Sendo um Snape
DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.
BETA READER: BastetAzazis – muito obrigada!
A/N: Capítulo vinte e três! Nathan sente o que é ser um Snape, e Hermione quer que as reuniões de família continuem.
Capítulo 23: Sendo um Snape
Hermione saiu dos aposentos do mestre de Poções com seu autocontrole abalado. Nathan, que estivera esperando como fora pedido, interpretou mal os olhos perdidos dela como desorientação.
– Estou aqui, mãe – ele disse, aproximando-se dela.
Hermione se desligou dos pensamentos.
– Venha, querido. – Ela colocou uma mão leve entre seus ombros para guiá-lo para fora das masmorras.
Nathan deixou-se guiar, não apresentando nenhuma resistência desta vez. Desde que saíra da tão falada “reunião de família” estivera imerso em um emaranhado de novos pensamentos e sentimentos, destruindo suas suposições anteriores e alimentando sua confusão interior.
No momento em que sua mãe lhe dissera que eles estavam indo encontrar seu pai, seu coração doera e sua primeira reação fora a de ter receio. O comportamento da mãe à porta do Prof. Snape o surpreendera pela falta de cuidado. Quando o temido professor respondera às batidas insistentes da sua mãe, e ela colocara os dois para dentro, Nathan pensara que não teria jeito dos três saírem daqueles aposentos ilesos.
Ele assistira em silêncio enquanto seus pais discutiam, sem saber o que fazer. Dizer que ele ficara surpreso com o rumo que a discussão deles tomara era pouco. O jeito como sua mãe falara sobre eles serem uma família, sobre o encontro ser um novo começo para eles, atingira seu coração com força arrebatadora. Só a recusa de seu pai o lembrava do surrealismo de tudo aquilo. Quando o Prof. Snape hesitara em responder por que eles não poderiam ser uma família, a esperança de Nathan, destruída na noite que descobrira quem realmente era o seu pai, renascera, e ele desejava mais uma vez ter a família que sua mãe tão veementemente dizia que eles eram – queria que sua mãe ganhasse aquela discussão.
E quando seu pai dissera que a única razão por que a família deles nunca existiria era o ódio do Nathan pelo pai, ele teve que interferir.
Nathan suspirou no topo da escadaria que eles tinham acabado de subir até o primeiro andar. Ele fizera o Prof. Snape realmente pesar que o odiava quando, na verdade, ele não odiava. Mas naquele momento, Nathan estava tão bravo e frustrado com o homem que sentira a necessidade de gritar com ele, de transpor a barreira que o homem parecia ter ao redor de seus sentimentos. Quando deixara o Salão Principal naquele dia, Nathan não achou nada do que dissera, só aproveitara a vitória. Mas, se fosse sincero consigo mesmo, o olhar estarrecido nos olhos do seu pai o perseguira. Não, ele não odiava o Prof. Snape, mas Nathan sabia que o homem o odiava e fora o que dissera hoje.
Só para descobrir que o Prof. Snape também não o odiava.
Então o que fora todo aquele... aquele... ódio que sentira emanando do homem? Não tinha outra palavra para aquilo! E mesmo assim, seu pai dissera com todas as palavras que não o odiava. Se tudo que sua mãe contara hoje... se metade for verdade... Fatos que seu pai não negara, nenhum! Então, aquilo só poderia significar...
Ele não sabia mais o que pensar do Prof. Snape.
Nathan olhou para o rosto da mãe e pôde ver que ela também estava perdida em pensamentos. Ele raramente a vira agir como ela agira hoje, tão impetuosa e determinada. Ele se esquecera do quanto ela era forte, talvez porque ele sabia muito bem como atingi-la, como usar a vulnerabilidade dela em todas as coisas relacionadas ao seu pai. Ele sentia vergonha por usar os sentimentos dela a favor dele e baixou os olhos para observar as pedras do castelo passarem sob seus pés.
Ele tinha certeza que ela brigaria com ele por tudo que lhe dissera, por todas as acusações. Ele merecia. Ela era uma mulher tão especial, a melhor mãe que existia, e ele dissera-lhe que não precisava dela, que a odiava. O que tinha de errado com ele? Por que ele dizia que odiava as pessoas quando não odiava? Só porque estava bravo com o mundo, não significava que tinha o direito de fazer isso. Mas não soubera mais o que fazer naquele dia, e gritar acusações para ela era tudo o que tinha.
Eles alcançaram os aposentos de sua mãe, e ela usou a varinha para desarmar as proteções. A visão da mãe fazendo magia sempre impressionara Nathan, e agora não era diferente. Lembrava-o de como as coisas eram antes de Hogwarts, de como a vida era feliz e simples, mesmo sem conhecer o pai.
A visão de Nathan embaçou com lágrimas que não caíram, e a carga emocional dessas semanas, e especialmente do encontro do qual acabaram de retornar, começou a tomar conta dele. Queria a vida feliz e simples de antes, só que agora queria que seu pai fizesse parte dela. Uma família, bem como sua mãe disse.
Eles passaram pela porta e sua mãe a fechou atrás deles. Uma lágrima desceu pela bochecha sem poder ser contida. Seria possível? Será que ele teria mesmo uma família completa agora? Outra lágrima rolou seguindo a primeira.
– Nathan, existem algumas coisas que precisamos discutir, a primeira é o seu comportamento todas essas... – ela deixou as palavras no ar. – Você está chorando? – perguntou num tom bem mais brando.
Ele brigava contra as lágrimas enquanto balançava a cabeça negativamente, sem confiar em sua voz.
– Está sim – ela discordou. – O que foi, querido? – Ela tocou o rosto dele para enxugar outra lágrima teimosa.
– Eu – ele guinchou, depois tentou de novo: – Eu não sei.
Hermione segurou a parte de trás da cabeça dele com a mão direita e trouxe Nathan para seu peito, a outra mão nas costas dele, apertando-o contra si, abraçando-o.
– Acho que estas eram as últimas forças que você tinha. Sinto muito por ter que forçar este encontro, querido, mas vocês precisavam saber que estavam enganados um sobre o outro. Você entende, não é?
