ao ver as pessoas mais queridas ao seu lado, sorrindo e cantando felizes. A Sra. Weasley o abraçou primeiro, sem ao menos disfarçar o choro.
- Oh, Harry - dizia ela em seu cangote -, como o tempo passou tão rápido! Como se fosse ontem a primeira vez que o vi, a primeira vez que esteve aqui em casa. Finalmente a maioridade!
O significado daquelas últimas palavras também o surpreendeu. Sim, além dos anos que completava, ele também alcançava a tão desejada maioridade. Ele agora poderia fazer magia sem se preocupar com o ministério da magia. Logo também poderia aparatar em qualquer lugar que fosse... Tudo se resumia para ele numa única só palavra: liberdade.
No entanto, enquanto era abraçado por Fleur, o fardo da maioridade pesava sua consciência. Agora ele não teria mais a proteção da rua dos Alfeneiros, também não havia mais ninguém que se responsabilizasse por seus atos! Liberdade e responsabilidade... Tudo o que Harry possuía no momento.
Passado algum tempo, depois das felicitações por parte de todos, chegara a hora dos presentes. Resumidamente Harry ganhou um outro livro de quadribol e um kit novo para lustrar e limpar vassouras, dado por Mione; uma caixa repleta de Feijõezinhos de Todos os Sabores, presenteado por Gui e Fleur; doces sortidos e algumas bugigangas das Gemialidades Weasley, por Rony; e um bolo grande feito pela Sra. Weasley. Havia também os presentes de Hagrid e Lupin, que chegaram por duas corujas distintas. Lupin o presenteou com a miniatura de um cervo que mexia sem parar, em lembrança a Tiago Potter. Já Hagrid deu um protótipo de pomo-de-ouro, semelhante ao que o seu pai também tivera.
Harry ficou, sem dúvida, muito feliz com aqueles presentes. Agradeceu a todos por terem feito aquela surpresa e que, em algum dia, retribuiria por aquele dia tão feliz. Disse um tanto quanto tímido, mas a intenção tinha sido digna e respeitosa.
Mas o presente mais especial para Harry não foi o cervo que se mexia, ou as bugigangas feitas pelos gêmeos, nem o kit que Hermione tinha dado, embora ele tenha gostado de todos eles, em proporções iguais. O maior presente era ter amigos e isso, para ele, era o bastante.
Ele brincava com o cervo ambulante quando ouviu uma voz feminina soar por de trás dele:
- Ei, está faltando um presente! - Harry e todos se viraram para a figura cambaleante que disse do portal de entrada da cozinha. Gina sorria para Harry lindamente, e sua aparição ali parada embaixo do portal fez o garoto também sorrir, encantado.
Gina caminhou até Harry, com precisão. Ela tirou algo que havia no bolso e entregou a ele:
- Quero que você use, é um pedido meu! - disse ela.
Harry tinha em suas mãos uma corrente fina de prata, talhada com alguns detalhes de brocado. Um coração também de prata estava amarrado na corrente, reluzindo a sua cor de uma forma quase cegante.
- Que lindo, Gina - comentou Hermione maravilhada com o presente.
- Espero que Harry tenha achado o mesmo - disse ela, com um meio sorriso.
O jovem então abriu o coração de prata e dentro dele havia a foto de Gina, mexendo para ele em poses divertidas.
- Eu pensei numa foto engraçada para sempre se lembrar de mim... - sussurrou ela, agora envergonhada.
Harry amarrou a corrente em torno de seu pescoço e depois abraçou Gina, o seu coração rugindo alto como se fosse um leão preste a sair da jaula. Ele ali, entrelaçado a Gina, sentindo o perfume da ruiva ouriçar seus estímulos. O tempo não parecia ter limite, ou então ele tinha parado por completo...
