Insanidade




DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.


BETA READER: Shey Snape – muito obrigada!


N. A.: Capítulo trinta! Severo toma uma decisão que mudará sua vida – e a de outros – irrevogavelmente.


Esta é a primeira parte de um capítulo que ficou longo demais para ser publicado como um só (de novo), e assim sendo, é a base para o que vem depois. Então, se você fica frustrada(o) com facilidade, sugiro que espere o próximo capítulo ser publicado antes de ler este (como eu tinha a intenção que eles fossem lidos para começo de conversa).


AVISO: Este capítulo foi editado para atender às regras deste site com relação a conteúdo adulto. Isso não altera em nada o entendimento da história. Se você quiser ler a versão completa, vá para owl(ponto)tauri(ponto)org e procure por ferporcel (eu!) ou esta fic, Mais que um Granger.




Capítulo 30: Insanidade


Olhares trocados com seu filho estavam carregados com a conversa daquela noite no corredor sombrio. Eles não se falaram desde então, e a magnitude daquele momento apenas cresceu enquanto a consideração silenciosa de um e outro continuou. Dias e noites passadas em contemplação; dias e noites passadas em tortura. Não há nada que eu possa fazer — Severo se lembrou quando o olhar de seu menino se desviou do dele, deixando-o sem respostas e carregando com ele apenas mais desapontamento.


Severo queria aquela expressão fora do rosto de Nathan, mas como ele poderia chegar a seu filho e exigir que ele explique seus desejos se tudo que ele faria seria esmagar cada um deles? Não há nada que eu possa fazer — ele reforçou mentalmente, porque não podia fazer aquilo com o filho, e não faria.


Nathan um dia entenderia que não era culpa dele, mas de Severo. Ele não conseguia explicar como Nathan entrara em seus sonhos para espreitar, e não importava, contanto que seu filho soubesse que eles nunca seriam reais, que não havia nada que Severo pudesse fazer a respeito.


Severo começara a tomar um supressor de sonhos naquela mesma noite, tentando guardar aqueles momentos traiçoeiros do Nathan. Ele não fazia por mal. Ele simplesmente não podia ser aquele homem, nem que ele quisesse. Ele apenas não sabia como. Havia um abismo entre ele e aquele homem. Não há absolutamente nada que eu possa fazer!


Granger chegaria após seu tempo com o cavaleiro trouxa dela e estaria, sem dúvida, distraída demais sonhando acordada para perceber que ele estragara as coisas com o Nathan de novo. Bom, ele fez um esforço consciente para pensar, não estou nem um pouco a fim de levar sermão. Especialmente porque...


Não há porra nenhuma que eu possa fazer!


~o0oOo0o~


Sua mãe havia acabado de chegar em casa. Ela deveria passar a noite em Londres e chegaria a Hogwarts apenas na manhã seguinte, ou assim ela lhe dissera em sua carta. Nathan sentia falta dela nesta semana mais do que em qualquer outra, o que era simplesmente estupidez, porque se ela estava em casa em Londres ou em uma conferência na Espanha ou qualquer outro lugar, dava na mesma.


Nathan se sentia como um bebê por sentir falta da mãe, especialmente quando olhava em volta e encontrava os amigos, que não viam os pais há muito mais tempo que duas semanas.


Além disso, seu pai estava bem ali na Mesa Principal.


Nathan olhou para ele, e o desejo foi rapidamente colocado de lado. O que acontecera quarta-feira à noite fora um engano bobo. Era pedir demais que seu pai ficasse nas masmorras só uma vez? Por que o homem tinha que assombrar os corredores toda santa noite? Só para me pegar sendo um bebezinho bobo, só isso — Nathan pensou e se sentiu imediatamente esgotado, desviando o olhar do homem.


Ele não deixaria que acontecesse de novo. Ele não era um bebezinho bobo.


Eu não sou um bebezinho bobo! — Nathan reafirmou a si mesmo.


Ele podia muito bem apagar aquele episódio da cabeça e agir como se ele nunca tivesse acontecido. O Prof. Snape parecia ter feito exatamente isso.


Embora o homem parecesse quase...


Não, Nathan não insistiria nessas esperanças bobas, mesmo que ele tivesse pegado o homem lhe observando mais de uma vez. Esperanças tolas eram para bebezinhos bobos. Eu não sou um bebezinho bobo!


Nathan tinha doze anos, não cinco. Estava na hora de esquecer aqueles sonhos de um pai carinhoso e participativo. Os meninos estavam falando sobre as finais de quadribol. Ele deveria estar se concentrando naquilo.


E Nathan estava realmente tentando.


~o0oOo0o~


Hermione chegou mais tarde do que havia planejado. Seu erro fora dar uma passada no escritório na sexta-feira depois de quase uma semana de ausência. Sua correspondência externa sozinha já a fizera perder o jantar; as notícias que a correspondência interna trouxera a fizeram perder a manhã de sábado. Era a velha história: tire uns dias de folga, e é certeza que os alunos de pós-graduação vão quebrar alguma coisa cara e essencial.


Bem, agora já era sábado à tarde, e tudo que ela podia fazer estava feito. Ela andou a passos largos dos portões de Hogwarts, querendo mais nada além do calor de seu filho para quebrar o gelo do clima escocês. Ela o encontrou em um dos jardins de inverno, correndo com as outras crianças em algum tipo de jogo animado.


O peito de Hermione se encheu de alegria, e um pouco da tensão de seus ombros se dissipou. Ela estivera mais preocupada do que estivera conscientemente ciente.


Não é como se o Severo estivesse atrás de partir o coração do Nathan também.


Claro que ela estava tentando esquecer que o Severo era bem adepto de partir corações. Claro que ela estava tentando separar seus sentimentos, compartimentar Severo em pai e homem. Ficar longe alimentara sua luta interna. Ela estava bem, estava sim.


Nathan a viu ali e acenou. Hermione deu um sorriso largo à luz de sua vida e acenou de volta. Ele parecia contente. Observá-lo com as outras crianças era um bálsamo para suas preocupações. Certamente nada catastrófico acontecera enquanto ela estava longe.


Ela não soube quanto tempo permaneceu parada ali, olhando. Provavelmente por tempo demais, já que agora Nathan corria até ela, deixando a brincadeira para trás.


— Oi — ele cumprimentou um pouco sem ar.


