Encontros



Me lembre de não esquecer que te amo

Autora:
Thaís Potter Malfoy

Shippers: Harry/Hermione; Draco/Hermione; Harry/Gina.

Resumo: Hermione sofre um ataque e acorda na enfermaria da escola, sem memória. Agora ela está totalmente perdida e não sabe se deve acreditar em seus sentimentos ou no que as pessoas lhe dizem.

Spoiler: 1 a 5

Capítulo Dezoito -

Hermione remexeu-se na poltrona. Por mais que o móvel fosse acolchoado e muito confortável, ela não conseguia achar uma posição que a agradasse e a deixasse trabalhar em paz. Talvez aquilo tivesse a ver com influências externas e a pobre poltrona não tivesse culpa em nada. Na verdade, ela tinha certeza de que era exatamente aquilo.

Não pensou que seria fácil ficar no mesmo ambiente que Draco Malfoy, ou sozinha com ele, o que era pior. Mas também não imaginou ser tão difícil e... sufocante. O que mais a frustrava era o fato do outro – quem a incomodava tanto, até mesmo dando a ela dificuldades para respirar naquele aposento fechado – não parecer ligar a mínima.

Sim, lá estava ele, perfeitamente confortável. Ela tomou alguns segundos para observá-lo: Draco trajava as habituais vestes da Sonserina. Ele estava sentado numa poltrona igual à dela, posicionada ao lado da dela, e tinha a testa franzida enquanto observava o documento que segurava na mão esquerda. A mão direita dele segurava a própria cabeça, com o cotovelo apoiado no braço do sofá. O detalhe que mais a irritava era o modo como ele apoiava os pés sobre a mesa de centro da Sala de Monitores, como se fosse dono do lugar. Maldito arrogante!

- Vou ter uma conversinha com o Parkman... – ele murmurou, e Hermione não estava certa se ele falava com ela ou se só estava falando sozinho. – Quem ele acha que é para sair distribuindo detenções desse jeito... Está me ouvindo, Granger?

Hermione piscou os olhos algumas vezes antes de responder – Sim, estou ouvindo. Eu sempre soube que o cargo de monitor subiria à cabeça do Parkman... Fico me perguntando como ele não foi parar na Sonserina.

Draco apenas franziu as sobrancelhas – Penso a mesma coisa todos os dias... Mas com relação à outra pessoa.

Hermione ficou um pouco desconcertada por alguns segundos. Ele não poderia estar falando dela, poderia?

- Eu não tenho paciência para indiretas, Malfoy. – ela se deu por vencida, finalmente respondendo. – Se quer me dizer algo, seja claro.

Hermione ficou olhando para ele, que ainda não tinha largado o bendito pergaminho. Ela pôde ver muito bem quando ele rolou os olhos, mas o que não passou despercebido foi o sorriso que cresceu no lado esquerdo do rosto dele. Então ele gostava de irritá-la, não é mesmo? Hora de mudar de estratégia.

- Quer saber? Não me interessam suas indiretas. – ela assumiu o mesmo ar formal de quando ele tinha entrado por aquela porta, até agora não se lembrando de tê-lo abandonado por livre e espontânea vontade – O que, de fato, me interessa é terminar logo de uma vez. Estou exausta. – Hermione concluiu, com um suspiro.

Ela tinha motivos. Eles estavam ali há pelo menos duas horas, e já tinham resolvido a maior parte das pendências da monitoria. No momento, estavam analisando os relatórios dos monitores do quinto ano, checando o seu comportamento e se eles seguiam as regras da Monitoria e da Diretoria. Só faltava aquela última tarefa e ela poderia tomar um banho quente e dormir. Merlin sabia o quanto ela precisava disso.

- Certo, Hermione. – ele disse, debochado. Ela torceu o nariz. – Por mim, nós tiramos o distintivo do Parkman por algum tempo, talvez até as férias de Natal... Aposto que a Sra. Parkman vai adorar ver que o filho foi punido por ser tão prepotente.

Hermione soltou uma risada pelo nariz. Ele olhou para ela, levantando uma sobrancelha, como se perguntasse o motivo do riso. Ela não agüentou segurar um sorriso – Olha quem fala de prepotência. – ela explicou.

Pela segunda vez, Draco rolou os olhos – Terminamos?

