O Problema do Amor é. Parte 2



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Ela tinha a face gélida e clara, longos cabelos negros que se destacavam na paisagem cinza. Tinha a beleza já conhecida daquela família. A beleza dos Black. Mas seus olhos azuis não continham o brilho dos de Sirius, continham um rancor e uma frieza que todos os Black possuíam. Apesar de cansada, Azkaban não parecia ter prejudicado mais nada em sua aparência. 



Exibia um sorriso sarcástico no canto dos lábios, que friamente lhe lembrava Draco. Jogara os cabelos lisos pra trás de forma impaciente o que fez Hermione perceber que ela não era tão fútil e vaidosa como Narcisa. Não, as duas eram lindas, mas Bellatrix não parecia se importar muito com isso como a irmã. Ela levantara a varinha negra na altura do peito do homem e com um gesto simples e um estrondo explodira a vitrine da qual o homem se apoiava.


 Hermione assim como o homem, saltara em susto. Draco que parecia não ter sido atingido com o mesmo susto agarrava a cintura da castanha impedindo que ela fizesse algum movimento tolo.
Os cacos de vidro voavam em todas as direções e Draco se pusera em cima da castanha protegendo-a, ela tossia com a poeira causada. “Ela não estava preparada para a Guerra que estava começando...”, ele pensara. O homem jogado ao chão grunhia de medo, Draco não entendia o que estava acontecendo. Ele vira sua tia ficar imóvel sem se importar com os cacos de vidro que ameaçavam ir de encontro a ela, apenas olhava pro homem como se este não fosse também um comensal, e sim um verme.



– Bella, deixe-me falar. – pedia o homem quase chorando, apesar do medo que aparentava, possuía uma voz firme e grave que só então Draco e Hermione o reconheceram.


Bella apenas o olhava como se o estudasse, o homem se levantara tentando manter a pose intimidadora de sempre, que não obteria sucesso com ela.



– Nunca devia ter apoiado que minha irmã se casasse com você. Você é imundo, Lucio.


 Draco não entendia o que ocorria ali, sua tia e seu pai no meio de Londres numa conversa esquisita. Ele não devia estar em Azkaban? A castanha olhara preocupada para ele antes de mirar novamente aquele diálogo de Comensais.



– Eu só fiz o que estava em meu dever, Bella. Aqueles vermes...



– Foi Narcisa quem te mandou aqui, não foi? Ela te ajudou a escapar de Azkaban. Minha irmã é uma idiota.



– Ela estava preocupada com Draco. Acha que eu vá livrá-lo da missão. – ele soltara uma risadinha seca. – Sem chance, é o destino dele.



– Não ria pra mim, Lucio! Não se esqueça com quem está falando. – Lucio tremera de leve aos olhos azuis da Comensal. – Com ordens de quem você conjura a Marca Negra?



– Draco está por Londres, não consigo ler a mente dele. De que outro jeito você espera que eu vá...



– Com ordens de quem, Lucio? – ela o cortara ignorando tudo o que o homem dissera, agora com a varinha em sua garganta. – Draco é um ótimo oclumente, devia saber bem disso, sabendo a tia que ele tem. – disse com um sorrisinho.



– Ele não deve se desviar de sua missão. 



– Ele não se desviou.



– E o que você faz aqui, Bella?



– Não te devo satisfações, Lucio. Não sou Narcisa. – ela dissera amargamente. – Agora se os corpos forem identificados, o Ministério vai desconfiar de você. Ou de Draco.


 Hermione olhara espantada para o loiro que a encarava. E sem perceber apertara ainda mais o seu casaco. “Não se preocupe...”, ele cochichara para a castanha.



– Eles se meteram no caminho. Quanto a Draco, desde que ele siga com o plano, tudo bem. 



– Ei, Lestrange. Olha o que eu achei. – dissera um homem com um sorriso sádico na cara, empurrando um homem careca de olhar desesperado entre Bellatrix e Lucio.  - Estava espiando a operação na casa dos Storve. – Bellatrix começara a contornar o homem como uma leoa contornando sua presa.



– Vamos embora. – dissera Draco ao pé do ouvido de Hermione, que estava hipnotizada com o que acontecia.