— A brincadeira acabou? — ela perguntou, abraçando-o brevemente.


— Nah — Nathan respondeu, fôlego curto. Acalmando-se, ele acrescentou: — É só pega-pega. Você está indo para o laboratório?


— Estava na verdade indo para a biblioteca, mas primeiro eu preciso...


— Vou com você — ele interrompeu e correu de volta para as crianças ainda brincando no jardim, muito provavelmente para dizer-lhes que estava oficialmente fora do jogo. Estava ofegante novamente quando a alcançou e animadamente disse: — Vamos! — Ele a segurou pela mão, guiando-a pelos corredores.


Nathan tinha obviamente sentido sua falta. Saber disso lhe acalentou o coração.


— Por que toda essa pressa? — ela perguntou.


— Você trouxe a espada? — ele retrucou.


— Ah, a espada. Você quase me fez acreditar que tinha sentido saudades de mim.


Nathan ergueu o olhar para ela com divertimento nos olhos enquanto eles esperavam pelas escadas. — Não, é só a espada — ele lhe disse em tom óbvio de brincadeira, mas então a luz dos olhos dele teve a intensidade diminuída por algo que lhe passou a mente.


— Eu também senti saudades — ela lhe disse então, esperando que o que quer que tenha perturbado seu filho fosse apaziguado por seu amor por ele. Ela também esperava que Severo estivesse por trás da perturbação.


A subida dali em frente foi feita em silêncio. Hermione queria que Nathan soubesse que ela estava ciente da necessidade dele de suporte e subiu os degraus com ele envolto em um meio-abraço. Quando cruzaram o pórtico de seus aposentos, Nathan já sorria de leve, e ela soube que tivera sucesso e o que quer que estivera pesando nele fora deixado de lado por hora. Se ele ainda não estava pronto para conversar, ela esperaria.


Hermione tirou um pacote de seu bolso e o aumentou de tamanho. Porém, quando Nathan esticou as mãos para ele, ela o tirou do alcance.


— Fez suas tarefas, foi em todas as aulas, leu toda a matéria? — Ela ergueu uma sobrancelha.


— Claro que sim.


— O Prof. Lupin terá alguma detenção surpresa para me relatar durante o jantar?


Nathan então hesitou.


— Nathan! — ela chamou-lhe a atenção indignada.


— Não, nenhuma detenção! — ele emendou rapidamente.


— E você não tinha certeza? — Suas mãos foram para a cintura. Não era de se admirar que ela encontrara cabelo branco em sua franja outro dia desses; esse menino a deixaria velha antes do tempo.


— Tenho! Nenhuma detenção, eu juro!


— Talvez eu deva considerar uma visita ao seu Diretor de Casa antes de entregar esse presente. Nós tínhamos um trato: você se comportaria enquanto eu estivesse longe, então eu lhe traria um presente da Espanha. Esse era o trato.


— Mas eu me comportei! — Nathan lhe garantiu. — Mãe... — ele choramingou.


— Se descobrir que você está escondendo alguma coisa de mim, eu vou tomar isso de volta e você nunca mais vai vê-la. — Ela então entregou o pacote.


— Você não vai precisar tomá-la de volta — ele disse antes de destruir o embrulho. — Uau.


Hermione sorriu, observando o filho maravilhado. — Vejo que escolhemos bem.


— Você sabe que sim. — Ele sorriu. — É Excalibur!


— Uma réplica, claro, e menor do que deveria ser, encantada para não machucar ninguém, mas sim, é a espada do Rei Artur.


— É perfeita! — Nathan exclamou. — Obrigado, obrigado! — Ele a abraçou brevemente.


— De nada. Apenas se certifique de que não terei razões para tomá-la de você. — Ela lhe deu um olhar de aviso que se perdeu completamente na alegria de seu filho com o seu presente.


Ela o deixou com o presente. Hermione precisava colocar vestes para que pudessem seguir para a biblioteca e ela pudesse começar a arrancar informações do Nathan.


Por favor, Severo, continue sendo “Pai” — ela rogou silenciosamente.


~o0oOo0o~


Nas muitas horas que passara com Nathan, Hermione podia contar nos dedos de uma única mão as vezes que o ouvira se referir ao pai, muito menos ouvi-lo chamar Severo de “Pai”. Era desencorajador, para dizer o mínimo. Ela sabia que Nathan decidira o que queria de Severo agora, então, por mais que ela não tivesse esperado encontrá-los se regozijando em amor familial, Hermione também não esperara encontrar Nathan ignorando Severo completamente do jeito que estava.


Negação era tudo muito bom e seguro, mas como mãe de Nathan, ela teria que interferir e tomar para si a responsabilidade. Eles estavam todos usando de rodeios, pelo que parecia. Bom, talvez nem todos, mas ela não podia dizer se Severo a estava ignorando, porque ela o estivera definitivamente ignorando. Ela conseguira se manter fora do caminho dele, ainda que tivesse se convencido que não tinha feito esforço para isso; ela estivera simplesmente ocupada em lugares que não eram o laboratório, o que era perfeitamente verdadeiro, mesmo se não fosse completamente aleatório. Mas agora que não havia para onde fugir no Salão Principal, ela daria tudo para ter um lugar para se esconder. Hermione queria se bater por sequer tentar ignorá-lo para início de conversa. Como se ela pudesse esquecer Severo Snape quando estava sob o mesmo teto que o homem. Ah, ela poderia ficar permanentemente cega e ainda assim ser capaz de sentir a presença dele apenas duas cadeiras dela.


Seja adulta pelo menos uma vez nessa sua vida amorosa abismal, Hermione! — ela se censura. Você o deixou partir seu coração, agora aguente!


E aguentar ela iria – mesmo que ela tivesse escolha. Assim que ele deixou o salão, Hermione respirou fundo e o seguiu. Ela jamais colocara suas necessidades à frente das de Nathan, e não começaria agora.


— Severo! — ela chamou, sua voz sendo carregada nos corredores das masmorras, onde ela chegara perto suficiente para se fazer ouvir sem gritar. — Severo, espere!


Ele não parou, mas para crédito dele, ele diminuiu sim o passo para que ela pudesse alcançá-lo.


— Gostaria de ter uma palavra com você, se me permite. Sobre o Nathan — ela acrescentou, não querendo ser mal interpretada ou ridicularizada sem razão. Para ela já bastava de insultos e humilhações – seu coração concordava plenamente com a resolução.


