Aulas de Defesa Pessoal



Capitulo – IV - Aulas de Defesa Pessoal

- Potter o que você faria se alguém te atacasse e você não tivesse uma varinha?
- Não sei. – disse Harry baixinho balançando a cabeça.
- Provavelmente correria e se esconderia no lugar mais próximo – resmungou Snape. E Harry pensou que isso já tinha funcionado antes. – Bem, as suas lições terão que ser rápidas, pois não temos tempo nem lugar apropriado, quando você aprender mais ou menos uma, nós passaremos para outra, depois e só treinar. Onde está a sua varinha?
Harry a puxou de dentro do bolso do jeans. Snape a pegou.
- Sabe Potter, o poder da magia está na sua mente, não neste pedaço de madeira encantado. Ele só serve para dar mais força e precisão aos seus feitiços quando você os une às palavras certas. Ele permite que você faça exatamente o que quer e concentre seu poder só num determinado lugar. Mas a magia quem faz é você. E a sua mente. Eu vou tentar te ensinar a usar esta magia sem precisar de varinhas. Se você conseguir fazer magia sem varinha, imagine o que poderá fazer com ela.
Snape se dirigiu a outra ponta do aposento e colocou a varinha de Harry na palma de sua mão. Harry se levantou da cama.
- Você está acostumado a usar a sua varinha, a primeira alternativa que tem quando a perde e tentar recuperá-la. Chame a sua varinha Potter. Ela tem que aprender a achar você quando você a chama.
- Não posso fazer magia professor, não estou na escola.
Snape revirou os olhos.
- A casa está protegida com um escudo Potter. Nenhuma magia feita aqui será descoberta pelo Ministério. Nem o Ministério, nem ninguém, podem ter indícios de magia aqui, principalmente minha, ninguém pode saber que eu estou aqui. Você realmente não acreditou naquele papo de que vou passar dois meses sem magia, acreditou? Agora chame a sua varinha Potter.
- Como vou chamá-la?
- Chame-a Potter, concentre sua mente nela. Mentalize a vontade que você tem dela voltar para você. Você precisa dela. Concentre o seu poder tentando atraí-la para você.
Harry se concentrou. Tentou atrair a varinha. Mas ela nem se mexeu.
- Por que o senhor não me mostra como é? De repente assim eu consigo.
- Tudo bem. – Snape tirou sua própria varinha do bolso da calça e guardou a de Harry onde estava a sua. Era uma varinha negra, do tamanho da de Harry, com vários entalhes e parecia que já tinha sido consertada algumas vezes. Encaminhou-se até onde Harry estava, colocou sua varinha na escrivaninha e voltou para o lado oposto do quarto. Olhou fixamente para ela, estendeu a mão e de súbito ela flutuou rapidamente até a mão dele. Ele tirou a de Harry do bolso e guardou a sua novamente. Colocou a de Harry na palma da mão estendida. – Muito bem, agora você.
Harry se concentrou, estendeu a mão para a varinha, a mentalizou sendo atraída por ele, chamou por ela mentalmente. A varinha então tremeu na mão de Snape. Depois tremeu mais uma vez, outra, e de repente estava flutuando. Harry mentalizou com mais força, a varinha se mexeu para os lados como se o procurasse cegamente, e então, como se fosse um raio, partiu em alta velocidade até ele. Ele se jogou em cima da cama, a varinha bateu contra a parede com força e caiu no chão.
- Isso Potter – resmungou Snape cruzando os braços – Por que voce não escreve um livro? Intitularia-se: “Técnicas suicidas – como se matar com sua própria varinha”. Acho que venderia muito, para tapados como você.
Harry levantou da cama e pegou sua varinha do chão, felizmente, ela não tinha sofrido nenhum dano.
- Poxa eu tô tentando. Aliás, foi a primeira vez que eu tentei, se não percebeu. Mas eu acho que não ajuda se o senhor ficar aí me insultando o tempo todo... E quanto à trégua?
- Oh, me desculpe, esqueci que você se magoa com facilidade... Agora chega de lenga lenga e tenta de novo Potter.
