Interlúdio
“Afim de uma cerveja amanteigada ou algo mais alcoólico hoje à noite”?
Estarei no Cabeça de Javali por volta das 23h. Apareça se puder.
Han”
Gina fechou o bilhete e guardou-o em um dos bolsos do casaco, colocando as mãos dentro deles em seguida. Caminhou até a porta do estabelecimento pequeno e mal cuidado que havia se tornado o Cabeça de Javali depois de trocar de dono, ainda não muito certa de que queria realmente estar ali naquele momento. Hesitou antes de empurrar a porta, que rangeu chamando a atenção de todos para a sua presença. Incrível como um boteco caindo aos pedaços como aquele conseguia uma clientela tão avantajada e fiel. Mistérios da vida.
Hannah estava sentada numa mesa ao fundo, de modo que Gina ficou alguns minutos parada diante da entrada tentando localizá-la. Tinha a sensação de que todos estavam olhando para a sua pessoa, e ficou extremamente grata quando identificou a menina acenando para ela no intuito de chamar-lhe a atenção.
- Ficou feliz que tenha vindo – Hannah disse sorridente.
- Eu estava precisando sair daquele maldito castelo um pouco – Gina falou encolhendo os ombros, e acomodou-se na cadeira diante dela.
Não era prudente passear de uniforme pelas imediações de Hogsmeade aquela hora da noite, pois todos sabiam que nenhum aluno de Hogwarts tinha autorização para estar fora da escola tão tarde. Gina e Hannah estavam usando roupas normais, jeans, camiseta e casaco, mas isso não as tornava exatamente invisíveis perante os donos dos bares. Na verdade, todos sabiam quando estavam servindo um estudante – evitar o uniforme era apenas para não tornar a coisa tão explicitamente óbvia.
Uma brisa confortavelmente fria trazia uma atmosfera agradável para a noite. O clima noturno fazia com que ela se sentisse bem, coisa que havia se tornado bastante rara devido ao nível de estresse que estava suportando por conta de suas péssimas notas. Quando recebeu o bilhete de Hannah, Gina quase pensou em não ir. Agora estava feliz de não ter sucumbido ao seu desejo anti-social de permanecer trancafiada entre as paredes de pedra de Hogwarts até que enlouquecesse.
Havia passado muito tempo com Hannah nos últimos dias. Na verdade, não estaria mentindo se dissesse que ela era a pessoa que estava mesmo salvando a sua vida ultimamente. Por mais que se esforçasse, Gina achava que jamais poderia retribuir o grande favor que ela estava fazendo ao desperdiçar seu tempo livre trancada na Sala Precisa, ensinando a pior preparadora de poções que o mundo já vira – talvez não A Pior, porque Neville com certeza a superava... Mas Gina decididamente entraria no Top 5. Talvez depois de Rony, ou... – a produzir algo que não explodisse seu caldeirão antes mesmo que adicionasse o último ingrediente. Hannah estava sendo extremamente caridosa. Caridosa de mais...
Gina havia reparado em alguns olhares estranhos que a nova amiga por vezes lhe lançava, mas procurava ignorar certos questionamentos internos a respeito. Já tinha muito para se preocupar, e se Hannah Abbott estava realmente adquirindo um interesse além do fraternal por ela, bem, aquilo não era um problema em potencial. Desde que continuasse ganhando a ajuda da menina, Gina não se importava. Se conseguisse passar nos NOMS de Poções até cogitaria a possibilidade de agarrá-la no meio do Salão Principal.
A melhor parte de ter a companhia de Hannah é que, obviamente, ela era gay. De fato, ela era muito gay. Comentava a respeito de meninas com a mesma naturalidade que Gina, há alguns anos atrás, falava de meninos. Apesar de ser estranho no começo, a ruivinha estava descobrindo que era muito bom ter alguém por perto que entendesse o que ela sentia, e que não agisse como se ambas fossem duas amaldiçoadas por estarem apaixonadas por alguém do mesmo sexo. Andar com Hannah fazia Gina se sentir normal – coisa que há muito tempo não acontecia. Além disso, ao contrário do que a menina imaginara num primeiro momento, ninguém parecia achar que elas tinham um caso. Todos estavam completamente convencidos de que Gina Weasley ainda era a “garota do Harry Potter”, já que eles estavam sendo vistos juntos novamente, e isso afastava qualquer pensamento maldoso.
- Gina, onde você está?
A voz de Hannah trouxe a ruivinha de volta da viagem por seus pensamentos para a realidade. A garota a encarava com um sorriso divertido.
- Oh, acho que estou meio distraída hoje.
- Sim, isso eu reparei – Hannah riu.
- Talvez você devesse ter chamado outra pessoa... – Gina encolheu os ombros.
- Não seja boba! Vou buscar uma bebida, volto em um minuto.
Gina observou a garota caminhar até o balcão, atrás do qual um velho - que visivelmente sofria de problemas com queda de cabelo - ocupava-se em servir um copo com conteúdo fumegante para um freguês acabrunhado. Ela colocou as mãos no bolso do casaco e esticou as pernas, recostando-se displicentemente na cadeira. Hannah voltou em alguns minutos trazendo uma garrafinha com um líquido rubro e dois copos.
- O que é isso? – Gina indagou erguendo a sobrancelha.
- Você tem andado absurdamente tensa ultimamente – Hannah serviu uma dose da bebida para Gina. – Isso vai fazer você se sentir melhor, eu garanto.
Gina ergueu uma sobrancelha. Apanhou o copo e ergueu-o na altura dos olhos por alguns segundos. Havia fumaça dançando sutilmente sobre a superfície da bebida. A garota respirou fundo e emborcou todo o conteúdo de uma única vez. O líquido, extremamente quente, desceu pela sua garganta provocando uma sensação de queimação que deixou as bochechas da ruivinha coradas por alguns instantes. Rapidamente, porém, um frescor gélido subiu pela sua barriga, provocando calafrios na espinha de Gina.
Hannah a observava em silêncio, com um sorriso satisfeito expresso no rosto.
- Isso é uma bebida comum? – a ruivinha perguntou com um tom de incredulidade.
- Você não está se sentindo mais relaxada? – Han rebateu com outra pergunta. Como Gina parecesse ainda mais confusa, a garota instruiu – Respire fundo, lentamente.
A ruivinha obedeceu, um pouco desconfiada, e compreendeu do que a amiga estava falando. Quando o ar desceu até atingir seus pulmões, Gina sentiu uma sensação de formigamento espalhar-se rapidamente por todas as partes do corpo, começando pelas extremidades dos dedos. Cada ponto por onde as formiguinhas imaginárias passavam aquecia-se agradavelmente, provocando uma descontração espontânea de todos os seus músculos. Ela sentiu-se calma, confortavelmente morna e tomada por um sentimento de bem estar que decididamente não lhe era familiar nos últimos tempos.
- Acho que gostei disso – Gina disse, mas não havia muita veemência em sua voz.
- Tenho estado boa parte do dia com você – Han falou – É impossível não notar a grande pilha de nervos que você se tornou. Achei que lhe faria bem se livrar da tensão por algumas horas.