– Storve? – disse a mulher.


Como a mulher mais linda que Hermione já vira podia ser a mais terrível? Seu olhar dava medo, ela não entendia como aquela mulher poderia ser prima de Sirius, como ela tivera coragem de matá-lo... Hermione sentia sua vontade de ir até lá e matá-la crescer.


– É Will Catsh, não é? Faz caldeirões. Eu me lembro, comprei o meu com você quando ainda estava em Hogwarts. – o velho de aparência nova tremia a cada palavra dela.



– Sim, eu vendi meus caldeirões para a Sra, para vossa irmã e vosso primo. Sirius... Me lembro dele muito bem. – Bella parara de andar e o encarava com olhos indecifráveis. 



– O que fazia na casa dos Storve? – o homem tremera.



– Hermione, vamos embora! Você não vai querer ver isso! – disse o loiro. Hermione não ouvia.



– Eles são boa gente, não fizeram mal a ninguém... – o homem começara a soluçar.



– É? E nós somos o que? Gente má? – disse Bellatrix.


Hermione mal agüentara o ódio dentro de si, onde ela estava querendo chegar com tudo aquilo? Ela vira a mulher se agachar até poder encarar o homem que soluçava ao chão.


– Olhe pra mim, Catsh. – ela dissera gentilmente, o homem não tinha coragem de levantar o rosto até o dela. – Olhe pra mim, Catsh. – o homem finalmente obedecera ainda tremendo. A mulher vira a lagrima do homem escorrer como se estudasse suas reações. – Você me acha má?


Uma risada divertida se expandia no ambiente, era Lucio que achara graça daquilo.



– Mas o que isso, Bella? Mate logo o velho.



– Hermione! – chamara Draco ao seu ouvido com um pouco mais de pressão.



– Não! – ela respondera, sem tirar os olhos da mulher e do Sr. Catsh.



– Eu sou má porque matei aquela pobre família? – disse a mulher pro homem, ainda gentilmente. O homem soluçara. – E porque você não tentou ajudá-los, Catsh? – o homem chorava cada vez mais. – Você os viu morrer, e não fez nada... Não seria gente má você também?



– Eu não podia fazer nada... – o velho chorava.



– Ah, entendo. Você não podia fazer nada.



– Eu era um só... Vocês eram cinco. – o homem chorava cada vez mais. A mulher o olhava de forma compreensiva.



– Realmente, seria difícil. Mas vejamos, isso na sua mão por acaso não é uma varinha? – o velho olhara pra própria mão de forma assustada. – Você nem tentou, Catsh. Como nem tentou lutar pela própria vida agora. Você ficou agachado vendo seus amigos morrerem, como agora chora ao invés de tentar fugir. Tudo isso por quê? Por medo? Medo de gente má? – Hermione sentia nojo da mulher, de sua crueldade. – Sua mãe nunca te disse que existem dois tipos de gente má? As que fazem as maldades e as que deixam as maldades acontecerem? 



– Eu não... Eu não...



– De qualquer forma, Catsh, não ligue pra isso, é besteira. É ditado de mãe trouxa. Deixe-me te dizer uma coisa muito verdade. – ela se aproximara ainda mais do homem. – Não existe essa coisa de bem ou mal... Só existe o poder. E aqueles que são muito fracos para adquiri-lo. Todos matam, até os animais, é o ciclo da vida.



– É? Quem te disse isso, seu mestrezinho? Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado?



– Não, foi a vida. Se não fosse assim, seus amiguinhos não estariam mortos agora e nem você daqui a pouco.


– Hermione se precipitara para sair de seu esconderijo e atacá-la, mas Draco a segurava com toda força e a puxava para cada vez mais longe daquela cena. Ela, porém continuava a lutar contra seus braços.



– Não adianta, Hermione, não vai adiantar. Acredite em mim. Nada que você faça vai pará-la agora. Não há nada que possamos fazer agora. – Hermione caíra no choro se jogando de joelhos na neve.



– Ela já fez muita gente sofrer, se alguém não acabar com ela agora... Eu, eu quero matá-la!