- Sim, por Merlin! Amanhã você conversa com o Parkman... – ela concordou – Só acho que até o Natal é demais, Malfoy. É melhor que seja por uma semana ou duas.

- Tanto faz – ele resmungou, levantando da poltrona.

Hermione juntou os papéis que estava sobre a mesa de centro, empilhando-os e os levando para um armário onde os relatórios anteriores estavam arquivados. Ela trancou o armário com dois feitiços avançados e voltou-se para a porta, querendo mais do que nunca ir embora dali. Porém, ao virar na direção da saída, encontrou Malfoy parado no meio da sala, olhando fixamente para ela.

Hermione corou um pouco, mas foi capaz de questioná-lo. – O que está fazendo, Malfoy?

Ele ficou calado. O constrangimento de Hermione aumentou, ele não tirava os olhos dela. Parecia em alguma espécie de transe... Ela deu alguns passos para frente, começando a se preocupar com a saúde mental dele.

- Malfoy? – ela perguntou, em voz baixa, quando estava a um metro e meio dele.

- Você faz para me irritar, não faz? – ele perguntou, de repente.

- Eu tenho certeza de que a resposta é “sim”, mesmo eu não fazendo a menor idéia do que você está falando – Hermione riu, rolando os olhos. Os hábitos dele eram tão fáceis de pegar... Rolando os olhos e sendo sarcástica! Hermione riu dos próprios pensamentos.

Ele hesitou por alguns segundos. Por fim, passou a língua nos lábios e deu um passo a frente, diminuindo a distância para pouco menos de um metro. O olhar dele sobre o rosto da morena estava queimando, mas talvez fosse apenas sua face em chamas por causa do forte rubor. Não tinha certeza do que fazer, ou do que ele pretendia, então apenas o esperou agir.

- Eu sei que você está com raiva de mim – ele disse; algo que ela definitivamente não esperava saindo da boca dele – Você tem motivo, nós dois sabemos disso, então não vou me prolongar...

- Aonde quer chegar com essa conversa? – ela perguntou, sua voz tão pequena que nem ela própria conseguiu ouvir.

- Eu... eu não sei – ele disse, dando um passo para trás. – Esquece.

No momento em que ele fez menção de deixar a grifinória ali, parada e sem resposta, Hermione agarrou o braço dele com seus dedos e puxou as vestes pretas. O olhar dele baixou até onde a mão dela o segurava, por um breve momento, antes de encarar os olhos chocolate outra vez. Bastou aquele conjunto de ações para que o corpo de Hermione arrepiasse.

- Eu só... – ele começou, e molhou os lábios em seguida – Essa é a coisa mais idiota que eu já cogitei dizer em toda minha vida.

- Apenas diga, Draco.

A tensão entre eles aumentou instantaneamente com o uso do primeiro nome dele. Hermione, mais do que rápido, soltou a manga das vestes dele e deu um passo para trás. Oh, Merlin. O que ela temia estava acontecendo, e não havia nada a fazer para evitar. O jeito que seu corpo reagia perto dele era quase instintivo.

- Deixa pra lá. Você está cansada, e eu também. Nós deveríamos ir dormir. – ele disse, também dando um passo para trás. Hermione agradeceu mentalmente por isso, sabendo que não seria capaz de resistir a ele se continuassem se aproximando. Sendo assim, ela preferiu não insistir.

- Bom, se não quer dizer, não diga. E, se mudar de idéia, sabe onde me encontrar.

E o deixou sozinho na sala.

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A estranheza do encontro com Malfoy não rondou a cabeça de Hermione por muito tempo. Naquela mesma noite, ela preferiu abster-se da Sala Comunal, indo direto para o seu dormitório privado. Só então se deu conta do quanto estava cansada. Ela adormeceu alguns segundos depois de deitar em sua cama, e teve a impressão de acordar segundos mais tarde, com a claridade de sua janela aberta.

O café-da-manhã foi tranqüilo naquele sábado, e ela resolveu se comprometer consigo mesma a não ficar mais com medo dos encontros com Draco Malfoy, e até tratá-lo com moderada gentileza, como tinham se tratado na noite anterior.

Hermione descobriu-se extremamente mais leve após aquela promessa selada, e pegou-se até mesmo admirando a neve que caía pelo teto magicamente descoberto do Salão Principal. Até aquele momento, estivera sozinha; mas duas vozes juntaram-se a de seus pensamentos, fazendo a morena pular de susto.

