Um Dom e uma Missão





Capítulo 26 – Um dom e uma missão




No dia seguinte, todos dormiram até mais tarde por causa da festa que tinha se estendido até altas horas da madrugada.

Quando Lily acordou o sol já estava alto. Susan organizava o acampamento com a ajuda de alguns anões e de Ripchip.

- Bom dia Lily! – Cumprimentou alegremente quando viu a ruiva sair de uma das tendas.

Lily sorriu e andou até ela.

- Bom dia Susan. Tendo muito trabalho?

- Um pouco. Mas a festa foi tão divertida que qualquer trabalho vale à pena.

- É verdade. Volto logo pra te ajudar, primeiro vou trocar os curativos do Peter.

- Não tenha pressa em voltar. – Susan abriu um sorriso travesso. – Faz horas que meu irmão acordou e não pára de perguntar de você.

Lily sorriu um pouco constrangida e seguiu direto para a tenda onde Peter estava descansando.

- Oh, finalmente! – Exclamou ele levantando os dois braços pro alto e sorrindo abertamente.

- Está sentindo alguma dor? – Lily perguntou preocupada se ajoelhando ao lado dele e tirando os curativos velhos.

- Não, dor não. Apenas saudades da minha enfermeira preferida.

Lily amassou lentamente os esparadrapos usados e os jogou num cesto de lixo, depois encarou Peter sorrindo lascivamente.

- Ao que me consta, eu sou sua única enfermeira. Agora deixe de drama rei Peter, eu sei o quanto deve ser ruim ficar aí sozinho, preso a essa maca horrível, mas eu precisava dormir um pouco.

- É eu sei. Estava brincando.

Lily se levantou e foi até um balcão na outra extremidade do aposento. Misturou cuidadosamente dois líquidos, vermelho e azul, num recipiente maior. Uma fina fumaça branca saiu da mistura quando a poção assumiu uma tonalidade violeta.

- E como está se sentindo hoje?

- Bem melhor. – Ele franziu o cenho observando Lily lhe servir um copo daquela estranha mistura. – Eu vou ter que tomar isso aí?

- Sim, e não adianta fazer careta. É essa coisa com aparência pegajosa e cheiro de sovaco de trasgo que está salvando a sua vida.

- Suas palavras foram mesmo reconfortantes Lily! Obrigado.

A ruiva riu e sentou ao lado dele na cama.

- Vai ter que tomar de qualquer jeito.

- Obrigado por estar cuidando tão bem de mim. Se não fosse por você, ninguém mais aqui saberia como tratar dessa ferida.

- Aslam certamente daria um jeito. E ainda há aquele elixir da Lucy em Cair Paravel. Alguém iria até lá num piscar de olhos.

- É, talvez... – Peter pegou o copo das mãos de Lily, cheirou e devolveu instantaneamente com uma careta. – Argh! Eu não vou conseguir tomar isso.

- Mas precisa. – Lily colocou o copo mais uma vez nas mãos dele. – Vamos lá, num gole só.

- Ninguém em sã consciência beberia essa coisa.

- Se quiser eu posso quebrar alguma coisa na sua cabeça. Você desmaia e aí então eu posso te fazer engolir a força...

Ele encarou o copo e depois Lily cogitando seriamente aceitar essa última proposta dela.

- Quando você terminar de beber, vai ficar um gosto parecido com morango na sua boca. Só o cheiro e a aparência que são ruins, se tapar o nariz e fechar os olhos, garanto que não vai sentir nada.

- Não está tentando me enganar, está?

- Dou minha palavra que não. E se você beber tudo, vai poder sair pra tomar um pouco de sol antes do almoço.

- É uma proposta tentadora... – Falou ele sorrindo.

Peter segurou o copo com a mão direita e respirou fundo pra tomar coragem. No mesmo momento em que tapou o nariz com a outra mão, virou o copo de uma vez, bebendo tudo em poucos segundos.