Nathan assentiu contra o peito dela, entrelaçando as mãos nas vestes dela.
Ela beijou a cabeça dele e o trouxe consigo para o sofá, onde os sentou e puxou Nathan para seu colo. Hermione tomou a cabeça dele nas mãos e tirou-lhe o cabelo do rosto, espalhando as lágrimas. – Estou muito orgulhosa de você por admitir que não odeia o seu pai – ela lhe disse. – Aquilo foi muito corajoso. – Ela sorriu para ele.
Nathan assentiu mais uma vez, agora mais calmo do que alguns minutos atrás. Engoliu o resto do nó na garganta e disse:
– Eu não sabia que o Prof. Snape achava que eu o odiava de verdade. Eu só estava muito irritado com ele por tudo que ele fez comigo.
– Eu sei, querido. – Hermione trouxe a cabeça dele para o ombro, e Nathan se ajeitou para recostar confortavelmente nela.
– Eu pensei que ele me odiasse – ele confessou como explicação para os seus atos.
– Agora você sabe que não – ela disse simplesmente.
Nathan assentiu novamente, e o silêncio envolveu mãe e filho, com ela acariciando e abraçando. Nathan ficou perdido em pensamentos por mais um tempo antes de decidir esclarecer outro ponto.
– Você sabe que eu não odeio você, não é, mãe? Porque eu disse que a odiava, mas não era de coração.
– Você estava bravo e frustrado, mas o que você disse doeu muito.
– Mas não era de coração – ele insistiu, olhando-a nos olhos.
– Eu sei, mas você precisa começar a escolher suas palavras com mais cuidado. Doeu muito quando você disse aquilo, mesmo sabendo que não era de coração.
– Sinto muito – ele se desculpou e a abraçou forte, enterrando o rosto no pescoço dela.
Ela suspirou e devolveu o abraço.
– Tente pensar antes de falar, ou agir, por falar nisso. Eu não sei o que você disse ou fez para o seu pai nessas últimas semanas, mas quero que saiba que ele não conhece você tão bem como eu, e qualquer coisa que você diga ou faça será levado a sério por ele – ela advertiu.
– Eu sei. Não vou dizer coisas que eu não sinto de verdade nunca mais.
– Espero que mantenha sua palavra sobre isso. Agora, pule para o sofá, você está ficando muito pesado para mim.
Nathan se assentou relutantemente no sofá, mas se recostou de volta nela, gostando demais dos carinhos para privar-se deles ainda. Enquanto ela continuava a brincar com seu cabelo, ele decidiu fazer algumas perguntas que estiveram flutuando em sua cabeça já por algum tempo.
– Se ele se importa comigo como você diz, por que ele não me procurou antes?
Hermione parou de mexer a mão, deixando o cabelo escapar por entre os dedos.
– Ele não sabia que você existia até bem recentemente – ela lhe disse honestamente.
– Mas como? – Nathan insistiu.
– Eu nunca contei que ele tinha um filho, assim como nunca lhe disse quem era o seu pai.
Isso era confuso.
– Por quê? – ele perguntou, querendo entender as razões dela.
Ela não respondeu por um tempo, mas depois começou a mexer a mão sobre sua cabeça novamente e disse:
– Quando eu descobri que estava grávida de você, eu fiquei muito feliz, mas também muito apreensiva. Não era a melhor hora para ter um filho; eu era muito jovem, seu pai tinha muito com o que se preocupar, e a guerra tinha acabado há apenas semanas. Mesmo com todas as dificuldades, eu sabia que queria você mais que qualquer coisa. Você sempre me deu forças para viver, para recomeçar depois de todos os horrores da guerra, mas eu sabia que seu pai não pensaria assim, não naquele momento.
Ela parou os carinhos de novo.
– Veja bem, ele estava sendo julgado pela participação na guerra como um Comensal da Morte, e nós estávamos reunindo evidências para atestar o papel dele como espião para a Ordem da Fênix, mesmo depois dele já ter confessado sua parte na morte de Dumbledore.
Nathan ergueu os olhos para ver a mãe perdida em pensamentos. Ela continuou:
– Severo não facilitou nosso trabalho. Ele achava que merecia pagar por tudo que fizera sob as ordens de Voldemort, quando ele realmente não tinha escolha. Ele foi absolvido, é claro, mas eu acho que levou um tempo até ele aceitar a decisão do Conselho das Leis da Magia.
– Ele queria ir para Azkaban? – Nathan perguntou sem entender direito seu pai pelo que sua mãe lhe contava.
– Queria – Hermione confirmou, olhando seriamente nos olhos de Nathan. – Na opinião dele, tudo que ele fez durante a guerra foi conseqüência das escolhas dele e só, então ele achou que era apenas justo pagar por elas ficando preso lá. Mas nós não o deixaríamos ir para Azkaban por fazer o que tinha que fazer para ajudar o Harry e a Ordem. A participação dele na guerra foi crucial, Nathan. Ele é verdadeiramente um herói, muito mais do que as pessoas dizem que eu sou... mas nem todo mundo conseguia ver isso, e ele era um deles.
Nathan baixou os olhos para o colo.
– Mas por que você não contou de mim para ele?
– Porque ele teria se culpado por isso também, teria achado que estava arruinando a minha vida por me fazer ter um filho tão nova. Eu tenho certeza que ele teria exigido que eu desistisse de você, quando tudo o que eu queria era ter você... mais que tudo na vida. – Ela pressionou os lábios contra a cabeça dele. – Não podia deixar ninguém ficar entre o meu bebê e eu, então eu escolhi não contar para ninguém, especialmente não para o Severo.
– Nem para mim – Nathan acrescentou.
– Eu tinha planos de contar para ele e para você todos os anos depois do seu primeiro aniversário, mas parecia que o momento certo nunca chegava, até que ele finalmente descobriu. Ele ficou muito bravo comigo por manter você longe dele, e eu sinto muito mesmo – ela terminou num sussurro.
Nathan fungou.
– Eu queria que você tivesse nos contado.