 Draco não conseguia achar palavras para aquilo, nunca vira Hermione tão indefesa quanto naquele momento. Logo os dois foram distraídos por um clarão verde que vinha do ambiente que os Comensais e o velho estavam.



– Acabou, eles o mataram... Vamos embora agora. Antes que eles venham, Hermione.


 Hermione ainda olhava para a direção do clarão verde. Começara a nevar de novo. Depois de um tempo ela levantara e encarara Draco com os olhos ainda vermelhos, mas secos e com certo rancor. 



– Você disse que não estava me escondendo nada... Só essa missão, não é? – Draco apenas a encarava sem dizer nada. – Era esse o seu maior medo? No verdade e conseqüência. Que eu descobrisse que missão é essa? E com certeza você não vai me contar, não é?



– São coisas do meu pai, esquece isso.



– Você disse que NÃO era uma Comensal da Morte!


– Eu não sou.



– Mas faz parte dos planos de Voldemort! Trabalha pra ele!


– São só planos, dele com meu pai. Eu nem sei do que se tratam.



– Mentira! É tudo Mentira! Você só conta Mentiras!– o loiro respirara fundo e ela dera um rugido histérico. – Às vezes eu me esqueço que você é um Malfoy! – ela dissera seguindo seu caminho, antes de segui-la Draco fechara os olhos pesadamente e depois olhara para o local onde os Comensais se encontravam e dissera pra si mesmo.



– Eu também...


 


**


Querido Diário...

Eu pedi para que não fizesse besteira!! GRR!! É isso o que você chama de não fazer besteira? Você fez faculdade pra isso? Só pode ter feito! Namoral! Precisa-se de um passaporte para entrar na minha vida! Que raiva!

FlashBack*****************************



Draco empurrara a porta devagar tomando todo o cuidado pra não fazer nenhum ruído. As cortinas grossas não deixavam o sol de inverno penetrar o quarto. Draco a vira deitada toda encolhida ao coberto grosso, com o cenho franzido.
 



– Então é assim que fica a sua cara quando está sonhando comigo? – ele brincara em voz baixa, e chegara bem perto do rosto da castanha se segurando para manter sua promessa. – Hermione, acorda! – ela nem se mexera. – Hermione, seus pais querem se despedir de você. Estão lá embaixo. Só não podem saber que eu estou no seu quarto, não é? – ele disse com um sorriso malicioso. – Acorda. – ele pedira como uma criança.


 Ele levantara da cama bufando e com um sorriso sapeca abrira as cortinas, deixando a claridade ocupar o quarto. Mas nada, ela não acordara.


– Depois você dá um escândalo por eu não ter te acordado... 



Ele caminhara até a escrivaninha dela e vira no mural, fotos em movimentos dela com o Potter e o Weasley... O loiro bufara. Ele sorrira sapecamente para a castanha que continuava a dormir.
 



– Eu estou abrindo a gaveta da sua escrivaninha... – ele dizia conforme ia fazendo. – Acabo de encontrar algo que parece um diário... Estou abrindo o diário, estou lendo a primeira página... Se trata do diário do seu terceiro ano em Hogwarts! Você não disse que nunca conseguira manter um? Ah, é verdade. Só tem três páginas escritas... Vamos ver o que temos aqui....


 Draco fizera um som com a garganta de preparo e começara a ler.


– “Querido Diário, hoje eu me estressei... Não é tão fácil assim manter todos os horários das aulas, sabe?” Uau... Você mantinha todos os horários?... “Eu também fiz uma música, que eu nunca vou cantar pra ninguém mesmo. Não só porque eu sou muito tímida, mas também porque o desgraçado do Malfoy...”, mas tudo eu, depois eu falo que você me ama e você não acredita. “O desgraçado do Malfoy esbarrou em mim e minha linda música foi parar na poção do Ron, e a única parte que eu consegui salvar foi:

May angels lead you in
(Os anjos irão te guiar)
Hear you me my friends
(Escute seus amigos)
On sleepless roads, the sleepless go
(Nas estradas sem sono, sem sono eu vou)
May angels lead you in
(Os anjos irão te guiar)

Draco olhara para a castanha com o cenho franzido em confusão.



