Expresso Hogwarts




Capítulo 5




Expresso Hogwarts






Eles desceram do carro e começaram a tirar do porta-malas um monte de bagagens. Algumas pessoas, que pararam para observar ao longe, ficaram incrédulas ao verem tanta coisa saindo daquele carro, mas Joseph exibiu aquele olhar mortífero para elas e logo todos foram embora.

- Estamos chamando muita atenção com o carro assim! -resmungou o pai.

- Acalme-se, Joseph! Eles já se foram...

- Precisam de ajuda? -exclamou um homem de cabelos ruivos e vestes um tanto quanto suspeitas atravessando a rua.

- Alô Arthur! Nós estávamos mesmo precisando de uma mãozinha! -Rachel sorriu. -É mala que não acaba mais!

- Olá, Sr. Weasley. A cada ano que passa a casa vai ficando mais vazia e o bagageiro mais cheio... -Jonathan cumprimentou o pai de Gina.

- Eu sei bem como é! -ele riu. -Já houve um ano em que fomos eu, Molly, cinco filhos e um afilhado. Agora eu não tenho mais ninguém pra levar para Hogwarts. Até a minha pequena Gina já terminou seus estudos... Todos os outros estão bem encaminhados! -o homem pegou o máximo de malas que podia carregar e continuou. -Acho que você não fez o feitiço direito, Rachel! Seu carro ficou um tanto...rechonchudo!

- Foi o melhor que pude fazer em dez minutos...

- Sendo assim, ficou ótimo! -Sr. Weasley riu. -Eu demorei mais de um semestre até terminar tudo... Tudo bem que ele pode voar e fazer tantas outras coisas fabulosas, mas mesmo assim, o seu automóvel ficou muito bom!

Joseph fechou a cara para o Sr. Weasley quando se lembrou que ele havia ensinado sua mulher a fazer "aquilo" com o seu carro. Os Stanford deram sorte de chegar mais cedo, pois era tanta coisa para colocar nos carrinhos de bagagem que qualquer atraso poderia causar algum desastre. Cada um ajudou como pode, até o pequeno Ronan carregou a gaiola da coruja de Jonathan, enquanto os homens carregavam os malões mais pesados. E lá se foram todos eles até pararem entre as plataformas 9 e 10. Esperaram até que ninguém estivesse olhando, e um a um foram atravessando o portal mágico que levava à plataforma 9 ½.

Do outro lado, uma confusão de bichos e bagagens ia se amontoando em meio a pais e alunos que se despediam e saudavam uns aos outros. Sr. Weasley entregou o carrinho à Rachel e disse:

- Mais tarde temos que conversar sobre aquele assunto do Ministério. Minha proposta ainda está de pé e Molly insistiu pra que eu a reforçasse.

- Isso não depende só de mim, o senhor sabe. Mas assim que puder, eu lhe farei uma visita no Ministério.

- Tudo bem, mas seja breve! Preciso muito de um assistente competente e de confiança! Até mais, então.

Logo o Sr. Weasley se perdeu na multidão e os Stanford se aproximaram da grande locomotiva vermelha. Faltava meia hora para o trem sair e Rachel aproveitou o restante do tempo para fazer a mesma despedida de sempre, com direito a choro, beijos, abraços e todas aquelas coisas melosas que as mães tem mania de fazer em frente aos seus colegas. Quando chegou a vez de Robin, ela foi mais dramática ainda, e demorou alguns minutos para finalmente largar a garota. Ela percebeu uma menina loira, de cabelos longos, a observando com cara de desdém e logo ela se soltou da mãe dizendo "Ai, mãe! Ta todo mundo olhando." Joseph e Ronan também puderam abraçar os quatro irmãos que iam embarcar, porém, quando o pai foi se despedir da menina, ficou um pouco relutante:

- Cuide-se, certo? -ele fez uma pausa e colocou a mão sobre o ombro de Robin. -E... se sentir muita saudade de casa, escreva... Se os seus irmãos não tomarem conta de você, me avise! Eu mando um "gritador" para eles...

- É berrador, pai! -ela riu.

- E... boa sorte. -o pai finalmente a abraçou. -Ah! Estude muito... e divirta-se... com responsabilidade, é claro!

Robin ficou feliz pois ia partir de alma lavada, sabendo que deixara para trás pessoas que, no fundo, a amavam muito. Levava consigo uma parte de cada um e finalmente ia realizar seu maior desejo: estudar em Hogwarts. Ela parou na entrada e deu uma última olhada. Ronan chorava freneticamente no colo da mãe, que também tinhas os olhos vermelhos. Assim que entrou no trem, seguiu seus irmãos até uma cabine onde Andrew já esperava.

- Alô Eric! Adam, Jonathan e... Robin! Seja bem vinda! Sente-se aqui...

Ele apontou um assento ao seu lado para a menina, que sorriu cordialmente. Andrew Wood tinha doze anos e estudava na Grifinória. Ele era um pouco mais alto que Eric, tinha cabelos espetados e olhos castanhos escuros, um sorriso sincero e cativante, um queixo um pouco pontudo, mas tinha seu charme e sabia como agradar as pessoas. Robin gostava dele pois parecia muito querido e seguro. Robin se sentou ao lado dele e disse:

- Alô Andy! Há quanto tempo! -eles riram, pois haviam se visto ontem.

- Para mim pareceu um século! -ele sorriu e deu uma piscadela.

- Parem com isso! É até nojento! Ela é minha irmãzinha, sabia?!? -Eric retrucou um pouco nervoso e se sentou entre os dois.