Lily bateu palmas orgulhosa quando ele lhe mostrou o copo vazio.

- Parabéns! Viu como não doeu?

Com uma última careta de nojo por causa do líquido viscoso descendo por sua garganta ele devolveu o copo para Lily.

- Até que você tinha razão... Sobre o gosto.

Lily sorriu e se aproximou para observar o ferimento.

- Está quase totalmente cicatrizado. – Falou se debruçando sobre Peter pra enxergar melhor.

- Obrigado. Mais uma vez.

A ruiva levantou o rosto ficando a poucos centímetros de Peter. Ficaram se encarando em silêncio por algum tempo, então ele arrumou uma mecha de cabelo dela atrás da orelha e desceu lentamente a mão até o pescoço de Lily trazendo-a mais para perto.

Lily não ofereceu resistência. Pelo contrário, fechou os olhos e sorriu de leve ao sentir a respiração dele tão perto da sua.




- Bom dia Susan!
- Bom dia Lucy. Acordou bem tarde pra quem prometeu madrugar pra me ajudar na limpeza...

Lucy E. sorriu.

- Desculpe, não consegui acordar antes.

- Sabia que até a Lily já acordou antes que você?

- Lily? Nossa, o ar de Nárnia está mesmo fazendo bem pra minha amiga ruiva. – Lucy fez uma pausa e olhou ao redor. – E onde ela está?

- Cuidando do Peter, você não imagina o quanto ele está impaciente por ter que ficar lá sozinho o tempo todo.

- Isso porque ele recém recobrou a consciência... É melhor eu aproveitar e ir logo falar com ele, não consigo deixar de me sentir culpada pelo o que aconteceu.

- Pois não devia se preocupar com isso. – Susan falou sorridente.

Nesse momento o fauno senhor Tumnus pediu a ajuda de Susan para alguma coisa e ela desviou a atenção de Lucy que decidiu ir até a tenda de Peter conversar com ele.




Quando Lily e Peter se separaram ficaram algum tempo se encarando como que recuperando o fôlego ou esperando que aquele momento especial não tivesse fim.
Mas não podia ser exatamente como eles esperavam. Nem bem haviam se separado, Lucy irrompeu pela entrada da tenda.

- Bom dia Lily, bom dia Peter.

Lily deu um pulo assustada e ficou em pé ao lado de Peter que sorriu um tanto sem graça.

- Bom dia Lucy. – Responderam em uníssono.

- Interrompo alguma coisa? – Lucy perguntou temerosa ao perceber o salto que Lily tinha dado para se afastar de Peter.

- Não. Acabei de trocar os curativos do Peter. Você queria falar comigo?

- Na verdade eu vim aproveitar que o Peter recobrou a consciência pra pedir desculpas. Nada disso teria acontecido se eu não tivesse me afastado sozinha de onde estávamos acampando.

- Littar arranjaria outra forma de me desafiar para um duelo. Com certeza isso de envenenar a espada já estava planejado.

- Mesmo assim me sinto culpada. Se não fosse pra me libertar talvez você tivesse outra alternativa pra não enfrentá-lo naquele duelo.

- Se é assim, está desculpada. Mas acho que qualquer um na sua situação iria atrás de descobrir de onde vinha o barulho.

Lily balançou a cabeça, pasma.

- Não, a Lily não. – Lucy afirmou sorridente.

- Lógico que não. E não acredito que você está incentivando essa doida a continuar fazendo isso Peter! Em Hogwarts ela quase me matou uma vez porque queria seguir um bando de loucos na floresta.

- É verdade... Eu já devia ter aprendido. – Lucy continuava sorrindo.

- É engraçado o quanto você leva a sério os conselhos da Lily. – Peter comentou divertido.

- Eu é que já devia ter aprendido a não me preocupar mais. - Falou a ruiva.

- Bom, como o Peter já me desculpou, vou ajudar Susan com o almoço, parece que amanhã já voltamos para o castelo. Podem continuar o que estavam fazendo antes de eu atrapalhar... – Terminou com um sorrisinho maroto e um piscar de olhos.

