O desejo de Gina
O badalar de um relógio anunciou que era tarde. Pelo menos era o que pensava uma mulher de silhueta delgada, cabelos vermelhos e ar decidido. Ela parou no alto de uma escadaria, pronta para descer do corredor do andar superior rumo a uma sala de onde vinha a luz amarelada de uma lareira. A jovem percorreu com o olhar todos os ambientes que estavam ao alcance de suas pupilas. Apurou a audição. Fazia um silêncio tão absoluto que seria capaz de perceber passos perto do lugar onde se encontrava. Gina Weasley Potter deslizou pelos degraus com cuidado. Também não queria ser notada. Avançou. Nenhum sinal de que havia gente nos arredores. Mas ela sabia que havia.
- Muito bem – murmurou assim que entrou na sala. – Já estou aqui. Não vai adiantar se esconderem. Eu vou descobrir onde vocês estão.
Embora sorrisse, Gina utilizou toda a seriedade que pode reunir. Olhou por baixo de uma mesa e atrás do sofá largo que se destacava naquele ambiente. Atenta, captou um riso abafado. Não tinha mais dúvidas. Dirigiu-se resoluta até a cortina da janela principal, tão comprida que se estendia do teto ao chão. Sacou a varinha das vestes e com um gesto ligeiro, fez com que ela se abrisse, revelando dois meninos agarrados ao trilho, um ruivo e um moreno.
- Desçam! – ordenou, com outro movimento da varinha. Mal os garotos pousaram com segurança no chão, a mulher cruzou os braços na altura do peito. – Pelo que estou imaginando, Sirius, você pediu a ajuda do Dobby para se esconder aí. Ou a idéia foi sua, Jamie?
- James – corrigiu o menino ruivo. Gostava de ser nomeado como seu padrinho, Harry Potter, costumava chamá-lo. – A idéia não foi minha, não. Foi do Sirius.
- Mas mamãe foi muito divertido, não foi?! E a gente nem se machucou – disse o garoto de cabelos negros, com os olhos azuis bem abertos, disposto a convencer Gina que, afinal, aquilo não chegava a ser uma travessura. Não queria que a mãe culpasse o elfo doméstico por tê-lo escondido justo na hora do jantar.
- Ah, pode ser divertido para o senhor... Só que nada disso vai te livrar do jantar. Você precisa comer se quiser crescer.
- Eu sempre como. Minha mãe diz que eu sou um bom garfo – afirmou James, caminhando para a cozinha.
– Você já sabe se transformar em garfo, James? – perguntou um surpreso Sirius.
- Não é isso, querido – riu Gina. – Ela quis dizer que o Jamie come de tudo. Tal pai, tal filho. O Rony sempre comeu bem.
- Mas por que a tia Mione disse que ele é um bom garfo? – perguntou o pequeno, bastante intrigado.
- Isso é só mais uma expressão trouxa.
- Ahhh – replicou, dando-se por satisfeito.
Na cabeça do menino, tudo o que não era bem compreendido vinha do mundo dos trouxas. Quando seu pai lhe contava algumas coisas de sua infância, Sirius invariavelmente ficava espantado. Como é que ele poderia ter dormido num armário debaixo da escada? Por que teria vestido roupas muito maiores do que ele sem que alguém as consertasse com a varinha? Por que ganhava meias velhas como presente de Natal? E por que...
- Sirius, não deixe a comida esfriar – observou Gina, arrancando o filho do devaneio.