- Hey, Mione! Calma, somos nós.

Hermione reconheceu Lilá e Parvati, e suspirou, aliviada. Não tinha idéia de quem esperava que fosse. Sorriu para as duas colegas.

- Oi, Lilá. Parvati. – cumprimentou-as. Lilá e Parvati trocaram sorrisinhos que Hermione deveria achar suspeitos, mas que deixou passar batido. Quando as duas começaram a cochichar, Hermione perdeu a paciência. – Certo, o que há com vocês?

- Sabe o que é, Mione, - começou Lilá, que era mais íntima de Hermione. – Hoje é dia de visita à Hogsmeade. E nós armamos um encontro para você.

Hermione arregalou os olhos e levantou do banco – COMO É QUE É?

- Shiiu, calma! Eu sei que está muito animada, mas não precisa gritar! – Parvati a fez sentar-se de novo.

- Animada! – Hermione replicou, áspera. – Como podem marcar um encontro para mim sem que eu esteja ciente?

- Hermione, acredite... Você vai nos agradecer – disse Lilá, com cara de quem sabia um segredo altamente confidencial.

- Ou, eu vou matar vocês duas!

- Não vai, não. – Parvati afirmou, tão segura quanto a amiga. – Porque nós sabemos que você gosta do garoto que escolhemos para você.

A barriga de Hermione deu uma cambalhota completa. O primeiro nome a piscar em sua cabeça foi o de Draco, mas as duas não seriam nem loucas de armar um encontro com Malfoy. Além disso, ele nunca aceitaria. E elas não sabiam de nada! E Hermione não gostava dele! Por que mesmo Hermione chegou a cogitar o nome dele?

- Pelo amor de Merlin, vocês duas vão me fazer enfartar... – Hermione resmungou, mesmo sabendo que as amigas não tinham ouvido seus pensamentos. – Digam logo, quem é?

- Vamos até Hogsmeade, e você vai descobrir.

- Ah, Hermione, você não vai deixar o pobre garoto esperando, vai? Vai dar o bolo nele? Coitadinho!

- Não custa nada...

- Você não vai se arrepender...

- AAH! – Hermione elevou o tom de voz, fazendo ambas ficarem caladas. – Tudo bem, eu vou, eu vou!

Lilá e Parvati trocaram olhares entusiasmados, e Lilá até bateu palminhas.

- Vai ser ótimo, Mione!

- Agora vamos logo, ainda dá tempo de espiar a loja de vestes antes da hora marcada!

E as saíram do castelo;

Duas horas depois, Hermione já estava refletindo.

Sair com Lilá e Parvati era o pior engano de toda a sua vida. O passeio à Hogsmeade mal havia começado, e ela já estava começando a se arrepender! Imagine quando ela encontrasse o suposto ‘encontro’... Não queria nem pensar.

- Olhe, Lilá, vou comprar esse vestido ameixa! Não é divino? – Parvati tagarelava.

Há duas horas, elas estavam naquela bendita loja, vendo roupas e mais roupas. Hermione não queria comprar roupas. Queria que o dia terminasse, para que ela pudesse saber quem era o tal garoto, e para que pudesse dispensá-lo logo. Não precisava de um namorado naquele momento, não depois de ter passado por tantas emoções fortes e decisões difíceis. Não quando seu coração estava temporariamente fechado para novos visitantes.

- Por Merlin, meninas... A que horas é o encontro? – Hermione perguntou, cansada.

- Eu sei que está ansiosa... – Lilá cantarolou e, depois, olhou para o relógio. – Oh, porcaria! Estamos atrasadas!

As duas pagaram os vestidos mais do que rápido e saíram da loja arrastando Hermione pelos braços. Esbarraram em vários pedestres pelo caminho, e Hermione não estava muito consciente do lugar para onde estava indo. Entretanto, quando chegaram à beira da trilha para a Casa dos Gritos, a morena reconheceu-a. Mais familiarizada, tranqüilizou-se e passou a andar sozinha. Só parou quando perceber que Lilá e Parvati não a seguiam.

- Por que pararam? – quis saber a monitora-chefe.

- Você encontrará o seu par sozinha, Mione. E nós vamos encontrar os nossos. – respondeu Parvati.

- Oh, muito obrigada! – Hermione ironizou. – Estão com tanto medo assim de que eu as mate?

- Claro que não! É só privacidade, Mionezinha. – Lilá sorriu.