Todos riram. A viagem prometia ser muito animada. Robin já se sentia em casa com eles na cabine. Ela mostrou a todos a sua nova mascote, que parecia muito elétrico. Andrew tinha uma pequena coruja marrom muito alegre chamada "Pewee" e Eric, um velho sapo, o "Rançoso", do qual se envergonhava. Lá os quatro irmãos e o amigo ficaram conversando animadamente, Adam contava para ela histórias apavorantes que ele dizia terem acontecido em Hogwarts, e que ela tinha certeza de que era mentira. Estavam todos rindo contentes até que foram interrompidos por alguém que batia insistentemente à porta.

- Alô para todos. Interrompo?

- Não... -responderam em coro para um rapaz alto parado na porta do compartimento.

- Alô Quirky! Chega mais, cara!

- Você está ai, Jojo! O time está esperando a gente lá na frente! Tenho quatro cabines reservadas para nós!!! O pessoal quer soltar umas bombas de bosta na cabine do time sonserino, mas eu esqueci meu arsenal em casa... Foi quando eu me lembrei do dia em que a gente foi no Beco...

- Ah! Ta tudo aqui... -disse ele pegando uma sacola de couro muito suspeita.

- Você não quer participar da farra?

- Nossa! Claro!!! Não perderia isso por nada desse mundo!

- A festa não poderia começar sem você... -Quirky ajudava Jonathan a pegar seu malão.

- Hum... O Adam pode vir junto? -Jojo olhou para o irmão, que implorava com os olhos para poder se juntar a eles.

- Se você quiser, não faço objeção... -Quirky riu da feição de Adam.

- E ai, AJ, quer fazer uma social com o time?

- AJ... Eu... claro!!! Claro!!! -e mais que depressa ele pegou suas coisas, despediu-se de todos e saiu junto dos dois capitães dos times mais populares de Hogwarts: Grifinória e Corvinal.

"AJ? Mais um apelido estranho... Coisas de time de Quadribol!" pensou Robin, voltando a se entreter com Eric e Andrew. Alguns minutos depois, dois garotos entraram sem bater: eram Ângelo Tevolli e um jovem desconhecido vestindo uniforme grifinório, um pouco mais baixo, negro de cabelos bem curtos e óculos redondo.

- Eric... Sabia que estaria aqui! Cadê a cabine que você ficou de reservar para gente? Nós estávamos esperando! -Ângelo usava o mesmo tom arrogante.

- Eu fiquei de reservar!?! Até parece!

- Meu irmão não é seu empregado para lhe servir, garoto... -Robin se intrometeu. -Quer uma cabine vazia? Chegue mais cedo ano que vem!

Todos riram do moleque que ficou vermelho, de raiva ou vergonha.

- Controle-se, Tevolli. Temos damas no recinto... -se pronunciou o outro garoto pela primeira vez. -Sou Neo Lennox, muito prazer. -disse ele estendendo a mão para cumprimentar Robin.

- O prazer é todo meu! -disse Robin muito impressionada com a educação e porte do garoto.

- Desculpe-me, Neo...

- Tente ser mais polido da próxima vez. -arrematou o jovem.

- Alô para todos! -disse Ângelo com firmeza na voz.-Mais uma fã? Quem é você, menina? Acho que a conheço de algum lugar...

- Sou Robin Stanford. E quem é você? Acho que nunca te vi antes... -sorriu com desdém.

- Oras! Você é irmã do Eric? Ele nunca me falou de você... -retrucou sarcástico. -Também, por que falaria? -murmurou para si.

- Talvez, se você escutasse algo além do som da sua própria voz, teria ouvido falar nela! -Andrew intercedeu pela menina. -Se quiser ficar por aqui, será bem vindo, desde que deixe o fel e o orgulho do lado de fora desta cabine, Sr. Tevolli.

Todos soltaram risinhos abafados, até o garoto que entrara com Ângelo.

- O que deu em vocês hoje, senhores? -disse Neo, pegando um lugar na janela. -Controlem-se! Somos amigos, lembram-se?!? Isso aqui deveria ser divertido...

- Quem disse que não estamos nos divertindo?!? -riu Eric, trocando olhares irônicos com Andrew.

- Você ri agora, Eric... mas vai precisar de mim depois...

- Desculpe-me... -disse o jovem resignado e Ângelo sorriu satisfeito.

- Bem, eu aceito a sua oferta. Pena que Deveroux vai ter de ficar de fora. -Ângelo se sentou com o amigo e sorriu para Eric, que corou e esboçou um ar de insatisfação. -Você é nova aqui, então? Já sabe em que casa vai ficar? -disse ele encarando-a mais uma vez.

- Não... mas eu gostaria de ficar junto dos meus irmãos...

- Grifinória? Boa escolha. Somos os melhores de Hogwarts! Como diria o Chapéu Seletor, possuímos os corações mais nobres, dotados de coragem e ousadia! Eu sou de lá também!

- Acho então que devo rever os meus conceitos... -Robin emendou.

- Só espero que não fique na Sonserina... -disse Neo, com a voz um pouco nervosa. -A maioria de bruxos de lá ou nascem perversos, ou aprendem com o tempo...

- É verdade! Odiamos a Sonserina! -Eric e Andrew disseram.

- Pior que isso é ficar na Lufa-lufa! -Tevolli riu, acompanhado dos outros garotos. -Só tem panacas lá! Não ganham uma taça da casa há mais de cinqüenta anos! E no quadribol então... são uns perdedores!

- Tenha modos, Ângelo... Pertencer lufa-lufa não deve ser tão ruim assim. Cada casa tem seu valor, e devemos respeitar isso. -disse Neo decidido.

A conversa foi interrompida por alguém que batia à porta novamente. Um garoto alto, de longos cabelos alourados, presos num rabo-de-cavalo e vestindo o uniforme da escola com as cores azuis da Corvinal. Tinha um distintivo prateado no peito e um ar de garoto inteligente.