O menino piscou os olhos azuis e espetou uma batata corada com o pequenino garfo que usava. O primo utilizava um garfo um pouco maior e não precisava de uma cadeira magicamente alterada como a dele. James tinha quatro anos, porém era mais espichado do que a maioria dos moleques de sua idade. Sirius, ao contrário, estava um pouco abaixo da média de uma criança de três anos. Uma vez Gina chegara a falar a respeito disso com Harry, mas o bruxo não se preocupara. “Comigo foi exatamente desse jeito. O Sirius puxou bastante ao pai”, divertira-se na ocasião. “Em algumas coisas, sim. Mas está na cara que ele é metamorfomago. E isso ele não herdou nem de mim, nem de você”, respondera de imediato. Era verdade. Desde os primeiros meses, o casal suspeitou dessa característica. Enquanto ainda era um bebê, Sirius exibia íris ora verdes, ora azuis. O que era aceitável. Entretanto no dia de seu primeiro aniversário, quando um balão preparado por Fred e Jorge estourou por engano perto dele, o garoto se assustara tanto que seus olhos ficaram amarelados. Depois, castanhos. E cor-de-mel... Fora realmente uma data inesquecível.
- Tia, eu queria jantar com o meu padrinho de novo... – começou James, empurrando as ervilhas para um canto. Desde que o garoto chegara a casa, três noites atrás, só tinha visto Harry uma vez.
- Eu sei, querido. É que seu tio tem andado muito ocupado. Ontem, ele esteve numa reunião que terminou tarde e hoje ele está jantando com a ministra da Magia.
- E a gente não podia ir junto? – inquiriu James, deixando o garfo em suspenso.
- Nem sempre dá. Você sabe que existem diferentes tipos de jantar, não é?! Tem aqueles que são com a família, tem com os amigos, tem jantar de trabalho...
- Também tem o jantar na Toca – completou Sirius, balançando a cabeça como se houvesse revelado algo que ninguém soubesse.
- Ah, esse eu sei! – debochou James. – É quando a vovô quer empurrar mais comida nas nossas goelas.
- Jamie! – exclamou Gina.
- É o tio Jorge que fala isso. Ou é o tio Fred?
A ruiva sorriu. Mexeu na cabeleira vermelha do sobrinho, num afago divertido. Porém o garoto logo voltou à carga.
- Tia, mas eu vou ver o meu padrinho de novo antes de eu voltar para a minha casa?
- Espero que sim. Afinal, ele ainda tem família! – respondeu, com um ar um tanto aborrecido. – Vamos dar um desconto ao Harry. Faz só um mês que ele virou chefe dos aurores.
- Quando eu crescer vou ser igual ao meu pai. Mas eu não vou jantar com a ministra. Eu vou jantar todas as noites com a minha mãe!
- Mas se a sua mãe tiver outro filho como a minha, você vai ter de ir lá para a minha casa e não vai jantar todas as noites com a tia Gina.
- Eu vou, sim.
- Não vai, não.
- Meninos, não briguem. Jamie, você não está na sua casa agora porque o nascimento da sua irmãzinha foi muito difícil para a sua mãe. Ela se cansou bastante. Sua mãe queria que você ficasse, só que o medibruxo pediu para que ela repousasse por mais tempo. Você ficará aqui só mais dois dias. Pensei que tivesse entendido, querido? E coma as ervilhas. Seu padrinho ia gostar disso.
- Eu entendi! – afirmou James, enchendo o garfo de ervilhas.
Gina voltou a acariciar a cabeça do sobrinho. Compreendia que o menino estava com ciúmes do bebê que recém nascera. Também imaginava que ele ficara assustado com o murmúrio que correra em sua casa na semana anterior. Hermione também quisera dar a luz em sua residência, como ela tinha feito no nascimento de Sirius. A cunhada, entretanto, não tivera a mesma sorte. Lilly demorou a vir ao mundo. Além disso, no ventre estava encaixada na posição contrária. E, para espanto de Hermione, os medibruxos nunca tinham se preocupado em criar um feitiço para essas ocasiões. Ou mesmo recuperar magias antigas que auxiliassem as mães em situações como aquela. “É porque, com o passar dos tempos, deixaram as parteiras bruxas de lado. Mas eu vou pesquisar e vou descobrir um encantamento para isso. Ah, vou”, dissera a cunhada, com voz fraca, quando Gina finalmente pode ver mãe e filha no quarto. Até aquela hora, a família tinha vivido momentos de tensão. A senhora Weasley não parara de chorar um minuto. Harry andara de um lado para o outro. E Rony subira e descera as escadas constantemente, repassando notícias dos medibruxos com o rosto muito pálido. Gina ficara cuidando dos pequenos marotos – como James e Sirius eram chamados –, fazendo de tudo para distraí-los. Seu sobrinho, no entanto, demonstrava ser mais esperto do que se supunha. E lhe perguntara claramente se sua mãe ia morrer. “Que idéia! Claro que não. Tome aqui um quebra-cabeças bruxo para crianças de seis anos. Vamos ver se você consegue montar este”, desafiara Gina, ciente de que James iria montá-lo. Ele não era o filho de Hermione à toa.
