O Gato Inglês




Luna não conseguia dormir. Apesar de todos os transtornos daquele dia, que consequentemente lhe esgotaram as forças, o sono não derrubava a garota. Olhos fixos no teto, revivia sucessivamente cada momento daquele dia em sua cabeça. Da sua conversa com seu pai até o encontro com Gina no saguão de entrada do castelo, e, depois disso, da conversa com Dumbledore à sua volta ao são comunal da Corvinal, quando algumas colegas surpreendentemente vieram perguntar o motivo de seu sumiço.

As meninas pareciam bastante interessadas nos detalhes da fuga de Luna para fora de Hogwarts, mas a garota não estava disposta a falar sobre o assunto, especialmente com pessoas que ela mal conhecia e, diga-se de passagem, não tinha o menor interesse em conhecer. Após resmungar algumas respostas para as perguntas do bando de intrometidas, Luna conseguiu escapar para o banheiro, onde tomou um banho quente e longo.

Não tinha o costume de demorar sob água, mas naquela vez em particular ficou alguns minutos a mais. O contato com a água fez o ferimento em sua perna arder dolorosamente, lembrando a menina da sua existência. Mais tarde, enquanto colocava as vestes de dormir no dormitório feminino do quinto ano, Luna parou para analisar melhor o machucado.

Era um arranhão fino, quase imperceptível, mas profundo o suficiente para tornar o local bastante sensível a qualquer toque. Luna não achou que havia necessidade de ir até a ala hospitalar para tratar o ferimento. Sentada em sua cama, fez rapidamente um curativo pouco antes de se deitar. Tinha certeza de que qualquer sinal do machucado desapareceria em um ou dois dias, no máximo.

Agora estava ali, acordada e sem sono, pensando em todas as coisas que mais desejava esquecer. É claro que tinha Gina em sua cabeça. Sempre tinha Gina em sua cabeça, não conseguia simplesmente ignorar os pensamentos relacionados a ela. Uma sensação que não saberia descrever tomava conta do seu corpo quando lembrava da forma como a ruivinha lhe abraçara horas antes, quando chegara ao castelo. Se não estivesse tão ferida e magoada, provavelmente teria perdido todo o seu auto controle naquele momento.

Luna suspirou e levantou da cama. Estava sentindo sua garganta seca, de modo que caminhou até a mesinha ao lado da cama de Victoria e serviu-se de um gole de água da jarra de vidro que ali repousava. Secou a boca na manga larga de seu traje de dormir, e depositou o copo de volta na bandeja.

A menina ergueu os olhos para a janela, e contemplou o céu azul escuro pontilhado de estrelas. A lua minguante sorria sarcasticamente para ela, como o Gato Inglês de Alice no País das Maravilhas. Luna quase podia ver os olhinhos maldosos do felino brilhando, como se ele soubesse de algo que ela desconhecia.

Sentiu-se subitamente furiosa, o que não era algo que costumava acontecer. Desviou os olhos da janela e caminhou de volta para a cama. Deitou-se e puxou a coberta até o nariz, ficando apenas com os olhos de fora. Estava zangada, muito zangada. Sua respiração estava um pouco acelerada.

Ela atirou as cobertas para o pé da cama a pontapés, e escorregou para o chão. Estendeu os braços para baixo da cama e puxou uma pilha de livros. Separou Alice no País das Maravilhas e chutou os outros para a escuridão outra vez.

Voltou para a cama.

- Lumus – sussurrou.

Com a ajuda da faísca de luz que brilhava da ponta de sua varinha, começou a folhear o clássico de Lewis Carroll, passando os olhos sobre as palavras que tão bem conhecia. Depois de Peter Pan, aquela era a sua estória favorita. Conhecia cada frase, cada capítulo, cada desenho... Luna parou. Lá estava ele, o maldito debochado. Sorrindo para ela de dentro do livro, o Gato Inglês sacudia o rabo de um lado para o outro. Começou a desaparecer lentamente. Primeiro a cauda, depois as patas, depois as pernas, o corpo...

Luna rasgou a ilustração. Lentamente, picou cada uma das folhas do livro com uma calma melancólica.

- Você nunca mais vai zombar de mim novamente – murmurou.

O ruído do papel sendo cortado acordou Janine.

- Lovegood, se você não parar com isso agora, juro que como o seu fígado no café da manhã – ela disse com a voz abafada pelo travesseiro.

Luna não respondeu. Em alguns minutos, a garota já estava roncando novamente.

Luna abraçou os restos do livro que acabara de destruir e fechou os olhos. Não sabia que, alguns metros acima, na torre da Grifinória, Gina Weasley também não conseguia dormir. Estava sentada na janela, observando a noite e chorando abraçada aos seus joelhos. Na cabeça dela, a mesma pergunta que tirava o sono de Luna não conseguia calar: por que?