- Desculpe a intromissão. Procuro Robin Viollet Locksheart. -ele passou os olhos pela cabine, parando na única menina na cabine, e continuou. -Acho que só pode ser você?

- Talvez... Na verdade, sou Robin Viollet Locksheart Stanford... -ela enfatizou o seu último sobrenome.

- Venha comigo. Um professor quer vê-la.

- Por quê? Não fiz nada de errado!

- O que você faz aqui, Sr. Evans? -Ângelo o encarou.

- Acalme-se, Sr. Tevolli. Prof. Flitwick me pediu para que a levasse lá para frente, e só... Acho que ela poderá voltar logo.

- Sei... -Eric olhou desconfiado. -Você não vai tirar minha irmã daqui desse jeito. EU vou junto!

Ele riu, depois ajeitou os cabelos e disse para Robin:

- Sou o monitor da Corvinal. Recebi instruções para leva-la até uma cabine junto das outras garotas, portanto, nada tenho a te explicar. Assim que chegar lá, ficará sabendo do que se trata. Vamos! Creio que seja breve! ...Se quiser levar o seu guarda-costas junto, não será problema, mas vou avisando que não poderá entrar lá de qualquer forma!

- Quer que eu a acompanhe, Robin? -perguntou Eric, um pouco sério.

- Acho que não será necessário... -ela sorriu um pouco indecisa e continuou. -Alguém pode cuidar da minha mascote por favor? Ele é um bicho fujão...

- Eu cuido! -disse Andrew prontamente.

Robin se levantou e seguiu o garoto loiro pelos vagões até uma cabine que ficava lá na frente, ao lado de outra que era ocupada por alguns professores. No caminho cruzou com Adam, que trocou olhares com o monitor da Corvinal. Este lhe abriu a porta e, antes de entrar, ela deu uma boa olhada à sua volta: aquele compartimento parecia bem maior que a cabine anterior, tinha cortinas de renda nas janelas, bancos maiores e mais confortáveis. Pette Evans parou na porta e esperou a recém-chegada sentar, depois disse:

- Professor Flitwick fará as devidas apresentações, vou chamá-lo. Portanto, fiquem aqui até que eu volte, certo?

As quatro garotas se entreolharam e concordaram com um aceno de cabeça. O garoto saiu e logo a porta se abriu: um homenzinho baixo, cabelos grisalhos, nariz e mãos grandes, que mais parecia uma caricatura, entrou na cabine. Ele não era mais alto que elas, e pigarreou para chamar a atenção da jovenzinha loira que olhava para fora da janela. Ele parecia extremamente feliz, mal conseguia disfarçar o contentamento na voz:

- Ah! É um enorme prazer estar em vossa presença! Vocês nem sabe como! -as meninas se entreolharam confusas. -Esperávamos por jovenzinhas tão talentosas há muito tempo! Vocês são novas aqui, mas tem muito potencial... Ah! Já falei demais!!! -disse ele enxugando as lágrimas de felicidade. -Conheçam primeiro Anne Franklin.

A garota de cabelos castanhos bem curtos, com mechas claras nas grandes franjas, rosto magro e queixo um pouco pontudo levantou seus olhos cinza-azulados do livro que estava lendo e mirou todos por cima dos seus óculos de aro de tartaruga. Ela parecia transpirar segurança, pois foi logo dizendo:

- Olá a todos os presentes. -as meninas acenaram com a cabeça, todas parecendo tímidas. -Prazer em conhece-los. Sou Anne Marie Franklin e descendo de uma linhagem de bruxos muito inteligentes, como meus pais, que trabalhavam no Ministério da Magia antes de morrerem. Não querendo me gabar dos meus atributos, mas herdei a astúcia e a sede por conhecimento deles.

Robin ficou impressionada com o vocabulário da menina.

- E quem está sentada ao lado dela é Pandora Fawkner.

Ela tinha cabelo castanho-claro um pouco acima dos ombros que de tão liso e cheio, parecia esvoaçar. Tinha olhos da cor mel e um sorriso largo e cativante, e parecia se divertir muito com algo que havia dentro da caixinha que trazia no colo. Ela estava sentada na frente de uma menina loira muito bonita, que parecia entediada. Tinha olhos azuis transparecendo a vaidade que guardava em seu coração. Fingia estar entretida com o que se passava janela afora, e parecia não estar ouvindo o que elas diziam, mas é claro que absorvia cada palavra.

- Oi, gente! -a menina abriu um sorriso largo, que foi correspondido por Robin que estava sentada na sua diagonal. -Espero me divertir muito com vocês em Hogwarts! Quem sabe nós não acabamos sendo selecionadas para a mesma casa? Já estamos juntas aqui mesmo...

- Deus me livre... -sussurrou a garota loira.

- E esta aqui é...

- Eu sou Emily Elizabeth Lancaster II. -disse ela com arrogância, interrompendo o professor. -Descendo de uma linhagem de bruxos sangue-puro, a casta mais nobre e importante da Inglaterra. Também somos riquíssimos pois nascemos em berço de ouro e pertencemos à aristocracia mais seleta e secreta do mundo, portanto, com certeza não vou ficar na mesma casa que vocês, pois nasci pertencendo à Sonserina.

- Que destino cruel está reservado a você... -Anne resmungou por trás do imenso livro que estava lendo.

- Nem todos pensam assim, minha cara... -disse Emily com desdém. -E se você fosse tão inteligente quanto diz, mudaria sua forma de pensar o mais breve possível.

- E quem é você, garota de cabelos pretos? -Pandora perguntou.

- Eu? ...Bem, eu sou Robin Viollet Locksheart Stanford, minha mãe é trouxa e meu pai é um aborto...

- Um aborto? -Emily soltou uma gargalhada espalhafatosa. -Pobrezinha! Que vergonha...