– Eu sinto por ter sido tão egoísta e covarde. Eu realmente achei que estava protegendo você de todo esse sofrimento pelo qual está passando agora, mas que bem isso fez? Você está sofrendo do mesmo jeito, vocês quase acabaram se odiando, e a culpa é minha. Espero que esteja em seu coração me perdoar um dia.
Nathan não disse nada. Não achava que tinha muito para dizer depois daquilo. Ele decididamente não podia dizer que a perdoava, mas também não podia dizer que não. Era muita coisa para lidar no momento, então ele não o fez. Ajudou o fato de sua mãe não parecer esperar uma decisão dele, por agora.
Sabendo que seu pai não o procurara durante todos esses anos porque nem sabia de sua existência era um alívio. Pelo menos o Prof. Snape podia ainda querer conhecê-lo, embora Nathan não pudesse ver como nem por quê. Aquilo trouxe outra pergunta para quebrar o silêncio:
– O que acontece agora?
A qual foi respondida com outra pergunta:
– O que você quer que aconteça agora?
Aquilo mandou Nathan de volta a pensar na sua nova realidade. O que ele queria? Como será ter o Prof. Snape como pai? Ele tivera um gostinho de como seria pelas reações de seus amigos à notícia.
– Tudo seria tão mais fácil se você tivesse escolhido outro professor para ser meu pai. – Ele suspirou, lembrando de como o Prof. Lupin era sempre tão bom e prestativo.
Hermione deu uma risada curta.
– Isso teria feito de você um menino completamente diferente, e eu não ia querer isso. – Ela tocou o nariz dele afetivamente com um dedo, sorrindo para ele.
– Mas faria minha vida na Grifinória mais fácil. Agora todo mundo me olha como se eu fosse me transformar no Prof. Snape a qualquer momento ou coisa assim. Não posso culpá-los. Quem iria querer ser amigo do filho do Prof. Snape?
– O Severo não vai ganhar nenhum concurso de popularidade, não é? Sinto muito que seus amigos na Grifinória não consigam ver além da rivalidade das Casas e do professor rigoroso. Pelo menos agora você vai saber quem são seus amigos de verdade.
– Acho que sim – ele concordou relutantemente.
– Mas você ainda não me disse o que quer que aconteça daqui em diante.
– Todo mundo já sabe que eu sou filho do Snape, posso então assumir que sou mesmo. – Nathan deu de ombros.
Hermione sorriu.
– Você não vai se arrepender, Nathan. Sei que você e o Severo se tornarão bons amigos. Vocês têm muito em comum. – Ela parou seu discurso entusiasmado ao ver a carranca no rosto do Nathan. – O que foi?
– Acho que eu não quero ter coisas em comum com o Prof. Snape.
– Ah, não seja bobo! Você não quer ser um bom preparador de poções? Não quer saber como duelar como ele? Ser capaz de criar novos feitiços, ser tão corajoso quanto ele...
– Ele pode vencer o Tio Harry num duelo – Nathan comentou.
– Sim, ele pode – ela concordou.
– Mas ele é sempre cruel na aula – ele contestou.
– Eu nunca disse que crueldade era algo que você deveria ter em comum com o seu pai – ela recusou seu argumento. – Você não mudou só porque sabe que o Severo é seu pai e agora vai passar mais tempo com ele. Você é um menino doce, justo e bom, na maioria das vezes, e eu espero que continue assim.
– Vou ter que passar mais tempo com ele, não vou? Vai ser como as detenções tudo de novo. – Nathan suspirou.
– Detenções são punições. Passar um tempo com o seu pai não é uma punição. O que quer que ele tenha feito você fazer nas detenções, não é o que vocês farão como pai e filho.
Fazia sentido, mas Nathan não sabia o que Snape e ele poderiam fazer juntos que não caía na categoria de punição. Não conseguia ver o Prof. Snape se divertindo de forma alguma.
– Não se preocupe tanto – sua mãe lhe disse. – Você vai ver que as coisas acontecerão naturalmente, como se vocês estivessem fazendo coisas juntos desde sempre. – Hermione então se levantou. – E falando em coisas para fazer, gostaria de se juntar a mim no laboratório? – Ela estendeu a mão.
Ele aceitou com um sorriso.
Depois de passar o resto da tarde corrigindo as redações que ele pegara em seu escritório e se atualizando com alguns periódicos de Poções, Severo tinha que deixar seus aposentos para jantar. Ele não encontrara ninguém do corpo docente desde o café da manhã daquela manhã fatídica, preferindo fazer suas refeições nos seus aposentos, mas esta noite ele compareceria ao jantar no Salão Principal. Refletindo sobre as últimas palavras da mulher nesta tarde, Severo se sentiu desafiado a encontrar Granger no jantar e deixar claro que ele não dava importância para isso.
Quando chegou lá, ele foi recebido pela diretora:
– Boa noite, Severo. É bom vê-lo. – Ela parecia esperar uma resposta que ele não deu. – Estava começando a pensar que você estava doente. Tinha considerado pedir para a Papoula lhe fazer uma visita se não aparecesse para o jantar.
Ele já estava sentado ao lado dela quando respondeu:
– Se estivesse doente, já estaria morto uma hora dessas. Eu só estava ocupado.
– Fico feliz que tenha encontrado um tempinho para se juntar a nós hoje – Lupin disse do outro lado de Minerva.
Severo ignorou o lobisomem enquanto fazia seu prato. Ele queria comer, provar para a Granger que ele não ligava para seus desafios infantis, e voltar para as masmorras, para o seu laboratório, que ela ocupara durante a tarde. O único senão era que ela ainda não estava no Salão Principal e Severo teria que esperar para ter certeza que ela o veria ali.
Ele finalmente tirou os olhos do prato para observar o salão enquanto bebia do cálice. A primeira coisa que notou foi a ausência do Nathan. Ele deve estar com ela – Severo percebeu.
E não estava enganado; lá estava ele, andando ao lado da mãe, atravessando o portal da entrada principal. Eles falavam animadamente enquanto ela o levava para um lugar ao lado de Wood. A normalidade do comportamento deles depois de tudo que acontecera era estranhamente tranqüilizante para ele; Severo estivera preocupado com o Nathan desde o encontro deles, mesmo que não quisesse admitir.
