A garota no camarote de honra

A garota no camarote de honra



Faltavam ainda quatro horas para o início da Final da Copa Mundial de Quadribol, porém havia alguém dentro do estádio onde aconteceria o jogo, esse alguém parecia não perceber que se encontrava em um enorme estádio, com três balizas de ouro, em cada extremo medindo uns quinze metros de altura, enormes arquibancadas, e bem no alto, o camarote de honra.Era realmente fantástico o imenço quadro negro, em uma das extremidades do campo oval, onde caberiam facilmente, dez catedrais.Mas o rapaz, que aparentava ter uns vinte e cinco anos, com um nariz adunco e pele morena, nem se importava, continuava a caminhar sobre a grama nivelada, com sua Nímbus 2001 presa em suas costas.
-Vítor!-Ecoou de repente uma voz; o rapaz chamado Vítor, olhou para o céu, que agora começava a ficar tingido de borrões alaranjados e vermelhos, e observou um minúsculo pontinho sobrevoar as arquibancadas e parar diante de si.
-Zack... qual é o prroplem?-O que acabara de pousar diante de Vítor, com sua Nímbus 2001, era o goleiro e capitão do time internacional da Bulgária, Zack Zograf.Ele era tão moreno quanto o Vítor Krum, só que seu nariz era menor, e arrebitado.Seus cabelos eram castanho escuros, e os olhos cor de mel.Mas, o que era mais visível, com certeza os seus ombros largos, e braços fortes.Zograf observou Krum, parecendo considerar a pergunta meio boba.
-O quê você está fazendo aqui?-Perguntou Zograf, parecendo nervoso, e ao mesmo tempo ansioso.-Procuramos você por todo o lado, por que não estava no camarim?
-Decidi foltarr, e avaliarr melhorr o campo.É pem grrande non?-Respondeu Krum olhando para o campo à sua volta, não demonstrando tanto interesse assim.Zograf pareceu desconfiado.
-Você estava é se escondendo das suas fãs, que foram fazer uma visita à você no camarim, não é?-Krum olhou abobado para seu capitão, e então confessou:
-É isso sim, mas non fique comentando com os outrros, senon ele von caçoarr de mim, de novo.
-Certo, mas você é muito bobo Vítor.Não deveria deixar a timidez o vencer desta maneira.-Aconselhou Zograf, agora caminhando pelo estádio iluminado somente pelas letras douradas do imenço quadro negro que agora dizia:‘‘Diabinhos de Pimenta, no frio ou no calor, ele esquenta!’’
-É como aprender a montar em uma vassoura, você se acostuma aos tombos e acaba aprendendo.-Insistiu Zograf, vendo que Krum continuava em silêncio.
-Non querro que fãs me rodeon!Só querro paz.Isso é muito chato Zack!-Exclamou Krum com impaciência.
-Vítor, você é famoso!Devia aproveitar o máximo disto.-Disse Zograf animadamente, e sua voz ecoando no estádio vazio.-Se suas fãs descobriram onde é o seu camarim, curta elas meu amigo!-Disse Zograf.
-Elas son enxirridas!Porr que non ficar no acampamen, com os outrros torrcedorres, ao invés, de prrocurrarem os camarrins dos jogadorres?-Perguntou Krum aborrecido.
-Ah.-Fez Zograf rindo.-Eu teria ficado muito contente, se elas estivessem encontrado o meu camarim primeiro.-Zograf riu, mas parou no momento em que viu a expressão carrancuda de Krum.-É melhor você voltar para o camarim e descansar.Eu deixo você ficar no meu.-Acrescentou rapidamente Zograf.
Enqüanto Krum sobrevoava as arquibancadas em silêncio, com Zograf ao seu lado, ele pensava se deveria tomar uma atitude em relação as suas fãs, ou continuar introvertido, porém seguro de si.Além da charneca, onde ficava o gigantesco acampamento e do estádio dourado de quadribol, só podia se ver as copas das árvores.Quando elas foram substituídas por um lago imenço, Krum pôde ver bem no seu centro, o que parecia uma mansão vermelha, e em um mastro ao seu lado, onde tremulava a bandeira da Bulgária.Era uma ilha, não muito longe do estágio. Krum começou a inclinar o corpo para frente, e a vassoura o obedeceu.Quando pisaram no chão de grama, uma mulher alta, mas muito magra, de cabelos curtos e ruivos foi ao seu encontro.
-Eva!-Disse Krum, no momento que Zograf pousava ao seu lado.