- Bem, eu não tenho vergonha dele. É um bom pai... -disse Robin tentando não vacilar. -Bem, eu estava tão ansiosa para que as aulas começassem! -Pandora sorriu para ela. -Acabei lendo todos os velhos livros que meus irmãos me deram! -agora era Anne quem sorria cordialmente.

- Patético... -retrucou a menina loira, observando alguma coisa lá fora.

Robin apertou sua estrela contra o peito e continuou, tentando ignorar o comentário que a outra havia feito:

- Eu tenho três irmãos que estudam na Grifinória e espero estudar lá, porque minha mãe também pertenceu à mesma casa. Nós moramos numa fazenda e meu bichinho de estimação é um ferrete...

- Credo! Que coisa mais brega! Só falta você me dizer que adora cuidar das vaquinhas no pasto, usa cabelos presos em dois rabos de cavalo e acorda cedo todas as manhãs!

Robin baixou os olhos e corou. "Será que é tão óbvio assim?" pensou.

- Ah, não! Por Merlin, tirem-me daqui! -disse a loirinha rindo irônica. -Estou trancafiada com uma maluquinha, uma CDF e uma caipira! Ah! Tenho mais o que fazer... Minhas amigas me esperam em outra cabine! Minha irmã ainda deve estar guardando o meu lugar!

- Controle-se, Srta. Lancaster. -disse Prof. Flitwick bastante aborrecido. -Isso não são modos de uma dama! Tenha mais respeito pelas suas outras colegas.

Ela se levantou e tentou sair, mas foi barrada por Evans na porta. Tentou então mais duas vezes, até que foi empurrada de volta para o assento. Emily fechou a cara de vez e não abriu mais o bico até o professor e o garoto finalmente se retirarem.

De todas, ela era a única que parecia não se divertir. As outras conversavam animadamente e demonstraram ter muita afinidade entre si. Anne ficou falando dos muitos feitiços que havia aprendido e que estava louca para experimentar. Robin e Pandora riram muito quando Anne pintou com a varinha os cabelos de Emily sem que ela percebesse. Primeiro os tingiu de vermelho, depois abóbora e por último castanho-escuro. Só pararam quando a porta se abriu e uma mulher baixa e morena, um pouco gorda, perguntou se elas queriam comer algo. Ofereceu sapos de chocolate, delícias gasosas, feijõezinhos de todos os sabores, varinhas de alcaçuz, chicles de bola, balas de goma, tortinhas de abóbora, bolos de caldeirão, garrafas de cerveja amanteigada, e muitas outras guloseimas que todo bruxo gostava.

Já passava do meio dia e todas pareciam estar morrendo de fome, talvez por isso Emily estivesse de mau humor. Anne já foi pegando dois bolos de caldeirão, balas de goma, varinhas de alcaçuz e uma cerveja amanteigada, já Pandora agradeceu, mas não pegou nada. Disse que sua mãe havia feito torta de maçã, sua sobremesa predileta. Emily agradeceu, mas confessou que acabou esquecendo a algibeira na outra cabine. Robin pegou um bom punhado de cada coisa, pois apesar de não estar com muita fome, queria dividir alguma coisa com Emily e as outras.

- São dezesseis sicles e vinte e dois nuques.

- Certo... Aqui está! -Robin entregou o dinheiro. -Obrigada!

As três ficaram olhando para aquele monte de doces e Pandora falou:

- Se quiser, nós podemos trocar... Minha mãe faz uma torta maravilhosa!

- Claro, vocês podem se servir!

- Está bem! -Pandora trocou um pedaço de bolo por um sapo de chocolate e uma cerveja amanteigada.

Emily olhou para os doces que se interpuseram entre ela e Robin, estava com muita fome, mas provavelmente seu orgulho não a deixaria pegar nada da garota. Robin leu em seus olhos que ela estava morrendo de vontade de comer algo, então, fazendo-se de desinteressada, perguntou:

- Você não quer nada?

- Não... eu como depois...

- Pode comer agora... não é um favor... depois você me paga...

Emily hesitou. Se não fosse um favor, talvez pudesse pegar algo. Robin sabia que ela não queria ficar devendo nada à "menina-caipira". Talvez ela nem fosse tão orgulhosa assim, ou a fome fosse maior que tudo, já que logo pegou então dois sapos de chocolate, um bolo de caldeirão e uma cerveja amanteigada.

- Depois eu te pago. -retrucou baixinho.

Parece que ela se acalmou por fim e ficou até mais serena com as outras garotas, que ficaram surpresas quando Emily resolveu participar da competição que Pandora inventou: quem pegasse o feijãozinho com o pior sabor ganharia três bolos de caldeirão. Umas duas horas depois, Pette Evans entrou de novo na cabine e disse:

- Agora que vocês já tiveram tempo de se conhecer, podem sair.

- O quê? Nós estávamos aqui só para nos conhecermos?!? -Emily indagou nervosa.

- Sim. Foi o que me disseram. Missão cumprida, estão liberadas.

- Eu não acredito! Perdi de almoçar com o garoto mais bonito da escola para ficar aqui... -ela olhou para as outras garotas e mediu as palavras. -Não que tenha sido tão ruim assim, mas... mas não é o mesmo que almoçar com um Deus grego com Eros!

- Eros? Sei... -o garoto olhou com desdém. - É melhor correr então, pois tenho certeza que o vi no terceiro vagão...

- Você não acha que é nova demais para correr atrás de um garoto? -Anne perguntou, fingindo-se distraída com sua coruja.

- Não lhe devo explicações... -Emily respondeu,e virando-se para Robin, continuou. -Pode deixar que te pagarei em breve. Eu não me esqueci...

A menina se despediu rapidamente de todos e saiu apressada.