Harry tentou mais umas cinco vezes, nas duas primeiras quase foi atacado pela própria varinha de novo. Nas últimas já estava melhor, pelo menos já conseguia, com suas habilidades de apanhador, evitar que ela batesse na parede.
- Vamos tentar outra coisa Potter. Depois você treina essa técnica mais um pouco. Vamos tentar explodir objetos.
- E quanto a minha varinha?
- Devolvo-a só depois que acabarmos. São magias “sem varinha” Potter. Isso quer dizer que você as faz sem a varinha – falou Snape sarcasticamente – Agora vamos a lição. Sente-se Potter.
Harry se sentou na beirada da cama. Snape pegou um copo d’água na mesa de cabeceira de Harry, jogou a água pela janela, e colocou o copo em cima da mesa da escrivaninha.
- Afaste-se.
Harry se sentou na cabeceira da cama.
- Aprender a explodir coisas quando queremos é muito útil. Vamos tentar fazer com que você exploda este copo. – Snape se afastou do copo – Para isso é preciso uma concentração um pouco maior. Feche os olhos Potter. Esvazie sua mente. Mentalize o copo em cima da escrivaninha. Só existe o copo. E o copo não te faz bem, ele te oferece perigo, você precisa destruí-lo. Você precisa quebrá-lo. Mas as suas mãos não o alcançam. Você precisa destruí-lo com a sua mente. Focalize a destruição desse copo. Mentalize-o explodindo. Deseje que ele exploda. Deseje com todas as suas forças. Você precisa que ele exploda, necessita disso. Vamos Potter, concentre suas forças no copo. Faça-o explodir. Sua vida depende disso. – A voz de Snape ao invés de aumentar diminuía e se tornava cada vez mais sibilante.
- Não consigo senhor, isso é ridículo! – falou Harry abrindo os olhos. – Como um copo pode me fazer mal?!
- Não me questione Potter. E eu não mandei que você abrisse os olhos. Feche os olhos novamente.
Harry fechou os olhos.
- Vamos mudar Potter, concentre a raiva que você tem de mim no copo – Snape lançou um feitiço de proteção nele mesmo para que nada lhe acontecesse – o copo sou eu. Você não tem vontade de me destruir? Pois destrua o copo Potter, eu sou o copo, o copo sou eu, somos um só. Destrua-me, você sempre quis fazer isso, concentre sua raiva no copo, destrua-o. Reúna sua raiva. Exploda o copo.
Harry tentou canalizar toda raiva que sentia por Snape durante esses cinco anos no copo, o via claramente em sua mente. O copo tremeu. Mas logo depois voltou a ficar imóvel em cima da escrivaninha.
- Não consigo professor – disse Harry sem abrir os olhos.
Snape se aproximou de Harry.
- Você é um incapaz Potter. – sussurrou - Você é um incompetente. Não consegue explodir um simples copo. Você é tão incompetente quanto seu pai e seu padrinho eram – Harry começou a sentir raiva de Snape, mas essa raiva já estava canalizada para o copo, que começou a tremer novamente – Seu pai e seu padrinho eram tão inábeis e ignorantes quanto você. E ainda se achavam superiores, que prepotência. Você é igualzinho a eles Potter. E se continuar assim vai ter o mesmo fim que os dois. Eles eram tão incompetentes que tiveram o mesmo trágico fim, se esconderam ao invés de enfrentar o que lhes ameaçavam – Harry tremeu de raiva juntamente com o copo – E depois, MOR-RE-RAM – Snape ressaltou cada sílaba da palavra – que é o fim que todos os covardes, como você e eles, acabam tendo.
Foi uma coisa muito rápida, o copo em cima da escrivaninha explodiu em mil pedaços com um barulho muito grande para um copo só, Snape cambaleou para trás e
Petúnia soltou um enorme grito.
- É mentira! – gritou Harry pulando em cima de Snape, segurando o colarinho de sua blusa e sacudindo-o, olhava diretamente em seus olhos, sentia seu rosto ardendo de raiva – Eles não eram imbecis como você está dizendo! É mentira! Eles não eram covardes! Não se esconderam! Lutaram até o fim! Ao contrário de você que até agora não decidiu ainda de que lado está!