- Ela é tão discreta... – Lily comentou quando Lucy saiu da tenda.

Peter riu.

- Você vai cumprir sua promessa de me deixar ir lá pra fora?

- Sim, mas daqui a pouco. Por enquanto você tem que voltar a descansar.

A ruiva deu um beijo na testa de Peter e saiu logo em seguida.

O almoço transcorreu normalmente, Rabadash ainda almoçou com eles antes de voltar para a Calormânia e prometeu voltar para uma visita quando Rei Peter estivesse totalmente recuperado.

Peter por sua vez, recebeu permissão de Lily para passear no sol e almoçar com os irmãos ao ar livre.

À tarde as duas Lucys fizeram uma nova fogueira no centro do acampamento, onde tinham recém recolhido as cinzas da noite anterior.

Susan acendeu o fogo e Peter, que acabara de tomar mais um copo do líquido pegajoso e por isso já estava bem melhor, sentou em volta da fogueira junto com Lily, Lucy e os irmãos Pevensie.

Quando as grifinórias já tinham ouvido uma porção de histórias de Nárnia, Edmund deu a idéia de cada um cantar uma canção e a pessoa do lado terminava.

Lily e Lucy tiveram que usar de muita criatividade pra completar as músicas de Nárnia que os irmãos Pevensie cantavam. O contrário não era difícil, afinal muitas das canções que as duas meninas conheciam na Inglaterra, os quatro irmãos também tinham aprendido antes de virem para Nárnia.

Aslam se juntou a eles no meio da brincadeira mas ficou apenas observando a diversão dos jovens. Quando Lucy começou uma canção de ninar e todos riam da desafinação da loirinha, Aslam se aproximou lentamente de Lily.

- Precisamos conversar, Lily. – Falou Aslam e todos pararam o que estavam fazendo.

Lily levantou prontamente e ajeitou as vestes.

- É claro Aslam. Até mais pessoal. – Se despediu dos outros e seguiu atrás de Aslam em silêncio.

Andaram por muito tempo e Lily aproveitou para sentir a calma que era caminhar descalça na terra. Como lhe dissera Lucy Pevensie, era uma sensação única de liberdade.

De repente sentiu um aperto no peito e se aproximou mais de Aslam.

- Está perto a hora de partir, não está? – Perguntou com um tom de tristeza na voz.

Aslam parou e a encarou de frente.

- Sim, Lily. A hora de partir para o seu mundo se aproxima.

- Queria poder ficar mais...

- Eu sei. Mas vocês não pertencem a Nárnia. Têm de voltar e terminar o que tem pra terminar no seu mundo.

Lily franziu o cenho, mas Aslam parecia não estar disposto a continuar. Retomou a caminhada em silêncio e só voltou a falar quando estavam no alto de um morro cheio de flores coloridas.

A vista ali era maravilhosa, podiam ver o castelo de Cair Paravel, o mar, a floresta e muitas montanhas.

- Lily, você veio à Nárnia porque tem uma missão a ser cumprida no seu mundo e também pra aprender a lidar com o seu dom. Sua missão começa a partir do primeiro segundo que você pisar novamente em seu mundo. E o seu dom, ah o seu dom... Esse sim vai ser muito importante para o fim da guerra.

- Qual o meu dom, Aslam?

- Você ainda não está acostumada com ele, porque não sabia deixar um pouco a razão de lado. Por isso foi preciso trazê-la a Nárnia, para que aprendesse a equilibrar emoção e razão.

Aslam silenciou e começou a andar. Lily sentiu que devia segui-lo.

O barulho relaxante de um riacho despertou na ruiva a lembrança da primeira vez que esteve em Nárnia. Apesar daquela visita ter durado alguns poucos minutos, lembrava muito bem do cenário e teve certeza que estava no mesmo lugar.

