Acerto de contas
Capítulo XXXVII – Acerto de contas
Snape urrou de dor, ainda embalava uma Diana inerte nos braços. Fria, sem cor, sem vida. O desespero da perda tinha tomado conta do homem antes tão frio, tão impassível, que agora chorava desabaladamente e gemia como um bicho ferido. Balançava-se para frente e para trás, com Diana nos braços, ajoelhado no chão. As lágrimas corriam de seus olhos e encontravam os dela, lavando seu rosto sem expressão, e desciam por sua pele sem cor até se misturar a seu sangue e as lágrimas de Fawkes. Os comensais olhavam a cena com ansiedade, sem saber o que estava por vir. Os gêmeos estavam silenciosos, como se pudessem entender o que se passava, e estivessem também apreensivos.
Snape encostou seu rosto no rosto frio de Diana, como se o seu calor pudesse dar vida ao corpo frio da mulher. Apertou-a em seus braços, o sofrimento rasgando seu peito como jamais imaginaria que poderia sentir. Então mais alguém entrou no galpão.
- Severus! Meu rapaz, o que houve aqui? – Dumbledore entrou a passos largos, observando a cena ao seu redor.
- Por favor, Alvo... – Chorava o homem – Ajude-a... Eu imploro...
- Ela está... – Murmurou Dumbledore olhando para o corpo inerte de Diana e todo aquele sangue nos dois.
- ...morta... – Gemeu Snape apertando o rosto da mulher em suas mãos, como se com isso pudesse obrigar a vitalidade a correr em seu corpo – E a culpa é absolutamente minha! – berrou.
Dumbledore aproximou-se e tocou com as pontas finas dos dedos a pele fria e sem cor de Diana. Os olhos negros de Snape encararam os olhos azuis do diretor em tom de súplica. Mas a resposta que ele tanto ansiava não veio.
- Severus... Meu menino... – Sussurrou Dumbledore aproximando suas mãos agora do rosto do professor. – Não foi sua culpa. Você não pode carregar a culpa do mundo nos seus ombros sempre...
- Cala a boca! – interrompeu Snape num murmuro – Já chega! – gritou – Pra mim já chega! Chega dos seus conselhos bobos e sem fundamento! Já chega das suas ladainhas que não levam a lugar nenhum! – abraçou Diana mais forte e puxou-a mais para perto, como se o velho bruxo não merecesse tocá-la. – O maior bruxo de todos os tempos...Besteira! O que você pode fazer agora? Nada! Eu te dei tudo! Eu dediquei a minha vida a caminhar com você! E agora o que você vai me oferecer? Vai me dizer o que? Que o mais importante agora é eu manter vivo o amor que sentia por ela? Que o amor é o maior de todos os poderes? Bem, eu a AMO, Alvo! A amo mais do que tudo, mais do que a minha própria vida! Que poderes isso me dá para evitar a sua perda? De que adianta eu querer que ela viva em meu lugar, se aqui estou com seu corpo morto em meus braços? Poupe-me do seu sentimentalismo Alvo. Ele não vai trazê-la de volta...
- Deixe... Deixe-me olhá-la Severus... Deixe me ver o ferimento mais de perto... – disse o diretor com a voz embargada, uma lágrima silenciosa brotando em seus olhos.
Mas Snape parecia não estar mais ouvindo. Os olhos fora de foco, a respiração sobressaltada, parecia um animal fora de si. Então mais alguém invadiu o galpão.
- Dumbledore! – chamou Lupin que entrava correndo, um lado do rosto cortado e mancando de uma das pernas – Precisamos da sua ajuda! – o homem se deparou com a cena e parou no meio do caminho, as palavras pareciam ter sumido – Nós... – Olhava de Snape envolto em sangue e abraçado a Diana, para Dumbledore agachado ao seu lado e os gêmeos que agora dormiam em cima da placa fria de mármore.
- Fale Remo... – sussurrou o velho bruxo ainda de cabeça baixa – Encontraram Voldemort?
- Nós não Alvo, Harry. – Falou Lupin voltando a si – Harry encontrou Voldemort, o encurralou num brinquedo do parque e não deixa ninguém chegar perto. Ele pode ter perdido os poderes, mas ainda é muito perigoso, não sabemos até que ponto Voldemort está impotente, precisa nos ajudar...
