Limite





DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.

AVISO: Esta história se passa no futuro e contém spoilers do livro 6! Esteja avisado/a!

BETA READER: BastetAzazis – muito obrigada!

A/N: Capítulo Treze! :0) A partida de quadribol e… detenções? Ah, e muito mais que isso… :0)



Capítulo 13: Limite

Nathan estava consternado com a reação do Professor Snape por ele ter aberto o frasco de poção verde. Será que ele acha que eu seria descuidado o suficiente para cheirá-la diretamente? – Nathan pensou, balançando a cabeça. Claro que não! Minha mãe me educou melhor que isso! Ele usara a técnica que Hermione lhe ensinara para a identificação de substâncias sem etiqueta. Abrira o frasco e o abanara, tentando identificar a substância por seu odor. Entretanto, não tivera o tempo de explicar aquilo para o professor. Fora enxotado para fora das masmorras novamente.

Ele suspirou. O homem era impossível! Nada estava bom o bastante para ele. Havia sempre algo que Nathan fazia errado, não importava o quanto ele se esforçava; e ele estava se esforçando bastante. Talvez demais – Nathan observou. Ele estava ficando cansado dessas detenções, e de lidar com o Professor Snape. Talvez ele devesse procurar a Diretora e pedir para cumprir as detenções com outro professor, como sua mãe sugerira.

Mas ele pensou no que o Professor Snape sabia: a identidade do seu pai, e resignou-se ao seu destino com outro suspiro. Se ele pretendia tirar aquela informação do mestre de Poções, teria que continuar com as detenções com ele e tentar fazer o Professor Snape falar com mais insistência.

Ele chegou até o quadro da Mulher Gorda depois de decidir que não procuraria pela Professora McGonagall. A sala comunal estava mais quente que os corredores, e muito mais quente que as masmorras. Seus olhos viajaram pela sala e encontraram Kevin e Andy num canto, debruçados sobre os pergaminhos da tarefa que ele terminara dias atrás.

Ele aproximou-se da mesa por trás, com o maior cuidado, e disse num tom um pouco alto: – Voltei!

Os meninos pularam de suas cadeiras, assustados.

– Por Merlin! – Andy exclamou.

– Minha nossa, Nathan! Por que você fez isso? – Kevin perguntou indignado.

Nathan sorriu com malícia divertindo-se, e tomou o lugar à frente deles. – Vocês estavam tão concentrados na tarefa; não consegui resistir – disse simplesmente, e seu sorriso cresceu.

– Não teve graça – Andy resmungou, e voltou para a tarefa.

Kevin ainda olhava bravo para Nathan, que sorriu ainda mais. Mas seu sorriso morreu quando percebeu que Kevin agora o estudava com desconfiança. – O quê? – Nathan perguntou.

– Nada, apenas pare de agir assim – Kevin respondeu, seus olhos já estavam de volta ao pergaminho contendo sua redação de Transfiguração.

Nathan franziu a testa. – Assim como?

– Como S... – Kevin dizia, mas foi cortado.

– Como um estúpido – Andy disse, encarando Kevin.

Nathan observou o comportamento deles com atenção. – O que você ia dizer, Kevin? – ele perguntou, seriamente.

– Exatamente o que o Andy disse; pare de ser um moleque estúpido!

Nathan suspirou. Ele achou que pudesse relaxar um pouco na companhia de seus amigos, mas estava obviamente enganado. Este mistério que eles estavam escondendo dele, esses olhares estranhos... Nathan levantou-se e deixou a sala comunal, irritado. Ele estaria melhor sozinho.

*-*-*-*


Severo estava deitado na cama, pensando nos eventos dos últimos dias. Maldito menino! Maldito retrato! Quando seu filho perguntara sobre a poção verde, ele sentira-se apreensivo; quando o menino dissera que o frasco estava melado, ele se preocupara e estava em pé sem nem pensar; mas quando o Grifinório descuidado dissera que a tinha inalado, seu coração parara por um instante. Entretanto, nada acontecera e ele sentia-se aliviado.

E todos esses sentimentos o irritavam imensamente.