- Mamãe, eu já acabei e o seu prato ainda está na metade – observou Sirius, orgulhoso de si e trazendo Gina à realidade. Eram 20h30. Harry ainda iria demorar.
*****
O casarão do Largo Grimmauld número 12 estava praticamente às escuras quando Harry Potter aparatou na sala de estar, iluminada apenas pelo fogo da lareira. Cansado, jogou-se no sofá. Um pufe se materializou sob seus pés e ele se esticou para relaxar. Foi então que reparou em Gina adormecida na poltrona, com um livro escapando de seus dedos. Sorriu. Ela gostava de esperá-lo para ir ao quarto. Harry fez surgir duas xícaras de chá sobre a mesinha. Ergueu-se e levou uma delas até a mulher.
- Acorde, bela adormecida – sussurrou ao seu ouvido, enquanto a sacudia levemente.
Gina despertou com relutância. Esfregou os olhos, ajeitando-se na poltrona. Trocaram um rápido beijo e ela pegou sua xícara, sentindo que o sono ainda não fora afastado de vez.
- Harry, que horas são?
- Uma da manhã. Você deveria estar na cama.
- Você também, ora. Que jantar demorado! O que tanto discutiram?
- O mesmo que estamos discutindo há semanas, o encontro anual da Confederação Internacional dos Bruxos. Por Merlin, se me perguntassem antes da minha nomeação se gostei de o encontro ter sido marcado em Londres, responderia que sim. Mas hoje, arre. – disse para em seguida sorver seu chá.
- Já que é o mesmo assunto não haveria razões para esse jantar ter demorado tanto.
- Também acho. Mas a ministra está particularmente cismada com a comitiva chinesa. É a maior de todas.
- Claro que é. Na China vive a população mais numerosa de bruxos!
- Só que o problema não é esse. A ministra está preocupada porque o ministro da magia americano não tolera o ministro chinês. E os jornais já estão publicando as divergências. Charlotte está uma pilha de nervos com essas histórias. Não quer desavenças na Convenção de Londres.
- Para isso existem diplomatas. Não creio que os aurores...
- Na verdade, ela conta comigo não apenas como chefe da seção de aurores.
- Sei. Ela te vê como conselheiro. Já tinha notado.
Harry olhou para a mulher com uma expressão curiosa.
- Você não gosta muito disso. Eu sinto.
- Não gosto mesmo. Charlotte te prende demais e eu e o Sirius ficamos de escanteio. Além do mais, se ela quer realmente se aconselhar com alguém deveria procurar o Dumbledore.
- Ah, não bota fé no seu marido... – tripudiou, puxando a mulher pela mão para se sentar no sofá junto com ele.
- Não brinque. É que acho um absurdo que ela ainda não tenha chamado Dumbledore para uma reunião. Charlotte assumiu como ministra há um ano – respondeu, colocando a cabeça de Harry em seu colo e acarinhando os cabelos do marido.
- Isso é um absurdo mesmo. Outro dia a secretária dela deixou escapar que a ministra não convoca Dumbledore porque o acha senil.
- Senil?! Como se ela fosse uma mocinha!!! Minha mãe contou que entrou em Hogwarts quando a “ilustre Charlotte Jones” estava deixando a escola – comentou, mudando o tom da voz para fingir que anunciava a ministra para uma platéia inexistente.