Aslam parou no fim da trilha e Lily ficou ao seu lado.

- Feche os olhos, Lily. – A ruiva obedeceu – Agora me diga o que você está sentindo...

Lily não respondeu de imediato. Sentiu o vento bater no seu rosto, o ar puro encher seus pulmões e prestou atenção em cada nota cantada pelos pássaros. Somado a isso havia também a presença de Aslam que sempre enchia seu coração de alegria.

- Paz de espírito é expressão certa.

- Quantas vezes você já parou por alguns minutos e ficou só a sentir a natureza? Quantas vezes você se permitiu abrir todos os seus sentidos pra receber as vibrações do mundo, sentir-se viva de uma maneira completa?

Lily abriu os olhos e encarou a face bondosa de Aslam ao seu lado. Um leve sentimento de culpa se apoderou dela.

- Faz tanto tempo que eu já nem lembro mais.

Aslam pareceu satisfeito com a confissão.

- Converse com a natureza que ela vai conversar com você. – Lily arqueou uma sobrancelha – Mas não use palavras, use seus sentimentos. O seu dom, Lily, é sentir quando alguma coisa ruim está acontecendo, mas você precisa estar aberta pra sentir isso.

A ruiva franziu o cenho.

- Você tem esse dom desde que nasceu. Quando era criança podia sentir quando alguma coisa estava errada e, quando recebeu sua carta de Hogwarts, associou esse dom à magia que carrega dentro de si. O que não deixa de ser um pouco verdade...

- Mas eu nunca mais...

- Porque você se fechou demais para o mundo, Lily. Criou uma barreira quase impenetrável entre você e seus sentimentos. Então quando algo realmente ruim acontece você não pode sentir. Foram duas vezes que você ficou terrivelmente doente e ninguém conseguiu encontrar explicação para a sua misteriosa doença. Mas não era uma doença, nas duas ocasiões coisas muito ruins estavam acontecendo e você passou mal porque seu dom não conseguia se manifestar.

Lily desviou os olhos de Aslam e ficou por um tempo apenas observando o sol se pondo no horizonte. Uma enxurrada de lembranças tomou conta dela.

Aslam estava certo, havia ficado muito doente duas vezes nos últimos anos. A primeira vez ficou internada cinco dias num hospital trouxa. Foi nas férias entre seu terceiro e quarto ano em Hogwarts.

Lembrou que seus pais ficaram muito preocupados, mas nunca souberam ao certo o que tinha acontecido com a filha. Os inúmeros exames feitos, só apontavam que ela estava com uma leve anemia.

Mas ninguém tem febre alta e alucinações por causa de um princípio de anemia.

Piscou os olhos confusa. O enorme sol avermelhado quase desaparecia por trás de uma montanha deixando o céu num alegre mesclado de cores quentes.

A segunda vez...

A segunda vez que ficara doente foi em Hogwarts no ano anterior. Lembrou de Lucy e Gwenda lhe contando sobre a mesma febre alta e delírios.

- O que aconteceu nessas duas vezes, Aslam?

- Eu não posso lhe contar minha filha. Você deve ficar alerta quando seus sentidos estiverem aguçados e você puder sentir que algo errado está acontecendo. Mas vai ter que descobrir por si mesma.

Lily assentiu. Aprendeu que nas conversas com Aslam era sempre o melhor a fazer.

- Vou chamar os outros, espere aqui. – Falou o enorme leão.

Lily sorriu e procurou um bom lugar para assistir o anoitecer.

Devia ser isso que Aslam queria lhe dizer. Sentir a natureza, sentir a vida. Sentou-se encostada ao caule de uma árvore e observou cuidadosamente cada nuvem, cada linha e cada cor que enfeitavam aquele céu tão maravilhoso de Nárnia.

Respirou fundo fazendo cada célula do seu corpo absorver a paz do lugar.

De repente uma lembrança a fez abrir os olhos e ficar em pé num pulo.