-Vejo, que focê o encontrrou Zack.-Disse Ivanova sorrindo para Zograf.-Suas fãs son pem insistentes eim Vítor!-Brincou Eva, ainda sorrindo.-Levei uns dez minutos parra confencê-las a desaparratar de volta parra o acampamen.-Krum olhou para Ivanova, como se desejasse que ela não estivesse dito a palavra ‘‘fãs’’, então entrou na mansão vermelha, e sumiu no seu interior.
-O quê deu nele Zack?-Perguntou Ivanova com ar de preocupação.
-Nada.-Respondeu lealmente.-É só nervosismo do jogo.-E dizendo isso, Zograf também some no interior da mansão vermelha, deixando Ivanova pregada no chão, sem entender nada.

-Senhoras e senhores... bem-vindos!Bem vindos à final da quadricentésima vigésima segunda Copa Mundial de Quadribol!-Bradou o comentarista do jogo, Ludo Bagman, com a voz magicamente ampliada, de dentro do camarote de honra.No interior de um grande corredor, abaixo das arquibancadas, as cem Veela e o time da Bulgária aguardavam Bagman os anunciarem.Todos com os equipamentos e vassouras.De repente a voz de Ludo soa dentro do corredor, anunciando os mascotes do time da Bulgária, e as veela saem decididas pelos portões que levam ao estádio e as arquibancadas abarrotadas com cem mil bruxos e bruxas; deixando somente no corredor frio e mal iluminado, o time da Bulgária.
Vítor Krum tremia mais do que qualquer jogador ali presente.Logo depois que a voz mágica de Ludo anunciar os mascotes da Irlanda, que nesta hora, se encontrava do lado oposto do time da Bulgária, sua voz voltou a ecoar pelo estádio.
-E agora, senhoras e senhores, vamos dar as boas vindas... ao time nacional de quadribol da Bulgária!Apresentando por ordem de entrada... Dimitrov!-O artilheiro à esquerda de Ivanova montou rapidamente em sua Nímbus 2001, e ainda mais rapidamente, saiu pelo portão que levava ao estádio barulhento.
-Ivanova!-A artilheira saiu exatamente igual ao Dimitrov, resumidamente, voou para o campo.
-Zograf!Levski!Vulchanov!Volkov!Eeeeeeeee... Krum!-Era a hora, não iria decepcionar seu time e seus torcedores, iria pegar o pomo quando o time estivesse em uma vantagem de cinqüenta pontos, como Zograf o mandou...
-Vítor, vamos!-Gritou Zograf, ao ver Krum pensativo na hora mais desapropriada para se fazer isso.Krum assustou-se e montou a vassoura, disparando atrás de Volkov, para dentro do campo.
A ovação dos torcedores era de arrebentar os tímpanos, até os torcedores de verde aplaudiam e berravam o seu nome junto com os torcedores banhados de vermelho.Krum sobrevoou o campo e parou em seu centro, um pouco mais acima do resto do seu time.Mal a algazarra dos torcedores da Bulgária cessou, e Bagman já berrava novamente.
-E agora vamos saldar... o time de quadribol da Irlanda!-Bagman anunciou os nomes dos jogadores da Irlanda e sete borrões verdes entraram velozes no campo, sobrevoaram as arquibancadas, acompanhados pelos urros e aplausos da torcida de verde e pararam no centro do estádio oval, igual ao time búlgaro, formando uma circunferência; os apanhadores Lynch e Krum, um pouco acima de seus times.
-E conosco, das terras distantes do Egito, o nosso juiz, o famoso bruxo-presidente da Associação Internacional de Quadribol, Hassan Mostafá!-Krum viu um bruxo miúdo, magro e completamente careca, entrar no campo, trazendo em uma de suas mãos, sua vassoura, e na outra, uma grande caixa de madeira.Krum, assim como todo o estádio, olhava atentamente Mostafá montar em sua vassoura, e com um chute, abrir a caixa de madeira.Quatro bolas se projetaram no ar, assim que o juiz apitou.
-COOOOOOOOOOOMEÇOU a partida!-Berrou Bagman.
Neste exato momento, Krum não escutou mais nada; não porque a platéia estivesse em total silêncio, mas a sua total concentração em ficar de olho no pomo, em Lynch e nos balaços atirados pelos batedores irlandeses, requeria muito esforço mental.Passado algum tempinho, Krum ouviu um silvo do apito de Mostafá, e mais a voz de Bagman.
-GOY DE TROY!-A torcida de verde tornou a rachar os tímpanos do apanhador.Os mascotes da Irlanda, os leprechauns, que assistiam a partida na terminação do campo, tinham novamente levantado vôo e formavam um grande trevo verde refulgente.Na outra extremidade, as veela assistiram a essa exibição em silêncio.