- Devo agradecer? – Gina riu molemente, apanhando a garrafa de bebida. Passou os olhos pelo rótulo. “Cielo Rubro”, dizia. Mas, curiosamente, não havia nada sobre efeitos relaxantes ou medicinais nas informações do produto.
Percebendo a expressão de confusão no rosto de Gina, Hannah começou a falar.
- Espero que você não se zangue comigo – ela disse relutante. – Eu acrescentei um pouco de poção relaxante na bebida...
Numa situação normal, Gina teria se levantado da cadeira e expressado toda a sua indignação pela atitude estúpida de Hannah de fazê-la consumir levianamente uma poção da qual desconhecia totalmente a procedência. Álcool podia ser fatal se misturado com algumas combinações de ervas, ela não sabia disso? Poderia ter ao menos perguntando se ela estava interessada em ficar naquele estado de lerdeza e descontração, certo? E Gina achava até que podia se considerar meio dopada, de modo que tinha toda a razão em ficar ofendida em último grau e amaldiçoar todas as futuras gerações de Hannah sem a menor piedade. Porém, ela estava calma demais para ter uma atitude Weasley. Provavelmente era efeito da bebida – o que deveria irritá-la ainda mais -, mas Gina não estava se importando realmente. Era mais prático apenas sentar e conversar com Hannah amigavelmente sobre aquilo.
- Você me dopou ou algo assim, Hannah? – Gina perguntou tranquilamente.
- Não, é claro que não – a garota falou com uma careta, balançando a cabeça em negativa. – Por que eu faria isso?
- Não sei, você teria que me dizer.
- Eu só queria que você se sentisse melhor – Hannah falou com displicência. – Achei que você nunca aceitaria beber a poção se eu dissesse que efeito teria.
- Então você sabia que estava fazendo algo contra a minha vontade – Gina riu-se, e se não estivesse calma demais para isso, teria soado sarcástica.
- Você tem uma personalidade difícil – Hannah encolheu os ombros.
Gina não disse nada durante algum tempo. Hannah cansou de encará-la e desviou seus olhos para a mesa perto da janela, entretendo-se em observar um rapaz que trabalhava na Dedos de Mel flertar com a morena visivelmente entediada que o acompanhava.
- Você já tentou essa estratégia com a Padma? – Gina indagou tomada por um pensamento repentino.
- Que estratégia?
- Deixá-la tranqüila e relaxada, para que ela a ouvisse sem ter um ataque de nervos e começar a chorar por ter sido renegada pela família – a menina falou com naturalidade.
Hannah abriu a boca para falar, mas mudou de idéia no último momento. Gina deu uma risadinha boba e acrescentou mais para si mesma:
- Eu usaria com Luna, mas, você sabe, ela já é naturalmente espantosamente calma. Acho que ela acabaria dormindo... – a menina franziu o cenho e pensou por alguns minutos antes de voltar sua atenção novamente para Hannah – Você não respondeu a minha pergunta.
- Não, eu não tentei – Hannah respondeu. Acrescentou de modo relutante, desviando os olhos de Gina – Se quer saber, talvez eu não esteja mais tão interessada assim em reconstruir esse relacionamento...
- E por que você não estaria? – a ruivinha indagou.
A bruxa ponderou alguns instantes, em silêncio, encarando Gina da mesma forma fixa com que esta a olhava.
- Porque eu acho que existe outra pessoa na minha vida – ela concluiu finalmente, esboçando um sorriso forçado.
Gina deu uma risada que criou um clima de constrangimento entre as duas.
- Se eu não a conhecesse, Hannah, diria que você está flertando comigo.
Hannah corou muito levemente, mas de modo sutil o bastante para que Gina não reparasse. Ela bebeu um gole do seu copo – que, Gina imaginava, não devia estar “batizado” com o ingrediente especial - e depositou-o sobre a mesa com um ruído surdo.
- Se você me conhecesse – Hannah falou fingindo displicência – teria certeza absoluta de que é exatamente isso que estou fazendo.
Gina ficou sem ação momentaneamente - os lábios entreabertos em surpresa. Era uma brincadeira. Uma brincadeira de mau gosto e bastante estúpida, é verdade, mas Gina não dissera aquilo há pouco com a intenção de que a amiga considerasse seriamente. Soltou uma exclamação silenciosa, estupidificada com a sua visível habilidade natural para se colocar em situações-problema.
- Certo – a menina disse lentamente. – Certo. Acho que se eu não estivesse sob o efeito desse troço, a minha reação não seria amigável. Boa estratégia.
Hannah suspirou.
- Você não está.
- O quê? – Gina balbuciou confusa. – Mas você disse...
- Sim, eu disse. Você realmente precisa estudar poções, Gina. O efeito dessa substância que você ingeriu não é longo. Considerando-se o fato de eu ter escorregado apenas algumas gotas no seu copo antes de servir a bebida...
Mas Hannah não precisou acabar a frase. Gina tirou suas conclusões por si mesma, e não apreciou nem um pouco o que deduziu. Ela olhou para o copo vazio à sua frente, olhou para Hannah. Sentiu uma onda quente – de um jeito rude e desagradável, bastante diferente da provocada pela poção relaxante – subir pelo seu estômago.
- Você estava me fazendo de boba o tempo todo – ela disse, incrédula.
- Não, eu não estava. Você não perguntou nada a respeito do efeito da poção, perguntou?
Mas Gina não estava disposta a aceitar qualquer tipo de justificativa. Estava se sentindo patética – agira pateticamente -, e agora sabia que não poderia usar a desculpa de estar sob o efeito de o que quer que fosse para justificar seu comportamento. Não podendo suportar a sensação de que a palavra IDIOTA estava estampada em grandes letras garrafais em sua testa, a garota simplesmente girou nos calcanhares e lançou-se de forma intempestiva para a porta do estabelecimento.
- Ah, que ótimo – Hannah revirou os olhos – Lá vamos nós, outra vez.
Pondo-se de pé, a garota largou algumas moedas sobre a mesa e saiu apressada atrás de Gina. Da porta do bar, pôde ver a ruiva descer apressadamente os últimos degraus da escada de pedra e precipitar-se para a saída do estabelecimento. Hannah correu aos tropeços para alcançá-la, sentindo que estava começando a se irritar com a infantilidade da menina.
- Ei, Weasley – Hannah berrou, apertando o passo.
Ela caminhou rapidamente atrás de Gina por algum tempo, tentando alcançar a garota de forma amigável. Maldita personalidade Weasley, pensava. A ruiva sequer olhava por cima dos ombros, ignorando-a completamente.
– Por Merlin, Gina, por que você sempre tem que fazer isso? – bufou Hannah, zangada. – Por que você sempre tem que agir assim?
Gina, novamente, fingiu não escutar e continuou a caminhar com as mãos nos bolsos, apressada. Hannah parou.
- Está bem. Fuja. É isso o que você sempre faz, não é? Você sempre precisa se esconder atrás dessa máscara de “menina ofendida” todas as vezes que acontece algo para o qual você não se julga preparada.
Gina estancou, apertando os punhos. Hannah sorriu, satisfeita por conseguir uma reação.
“Você não tem coragem de enfrentar nada. Por isso perdeu a Luna, por não ter coragem de enfrentar a possibilidade de todos saberem quem você realmente é.”