– Isso aqui fazia sentido pra você? – ele bufara entediado, guardando o diário na gaveta de volta. – Ok, você não era muito boa nisso aos treze anos de idade, te fiz um favor. Agora onde está aquele seu diário atual, aquele sim é legal. Aposto que você já admitiu nele que me ama. Droga, Hermione. Acorda! – ele pedira zangado ao seu ouvido.


Ela gemera algo inaudível e se virara de costas como uma gata manhosa, prendendo o braço dele embaixo da própria cintura.


– Wow, acorda... Se seu pai ver isso... – ela estava de bruços prendendo o braço dele.


 Ele puxara o próprio braço e fez com ela voltasse pra posição anterior, mas agora ele estava literalmente em cima dela.


 – Sabe, se eu não te conhecesse diria que você está tentando me seduzir... – ele brincara.


Mas agora não tinha mais jeito, ela estava com a boca entreaberta a cinco milímetros da dele. Ele teria de quebrar a promessa... Mas de repente um choro escandaloso invadiu a casa o desesperando.


– Cala a boca, Cléo, que droga. – então ele vira um par de olhos castanhos o encararem de modo ameaçador.



– Você por acaso... Se perdeu? – ela perguntara ameaçadoramente.
 



– Não. – ele respondeu receoso sem entender.



– Então porque está na minha cama, seu animal? – ela gritara o empurrando com brutalidade no chão.
 



– Está tudo bem, minha filha? – a voz do Sr. Granger vinha da escada os desesperando. Eles se olharam aterrorizados.
 



– Merlin... – ela deixara escapar.
 



– Vamos morrer... – disse o loiro.
 



– Embaixo da cama. – ela dissera e antes que ela terminasse a frase o loiro já estava bem acomodado lá embaixo.



– O que foi, Mi? – perguntara o pai que entrara no quarto no exato momento que ela cruzara as pernas sentada na cama aparentemente calma.



– Tudo.



– Porque você gritou?



– Pesadelo.
 



– Você está vermelha... Parece tensa.



– Não... É que... Foi um pesadelo
 horrível! – ela frisara bem o horrível para que Draco percebesse a indireta, tudo o que o loiro fizera foi olhar feio pro colchão sobre si.



– E Draco?



– O que tem ele?



– Já acordou?
 



– Não sei, deve estar lá no quarto dele...
 



– Vou lá pra ver como ele passou a noite. – ele disse fechando a porta atrás de si.



– Alguém já te disse que você tem o dom de ferrar as pessoas? – disse Draco revoltado já de pé reparando na camisola fina de Hermione. Ela fechara o roupão, vermelha de vergonha.



– Pára de reclamar, vai pro quarto!



– Como eu vou chegar lá antes do seu pai, inteligência?



– Pela varanda... Vai ter que pular as varandas.



– O que? Ficou maluca?



– Vai logo... – disse ela empurrando ele para a varanda.


Ele fizera o velho gesto de quem está estrangulando alguém invisível. 
Draco com dificuldade pulara para varanda ao lado, evitando olhar pra baixo. Mas quando tentara abrir a porta da varanda que dá pro quarto...



– Não abre.



– O que? Como assim não abre? – ela perguntara estressada.



– Está emperrada!
 



– Faz força, seu idiota! Harry já teria conseguido a mui...



– Termine essa frase e você vai parar lá embaixo! – ele brigara.


Hermione rira, só então percebera em como Draco ficara gato de calça moletom e camiseta branca, sem contar aquela cara de raiva. E finalmente ele conseguira abrir a porta e correra para a porta onde o Sr. Granger batia há um bom tempo já.


– Ah... Bom dia, Sr. Granger. – ele dissera com um sorriso.



– Por que demorou tanto para abrir?
 



– Sono pesadíssimo.
 



– Hum... Bem, Draco, espero que você tenha tido uma boa noite.



– Ótima, senhor. Muito tranqüila.



– Hum, escute, Draco. Eu, minha mulher e Cléo estamos saindo. Vamos ver meu irmão que está internado. Acho que Hermione vai ficar feliz em te mostrar bem o bairro.



– Aposto que sim. – ele rira.



– Então... Até a noite.