— O que será agora? Muito poucos momentos de pai e filho para o seu gosto? Você quer exigir que eu conte historinhas de ninar agora, enquanto coloco-o na cama toda noite? Eu certamente tenho muitas histórias para contar... Que tal detalhes sobre a minha infância miserável, para que ele possa se sentir melhor com a dele?


Hermione só conseguia olhar fixamente para ele. O rosto do homem estava vermelho depois da explosão, os olhos como adagas sobre ela.


— O quê? — ele ladrou.


Hermione olhou em volta para o grupo de alunos que haviam parado para assistir a interação no caminho de volta para a sala comunal deles. Lá se vai a resolução sobre humilhação — ela pensou irritada.


— Talvez devêssemos levar esta conversa para outro lugar — ela sugeriu. Ele não respondeu, mas andou a passos largos em direção ao escritório.


Ela suspirou e balançou a cabeça antes de seguir. Quando fechava a porta atrás de si, Hermione ainda não sabia como melhor lidar com Severo num humor tão explosivo. Quando ele finalmente tomou a cadeira atrás da escrivaninha, Hermione sentiu que era seguro dizer:


— O que foi aquilo?


Ele não respondeu de pronto, e Hermione tomou aquilo como um sinal de que ele estava pelo menos lutando para permanecer em controle de seu temperamento. Ela decidiu que era melhor dar-lhe tempo antes de dizer o que tinha para dizer. Tomou a cadeira oposta à dele e esperou, e não levou muito tempo, afinal de contas. Mas quando ele decidiu falar, não foi para respondê-la.


— O que tem o Nathan? — ele perguntou.


Hermione não teve pressa ao estudar os olhos dele antes de responder. Severo estava um pouco fora de si, o que era bem óbvio, mas era resignação o que ela viu?


— Vocês discutiram? Porque me pareceu que ele estava evitando falar de você esta tarde, e depois do que acabou de acontecer no corredor... — Ela parou ali. Hermione não estava buscando desculpas ou coisa assim, embora ela achasse que merecia uma; entretanto, prioridades faziam com que ela necessitasse entender de onde saíra aquilo tudo.


Talvez fosse ela e não Nathan causando aquele show de temperamento. Azar o dele, se esse era o caso, porque ela não iria a lugar algum até deixar claro que eles ainda teriam que discutir o filho deles com regularidade, ele gostando ou não. Nathan não seria afetado por seu coração machucado.


— Não sou um vidente, Granger. Não sei por que seu filho não lhe contou todos os detalhes que queria ouvir sobre essas duas últimas semanas maravilhosas da vida dele. Eu não vivo dentro da cabeça dele para saber o que ele poderia estar pensando para não fazer isso. — Ele olhou feio para ela, mas ela era imune à insignificância. — Se isso era tudo o que queria de mim, Granger, você sabe onde fica a porta — ele acrescentou numa voz impassível.


Hermione franziu a testa àquilo. Não, não à crítica implícita de como ela lidava com Nathan, nem à dispensa seca, mas foi a falta de energia que a fez parar para pensar. Primeiro uma explosão de temperamento no meio do corredor, depois aquela aura estranha de resignação, e agora esse...


Ele parecia cansado, agora que ela se permitira notar a presença física dele.


— Você não parece bem, Severo. Está doente? — ela perguntou, e se arrependeu das palavras no instante em que elas deixaram sua boca. — Você não precisa responder, é claro. Não é da minha conta. Bom, se você não sabe por que seu filho tem alguma coisa sobre você para esconder de mim, tudo bem, também. Só levará mais tempo para fazê-lo falar para que eu possa começar a ajudá-lo com o que quer que o esteja perturbando. Certamente espero que seja antes dele se machucar com outra maldição ou algo assim, mas essas preocupações obviamente não estavam em sua mente no momento. — Ela não tivera a intenção de chegar naquele ponto, mas agora que tinha chegado, não conseguia conter o ressentimento de extravasar através de suas palavras. — Não seria bom para seu tempo livre ou seus compromissos noturnos, não é? Ter que lidar com seu filho se ele fosse parar na Ala Hospitalar novamente e tão cedo seria um peso e tanto... — Ela fez uma cara horrorizada para acrescentar força ao seu sarcasmo. — Nós certamente não iríamos querer isso. Coitadinho de você! — ela concluiu.


— Seu filho é um sonhador, e se isso o levar à Ala Hospitalar, eu já deverei estar lá, porque se existe alguma coisa me deixando doente, é isso. Bom, talvez ele não seja o culpado, depois de ter sido criado por você e ser obrigado a ouvir todo tipo de porcarias ilusórias.


Então o problema dele era definitivamente ela e não o Nathan. Bom, ela não ficaria para ouvir nenhuma das porcarias dele! Ela então se levantou.


— Bom, não ajudou muito, mas foi o suficiente assim mesmo. Boa noite, Severo. Vejo você amanhã para o jantar, com sorte não antes.


Hermione saiu rapidamente, sem dar uma Bubotúbera seca para o grunhido do homem. Decididamente, o tempo que ela ficou longe estava dando resultado. Ela não tinha nenhum receio de por o bruxo no lugar dele, aquele idiota rude.


Mesmo que no fundo ela ainda estivesse desapontada – e preocupada – por ter saído com apenas um grunhido.


~o0oOo0o~


Nathan esfregou o pescoço duro. Assistir o treino de quadribol não era sua ideia de uma manhã de domingo divertida.


— Uau! — exclamou Andy. — Vocês viram aquilo?


— É, foi a Guinada de Potter com certeza! — Kevin respondeu entusiasticamente.


— Guinada de Potter? — Nathan questionou.


— Você não achou que foi? As duas últimas voltas foram um pouco abertas demais, mas bem, só Harry Potter consegue fazer aquilo sem perder altitude.


Nathan franzia a testa. Ele não sabia o que era uma Guinada de Potter, e o irritava saber que parecia ser algum tipo de manobra de vassoura que seu padrinho inventara, e pior ainda, uma que ele nunca ouvira falar antes. Alguém poderia achar que seu padrinho lhe teria dito tudo sobre isso. Nathan gostaria de ter aprendido com antecedência, para que ele não se sentisse como se fosse um eremita ou coisa assim. Havia coisas que um afilhado deveria saber!


— Snape pode voar sem vassoura.