- Eu nem sei se ela disse isso mesmo. A secretária pode ter se enganado – amenizou Harry, fechando as pálpebras, entregando-se completamente aos cafunés de Gina.
De repente, os carinhos cessaram. Harry abriu os olhos e reparou que a mulher estava pensativa.
- O que foi?
- Agora que me ocorreu. Bom, você foi nomeado chefe há um mês e eu não tinha me dado conta do quanto você está envolvido com a organização do encontro. Mas neste exato minuto eu percebi.
- Percebeu o quê? Que eu estou trabalhando como um louco?!
- Percebi que você dá ordens em tudo.
- Não é bem assim.
- Harry, você pode me tirar da relação dos aurores que vai acompanhar as delegações! – disse, agitando-se com tanto entusiasmo que obrigou o rapaz a se sentar direito.
O bruxo franziu a testa.
- Para quê? Para ficar mais tempo em casa com o Sirius?
- Quem precisa ficar mais tempo com o Sirius é você – disparou Gina, mas ela estava tão excitada que prosseguiu sem reparar no ligeiro rubor de Harry. – Mas o que eu quero dizer que você pode me devolver à seção.
- Gina, você é uma auror e está na seção...
- Mas não em tempo integral.
- Foi você que optou pelo contrato por horas dedicadas.
- Pedi a alteração do contrato porque estava grávida. Só que desde então nunca peguei uma missão de verdade. São sempre aquelas tarefas menores. Aliás, eu mal apareço na seção. Só sou chamada de vez em quando. E isso piorou há um ano, quando fui deslocada para esses trabalhos... humm... essas chatices do cerimonial do ministério.
- Chatices? Você acompanha a ministra a quase todas as recepções e festas. E só não viaja para lugares mais distantes, como a Austrália naquela visita que a ministra fez há dois meses, porque não quer. Eu, o Dobby e a Winky podemos muito bem cuidar do Sirius na sua ausência.
- Eu não quero viajar, Harry. Recepções e festas e chás beneficentes e inaugurações e lançamentos são chatices para quem não é um convidado!
- A ministra precisa ser protegida.
- Ela tem a própria escolta.
- Mas quer também uma auror com ela nesses eventos.
- E por que tem de ser eu?
- Porque você é competente e linda. Faz ótima figura ao lado da ministra.
- Ah, pára com isso. Às vezes, tenho a impressão que Vada Peterson me desloca de propósito para esses trabalhos.
Harry olhou para Gina com um jeito bastante sério. Vada era a secretária da seção de aurores desde que ele entrara para o departamento. Era uma bruxa com cara de buldogue. E que, aliás, se comportava como um. Quando estava zangada, parecia rosnar. Era ela que organizava os relatórios para o chefe dos aurores e que recebia as corujas vindas dos demais departamentos e até de outros ministérios. Vada também organizava a vida dos bruxos que partiam para missões fora de Londres e tinha a escala de plantão sempre em dia. Era uma mulher rígida e só tinha dois fracos: Harry, que adorava como se fosse seu filho, e Pinsky Peterson, sua única sobrinha. Pinsky, uma bonita jovem de olhos verdes e cabelos escuros, era a secretária particular da ministra Charlotte.
- Vada não tem poderes para isso, Gina. Não é ela que decide quem vai fazer o que na seção.
- Sei disso. Mas ela dá uns palpites. Sempre deu. Pelo menos fez isso até você virar chefe da seção. Por isso que eu me pergunto por que nunca entrei numa missão importante. O Rony está na captura de dementadores há muito tempo. Eu já pedi várias vezes para ela incluir meu nome na lista dos candidatos a essas missões. E nunca fui chamada!
- Você provavelmente não foi chamada porque Dawlish não te considerou, ahnn, talhada para essas missões – respondeu, referindo-se ao chefe que substituíra.