Mas mais irritante do que sentira na sala de aula era como estava se sentido agora. Ele queria conferir se Nathan estava bem mesmo. – Maldito menino! – rosnou. Como podia este Grifinório mudar tanto a sua vida? No entanto, ele se recusou a ir procurá-lo.

Severo deixou a cama. Ele não dormiria tão cedo, então podia aproveitar para fazer rondas no castelo, tirando pontos de alunos desafortunados. Vestiu suas vestes pretas novamente e deixou os seus aposentos.

Ele andava pelos corredores, olhando em cada ponto conhecido de travessuras. Estava no último andar, virando-se para descer para as masmorras, quando ouviu passos. Recuou para um canto sombrio e esperou, sorrindo maliciosamente, até o aluno desafortunado passar por onde ele estava. Mas assim que viu quem estava vindo, seu sorriso desapareceu.

Nathan tinha acabado de entrar no corredor, aparentemente sozinho. Ele parecia distraído, Severo notou. O professor não o interrompeu, mas preferiu segui-lo.

Eles andaram por alguns corredores, sem Nathan perceber que uma figura obscura o seguia. O menino parou em frente a uma janela com uma vista do lago que refletia o luar fraco. Severo parou poucos passos antes, observando seu filho.

Ele observou o menino sentar-se no peitoril da janela e franziu a testa. O que ele está fazendo aqui? E ainda mais depois das nove? – pensou. Quando Nathan não mostrou nenhuma indicação de que voltaria ao dormitório tão cedo, Severo se revelou.

Assustado, Nathan levantou-se desengonçado.

– Já passou das nove, Sr. Granger. O que está fazendo fora da Grifinória? – Severo perguntou.

– Já estava voltando, senhor – Nathan respondeu.

– Cinco pontos a menos para a Grifinória.

Nathan suspirou, e abaixou a cabeça.

– Agora o acompanharei até sua sala comunal – Snape disse depois de um breve silêncio. Nathan não disse nada, só seguiu o professor.

Alguns corredores mais tarde, Nathan juntou sua coragem Grifinória e perguntou: – O senhor vai me dar mais detenções, professor?

A voz de Nathan estava triste, Severo notou. – Você ainda tem muitas detenções pela frente, e elas serão usadas como punição para esta transgressão também. – Ele observou o menino suspirar, e depois assentir com a cabeça. Ele continuou observando.

Nathan pareceu perceber o exame minucioso de seu professor, e começou a sentir-se desconfortável. Ele também se sentia triste no momento. Parecia que seus planos para tornar-se o melhor aluno, de fazer a diferença em Hogwarts, eram meras ilusões. Seus amigos estavam mantendo segredos dele, estava sempre se metendo em confusão, e não conseguia fazer o Professor Snape reconhecer seus esforços...

Severo observava a figura pensativa de seu filho. O que está acontecendo aqui? – perguntou-se. Ele nunca vira o menino desse jeito. Começou a se preocupar.

– Por que você estava andando pelo castelo depois das nove, Sr. Granger? – o Professor Snape perguntou.

A hesitação de Nathan não passou despercebida por Severo. – Eu não tinha nenhuma tarefa e todos os meus amigos estavam ocupados com as deles, então decidi dar uma volta. Perdi a noção do tempo, me desculpe – Nathan conseguiu responder.

O menino era um mentiroso convincente, mas precisaria mais que aquilo para convencer Severo, que estreitou os olhos. Ele não disse nada, mas suas preocupações não diminuíram. Na frente da próxima tocha que tremeluziu acesa quando eles avançaram pelo corredor, Severo parou Nathan e comandou: – Olhe para mim – e tomou o rosto de seu filho em suas longas mãos.

O Professor Snape olhou nos olhos de Nathan por sinais dos efeitos da poção verde e encontrou somente a escuridão normal que reconhecia de seus próprios olhos. Ele estava tentado olhar além daqueles olhos, acessar os pensamentos de Nathan, mas se conteve. Não seria surpresa se Nathan, sendo filho da Hermione, soubesse o que ele estava fazendo se usasse Legilimência nele, então largou o rosto de seu filho e recomeçou a caminhar.