Snape tentou se manter imparcial e inabalável como sempre, mas Harry pode perceber que, ao pronunciar esta última frase, ele estreitou os olhos de raiva e seus lábios ficaram mais brancos do que de costume.
- Muito bem Potter, - disse Snape tirando as mãos do menino do seu colarinho e forçando-o a sentar na cama novamente - como pôde perceber, ao concentrar sua mente e sua raiva em algo, você consegue destruí-la. Até que você tem um poder um pouco maior do que eu imaginei, conseguiu criar um campo de força capaz de me desequilibrar, e, pelo grito de sua tia, este não foi o único copo que você quebrou na casa.
Foi então que Harry percebeu que, apesar dele ter certeza de que Snape achava que o que acabou de dizer sobre seu pai e Sirius era a mais completa verdade, ele tinha dito isto não por puro prazer de atormentá-lo, mas para provocar uma raiva ainda maior do que a que fomentava pelo professor, e assim criar forças para explodir o copo. Não que Harry realmente perdoasse Snape de ter feito isso.
- Quanto às teorias que você tem sobre mim, eu não lhe devo a menor explicação sobre minha vida, ela é um problema único e somente meu. Mas como foi mais uma das recomendações feitas por Dumbledore, talvez possamos vir a ter uma conversinha sobre isso. Agora acho melhor descermos, sua tia deve estar meio preocupada com os copos dela. Além do que já esta na hora do jantar. – disse Snape olhando no relógio de bolso – Quero que você seja adulto, pelo menos uma vez, e não se aproveite do escudo na casa e das magias que aqui serão aprendidas para atacar ou ameaçar seus tios. Por mais que isto seja tentador. – falou com sinceridade - Quanto à quebra dos copos, acho melhor simularmos uma briga, isso explicaria o fato de você ter se descontrolado e quebrado os copos. Sua varinha.
Snape entregou a varinha de Harry, ele a guardou no bolso da calça.
- A culpa tem de ser minha?
- Ora Potter, o adolescente problemático e rebelde que está sendo avaliado aqui é você não é?
Harry teve de se manter quieto.
- Vamos sair discutindo, vai dar mais realidade. Mas quando eu mandar que você se cale, você se cala, afinal eu ainda estou no comando.
Os dois saíram pela porta. Snape falou um pouco mais alto para que as pessoas no andar de baixo ouvissem. Poucas vezes Harry havia visto Snape falar mais alto que o normal.
- Sr. Potter, o senhor tem que aprender que eles são seus tios e você deve respeito aos dois!
Harry aproveitou para descarregar tudo que estava na garganta há 14 anos.
- Eles são meus tios! Não meus pais! Aliás, eles nem agem como se fossem meus parentes! Eles não mandam em mim, e muito menos você! – gritou ele.
Harry desceu na frente batendo os pés na escada. Snape desceu atrás com um pouco mais de calma do que ele.
- Volte aqui Sr. Potter! Eu ainda não acabei de falar com o senhor!
- Ah, e o que mais você quer falar – eles já estavam no hall – que eu não tenho jeito e que sou um caso perdido? Poupe sua saliva, já ouvi isso de quase todos. Ouço deles todos os dias. – Harry apontou para a cozinha.
-Você está perdendo uma oportunidade de ouro que estamos lhe dando Sr. Potter.
- Oportunidade de que? De ter mais um de vocês, adultos mandões, na minha vida? Achando que podem me dizer o que fazer? Não, muito obrigado.
Já estavam na cozinha. Petúnia recolhia cacos no chão e na cristaleira.
- Me desculpe pelos copos Sra. Dursley, o Sr. Potter e eu tivemos uma pequena discussão e ele acabou se excedendo – Petúnia arregalou os olhos ao ter a confirmação de que aquele estrago tinha sido provocado por magia.
- Copos quebrados? Não chegam aos pés dos danos psicológicos que eles me causaram ao longo destes quatorze anos. Merecem castigos piores do que copos quebrados.
- Agora já chega Sr. Potter! Até agora eu tinha sido paciente com você e estava levando tudo na conversa, mas eu não admito que você levante mais um insulto sequer sobre os seus tios. Eles são pessoas aparentemente boas que cuidaram de você esse tempo todo sem reclamar. Então cale-se. E só volte a falar depois de pensar direito no que vai dizer. Lembre-se que eu estou aqui para avaliar o seu comportamento.