– Até a noite. 
– e ele fechara aliviado a porta atrás do Sr. Granger. 



– “Aposto que sim?”?! E eu amo injeção na testa! – logo ele vira a castanha na varanda do seu quarto com a cara amarrada e o roupão branco até as coxas amarrado na cintura. Ele não deixara de rir. – Do que é que você está rindo?



– Achei que nunca ia ver essa cena...



– Que cena?



– Você pulando a varando do meu quarto de camisola. – ele dissera com um sorriso malicioso. A garota virara um pimentão.
 



– Será que você só pensa besteira, Draco? – ele ia em direção à ela com passos provocantes.



– Você que é uma menininha muito inocente, Hermi. – ele rira.



– Menininha? – ela dissera furiosa. – Menininha? Vai a merda! – ela disse partindo pra cima dele, tentando acertá-lo, porém ambos caíram na cama. Ele em cima dela. Ele rira de lado.



– Devo entender isso como um “eu te amo”?



– Não. – ela dissera seca, vermelha com tal aproximação.



– Pois devia, depois de tudo o que você falou enquanto dormia...



– Do que é que você está falando? – ela disse tensa. – Eu não falo quando durmo.



– Realmente, você não fala, você anuncia... Fala tão alto como se fosse pro homem no outro quarteirão ouvir.



– É mesmo? E o que foi que eu falei? – ela disse debochada. Ele se deitara mais ainda sobre ela, tirando um cacho de sua face.



– Você falou, que me amava, que não vivia sem mim... E que me achava lindo e gostoso, e que ficava tensa só de me ver. – ela rira secamente.



– Eu disse isso?



– Uhum... – ele disse quase grudando seus lábios nos dela.



– Acho que você se enganou, uma menininha não pensa nem fala essas coisas. – e empurrando-o de novo pra fora da cama se levantou e foi embora pela varanda sem ligar para um Draco que gemia de dor no chão pelo baque que dera.



Fim do FlashBack**************************


Eu não tenho forças pra descrever tudo o que aconteceu essa manhã porque está arriscado eu rasgar esse diário! Tipo... Eu tenho certeza que eu não falo quando durmo, mas você sabe... Não somos responsáveis pelos nossos sonhos, então pode, veja bem, pode ter ocorrido de eu ter tido um pesadelo em que ele me obriga a dizer coisas ridículas e mentirosas sobre ele... Não tem como eu ter certeza. Mas que merda! Tem noção do que é passar um dia inteiro com essa cobra? É terrível!



Nós andávamos sobre a neve num bairro um pouco distante do daqui de casa, uma praça que eu sempre brincava quando criança. Eu não queria ter de compartilhar essas coisas com ele, mas não tínhamos muita opção do que fazer. Pelo menos, eu não tinha.



– Cuidado, aqui é pouco escor...– eu dizia sem encará-lo. Mas na mesma hora eu ouvira um barulho atrás de mim revelando um Draco caído no chão.



– Valeu por avisar. – ele disse emburrado. Eu não agüentei, caí numa gargalhada sem fim. Ele rira. – Ei, pare de rir de mim. – mas isso só contribuiu para que eu risse mais ainda.


E o infeliz ainda tentara levantar, mas escorregara de novo. Eu caí numa gargalhada pior ainda do que a anterior. Ria muito. Eu não tenho que rir junto dele, tenho que ficar com raiva. Ok, admito que estou rindo agora de novo, só de lembrar da cena... Ignore-me. Continuando...


– Ah, você acha engraçado, é? – ele me tacara uma bola de neve no meio da cara e eu caí também.


Eu tentei pensar em algo ofensivo pra chamar ele, mas estava difícil porque eu não parava de rir. Então taquei outra na cara dele. E começamos uma guerra de neve, e eu ainda não conseguia parar de rir. 
Ele viera engatinhando até mim e me encurralara na neve, mas eu conseguira escapar esfregando uma bola de neve na cara dele. Ele saiu cuspindo neve e eu ria demais. Então ele me acertara novamente e eu ria muito, muito, muito, acho que eu nunca ri tanto em toda minha vida. E sem pensar duas vezes, eu não sei... Alguém usou o Imperius atrás de mim, só pode. Do nada... Eu o beijei. Eu o beijei!