Nathan seguiu-o em silêncio por um momento. Ele estava mistificado com as ações do Professor Snape. Será que ele ainda está preocupado com a poção verde? – pensou. Por mais que soasse impossível, era exatamente o que estava acontecendo: o Professor Snape estava preocupado com ele. Aquela substância verde deve ser muito perigosa.

– A poção verde é assim tão perigosa, professor? – Nathan perguntou; mostrando que curiosidade era parte de sua natureza.

Severo dispensou apenas um olhar de soslaio para ele. – Sim, ela é – disse simplesmente, e o silêncio caiu sobre eles novamente enquanto andavam.

Chegando ao retrato da Mulher Gorda, o Professor Snape parou e esperou Nathan oferecer a senha. O retrato que dava acesso à sala comunal da Grifinória se abriu e Nathan estava a um passo dele, quando olhou para trás e disse: – Obrigado, Professor Snape. Você está sempre cuidando de nós. Fico feliz em ter você como professor aqui – e entrou na sala.

A Mulher Gorda foi a única que viu Snape aturdido.

*-*-*-*


Na manhã seguinte, Andy e Kevin esperavam por Nathan na sala comunal antes do café da manhã. Eles o viram descer a escada que vinha dos dormitórios e, quando estava ao alcance de ouvi-los, Andy começou a tirar sarro dele por estar atrasado. Depois baixou a voz e parou de falar de uma vez; Nathan acabara de passar por eles sem nem dar atenção à presença deles.

Nathan ignorou seus olhares desacreditados e continuou andando em direção à saída da sala comunal. Ele já tinha agüentado o bastante! Se eles queriam esconder coisas dele, tudo bem. Só não podiam esperar que ele continuasse amigo deles. Ele estava melhor sozinho!

Entrou no Salão Principal e tomou um lugar do lado oposto da mesa de onde normalmente se sentava. Não havia ninguém ao lado ou à frente dele; estava sozinho. Nathan suspirou antes de começar seu café da manhã.

Alguns minutos depois escutou, ao invés de ver, os dois meninos aproximando-se da mesa. Eles estavam olhando para ele; podia sentir. Mas resolvera o que fazer sobre esse assunto na noite passada; se eles estavam falando dele pelas costas e fazendo comentários de duplo sentido que ele não entendia pela frente, então ele não precisava deles.

*-*-*-*


Severo ouvia Minerva e observava o Salão Principal enquanto tomava um gole de café quando viu Nathan entrar. O menino estava sozinho e andando determinado para a mesa da Grifinória.

Ele continuou a observar Nathan, servindo-se como que por obrigação e não fome, e estreitou os olhos. Ele sabia que o menino não podia estar afetado pela poção; já verificara duas vezes e não encontrara nenhum efeito visível. Então o que é? – pensou.

Severo virou-se para responder algo que a Diretora lhe perguntara por um instante, e quando voltou sua atenção novamente aos alunos, viu Kevin e Andy entrando no Salão Principal. Severo observou quando eles olharam para onde Nathan estava, e viu-os virar-se para o lugar onde sempre se sentavam à mesa, olhando para Nathan e cochichando entre eles. Ele observou Nathan para ver as reações dele, mas não havia reação. Seu filho estava deliberadamente ignorando os amigos. Ele levantou uma sobrancelha àquilo. Mas por quê? – perguntou-se.

Severo lutou para focar de volta no seu café da manhã. Não cabia a ele ver se o menino tinha amigos ou não. Ele sentia que verificar a saúde dele era sua obrigação, mas tomar conta da vida social dele não era! Se ele se tornasse um solitário e decidisse passar os próximos sete anos sozinho, não era problema seu.

Comeu um bocado de ovos mexidos, usando mais força no garfo que a necessária. Severo não parecia conseguir focar em mais nada. Quando seu filho estava na mesma sala que ele, o menino tornava-se o centro dos seus interesses. Maldito menino! – reprimiu em silêncio.

Ele conseguiu evitar olhar para Nathan pelo restante da refeição. Levantou-se de sua cadeira e, num farfalhar de vestes negras, deixou o Salão Principal, mas não sem antes encarar Andy e Kevin ao passar pela mesa da Grifinória.

*-*-*-*


Nathan não notou o mestre de Poções; sua atenção estava direcionada ao par de meninos sentados há algumas cadeiras dele. Ele estudou-os sem entregar suas ações, seus olhos nunca se encontravam.