- Ok, agora vá! Está atrasada! – Parvati a apressou, e as duas começaram a andar para trás na trilha.

- Esperem! Como eu vou saber quem é? – Hermione gritou.

- Ele está com uma flor! – Parvati gritou de volta, enquanto se afastava.

Hermione respirou fundo, só então notando o quanto estava nervosa.

E se ele fosse chato? Alguém que ela não gostasse? Não, as duas tinham dito que ela gostava do tal garoto... Mas e se ela descobrisse que não gostava mais? E se ele tivesse algum hábito horrível? E se ela não conseguisse, de jeito nenhum, gostar dele? E se ela o obrigasse a ter um dia terrível, só porque ela tinha passado por problemas sentimentais?

Era melhor voltar. Ela deveria procurar Harry e Rony, e passar com eles um dia em Hogsmeade como sempre fazia: comendo doces, tomando cervejas amanteigadas, rindo... O pobre garoto arranjado por Lilá e Parvati não merecia a péssima companhia que ela seria hoje...

Como se o universo tivesse atendido a seu pedido, Hermione viu alguém quando chegou perto da Casa dos Gritos e reconheceu como sendo Harry. Os cabelos espetados o denunciavam em qualquer lugar que estivesse. Ele estava de costas, apoiado na cerca de arames que rodeava a mansão ‘mal-assombrada’. Abrindo um sorriso, ela o chamou.

- Harry! – gritou, ainda a certa distância. – Harry! O que faz aqui?

Ao ouvi-la, Harry virou-se, também com um sorriso.

E uma rosa branca na mão direita.

Ela demorou alguns segundos para processar a informação. Harry estava parado a alguns metros dela, com um sorriso bobo, esperando alguma reação. A única que ele conseguiu foi o par de olhos arregalados da morena, uma vez que ela caiu na real da situação.

Harry? Harry era seu garoto misterioso? Aquilo era ruim em tantos aspectos... Primeiro, porque ela estivera planejando cortar este encontro o tempo todo, e agora não podia porque não queria magoar seu amigo. O fato de Harry estar ali também lhe dizia que ele ainda acreditava que Hermione pudesse sentir algo por ele. Oh, ela devia tê-lo desencorajado há muito tempo...

Mas, por outro lado, não podia negar: gostara da surpresa. Ultimamente, Harry não poupara esforços para agradá-la, seja beijando-a de surpresa, pegando sua mão em meio às aulas, ou marcando um encontro às escuras. Era tão errado, tão errado. Por que, então, ela não conseguia afastá-lo? Talvez ela precisasse dele, e de todo o carinho que ele demonstrava. Precisava tanto dele... Mas não queria usá-lo.

Teria que ser firme. Hoje, acabaria. Não podia mais iludi-lo. Hermione piscou algumas vezes, e percebeu que o sorriso do rosto de Harry já tinha caído. Ele agora a olhava de um jeito que ela não sabia explicar. Porém, sabia que ele estava magoado, no mínimo. Justamente como ela não queria que ele ficasse.

- Harry... – Hermione murmurou, baixinho. Não sabia o que dizer a ele. Acabou que não precisou dizer.

- Está desapontada. – ele afirmou, examinando-a de cima a baixo. – Está desapontada por ser eu.

A morena engoliu seco. – Harry...

Ele fechou os olhos, e ela sabia que nada que dissesse adiantaria agora. Como fora estúpida, estúpida! Não devia ter demonstrado tão claramente sua contrariedade à situação. Devia pelo menos fingir, tratar a circunstância com todo o tato possível. E agora, estava perdendo não só o encontro, mas também o amigo.

- Por favor, Harry, você está entendendo errado. – ela continuou. Estava desesperada. Harry era... uma das pessoas mais importantes de sua vida. Talvez a mais importante, depois de seus pais. – Eu só fiquei chocada. Não esperava você... Mas não significa que eu não tenha gostado!

Certo, agora ela estava mentindo para não magoá-lo ou perdê-lo. Parabéns, Hermione! Devia escrever um livro, sobre como perder tudo em seis meses.

- Não precisa ser gentil comigo, Herm – ele disse, soltando o botão de rosa, que se perdeu na neve, não fosse o cabo escuro. – Eu... Eu não sei porque marquei esse encontro. Desculpe.