- Cale a boca – Gina murmurou lentamente. – Você não sabe de nada...
Mas as palavras de Hannah machucavam como navalhas afiadas. Não pela forma cruel com que a menina as pronunciava, mas sim pelo fato de que Gina sabia se tratarem de verdades – verdades pelas quais se culpava intimamente todos os dias.
- E agora você está fugindo porque eu estou lhe dizendo algo que fará você ter que pensar de novo a respeito do que você deseja. É mais fácil se esconder atrás de uma história de coração partido, não é, Gina? É mais seguro continuar se considerando miserável por não poder ter Luna de volta, por ela não a estar procurando. Assim você pode se proteger mais facilmente do mundo, da vida...
Os olhos de Gina ardiam mais furiosamente a cada frase pronunciada pela outra menina. Poderia bater nela até que ela parasse. Não precisava ouvir, não queria...
- Está bem – Gina berrou rouca. Virou para encarar Hannah. – Você tem razão. Eu sou covarde. Eu realmente tenho e tive medo. Eu não sei lidar com essa situação. Feliz?
Hannah ficou sem ação momentaneamente. Aquela era a última atitude que estava esperando, e a forma como Gina pronunciou aquelas frases, com sua voz soando visivelmente trêmula, fez sua consciência doer desagradavelmente. Antes que Han conseguisse pensar em algo para dizer, no entanto, a menina deu alguns passos para o lado, encostando-se na parede do que devia ser uma loja falida, e enterrou o rosto nas mãos.
- Ah... – Hannah resmungou – Ah, Gina, não fique assim...
Ela deu alguns passos na direção da garota, não muito certa do que estava fazendo.
- Eu preferia ficar sozinha, se você não se importar – Gina balbuciou, e achou que sua voz soou de um modo vergonhosamente patético.
Hannah parou, ponderando se devia atender ao pedido da amiga, e então se aproximou mais. Encostou o ombro direito no muro, ficando de frente para o perfil delicado de Gina. Hesitante, ergueu uma mão e arriscou fazer um agrado nos cabelos ruivos da menina.
- Tudo bem – disse, procurando soar consoladora.
Gina ergueu o rosto levemente, lançando um olhar de esguelha para Hannah, e cruzou os braços fazendo uma expressão rabugenta.
- Eu disse para você ir – ela fungou e acrescentou, em seguida, com a voz embargada – Não me sinto exatamente confortável chorando na frente de outras pessoas.
- Todo mundo chora, Gina – Hannah falou num tom de voz que insinuava “não precisa ter vergonha”.
- Eu, mais do que a maioria – Gina riu sarcasticamente.
- É bom ver que o senso de humor permanece intacto - brincou a outra.
- Parece que sim – e então, mergulhando o rosto nas mãos novamente – Merlin, eu sou patética...
- Você não é! – Hannah exclamou.
Gina sacudiu a cabeça.
- Eu sou.
Hannah bufou, pondo-se de frente para Gina.
- Você não é, agora pare de se deixar consumir por toda essa auto-piedade – ela colocou as mãos no rosto de Gina, fazendo a ruivinha erguer os olhos para encará-la – Entendeu?
A menina fitou a outra por alguns momentos, os lábios entreabertos como se fosse dizer algo. Então desviou o rosto e murmurou:
- Gostaria de ser assim...
- Assim como?
- Assim, sabe. Um pouco mais Hannah Abbott, menos Gina Weasley.
Han deu uma risada divertida.
- Certo... Eu tenho certeza de que existe uma “Hannah Abbott” em você, Gina. Assim como existe muito mais “Gina Weasley” em mim do que normalmente deixo transparecer.
- Do que está falando? Você é a menina que enfrentou a escola inteira para ficar com a pessoa que amava, e eu sou aquela que... Ah, você sabe. Nem consegui definir ainda para mim mesma se eu gosto de meninas ou se a minha coisa com a Luna é um caso à parte. Completamente...
- Normal – Hannah completou – Você não é nada diferente da maioria das meninas que se descobrem nessa situação, Gina... Veja a Padma, por exemplo. Não, você não é a única a ficar confusa. E sobre gostar ou não de meninas, isso é algo que o tempo vai lhe dizer.
- É mesmo? – Gina indagou, erguendo lentamente o rosto e o olhar para Hannah – Porque, para ser sincera, eu sempre pensei que eu só poderia ter certeza... Beijando outra menina...
Gina percebeu que o olhar de Hannah perdeu o foco momentaneamente, como se ela estivesse passando por uma batalha interna furiosa. Seus olhos desceram para os lábios da menina. Ela imaginava se seriam tão diferentes assim dos de Luna. Haveria a mesma maciez, a mesma doçura que encontrava nos delicados lábios em formato de coração da sua querida? De repente, estava curiosa o bastante para...
- Não faça isso – Hannah sussurrou.
Gina escorreu as mãos pelos braços da garota, subindo até o seu pescoço e seu rosto.
- Por que?
- Você está sendo precipitada.
- Não – Gina falou, observando os detalhes do rosto de Hannah sob a palidez do luar – Eu estou sendo mais “Hannah Abbott” - Hannah abriu a boca para protestar, mas Gina a cortou – Não seja “Gina Weasley” agora.
Hannah a fitou profundamente, a batalha em seu interior ficando cada vez mais violenta.
- Que se dane – e o que aconteceu a seguir foi que ela empurrou Gina contra a parede e beijou seus lábios de forma quente e avidamente intensa.
***
Gina desabou na cama, seus cabelos ruivos esparramando-se no travesseiro e os olhos vidrados no teto do quarto. Ela podia sentir seu coração batendo mais rápido, mas de um modo que lhe fazia sentir uma melancolia morna e desagradável.
“O que acabou de acontecer?” Uma voz sussurrou em sua cabeça.
Passou a língua nos lábios, onde ainda podia sentir o gosto do batom de uva que Hannah estava usando. Se tivesse que descrever o beijo da menina, Gina diria simplesmente que era doce – mas o motivo não era o produto em seus lábios. Todos os movimentos da boca de Hannah possuíam uma doçura provocantemente irresistível, que fez com que Gina se desligasse do mundo durante os minutos em que se beijaram sob as sombras daquela construção. Agora que estava sozinha, porém, uma quantidade gigantesca de pensamentos, sensações e perguntas haviam invadido sua mente, provocando um aperto em seu peito que a afligia.
Sinceramente, Gina não fazia idéia de como acabara a noite beijando Hannah Abbott. Não, isso decididamente não estava em seus planos. Tudo aconteceu tão rápido desde que colocou os pés naquele bar... A sensação que tinha era de que em um minuto estava conversando com a menina e no outro a estava beijando, como se não existisse um intervalo de tempo entre esses dois momentos. Era surpreendentemente assustador.
Gina virou de lado na cama, encolhendo os braços dobrados junto ao corpo e respirando profundamente. Precisava organizar as idéias e entender como aquilo acontecera.
Hannah era uma garota atraente, mas Gina nunca havia prestado muita atenção nisso. Ela possuía lábios rubros, pele cor de pêssego e cabelos castanhos suavemente ondulados caindo harmoniosamente sobre seus ombros. Seus olhos eram profundos e intensos, como se ela sempre pudesse ler o que se passava dentro da cabeça dos outros. Talvez isso tivesse deixado Gina tão repentinamente volúvel, horas atrás. Isso e o modo como a garota soube tocar suas feridas com precisão, o que inevitavelmente abalou-lhe as estruturas.