- Não é possível... – Sussurrou enquanto organizava os pensamentos para que eles fizessem algum sentido.

Flashback
Julho de 1973

- Por Merlin, Lis, o que te aconteceu? – Lucy irrompeu preocupada no seu quarto de hospital.

A loirinha deu um abraço na amiga e sentou na beirada da cama.

- Foi horrível, Lucy. Febre alta, calafrios... desde o final da tarde de ontem. Só acordei hoje depois do meio-dia.

- Já almoçou?

- Sopa... – As duas fizeram uma careta e depois riram.

- Eu vim assim que soube.

- Obrigada. – Lily sorriu em agradecimento.

- Obrigada nada! Você vai ter que arranjar pra mim outro Francês lindo, atencioso e educado pra substituir o meu ‘ex-quase namorado’.

- E porque você não fica com o mesmo?

- Nós brigamos. Ele não gostou muito que eu o deixasse na França e viesse pra Inglaterra ver uma amiga que convive o ano inteiro comigo.

- Que chato...

- Pois é... Mas dei ‘Au revoir’ pra ele. Você é muito mais importante pra mim do que um casinho de verão.

Lily segurou a mão da amiga e sorriu.

- Você é única!

A loirinha também sorriu e abriu a bolsa tirando uma barra de chocolate de dentro da carteira.

- Único jeito de passar pela fiscalização antes de entrar no seu quarto. Eles não deixam passar nem um suco de abóbora que eu fiz pra você! – Falou indignada – Então melhor você comer logo antes que chegue alguém.

- Não sei como te agradecer.

- Depois a gente discute isso, eu sei o quanto é horrível essas coisas de hospital.

Ao falar isso Lucy levantou da cama assustada.

- Já volto, Lis, tenho que te mostrar uma coisa.

A loirinha saiu do quarto apressada e voltou em menos de dois minutos com uma pasta nas mãos.

- Notícias do mundo bruxo. – Lucy estendeu um exemplar do Profeta Diário para Lily.

Na capa havia a figura de um enorme crânio na cor esmeralda com uma cobra saindo da boca como se fosse uma língua. O título da matéria, que parecia querer saltar do jornal, dizia “TRAGÉDIA NO MUNDO BRUXO, TRÊS FAMÍLIAS ASSASSINADAS”.

- Todas nessa última noite e ninguém sabe o motivo ainda. – Lucy adiantou enquanto Lily folheava o jornal até a página indicada na capa.

- E esse sinal?

- Foi encontrado pairando sobre as três casas. Todos os integrantes dessas famílias morreram com Avada Kedavra e foram identificados sinais de tortura nas vítimas.

- Como as outras mortes misteriosas que vêm acontecendo ultimamente?

- Exatamente. Mas dessa vez esses loucos parecem querer se identificar. Além desse crânio horroroso foi deixado um aviso com sangue nas portas: “Por Lord Voldemort”...


Fim do Flashback

- O dia que Voldemort se apresentou ao mundo bruxo... Merlin, então é essa a dimensão do meu dom?

- Falando sozinha, Lis? – Lucy perguntou sorrindo.

Lily chegou se assustar com a presença da amiga e dos irmãos Pevensie.

- Só estava pensando alto... – Lily sorriu para os outros e segurou a mão de Lucy. – Preciso conversar com você.

- Tudo bem Lis? Você está pálida...

- Vou ficar bem, só estou... – Lily procurava uma boa palavra pra definir o que estava sentindo. – Assustada. É isso, assustada é a palavra.

Lucy estreitou os olhos preocupada e Lily puxou a amiga até chegarem a beira do riacho ali perto.

- Preciso te contar algumas coisas... Sente-se.

Lily sentou encostada em uma árvore e Lucy sentou de frente para o pequeno rio, mergulhando os pés na água.

- Você está me deixando curiosa, Lis.

A ruiva abriu um sorriso nervoso e começou a relatar a conversa que tivera com Aslam, o que estava sentindo com tudo aquilo e a lembrança que tivera daquele dia que Voldemort revelou seu nome e a marca negra.