- Você não tem que se desculpar, Harry! – ela se apressou em cortá-lo. Hermione se aproximou, pegou a flor do chão e segurou em sua mão. Com a mão livre, segurou uma das mãos enluvadas de Harry. – Eu sou quem tem que se desculpar, por ser tão distraída e desastrada e insensível...

- Shiii – ele a fez calar. Um sorriso brotou nos lábios dele outra vez. – Que tal se nós dois nos desculparmos e aceitarmos as desculpas um do outro?

Hermione também sorriu. – Certo.

Sem saber o porquê, Hermione ficou na ponta dos pés e inclinou o corpo sobre o de Harry. Numa fração de segundo, grudou sua boca na dele. Ao se afastar, viu o sorriso abobalhado de Harry crescer, mas não se arrependeu. Na verdade, estava começando a se questionar: Por que não?

- Isso significa que você aceita ficar comigo, pelo menos só por hoje? – Harry perguntou, quase num sussurro.

- Só por hoje. – ela respondeu. – Mas depois nós temos que conversar. Há tantas coisas que nos impedem, Harry, tantas coisas...

- Eu não consigo pensar em nenhuma – ele retrucou, abaixando a cabeça para encostar a testa à dela. – E a partir de agora você também não vai pensar. Hoje, você só vai pensar no quanto é certo nós ficarmos juntos.

Hermione preferiu não mais discutir. Ao fim daquele dia, ou talvez no dia seguinte, ela pensaria nas conseqüências, nas dificuldades, nos sentimentos envolvidos. Agora, nada disso tomaria sua mente. Ou pelo menos ela tentaria fazer com que funcionasse assim.

- Então, o que sugere que façamos? – ela indagou, pondo seu plano em prática.

- Hum... Eu estava pensando em passarmos no Três Vassouras, e depois na Dedosdemel, comprarmos algumas coisas, e depois acharmos um canto para almoçarmos em paz.

- Parece perfeito – ela disse, sorrindo. Sentiu a mão de Harry, agora sem luva, percorrer sua bochecha num tracejado gostoso. – Posso te pedir uma coisa, antes de irmos, Harry? Uma não, duas?

- O que quiser – ele disse, fechando os olhos e ainda passando os dedos na face da morena.

- Primeira: não fique esperançoso demais. Nós ainda vamos conversar. E eu achava melhor se nós ficássemos um pouco afastados das pessoas, para que não surjam fofocas.

- Isso eu já sei, Hermione. – ele deu uma risadinha. – Eu te conheço, eu sei que quando você diz ‘por hoje’, é realmente só por hoje. Sei que isso não é definitivo. Pelo menos por enquanto.

- É disso que eu estou falando, Harry. Não fique esperançoso demais. Estou dando uma chance para nós. Apenas uma chance, nada mais.

- Ok, Srta. Granger. – ele disse, sem perder o sorriso. Hermione duvidava que aquele sorriso se perdesse até o final do dia. – A segunda coisa é?

Hermione ficou meio encabulada. – Ergh... A segunda coisa é: não me chame de “Herm”.

Harry pareceu ficar confuso. – Eu não sabia que você não gostava. Eu teria parado antes...

- Não é que eu não goste. – Hermione começou a dizer, se arrependendo depois. Não queria explicar seus motivos a ele. – Enfim, é melhor que você não me chame assim. Não traz lembranças muito boas.

Sem perguntar mais (e Hermione agradeceu aos céus por isso), Harry apenas assentiu e puxou a morena mais para perto de si, num meio abraço. Desse jeito, ele a conduziu pela trilha que levava de volta ao vilarejo de Hogsmeade, sem dizer uma palavra, simplesmente sentindo a presença um do outro. Hermione preferiu desmanchar a proximidade conforme eles chegavam perto das ruas mais movimentadas. Mesmo assim, Harry manteve uma mão na cintura dela enquanto entravam na loja de doces Dedosdemel.

- Escolha o que quiser – Harry disse a ela, já se adiantando para a prateleira de sapos de chocolate. – Eu pago.

- Certo – Hermione murmurou, não muito à vontade com a proposta. Pegou algumas balinhas, às quais não prestou muito atenção, apenas para dizer que tinha pegado alguma coisa, e se juntou à Harry no balcão. Ele, ao contrário dela, tinha os braços lotados de doces.

- Eu sabia que você não ia pegar nada – ele observou, rindo, as míseras balas que ela tinha escolhido. – Por isso peguei por nós dois.