Terminou seu café da manhã e, rapidamente, foi até a porta, novamente ignorando o chamado de Kevin.

Durante as aulas, Nathan sentou-se o mais longe possível dos dois. Este comportamento começava a ser notado por alguns outros alunos, ele sabia. Mas ele estava se fazendo ouvir e não se importava se as pessoas notavam. Ele sentiu olhos o estudando à sua direita e viu que Devon Malfoy parecia ter mais interesse nele que no que o Professor Flitwick estava dizendo. Nathan o encarou impassivelmente até o Sonserino voltar a atenção novamente para a aula.

Foi assim pelo resto do dia. Pessoas o olhavam como se o vissem pela primeira vez, e olhavam também para Kevin e Andy da mesma forma. Eles tentaram falar com ele durante o almoço, mas Nathan os ignorara novamente, se recusando a escutar as desculpas deles. Agora aprenderiam a não lhe esconderem as coisas. Se quisessem ser seus amigos, teriam que entender isso!

Ao final das aulas do dia, ele não quis voltar para a Grifinória para fazer sua tarefa, preferindo a quietude da biblioteca. Trabalhou na redação exigida em Feitiços, releu o capítulo sobre as plantas mágicas do inverno para Herbologia e não tinha mais nada para fazer. Ele normalmente passaria este tempo com seus amigos, mas agora tinha que encontrar outra coisa para fazer antes do jantar e da detenção que seguiria.

Ele então se lembrou da poção verde. Ainda estava intrigado com ela. O que tinha naquele frasco? – pensou novamente. Já que estava na biblioteca, poderia usar aquele tempo para procurar pistas do que aquela substância poderia ser. Nathan levantou-se da mesa no fundo da biblioteca e foi até a seção de Poções.

Havia um imenso número de livros sobre o assunto. Ele refletiu por onde começar. Decidindo que aquela poção verde era definitivamente um veneno, começou a pegar livros das prateleiras que tinham alguma coisa haver com isso nos títulos.

Absorto pela leitura interessante, Nathan perdeu o jantar, e só teve tempo de retirar alguns dos livros que selecionara e ir rapidamente às masmorras. Ele estava cinco minutos atrasado.

– Você está atrasado, Sr. Granger. Cinco pontos a menos para a Grifinória – ouviu assim que abriu a porta. O Professor Snape nem se dera ao trabalho de olhar para ele enquanto descontava os pontos.

– Sinto muito, senhor, eu estava na biblioteca e perdi a noção do tempo – Nathan se desculpou.

O Professor Snape olhou para ele então, e estudou Nathan por um breve momento antes de voltar ao que quer que fosse o trabalho que estava fazendo. – Você pode terminar o que começou ontem – o Professor Snape disse. – E não abra nenhum frasco desta vez – enfatizou, olhando novamente para ele –, não quero ter que informar à sua mãe da sua morte – acrescentou, visivelmente irritado com a idéia.

– Você sempre poderá informar ao meu pai ao invés disso – Nathan resmungou baixinho, indo para o depósito para continuar o inventário.

Porém, o Professor Snape pareceu ter ouvido. – O que você disse? – ele perguntou.

Nathan parou e virou-se para olhar para o Professor Snape. – Eu disse... – hesitou, pensando que esta poderia ser sua oportunidade de perguntar.

O mestre de Poções agora franzia a testa para ele, esperando uma resposta.

– Eu disse que senhor poderia informar ao meu pai ao invés disso, professor. – Nathan era um Grifinório, afinal de contas.

Ele segurou o olhar do Professor Snape. Um silêncio desconfortável caiu sobre eles.

– Mais cinco pontos a menos para a Grifinória, Sr. Granger.

Nathan não tirou os olhos de Snape, esperando que seu professor dissesse mais alguma coisa.

O Professor Snape estreitou os olhos. – Acredito que tenha uma detenção a cumprir, Sr. Granger; o que está esperando? – o mestre de Poções disse, visivelmente irritado.