A astúcia com a qual Hannah a reconhecia era tão sutil que Gina nunca havia percebido o quanto ela podia dizer a seu respeito. Ao magoar os seus sentimentos Hannah produziu em Gina uma vontade muito intensa de fazer qualquer coisa para se sentir menos merecedora daquelas palavras. Esse desejo focou-se involuntariamente em sua libido, provocando em Gina uma súbita atração por aquela garota de quem sabia tão pouco e que, em compensação, tanto já havia desvendado sobre ela.
“Essa é uma boa explicação” Gina pensou, exausta. Mas algo em seu interior lhe dizia que, talvez, aquela vontade de sentir Hannah Abbott mais intimamente já estivesse dentro dela muito antes. Talvez sempre estivera curiosa para saber como seria beijar aquela menina que era tão diferente da sua própria pessoa – tão diferente de Luna.
Luna...
Gina fechou os olhos, imaginando o que ela diria se soubesse dos acontecimentos daquela noite. Não que devesse qualquer tipo de explicações à garota, é claro. E, obviamente, Luna também não tinha nenhum motivo para se sentir no direito de cobrar fidelidade. Não estavam juntas. Não estavam juntas porque Luna não queria. Talvez nunca voltassem a estar...
Desde a conversa que teve com a menina após deixar a sala de McGonagall, Gina esperou. Esperou pacientemente que Luna se aproximasse, que desse algum sinal, que buscasse sua companhia, mas não foi o que se passou. Contrariando dolorosamente todas as expectativas da ruivinha, Luna parecia estar dedicando-se cada vez mais em sua tarefa de ignorar completamente a existência de Gina. Isso machucava.
Precisou segurar-se por uma infinidade de vezes para não ir até Luna, encurralá-la em algum corredor e forçá-la a revelar o que estava se passando por sua cabeça. Às vezes sentia que se não ouvisse dos próprios lábios de Luna as palavras que acabariam definitivamente com qualquer esperança de voltarem a estar juntas, nunca estaria apta a superar tudo o que havia se passado. Mesmo que, às vezes, parecesse evidente que Luna não tinha a menor intenção de ficar com Gina outra vez.
Queria que Luna fosse mais... mais... mais como Hannah. Tinha certeza de que, no lugar de Luna, a garota já teria tomado alguma atitude para com Gina. Ela nunca a deixaria esperando tanto, pirando. Não...
“Hannah não é a Luna” Gina disse para si mesma.
Surpreendeu-se com a intensidade dolorosa com que esse pensamento foi absorvido por sua consciência. Precisaria tomar cuidado, muito cuidado... Não podia tentar usar Hannah para substituir Luna. Os resultados mostraram-se deprimentes quando passou pela mesma situação com Harry. Tudo o que conseguiu foi magoar alguém que decididamente não merecia, e Gina não queria carregar a culpa de ter feito a mesma coisa outra vez.
Ela esticou o braço e puxou as cobertas que estavam sobre seus pés para seu pescoço. Tinha a sensação de que aquela seria uma longa noite a compartilhar com seus pensamentos.
***
Durante todos os seus anos como aluna de Hogwarts, se houvera algo que Luna nunca conseguira compreender era por que todos os seus colegas pareciam tão completamente desinteressados nas magníficas aulas de História da Magia. Na sua opinião aquela era a melhor matéria de todas! Binns não era exatamente o professor mais vivo em sala de aula, mas isso não fazia dos assuntos abordados desinteressantes. Ela adorava ouvir sobre a Revolta dos Duendes em Roma de 1910, sobre a Grande Investida do Ministério Contra os Traficantes de Sangue de Unicórnio da década de 1826 e sobre qualquer coisa que o professor estivesse disposto a despejar sobre eles com sua voz lamurienta. Por esse motivo nunca fizera sentido para Luna observar todas aquelas cabeças abaixadas enquanto Binns discursava. Naquela manhã, no entanto, era ela quem não conseguia manter seus olhos atentos no espectro desanimado do fantasma.
Havia um motivo para isso, é claro. Um motivo ruivo, de olhos claros, pele branca, lábios mornos e perfume de cereja. Luna tinha a clara impressão de que, não importa quanto tempo passasse, ela sempre se sentiria incapaz de ignorar sinceramente a existência de Gina Weasley. Desde aquela última conversa que tiveram, Luna procurou evitar ao máximo esbarrar com ela pelo castelo, mas o fato de não estarem se encontrando frequentemente não era capaz de controlar seus pensamentos e sentimentos que nunca haviam deixado de estar lá.
Não conseguia pensar em outra coisa, na verdade. Passava o tempo todo tentando entender o que Gina havia lhe dito naquela noite e, quanto mais raciocinava, mais confusa sobre o que fazer e o que sentir Luna se via. Não era difícil compreender o motivo de Gina ter ficado tão assustada com a perspectiva de sua família descobrir o que estava se passando. O que ela não conseguia conceber era o motivo que havia levado a menina a se envolver com Harry Potter, se de fato a amava tanto quando dizia. Não fazia sentido e era doloroso.
De um modo ou de outro, Gina era uma mentirosa. Luna não tinha a menor simpatia por mentirosos, muito menos aqueles cujas mentiras podiam magoá-la – o que era claramente o caso. Não podia evitar sentir medo do que poderia acontecer se voltasse a ficar ao lado dela. Que garantias tinha de que tudo o que havia acontecido não acabaria se repetindo novamente? Apenas a palavra de Gina, e nesta – Luna pensava inconformada – sabia que não podia confiar.
Por todos esses motivos, a cabeça de Luna ordenava que ela se mantivesse afastada de Gina Weasley a menos que estivesse disposta a se magoar de novo. Exatamente o que vinha tentando fazer, mas seu coração bobo insistia em garantir que não conseguisse esquecer por um dia sequer que, em algum lugar daquele castelo, havia uma doce menina pela qual sentia uma quantidade incontável de sentimentos - bons e ruins.
Apesar de ainda ter a imagem de Gina e Harry em mente, sua memória não parava de resgatar lembranças de momentos que vivera com a única amiga que havia conhecido na vida. Recordava o gosto dos beijos, os carinhos, seu sorriso meigamente imperfeito – o canino direito de Gina era suavemente desalinhado -, a expressão de paz no rosto da menina enquanto ela dormia sob as carícias de Luna, as fungadas que dava durante o sono, contraindo o nariz sardento; o jeito como jogava suas mechas ruivas para frente dos ombros quando levantava da cama.... Cada memória que a invadia parecia aquecer um pouco mais seu coração, e se antes o que sentia era raiva, agora Luna não conseguia escapar da
Saudade...
Ela rabiscou em seu livro distraidamente.
Ultimamente estava ficando cada vez mais difícil ignorar os impulsos de ir procurar Gina. Quase havia cedido há alguns dias, quando entrou na biblioteca e viu a menina sentada em uma mesa afastada, perdida entre livros e pergaminhos. Por um momento Luna observou - um sorriso involuntário desenhando-se sorrateiramente em seus lábios. A ruivinha estava com uma expressão tensa, a testa franzida e o rosto apoiado em seu punho esquerdo enquanto escrevia e folheava para frente e para trás uma página do livro de poções.