- Que tal se ficarmos aqui mesmo? -Pandora sugeriu. -Vocês são as únicas pessoas que eu conheço aqui! Eu sou filha única...

- Tenho que pegar minha bagagem... Meus primos estão à minha espera.

- Primos? Você também não tem irmãos? -Robin perguntou.

- Não... Eu já não te disse que meus pais morreram? Bruxos muito astutos, fizeram de tudo para me proteger... mas nada funcionou contra o ataque fulminante de dezenas de comensais da morte. -Anne olhou janela afora, um pouco distante. -Fui criada pelos meus tios e agora estou indo para Hogwarts com meus primos, um casal de gêmeos, Apolo e Ártemis. Nomes sugestivos, não? Eles são dois anos mais velhos que eu... pertencem à Corvinal, como todo o resto da minha família.

- Desculpe-me por tocar no assunto...

- Não se preocupe Robin... Você não tem que pegar suas coisas também?

- Sim... É melhor irmos então! Voltamos em vinte minutos, tudo bem?

- Claro! Eu espero aqui com todos esses doces de companhia! -Pandora abriu um sorriso, e as outras duas saíram.

Elas atravessaram os vagões e passaram por Emily, que agora se derretia toda por um garoto cercado de menina de todos os tamanhos. Robin até tentou espiar, mas a menina loira se voltou para as duas. Ela as cumprimentou com um aceno de cabeça e continuou entretida com o menino. Robin teve um estalo e se lembrou de tê-la visto ainda na estação, ao lado de outra garota loira e esguia, um palmo mais alta que ela. "Sim... Emily era a garota com olhar desdenhoso..." pensou.

- Quem é esse tal de Eros? -Robin parecia intrigada.

- Ártemis me contou muitas coisas sobre ele. Parece que ninguém resiste a um olhar seu... Ela até procurou saber se ele possuía algum feitiço, mas não descobriu nada a respeito, eu acho até que ele toma umas poções todos os dias para ficar daquele jeito...

- Hum... É tão bonito assim?

- É! Ele pelo jeito arranca suspiros até das garotas do quinto ano... E só tem treze anos! Imagine quando tiver mais idade? -Anne piscou para Robin. -Enfim, ele é muito disputado... e eu não pretendo entrar na fila!

- Nem eu... -disse Robin dando uma última olhada para trás antes de entrarem no próximo vagão.

Anne entrou na terceira cabine e disse que esperaria por ela para retornarem juntas ao primeiro vagão. Robin continuou procurando pela cabine onde estavam seus irmãos. Até que avistou Adam... com uma garota morena. Eles pareciam conversar animadamente. Robin chegou por trás do garoto e pulou em cima dele. Quando ele percebeu que sua irmãzinha estava lá, corou e falou meio nervoso:

- Robin! O q-que você está fazendo aqui?

- Estava procurando o nosso vagão! Preciso pegar minhas malas...

Ela olhou a menina morena, de cabelos longos e crespos, olhos pretos como os cabelos, era muito bonita. Estendeu a mão para a garota e disse:

- Olá! Sou Robin Stanford... prazer em conhecê-la!

- Eu sou Lisa Lange. Você é a irmã do AJ? Acho que te vi na festa de despedida... É, só pode ser! Adam me falou de você!

- Falou!?! -Robin parecia incrédula. -Que legal! Vocês são amigos?

- Sim! Ela é a atual batedora do time de quadribol da Grifinória. E eu estou tentando ser o outro batedor...

- Que bom Adam! Você é mesmo muito forte... Batedores são conhecidos pela sua força e equilíbrio... -ela se voltou para Lisa e continuou. -Eu confiaria minha vida nas mãos dele! -e deu uma piscadela.

- Tudo depende de Jonathan... Ele é o capitão do nosso time... -ele disse um pouco decepcionado.

- Mas, enfim, onde é mesmo a nossa cabine?

- Próximo vagão, terceira porta à esquerda.

Robin deu um beijo na bochecha do irmão, que ficou ainda mais vermelho, e depois saiu em direção ao próximo vagão. Antes de entrar na cabine que foi indicada pelo irmão, ela bateu na porta. Por sorte não surpreendeu os garotos se trocando, pois logo uma voz lá dentro respondeu:

- Não entre!

- Por quê?

- Estamos nos trocando! Quem é?

- Robin... Escute, eu só preciso pegar minhas coisas...

- Espere... -cinco minutos se passaram e Eric colocou o rosto para fora da porta e continuou. -Prontinho...

Ele abriu a porta e ajudou sua irmã a pegar tudo. Ajeitou as malas dela de forma que pudesse arrasta-las pelo corredor sem derrubar nada e assim que colocou tudo para fora da cabine, disse:

- Que bom que você já voltou... -ele olhou para trás e viu que os colegas o observavam em silêncio. -Quer dizer, o seu furão estava sentindo sua falta... Agora saia! -e ele fechou a porta.

"Quanta doçura..." pensou. Não deu muita importância já que ela não fazia questão alguma de ficar por lá. Demorou muito para arrastar tudo até o próximo vagão e acabou trombando com Adam, que usou um feitiço para fazer as malas da irmã levitarem para os vagões da frente. Ele saiu quando Robin encontrou Anne na porta conversando com seus primos. A irmã o agradeceu antes que ele desaparecesse pela porta que dava acesso ao compartimento anterior do trem.

Anne a apresentou aos seus primos, que eram mesmo muito parecidos: a mocinha era um pouco mais alta que ele, mas ambos tinham cabelos castanhos ondulados e olhos esverdeados, magricelos, queixo um pouco pontudo e nariz pequeno. Tinham o mesmo sorriso e ar inteligente de Anne.

- Alô! Vocês são Ártemis e Apolo? -eles corresponderam com um sorriso e ela continuou. -Prazer... sou Robin Stanford!