Hermione encontrou os olhos dele neles, e permaneceram nela enquanto tomava seu caminho para a Mesa Principal. Só quando ela assentiu, sorrindo, foi que Severo se tocou do que estava fazendo e bufou. Minerva percebeu.
– Como o menino está se saindo? Você já falou com eles? – ela perguntou.
– Sim, não que isso lhe diga respeito, Minerva – ele tentou dispensá-la.
– Ele me lembra você na idade dele – ela acrescentou sociavelmente, ignorando a resposta rude.
– Ele não se parece nem um pouco comigo – ele respondeu franzindo a testa para o prato.
– Ele tem muito da Hermione, também, é claro. É um grifinório, para começar.
– Ah, então esta é a razão de toda esta conversinha fiada – ele concluiu. – O diretor da Sonserina tem um filho grifinório. Estou chocado que a notícia não tenha chegado ao Profeta ainda, ela mudaria o modo como o mundo bruxo vive, tenho certeza.
O silêncio de Minerva depois de sua tirada sarcástica pediu sua atenção. Ele olhou na direção dela a tempo de ver a Granger conversando com o Lupin. Ela era só sorrisos e até tocava o ombro dele enquanto falava. É claro que Lupin se derretia em sorrisos para ela também. Repugnante – ele pensou, mas só por ciúme. Como ela podia agir como se nada tivesse mudado? Ou pior, como se as coisas tivessem melhorado em dez vezes agora que o mundo sabia que ela tivera algum tipo de associação com ele? Ele quase nem tirara os olhos do prato, e ela era só sorrisos e conversa animada. Repugnante.
Ele fez questão de ignorá-la, comendo rápido. Granger trocou mais palavras agradáveis com a Minerva. Isso aqui por um acaso é o chá das cinco? – ele a corrigiu mentalmente. Minerva pediu a Granger que se juntasse a ela para o chá no dia seguinte, seguindo seu pensamento, e Severo sorriu com malícia dentro do cálice.
Então ela fez o impensável: tomou o lugar à sua esquerda.
– Vejo que veio jantar – Granger disse, acomodando-se para desfrutar da refeição.
E ela já está me irritando.
– Eu janto aqui de tempos em tempos. – Ele segurou firme o impulso de revirar os olhos.
Ela ficou quieta enquanto fazia o prato, deixando-o mais irritado.
– Nathan está se sentindo bem melhor depois do nosso primeiro encontro. Passamos a tarde no laboratório juntos como fazíamos antes – ela finamente lhe disse.
Severo tirou seus olhos da mesa para procurar o filho. Nathan estava comendo calmamente, aparentemente deixado de fora da conversa que acontecia ao seu redor. Enquanto observava, somente Wood havia dirigido algumas palavras ao menino – palavras respondidas com apenas um aceno de cabeça silencioso. Severo franziu a testa.
– Ele está se adaptando – veio a voz da mulher, e ele olhou para ela para ver que ela também tinha a atenção em Nathan. – Eles estão se adaptando – ela retificou. – A vida logo voltará ao normal.
Severo duvidava disso.
– Ele será sempre julgado por associação a mim.
– Ele está sendo testado, não julgado, Severo. Ele tem que provar que não mudou porque agora eles sabem que você é o pai dele. Não vai demorar muito, agora que as coisas estão melhores entre vocês dois.
Ele ainda não acreditava nela, mas não discutiria isso no Salão Principal; Minerva já estava prestando mais atenção neles do que na comida. Granger ficou abençoadamente quieta depois da falta de argumentos, embora fosse uma pena não ter durado muito.
– Quando você acha que nós podemos nos encontrar de novo, nós três? – ela perguntou.
Severo suspirou e desistiu da sobremesa.
– Você sabe que teremos que nos encontrar regularmente, não sabe? – Ela estava levantando uma sobrancelha para ele, aquela mulher impossível. – Já que estou aqui todos os finais de semana, poderíamos agendar algo para os domingos, se estiver tudo bem para você.
Ele desviou os olhos dos dela para observar seu filho claramente brincando com a comida no prato. Levou um bom tempo, mas Severo assentiu que concordava.
– Faria bem para ele se vocês se encontrassem sem mim pelo menos uma vez por semana, também – ela acrescentou, agora também observando Nathan. Ela então olhou especulativamente para ele, provavelmente esperando que ele recusasse. Seus olhos se encontraram e ele os sustentou. Ele podia ver a expressão dela mudando, abrandando, mas nunca enfraquecendo. Olhos tão bonitos...
– Podemos discutir isso mais tarde no meu escritório – ele se pegou convidando. Os olhos de Severo deixaram os dela, procurando a mesa. Ele ficou desconfortável com o momento e se levantou para sair.
– Logo estarei com você – ela lhe disse.
Ele culpou sua mente traiçoeira por ver mais significado na resposta dela do que realmente havia, e sua expressão ficou mais dura.
O aceno de cabeça de Severo foi tão rígido que Hermione o perderia se já não estivesse encarando seu rosto angular. Estivera perdida nos olhos dele por um momento; estava sempre fascinada com o fato deles serem impossivelmente negros. Voltou para o seu jantar, mas sua mente continuou no homem que deixava o Salão Principal. A escuridão dos olhos dele era similar, mas ao mesmo tempo completamente diferente, da dos de Nathan. Hermione imaginava se era por causa da experiência, da falta de inocência impregnada no olhar de Severo; imaginava se aqueles olhos um dia já foram como os do filho deles.
*-*-*-*
Nathan era sempre reservado, mas nunca tímido. Desde ontem, no entanto, ele não conseguia olhar nos olhos das pessoas, com medo de como elas o olhariam de volta, como agora. Tamanho contraste com o tempo prazeroso que passara com sua mãe até que ela o deixara na mesa da Grifinória. Agora ele estava sozinho novamente com seus colegas, que estavam decididamente o ignorando. Bem, nem todos; Andy tentava puxar conversa, mas Nathan não se sentia confortável o bastante para realmente se deixar levar. Ele sabia que Andy estava chutando Kevin por baixo da mesa; não era bobo.