Do nada, uma hora estava rindo, noutra o beijei, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Acho que você não entendeu: EU O BEIJEI! BEIJEI!BEIJEI! BEIJEI! Nem ele entendeu! Ele ficara parado surpreso. Só então, quando nossos lábios estavam grudados que eu entendi o que havia feito. Eu o olhei transtornada, nossos lábios ainda grudados! LÁBIOS SIAMESES! Nos encaramos por uns 3 segundos, aí ele me agarrou de vez. E eu nem relutei... Entendeu? Eu peço pra ele não me beijar por 2 dias! 2 malditos dias! E EU O AGARRO! NINGUÉM ME MERECE! Eu falei pra Merlin, praquele desgraçado não fazer besteira... Alguém deve explicar pra ele que fazer Hermione Granger beijar a pessoa mais imunda da face da Terra é uma besteira Imensa!!!


 Por que não me arrancam um braço? Seria muito mais acolhedor. Nãoo, me fez beijar aquela cobra! E o beijo durou muitoo... Um beijo apaixonado. É como se minha boca não fizesse parte do meu corpo. Eu o odeio, mas minha boca é completamente apaixonada pela boca dele, entende? BOCA FILHA DA PUTA! Eu ainda costuro essa poha! E ainda bem que é só a boca, não é?


Nos beijamos tanto que é impossível descrever o tempo que durou. E eu dava graças a Merlin a quantidade de agasalhos que usávamos, senão eu estaria um pimentão de vergonha. Mas eu me sentia tão leve, tão segura. Parecia a coisa mais perfeita do mundo. Sabe, um cavalo correndo contra o vento? Uma coca-cola gelada num dia insuportavelmente quente? A Grifinória ganhando a Copa de Quadribol? Tirar 10 em Transfiguração? Uma cena de um beija-flor numa flor... Sabe? Coisas simples da vida... Como assistir aquele vídeo trouxa “Filtro-Solar” e perceber que tudo o que o cara diz é verdade. Perfeição se chama isso. Tudo o que não devia chamar.



Estávamos estupidamente sem ar, nos encarando, com milímetros de distância um do outro. Eu sentia que devia começar um protesto, mas antes devia me soltar dele, e soltar ele também. E isso era meio difícil. Aos poucos fui tentando fazer isso, completamente constrangida, afinal seria meio difícil arrumar argumentos que me defendessem da sacanagem que eu fiz comigo mesma. “Eu não me responsabilizo pela minha boca...”, seria um bom argumento. 



– Eu... – eu tentei, mas a voz faltava, e idéias também. – Eu... – eu botava meu cabelo atrás da orelha olhando pros meus pés, MAS NÃO ACHAVA O MALDITO ARGUMENTO.



– Pára! – ele dissera, eu o olhei sem entender. – Não comece a se justificar, tá bom? Eu não sou o seu diário. Basta aceitar que você gosta de mim, você tenta não gostar, Hermione, mas não consegue.


Eu fiquei um bom tempo sem ter o que responder, não sabia o que responder, realmente não sabia. Já devo ter comentado sobre essa ameba que ocupa meu crânio e finge ser meu cérebro e que sempre me abandona quando mais preciso dele. Aí tenho que recorrer a quem? Ao conselheiro mais burro de todos: meu coração. E sempre que faço isso dá em merda.



– Não mude o rumo das coisas, Draco, foi só um...



– Impulso? – que idiota, ele pensa o que? Que eu não resisto a ele?



– Eu não sei o que foi! Mas eu não... Não tem nada a ver com isso! – tudo bem, espero que ele estivesse entendendo alguma coisa, porque eu não estava.



– Você e seu orgulho idiota me cansam... – ele disse se levantando e andando na direção contrária.


Parecia ir embora, mas então reparei que ele só queria distância de mim porque se virou novamente de forma furiosa.


– Vai, Hermione. Invente seus argumentos, tente me convencer de que você não sentiu nada... Que o fato do seu coração parecer uma furadora foi apenas imaginação da minha cabeça. Pode ir, use seus bons argumentos!



