Capítulo 8



No modesto quarto do hotel, Harry e Hermione contavam a Tonks, Lupin e Ron tudo o que havia acontecido nas últimas horas.

- É ali, Lupin, eu tenho certeza! Ali na esquina da rua Lennington com a St. Patrick! Agora precisamos dar um jeito de entrar naquela casa, porque tem gente morando lá. Eu não contava com isso. Pensei que fosse achar um casebre meio abandonado...

- É, Harry, a gente tem que ir com calma – ponderou Tonks – Nada seria mais estúpido do que sermos presos por invasão de domicílio, agora que conseguimos acesso ao arquivo do jornal... e à biblioteca!

- Vocês conseguiram? – Hermione não conseguiu conter um gritinho de felicidade. Ela não acreditava que os amigos fossem ter sucesso no mundo trouxa.

- Claro, Mione! Ou você acha que só vocês dois são espertos? – disse Ron, com um sorriso vitorioso no rosto, tirando do bolso a carteirinha da biblioteca.

- E aí, acharam alguma coisa?

- Na verdade ainda não tivemos tempo de procurar... – explicou Lupin, desanimado – a Sra. Jacobs fala pelos cotovelos. Não sei como ela tem coragem de pedir silêncio para os estudantes, se ela é a maior fonte de barulho dentro daquele lugar!

- Quem? – perguntou Harry.

- A bibliotecária – explicou Ron – ela nos pegou numa conversa que durou horas, sobre a cidade, a história do lugar, a história da biblioteca...

- E teria contado a história de cada um dos livros que ela guarda lá, se tivesse tido a chance – completou Tonks, rindo – Coitada, ela é uma senhora sozinha, não deve ter muita chance de conversar fora do trabalho...

- É, mas então amanhã a gente combina de só um de nós parar pra ouvi-la, enquanto os outros trabalham. Senão podemos passar o resto da vida aqui sem descobrir nada! – concluiu Ron, abrindo um pacote com sanduíches que eles haviam comprado no caminho de volta e distribuindo a comida para os amigos.

Assim que acabaram de comer, Lupin e Tonks se despediram, recomendando aos garotos que dormissem cedo, pois agora é que o trabalho ia começar de verdade. Mas assim que eles apagaram as luzes e tudo ficou quieto no quarto, Harry se levantou e alcançou sua mochila, procurando pela capa da invisibilidade. Não pretendia esperar mais um dia para ter a chance de ir até sua casa.

Não foi difícil sair do hotel sem ser notado, já que seus colegas de quarto, depois de um dia longo, dormiam pesado, e a porta da frente, como sempre, estava escancarada a espera dos hóspedes que chegam durante a noite.

Na rua, o ar quente do verão tornava extremamente desagradável continuar debaixo da capa. Sabendo que estava sendo imprudente, mas contando com o fato de que entre os trouxas ele era apenas um garoto anônimo, que ninguém teria por que reconhecer nas ruas da cidade, Harry tirou a capa.

Andando livremente pelas ruas da cidade, cruzando com estranhos que simplesmente não tomavam conhecimento da sua presença, ele se sentiu livre como não se sentia a muito tempo, nem mesmo em Hogwarts, onde sempre havia algum professor seguindo seus passos e atrapalhando seus planos.

Ao chegar na esquina da rua St. Patrick, mesmo sem perceber, Harry diminuiu a velocidade da sua caminhada. Tinha medo do que iria sentir quando chegasse na casa. Não sabia como iria se comportar, e não queria se arriscar a estragar o plano. Mas, ao chegar à esquina com a Lennington, inexplicavelmente todo o medo passou, e ele foi tomado por uma sensação boa, de leveza, de felicidade, algo que ele só havia sentido uma vez na vida: quando viu seus pais pela primeira vez, no Espelho de Ojesed.

E assim como quando descobriu o espelho que lhe permitia ver sua família, novamente Harry não conseguiu se afastar daquele lugar que lhe trazia de volta seu passado. Durante as próximas três noites, em vez de descansar para o trabalho no dia seguinte, Harry saía pelas ruas de Godric’s Hollow, sentava-se na calçada em frente a casa que um dia pertenceu a seus pais e olhava a luz nas janelas, o movimento nos quartos, os sons, imaginando como teria sido sua vida lá dentro.