- Hmpf – resmungou Gina, acabrunhada. – Mas eu nem sei mais quantas vezes pedi para Vada falar mais a meu respeito para o Dawlish. Eu queria que ela mostrasse como estava empenhada em cumprir tarefas mais difíceis.
- Gina Weasley Potter, o que andou fazendo? Por que nunca me contou essas coisas? Por que preferiu se abrir com a Vada? – inquiriu Harry, com a curiosidade cada vez mais aguçada.
- Porque ela puxou a conversa um dia. Ela me perguntou se eu me sentia à sua sombra...
O rapaz não evitou uma careta. Não gostou nada da intromissão da secretária.
- Daí, eu respondi que não. Só que tinha vergonha de pedir a sua ajuda. Isso seria apelação, não seria?! E a Vada se ofereceu a falar com o Dawlish. Foi assim que tudo começou – comentou a jovem, um tanto sem graça. – Achei que você ia ficar bravo com essa história.
- Estou cansado demais para ficar bravo, Gina. Mas qual o resultado de tudo isso? Sua força de vontade impressionou Vada e ela comentou isso com a sobrinha que, por sua vez, contou à ministra. Charlotte a convocou e não se arrepende disso. Muito pelo contrário. Ela aprecia muito o seu trabalho. Está explicada a razão por que você é sempre incluída nos trabalhos do cerimonial, não está?! Ora, Gina, valorize essa experiência. Charlotte diz que você é tudo o que deseja numa auror. Está vendo? Tem o reconhecimento da ministra. E isso é ótimo.
- Só que não é isso o que eu desejo, Harry. Eu quero ser auror de verdade! – murmurou, com os olhos acesos. – Mas agora isso vai ser possível. Você pode me incluir numa missão de maior importância! Você é o chefe da seção!
Harry coçou a cabeça.
- Ah, claro. É verdade. Posso fazer isso.
Gina pulou sobre seu colo e o abraçou com vontade.
- Como não pensei nisso antes – ria, feliz.
- Podemos providenciar a alteração do contato e você poderá se dedicar ao trabalho em período integral – disse, beijando a mulher. – Só que a senhora terá de me dizer como vamos resolver um “detalhe” que a que esta hora deve estar no sétimo sono.
- Sirius? – perguntou Gina, puxando a cabeça para trás a fim de fixar suas pupilas nos olhos de Harry. – Eu já vinha analisando a viabilidade de contratarmos uma governanta.
- Governanta?! Que idéia moderna. Podemos contratar também um mordomo, uma aia, um pajem e um cocheiro.
- Engraçadinho. Estou rindo muito da sua piada, hahahaha – provocou a ruiva, atraindo por magia o livro que estivera lendo. – Acontece que eu vi em “História das Famílias Bruxas” que ainda há governantas e que elas são uma boa opção para quem prefere manter seus filhos em casa por mais tempo.
- Interessante esse livro. Deve ter sido escrito por volta de 1800 – tripudiou o rapaz, folheando o livro ao acaso. – Ok. Então, o Largo Grimmauld número 12 terá uma governanta que passará muito mais horas com Sirius do que seus pais poderão fazê-lo.
- Eu não terminei de expor meus planos – disse, Gina, erguendo as sobrancelhas. – O Rony e a Hermione se organizaram para sempre estarem em casa na hora do almoço. E eles chegam cedo do trabalho.
- A Mione organizou, você quer dizer. Ai do Rony se ele não aparecesse em casa na hora do almoço. Uma vez veio um berrador e ele virou motivo de gozação no ministério. Tive de calar a boca de dois aurores por causa disso. De qualquer forma, isso não vale mais para o Rony. Agora ele é subchefe, exatamente como eu fui nos últimos dois anos. Ele tem mais compromissos, anda mais ocupado e não terá condições de chegar cedo como antes.