– Eu bem que estou tentando, mas não consigo pensar em nenhum. – eu disse pra mim mesma.



– Calou-se? Ou apenas não tem argumentos? – ele dissera de onde estava estendendo os braços de forma agressiva. Ainda bem que não tinha ninguém naquela praça. Eu respirei zangada desviando o olhar. Eu realmente não tinha o que dizer. – Então? – ele me pressionara.



– Não faz isso, ok? Não fica me jogando esse senso de culpa. Eu não sei por que eu...



– Me beijou? – ele dizia sarcástico e agressivo. O que tanto o incomodava afinal?



– É! – eu brigara. Valeu por usar esse termo tão delicado. – Não sei por que fiz isso, diria se soubesse. Mas não vou usar argumentos para um assunto que eu não faço a menor idéia de nada. Mas aconteceu. O que você quer que eu faça? E você também me beijou...



– Mas eu não finjo o contrário! – ele disse alfinetadamente.



– Eu não finjo nada!



– Então por que me beijou?



– Eu não sei! Mas que droga! – ele finalmente calara, me dando tempo pra respirar toda minha raiva. – Eu não costumo planejar essas coisas, como também não costumo planejar rir com você. Não é para você ser meu amigo, Draco, muito menos meu namorado. Eu gostei de você e você me magoou e muito! Me deu motivos suficientes pra odiar você. Então não fique pensando que eu vá gostar de você de novo.



– O problema, Hermione... – ele disse se aproximando de mim. – É que você nunca deixou de gostar de mim. Você só não quer me dar outra chance porque é orgulhosa. A história triste não tem que terminar sempre da mesma forma, Hermione.


 Ara que? Ele fez faculdade de fazer uma garota chorar só pode. Mas eu me contive. Sem muito sucesso, claro. Mas poha ele estava citando minha música.


– Eu nunca vou te deixar parada na garoa, nunca vou quebrar seu coração em dois! – eu engoli seco, os olhos dele me perfuravam por inteira.



– Já quebrou. – eu disse e ouvi toda a minha tristeza naquelas palavras, me virei instantaneamente para que ele não visse a maldita lágrima que tentou cair, mas eu não deixei.


Ficamos em silêncio por um tempo ainda, cheguei a me perguntar se ele também estava chorando, mas se tratando dele... Eu duvido muito.



– Eu amo você. – ele disse quase inaudível atrás de mim e nada me doera tanto na vida quanto a fraqueza de sua voz. – Eu só magoei você porque custei a acreditar nisso, mas agora eu acredito e é por isso que venho tentando consertar o que fiz.



Aí eu não sei o que me deu. Eu não tinha o que falar. Uma parte de mim queria acreditar no canalha, acredita? Às vezes eu tenho vergonha de mim mesma.



– Merlin, Hermione. Eu não posso ter te feito tão mal assim! – ele me virara para encará-lo. – Me diz que não fui eu que te fiz pensar tudo aquilo sobre o amor. – eu respirara fundo. Eu só conseguira pensar em uma cena na Ala-Hospitalar:


“Já você sente muito, não é? Não sou eu que não sinto nada, Granger. Mas é o mundo que talvez não sinta nada por você! O Potter, por exemplo... Por que você acha que ele preferiu aquela pobretona a você? É você, Granger! Você é o problema, não eu, nem ninguém. Você que é incapaz de receber sentimentos de alguém...”.



– Pensei que eu fosse incapaz de receber sentimentos de alguém. – eu disse o encarando. – Não foi isso o que você disse? – ele respirara pesadamente, era estranho, mas era como se eu quisesse feri-lo um pouco apesar de querer acreditar nele.



– Eu sei que disse coisas terríveis e mentirosas. Eu me apaixonei por você, Hermione. Acha que já não foi irônico demais?



– Quase inacreditável, não é? Você não mudaria o seu conceito assim tão rápido. Eu não sou idiota! Eu já caí nessa uma vez, Draco! – eu disse revoltada andando pra longe dele, ele viera atrás de mim na mesma velocidade.



– Não caiu não! Porque não é mentira e é isso que tenho tentado mostrar...



– Me obrigando a namorar com você!



– Mas você cansa, sabia? – ele disse parando e com raiva já.