Harry lançou um último olhar para Snape e se calou.
- Quanto aos seus copos Sra. Dursley posso consertá-los num instante.
- O senhor quer dizer com magia? – respondeu ela olhando para o marido e o filho (Duda já havia chegado) que estavam sentados na mesa de jantar que já estava posta.
- O que há de mal nisso? Os senhores me afirmaram que não tinham aversão a magia. – Snape olhou para os três (Harry se se sentou à mesa fingindo estar emburrado, mas na verdade até achou que isso seria divertido).
- Não, tudo bem – falou Valter tremendo um pouco. Duda deu alguns pulinhos com a cadeira para se afastar um pouco, e segurou o traseiro com as mãos em cima do assento. Harry se segurou foi para não rir.
Snape puxou a varinha, Duda tremeu e soltou um gemido involuntário.
- Jogue esses cacos que a senhora catou, no chão, por favor.
Petúnia jogou os cacos com certa desconfiança.
- Reparo. – falou Snape apontando para os cacos e eles voltaram a ser copos e voltaram para a prateleira, como num filme passado de trás para frente. Duda soltou outro gemido.
- O-o-obrigado. – falou Petúnia ainda olhando do chão para os copos.
- Disponha Sra. Dursley, e me desculpe mais uma vez. Jovem meio difícil o Sr. Potter não?
- Ora, os jovens são assim mesmo... Sente-se Sr. Snape, vamos jantar. – Disse Tio Valter tentando por no rosto uma feição hospitaleira, não tendo sucesso, contudo.
- Desculpe, mas não concordo com o senhor, Sr. Dursley. Por exemplo, este bonito rapaz, deve ser o seu filho não? – Snape se sentou à mesa olhando para o rapaz que, apesar de ter o dobro da largura do bruxo e pouco menos que a sua altura, parecia estar com tanto medo quanto uma pessoa que sabe que há uma bomba para explodir na sua frente e não pode fugir. Harry pensou que se havia alguém, além de tia Petúnia, que acha Duda um “bonito rapaz”, esse alguém definitivamente precisava de óculos.
- É, é o meu filho sim, é o Duda.
- Analisando-o pela postura e aparência, presume-se que deve ser um ótimo filho.
- É, - Disse tia Petúnia ajeitando os cabelos do filho enquanto servia o prato de todos – O meu duzinho nunca me deu problemas, só me orgulha cada vez mais.
Harry fez uma cara de asco sincera. Snape lhe lançou um ar repreensivo.
- Pois é isso que quero dizer, em alguns casos é questão de índole, portanto vocês não devem se culpar pelo jovem ingrato que o Sr. Potter se tornou. Vocês com certeza deram ao Harry a mesma educação e os mesmos privilégios que deram ao Duda não? – Harry revirou os olhos e reprimiu um sorriso como se isso fosse uma piada muito engraçada, que ninguém, além dele mesmo, havia entendido.
- Mas claro! – falou tio Valter com a boca cheia de carne quase que imediatamente, o que fez com que seu tom de voz denunciasse o quão falsa era sua frase. Snape fingiu não notar. – Tratamos o Harry como se fosse nosso próprio filho.
Harry, que estava aproveitando que pela primeira vez na casa dos tios estava tendo uma refeição tão decente quanto a de todos na mesa, quase cuspiu de volta as batatas no prato.
- Pois então. É exatamente disso que se trata, algumas vezes é necessária uma educação mais rígida. Não estou dizendo que vocês sejam pais ruins, de forma alguma, mas em alguns casos é preciso não deixar que os sentimentos influenciem na educação aplicada nos jovens.
Harry, apesar de ter tentado se manter emburrado, nunca tinha se divertido tanto num jantar na casa dos Dursley. Por muitas vezes, Snape lançou indiretas e os Dursley tentavam se sair bem, mas na maioria das vezes não tinham sucesso. Quando então Snape perguntou a Duda (que tinha se mantido o jantar inteiro quieto e o mais longe de Snape o possível) se quando Harry voltou de seu primeiro ano em Hogwarts não tinha tido curiosidade e perguntado a ele com era lá (“Afinal, todos os jovens adoram esses pequenos truques de mágicos nos circos”), Harry teve de fingir que sua faca havia caído embaixo da mesa para poder rir baixinho da cara de horror que o primo havia feito.