- Muito prazer, Srta. Stanford. -responderam em coro.

- Você também vai ficar lá na frente? -disse a menina para Robin, que respondeu com um sorriso.

- Sim...

- Cuide bem de Anne... e não ligue para o seu mau-humor! Até mais! -disse o garoto.

- Até mais então! -disse a garota acenando.

- Tchau! -as duas disseram antes de fechar a porta.

Anne usou o mesmo feitiço de Adam para fazer a bagagem levitar. Robin se pôs na frente para ir abrindo caminho, e lá se foram elas até o primeiro vagão onde Pandora as esperava. Quando abriram a porta, elas viram a garota já vestida, deitada num dos confortáveis assentos dormindo abraçada à sua caixinha e agora com um gato preto, olhos amarelos esbugalhados e orelhas enormes, aconchegado junto a ela. Robin deu pulo para trás, derrubando as malas que Anne carregava. Ela foi socorrer a menina que parecia muito assustada com o gato.

- O que foi, Robin?!? -exclamou Anne preocupada.

- Um gato preto!!! -Robin exclamou enquanto tentava se levantar.

- E daí? Deixe de ser supersticiosa! Hoje não é sexta-feira treze...

- Oras! Não é isso... Não sou supersticiosa! É que... -ela tomou fôlego. -...eu tive um sonho hoje! Um sonho horrível! Tinha um gato preto...

- Robin! Não acredito! -ela balançou a cabeça em sinal de reprovação. -E eu que pensei que fosse algo sério...

- Mas é sério! Tinha um gato preto... e ele me perseguia... estava escuro...


Elas entraram tentando fazer o mínimo de barulho, então Anne pegou as malas novamente e as fez voarem até o bagageiro, onde foram devidamente colocadas, e ficaram sentadas até que Robin se lembrou de vestir o uniforme. Ela ficou de costas para a amiga e pode observar o Sol se pondo lá fora, onde algumas nuvens rosadas enfeitavam o céu quase escuro.

Robin achou a caixa de sua varinha especial no bolso da sua veste. Havia deixado lá na manhã anterior, quando experimentou seu uniforme mais uma vez. Ela examinou bem o invólucro, e resistiu à tentação de mostrar às suas novas amigas aquilo que lhe parecia ser tão importante. "Aleph..." ela falou baixinho enquanto recolocava sua varinha no bolso e ajeitava a capa preta.

As duas meninas ficaram conversando enquanto anoitecia lá fora. O trem parou quando já estava bem escuro e Anne acordou Pandora para que pudesse descer com elas. A menina parecia dormir pesadamente e se levantou um pouco atordoada. Ela olhou a sua volta e disse para o gato preto:

- Bastet! Você demorou... -e ela abraçou o bichano.

- Esse gato é seu?

- Sim! -Pandora parecia sonolenta.

- É óbvio, Robin! -Anne riu da menina.

- É um gato muito estranho! Parece um alienígena!

- Bem, particularmente eu a acho linda! -a meninna riu da observação feita pela amiga. -Parece aquele gato egípcio de que meu pai sempre fala! Ele adora essas coisas... Eu a ganhei pouco depois de voltar do Egito com meus pais...

- Você morou no Egito? -perguntou Robin.

- Seus pais estão vivos? -Anne disse em seguida.

- Sim... Morei com meus pais no Egito... Eles trabalham para Gringotes, nós tivemos de ficar lá por muitos anos. Nos mudamos um pouco antes de eu nascer! Quase que nasço em águas internacionais! Ia ser bem legal...

- Que legal... -respondeu Robin.

- Você está bem, Anne?

- Sim... -ela estava distante. -Não entendo... realmente eu não entendo!

- Não entende o quê? -Robin parecia curiosa.

- Nada... é uma coisa que minha tia me disse... Talvez tenha se enganado...

Anne ajeitou sua vestimenta e apressou as duas garotas na hora de pegar seus pertences. Ela observou que Pandora só estava de posse da gata e de uma caixa de madeira com adornos dourados, do tamanho de uma caixa de sapato, e uma trava que parecia muito potente, porém era bem leve. Na tampa havia uns desenhos estranhos, uma inscrição em hieróglifos, e uma plaqueta que dizia "Caixa de Pandora".

- Não venha me dizer que você também guarda o Caos do mundo ai dentro? -brincou Anne.

- Como assim? -Robin perguntou na inocência.

- Nunca ouviu falar na caixa de Pandora?

- Não...

Anne riu e explicou à colega uma história antiga sobre uma mulher chamada Pandora que guardava em sua caixa todo o Caos do mundo e que quando esta foi aberta, liberou todo mal do mundo...

- Mas aqui dentro eu só guardo o caos do meu mundo... -Pandora completou. -Isto aqui foi presente de meu pai. Os duendes a usam para transportar grandes valores...

- Mas o que é isso afinal? Um cofre forte?

- Não, Robin! É uma caixa que possui um espaço fenomenal dentro. Eu posso colocar tudo o que quiser aqui, desde que não esteja vivo, e só carrego dois quilos comigo!

- Nossa! É maravilhoso!

- É claro que tem suas limitações... Se eu carregar um ser vivo aqui dentro, ele pode acabar morrendo por falta de ar. Mas eu posso até colocar coisas grandes, é só bater três vezes no objeto -ela bateu na mala de Anne. -e três na caixa, para o objeto ser sugado para dentro.

As duas ficaram boquiabertas com aquilo. Anne disse ainda surpresa:

- Você não pode carregar o meu malão de livros ai? Mesmo que não fiquemos na mesma casa, eu venho busca-lo depois.