- Não tem como ser engano, você foi me visitar no hospital com o jornal de notícias da noite anterior.

- Lily, estou pasma. – Foi tudo que Lucy conseguiu dizer.

- Agora eu preciso que você force sua memória. No dia em que eu fiquei doente em Hogwarts, me conta tudo, tudo que aconteceu no período em que eu estive desacordada.

Lucy balançou os pés dentro da água tentando lembrar de alguma coisa importante.

- Gwenda e eu te levamos para a enfermaria, depois fomos atrás da Alice no campo de quadribol e mais tarde nós três e os marotos fomos para a floresta negra atrás das plantas que madame Pomfrey nos pediu... Nada relevante...

Lily tentava pensar em alguma coisa.

- Tem que ter mais alguma coisa, algum detalhe...

- Nem o jornal eu li aquele dia pra você ter uma idéia. Se ao menos...

Lucy estancou. A lembrança de uma conversa que tivera aquele dia a fez abrir um sorriso. Uma ‘agradável’ conversa com seu amiguinho Lucius Malfoy...

- Lily, o Malfoy. O Malfoy me disse uma coisa...

Flashback

- Pra onde vão com tanta pressa? As crianças não deveriam estar assistindo o joguinho de quadribol da casa? – Lucius Malfoy perguntou com uma falsa voz infantil.

- Sai da minha frente Malfoy.

- Uhh, a esquentadinha sangue-ruim acha que manda por aqui? O que vai fazer? Me azarar? Vai ser um pouquinho mais difícil você falar o que quer agora que está sem seus guarda-costas, não?

- Sai da minha frente, Malfoy – Lucy falou ainda mais alto tirando a varinha das vestes e apontando ameaçadoramente para o Sonserino.

- Devo admitir que você é corajosa, sangue-ruim. Mas não pense que vai ser assim tão fácil se livrar de mim desta vez. Nós estamos afim de um pouco de diversão e aquele jogo estava muito chatinho...

- Sinto muito então Malfoy, não tenho nada que possa te divertir. Agora eu vou falar pela última vez, bem devagar para o seu cérebro de jumento poder assimilar, ok? Sai. Da. Minha. Frente. Agora. Ou. Não. Respondo. Pelos. Meus. ATOS.

Uma fumaça dourada saiu da varinha da Grifinória fazendo Crabbe e Goyle recuarem dois passos.

- Não sejam imbecis vocês dois – Rodolphus se colocou ao lado de Malfoy – São apenas duas garotinhas, vamos poder treinar bastante...

O Sonserino soltou uma risada alta e sem alegria fazendo Lucy abaixar um pouco a varinha.

- Treinar? – Ela perguntou um pouco incrédula.

- Sim, desde aquele dia no Três Vassouras estou te devendo uma lição por ter visto o que não devia.

- Vocês não são loucos o suficiente pra bancarem os Comensais da Morte debaixo das barbas de Dumbledore.

Os Sonserinos riram ainda mais. E Lucy fez um sinal para Alice.

- Dumbledore não está na escola. Chamado urgente do Ministério. – Lucius balançou a varinha por entre os dedos e fez uma cara de profundo pesar – Infelizmente mais uma família de imundos mestiços foi atacada. Nenhum sobrevivente. Isso é triste, não?


Fim do Flashback

- Só pode ser isso, Lucy! – Lily falou animada.

- O problema é saber qual família foi atacada.

Lily desmanchou o sorriso e mexeu as mãos nervosamente.

- Não vai ser isso. – Falou triste. – Famílias estão sendo atacadas todos os dias. Era pra eu estar em coma se isso fosse importante...

- Você tem razão. – Lucy falou desanimada. – Mas, e se for uma família importante?

- Quando meus pais morreram, eu não senti nada... Quem seria mais importante pra mim do que eles?

Lucy desanimou completamente.