Nathan mordeu o lábio inferior. Será que devo perguntar? – refletiu. Ele podia ver que o Professor Snape estava no limite da paciência. Ele respirou fundo, mas, pensando duas vezes, decidiu não perguntar. – Nada, senhor – disse ao invés disso, e virou-se para o depósito. Não é o momento certo – pensou.

Severo observava o menino entrando no depósito com olhos estreitos. Qual o jogo dele? Tentava entender o que tinha acabado de acontecer ali. Será que ele sabe de alguma coisa? Ele sabia que o menino não sabia nada sobre o pai, certo?

Ele retornou os olhos para o livro que estivera lendo, sem realmente ver as palavras na página. Sua mente estava cheia de perguntas sem respostas, e ele odiava quando ele não entendia o que estava acontecendo. Severo queria pegar o menino pelo braço e exigir saber o que se passava na cabeça dele. Apertou os dentes em frustração; esta situação estava ficando insuportável.

Depois de muito ponderar, Severo levantou-se de sua mesa e entrou no depósito. Nathan estava contando e recontando ingredientes e tomando notas num pergaminho. O menino notou sua presença, mas só olhou para ele, erguendo uma sobrancelha em expectativa. Ele tem que fazer isso? – Severo pensou.

– Posso ver que ainda não se matou – Severo disse.

Nathan revirou os olhos, e voltou a contar caudas de salamandra.

– Seria extremamente irritante ver sua mãe chorando quando contasse a ela – Snape disse, observando Nathan hesitar com a tarefa somente por um instante. – Preferiria contar ao seu pai, mas aí teria que saber quem ele é.

Nathan tinha parado de uma vez com a tarefa, mas não tirou os olhos das caudas de salamandra.

– Você pode me dizer onde encontrá-lo? – Snape perguntou então.

Nathan olhou para ele com uma carranca. – Você sabe que não – ele respondeu.

– Não pode? Tem certeza?

– Tenho – Nathan disse. – Mas você pode – ele afirmou com convicção em seus brilhantes olhos negros.

Então é isso – Severo concluiu silenciosamente. – Não estou vendo você trabalhar, Sr. Granger – falou rispidamente, e viu a frustração escrita no rosto de Nathan.

O menino voltou ao trabalho, mas sem a graça e o cuidado com que estivera empregando antes, Severo notou. O mestre de Poções deu as costas para ele num farfalhar de vestes para deixar a sala, mas ouviu: – É tão ruim assim? – Ele olhou para o seu filho novamente. Havia algo naquele tom; desespero, talvez frustração.

Nathan não tinha acabado de falar. – Ele deve ter feito algo horrível. Ele está em Azkaban? É por isso que ninguém me diz quem ele é? Ele é um monstro, não é?

Severo não esperava por isso. Ele não passara muito tempo considerando as possíveis razões pelas quais Hermione mantivera sua identidade em segredo para o menino, mas agora... Ela não quer gente da minha laia perto dele – concluiu, e uma ponta de mágoa atingiu seu coração. Será que ele poderia condenar a escolha dela? Ele achava que não, e a raiva pelo que ele era, e pelo que fora, invadiu o seu ser.

Severo fechou suas mãos em punhos e disse: – Termine a maldita tarefa, menino, para que eu possa me livrar de você!

*-*-*-*


No dia seguinte, a frustração da noite anterior acrescia à frustração daquela manhã. Nathan não conseguiu o que queria do Professor Snape e, ainda pior que isso, o mestre de Poções agora sabia das suas intenções. Ele queria falar com seus amigos, mas não era do tipo que desistia fácil. Suspirou e entrou no Salão Principal para o café da manhã sozinho.

Ele estava brincando com a comida no seu prato quando a luz já escassa do dia com tempo fechado foi bloqueada. Ergueu os olhos para encontrar o rosto de Kevin.

– Por que você está nos ignorando? – o menino perguntou.

– Por que você se importa? Vocês estavam me ignorando primeiro! – Nathan respondeu.

– Não estávamos não! – protestou Andy, ao lado de Kevin.

– Vocês estão mantendo segredos de mim. Vocês acham que são mestres do disfarce? Notícia quente, vocês não são! – Nathan disse, descontando toda sua frustração nos meninos.

Eles olhavam para o Nathan; Kevin com uma expressão de surpresa, mas Andy parecia estar... arrependido.