Nathan paralisou assim que as palavras deixaram sua boca.


Seus dois melhores amigos o encaravam então, é claro, e Nathan não tinha a menor ideia de onde aquilo tinha vindo. Ele não tivera a intenção de dizer nada, muito menos algo como aquilo, algo sobre o Snape. Ele nem sequer estivera pensando no Snape!


Estivera?


Seus amigos ainda estavam encarando. Estúpido! Estúpido! — ele se recriminou em silêncio.


— É... Então, está frio aqui fora — Nathan conseguiu dizer sem jeito. — Estou entrando agora. Vejo vocês dois mais tarde. — Ele se afastou depressa, sem jamais olhar para trás e ainda sentindo-se estranho.


Que diabos?


Sua mente estava pregando peças nele, pelo que parecia; essa era a única explicação. Ele não estivera pensando no pai nem um pouco!


Nathan estava ficando cansado disso... disso... dessa coisa de se importar. Ele queria um tempo! Ele queria um tempo sem pensar no Snape; Nathan não queria pensar, ponto final.


Ele suspirou, e seu andar apressado e urgente se acalmou para passos contidos. Talvez ele pudesse desligar o cérebro com magia, usar a varinha para ligá-lo e desligá-lo quando quisesse... Para onde ele devia ir, então? Para a biblioteca?


Sim, parecia certo. Na biblioteca ele encontraria informações sobre um feitiço desses. Ele se enfeitiçaria e ficaria livre...


Nathan parou no meio do corredor, alarmado, com um senso de déjà vu formigando por todo corpo. Ele estremeceu e puxou as vestes para mais perto de si. Estava acontecendo de novo. Ele ia se amaldiçoar e acabar na Ala Hospitalar, indefeso.


Não...


Então, nada de biblioteca. Para onde ir, entretanto? Não para as masmorras, é claro, mesmo que fosse onde sua mãe certamente estava. Mas seu pai estava nas masmorras, não estava? Talvez até mesmo no laboratório com sua mãe.


Droga! Estou pensando nele de novo! Nathan gemeu. Ele não queria pensar no bruxo exasperador que certamente já esquecera completamente dele. Seu pai de verdade havia desistido dele, ele sabia. Ele jamais controlaria o Prof. Snape, O Idiota. Nathan já não se lembrava mais de seus sonhos quando acordava. Tomara o fato como um sinal. Seu pai de verdade desistira.


Como eu paro meu cérebro? Nathan gemeu de novo.


Ele agora andava sem rumo, simplesmente movendo os pés e esperando que seu cérebro parasse de torturá-lo. O que sua mãe fazia quando estava ansiosa e não queria que ele soubesse? Ah, sim. Ela respirava fundo, mudava o rumo de qualquer conversa que estavam tendo e começava a fazer algo completamente diferente do que estivera fazendo até o momento, para se concentrar em algo totalmente diverso.


É isso!


Nathan sorriu. Ele sabia exatamente para onde ir e o que fazer.


Obrigado, Mãe.


~o0oOo0o~


— O que você está fazendo aqui em cima?


— Oi, Mãe. — Nathan sorriu despojadamente para ela. — Estou observando os jardins.


Hermione absorveu a vista além da janela cujo parapeito seu filho ocupava. O dia estava surpreendentemente ensolarado, o céu um tom pastel de azul com poucas nuvens.


— Você deveria estar lá fora num dia lindo como este, querido — ela destacou. — Onde estão seus amigos?


— Eu estava com eles no campo de quadribol não faz muito tempo — ele respondeu. — Mas eu não consigo ver a vila dos jardins — acrescentou. — O que é aquele prédio ali? Aquele com cinco chaminés?


Hermione sentou de esgueiro no parapeito, desta forma de frente para Nathan, para examinar a vista à frente pelo prédio que seu filho perguntava a respeito. — Acredito que seja o boticário. — Ela podia ver a vila toda desta janela. As casinhas cercadas pela Floresta Proibida esbranquiçada tinham a maior parte das chaminés expelindo fumaça e eram lindas dali de cima. Até a estação de trem estava meio à vista. Era uma vista digna de cartão postal, ela achou.


— Achei que pudesse ser uma Central de Flu ou coisa assim — Nathan disse.


— Não tem uma Central de Flu em Hogsmeade. As pessoas chegam pelo Três Vassouras quando precisam, mas aparatação é como a maioria dos bruxos e bruxas viajam.


— Nós chegamos de trem.


Hermione assentiu com a cabeça. — Crianças não aprendem a aparatar até a maioridade, e transportar todos vocês pela rede Flu do Três Vassouras não seria nada prático, para dizer o mínimo — ela argumentou.


Um resmungo foi a resposta que recebeu antes da conversa ser tomada pelo silêncio amigável.


— O que o traz aqui, observando os jardins? — ela quis saber. Era agradável aqui em cima, mas Hermione não achava que Nathan preferiria paz e quietude ao invés de jogos e, Deus o livre, aventuras. Nenhum menino de doze anos preferiria, a não ser que houvesse algo de errado, e Hermione esperava que ele tivesse uma razão melhor e mais saudável para estar aqui em cima.


— Estou fazendo um mapa — ele lhe disse.


— Um mapa? — Hermione ficou aliviada com a resposta, mas apenas até se lembrar do mapa que Harry herdara e da quantidade de travessuras envolvidas em seu uso. — Que tipo de mapa? — ela então perguntou.


— Um mapa da vila. Estava tentando adivinhar o que cada prédio era pela aparência deles.


Hermione franziu a testa em confusão.


Nathan deu de ombros. — Não tem vídeo games no mundo bruxo — ele justificou e depois tentou sorrir.


Hermione sorriu de volta, mas estava longe de ficar satisfeita com a resposta dele. Nathan voltou a atenção para os jardins adiante, e Hermione fez o mesmo. Foi quando uma coruja passou em direção ao corujal que um pensamento cruzou sua mente.


— Gostaria de visitar a vila? — ela perguntou ao Nathan.


— Posso? — ele perguntou animado


Hermione ficou satisfeita com a luz nos olhos dele. Ela sorriu, desta vez mais genuinamente. — Sim, se eu levá-lo.


— E você vai me levar, não vai? — Ele ficou em pé num movimento rápido. — Nós podemos ir à Dedosdemel, depois na livraria, depois na Gemialidades Weasley, e depois...