Nathan tentou comer para ver se isso diminuiria o desconforto do momento. Manteve a atenção no prato, mas a percepção daqueles olhando para ele era muito pesada, e assim se tornou a comida. Ele assentia vez ou outra para o que Andy dizia e fingia estar comendo até que estivesse livre para ir para o dormitório. A única coisa que o prendia no Salão Principal eram os olhos atentos da sua mãe na Mesa Principal. Nathan lhe prometera que não evitaria os amigos, então tinha que ficar.
Seu pai também estivera observando-o. O que ele estaria pensando? Sua mãe estava falando com ele, sem dúvida, sobre a situação deles. Nathan franziu a testa com a idéia de ser um problema a ser resolvido. Ainda bem que seus amigos se levantaram para sair, assim ele não teria que pensar nisso.
Ele os seguiu. Literalmente. Nathan ficou para trás, preferindo andar sozinho.
Bem, não tão sozinho como ele preferiria. Um grupo de sonserinos logo o alcançou na saída do Salão Principal.
– Olha se não é o novo Snape – comentou um deles. – Um grifinório é o filho do diretor da Sonserina. Quem diria? Irônico, não acham? – O menino riu com desprezo.
Nathan o ignorou.
Mas um no grupo deles não.
– Não, porque ele não é filho do Snape.
Aquilo era mais difícil de ignorar, especialmente porque ele reconhecia aquela voz, mas Nathan continuou andando.
– Olhem para ele. É um bebê fraco e chorão que vai correndo para a mãe e para o Harry Potter quando precisa de alguma coisa. Patético! O filho do Snape nunca seria assim – Malfoy continuou.
Nathan parou e virou-se para eles, olhando Malfoy nos olhos. O sonserino sorriu com malícia, erguendo o queixo desafiadoramente. Os outros olhavam para Nathan especulativamente. Ninguém sabia o que teria acontecido se Andy não tivesse aparecido para puxar Nathan pelo braço, para longe dos sonserinos.
– Não dê atenção a eles – Andy disse no meio das escadas que levavam ao primeiro andar. Nathan ainda encarava Malfoy, que também não tinha recuado. – Você sabe que ele não vale nada.
Nathan finalmente olhou para frente e fez como Andy pedia. Não sabia o que o irritara mais: o Malfoy o chamando de fraco e chorão ou duvidando da legitimidade dele ser filho do Snape. Ele queria rosnar de frustração.
– Por que você ainda não está falando comigo? – Andy perguntou, fazendo Nathan colocar as palavras de Malfoy de lado.
– Eu não estou não falando com você, Andy.
Eles andaram em silêncio enquanto continuaram atravessando os corredores e subindo outro lance de escadas.
– Você não está falando comigo – Andy disse novamente.
Nathan suspirou.
– O que você quer que eu diga? Que está frio lá fora? Que a tarefa do Prof. Binns é chata? – perguntou, irritado. – Eu não tenho nada para dizer!
– Você falou com o Snape? – Andy perguntou, um tom cuidadoso na voz.
– Sim – Nathan respondeu, emburrado. Um tempo depois, acrescentou: – Mais ou menos.
– E...? – Quando Nathan não completou, Andy fez a pergunta: – O que ele disse?
Foram tão poucas palavras do seu pai para ele na reunião...
– Ele me disse para não explodir caldeirões e não gritar com ele – Nathan se limitou a dizer.
– Isso parece coisa do Snape – Andy assentiu seriamente. – E o que você disse?
– Que não ia mais fazer isso.
Andy assentiu novamente.
– Resposta inteligente.
Nathan revirou os olhos, mas se sentiu melhor por contar ao Andy essas coisas sobre o Snape como seu pai. Talvez sua mãe estivesse certa e isso tudo serviria para saber quem seus verdadeiros amigos eram. Andy era definitivamente um deles.
– Entre – ele chamou.
Hermione entrou silenciosamente, fechando a porta atrás de si. Aproximou-se da mesa e tomou a cadeira de frente para ela. E esperou.
Ele esperou.
Ela suspirou.
– Como você quer proceder com as reuniões semanais? – ela perguntou finalmente.
– Se é inevitável, aos domingos está bom.
– Pensei que isso já estivesse acertado durante o jantar. E você e o Nathan? – ela inquiriu.
– Acho que posso arranjar tempo nas quartas-feiras depois do jantar, se não houver nenhuma detenção para supervisionar.
– Nathan está com medo que o tempo de vocês juntos seja como uma detenção – ela lembrou divertida. Ficou séria. – Não será, certo?
Ele ocupou as mãos em rearranjar pergaminhos já ordenados.
– Para começar, eu não acho que vocês devam se reunir aqui no seu escritório. Acho que os seus aposentos seriam mais apropriados – ela sugeriu. – Isso pode ajudá-lo a entender as diferenças entre o pai e o professor.
Ele assentiu.
– Como você pretende usar esse tempo juntos? – ela perguntou em seguida.
– Pensei que nos reunir sem você significasse ter a minha própria programação. – Ele ergueu uma sobrancelha.
Severo podia ver que ela queria revirar os olhos, mas estava se segurando impressionantemente. Ele queria rir dela.
– Acho que isso deixa muito pouco para discutir, a não ser que queira falar do clima – ela lhe disse, visivelmente irritada.
Ele então sorriu com malicia.
– Na verdade, tem algo mais que precisamos discutir. Depois do circo que o Profeta armou, houve um aumento no volume de correspondência. Preciso que descubra se ele recebeu qualquer coisa que deva saber. Skeeter teve muita consideração ao colocá-lo na mira dos meus inimigos.
– Acho que ele teria dito a alguém sobre qualquer ameaça, mas não custaria perguntar. Tenho certeza que pode acrescentar isso à sua programação, Severo. – Ela curvou a cabeça como se ele não reconhecesse uma retaliação quando a via.
– Tudo bem – ele lhe disse, sem querer conceder-lhe a vitória. – Eu mesmo pergunto.
Ela sorriu.
E continuou sorrindo, observando-o. Ele queria perguntar por que ela sorria, mas não precisou. Já sabia que ela ficava feliz com a menor das coisas. Severo gostava do sorriso dela mesmo assim.
– O que você planeja para domingo? – ele lhe perguntou.