Nathan recolheu suas coisas e os deixou lá, levados ao silêncio por suas acusações.

*-*-*-*


Nathan estava contente por já ser sexta-feira; ele agora contava os dias para se livrar das detenções com o Professor Snape. Depois daquela noite de quarta-feira, ele estava certo de que o mestre de Poções não lhe diria nada sobre seu pai, e não via mais nenhuma razão para querer passar mais tempo com o homem amargo.

Seus amigos estavam agindo de maneira ainda mais estranha depois daquela manhã da discussão. Nathan os pegara folheando seus livros na noite anterior, os livros que estivera lendo sobre venenos. Andy parecia assustado quando ele entrara no dormitório. Depois daquilo, Nathan os vira saindo do escritório do Professor Lupin mais cedo hoje; realmente suspeito.

Ele estava deitado em sua cama depois de mais uma noite esfregando caldeirões, e pegou outro livro do criado-mudo. Estava lendo sobre outra poção verde interessante quando ouviu um grito e então um feitiço o atingiu.

– O que significa isso! – ele disse, pulando da cama e avançando para aquele que lançara o feitiço: Kevin.

– Segura ele, Andy! – ouviu Kevin dizer.

– Fique longe de mim, Andy – Nathan disse, agora segurando sua varinha ameaçadoramente. – O que vocês fizeram comigo?

– Você não entende, Nathan. Você estava sob a maldição Imperius! – Andy exclamou, as mãos à frente de si como que para se proteger.

– Mas não se preocupe. O Professor Lupin nos ensinou a contra-maldição. Como se sente? – Kevin perguntou, observando-o com cautela.

– Maldição Imperius! Vocês estão loucos? – Nathan disse, indignado.

Aquilo confundiu o par de Grifinórios. – Escute Nathan, o Professor Snape amaldiçoou você. Nós notamos sua mudança. Mas está tudo bem agora. Você está livre – Kevin disse, como se estivesse falando com uma criança de cinco anos de idade.

– Ah, para com isso! Era isso que vocês estavam cochichando por aí? – Nathan balançou a cabeça. – Eu não estou sob a influência de nenhuma maldição.

– Não está? – perguntou Andy.

– Não mais – Kevin disse convencido.

– Nunca estive. O que fez vocês pensarem num absurdo desses? – Nathan perguntou, olhando os dois alternadamente.

– Você tem agido meio estranho desde que começou aquelas detenções com o Snape – Andy explicou.

– É, e ficou pior! Você até começou a agir como ele – Kevin completou.

– E então você começou a nos ignorar, e nós achamos estes livros sobre venenos. Foi assustador – Andy disse, uma expressão de medo no rosto mais uma vez.

Nathan estreitou os olhos. – Estou tentando encontrar o nome de uma poção verde que estava sem rótulo no depósito do Professor Snape. Eu acho que é um veneno; é por isso que estou lendo esses livros. Vocês acharam que eu queria envenenar alguém?

– Bom, sim! Nós pensamos que o Snape estava comandando você a fazer isso. Ele não estava? – Kevin perguntou.

– Claro que não! Quantas vezes eu tenho que dizer a vocês: o Professor Snape não é um bruxo das trevas! – Nathan estava irritado de ter que repetir isso constantemente.

– Se você não estava amaldiçoado, então por que você tem agido tão estranho? – perguntou Kevin, ainda não convencido.

Nathan suspirou. Ele teria que explicar por que ele estivera tão focado nas detenções. – Escutem aqui, tem algo que tenho que contar a vocês – disse suavemente. – O Professor Snape tem informações sobre algo que venho tentando descobrir há muito tempo.

– Informações sobre o quê? – perguntou Andy, curioso.

Nathan suspirou novamente. Esta era a parte que menos gostava da história. – Eu não sei quem é o meu pai.

– Você nunca nos contou isso – Kevin disso, sentando-se na cama mais próxima.

– É por que eu não gosto de falar sobre isso – Nathan admitiu.

– Que triste – disse Andy, sentando-se perto do Kevin.