Amarrada a ela, Harry ousou um gesto, gesto esse que poderia se arrepender mais tarde... Ele a beijou, e sentiu uma espécie de frisson acontecer atrás dele, também pareceu ouvir o som de palmas que serviam utilmente como badalo de sinos, embalando o coração dos dois. Seus lábios desprenderam da boca de Gina, ele a fitando quase que envergonhado por seu ato...
- Não, eu não poderia ter feito isso! - resmungou ele.
- Querido, por que não? Vocês formam um bonito casal - opinou a Sra. Weasley contente.
- Pois é, cara! Eu deixo você ser o meu cunhado - disse Gui em tom animado.
Gina continuava a fitá-lo, feliz por sua mãe e Gui terem concordado com a relação entre os dois. Mas seu sorriso se desmanchou quando Harry novamente falou:
- Não posso! Você sabe Gina que eu não posso! - Ele correu desembestado, indo em direção ao quintal da família Weasley. A ruiva o seguiu, enquanto os olhos dos presentes a cravejavam por completo.
Harry correu pelo jardim, os punhos cerrados, e revoltado pelo seu ato infantil. O primeiro depois de sua maioridade. Não era daquele jeito que ele viveria, ainda mais depois de ter completado e conquistado a sua maioridade. Não poderia ferir os sentimentos de Gina por sua inconseqüente atitude. Ele tinha um plano e o seguiria até o fim.
Ainda caminhando ele sentiu uma mão pousar em seu ombro. Virou-se e reconheceu a figura miúda de Gina o encarando:
- Eu disse que nunca mais iria fazer algo para mudar a sua decisão - ela começou, aumentando o seu tom de voz que era bastante firme por sinal. - Mas não dá para eu ver você sofrer desse jeito! Vejo também que você me ama então não deixe o seu coração gelar, aqueça ele com o meu - Uma lágrima escorreu, mas continuou: - Por favor, Harry, eu...
- NÃO!! - berrou Harry, descontrolado. - Foi um erro beijá-la, esqueça aquele beijo e também todas as palavras de sua família! Não encare a nossa amizade como um possível amor! Eu fiz uma escolha, todos fazem uma escolha!! A minha escolha é, por enquanto, esquecer você até que eu destrua Voldemort.
Ele se virou, desvencilhando das mãos de Gina, e prosseguiu com o seu caminho. A direção pouco ele se importava, o seu maior desejo naquele momento era sumir... Esquecer dos problemas definitivamente. Fechar-se por completo.
- Tenho medo! - sussurrou Gina ainda atrás dele, soluçando. - Tenho medo que você se consuma em ódio até o seu encontro com... com ele! Depois disso, acho que nunca será o mesmo...
Harry Potter não sabia onde ele se encontrava, se perto da propriedade dos Weasley ou a milhas de distância. Pouco se importava, queria um tempo para pensar, refletir sobre as palavras de Gina, rever seus próximos passos.
Ele estava sentado numa pedra a beira de um riacho tortuoso, seus pés cobertos pela água cristalina. O vento soprava em direção ao sul, fazendo seus cabelos se revolverem para a mesma direção. Olhava vagamente para direção oposta quando notou uma figura se aproximar entre as árvores mais adiante. Levantou-se depois de um pulo e sacou a varinha. Pôs-se em posição de ataque, espreitando a sombra caminhar para sua direção.
Percebeu se tratar de uma mulher de longos cabelos brancos e uma face agradável de se ver, apesar de bastante velha. A visão da mulher logo foi captada pelo cérebro de Harry... Claro, aquela era a velha que tinha o visitado na casa dos tios.
- Harry, você por aqui!? - perguntou ela, surpresa ao ver o garoto. - Pode baixar a varinha, não sou nenhum ser maquiavélico que possa lhe fazer mal. - Sorriu e sentou-se na mesma pedra que Harry estara sentado.
- O que está fazendo aqui? - indagou Harry.
- Eu? - exclamou ela sem muito interesse. - Adoro andar pela natureza, ela me acalma... Veio fazer o mesmo? - dirigiu-se a Harry com o olhar.
- Bem, não... quero dizer, acho que vim dar uma espairecida.