O sorriso dela cresceu antes dela discorrer sobre seus planos para as reuniões agendadas. Ela queria que eles jantassem toda semana, só os três. Ao olhar cético dele, ela falou sobre como as famílias conversavam sobre seus dias – ou no caso deles, semanas – durante as refeições. Severo poderia ter argumentado que eles não eram uma família comum, mas decidiu que jantar com a Granger uma vez por semana era algo que ele já fazia independente disso. A única mudança seria o local e a adição do Nathan.
– Eu concordo – ele lhe disse.
– Ótimo. Podemos nos encontrar nos seus aposentos às cinco. – Ela sorriu novamente. – Estou ansiosa por isso.
Por que ela estaria? Ela procura o sofrimento – pensou.
– Se é o que diz – ele disse já imaginado o quanto a noite seria desconfortável. – Estarei lá. – Tomou um pergaminho da mesa, esperando que isso fosse suficiente para dispensá-la.
– Está acertado, então. – Ela se levantou para sair. – Vejo você no café da manhã.
– Sabe que sim – ele respondeu.
Ele teve a impressão de que ela hesitara ao sair depois daquelas palavras, mas não podia saber com certeza. Severo não havia olhado para cima depois de dizê-las.
Depois de decidir que seria quem ele era independente do que as pessoas pensavam, Nathan se sentia mais confiante naquela manhã de sábado. Aceitara o convite do Andy para tomar café da manhã e estavam indo para o Salão Principal. Kevin estava com eles, mas parecia contrariado. Bem, pior para ele – Nathan pensou, mas intimamente estava triste com isso.
Olhos anônimos continuavam a segui-lo, Nathan podia percebê-los, mas não se sentia mais tão intimidado. Andy não parecia se importar, então por que ele se importaria? Foram para a mesa da Grifinória falando sobre a tarefa de Transfiguração. Aparentemente, Andy sentira tanto sua falta que até lição de casa era algo que ele estava disposto a discutir tão cedo num final de semana.
Nathan viu sua mãe já tomando café da manhã, sentada ao lado do seu pai. Ela sorriu para ele quando o surpreendeu olhando; o Prof. Snape apenas devolveu o olhar, sem mudar sua expressão entediada de sempre. Bem, Nathan achou que era apenas condizente, já que o Prof. Snape nunca mudara seu modo de agir todo esse tempo.
Eles tomaram seus lugares e começaram a se servir. Kevin não falara uma palavra ainda, mas Nathan não deixava transparecer sua inquietação com aquilo. Ele agia como se aquele jornal nunca tivesse chegado e conversava animadamente com Andy. Isso até a conversa se tornar difícil pelo som das corujas invadindo o salão.
Muitas das aves foram diretamente para onde Nathan estava, soltando cartas sobre seu café da manhã. Outras tantas foram para a Mesa Principal, em direção aos seus pais, mas ele não estava prestando atenção nelas. Desde aquela única edição do Profeta Diário, a quantidade de correspondência de Nathan aumentara consideravelmente.
– Isso é muita carta! – Andy observou.
– Tem sido assim desde aquela história sobre mim no Profeta Diário – Nathan lhe disse. – Parece que agora eu sou uma celebridade. – Ele riu. Andy também.
– Pedem autógrafos? – Andy brincou.
– Uma ou outra sim – Nathan respondeu seriamente.
Os olhos do Andy se arregalaram.
– O que as outras dizem? – ele quis saber então.
– A maioria diz como estão com pena de mim. Outras dizem que eu não devo acreditar no que o artigo diz, que meu pai verdadeiro é o tio Harry – Nathan revirou os olhos –, e algumas delas dizem que estão felizes por mim – terminou.
– Os mesmos que pediram autógrafos – Kevin disse, quebrando seu silêncio auto-imposto.
Quando Nathan ia responder aquilo, um pacote caiu entre eles.
– Este estava atrasado – Andy ressaltou, segurando o copo que estaria onde o pacote caiu apenas alguns momentos atrás se ele não o tivesse tirado antes. – É para você, Nathan.
Quando Nathan levou a mão para pegar a caixa e examiná-la, uma mão maior veio do nada e tirou o pacote dali. Nathan estava tão desconsertado que nem pensou antes de se virar para encarar o ladrão e dizer:
– Ei! Isso é meu!
Seu pai ergueu uma sobrancelha para ele. Os olhos de Nathan se arregalaram por um breve momento antes de se estreitarem.
– Vou levar as cartas, também – Snape disse estendendo a mão livre, com a palma para cima, esperando.
– Elas são para mim – Nathan disse calmamente para a mão do seu pai.
Eles ficaram quietos, sem se mover, numa guerra de paciência e teimosia. Todos os alunos os observavam atentos. Snape cansou-se de esperar e tomou as cartas da mesa, resmungando consigo mesmo algo que Nathan não conseguiu entender. Esta manobra não deveria ter sido inesperada, mas Nathan ficou sem saber o que fazer mesmo assim. Levou um tempo até reagir.
– Senhor – Nathan chamou, deixando seu lugar para seguir o homem, que estava agora se aproximando rapidamente da Mesa Principal.
Snape não parou.
– Professor – chamou novamente, irritado, apressando o passo para alcançar o pai.
Snape finalmente parou e se virou para ele.
– Por que está levando minhas cartas? – Nathan perguntou, parando à frente dele.
– Você conhece alguma destas pessoas? – o Prof. Snape perguntou de volta, abanando as cartas na mão.
– Eu não sei, professor. Você as roubou antes que pudesse ler de quem elas eram. – Nathan olhou feio para ele. Seu pai estava impassível. – E se eu não conheço? Elas ainda estão endereçadas a mim – tentou novamente.
– Elas ainda estão confiscadas. De agora em diante você não abrirá nenhuma correspondência de fontes desconhecidas. Agora, volte para o seu lugar, Sr. Granger.
– Mas... – o argumento de Nathan morreu quando ele olhou para a pose ameaçadora do pai, braços cruzados segurando o pacote e as cartas. Não havia discussão, como Nathan já deveria saber. Virou-se e voltou para a mesa da Grifinória, ventando de raiva.