Pandora colocou todas as malas das duas amigas lá dentro, só deixando para fora a gaiola da coruja de Anne e o furão de Robin, que agora se enrolava em seu pescoço. Assim que terminaram, se dirigiram para o corredor, que estava apinhado de monitores e alunos com suas malas e gaiolas, então elas decidiram ir pela frente, por onde os professores haviam saído. Alguns mestres cumprimentaram as três garotas, já o prof. Flitwick perguntou:

- Não estaria faltando uma jovenzinha?

- Senhorita Lancaster nos deixou há muitas horas atrás... -Anne respondeu.

- Tinha coisas mais interessantes a fazer... -complementou Pandora, rindo.

- Mas... cadê a vossa bagagem? Vocês se esqueceram que devem pegar tudo antes de deixar o trem?!? Não nos responsabilizamos por nada que seja perdido fora de Hogwarts... -alertou o professor.

- Está tudo aqui, dentro da caixa de Pandora. -Robin riu dando uns tapinhas caixa da amiga.

Elas desceram do trem e logo avistaram a silhueta de um homem enorme de alto e forte. Quando iluminou o rosto com a lamparina que trazia à mão, algumas crianças ficaram assustadas. Ele era barbudo, cabeça grande e redonda, cabelos desgrenhados, vestindo um casaco grande e espesso de pele de animais. Tinha pequenos olhos pretos, que pareciam ainda menores quando os apertava para enxergar melhor no escuro, falou então com voz muito grossa e audível:

- Alunos do primeiro ano, reúnam-se aqui, por favor.

Aos poucos, dezenas de criancinhas se aglomeraram em frente àquele homem gigante. Elas pareciam ainda menores ao lado dele.

- Todos juntos? Então me acompanhem! -ele disse por fim.

Longe das sombras das árvores, ele era menos assustador, parecia até amistoso quando sorria por trás daquela espessa barba. Robin lembrou-se de Eric ter lhe mencionado um homem muito grande que habitava um casebre perto da floresta proibida. "Sim! Este deve ser o famoso Hagrid, guarda-caças de Hogwarts!" pensou. Ela estava certa.

O homenzarrão os conduziu até uns barquinhos que esperavam nas margem do imenso lago. As três ficaram bem juntas para tentarem pegar uma em que elas pudessem ir sozinhas. Assim que iam descer os degraus para chegar às margens onde estava o transporte, foram detidas por Pette Evans novamente. Ele trazia consigo uma menina loirinha arrastada a contra gosto, e meia dúzia de malões. "Você vai se ver comigo!" dizia enquanto tentava se desvencilhar do garoto.

Ele parou perto das meninas e pediu a elas que o seguissem. Eles andaram até um descampado onde os alunos de outros anos embarcavam em carruagens. Pediu que ficassem juntas num transporte logo atrás, que estava reservado a elas. As quatro garotas seguiram-no até o último coche que ficava um pouco mais distante dos outros.

- Por que precisamos de uma carruagem com quatro tresálios? -Emily parecia intrigada.

- O que é um tresálio? -Robin perguntou.

- São montarias aladas... Talvez minha tia estivesse certa... -Anne fez uma pausa e continuou. -Se pediram para que usemos este coche, devemos então acatar ordens superiores.

Evans suspirou aliviado e sorriu agradecido para Anne por sua postura sensata. Assim que terminou de colocar a última garota na carruagem e amarrar a última mala de Emily atrás, deu meia volta e saiu correndo. Anne ficou a explicar o que eram tresálios enquanto seguiam viagem:

- ...São montarias aladas, estes parecem cavalos negros com cabeça de dragão e asas de morcego. Vocês não lêem os livros da escola? Está em "Animais Fantásticos e Onde Habitam"! Enfim, eles tem olhos brancos que dão a eles uma aparência ainda mais fantasmagórica. Somente pessoas que viram a morte de perto podem enxerga-los... Vocês deviam estudar mais...

- As aulas nem começaram... -Pandora retrucou.

- Eu acho que li alguma coisa do tipo... -disse Robin distraída com a paisagem lá fora. -Você consegue vê-los, Anne?

- Sim... -ela olhou para fora da janela tentando fugir do assunto.

- Eu também enxergo... mas não me orgulho disso. -Emily disse. -Eles são um sinal de mau-agouro.

- Não exagere... -Anne riu. -Esse negócio não existe!

- Existe sim... -Emily disse muito decidida.

Robin sorriu. "Ao menos concordamos em alguma coisa..." ela pensou. A carruagem seguiu por uma estrada de pedra e Robin avistou um grande lago, serpenteado por pinheiros altos. A lua, quase cheia, estava alta e iluminava as primeiras torres do castelo, que parecia monstruosamente grande. Estava tudo calmo, até que a carruagem parou e começou a recuar. As meninas se entreolharam e Emily, muito assustada, disse:

- O que está acontecendo. -ela colocou a cabeça para fora da carruagem. -Veja, Anne! Aquele gato está assustando os tresálios!

Anne também se debruçou na janela e começou a dizer:

- Gato agourento! Por que está fazendo isso com a nossa carruagem?

- Ah! Agora quem é que não acredita em agouro, Senhorita Sabe-Tudo?!?

Um frio percorreu novamente a espinha de Robin, assim como quando viu um gato no portão de sua casa e sua cicatriz começou a pegar fogo. Ela ia se levantar para observar o que estava acontecendo, mas parecia estar congelada de medo. O gato de Pandora também parecia muito agitado e foi se esconder embaixo do assento. A carruagem disparou em direção ao lago, e as duas meninas voltaram para dentro com os rostos pálidos. Emily parecia muito apavorada e estava quase ficando sem ar.

- Você viu aquilo!? Precisamos fazer algo ou vamos acabar no lago!

- Mas o que é que podemos fazer, Anne? - agora era Pandora que colocara a cabeça para fora.