— Devagar, devagar — Hermione interrompeu, rindo. — Visitaremos o que conseguirmos até a hora do jantar. Podemos então comer no Três Vassouras, se quiser.


Nathan franzia o cenho.


— O que foi? — ele inquiriu.


— É domingo — foi a resposta curta dele, e Hermione entendeu tudo que ela compreendia.


— Convidaremos seu pai para vir conosco, se essa é sua preocupação. — Entretanto, o prospecto não pareceu apaziguar Nathan. Ela também não estava ansiosa para sair junto com o Severo, mas ela tinha bons motivos para isso. Os motivos de Nathan eram o que lhe preocupava. Por que ele não iria querer passar tempo junto com Severo? Antes que pudesse perguntar, ele falou novamente:


— Preciso de penas. Podemos comprar em Hogsmeade?


— Claro. — Ela o considerou por mais um momento, depois decidiu segurar suas perguntas por mais um tempo. — Porém, almoço primeiro. Venha, vamos para o Salão Principal.


~o0oOo0o~


— Eu não vou jantar em Hogsmeade — Severo protestou novamente.


— Então você pode jantar sozinho, porque estou levando o Nathan para Hogsmeade, e vamos jantar no Três Vassouras, você vindo ou não — a bruxa impertinente lhe disse. Ela estava gostando disso; ele podia ver a alegria dela por todo o rosto exasperador dela.


— Nathan é um aluno do primeiro ano, pelo amor de Merlin. Que ideia de jerico: um final de semana com Hogsmeade para um aluno do primeiro ano. Ele já se acha acima das regras da escola, ele não precisa nem um pouco do seu encorajamento.


— Não estou encorajando nada. Qual o seu problema, Snape? Está com vergonha de ser visto na vila conosco, é isso? Porque não estou de ameaçando com a varinha, então recuse o convite para que eu possa pegar meu filho e sair, por gentileza.


Eu não quero expor o Nathan ao ridículo, mulher impossível — ele a respondeu mentalmente. — Meu problema é ter um filho desrespeitador de regras — ele lhe disse, entretanto, o que também era verdade.


— Nós não estamos quebrando nenhuma regra da escola, Severo, e o Nathan sabe que é um privilégio especial, que nós não vamos levá-lo para passear todo fim de semana. — Ela parou de falar e olhou-o por um momento antes de suspirar. — Ele precisa de um tempo, Severo. Encontrei-o completamente sozinho esta manhã. Ele está tentando se alienar novamente, e eu não vou ficar só olhando enquanto ele tem êxito.


Aquela peça de informação preocupou Severo. Mas se uma distração era o que Nathan precisava, havia alternativas que não envolveriam uma saída do castelo.


— Então vão brincar na biblioteca, ou no laboratório; pode ficar com ele para você esta tarde.


— Eu acabei de dizer que estou indo para Hogsmeade.


Grifinórios teimosos...


— O que espera ganhar com isso?


— Algum tempo proveitoso com o Nathan – para o Nathan – e estou convidando você – por ele.


Severo bebeu o último gole de suco de seu copo, balançando a cabeça e pensando que não haveria tempo proveitoso em Hogsmeade para o Nathan. Onde eles fossem, haveria olhos neles, todos juízes de um menino já condenado por associação. Se ele fosse, os olhos poderiam se transformar rapidamente em palavras de insulto, o que mancharia a felicidade de seu filho com a mesma certeza que seu copo se encheria novamente quando tocasse a mesa.


— Bom, você sabe onde estaremos — Granger disse, interrompendo sua reflexão. Ela se levantou para sair, e o destino de Nathan estava selado. — Tenha um bom dia, Severo.


Severo colocou o copo em frente ao seu prato, e ele se encheu instantaneamente.


~o0oOo0o~


— Quantos deste, Mãe? — Nathan perguntava.


— O quê? — Hermione estivera distraída demais pensando sobre o que diabos estava passando pela cabeça de Severo. Ela acabara de vê-lo descer a rua não tinha cinco minutos, e agora ele estava simplesmente parado ali, fingindo que sua atenção estava nos livros na vitrine da livraria do outro lado da rua. — Ah, cinco é o bastante.


Nathan pegou cinco doces do pote e colocou na sacola deles. Ele não parecia ter notado as peripécias do pai. Hermione teve vontade de ir até lá e exigir que ele agisse com adulto, mas só em pensar em confrontá-lo no meio da rua principal de Hogsmeade, sabendo que ele seria o irritante de sempre, a fez suspirar de frustração.


— Cinco deste também — Nathan disse, alcançando os Sapos de Chocolate.


— Só dois desse, Nathan — ela o corrigiu antes que esta ida a Hogsmeade se tornasse um prelúdio a uma visita ao consultório odontológico de seus pais.


Por que Severo não podia simplesmente se juntar a eles, por Cristo? Será que ele tinha que ficar assomando das sombras como um morcegão?


— Você tem doces o bastante para uma vida inteira, Nathan — ela disse ao filho antes que ele alcançasse qualquer outra coisa.


— Uma pena de açúcar? Eu nunca comi uma antes... — ele pediu.


— Está bem, uma pena de açúcar.


Ele a pegou e colocou no saco, sorrindo com seu triunfo, aquela cópia presunçosa do pai sonserino.


— Dois Galeões e cinco Sicles — o caixa anunciou.


Hermione pagou pela compra e saiu da Dedosdemel, Nathan um pouco à frente dela, correndo direto para a livraria do outro lado da rua.


Severo não estava em nenhum lugar à vista.


Hermione tentou agir como se não soubesse que ele estava por perto, atravessando a rua como se não tivesse uma preocupação no mundo, mas o tempo todo querendo parar no meio da rua e chamá-lo pedindo que ele se revelasse.


Ela não o fez, é claro; tinha mais controle do que ele pensava. Ao invés disso, Hermione entrou na livraria e alcançou Nathan. O olhar de encanto no rosto dele fez sua irritação diminuir um pouco. Fora uma boa ideia tirar o Nathan do castelo, para longe das preocupações dele, mesmo que apenas por algumas horas.


— Olha, eles têm livros sobre suco de abóbora — ele comentou e deu uma risadinha. Hermione sorriu para ele. Nathan logo seguiu para outras prateleiras e foi absorvido pelas novas opções de literatura disponíveis para bruxos.