- Às vezes eu esqueço o quanto você me conhece, Harry – Hermione também riu, jogando as balinhas para o lado. Harry pagou por tudo e pegou a sacola em uma mão, segurando a mão de Hermione com a mão disponível. Foi assim que eles seguiram para o Três Vassouras.

O sino da porta badalou quando eles entraram no bar, aquecido pela grande quantidade de estudantes sentados às mesas. Hermione sentiu-se desconfortável com a mão de Harry segurando a sua tão firmemente, e olhou ao redor à procura de alguém que pudesse contar à Gina ou Rony. A única pessoa que seus olhos encontraram, no entanto, foi um certo sonserino, sentado no canto do pub.

Ela sentiu o rosto queimar. O olhar de Malfoy estava mais gélido do que o normal, e ele parecia desligado da conversa de seus colegas de casa. Durante alguns segundos, enquanto Harry tentava chegar ao balcão, Hermione e Draco ficaram se encarando, mas a morena preferiu desviar o olhar. Antes que o fizesse, viu os olhos de Draco descendo até sua mão, entrelaçada à de Harry, para depois voltar a encará-la, cheio de desprezo.

Finalmente, para o alívio da morena, Harry achou uma brecha entre a multidão que cercava Madame Rosmerta e carregou Hermione consigo. Ele pediu uma torta de abóbora, outra de queijo e quatro cervejas amanteigadas, tudo para viagem. Enquanto o pedido era providenciado, ele trouxe o corpo de Hermione mais uma vez para perto do seu, abraçando-a.

- Harry! – Hermione implicou, tentando se afastar.

- Hermione! – ele replicou, imitando-a sem largá-la.

- Harry Potter, nós combinamos! – ela sibilou. Contra a vontade, ele largou a cintura dela. No mesmo instante, Madame Rosmerta chegou com o pedido de Harry numa cesta de madeira. Harry pagou pela comida.

- Vamos? – ele sorriu para Hermione. Ela assentiu, e os dois viraram-se para a saída. Não contendo sua curiosidade, Hermione resolveu dar uma ultima espiada em Draco Malfoy antes de saírem dali. O que viu fez seu estômago revirar.

Os cabelos loiros estavam de costas para ela, porque seu dono estava se enroscando em uma garota que Hermione não conseguiu reconhecer. Pelos cabelos escuros, provavelmente era Pansy Parkinson. Suas suspeitas se confirmaram quando Draco e ela mudaram o ângulo do beijo, permitindo a Hermione ver até o movimento que a língua dele fazia, e as mãos dele segurando a cintura dela.

A grifinória levou a mão à boca, sentindo uma ânsia de vômito diante daquela cena. Alguma coisa dentro dela estava errada, porque de repente ela começou a sentir o corpo tremer levemente e o mal-estar parecia não ir embora. O ar lhe faltava, e ela sentiu a mão de Harry segurar suas costas. O aperto em sua garganta fazia Hermione querer chorar.

- Hermione, está tudo bem? Hermione?

- Eu não estou passando bem, Harry. – ela conseguiu falar. – Vamos sair daqui, por favor.

Ela não sentia o seu corpo, mas tudo melhorou consideravelmente uma vez que eles saíram do Três Vassouras. O ar voltou a preencher seus pulmões e ela tirou a mão da boca, controlando seu estômago.

- Estou melhor – ela anunciou, perante o olhar preocupado de Harry. – Acho que fiquei sem ar.

Harry não disse nada por um tempo. Então, ele segurou o ombro de Hermione, guiando-a por entre as ruas cobertas de neve. Ela não prestou atenção no caminho, mas eles terminaram em um parque, com mesas de madeira. Harry lançou feitiços para derreter a neve e colocou a comida sobre a mesa mais afastada, embora todas estivessem desertas. Depois, ele sentou-se de frente para Hermione, ainda sem dizer uma palavra.

- Ficou calado, de repente – Hermione observou. – Eu estou melhor, Harry, juro.

- Eu sei que está melhor. Aqui não tem nenhum sonserino.

Hermione ficou perplexa. Ele tinha percebido? Aliás, o que havia para perceber? O fato de Hermione ter ficado mal depois de ver Draco com Pansy Parkinson só significava uma coisa para ela: ela estava revoltada com a imaturidade dele, que bastou vê-la de mãos dadas com Harry para sair agarrando a primeira garota que visse. Agora, para Harry, a cena podia tomar outras cores. Ele poderia achar que ela estava com ciúmes.