Robin começou a ficar preocupada com a reação de Emily. "Não posso ficar parada! Tenho que fazer algo! Mexa-se! Mexa-se." O corpo de Robin finalmente a obedeceu e ela abriu a porta com a carruagem em movimento, precipitando-se para fora. "Sua louca! O que está fazendo?" Robin ouviu Emily dizer. Quase caiu quando os animais fizeram uma curva brusca, mas Pandora a ajudou segurando seus pés e dando-lhe impulso para subir no teto. A menina agora alcançara o banco do cocheiro, mas nada podia fazer se não enxergava os tresálios.

- O que devo fazer agora? -ela gritou. -Não estou vendo nada! Como posso dominar um animal se nem ao menos posso vê-lo?

Anne observava friamente a situação, parecia arquitetar algum plano.

- Há quase dois metros de você está o primeiro tresálio! Se você conseguir pular nele, é capaz até que possa soltar as amarras para que eles não guiem mais a carruagem até o lago.

- O QUE É QUE VOCÊ ESTÁ DIZENDO!?!

Teria sua amiga dito aquilo mesmo à ela, ou era apenas sua imaginação? "Pular em cima do nada? E se eu cair no chão e acabar atropelada por uma das rodas? Quem irá me socorrer?" Robin parecia muito confusa, seu coraçãozinho parecia que ia pular pela boca. Fechou os olhos e tentou apalpar algo que indicasse que o animal estivesse mesmo lá.

- Não temos tempo! Vá logo, Robin! Precisamos de você!

Robin apertou sua estrela com força e começou a se concentrar, então ouviu a voz de Anne começar a ficar distante. Até o vento parou de zumbir no seu ouvido. De olhos fechados, ela começou a ver flashes daquilo que pareciam ser cavalos ou dragões. Essas imagens iam e voltavam e quando deu por si, ela já havia pulado em cima de um deles. Agarrou-se na couraça do animal, mas ainda sim estava escorregando. Tomada por uma força desconhecida, ela deu um impulso e acabou montada na besta alada.

Robin parecia agir friamente, na verdade nem sentia que era ela mesma a fazer tudo aquilo. Já se aproximando novamente do lago, ela desatou as rédeas que prendiam o animal à carruagem. Antes de sair com o animal em disparada, se agarrou aos outros dois que estavam ao lado. A velocidade já havia diminuído com a saída da fileira de animais à esquerda, e o coche acabou se desviando naturalmente para direita, reduzindo o perigo de caírem no lago. Desatou finalmente as rédeas da segunda fileira de animais e quando abriu os olhos, viu de relance suas amigas com as cabeças para fora da carruagem, que deslizava pela margem do lago, produzindo jatos d'água.

Estava feliz por elas, no entanto, agora tinha outro problema: os animais dispararam em direção à Floresta Proibida, e Robin já havia ouvido Jonathan lhe contar histórias terríveis a respeito do lugar. Olhou a sua volta procurando um meio de saltar do bicho invisível, mas tudo o que viu foi o gato acompanhar os cavalos alados numa velocidade impressionante, parecia até flutuar sobre o chão.

Ela tateou o animal, pois conseguia senti-lo, mesmo sem vê-lo. Achou as rédeas do animal e tentou freá-los o máximo que pode. A velocidade diminuiu, mas eles continuavam a se aproximar da floresta. Robin pegou sua varinha de dentro da caixa e pulou do animal ainda em movimento. Ela rolou pela descida íngreme e acabou ralando as mãos e joelhos, estava aturdida com tudo, mas assim que viu o felino se aproximar, levantou-se do chão e empunhou sua varinha.

Fechou os olhos tentando se recordar de algum feitiço de defesa, mas nada veio à sua mente. Sem saber direito o que fazia, sentiu sua mão se erguer no ar a esmo e com um acenou de varinha, seus lábios articularam:

- Ex... Expeliarmus!

Robin não sabia de onde havia tirado aquele feitiço, mas com certeza tinha dado conta do recado, pois uma luz dourada se projetou contra o bicho que foi atirado para muito longe e acabou caindo desmaiado na grama meio desajeitado. Ela deu os primeiros passos em direção ao animal, e assim que viu que ele ainda respirava, pôs-se a correr em direção ao castelo.

Correu por quase um quilômetro, após subir uma colina, e quando estava a poucos metros do castelo, viu uma grande porta se abrir e uma luz amarela iluminou o restante do caminho. A silhueta de um homem alto e magro parado à porta fez com que a menina junta-se suas últimas forças para alcança-lo.

Robin só pode ver que aquela figura tinha cabelos pretos na altura dos ombros e um grande nariz de gancho. Ela se aproximou ofegante de tanto correr, cambaleando até aquele que parecia ser sua última esperança de socorro. Ela subiu uma pequena escadaria que levava até a porta, e o homem, vendo as forças da menina se esvaindo, foi de encontro a ela.

- M-Me ajude... -Robin disse antes de cair no chão desmaiada.


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Vocês pediram ação... Ai está, só um pouquinho... pra começar! Espero que estejam gostando! Quem leu até aqui, obrigada!!! Quem comentou, fico grata também!!! Gosto quando as pessoas lêem minha fic e deixam também o nome das suas histórias para eu comentar! É uma troca, uma interação...

Gente, pode reclamar também, viu? Eu gosto quando as pessoas me dão uns toques inteligentes sobre detalhes que deixei passar... Bem, vou ficando por aqui e espero que todos fiquem ansiosos pelo próximo capítulo!!!

"O que terá acontecido com Robin? Pra que casa que ela será selecionada? Será Grifinória, como sua mãe e irmãos? Ou terá ela um destino mais... cruel!!!!!!! Hahahaha!!!!! "

Até breve, pessoal!!!



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