Quando o jantar terminou, tio Valter chamou Snape para ir à sala terminar a conversa sobre seu trabalho na empresa de brocas. Snape, que parecia particularmente interessado, aceitou o convite (“Tenho um ótimo licor de chocolate Sr. Snape” disse o tio quando passavam pelo hall, “Seria bom se tomássemos uma pequena dose, mas aviso a você desde já que ele é um dos mais fortes que tenho, se você não for tão forte quanto ele ou o suficiente para toma-lo eu entenderei”).
Harry disse que tinha coisas a fazer e subiu ao seu quarto. Tomou um banho e pôs logo seu pijama. Escreveu uma carta a Rony e outra praticamente idêntica a Hermione, contando-lhes tudo que tinha acontecido, desde a chegada de Snape até como os Dursley de repente tinham se tornado tão “bons para ele”. Teria de esperar, pois tinha soltado Edwiges assim que chegou de Hogwarts e ela ainda não tinha voltado.
Harry ficou deitado em sua cama durante quase uma hora pensando em como seriam suas férias, o que pensariam seus amigos dele estar tendo Snape como uma espécie tutor, e tantas outras coisas. Quando estava cochilando e sonhava que tinha transformado Duda em uma rã absurdamente grande que coaxava: “Harry, uébt, Harry, uébt, uébt”, foi acordado por alguém batendo em sua porta.
- Entre – falou Harry esfregando os olhos por baixo dos óculos.
Snape entrou seguido pelo enorme Sr. Dursley que ocupava quase metade do espaço livre do pequeno quarto de Harry carregando uma cama de armar.
- Não era necessário Sr. Dursley. Um saco de dormir seria suficiente.
- Imagina se eu ia deixar uma visita passar dois meses em minha casa dormindo dentro de um saco? – respondeu o homem, que estava bem aéreo, armando a cama perto da janela. O colchão e o travesseiro exalavam um forte cheiro de naftalina.
- Ainda assim eu agradeço Sr. Dursley.
- Disponha, disponha. – A prestatividade do tio e a bajulação de Snape já estavam enchendo o saco de Harry – Boa noite pra vocês.
- Boa noite Sr. Dursley.
Harry ficou em silêncio. Mas antes que tio Valter alcançasse a porta, Snape falou calmamente:
- Seja educado. Deseje boa noite ao seu tio, Sr. Potter.
- Ein? – Harry se surpreendeu, Valter estancou.
- Deseje boa noite ao seu tio. – Repetiu um pouco mais ríspido.
- Boa noite tio Valter – disse Harry como aquelas criancinhas de 1ª série que dizem “Bom dia, querida professora” em coro.
- Assim está melhor. – falou Snape cruzando os braços, o tio fez uma pequena reverência com a cabeça para ele e saiu fechando a porta.
Snape se largou em cima da pequena cama recentemente armada, que fez uns barulhos metálicos muito estranhos.
- Eu realmente devo ter feito muita, mas muita besteira mesmo na minha vida pra merecer isso. – Disse Snape esfregando o rosto com as duas mãos como se falasse consigo mesmo. – “aviso a você desde já que ele é um dos mais fortes que tenho, se você não for tão forte quanto ele ou o suficiente para toma-lo eu entenderei” – falou fazendo voz de falsete, ainda com o rosto entre as mãos – Forte... Cerveja amanteigada é mais forte que aquilo... Tem gosto de chocolate amargo derretido, diluído em água isso sim... Não sei como ele conseguiu ficar tão bêbado, mesmo que tenha tomado metade da garrafa... Falando-me sobre seu emprego perfeito, sua mulher perfeita, seu filho perfeito, sua vida perfeita... Tem é de ser um idiota perfeito para cair num papo como esse... Agora entendo porquê Alvo me pressionou tanto a vir... São necessários anos lidando com pessoas tão ardilosas como cobras e tão falsas quanto as jóias baratas que usam para ser tão cínico a ponto de conseguir aturar e agradar esses trouxas imbecis...