– O Professor Snape parece saber a identidade dele – Nathan prosseguiu –, mas ele não vai me dizer. – Nathan andou de um lado para o outro na frente dos seus amigos. – Parece que todo mundo sabe. Minha mãe sabe, é claro, e eu acho que o tio Harry também; agora eu tenho certeza que o Professor Snape sabe, mas ninguém me diz! – terminou exasperado.

Seus amigos não sabiam o que dizer. Nathan sentou-se em sua cama, frustrado.

Andy quebrou o silêncio: – Você perguntou para ele?

– Sim – Nathan respondeu simplesmente.

– E... – incitou Kevin.

– Ele se irritou e tem me tratado como um cabeça-oca desde então.

– Sinto muito, Nathan – disse Andy, estendendo uma mão para confortar o amigo.

*-*-*-*


Snape observou Nathan entrando no Salão Principal com seus amigos logo atrás. Aparentemente, estavam reunidos novamente como se nada tivesse acontecido. Nathan ainda parecia um pouco mais pálido que o normal, ele notou, mas ficaria bem agora que tinha amigos de novo.

Ele decidira que não teria nada haver com o Nathan depois que a dura compreensão daquela noite atingiu seu destino. Hermione mantivera o menino afastado dele porque não queria que o Nathan soubesse que seu pai era um assassino cruel e ex-Comensal da Morte; ele não a culpava.

Severo não sentia vontade de ir para a partida de quadribol, mas sabia que tinha que ir. A Sonserina jogava contra a Grifinória, e como Diretor de Casa ele precisava aparecer e fingir estar interessado.

Chegando ao campo de quadribol, Severo encontrou seu lugar habitual nas arquibancadas onde os professores sempre se sentavam. Estava adiantado, como de costume, só para evitar trombar com alunos animados demais.

Ele observava as arquibancadas se encherem de verde, prata, vermelho e dourado, quando um pequeno grupo chamou sua atenção. Lupin aproximava-se com um homem ruivo – Ronald Weasley. Aquilo não era nenhuma surpresa; o Weasley sempre vinha às partidas de quadribol, por mais irritante que isso fosse. Mas desta vez eles não estavam sozinhos, eles tinham um grupo de Grifinórios animados com eles.

Severo observou seu filho conversando animadamente com seus amigos, seguindo Weasley e Lupin até onde ele estava sentado.

– Bom dia, Severo – Lupin cumprimentou.

Severo assentiu com a cabeça.

– Ei, Snape, como está o seu time este ano sem Frein e Maison? Eles carregaram os Sonserinos nas costas ano passado. Pena que eles se formaram, não acha? – provocou Rony.

– A Grifinória não venceria nem se os substituíssemos apenas por vassouras – Severo disse, sorrindo maliciosamente ao agora bravo Weasley.

– Veremos – disse Rony. – Nathan? Não vai sentar-se conosco?

Nathan hesitou, olhando para o Professor Snape.

– Venha cá! – Rony disse, pegando-o pelas vestes e puxando Nathan para sentar-se ao lado dele. – Vocês também, meninos; se são amigos do Nathan, também são meus amigos.

Andy parecia ansioso para ficar, já que Rony era um de seus jogadores de quadribol favoritos, mas Kevin não estava tão confortável. – Eu não sei – ele disse.

– Ah, vamos, Kevin – Andy implorou.

– Está bem – Kevin concordou. Nathan sorriu.

A partida começou e a Grifinória marcou primeiro, para a exaltação de Rony e irritação de Snape. – Este é só o começo, Snape – Rony provocou. Severo nem se incomodou em responder, mas observou Nathan pelo canto do olho; ele estava sorrido com malícia.

O jogo progrediu e a Sonserina tomou a liderança no placar. – Parece que você estava colocando a carruagem na frente dos Trestálios novamente, Weasley – Severo zombou.

– Vamos ver quem pega o Pomo, Snape – Rony retrucou.

Severo olhou de relance para onde Nathan estava sentado mais uma vez. O menino não parecia muito interessado no jogo, mas ao invés disso, tinha a atenção no Weasley. Nathan parecia fascinado com a animação do homem ruivo com a partida. Seu filho estava se divertindo. Justo com o Weasley – acrescentou mentalmente.