Ela começou a caminhar lentamente na direção de Gina, mas antes que se aproximasse mais uma menina saiu do meio das estantes da biblioteca carregando alguns volumes e sentou ao seu lado. Luna parou e ficou olhando... E não gostou. A outra era Hannah Abbott, e ela sabia que aquela era uma menina que saía com meninas. Luna podia não entender muito de relacionamentos, mas o pouco que sabia era o suficiente para compreender que o modo com que Abbott olhava para Gina estava longe de ser inocente. Percebeu que Hannah a queria, e sentiu uma onda de ciúme e raiva crescer de algum lugar em seu corpo. Teve vontade de azará-la, ah, teve... Mas se controlou e limitou-se a virar as costas e deixar a biblioteca apressadamente, atropelando Neville Longbotton no caminho.
Sentiu-se boba. Se Gina estava dando alguma chance para Hannah, é porque obviamente já não pensava mais em Luna. E se havia esquecido tão rápido, que tipo de sentimento era aquele que ela alegara sentir há tão pouco tempo atrás? Isso fazia Luna pensar que, talvez, suas antigas conclusões a respeito da integridade moral de Gina estivessem corretas – talvez ela fosse mesmo uma mentirosa... Mas e se estivesse enganada? E se Gina ainda não tivesse percebido as intenções de Hannah? E se Hannah não tivesse intenção alguma e aqueles olhares fossem frutos da imaginação de Luna? E se... Gina estivesse esperando por ela?
Como poderia tirar qualquer tipo de conclusão se nem ao menos tinha certeza do que estava se passando? Luna sentiu-se subitamente infeliz. A única forma de saber a verdade era ir até Gina... Mas será que já estava pronta para fazer isso? Se não fizesse, talvez a perdesse para sempre – e para isso Luna sabia que não estava preparada.
A sineta anunciando o fim da aula soou. A sala foi tomada pelo som de livros e pergaminhos sendo socados pelos alunos apressados em suas respectivas mochilas, sendo Luna a única exceção que guardou seu material lenta e distraidamente. Sempre era uma das últimas a sair da sala, é claro que dessa vez não poderia ser diferente. A novidade foi que, antes de alcançar a porta, a menina foi chamada pelo professor.
- Lovegood.
- Senhor? – ela disse, fungando.
- A professora McGonagall quer vê-la – o fantasma informou apático.
Luna aguardou algum tempo, esperando que o professor falasse algo mais. Aparentemente, no entanto, ele já havia transmitido todo o recado. Fechou a cara e cruzou os braços, ranzinza, ignorando completamente a presença da aluna. A menina deixou a sala, por fim, intrigada.
- O que ela pode querer agora? – Luna disse em voz alta.
Duas de suas colegas que ainda estavam fofocando no corredor deram risadinhas, não se preocupando em serem discretas.
- Esquisita.
Luna estava imersa demais em suas próprias considerações para escutar.
***
A cabeça de Gina doía. Estava devastadoramente exausta, necessitando de várias horas de sono com a mesma intensidade que fazia seus pulmões buscarem oxigênio. Não que aquelas olheiras escuras sob seus olhos fossem alguma novidade, é claro. De fato, já havia até se acostumado com a presença delas ao encarar sua imagem no espelho. Debaixo daquele morno sol matinal, porém, Gina sentia suas pálpebras extremamente pesadas, lutando sem muita convicção contra a vontade insistente de deixar-se cair com as costas na grama e cochilar. Se o fizesse, sabia que acabaria perdendo a hora e se atrasando para a aula de poções – coisa que não podia se dar ao luxo de permitir acontecer.
Os quintanistas da Grifinória não eram os únicos com o horário livre até 11h10. Alguns meninos que Gina julgou serem do primeiro ano estavam brincando de jogar pedras nos tentáculos da Lula Gigante. A criatura se zangou e agarrou a perna de um deles, arrastando-o para dentro do lago enquanto seus amigos apavorados tentavam segurar seus braços. Gina bocejou, pensando que devia estar ficando velha – aquela era uma cena que a divertiria muito, há algum tempo atrás, mas agora não conseguia arrancar nem um sorriso nostálgico de seus lábios.
- Patético, não é mesmo? – riu-se uma voz que Gina agora já reconhecia – E pensar que eu já fui protagonista de uma cena vergonhosamente parecida com essa...
Hannah sentou ao seu lado, esticando os braços preguiçosamente. A ruivinha forçou um sorriso. Não ousou olhar para a garota. Na verdade, ainda não tinha decidido como se sentia com relação ao que acontecera na noite anterior – e, sinceramente, achava que ficaria bem mais confortável se Hannah não viesse procurá-la tão rápido. Percebeu, com o canto dos olhos que se ocupavam em olhar sem realmente enxergar o lago, que Hannah a estava fitando atentamente. Remexeu-se incomodada.
- Não faça isso – murmurou. – Não fique me olhando.
- Por quê? – a menina perguntou.
Gina questionou-se em pensamentos sobre o motivo que levava as pessoas a fazerem indagações para as quais já sabiam a resposta. Havia realmente necessidade desse ritual fingido? Hannah poderia simplesmente dizer “Tudo bem, sei que você está dizendo isso pois não está à vontade com o fato de ter me beijado.” Na pior das possibilidades, pouparia saliva e tempo. Mas, é claro, ela precisava interpretar o papel de sonsa...
- Fico constrangida – Gina disse, não conseguindo esconder uma nota de irritação. “Ela vai perguntar por que.”
- Por qu...
- Você sabe por que – Gina cortou, e voltou os olhos para encarar Hannah pela primeira vez. – Eu sei que você sabe. Então vamos pular as perguntas sem sentido.
Hannah sustentou o olhar da garota por alguns segundos e sorriu.
- Você não dormiu direito essa noite, está com olheiras e mal humorada.
- Exato, fico feliz que você tenha reparado – Gina resmungou, encolhendo as pernas em “V”. – E a parte das olheiras realmente ajuda a melhorar o meu humor.
- Desculpe – Hannah arriscou um sorriso. – Mas, se isso ajudar, eu acho olheiras legais...
- Você é uma péssima mentirosa – Gina cantarolou.
- Apesar de que você decididamente não precisa delas para ser interessante.
Gina ruborizou. Tentou pensar em algo divertido, irônico ou simplesmente conveniente para dizer, mas nada lhe veio em mente. Se estivesse olhando para Hannah, e não para seus tênis, a ruivinha teria percebido um sorriso divertido escapando dos lábios da amiga. Merlin, decididamente não estava pronta para aquela situação...
Mordeu o lábio inferior, nervosa. Sua tez ficou visivelmente tensa; seus dedos envolveram as folhas de grama, apertando-as.
- Estou indo rápido demais para você, não é? – Hannah perguntou suavemente, abaixando a voz.