- Colocar as ideiazinhas no lugar? - sugeriu a velha.
- É. - respondeu Harry.
- Isso é muito bom para você - observou a velha. - Há uma carga imensa sobrevoando em volta de seu corpo e também pesando sua mente. Eu sei disso porque você é o nosso Eleito! - arrematou, por fim.
- Não gosto que me chamem assim - resmungou o garoto, depois de um suspiro longo e triste.
- Também não gosto, mas a mídia o chama assim. Está na boca de todo mundo agora. Em qualquer esquina do Beco Diagonal que você ir ouvirá burburinhos dizendo sobre o grande Harry Potter, que salvará mais uma vez os seus pobres corações e derrotará ele de novo...
- Eu queria que eles se calassem, isso sim - admitiu Harry irritado.
- Eles são uns coitados, não deposite sua raiva neles. Aliás - corrigiu -, não deposite a raiva em ninguém. O seu poder diminuirá quando o dia chegar. Deposite outro sentimento em seu coração, aquele que você tem de sobra.
Harry se virou bruscamente para a velha. Ele teve a estranha sensação de deja vu, parecia ter ouvido algo semelhante. Ou então as palavras que a velha dizia despertavam algo adormecido em sua mente...
- O amor é que você tem de melhor, Harry - prosseguiu a bruxa. – Não o deixe desacordado...
O seu poder é o amor...
O único que ele não possui...
Vozes ecoavam pela cabeça de Harry. Vozes semelhantes a de Dumbledore. Nao, era mais do que isso... Era, de fato, a voz de Dumbledore lhe explicando a parte da profecia. Ele então se lembrou da conversa toda que tivera na ocasião e quando se despertou para o mundo real notou que a bruxa havia desaparecido. Misteriosamente como da última vez em seu quarto.
Então, como um estalo em sua cabeça, Harry lembrou-se das cartas que a velha lhe entregara, as cartas de Dumbledore. Só poderia abri-las quando completasse seus dezessete anos, o momento poderia ser aquele! Tinha se esquecido por completo das cartas e nem as mencionou para os amigos, os dias eram tão cheios na Toca (bem diferente na rua dos Alfeneiros) que seu cérebro trabalhava fervorosamente a todo minuto.
Decidiu voltar para a casa dos Weasley o mais rápido possível, retornando pelo mesmo caminho que viera. Uma ou duas vezes ficara em dúvida de qual rumo tomar, ele tinha se precipitado tão nervoso da propriedade que nem mesmo tivera a precaução de tentar se lembrar das encruzilhadas. No entanto, nas vezes que se encontrara nesta ocasião, Harry acertara e logo pode ver os primeiros sinas da casa desconjuntada dos Weasley aparecer mais adiante.
Assim que entrou pela cozinha viu a Sra. Weasley desabando em prantos, enquanto Rony, Gina e Mione tentavam consolá-la. A bruxa parou ao vê-lo estancado à porta de sua cozinha. Ela correu até ele e o abraçou efusivamente.
- Onde esteve? - ouviu Mione ralhar por de trás do corpanzil de Molly.
A Sra. Weasley o largou e também fez a mesma cara de brava que a amiga fazia para ele.
- Bem, eu - tentou ele dizer - andei por aí...
- Quase me matou de preocupação Harry - disse a Sra. Weasley zangada.
- Ainda bem que foi quase - disse o jovem dando de ombros.
- Olhe só! - exclamou Hermione indignada pelo comentário dele.
Harry desviou o olhar delas e direcionou para Gina, que estava mais afastada e com as mãos cerradas fortemente. Ela não o fitava de forma assassina, como ele presumira no caminho, embora estivesse com o rosto congestionado. Parecia ter chorado muito mais do que a mãe... E tudo por minha causa, resignou-se.
Depois de explicar que tinha saído apenas para espairecer, ele, Rony e Hermione subiram para o quarto. Quando entrou no quarto de Rony avançou sobre o malão, tirando a jaula de Edwiges antes.