- Humm, pode ser. Em todo o caso, minha mãe já disse que terá o maior prazer em ficar com o Sirius à tarde. Viu como já planejei tudo? A governanta cuida do Sirius pela manhã, nós almoçamos juntos, depois a governanta leva o Sirius para a Toca e à noite nós pegamos nosso filho para voltarmos para casa, tranqüilos, sossegados – disse Gina, num fôlego só.
Harry se impressionou com o entusiasmo da mulher. Só havia mais um porém. Apesar de ser desagradável, não devia escondê-lo.
- Bom, então, pense também na maneira como vou acabar com os falatórios que virão.
- Hein?
- Não se esqueça que o ministério inteiro sabe que somos casados.
- E daí?
- Gina, você não acompanha o dia-a-dia do ministério e não sabe que de vez em quando alguém solta que você, o Rony, o senhor Weasley e até o Percy são meus protegidos.
- Que asneira é essa?! – disparou a ruiva.
- Pergunte para o seu pai. E quando você foi escolhida para compor a escolta da ministra teve gente que fofocou por aí que isso só aconteceu porque você dormia com o subchefe da seção. Ou seja, comigo.
Gina ficou escarlate.
- Não acredito que haja gente tão baixa – indignou-se. – Como ficou sabendo dessa torpeza?
- Vada me contou. Ela passa muito tempo no ministério e sabe onde estão as cobras criadas. Ahn, não esquente com essa bobagem. É coisa de gente baixa, como você já definiu. Só quis te avisar disso porque esses comentários maldosos poderão surgir caso eu te nomeie para alguma missão importante.
A mulher, entretanto, voltou a ficar pensativa. Olhou para Harry e murchou como uma flor abandonada no calor.
- Ah, eu já fiz tantas coisas, Harry. Que injustiça comigo. Nunca fiz nada impactante como auror, é verdade, só que eu tenho meu valor. Que droga!
- Não se preocupe, senhora Potter. Eu colocarei seu nome na próxima missão – disse, tentando sorrir.
- Não. Pode parecer mesmo favorecimento. Você só tem um mês no cargo e ninguém nunca me viu atuar como uma autêntica auror. Vão acabar dizendo que só entrei na missão porque “eu durmo com o chefe” – respondeu, irônica. – Deixe para lá, Harry. Quem sabe mais para frente surja uma solução. Esqueça esses meus planos.
- Que pena. Eu já estava me divertindo com a idéia de contratar um cocheiro. Ele poderia até ser o marido da governanta – brincou para reanimar a mulher. Gina, no entanto, não reagiu como ele esperava. Estava quieta. – Acho que é melhor a gente dormir. Já está tarde. Passarei instruções para o Dobby e daqui a pouco vou subir.
Gina concordou com a cabeça e foi para o quarto com o rosto demonstrando apatia. Harry olhou para a lareira, incomodado. “Diabos me levem, não sabia que ela queria tanto entrar numa missão”, refletiu. Precisava ter uma conversa com Rony no dia seguinte. Anotou num pergaminho as instruções de Dobby – inclusive convocar o cunhado, que estava de licença-paternidade, para uma visita ao casarão do Largo Grimmauld. Assim que terminou de enumerá-las, o papel voou pela casa atrás do elfo doméstico. O bruxo suspirou. Passou primeiro no quarto de Sirius e deu um beijo carinhoso no filho, que dormia abraçado a um dragão de pano, e outro em James, mergulhado num sono profundo. “Lindos sonhos, marotinhos”, murmurou. Em seguida, Harry se dirigiu a seu aposento e encontrou Gina na cama, com os olhos fechados. Tomou um banho rápido, vestiu um pijama e se deitou ao lado da mulher, abraçando-a com delicadeza para não despertá-la. “Perdão, Gina. Eu imaginava que você estava feliz cuidando apenas do Sirius”, pensou, antes de adormecer.
Oi. Que bom ver comentários para esta fic nova. Como não podia deixar de ser, eu acabei escrevendo um capítulo longo. Espero não ter cansado ninguém. No próximo, o Rony aparece. Até lá. Bjs. K.
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