– Quem ele pensa que é para pegar as minhas cartas? – Nathan murmurou consigo mesmo, sentando-se ao lado de Andy novamente.
– Seu pai – o menino lhe respondeu.
Nathan disparou-lhe um olhar mortífero. Andy desviou os olhos dos de Nathan e começou a comer em silêncio.
– Ele não pode vir aqui e confiscar minhas cartas! – Nathan protestou, sem conseguir ficar quieto depois de uma coisa daquelas. – Elas eram para mim, não para ele! – Mordeu ferozmente um pedaço de torrada e pegou Kevin encarando-o. – O que foi? – disparou.
Na Mesa Principal, mais alguém estava encarando, e não o Nathan. Hermione tentava entender o que acabara de acontecer, olhando atentamente para Severo.
– Está boquiaberta, Granger – ele lhe disse, colocando as cartas e o pacote próximos ao prato e retomando seu lugar.
Ela fechou a boca e estreitou os olhos.
– O que você acabou de fazer?
– Você disse que eu devia cuidar do problema da correspondência. Estou cuidando dele.
– Você disse que ia falar com ele sobre isso, Severo. Eu não vi muita conversa acontecendo – ela ressaltou.
– Se você não gostou de como eu cuidei disso, deveria ter feito você mesma – ele retrucou, comendo ovos mexidos como se não tivesse nada errado, perdendo o revirar de olhos dela.
Hermione pegou a pilha de cartas do lado do prato dele. Ele as agarrou para prevenir que ela as pegasse, e eles travaram olhares. Ela esperava que seu olhar mostrasse sua falta de tolerância com essa disputa infantil. Talvez tivesse funcionado, porque ele as soltou com um suspiro.
Ela olhou as cartas, lendo os nomes nelas. Parou repentinamente e tirou uma carta da pilha, balançando a cabeça, visivelmente irritada. Quando terminara, ela o ouviu dizer:
– Satisfeita?
– Tinha uma carta do Harry no meio delas, mas eu não espero que você saiba disso. Não que você tenha olhado ou perguntado antes de tomá-las.
– Como você sabe que não há nenhum mal nessa carta? – ele perguntou erguendo uma sobrancelha.
– Ora, por favor! – Ela se levantou, levando a carta em questão com ela. Passou por ele no caminho de saída e estava certa de tê-lo ouvido rir furtivamente. Ele acha engraçado, é? Hermione não estava achando graça.
Ela foi até Nathan e cumprimentou os amigos dele.
– Tinha uma carta do Harry para você – ela disse ao filho. – Eu não acho que o Severo tenha explicado por que ele estava levando as cartas, explicou?
– Não – Nathan respondeu, visivelmente irritado, pegando a carta da mão dela.
– É para a sua segurança – ela explicou. – Nós conversaremos mais sobre isso mais tarde ou mesmo amanhã, durante o jantar de família.
– Jantar de família? – Nathan perguntou.
– Sim. Todos os domingos nós jantaremos juntos. Você pode me procurar no laboratório e eu explicarei tudo para você.
Ela o beijou na cabeça e deixou o Salão Principal.
– Ótimo – Nathan resmungou abrindo a carta do padrinho.
Nathan não usava uniforme quando encontrou a mãe nos aposentos dela no terceiro andar. Eles concordaram que ele se vestiria casualmente para os jantares. Nathan não podia entender por que vestir jeans, camiseta e suéter faria alguma diferença, mas parecia importante para ela.
Hermione esperava à porta também usando roupas casuais; o vestido carmesim que ela gostava para ir ao cinema e um casaco que parecia vestes de bruxo. Ela o recebeu com um sorriso acolhedor.
– Pronto? – ela perguntou.
– Sim – ele respondeu, tentando ignorar o desconforto no estômago.
– Não está usando o colar? – ela perguntou em seguida, ajeitando a gola da camiseta e do suéter para que ficassem alinhados.
– Não – ele disse calmamente. Vendo o olhar que sempre precedia uma discussão longa, acrescentou: – Ele está comigo. Quero saber como ele funciona exatamente antes de usá-lo de novo.
– Muito bem – ela concedeu –, contanto que esteja disposto a ouvir as razões dele.
Sua mãe dissera-lhe que o Prof. Snape queria que ele usasse o colar que era seu presente de Natal novamente, o mesmo que ele havia tirado no dia que descobrira que o Snape era seu pai. Ela também explicara por que o Prof. Snape estava confiscando suas cartas, algo que o Nathan ainda achava suspeito. Esta era a mesma razão dele não ter colocado o colar ainda. Apesar da explicação da sua mãe, Nathan queria ouvi-la do Prof. Snape antes de tomar sua decisão. Parecia razoável.
Eles se dirigiram às masmorras, onde encontrariam seu pai para jantar. Nathan não se surpreendeu desta vez quando passaram pela porta do escritório do Prof. Snape e foram direto para a seguinte, a que Nathan agora sabia que era a dos aposentos dele. Sua mãe bateu e logo a porta se abriu.
– Boa tarde, Severo – ela cumprimentou e foi respondida por um assentir de cabeça pelo homem.
– Boa tarde, professor – Nathan seguiu o exemplo e recebeu um aceno de cabeça por isso também.
Snape ficou de lado, segurando a porta aberta como um convite. Eles entraram e esperaram até serem convidados a se sentar. Quando foram, Nathan tomou o lugar próximo ao da mãe no sofá, enquanto seu pai sentou-se numa poltrona ao lado, também de frente para a lareira.
Nathan olhava fixamente para o fogo, sem saber mais o que fazer. Podia sentir a tensão no ar, algo que sempre o fazia se sentir inquieto. Ir até lá trouxera a última reunião à tona de seus pensamentos, e era como passar por aquilo novamente; as coisas que foram ditas e como foram ditas.
– Você tem uma coleção impressionante de livros, Severo – sua mãe disse, finalmente. Infelizmente, ela acrescentou: – Não acha, Nathan?
Nathan tirou os olhos do fogo relutantemente e observou a sala. Duas das paredes estavam cobertas de livros do chão ao teto, algo que ele não prestara tanta atenção na última vez que estivera ali. Era uma coleção impressionante de livros.