Gina sentiu o hálito morno da menina lamber sua face, induzindo uma sensação reconfortante de segurança. Lembrou-se de que não precisava ser tão arisca com Hannah – ela era uma pessoa em quem inconscientemente já confiava. Mesmo assim, a garota tinha razão: Gina não estava preparada para aquela velocidade de acontecimentos.
- Desculpe – suas palavras soaram num sussurro.
Hannah suspirou.
- Não, eu devo pedir desculpas.
- Por que? – Gina indagou, e dessa vez não era uma daquelas perguntas desnecessárias.
- Por tê-la beijado.
Gina sacudiu a cabeça.
- Eu provoquei você, lembra?
Hannah sorriu um sorriso morno, culpado e entristecido.
- Provocou porque eu a induzi. Não propositadamente, mas induzi. Você está frágil, Gina. Você beijaria Pansy Parkinson se ela lhe dissesse as palavras certas.
Gina fez uma careta.
- Eu não beijaria Pansy Parkinson nem que disso dependesse a minha vida – ela disse com repulsa - E você não deveria se desconsiderar tanto assim. Não estou tão frágil quanto você pensa. Beijei você porque... – Gina sentiu-se quente e perturbada – Porque senti vontade.
- Gina...
- Eu fiz exatamente o que desejei fazer – a menina cortou, aborrecida.
Durante longos minutos nenhuma delas disse nada, cada uma perdida em seus próprios pensamentos e dúvidas. Gina colocou as mãos dentro do bolso do casaco, tocando com os dedos o colar esquisito que Hermione a estava forçando a carregar por todo lado. Sentiu que a pedra parecia um pouco mais quente do que de costume, mas antes que tivesse tempo de ficar curiosa Hannah quebrou o silêncio.
- Eu gostaria de repetir o que aconteceu ontem, mas não sei se devemos levar isso adiante. Nenhuma de nós é totalmente livre.
- Nenhuma de nós é totalmente comprometida – Gina disse lentamente.
Por que estava fazendo aquilo? Por que estava alimentando um envolvimento que nem tinha certeza desejar? Talvez Hannah estivesse certa, ela estava frágil. Talvez...
- Gina – a menina falou, trazendo-a de volta para a realidade – Eu preciso ir, combinei de entregar uns livros para a Padma antes da aula de Transfiguração. Podemos nos ver mais tarde? À noite?
Gina assentiu com a cabeça.
- Depois do jantar. A primeira sala do terceiro andar está sempre vazia...
- Conversamos depois, então - Hannah sorriu.
Pôs-se de pé num salto e afastou-se apressada. Gina a observou subir a escadaria do castelo rapidamente, pensativa. Seu olhar foi atraído para as estufas, de onde um grupo de corvinais saia após o fim da aula de Herbologia. Eles estavam sujos e pareciam infelizes, o que fez Gina deduzir que a aula não fora a mais prazerosa – com sorte se livraria da chatíssima Herbologia em seu sexto ano, pensou, e, amargamente, “se eu tiver um sexto ano”.
Remoia seus aborrecimentos costumeiros quando seu coração deu um salto. Aquela era a turma do quinto ano da Corvinal, o que significava que... Seus olhos começaram a procurar inconscientemente, e quando a localizaram o coração de Gina deu uma guinada dolorosa. Luna, nunca típica representação de si mesma, caminhava com os olhos fixos em algo que a distraía.
Incrível como todos os sintomas ainda estavam ali. O palpitar do coração, as mãos suando frio, o arrepio na nuca, a boca seca, o calor que lhe ruborizava as maçãs do rosto... Provocando o total agravamento de cada uma dessas sensações que haviam tomado seu corpo instantaneamente, Luna virou o rosto e seu olhar esbarrou com o de Gina. Foi como um choque elétrico – sempre era. Elas se fixaram por alguns milésimos de segundos, até Luna desviar o olhar e fingir não ter reparado na presença de Gina.
Observando a menina sumir pelo portal de entrada do castelo, a ruivinha sentiu uma sensação de desagradável mal estar apossá-la, subindo pelo seu estômago e provocando um nó sufocante em sua garganta. Sabia que a última coisa que Hannah e ela fariam aquela noite era conversar – e, por algum motivo, não conseguia deixar de se sentir mortalmente culpada por isso.
O que ela e Hannah estavam tentando provar, afinal? Era óbvio que ambas ainda estavam fortemente ligadas às suas ex. Gina nunca perguntava muito para evitar parecer indiscreta, mas sabia que Padma estava longe de ser somente uma lembrança na vida de Han. E, por mais que tentasse se convencer do contrário, Gina tinha consciência de que Luna era tão passado quanto os malditos N.O.M.s que se aproximavam a cada dia. Por que estavam se envolvendo, então?
Um pensamento ocorreu-lhe quando caminhava displicentemente para as masmorras. Talvez Hannah estivesse querendo deixar Padma com ciúmes e... “Não, não seja tola. Não é isso” Gina sacudiu a cabeça, recriminando a si mesma. Não se tratava de ciúmes ou coisa assim. Era algo mais emocional. E à medida que o dia passava e Gina refletia, uma conclusão começou a ganhar forma em sua cabeça, reconfortando seu espírito culpado. Hannah e ela encontravam-se infelizes com suas vidas amorosas, andavam carentes e estavam passando muito tempo juntas. Pode-se considerar até mesmo natural que aquele envolvimento acabasse acontecendo, não?
“Seu último momento de carência resultou em um namoro que partiu o coração de Harry, o coração de Luna e, consequentemente, o seu” uma voz que Gina julgava ser sua consciência sussurrava em alerta. Ela mordia o lábio inferior, sentindo-se aflita. Acabaria estragando tudo outra vez, tinha certeza! “Não seja boba. Você está sozinha, Hannah é legal... Ela também não está apaixonada, o que há de errado em dar uns beijos?” E assim a batalha interna continuava.
Em momentos como esse gostaria de não ter consciência, escrúpulos ou consideração por ninguém. A vida seria tão mais fácil se não se importasse com o fato de estar machucando outras pessoas... O que ganhava se preocupando, afinal? Luna achava que Gina era uma vaca mesmo assim, Harry estava infeliz mesmo assim, ela estava deprimida do mesmo jeito e...
- Você está com cara de dor de barriga – Rony anunciou, sentando-se diante da irmã à mesa de jantar e esticando-se para apanhar a travessa de macarrão.
Gina despertou de seu transe interior - o som de vozes, talheres e pratos invadindo seus ouvidos e localizando-a no salão principal, diante de seu jantar intocado.
- Rony – Gina disse com falsa paciência – Se você puder, poupe-me dos seus comentários idiotas. Hermione não está aqui, não precisa tentar ser engraçado.
O irmão fechou a cara com mau humor.
- Então jante sozinha – e trocou de lugar sentando-se na extremidade direita da mesa, de onde se limitou a lançar olhares irritados para Gina.
- Idiota – ela resmungou.
Rony fez um gesto obsceno e Gina retribuiu. A garota voltou os olhos para a mesa da Lufa-Lufa, onde Hannah ainda não estava da última vez que espiara. Bastou um exame rápido para que constatasse que a amiga não se juntara aos colegas. Gina pensou que a ausência da menina era no mínimo estranha, mas talvez ela simplesmente não estivesse com fome. Poderia até já estar esperando no local combinado, quem sabe?