O jogo transcorreu, e aos longos dez minutos, o imenço quadro negro informava: Bulgária 0, Irlanda 30.Os batedores de seu time, Volkov e Vulchanov, atiravam balaços fortemente contra os artilheiros irlandeses.Krum viu de relance, Ivanova driblar o goleiro Ryan, e marcar o primeiro gol da Bulgária, fazendo as veela saltarem do banco, e recomeçarem a dançar, comemorando o lance.Lynch seguia Krum de perto, então, uma idéia radiante veio em sua cabeça.Krum deu uma rasante, Lynch o acompanhou, como previsto.Cem mil bruxos e bruxas tamparam a respiração.Lynch e Krum estavam em uma velocidade tremendamente perigosa, então, por um breve momento, Krum ouviu uma voz de alguma garota da platéia quebrar o silencio do estádio.
-Eles vão colidir!-Se concentrando o máximo que pôde, ignorando a curiosidade de saber quem gritara em meio as silêncio modorrento das arquibancadas, Krum conseguiu recuperar-se do mergulho, no último instante, ao mesmo tempo que Lynch se estatelava no chão.
-Tempo!-Gritou Bagman, e Zograf encontrou os olhos de Krum, que acenou com o polegar.
-Boa finta de Wronski, Vítor!-Elogiou Zograf baixinho.Rapidamente, Krum começou a voar em círculos, à procura do pomo, sem interferência, trinta metros de altura, de onde os medibruxos tentavam reanimar Lynch.
Para o alívio dos torcedores Irlandeses, Lynch se recuperara e já estava de volta no ar, desta vez longe de Krum.Decorrido mais quinze minutos, a Irlanda acumulara uma vantagem de cento e trinta gols à dez.Zograf deu uma forte batida com o cotovelo em Mullet, e o juiz o repreendeu, foi a primeira falta do jogo.Como conseqüência deste ato bruto, os leprechauns dispararam furiosos para o ar e formaram as palavras HÁ!HÁ!HÁ!.Foi uma grande confusão, Krum não podia se distrair com os berros de indignação dos torcedores irlandeses, mas sabia que os mascotes dos times estavam brigando, pois agora voavam pelo campo, bolas de fogo, o que só podia ser obras das veela.Se passara mais cinco minutos, e a Bulgária acumulara mais três faltas.Os guinchos dos terríveis pássaros, que antes eram as belas veela, enchiam o estádio, abafando a gritaria alegre da torcida irlandesa, devido aos três gols cobrados com sucesso.De repente, Krum havistou um balaço, arremessado pelo batedor irlandês, Quigley, indo em sua direção, mas não conseguiu se abaixar com suficiente rapidez, atingindo-o no rosto.Ouviu-se um lamento escurecedor da multidão; Krum sentiu o sangue jorrar quente do seu nariz, e uma dor insuportável no local atingido.Mostafá não apitou, estava tendo um violenta discussão com uma veela, que atirou uma bola de fogo na cauda de sua vassoura.
Resistindo a dor rasgante de seu nariz quebrado e ensangüentado, Krum continuou à procura do pomo.Agora que o time estava cento e sessenta pontos atrás, tinha que terminar o jogo, acabar rapidamente, antes que perdessem mais pontos.Seu time não ia se recuperar.De repente, a torcida irlandesa se levantou como uma grande onda verde, observando Lynch descer rapidamente pelo estádio; então compreendeu.Krum virou a sua vassoura, e deu mais uma rasante, atrás de Lynch, o sangue espirrando em seu rosto, à medida que descia mais depressa, conseguindo ver um brilho dourado, era realmente o pomo!Agora os dois apanhadores disparavam para o chão, iriam colidir, Krum esticou a mão para a minúscula bolinha, seu nariz latejando em protesto, o sangue saído tanto, que Krum já estava se sentindo fraco...ele sentiu as asinhas batendo na ponta de seus dedos, então, com um puxão, agarrou a sua asa, justo na hora que mais uma vez se salvara no exato momento do impacto no gramado, e mais uma vez, Lynch estatelava no chão, sendo pisoteado por uma horda de veela enraivecidas.Então, suavemente, Krum, com as vestes tintas de sangue, voou para mais alto, erguendo o punho, enraivecido, para que ficasse visível o brilho de ouro em sua mão.O placar piscou no alto do estádio BÚLGARIA: 160; IRLANDA: 170.Lentamente, a torcida da Irlanda começou a urrar de alegria.
-VENCE A IRLANDA!-Gritou Bagman surpreso.-KRUM CAPTURA O POMO-MAS VENCE A IRLANDA; Deus do céu, acho que nenhum de nós esperava uma coisa dessas!