– E por que você não desiste de mim, Draco? – eu disse debochada me virando pra ele novamente. Ele franzira o cenho.



– Você acha que eu já não pensei nisso? Você acha que eu não tenho orgulho? Amor próprio? Você não acha que a maior vontade que eu sinto quando você me rejeita é de te mandar a merda e nunca mais olhar na tua cara? Mas eu não posso fazer isso, Hermione.



– Porque você quer ganhar a aposta...



– Porque eu quero você! – novamente silêncio. Eu disse que ele fez faculdade? Quis dizer mestrado!



– E você não acha... Que o nosso ódio é o mais saudável para nós? – eu disse repetindo as suas palavras. Ele olhara pro chão pensativo e eu olhava ansiosa por sua resposta, porque eu não tinha tal resposta.



– Talvez seja... Eu não sei. Acho que ainda não tentamos não nos odiar por um tempo razoável. – eu respirei fundo. Ele havia vencido. Finalmente havia vencido.



– E se eu tentar, Draco? Se eu finalmente acreditar em você? Te der essa chance... E a guerra? Você vai largar o seu pai e Voldemort pra ficar do meu lado? Você disse a verdade sobre não ser um Comensal?



– Eu nunca deixaria ninguém te machucar...



– Estaria do lado de Voldemort? – eu o pressionara.



– Eu disse a você que não era um Comensal! Eu disse a verdade. – então eu respirara fundo aliviada e mais calma.



– Então nunca mais me esconda nada, Draco. E eu acredito em você. Não me decepcione. – então ele fechara os olhos pesadamente e algo não estava bem.



– Mas tenho que te dizer uma coisa... – então sua expressão mudara, e ao invés de me dizer o que era, seu cenho franzira a um ponto distante, eu me virara para o que afinal ele estava olhando.


E pior não podia ser. Terrível e verde no céu, era a Marca Negra. Na mesma hora eu desatei a correr em direção a ela, mas logo sentira um puxão no braço e vi a cara do Malfoy completamente atônito.


 – O que exatamente você pensa que está fazendo? Eles são Comensais e você é nascida trouxa! Perdeu o juízo?



– Preciso saber o que eles vieram fazer aqui!



– Ah, vamos ver... – ele disse irônico. – Matar talvez?



– Em um bairro trouxa? – eu não o dera tempo de resposta, me larguei do seu braço e corri a toda velocidade sobre a neve, eu tinha certeza que se pudéssemos usar magia fora da escola ele já teria me petrificado.



Bem, Querido Diário


Nós sobrevivemos, não se preocupe, mas logo eu e Draco estávamos presenciando algo terrível... E que não tenho forças nem de comentar. Mas de qualquer forma, eu me enganei sobre ele de novo. E agora seria terrível encará-lo depois de tudo, afinal ele mentira pra mim. Como eu poderia amar um Comensal? Ou fosse lá o que fosse de Voldemort. Eu teria de me livrar dessa maldita aposta de qualquer jeito.



Então antes de começar a escrever no meu diário eu abri todos os meus livros de magia, tinha de achar alguma solução! E depois de uma hora de procura o máximo que eu achei foi uma matéria sobre o Uivo das Sereias, não era que o babaca estava falando a verdade sobre isso? Mas não importa, não era isso que mais importava no momento. E sim sair dessa aposta. Não achei nada...


Deitei na cama estressada e cansada. Eu sabia que a aposta só podia ser desfeita se ele mesmo desistisse dela, ou no caso, terminasse comigo. Daí só uma coisa a tornaria selada de novo: se a perdedora da aposta, no caso eu, a selasse novamente em voz alta. Algo que eu nunca faria lógico. Mas o problema era que Draco nunca terminaria comigo, segundo ele eu sou a “menininha” por quem ele se apaixonou. Menininha...


Foi então que a idéia surgiu e eu tive de vir relatar tudo isso no diário. Menininha... Talvez eu tivesse de baixar o nível, mas seria útil... Eu teria de deixar de ser essa menininha...



Amanhã voltamos a Hogwarts e será uma nova Hermione que pisará lá...
Menininha... Tá bom!



Continua... 

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