Gina olhou para seu jantar com desânimo. Seu estômago estava embrulhado demais para que conseguisse sentir fome. Imaginou se Hannah também estaria se sentindo assim, de modo que esse poderia ser o motivo de não ter aparecido no salão principal até o momento. Certa de que não seria capaz de ingerir nada, Gina decidiu que já era hora de ir ao local do “encontro” – seu estômago revirou nervosa e desagradavelmente sob a pronúncia interna dessa palavra. Bebeu um gole de suco de abóbora, já de pé, largou o copo sobre a mesa e saiu furtivamente para a escadaria.
Enquanto caminhava com passos lentos e falsamente despreocupados, Gina pensava no que poderia acontecer a seguir. Milhares de possibilidades se desenrolavam em sua cabeça, desde ela e Hannah conversando sobre o nariz torto de Snape até as duas fazendo sexo em uma das mesas daquela sala – pensou numa outra versão para este caso também, onde a mesa era substituída pela cama de Hannah no dormitório da Lufa-Lufa.
As bochechas da garota enrubesceram quando ela se deu conta do grau de obscenidade a que seus pensamentos estavam chegando. Sentiu-se pervertida – Hannah provavelmente não estava pensando naquele nível, e se ela realmente desejasse apenas conversar? Gina pensou em como se sentiria desconfortável na presença da amiga se aquelas imagens viessem à sua mente quando estivessem cara a cara – o que, considerando sua grande capacidade de envolvimento em situações constrangedoras, certamente aconteceria. Então, para não fugir da rotina, odiou-se por ser a pessoa pateticamente insegura que era.
Uma nova questão começou a transtorná-la ao que virou o corredor para as escadas do segundo andar: e se precisasse desvencilhar-se de Hannah, como o faria sem ser estúpida e contraditória? Deixara implícito, aquela manhã, que não via problemas em um relacionamento casual entre elas. Agora já não estava tão certa, mas provavelmente Hannah não entenderia. “Bem, eu não vou beijá-la se não sentir vontade” Gina disse a si mesma, abaixando-se para amarrar o cadarço solto do tênis em seu pé direito. “Ela pode até se zangar, mas eu não vou. É absurdo, simplesmente...”
Um par de pés parado à sua frente.
Gina piscou, distraída. Ergueu-se, e todos os músculos de seu corpo ficaram quentes e imediatamente gelados num intervalo de tempo menor do que aquele entre as batidas aceleradas de seu coração. Dois grandes olhos azuis encaravam os seus, tomados por uma expressão que ela não conseguiria decifrar nem se estivesse calma o suficiente para tentar. Ela estava tão perto que Gina conseguia sentir o perfume de seus cabelos com uma clareza pouco inferior a que teria se estivesse com o nariz enterrado naqueles fios dourados, roçando o pescoço macio com seus lábios ávidos.
- Luna – Gina suspirou num desabafo pessoal, dando um passo para trás para poder recompor suas estruturas.
A loirinha fungou, franzindo sutilmente seu nariz harmonicamente reto – lindo, como ela toda. Nos breves segundos que Luna usou para decidir o que falar os olhos de Gina percorreram inconscientemente toda a sua figura, sedentos. A camisa branca do uniforme da escola estava para fora da saia, amassada como se tivesse sido usada para dormir; a gravata azul da corvinal, frouxa - como a saia que aparentemente não precisava ser aberta para escorregar pelos quadris finos da menina. Ela estava mais magra, e Gina se preocupou. Percebeu o quão mais fino o rosto de sua Luna estava, e apesar disso seus traços continuavam belos e marcantes.
- Preciso falar com você – Luna anunciou.
Gina ficou sem ação momentaneamente, surpresa.
- Agora? – gaguejou.
A menina assentiu. Gina teve a sensação de que o chão estava se abrindo sob seus pés. Teve a impressão de que uma voz gritava algo indecifrável em sua cabeça, mas talvez fosse só seu coração descontroladamente acelerado.
- Tudo bem – Gina falou de uma forma quase ininteligível, mas Luna pareceu entender. – Vamos... Aqui...
Abriu a primeira porta que sua mão alcançou - coincidentemente a sala de Feitiços, que Flitwick visivelmente esquecera de trancar. Gina encostou a porta depois que Luna passou. Demorou alguns segundos com a mão na maçaneta, tentando respirar e recuperar a calma. Virou-se para encarar uma Luna parada no meio da sala de aula, que a fitava com um ar que sugeria curiosidade.
“Pode falar” Gina disse. Seu coração batia tão rápido que ela podia senti-lo em sua garganta rouca. Tanto tempo esperara por esse momento, tantas noites mal dormidas, tanto...
- A professora Minerva pediu para avisar que se você conseguir pelo menos um “E” nos N.O.M.s das matérias em que está pior, os professores irão desconsiderar suas notas.
Silêncio. Gina só ouvia o som dos tambores em seu coração.
- Como? – foi a única coisa que conseguiu dizer.
- Você estará aprovada – Luna disse e ergueu uma sobrancelha de um jeito muito Weasley, mas Gina estava emocionalmente incapaz de reparar em qualquer detalhe do tipo naquele momento.
Sentiu a frustração espalhar-se pelo seu sangue, amolecendo seus músculos tensos e provocando uma dor aguda em seu coração cheio de adrenalina infundada.
- Ah... – murmurou sem conseguir ocultar o tom de desapontamento – Era isso...
- Era – Luna confirmou. – Boa notícia, não acha?
Gina deixou-se encostar na porta, murchando por dentro em sua infelicidade.
- Acho que sim – falou forçando um sorriso e evitando olhar para a garota diretamente.
Toda aquela ansiedade... Para ouvir um recado de McGonagall! Nunca em sua vida Gina havia se sentindo tão profundamente chateada, nem quando Harry trocou sua companhia pela de Cho Chang na festa de Dia das Bruxas. Como Luna tinha coragem de brincar com suas emoções daquela forma insensível?
- Se era só isso então eu já vou – Gina disse num tom quase inaudível, fazendo um esforço enorme para encarar Luna com dignidade e sem as lágrimas que começavam a arder em seus olhos.
- Você tem um compromisso? – Luna perguntou de forma estranha, tensa até.
- Não – e, lembrando-se de Hannah, corrigiu – Ah, tenho.
Luna respirou com força, como se estivesse irritada. Gina, apesar de seu estado de espírito em frangalhos, percebeu que havia algo se passando. Seus olhos pararam de arder.
- Você vai sair com aquela menina da Lufa-Lufa – Luna disse num tom carregado de algum tipo de sentimento controlado – Hannah Abbott.
Gina não tinha certeza do que devia responder. Na verdade, nem tinha certeza de que se tratava de uma pergunta – soara bem mais como uma afirmação, ou, mais longe, uma acusação.
- Mais ou menos, por quê?
A loirinha não disse nada por um tempo, e Gina tentou ler a expressão em seu rosto sem sucesso.
- Você e ela se beijam? – Luna perguntou de um jeito muito seu, e Gina sentiu uma onda de ternura possuí-la. Ao mesmo tempo, a dúvida sobre o que deveria dizer.
- Somos amigas – desviou.
- Mas beijam-se – Luna insistiu – Ela beijou você.