Harry riu baixinho. Snape, tirando as mãos de frente do rosto, pareceu ter acordado de um transe e percebido que o menino estava ali o tempo inteiro.
- Falando sozinho senhor? – perguntou sorrindo.
- Pensando alto – respondeu Snape com o rosto cansado – Às vezes é bom. O que é aquilo Potter? – Disse apontando para os dois envelopes, um endereçado a Rony e outro a Hermione.
- Cartas – Harry bocejou e esticou os braços – prometi escrever aos meus amigos dizendo quem seria o tutor.
- Ficou louco? – Snape saltou da cama e pegou os envelopes – Quer que amanhã mesmo apareça aqui um batalhão de Comensais e um esquadrão de funcionários do Ministério? Quer pôr tudo a perder? Quer que lhe cortem a cabeça e de brinde levem a minha?
- D-desculpa, eu... Eu escrevi em código senhor, escrevia a Sirius assim... – seu coração afundou com a lembrança das cartas do padrinho - Achei que não teria problema... E...
- Código, código! – Snape levantou as mãos como se Harry falasse o maior absurdo do mundo – Entenda Potter, não se trata de um fugitivo. Trata-se do garoto que todos querem alcançar e de um espião suspeito nos dois lados que pode ser descoberto num estalar de dedos. Você tem noção do mal que eu poderia causar à Ordem se alguém tivesse a brilhante idéia de me revistar, e depois me dar Veritaserum? Potter, eu posso ser um maravilhoso oclumente e conseguir esconder todos meus segredos até do Lorde das Trevas. Mas sem esse frasquinho, - ele tirou um frasco pequeno e transparente, com um líquido esverdeado de dentro do bolso – se usarem Veritaserum, qualquer um, até mesmo eu, contaria até a cor da sua cueca preferida. – ele guardou o frasco de novo. – E quanto a você, não preciso nem dizer que se a minha cabeça é importante, a sua é cem vezes mais. Cento e cinqüenta se já estiver arrancada do corpo.
Harry engoliu a seco e, apesar de achar que Snape tinha exagerado um pouco, não pode deixar de lhe dar razão. O professor pegou as cartas do menino, ateou fogo nas duas com varinha e depois fez as cinzas desaparecerem.
- P-professor... – chamou Harry hesitante depois de um momento passado em silêncio.
- Sim, gênio. – Snape encarou Harry com aquele olhar gelado que só ele sabia dar.
- Eu... Eu queria falar com meus amigos... Vou ter de passar as férias inteiras sem ter notícias deles?
- Olha Potter, apesar de eu achar que isso não é o mais importante, Dumbledore disse que é importante que você mantenha contato com seus amigos, então, daremos um jeito.
Snape foi até a janela e assoviou alto. Depois de menos de um minuto, como se surgisse do nada, ou fizesse parte da escuridão da noite, uma coruja negra de olhos amarelos irrompeu pela janela aberta, planou pelo cômodo e pousou com elegância no ombro de Snape. Ele a passou para o braço, foi até a sua mala, pegou o rolinho da carta em que tinha escrito nos dois lados mais cedo e amarrou o rolinho na perna da coruja.
- Direto, rápido, a Dumbledore e somente a ele, não entregue sem antes olhar em seus olhos. Se for pega você sabe o que fazer. Nos encontramos na praça pela manhã. Quem chegar antes espera pelo outro. – sussurrou Snape para a coruja. Ela encarou os olhos negros de Snape com seus grandes olhos amarelos por um instante e ele sustentou o olhar sem piscar. A coruja então piou baixinho, bicou sua mão em sinal de carinho e sumiu pela janela da mesma forma que tinha surgido.
- O senhor não disse que era perigoso escrever? –falou Harry revoltado.
- E é. Mas nesse caso é necessário. Dumbledore tem de saber de tudo que se passa aqui. E eu deixei muitas coisas pendentes por ter vindo às pressas para cá. Preciso de notícias.
- E o que você fez para evitar que alguém lesse aquela carta? Escreveu em código? – Harry imitou o tom sarcástico do próprio professor.