- Estaca zero novamente. – Falou com um suspiro.

- De qualquer forma, vamos investigar tudo o que aconteceu naquela noite. Não custa nada saber quem foram as vítimas.

- É. E talvez isso seja, ao menos, um ponto de partida! – Lucy recuperou a esperança.

As duas ficaram se encarando sorrindo. De repente Lily desviou o olhar para a floresta do outro lado do rio.

- Isso aqui é lindo demais, não é?

- É. Se eu soubesse que Nárnia era tão linda, tão agradável, tinha pesquisado tudo junto com você e teria te chamado de doida menos vezes.

A ruiva deu uma risada.

- Mas Aslam...

- Eu sei, ele já conversou comigo: ‘Tudo no tempo certo’. Será que Alice e Gwenda vão acreditar quando contarmos?

- Espero que sim.

Lucy abriu um sorriso maroto.

- Você vai seguir os conselhos que Aslam te deu? Sobre deixar seu coração te guiar e tudo o mais?

- Claro que sim. Até porque não quero quase morrer toda vez que alguma coisa ruim acontecer no mundo bruxo.

- Então você sabe o que isso significa? – Lily abanou a cabeça negativamente – Que você deve parar de julgar o James pelo o que ele pode fazer com você se der uma brecha pra ele.

- Meu Merlin! Estava demorando pra você tocar no assunto ‘Potter’ novamente, não?

- Lily, você repele o James como se ele fosse te fazer algum mal. Ele não vai te magoar se você não permitir.

- Exatamente. É isso que eu estou fazendo: não permitindo que ele me magoe.

- Ele quer ser seu amigo. Ao menos isso, Lis. Qual o problema? Veja eu, por exemplo, o Remus é meu amigo, o James, o Sirius...

- O Sirius te magoa.

- Por que eu gosto dele. Só se... Só se você também gosta do James... – Lucy deixou a frase no ar, como Lily não respondeu, a loirinha continuou – E o Sirius não só me magoa. A gente se diverte bastante juntos.

Lily respirou fundo.

- Eu prometo tentar, veja bem: eu disse tentar, ser mais... Hum...

Lily fez uma pausa.

- Menos... Menos dura com o Potter.

- Menos dura Lis? O que eu e Aslam estamos te pedindo é que você deixe cair essa barreira à sua volta. As pessoas também precisam se magoar e se ferir de vez em quando pra poder crescer, sabia?

- Eu já esgotei toda a minha cota de sofrimento com a morte dos meus pais, ok?

Lucy suspirou resignada e deu um tapinha na testa de Lily.

- Cabecinha dura, essa minha amiga.

- Vou tentar ser mais sociável. Melhorou?

- Muito. – Lucy sorriu e levantou do chão. – Vamos voltar?

- Vamos. – Lily também levantou e limpou a poeira do vestido. – Estou faminta.

- Eu também. E provavelmente agora que todos os animais falantes já se foram, vamos comer maçãs.

A ruiva riu.

- Talvez eu possa dizer que para a recuperação do Peter, ele precisa de um banquete como o de ontem!

Lucy adorou a idéia e as duas amigas seguiram conversando e rindo até onde Aslam e os Pevensie estavam.




N/a:
Gente, por favor eu preciso da opinião de vocês sobre a interação Lily-Peter hoje... eu estava doida pra deixar esses dois um pouquinho juntos, mas eu sei que muita gente prefere que a Lily seja só do James... Por isso meu receio de vocês não gostarem... Até ia colocar a Lucy pra entrar um pouquinho antes e impedir que qualquer coisa acontecesse, mas é que nesses casos sempre tem alguém desagradável pra interromper e não achei também muito justo dar esse título à Lucy... ¬¬ Ok, eu estou confusa! Mas não me ignorem! Quero saber o que acharam, ta?

Vamos lá, sugestão, elogio e críticas são muito bem vindas!

Ok, já vou...
Beijos Enormes!!!

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