- Eu vou. - murmurou Snape aprumando-se.
- Severus, não. – Dumbledore se levantou – Fique aqui com Diana, eu vou resolver isso. Você não está em condições de resolver nada...
- Faça me um favor Alvo – respondeu Snape voltando a direcionar-lhe seu antigo olhar frio – Pelo menos uma coisa útil. Cuida do corpo da Diana e dos gêmeos, isso você consegue fazer não consegue? – zombou ele.
- Severus, você...
- Dumbledore, – interrompeu Snape seco – não há nada mais que possa ser feito! Não me prive também de poder acertar minhas contas...
Sem esperar por resposta, o bruxo deu o assunto como encerrado, beijou a testa da mulher inerte, e levantou-se decidido saindo do galpão a passos largos.
- Alvo, devo tentar detê-lo? - falou Lupin receoso.
- Não Remo, - respondeu Dumbledore misterioso abaixando-se novamente ao lado de Diana – talvez seja melhor assim.
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Snape andava com passadas largas, logo as passadas largas deram lugar a uma espécie de trote, e em poucos momentos ele abandonara a compostura e estava correndo no chão de terra, o barro sujando suas vestes, a capa negra esvoaçando atrás. Seu rosto mostrava uma ruga de fúria entre os olhos, e a boca crispada sobre os dentes cerrados com certeza denotava seu ódio. Sua mente, no entanto, estava completamente vazia. Havia um vácuo em seu interior... Mas não, não poderia ser vácuo. Vácuo não pesa tanto. Seu coração agora já não existia mais. Com certeza havia sido substituído por uma pedra. Uma fria e pesada pedra, que doía de carregar no peito.
Não foi difícil encontrar o lugar do qual Lupin falara. Havia uma pequena multidão em frente a uma espécie de aposento muito amplo. A pintura externa, que parecia antes ter sido roxo berrante, estava agora bastante desbotada e descascada em muitos lugares. As imagens de pessoas distorcidas que estampavam as paredes estavam enegrecidas pelo tempo e com marcas de infiltração. Uma placa velha acima da porta indicava o local: “Hall dos espelhos – você nunca se viu igual”.
- O que há? Não conseguiram ingressos para a matinê? – bradou Snape rouco cortando pelo meio das pessoas.
- Não há como passar Snape... Todos já tentaram. – resmungou Tonks observando da primeira fila. A pequena multidão se amontoava em meia lua em volta do que parecia ser um campo de força. Não havia nada a vista, mas parecia que uma força invisível impelia as pessoas para longe da entrada do hall.
- Veremos. – Desdenhou Snape passando por todos e parando à linha divisória que separava os bruxos do sopé de entrada. Encostou a mão na parede que não conseguia ver, e ela ficou ali espalmada, impedida de ir além.
- Imbecil. – murmurou um Dédalo Diggle à esquerda.
Snape, no entanto, não ouviu o que o bruxo disse. Estava concentrado olhando além da barreira invisível. Fechou os olhos, podia ouvir Voldemort sibilando contra Harry, mas não dava pra distinguir bem as palavras. “Garoto idiota...” pensou involuntariamente. Ainda com os olhos fechados, Snape deu um passo à frente. Deu outro. Mais um. E, quando ouviu o burburinho as suas costas, soube que tinha transpassado a barreira. Mas, com sinceridade, não soube o porquê.
- Como?... – murmurou Tonks com a boca meio aberta.
Snape abriu os olhos e caminhou decidido para o interior do hall de espelhos. Os bruxos às costas dele tentando inutilmente segui-lo e batendo na barreira como insetos em uma janela.
(CONTINUA...)
Nota da autora: Estou tentando mesmo voltar a escrever... Por favor, tenham paciência, passei por um momento realmente complicado. Pretendo logo logo postar o restante desse capítulo. Só postei o iníciozinho para tentar mostrar a vocês que estou tentando!!!! :) Obrigada pela compreensão de todos.
Nota 2: Mais um pouquinho só pro início não ficar muito curto... Da próxima vez que postar aqui, será o capítulo completo. Um obrigada muito especial para a Ariane Grassi!!! É muito bom saber que depois de tudo ainda tenho leitores fiéis. ;)
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