- Ora não me afronte, Potter. – Snape falou um pouco mais ríspido – E não fale do que não sabe. Para sua informação aquela carta parece uma carta simples de alguém que pede notícias dos parentes nesses tempos difíceis. A carta verdadeira está escrita no verso com uma fórmula de tinta invisível criada por mim mesmo. E ainda tem a Silk, minha coruja. – Snape olhou sonhadoramente pela janela aberta para a escuridão da noite – Extremamente ágil, imperceptível à noite, inalcançável de dia. Capaz de reconhecer se as pessoas são elas mesmas ao olhar dentro de seus olhos. Comeria a carta que carrega para que um destinatário diferente do que deveria ser não a alcançasse. E ainda é uma ótima companhia nos dias tediosos. – o bruxo voltou a se sentar na cama.
- Bela coruja. – Harry falou ainda a contragosto cruzando os braços.
- É. Eu sei. Presente de Dumbledore. Tenho de admitir que ele tem muito bom gosto. – Snape puxou a varinha e, com um aceno rápido, fez com que sua mala levitasse até a cama e pousasse do seu lado. Começou a procurar alguma coisa dentro da parte da mala onde estavam as roupas. – Vou tomar um banho. – Ele se levantou com uma muda de roupa negra nas mãos. – Onde fica o banheiro?
Harry indicou o banheiro para Snape. Depois de passado uns 10 ou 15 minutos, nos quais Harry, chateado, ficou brincando com um buraquinho em sua colcha, Snape voltou usando um pijama negro com listras cinzas e um robe, também negro, por cima. Ver Snape de pijama foi demais para Harry. E o menino, que há pouco estava mal-humorado, não pode deixar de rir baixinho.
- Qual é a piada, Potter? – Snape estava colocando a roupa que tinha usado antes num outro compartimento da mala.
- Desculpe senhor, é que eu nunca tinha lhe imaginado de pijamas.- Harry ainda sorria.
- Você achou que eu dormia de que? De capa e sobretudo? Ou nu?- Snape guardou a mala embaixo da cama e se sentou nela.
A mera menção de Snape nu fez os cabelos da nuca de Harry se arrepiarem de asco, e o pouco bom humor que tinha surgido nele se esvaiu. Lembrou-se novamente de seus amigos. Então lhe surgiu uma idéia.
- Senhor... Eu... Eu estava pensando...
- Taí uma coisa que não acontece todo dia. – Snape olhou diretamente para Harry com seu sorriso sarcástico.
Harry respirou fundo.
- Eu tava pensando... Se... Se...
- Não. – falou Snape secamente.
Harry foi pego de surpresa.
- Não? Não o que? Eu nem perguntei!
- Ah, me desculpe Harry. Pergunte. Ande, não fique acanhado, pergunte. – Disse Snape sarcasticamente, como se se divertisse.
- Eu queria saber se... Se tinha como o senhor me emprestar a sua coruja...
- Não. – Snape sorriu de satisfação - Viu como você é previsível, Potter?
Cerrando os dentes e os punhos, Harry se controlou.
- Mas como então eu vou falar com os meus amigos?
- Acalme-se, acalme-se – Snape ainda sorria – Não seja ansioso. Tudo tem seu tempo. Espere e tudo irá se resolver. Agora durma que é o melhor que você faz. – Snape falou com a voz calma, sarcasticamente paternal. Já que de paternal ele não tem nada. Harry daria tudo agora para transformar ele numa barata, para depois pisar em cima. Snape se voltou para a cama e socou o travesseiro. – Maldita cama trouxa. – Com um aceno de varinha ele deixou o colchão mais confortável e o travesseiro mais fofo, e pareceu a Harry que o cheiro de naftalina tinha sido substituído por um cheiro fraquinho de eucalipto. Ele se deitou e seus pés sobraram na pequena cama. – Droga – Harry riu da falta de sorte de Snape por dentro. Com um novo aceno de varinha a cama ficou maior e o homem coube nela. A cama estalou alto. E Snape, talvez por medo que a cama dessa vez quebrasse, com um outro aceno da varinha reforçou os pés metálicos embaixo de si. Harry sorriu. – Durma Potter, durma. – E com um último aceno, Snape apagou a luz.

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