Gina suspirou, abatida. Não estava muito certa do que deveria sentir com relação àquela conversa.
- Aonde quer chegar, Luna?
- Você não pode simplesmente responder? – a menina falou com um tom de voz suavemente alterado.
- Não acho que seja seu direito cobrar explicações de mim – Gina disse, sentindo-se abatida.
- Não estou cobrando, estou perguntando – Luna retrucou.
Até mesmo a distância de metros entre elas era estranha. Gina lembrou de Hannah, que ela já devia estar esperando. Estava se sentindo tão sufocada com aquela conversa que só conseguia imaginar formas de escapar o mais rápido possível. Encarar Luna era simplesmente difícil demais...
- Tudo bem – Gina falou com impaciência, vencida – Se você quer respostas, faça perguntas. Mas acho que você já sabe o que vai ouvir.
Luna silenciou. Gina tentou imaginar o que estaria se passando na cabeça da menina, mas realmente não fazia idéia. Ela sentia-se zangada, chateada, indiferente? Teve um impulso de perguntar, mas se conteve. Estava começando a pensar em dizer “então até mais” quando Luna falou, e sua voz soou tão carregada de sentimentos estrangulados que Gina ficou surpresa.
- Você está apaixonada por ela?
Finalmente uma pergunta. Isso significava que Luna não fazia idéia mesmo, pois de outro modo se limitaria a jogar afirmações aleatórias apenas para tê-las confirmadas nas expressões do rosto de Gina.
- Isso importa? – Gina murmurou, baixando os olhos para o chão.
Gostaria de não se sentir sempre tão desarmada diante de Luna. Suas forças pareciam se esvair a cada palavra que ela pronunciava, como se o simples som da voz da menina fosse capaz de amolecer seus joelhos e fazê-la desabar. Será que algum dia isso iria mudar? Precisava mudar, precisava. Não era suportável continuar amando tanto alguém que jamais iria lhe dar uma chance. Talvez enlouquecesse...
O coração de Gina saltou quando sentiu o toque morno da mão de Luna na sua, apertando seus dedos gentilmente. Não se sentiu corajosa o bastante para erguer os olhos e encará-la, de modo que os fechou lentamente para fazer do tato um sentido mais aguçado e sensibilizar sua pele àquele toque.
- Suas mãos estão geladas – Luna disse num tom de voz aveludado.
- Estão? – Gina indagou num quase sussurro.
Luna levou a mão dela até seu rosto, roçando sua bochecha e lábios nas costas dos dedos.
- Estão – ela soltou a mão de Gina e segurou seu rosto gentilmente – Olhe para mim.
Gina obedeceu, deparando-se com os olhos de lagoa e névoa de Luna. Sentiu-se derreter, amolecer, fraquejar... Náufraga naquela imensidão azul.
- Por que você está fazendo isso?
Luna hesitou, respirando pela boca como quem toma fôlego ao sair debaixo d’água.
- Não posso perder você... Não outra vez.
- Por quê? – a pergunta soou quase estrangulada, surda.
- Gina – Luna escorregou as mãos para a cintura da menina, encostando o queixo em seu ombro – Eu... amo...
Os lábios de Gina começaram a beijar a face de Luna com ternura, diversas vezes. A menina respirava pesadamente, sentindo as carícias acolhedoras de Gina aconchegá-la como se estivesse voltando para casa, para onde pertencia. Subitamente não conseguia diferenciar o que era ela e o que era Gina, restringindo-se a sentir, sentir e sentir. Até que seus lábios escorregaram pela bochecha da ruivinha, deslizando até encaixarem-se nos dela. Então não havia Gina e Luna, havia bocas e línguas se misturando em um beijo o qual poetizava toda a prosa que precisariam para falar o que disseram naqueles longos minutos nos quais se reconheceram ávidas.
Luna puxou Gina pela gravata, caminhando para trás sem descolar os lábios dos dela. Esbarrou com força na mesa do professor, sentindo as cochas de Gina apertarem-se contra as suas no embalo do impacto. Mãos passeavam pelos corpos, buscando, tocando, matando a saudade no roçar da pele, a sede na saliva que não era nem de Gina nem de Luna, era de ambas.
Foram-se os botões da camisa de Gina, e num minuto a boca de Luna estava em seus seios arrancando-lhe suspiros e provocando arranhões. Uma explosão devastadora de paixão, desejo e desespero – porque era sempre assim quando suas metades se completavam, intenso, fervente. Fogo na palha e forno de lenha, pecado e água benta, dor e salvação. Gina delirava com estrelas coloridas que giravam num céu de arco-íris, e Luna mordiscava seus mamilos enquanto escorregava os dedos pela sua barriga arrepiada.
Gina pegou a mão de Luna e, febril, colocou dentro de sua calcinha.
- Por favor...
Luna obedeceu, girando para trocar de lugar com Gina, e as estrelas em sua cabeça brilharam em tons vermelhos. Não estava ouvindo seus próprios gemidos, não sentia seu corpo batendo com força na madeira da mesa. Só percebia os dedos de Luna completando-a, as mordidas molhadas em seu pescoço e aquele calor pulsante. A cada movimento seu corpo pedia mais, mais forte, mais força – estava pensando, murmurando, gemendo, falando, berrando? Só percebia seus músculos se contraindo, a tensão. Até que ficou quente, tão quente e Gina soltou uma exclamação surda... Para derreter nos braços de Luna em seguida.
A loirinha a segurou, pois os joelhos de Gina fraquejaram e ela não tinha forças para se manter em pé. O sangue que circulava rapidamente por suas veias começou a recuperar a velocidade normal, à medida que sua respiração ofegante voltava a ficar controlada. Podia sentir os dedos de Luna acariciando seu cabelo, e lentamente seus braços envolveram-na em um abraço reconfortante. Sorria por dentro, quente e debilmente emocionada. Não, aquilo decididamente não estava nos planos...
E muito menos a porta da sala se escancarar violentamente para permitir a entrada do pequeno professor Flitwick. Luna postou-se diante de Gina, que agarrou sua blusa aberta e tentou ocultar sua semi-nudez tão rápido quanto possível.
- Srta. Lovegood, Srta. Weasley – Flitwick disse com sua vozinha estridente.
- Professor – Gina falou, apressada. Abriu a boca para pronunciar o tradicional “Eu posso explicar”, mas antes que tivesse tempo de fazê-lo o bruxo se adiantou.
- A Srta. Patil, viram-na?
- Nós... Como? – Gina perguntou com incredulidade, achando que não estava ouvindo bem. Patil? O que Parvati tinha a ver...
- Padma Patil – Flitwick ofegou.
- O que tem ela? – Luna indagou.
- Achamos que vai tentar contra a sua vida novamente.
- O quê? – Gina exclamou atônita.
Antes que tivesse tempo de ficar confusa, impressionada ou fazer qualquer tipo de questionamento, porém, a sala foi invadida por uma Minerva McGonagall extremamente pálida. Olhou para Gina e Luna, mas não parecia estar realmente reparando nelas. Voltou seus olhos para Flitwick.
- Filius – Minerva disse com a voz trêmula – Aconteceu.
Gina sentiu-se subitamente nauseada.
***
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