Severus deveria estar aqui para ver isso, para compartilhar esses momentos únicos com eles. A irritação de Hermione com o homem voltou com força, apenas de pensar que Severo estava em Hogsmeade, brincando de esconde-esconde ao invés de encará-los como homem.


Ela andava pelas prateleiras, tocando as lombadas dos livros e lendo um título aqui e ali, todo o tempo de olho em Nathan, que parecia estar fazendo uma inspeção mais detalhada do conteúdo das prateleiras do lado oposto ao longo salão, alguns poucos degraus acima.


Por que Severo era incapaz de tomar parte? A parte dele, além de tudo. Ele poderia estar ali em cima com o filho, comentando sobre os títulos e a qualidade relativa e relevância – ou falta de, como seria muito provavelmente o caso – deles. Eles poderiam estar passando a melhor hora de suas vidas aqui juntos. Mas não, Severo tinha que ser teimoso e passar essa oportunidade com base em... que exatamente? Estúpidas regras da escola? Ora, faça-me um favor! Só se a escola tivesse uma nova regra para vergonha, porque era isso, não era? Ele estava com vergonha de ser visto com eles.


— Tire ele de perto dos livros avançados.


Hermione segurou um gritinho, virando-se assustada para dar de cara com o bruxo de seus pensamentos irados em pessoa. Ela tinha a varinha na mão – um reflexo – e quase deixou a azaração que se formara em sua garganta reinar livre. Se recompondo, ela respondeu:


— Vá lá e tire você mesmo.


Ele teve a pachorra de parecer descontente com sua sugestão.


— Ah, é mesmo, você não pode, porque está brincando de esconde-esconde — ela acrescentou sarcasticamente.


— Então deixe ele lá. Mas não venha me procurar quando ele tentar feitiços avançados e for parar numa cama de hospital novamente.


Ela revirou os olhos. — Severo...


— Mãe. — Ela se virou em direção ao chamado do filho, e quando girou de volta, Severo não estava mais lá. As mãos de Hermione se fecharam em punhos num gesto para tentar conter sua frustração com o homem.


— Eu quero este livro — Nathan, agora ao seu lado, declarou.


Ela pegou o livro dele para analisá-lo e se demorou lendo o índice enquanto lutava contra a vontade de explodir e xingar Severo em voz alta. Quando levantou o olhar, ela encontrou Nathan distraído com os livros encantados em exposição dentro de uma bolha mágica usada para contê-los.


Hermione se assustou novamente quando um livro flutuou em frente ao seu rosto. Era um livro de Poções.


— Já está pago — veio na voz aveludada daquele homem impossível.


— Isso é ridículo! — ela sibilou. Olhou ao redor, tentando vê-lo para que pudesse dizer-lhe o que achava daquele jogo estúpido que ele estava jogando, mas ele estava invisível. — Pare com essa bobagem agora mesmo!


Nenhuma resposta. Hermione urrou baixinho e saiu em direção ao caixa. Ela pagou pelo livro que Nathan escolhera e descobriu que o outro estava realmente pago.


— Vamos, Nathan — ela chamou o filho, que ainda observava os livros encantados. — Temos outra loja para visitar antes do jantar.


Deixaram a livraria e foram, de fato, a mais duas lojas: à papelaria em busca de penas e pergaminhos e à Gemialidades Weasley em busca de travessuras.


Se Severo esteve naqueles lugares os observando, ele não se fez notar, nem mesmo quando Hermione permitiu que Nathan comprasse um daqueles fogos barulhentos. Bom, melhor assim. Se ele não queria fazer parte do passeio deles, devia lhes deixar mesmo em paz.


Então foi com renovada frustração que Hermione fora recebida com a visão de Severo Snape em uma mesa pequena do Três Vassouras, batendo em sequência os dedos na mesa, parecendo para qualquer um completamente desinteressado com o mundo ao seu redor. Mesmo que não fosse uma surpresa, a presença dele era inesperada. Ela tomara o silêncio dele depois da breve interação na livraria como um sinal da partida dele de volta a Hogwarts.


— Ah, olha quem decidiu aparecer! — Hermione lhe disse, incapaz de esconder sua irritação.


— Você está atrasada — foi a resposta dele.


— Eu não me lembro de ter marcado um horário — ela retrucou.


Ele olhou feio para ela como se ela fosse a errada e depois tirou um pouco do veneno do olhar para olhar para o filho deles.


— Oi — Nathan cumprimentou depois que ninguém disse mais nada. Severo inclinou a cabeça, e Hermione suspirou, resignada a tolerar pelo bem do Nathan.


Eles se sentaram em cadeiras do lado oposto ao homem.


— Eu já pedi; espero que não se importe — Severo anunciou.


Hermione se importava, mas deixou para lá pelo bem do Nathan.


Esta noite iria de mal a pior se ela tivesse que trazer o bem do Nathan para tudo que dissesse ou fizesse. Hermione decidiu então que era melhor esquecer o que acontecera até agora durante o dia e começar este jantar como ela começava qualquer outro.


— O que vamos comer? — ela perguntou, pintando a voz com calma e educado interesse.


— Linguiça e purê de batatas. Cerveja Amanteigada para vocês, vinho para mim. Não posso recomendar nenhuma sobremesa feita aqui, então não pedi nenhuma. Por que estamos comendo aqui mesmo?


Encantador — Hermione pensou, contando até dez para não retrucar.


Por sorte, a garçonete decidiu se aproximar da mesa naquele momento.


— Vejo que seus convidados chegaram, Professor! — Madame Rosmerta declarou, parecendo encantada. Porém, Hermione sabia que ela estava mais curiosa do que encantada. — Ah, querida Hermione Granger! Que alegria lhe ver! — Rosmerta cumprimentou, fingindo surpresa ao ver quem eram os convidados de Severo para a noite. A garçonete se ocupou colocando pratos, talheres e copos para os três. — E quem é esse jovenzinho? É o seu menino, Severo? — Ela ficou esperando uma apresentação.


Uma que Hermione sabia que Severo não faria.


— Este é o Nathan, Madame Rosmerta — Hermione lhe disse.


— Ah, olá, pequeno Nathan. — Rosmerta ofereceu a Nathan um sorriso aberto que avós reservam para criancinhas, ao que recebeu de volta uma sobrancelha erguida do menino e sobrancelhas franzidas do homem do lado oposto da mesa. Rosmerta soltou um riso curto, com a bandeja apoiada no quadril. — Uma mistura e tanto dos seus pais, é sim! A comida de vocês estará aqui logo, logo. Agora, se me dão licença...