No campo, os dois Apanhadores voavam atrás do Pomo. A pequena bola alada fora vista pelos jogadores, perto de onde eles se sentavam. O grito do Weasley quando o viu fizera Snape encolher-se.

Ele observava seu filho abertamente, agora que todos tinham suas atenções na partida. O menino tinha uma expressão que Severo só podia descrever como divertimento contido, e ele alterou a sua própria para uma expressão fria e inexpressiva. A diversão de Nathan não estava direcionada às vassouras voadoras, mas ao animado Weasley, e aquilo o incomodava.

O Apanhador da Grifinória apanhara o Pomo de Ouro. Weasley vibrava. Nathan sorriu, observando o amigo da sua mãe até virar sua atenção para o outro lado e encontrar o Professor Snape olhando fixamente para ele. Então, sorriu maliciosamente.

– Gostou da partida, senhor? – Nathan perguntou, ainda sorrindo.

– Você gostou? – o Professor Snape devolveu.

– A Grifinória venceu – Nathan respondeu.

– Venceu? – Severo perguntou, erguendo as sobrancelhas.

Nathan olhou para o placar então. Mostrava duzentos e cinqüenta para a Grifinória contra cento e setenta para a Sonserina. Ele olhou de volta para seu professor e revirou os olhos para o homem sorrindo com malícia. O Professor Snape o pegara.

– Tente realmente assistir o próximo jogo, Sr. Granger – o mestre de Poções disse, deixando seu lugar e voltando para o castelo.

Nenhum deles notou o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas franzindo a testa.

*-*-*-*


Hermione descansava em frente à lareira, observando as chamas crepitantes. Sua mente repassava sua última conversa com Harry. Ontem à tarde, o Auror a procurara na universidade, pedindo um favor.

– Hermione, não estaria aqui se não precisasse da sua ajuda – Harry dissera.

– Harry, eu sou química, não mestre em Poções. Você deveria procurar por alguém mais qualificado – ela dissera a ele, intencionalmente.

– Eu não vou procurar o Snape, Hermione. Esqueça! – Harry dissera, estreitando os olhos à sugestão implícita de Hermione.

– Ah, cresça, Harry! – ela o reprimira. – Você não pode deixar essa rixa infantil de lado? Ele é o melhor mestre em Poções que eu conheço; ele poderia ajudá-lo melhor que eu.

Harry parecera como se ela o ofendera com a pior das ofensas.

– Harry – ela dissera com mais calma –, você não pode carregar este ressentimento para sempre. Ele nos ajudou. Ele nos salvou inúmeras vezes, e o que você faz agora? Você duela com ele todo ano.

– Isto não é sobre eu e o Snape, Hermione. Você vai me ajudar ou não? – Harry perguntara, extremamente irritado com a direção da conversa.

Hermione suspirara. – Está bem, mas não espere nenhum milagre de mim. Eu não trabalho com Poções tão complexas desde a nossa formatura – ela dissera –, e precisarei de suprimentos e de um laboratório, bem como de livros para consultar – acrescentara ao vir-lhe a mente.

Harry abrira um sorriso largo para ela. – Sabia que não resistiria. Falei com a Minerva e ela concordou em conceder-lhe acesso à biblioteca e às instalações de Hogwarts.

– Hogwarts? – ela exclamara em surpresa. – Pensei que usaria os laboratórios do Ministério.

– E vai. Hogwarts não deixa de ser isso. Além do mais – Harry acrescentara, antes que Hermione tivesse tempo de protestar –, você vai encontrar todos os melhores livros sobre o assunto lá.

E foi assim que ela agora se encontrava no dilema de conduzir uma pesquisa de Poções em Hogwarts. Eles concordaram que ela não deixaria seu trabalho na universidade; sendo assim, ela passaria as sextas-feiras e finais de semana em Hogwarts.

Suas divagações do que seria da sua vida agora foram interrompidas por uma batida forte à porta, assustando-a. O visitante inesperado bateu novamente, com mais insistência. Ela levantou-se do sofá, abriu a porta e paralisou, com os olhos arregalados.

Era Severo Snape.



A/N: É isso aí! Ele finalmente procurou a Hermione e um suspense pareceu-me apropriado. :0)

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No Próximo capítulo… O confronto mais esperado.

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