Na quarta noite, porém, antes que alcançasse a maçaneta da porta do quarto alguma coisa puxou seus pés, e ele foi atirado, cambaleando, sobre a cômoda, derrubando com estrondo o telefone que estava em cima dela. Ele nem tinha tido tempo de entender em que tinha tropeçado quando a luz se acendeu e mostrou os rostos zangados de Hermione e Ron.

- Muito bonito, Harry! Então é por isso que o senhor fica cochilando pelos cantos do arquivo durante o dia enquanto eu separo, classifico, catalogo e guardo milhares de documentos que ninguém nunca via usar pra nada... – Hermione se continha para não gritar, enquanto tirava a capa de cima de Harry.

- Eu... Eu... – Harry tentava pensar rápido em uma explicação, ao mesmo tempo em que localizava o nó em seus cadarços, causador do seu tombo – Peraí! Foram vocês que fizeram isso no meu tênis?

- Fui eu, Harry! – Ron não parecia nem um pouco arrependido, mesmo vendo Harry esfregar os joelhos doloridos, enquanto se levantava – Poxa, cara! Você acha mesmo justo esconder da gente que você tem saído a noite? Imagina se acontece alguma coisa e você simplesmente não aparece de manhã? A gente não ia ter nem por onde começar a te procurar...

- Mas nada ia acontecer, eu estava com a capa e...

- Dane-se a capa, Harry! Você podia ser atropelado por um carro, ou cair num buraco, sei lá! E os Dementadores? Eles já apareceram lá perto da casa dos seus tios, por que que não poderiam aparecer aqui? E se você desmaiasse de novo? A capa não ia te proteger dessas coisas...

- Tá bom, Mione, pode parar com a lista das tragédias que eu podia ter causado, já entendi... – mesmo sabendo que se pudesse voltar atrás teria feito tudo de novo, Harry não podia deixar de dar razão aos amigos. Ele estava mesmo se arriscando além do necessário.

- E depois reclama que meu pai é cauteloso demais – acrescentou Ron, deixando claro que ainda não havia esquecido a crítica do amigo.

- Harry, deixa eu te pedir uma coisa: quando você tiver alguma outra idéia estúpida dessas, conta pra gente antes de sair colocando em prática, ok?– Hermione parecia realmente brava.

- Tá bom, tá bom, eu já entendi! Me desculpem se eu deixei vocês preocupados, se eu te deixei fazer todo o trabalho duro lá no arquivo... Agora dá pra parar com o sermão?

- Dá sim, mas antes você tem que fazer uma coisa. – Mione continuava séria.

- O quê?

- Contar pra gente como é lá! Como é a casa? Como é a família que mora lá? Você achou alguma coisa sobre os seus pais?...

- Ai, Mione, não importa o quanto você esteja brava, sua curiosidade sempre fala mais alto, né? – Harry ria da amiga, mas no fundo se sentia feliz por finalmente poder falar sobre esse assnto – Na verdade eu não consegui entrar ainda...

- Não?! – Ron e Hermione gritaram quase juntos, enquanto sentavam-se na cama para ouvir Harry.

- Não... A noite sempre tem gente lá, a porta fica fechada. Eu só fiquei olhando do jardim. Mas mesmo assim, é como se eu já conhecesse lá dentro... No andar de baixo tem a sala de jantar, eu sei porque vejo os vultos lá em baixo toda noite. No fundo é a cozinha, que, pela fumaça, deve ser uma daquelas antigas, com fogão de lenha. Em cima tem os quartos, acho que são dois...

E até que o dia começasse a clarear, Harry não conseguiu parar de contar todos os detalhes de como ele imaginava que devia ser a casa por dentro e a família que morava lá. Apenas quando percebeu que os amigos já não agüentavam mais fazer força para manter-se acordados, e cochilavam espremidos na pequena cama de solteiro, ele decidiu dormir também.

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