— O que foi aquilo? — Nathan perguntou depois que a mulher se virara e voltara para os afazeres dela.


— Fofoqueira enxerida — Severo resmungou irritado.


— Ela estava curiosa para conhecê-lo, só isso — Hermione respondeu indiferentemente. Ela não queria que Nathan ficasse desconfortável com a atenção que estavam recebendo. Quase esquecera como podia ser opressivo ser o centro das atenções num lugar público.


— Sua mãe aqui é uma heroína de guerra, o cérebro do Trio de Ouro, que desapareceu por doze anos e depois voltou com você. O salão todo está olhando para nós — Severo disse, arruinando tudo.


Nathan olhou em volta, constrangido. Hermione olhou feio para Severo.


— Jantar no Três Vassouras. Que ideia iluminada! — ele respondeu, embebido em sarcasmo, ao olhar dela.


Então as bebidas chegaram, dando Hermione alguma coisa não mortal para fazer com as mãos. Nathan tomava um interesse súbito pelas sacolas de compras.


Isso não estava saindo como ela planejara. A última coisa que Hermione queria era estresse e conversa laçada com palavras afiadas. Tomou um gole de Cerveja Amanteigada e renovou sua paciência para fazer uma tentativa de conversa normal.


— Eu não vi você comprar este livro de Poções, Mãe. — Nathan lhe salvou a preocupação. — “Preparando Ingredientes para Poções”... — Nathan resmungou, abrindo o livro com interesse.


Hermione olhou na direção de Severo. Ele estava fingindo que não estava observando Nathan, embalando a taça de vinho e parecendo entediado.


— O livro é para você — Hermione disse a Nathan.


— Mesmo? — ele perguntou com entusiasmo, sorrindo para ela. — Obrigado, Mãe.


— Ah, não precisa me agradecer. — Hermione viu a taça parar na mão de Severo e soube que ele estava esperando por suas próximas palavras. — Agradeça seu pai. O presente é dele.


— Você comprou um livro de Poções para mim? — Nathan perguntou a Severo.


O homem depositou a taça na mesa e parecia para todo mundo como se não fizesse parte da conversa que acontecia. — Você parece interessado no feitio de poções, e já que sua mãe lhe deu acesso irrestrito ao projeto dela, pensei que poderia aproveitar para aprender a preparar ingredientes direito — ele disse, e Hermione podia ver como o estava custando dizer aquilo sem o sarcasmo de sempre.


Reviravolta interessante — ela pensou.


— Eu gostei. Obrigado — Nathan lhe disse com um pouco de reserva, mas Hermione, observando o rosto dele com atenção, podia ver que havia mais por trás da resposta educada.


Severo inclinou a cabeça num assentir curto de reconhecimento, escondendo o desconforto atrás das cortinas de cabelo, como tinha o hábito de fazer. Por mais irritante que o bruxo fosse, ele tinha o coração em nos lugares certos, e isso era incrivelmente difícil de ignorar no momento. Hermione queria sorrir para ele e lhe dizer que era normal sentir contentamento ao ganhar pontos com Nathan. Ela queria porque queria...


Mas não podia. O que ela queria não era apreciado; tinha que parar de amá-lo. Entretanto, como era difícil parar de amá-lo, parar de querer o que nunca teria.


Talvez ela se acomodasse com se sentir feliz por ele. Não parecia haver perigo nisso, sentir-se feliz. Por que era tão difícil?


Nathan colocou o livro em frente a ela. — Olha — ele lhe pediu. — Tem figuras animadas com as instruções. — Ele deu um sorriso largo.


— Ah, muito útil! — Ela tentou mostrar entusiasmo. Não deveria ser difícil, sentir entusiasmo. — É um presente bem útil.


Nathan não respondeu com palavras, mas seu sorriso era mais que suficiente para ela. Um simples gesto de Severo era tudo o que era necessário para o menino deles sorrir novamente, e Severo achava que precisava de mais para ser um pai?


Severo segurava sua taça e a observava, ela percebeu. Ela não podia sorrir para ele, porque aquilo soltaria a besta perniciosa das defesas dele para cima dela e arruinaria o momento. Ela não podia agradecê-lo, porque isso o faria se fechar em si mesmo e arruinaria o momento. Ela não podia alcançar a mão dele. Não podia mostrar que o amava. Ela não deveria amá-lo.


Mas ela podia segurar seu olhar ao dela enquanto puxava Nathan para perto em um meio-abraço e beijava o topo da cabeça do filho deles, e com sorte, Severo se sentiria incluído.


— Mãe! — Nathan protestou, fazendo Hermione sorrir, e ela podia jurar que os lábios de Severo tremeram tentando segurar a própria reação.


A comida escolheu aquele momento para chegar, trazendo Hermione de volta de seus devaneios, e ela lutou para manter os sentimentos sob controle. A noite tomou um rumo para melhor depois daquilo. Eles comeram ao som dos comentários entusiasmados de Nathan sobre ingredientes de poções, intercalados pelas observações de Severo aqui e ali, e suas próprias opiniões de vez em quando. Era tão difícil não deixar se levar por esses momentos de complacência... Era como se eles estivessem fazendo isso – sendo uma família – por muito tempo, e parecia mesmo normal... certo. Como se Severo colocar os talheres na mesa e responder as perguntas curiosas de Nathan estivesse acontecendo na mesa de jantar de Hermione a cada refeição. Como se eles fossem se recolher à sala de estar depois disso, onde ela leria enquanto os dois jogavam uma partida de xadrez bruxo, como costumavam fazer na maioria das noites. E mais tarde, quando ela tivesse colocado o Nathan na cama, Hermione voltaria e encontraria Severo no sofá, duas taças de vinho nas mãos, olhando-a intensamente.


Hermione olhava fixamente para a mão de Severo segurando a taça mais vazia que cheia de vinho quando a realidade lhe atingiu. Ela ergueu o olhar para encontrá-lo olhando para ela, mas não como no sonho que tivera acordada, embora ele também não estivesse olhando feio ou franzindo a testa. Era somente... olhos nela, até que eles se desviaram.


— Terminou? — ela perguntou ao Nathan.


— Sim — seu filho respondeu.