- Harry... – ela começou – Eu não-

- Não precisa nem tentar, Hermione. – ele a cortou, um tanto seco – Eu sei que você ficou mal ao ver o Malfoy beijando a Parkinson, não adianta desmentir.

- Mas não é como você está pensando! – ela argumentou, e Harry balançou a cabeça.

- Só vou dizer uma coisa – ele declarou, como se não a tivesse ouvido – Se você ainda se sente desse jeito em relação ao Malfoy, seria melhor se você não tivesse concordado em passar o dia comigo.

- Harry, quer me deixar-

- Não, não vou te deixar explicar nada. Não quero ouvir mentiras para poupar meus sentimentos, ou a nossa amizade. – ele a cortou outra vez. – Eu acho melhor almoçarmos, como amigos, e depois eu vou voltar para o castelo. Então você estará livre para curtir o resto do dia do jeito que bem entender.

- Harry! – ela se levantou – Não fale assim comigo! Você está... Está ficando igual a ele! Por favor, por favor, não fique frio assim. Não deixe essa minha estupidez interferir na nossa amizade!

- Ainda bem que você sabe o quão estúpido é se apaixonar pelo Malfoy, Hermione.

- Eu não gosto dele, Harry. Ele é um insensível, covarde e provou mais uma vez o quanto é imaturo, infantil! Ou vai dizer que não percebeu que ele só agarrou aquela vaca porque viu nós dois de mãos dadas?

- Se era te atingir o que ele queria, parece que ele conseguiu – Harry comentou, abrindo a cesta com as comidas.

- Pare de ser cabeça-dura e ouça o que eu estou te dizendo. – Hermione o forçou a encará-la. – Eu não gosto dele, eu só tenho raiva dele. Ele é tão meu inimigo quanto seu.

Harry não mudou de opinião – Se é isso que você diz a si mesma, Hermione, eu sinto muito, mas nunca irá se convencer. Eu estava lá, eu vi. Você estava prestes a chorar. Como pode ser outra coisa que não ciúme?

- É inútil discutir com você. – ela bufou.

- Olha quem diz. – Harry alfinetou, cortando um pedaço de torta de abobora e servindo para Hermione, como se não estivessem no meio de uma discussão.

Hermione revirou os olhos, pegando um garfo. Eles comeram em silêncio por um tempo, até Harry voltar a falar.

- Hermione... O que eu sinto por você não vai mudar. Faça o que fizer, me querendo ou me desprezando, você vai ser sempre minha melhor-amiga.

Ela abriu um sorriso tímido. – Eu sei, porque eu também me sinto assim. É impossível ficar com raiva de você.

- Pois então. Você sabe que eu jamais vou aprovar de verdade que você goste do Malfoy, mas eu prefiro que você seja sincera comigo.

- Eu não-

- E fim de papo! – ele a interrompeu. – Apenas diga a verdade, certo?

Hermione baixou a guarda. – Certo.

- E, se algum dia você quiser ficar comigo pra valer, é só dizer também.

Ela riu de leve. – Oh, Harry, me desculpe. Eu não queria te enganar, ou te dar falsas esperanças. Eu realmente queria gostar de você como eu gostava antes.

- É... Nunca pensei que te perderia pro Malfoy.

- HARRY JAMES POTTER, eu NÃO gosto daquela doninha do mal! Pare de repetir isso! Eu apenas não gosto de você. Não significa que eu goste dele.

- Tudo bem, tudo bem, eu finjo que você está pelo menos tentando cumprir a promessa de ser sincera comigo. – Harry bebeu um gole de sua cerveja amanteigada enquanto Hermione revirava os olhos. – Quer mais torta?

- Obrigada, Sr. Potter – ela passou o prato para ele, resolvendo não mais brigar.

Continua (?)

N/A
: Nossa, odieeeei esse capítulo! Mas resolvi postar assim mesmo, só para não deixar vocês esperando mais. Se é que alguém ainda lê essa fic...
Enfim, muito obrigada pelos reviews. Deixem mais, e até a próxima.
Obs: quem quiser ler uma Dramione, postei uma NC17 no meu perfil ( www.fanfiction.net/~thaispottermalfoy ). Se chama “Inesperado”. Curtam!


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