- O que está procurando, Harry? - perguntou Rony, curioso.
- É bom que se explique a Gina esse seu modo tão grosseiro, Harry - comentou Hermione não se preocupando com a busca que o jovem fazia no momento. - Ela foi tão gentil com você dando aquela correntinha tão linda...
- Você sabe muito bem porque ele agiu daquele modo, Mione - respondeu Rony para Harry, que lhe retribuiu com um sorriso de agradecimento.
- Ora, se for por causa de protegê-la, esqueça! - Hermione fechou a cara para Rony e prosseguiu: - Ela é, se não melhor do que vocês, muito hábil em se defender! Gina não é mais uma menininha de onze anos que Harry conheceu anos atrás. Ela amadureceu, é uma bruxa competente e do nosso nível... Pode ir tranqüilamente conosco em busca dos horcruxes.
Apesar de concordar com Mione, Harry teve que emitir uma opinião contrária para persuadi-la:
- Gina não teve muitos desafios como nós!
Mione se emburrou, mas não teve chance de retrucar, pois Harry tinha aumentado o seu tom de voz mais ainda:
- E outra coisa, você nem o Rony irão comigo caçar os horcruxes! Tinha me esquecido de avisar isso para vocês mais uma vez - E voltou a revirar o malão em busca das cartas.
- Epa, espere aí! - bufou Rony. - Quem disse que você vai ir sozinho? Não se lembra do que eu e Mione dissemos para você há alguns meses? Estamos juntos nessa, cara, até a morte! E Gina vai com a gente e você voltará a namorar ela!
Hermione bateu palmas em seguida, fazendo sinal de pronto acordo. Harry teve que se resignar, pelo menos por enquanto, pois tinha acabado de encontrar as malditas cartas que estavam bem no fundo do malão. Ele mostrou para os amigos, balançando-as da mesma forma que os dois fizeram com jornais hoje pela manhã.
- O que tem essas cartas? - quis saber Rony, interessadíssimo.
Depois de fazer um pequeno mistério, Harry contou a eles toda a história de como ele recebera as cartas. Também falou sobre a velha e do segundo encontro que tiveram a beira do riacho horas atrás. Terminado o discurso, Hermione logo disse:
- Dumbledore então escreveu estas cartas para só serem abertas depois que você completasse a maioridade. Logo podemos deduzir que ele as escreveu antes da morte... Isso é muito interessante - acrescentou ela, radiante.
- Ora, isso até eu deduzo! - falou Rony, sério. - Não há como escrever depois de morto.
A jovem lançou um olhar reprovador e balançou a cabeça negativamente.
- É claro que não se pode escrever depois de morto! O que eu quero dizer é que, de alguma forma, ele ordenou a alguém que entregasse as cartas depois que ele morresse! Ou seja, ele já planejava isso muito antes de morrer!
- Mas isso são suposições, acho que não devem ser relevantes - finalizou Harry, começando a abrir a primeira carta.
Dentro do envelope tirou um pergaminho de cor pastel não muito velho. Estava dobrado três vezes, e depois do trabalho de desdobrar Harry conseguiu enxergar as letras do ex-diretor aparecerem gradualmente. Começou a ler em voz alta para os amigos:
- Harry, ordenei para que a carta chegasse em suas próprias mãos, livres de qualquer extravio. Não tenha nenhum tipo de aversão ou desconfiança à pessoa que entregou esta, pois ela é de extrema e profunda confiança! – Ele parou e suspirou. - Da última vez que disse isso a alguém o genial Dumbledore foi assassinado pelo próprio - comentou Harry, friamente.
- Continue! - irritou-se Mione com a interrupção e com o comentário.