Ela olhou para Severo, e ele assentiu com a cabeça. Hermione não queria que a noite acabasse, mas ela tinha que acabar. Ela sabia disso. — Devemos voltar antes que fique muito tarde — ela sugeriu, e eles se prepararam para sair.


Caminharam de volta para o castelo juntos, todos parecendo contentes na companhia dos outros, nenhum apressando o passo para se afastar mais rápido da brisa fria de inverno. Afinal de contas, eles não estavam com frio. Isso estava longe de ser frio.


Subindo as escadas para a entrada do castelo, Nathan parou abruptamente e se virou para encarar Hermione. — Você não me levou no boticário.


— Podemos ir lá numa outra oportunidade — ela lhe disse. — Agora, vá para dentro. Está ventando demais para ficar ao relento.


Dentro, o frio pareceu lhes alcançar, e o silêncio incômodo que caíra sobre eles fora finalmente espantado quando Severo limpou a garganta. A voz suave dele não era quente, mas também não era fria, quando ele perguntou:


— Presumo que o acompanhará até a Grifinória?


O que seu coração tolo estivera esperando para seu peito se apertar daquele jeito? Coisa estúpida! — Sim, claro — ela conseguiu dizer.


Ele concordou com a cabeça, dirigindo-se a Nathan em seguida. — Vejo você amanhã, Nathan. — Assentiu novamente com a cabeça, e suas vestes lhe seguiram em direção à escadaria para as masmorras.


Severo estava quase lá quando Nathan decidiu responder:


— Boa noite, Pai.


A boca de Hermione se abriu um pouco, e não foi só ar o que lhe encheu o peito naquele momento, mas também alegria e esperança. Severo tinha parado no topo da escadaria quando Nathan o chamara. Depois de um tempo apenas parado ali, Severo se virou de lado e assentiu, um movimento rápido demais para Hermione conseguir captar os sentimentos por trás daqueles olhos expressivos antes dele descer rapidamente para a escuridão.


Hermione abraçou os ombros de Nathan, apertando-o para o lado de seu corpo em apreciação à coragem e determinação dele. Ela o guiou escada acima, esperando que isso fosse mais que uma trégua entre todos eles. Esperando que este fosse o começo certo que eles perderam meses antes.


~o0oOo0o~


Pedir vinho fora uma ideia infeliz. Sua dor de cabeça melhorara, como Severo havia esperado, mas por outro lado, os efeitos relaxantes que o vinho sempre tinha nele saíram pela culatra perigosamente.


Ele não conseguia se importar muito no que dizia respeito ao Nathan. Ele fora chamado de Pai de novo, deliberadamente, e agora, reclinado na poltrona, aproveitando o calor emanando da lareira, Severo podia sorrir e alimentar este sentimento estranho de triunfo. Sim, amanhã os levaria de volta para onde estavam antes do vinho, mas amanhã podia esperar. Neste exato momento, Severo era o pai do Nathan e estava se deleitando com cada minuto.


Nathan era divertido e esperto. É claro — Severo pensou presunçoso —, ele é meu filho. Severo continuou sorrindo e revivendo os melhores momentos da noite, os muitos sorrisos que seu menino lhe dera, a admiração que brilhara dos olhos de Nathan. Severo sorriu contente, sim, realmente sorriu. Ser pai era muito bom, ele definitivamente poderia se acostumar com o sentimento; pena que não seria nem um pouco prudente.


Uma pena mesmo.


Mas por hoje à noite, Severo seria indulgente. Na verdade, ser pai pedia por mais vinho do que ele tomara no jantar, então ele chamou uma taça e uma garrafa de sua reserva particular. Encheu a taça e brindou a si mesmo, sorrindo com malícia. Severo estava celebrando.


E já que estava cedendo a caprichos frívolos, ele também não ignoraria a mãe do menino. Ah, sim, ele a notara observando-o mais vezes do que não, mesmo depois do que lhe dissera mais de uma vez. Ela deveria ser mais esperta. Mas se esta noite era para esquecer o amanhã, ele admitiria que a atenção de Hermione Granger era boa para o ego. Se o trouxa dela não era homem suficiente para suas necessidades, ela era bem vinda para querê-lo. Afinal de contas, ela tinha lábios deliciosos. E olhos atraentes. E mãos delicadas. E um corpo sensualmente curvilíneo – seios encantadores, bunda redonda. Uma pena ela ser Hermione fodona Granger, ou haveria foda de outra natureza.


Ah, ele podia ser um pervertido e querê-la esta noite. Sim, ele era um bastardo pervertido, e talvez devesse voltar para rua e tratar de seus desejos com algumas mulheres fáceis, como fizera no passado. Entretanto, ele queria Hermione lábios-perfeitos Granger, não aquelas mulheres desalmadas que andavam pelas ruas da Travessa do Tranco à uma hora dessas num domingo, e por isso ele deveria queimar no inferno. Ele estaria condenado, mas queria aqueles olhos admirados brilhando com desejo enquanto ele a possuía de novo e de novo.


Severo tomou todo o vinho restante na taça, rolando o líquido pela boca, degustando-o com prazer. Não era o gosto dela, mas serviria. Esta noite ele estava dando asas à sua imaginação, e se ela queria que a boca de Hermione tivesse gosto de vinho, era o gosto que a boca dela teria.


Ele então precisava de mais vinho.


Já avançado em sua terceira taça cheia, Severo fez um som no fundo da garganta e depois riu sombriamente do estado em que sua mente diabólica estava deixando seu corpo. — Bastardo tarado — ele disse, olhando para o colo, e depois respirou fundo com um tremor, tomando sua decisão. — Estamos fazendo nossas vontades esta noite, meu caro. — Ele esvaziou a taça de um gole só e se levantou. Quando se assegurou que tudo permanecia estacionário, andou até o quarto, languidamente trabalhando os botões se sua camisa enquanto andava.


Porque esta noite Severo Snape estava esquecendo o passado, não se preocupando com o futuro, e simplesmente jogando a toalha e se juntando a ela na insanidade.




N. A.: Sim, Severo querido está um tanto quanto instável e pouco confiável – pelo menos para as exigências dele, porque eu não vejo nada de mais em deixar alguns sentimentos bons fluírem livremente. *rs*


No próximo capítulo… Nathan ajuda Severo a aprender algumas coisas sobre realidade e sonhos, e a vida de Severo é para sempre alterada.


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