– Sim – concordou.
Houve silêncio novamente.
– Você leu todos, Severo? – sua mãe perguntou, felizmente não para ele.
– A maioria – seu pai respondeu.
Nathan tentou captar alguma indicação do humor do Prof. Snape pela voz, mas não conseguiu. Não ajudava ter os olhos fixos nas próprias mãos ao invés do rosto dele, mas isto estava fora cogitação.
– Nós também temos mais livros do que precisamos, e eu acho que o Nathan leu a maioria deles, também. De todos que leu, qual você diria que é o seu preferido, Nathan?
Lá estava ela, perguntando para ele de novo, e uma pergunta tão difícil!
– É... – Nathan pensou. – Não conseguiria escolher um.
– Você conseguiria, Severo?
Nathan respirou fundo com a mudança de alvo da mãe. Isso era pior que prova oral!
– Não.
Aquele definitivamente foi um não irritado. Parecia que o Prof. Snape também não estava gostando do interrogatório. Nathan ouviu a mãe suspirar.
– Está bem! Vamos olhar para a lareira pelo resto da noite! – ela disse.
Nathan olhou para ela. Definitivamente aborrecida – concluiu. Tentou um olhar de relance para o pai, e ele apertava o nariz entre os olhos. Definitivamente irritado – Nathan assumiu. Olhou para o colo novamente, sentindo-se envolto no embaraço do encontro, quando se lembrou do colar no bolso. Mordeu o lábio inferior e se decidiu, pegando o objeto na mão.
– Eu trouxe o colar – anunciou calmamente.
– Era para estar usando, não carregando ele por aí – seu pai lhe disse, agora olhando para ele.
– Quero saber como ele funciona antes de usá-lo novamente.
– Ele me avisa quando você está metido em confusão – o homem disse, como se aquilo fosse explicação suficiente.
Nathan queria mais.
– Como? Eu sei que a poção mostra meu humor, mas eu não acho que isso vai me ajudar muito.
– Severo pode ver seu humor, também. Se estiver em perigo, ele saberá e será capaz de ir até você para ajudá-lo – sua mãe interveio.
– Mas como? – Nathan insistiu.
O Prof. Snape se levantou e passou por uma porta atrás de onde Nathan estava sentado. Momentos depois, ele voltou com algo na mão. Nathan não precisou perguntar.
– Este é um frasco da mesma poção que você tem no colar. Elas estão ligadas. Qualquer cor que o colar mostrar aparece aqui também. Se você se meter em confusão, eu saberei.
– Por que vocês acham que eu vou me meter em confusão? – Parecia estranho que eles estivessem pensando e falando sobre isso o tempo todo.
– Você é um grifinório – Snape disse –, é o que vocês fazem.
Nathan estreitou os olhos para o pai, mas a risada da sua mãe o fez olhar para ela, confuso.
– Desculpa – ela se desculpou e respirou fundo para ficar mais séria. – Seu pai e eu temos pessoas que podem querer nos fazer mal, por causa da guerra. Estamos preocupados que, com a exposição que você está sofrendo, alguém possa tentar machucá-lo de alguma forma, para nos atingir. – Ela parecia muito séria agora. – Queremos você o mais protegido possível, e se alguém realmente ousar atingi-lo, estaremos lá para lidar com o imbecil.
– É por isso que eu não posso ler minhas cartas, também? – Nathan perguntou.
– Nós não podemos assumir que as cartas sejam inofensivas – o Prof. Snape respondeu.
– Você poderia ter dito isso – Nathan disse ao pai.
– Ele deveria ter dito – sua mãe concordou, ganhando uma encarada do seu pai.
– E eu sei como me defender de meras cartas – Nathan acrescentou.
– Se quer tanto saber como as pessoas estão com pena de você, por favor, pegue-as de volta – o Prof. Snape disse.
– Havia duas de pessoas felizes por mim – ele contrariou. – E eu não as quero de volta; o senhor pode ficar com elas, professor. Só estou dizendo que posso me defender.
O Prof. Snape se levantou de novo.
– Então não vai mais precisar disto – disse, tomando o colar das mãos de Nathan.
Nathan foi pego de surpresa. Queria se defender, mas não queria que o colar fosse tomado dele. Era um presente de Natal!
Hermione pareceu entender o que passava pela mente dele e interferiu.
– Ora, por favor. Honestamente! – Ela se levantou e tomou o colar da mão de Severo. – Coloque isso, Nathan.
Nathan obedeceu. O pingente brilhou numa cor dourada, assim como o frasco na mão de Snape.
– Acho que devemos comer agora – ela acrescentou, deixando a área de estar para ir até a pequena mesa num canto da sala. Nathan a seguiu, sem querer ficar para trás com seu pai, que não demorou muito para se juntar a eles.
A comida foi servida por um elfo doméstico que Snape chamara assim que eles se sentaram à mesa. Eles comeram num silêncio desconfortável, rapidamente, e o jantar logo terminou.
– Nos encontraremos novamente na semana que vem – sua mãe disse ao Prof. Snape, que assentiu, cansado. – Nathan, você se reunirá com o Severo novamente na quarta-feira à noite, só vocês dois. Acho que seria bom combinar um horário e um local agora.
A boca de Nathan ficou seca. Uma reunião sem sua mãe? Nathan não estava ansioso por isso.
– No meu escritório, às sete horas – Snape lhe disse, e soou muito como uma detenção para ele.
– Sim, professor – foi a resposta automática.
– Boa noite, Severo – Hermione disse.
Eles saíram. Nathan sentia-se cansado. Era como se os músculos dos seus ombros despencassem dos ossos, derretidos. Tudo que ele queria era chegar até a cama e dormir.
A/N: Não, não é fácil, mas eu tenho fé nesses três. :0)
Eu esqueci de me derreter por uma arte que a Miateixeira fez para minha fic como presente de Natal. Bom, ainda dá tempo. *rs*
Aeeeeeeee! :0)
O link: http://ferporcel.livejournal.com/55189.html
No próximo capítulo… Mais reuniões planejadas, e algumas nem um pouco planejadas.
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!