Depois de Krum ter se livrado do enxame de medibruxos; junto com os jogadores da Bulgária, foram para o camarote de honra.Um a um, os jogadores búlgaros, apertaram as mãos de seu ministro, e de Fudge.Krum, que foi o último da fila, apressou-se para apertar a mão do ministro da Bulgária.Quando o seu nome foi anunciado por Bagman, foi recebido, mais uma vez, por gritos e palmas de furar os tímpanos do estádio inteiro.
Quando foi apertar a mão de Fudge, Krum viu, por um olhar de esguelha, uma menina, na primeira fila de cadeiras.Era uma menina de cabelos fofos e crespos, aparentava ter uns quatorze anos de idade, e tinha um olhar penetrante, nada combinativo com seu rosto expressando pavor logo que os dois se encararam.Krum desviou à sua atenção, novamente para Fudge, e percebeu que o pomo ainda se debatia em sua mão.Antes de sair com o resto do time, para a mansão, Krum olhou de novo, rapidamente para a garota, mas esta, agora sorria, revelando os seus dentes da frente um tanto grandes.Ele olhou para o que ela achava graça, e viu dois rapazes ruivos, idênticos, com as mãos estendidas em frente ao comentarista.

Vítor Krum, assim que pôs os pés na escada do camarote, até chegar em seu camarim, na mansão vermelha, não pensou em outra coisa, a não ser em se deitar para parar de pensar no que ocorrera no estádio.Seu nariz, agora estava intacto, porém continuava adunco, suas vestes do jogo estavam jogadas em cima de uma cadeira de madeira, forrada com uma almofadinha vermelha e dourada, e o pomo sobrevoava a sua cabeça, no imenço quarto com as paredes forradas de carpete púrpura, e o chão, com carpete bonina.Havia uma porta em frente à cama de molas, feita de madeira, cor-de-canela, que levava ao corredor do último andar da mansão, e uma outra porta à esquerda, que levava ao banheiro impecável.Krum pegou as vestes de quadribol, que agora estavam limpas do sangue de seu nariz, e colocou-as cuidadosamente dentro de uma armário, também cor-de-canela.
-Vítor?Posso entrar?-Krum reconheceu a voz do capitão do seu time, Zograf, na porta em frente à cama.
-Sim, clarro.-Disse Krum, fechando as portas do armário.Zograf entrou, vestindo uma bermuda, e uma camiseta brancas.Ele se sentou na cadeira forrada com a almofadinha, e encarou seu amigo por algum tempo.
-E aí...como está se sentindo?Melhor?-Perguntou Zograf.
-Sim.-Respondeu Krum secamente, pegando sua varinha composta de bétula e corda de coração de dragão da mesinha ao lado de sua cama, e a guardando dentro de uma gaveta, na escrivaninha, ao lado de Zograf.
-Vítor, anime-se.Eu entendo o seu lado... pegou o pomo para salvar o nosso time da humilhação...
-Só focê pensa assim.Os outrros pensom diferrente!-Retrucou Krum, tirando a camisa com um emblema de um dragão de duas cabeças.
-Eu já conversei com o resto do time Vítor.Eles ainda estão muito abalados com a derrota.-Disse Zograf, se levantando e sentando na beira da cama de Krum.Ele permaneceu em silêncio, retirando os sapatos.
-Não é com você que eles estão com raiva...-Começou Zograf, e os dois se encararam.
-Estão é com raiva de mim, fui eu que deixei os irlandeses marcarem tantos pontos.-Disse.
-Eles te falarram icsto?-Perguntou Krum, meio sem graça.
-Não, mas é claro que pensaram em falar, mas como eu sou o capitão do time, tiveram medo.Então inconformados com a nossa ruína, decidiram colocar, então, a culpa em você, dizendo que pegou o pomo antes da hora.-Finalizou Zograf, agora, sem encarar o amigo.
-Icsto non é justo!Nem parra mim, nem parra focê.-Abalou-se Krum.-Amanã, antes de parrtirr parra casa, famos falar com eles e porr um fim necsta histórria rridícula.Temos que reconêcerr que fomos derrotados!
Zograf abriu um largo sorriso para Krum, depois se levantou e fechou a porta ao entrar no corredor escuro da mansão.Krum puxou os cobertores para si, e decidiu não pensar mais na partida, até de manhã.Ao invés de fechar os olhos, Krum ficou olhando para o teto tingido de púrpura, por onde passava, zunindo baixinho, o pomo dourado.Então veio uma imagem em sua cabeça, uma imagem de uma garota de cabelos crespos, e dentes um tanto grandes... ela sorria para ele... a garota no camarote de honra.

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