Prosseguiu, temeroso pelo olhar da jovem:
- O fato de somente se abrir depois de completar seus dezessete anos deve-se, exclusivamente, ao significado dessa palavra: maioridade. Somente você poderá concordar ou discordar do meu conselho (que seguirá logo abaixo) já que será dono de seu livre-arbítrio. Ninguém influenciará sua decisão, pois você já é um bruxo, estará liberto das emaranhadas decisões de terceiros. Será muito diferente dos anos que se passaram, como aquele ocorrido em seu quinto ano, cujo me fiz tutor de suas vontades, escondendo algo de suma importância a você.
- Peço somente, como uma última vontade de um amigo, que siga o meu conselho: volte para Hogwarts, cuide de seus amigos, aproveite sua vida, ate os fios pendentes que estão soltos por lá. Não peço aqui, é claro, que se esqueça por completo de sua “missão”. Terá em seu controle a Ordem da Fênix para auxiliá-lo, a profª. McGonagall fará com o maior prazer, tenho certeza, já que será a líder do grupo.
- Julgo que minha vida fluirá por completo e, por isso, devida a minha morte, passo para suas mãos, em definitivo, alguns de meus pertences que serão entregues no primeiro dia de retorno às aulas. Também transfiro para você a responsabilidade de fiel de segredo da localização do Largo Grimmauld, que será, finalmente, sua por direito. A srta. Granger saberá como é o ritual de transferência, estou certo disso, e o ajudará conforme. O Sr. Weasley também lhe será útil.
- Agradeço por me fazer feliz por muitos anos e certo de sua vitória.Alvo Dumbledore.
Uma gota transparente saiu dos olhos de Harry e pingou no pergaminho, molhando o primeiro nome de Dumbledore. Lembrar dele, sem dúvida, era angustiante e aquela carta deixava ainda mais os sentimentos daquele jovem em frangalhos ou a flor da pele. Com muita dificuldade, Mione disse:
- Você será o novo fiel, Harry... Uma transferência!
- E como se faz isso? - indagou, sem muito entusiasmo.
- Três varinhas, duas testemunhas e a carta de transferência - resumiu Hermione de forma prática.
- Só não entendo uma coisa - comentou Rony coçando o queixo. Os amigos o fitaram, curiosos. - Bem, como ele tem certeza que a escola vai se abrir?
Mione também concordou.
- Sim, mas isso não é a única coisa que é estranha...
Os dois olharam para a jovem, que corou logo em seguida por causa dos olhares incisivos. Não tinha muita certeza na voz quando falou:
- Talvez eu possa estar enganada... Mas olhe só esse trecho - ela apontou para um fragmento e repetiu em voz alta: - Julgo que minha vida fluirá por completo e, por isso, devida a minha morte, passo para suas mãos, em definitivo, alguns de meus pertences que serão entregues no primeiro dia de retorno às aulas. O.K., esqueçam a última parte... Veja o quão claro está!
Os dois garotos se entreolharam, em busca de um assentimento em comum. Mas nada adiantou, nenhum deles chegavam onde Mione queria chegar. Porém, antes que ela completasse seu raciocínio, a porta se abriu estrepitosamente.
Era Gina e ela anunciou rapidamente:
- Papai está aí, quer falar com vocês! Acho que é sobre alguma coisa do ministério...
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Preview - O Sr. Weasley conta um pouco mais sobre as investigações desse curioso caso. “Trasformae Corporeum”, esclarecimentos, R.A.B. e um teste, tudo isso você lerá em Conversas
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Olha eu de novo aqui. Tardo mas não falho!! Não deu pra me marcar um horário exato mas está ai para o deleite dos meus queridos leitores. Capítulo agora talvez pode demorar, mas vou ver se consigo postar no natal. Se houver uma pressãozinha... (Selina se esconde dos Avadas e Crucios)
Só pra informar, teremos ação no capítulo seis, e o casamento de Fleur e Gui ta chegando. E claro, mais momentos H/G e R/H. Eu sei que o Harry ta um pouco chato com essa bobeira dele, mas acho que isso vai passar... Depende do jeitinho de Gina, né.
É isso aí, beijos, beijos para todo mundo que leu!
Malfeito feito!
Selina
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