***

As semana que se seguiu foi, de longe, a mais solitária da vida de Gina. Agora que não estava mais namorando com Harry, todos os seus “amigos” pareciam repentinamente ocupados demais para lhe fazerem companhia. Não que Gina se importasse, é claro. Ela sempre soube que eles não passavam de um bando de interesseiros em busca de popularidade. Mas é claro que sentia falta de ter alguém com quem conversar.

Harry visivelmente a evitava, mas Gina sentia que ele a observava sempre que achava que ela não estava percebendo. Andava para lá e para cá com Hermione, numa tentativa irritante de fazer ciúmes em Gina, e quem não estava achando a menor graça na história toda era Rony. Gina sabia que ele tinha uma queda por Hermione desde o quarto ano, mas era simplesmente orgulhoso demais para admitir. Percebendo que seu “território” estava de fato sendo ameaçado, o garoto começou a travar uma guerra silenciosa contra Harry sem que este soubesse. Gina ficou bastante surpresa em constatar que ele estava até freqüentando a biblioteca e estudando para tirar notas melhores que Harry nos testes. Seu ex namorado era o único que não percebia o que estava acontecendo, mas Gina tinha um palpite de que aquela história ainda repercutiria de maneira significativa futuramente.

Quinta-feira foi um dia particularmente difícil. Logo de manhã, Gina já precisou usar de todo o seu auto controle para não perder a paciência com Harry. Ele convidou Cho Chang para tomar café com eles à mesa da Grifinória, e fez questão de acompanhar a apanhadora da Corvinal até a sua sala de aula, que, por acaso, ficava no mesmo corredor que a de Gina. Além de levar todo o material da garota, coisa que ele poucas vezes fizera por Gina, Harry também ficou conversando com ela na frente da porta enquanto a aula não começava.

Gina tentava não olhar, mas esse era um instinto que ela não conseguia controlar. Com as costas encostadas na parede, fazia todo o esforço possível para manter os olhos em seus tênis, mas de minuto em minuto espiava o que estava se passando entre Harry e Cho Chang.

- Ei, Gina! Tudo bem?

A garota ergueu o rosto para um Dino Thomas sorridente. Era a primeira vez em meses que ele vinha falar com ela. Ficara excepcionalmente irado quando soube que Gina e Harry estavam juntos, e chegou a procurar briga com o rival umas duas ou três vezes na primeira semana. Mas depois de receber uma advertência da profa. McGonagall, o garoto resolveu tirar o time de campo por uns tempos. Surgia repentinamente, agora, como se absolutamente nada tivesse se passado.

Em circunstâncias normais, Gina teria sido grossa com ele. Mas, levando em conta o fato de que estava sozinha e chateada, acabou fazendo algum esforço para ser simpática.

- Mais ou menos, Dino, e com você?

- Comigo tudo bem – ele respondeu. – Faz algum tempo, não?

- É, se faz – Gina murmurou.

- Eu senti saudades, sabe.

Gina abriu a boca para responder, mas naquele momento captou com o canto dos olhos um movimento repentino de Harry, e virou o rosto para ele antes que pudesse se conter.

- Essa-foi-a-coisa-mais-idiota-que-eu-já-vi – Gina disse para si mesma, pasma, enquanto ignorava os olhares de pessoas que, como ela, também haviam reparado que Harry e Cho Chang estavam se beijando - e de maneira nada discreta, diga-se de passagem.

- Que retardado – Dino disse com uma risadinha.

Gina o ignorou. Estava furiosa demais para conseguir se preocupar em ser legal com ele. Como Harry podia ter se rebaixado a tanto? Gina sentiu-se subitamente enjoada.

- Eu realmente não acredito que ele... – começou, desviando os olhos da cena repulsiva. Mas o choque de sentir seu olhar encontrando o de Luna fez com que perdesse as palavras.

Sentiu como se tivesse levado um murro na boca do estômago, repentinamente sem ar. Suas bochechas ficaram vermelhas, e Gina teve a horrível sensação de que estava nua no meio de uma multidão. Cravou os olhos no chão, sentido-se miseravelmente infeliz. Sentiu o perfume do cabelo de Luna quando a garota passou por ela para entrar na sala, e seu coração agitou-se dentro de seu peito. “Excelente” pensou “Como se não bastasse tudo o que já tenho que suportar, ainda preciso conviver com esses sintomas estúpidos de menininha apaixonada.”

Sentou-se num canto isolado da sala, fingindo-se muito interessada no seu livro de Defesa Contra as Artes das Trevas. Não queria saber onde Luna estava, pois sabia que passaria o resto da aula lançando olhares para a menina. Enquanto o professor fazia a chamada, Gina folheava seu livro com o rosto apoiado na palma da mão esquerda. Vez ou outra, parava para admirar os desenhos que Luna havia feito no canto de determinadas páginas. Havia algumas palavras rabiscadas também, como “Olá”, “Buh!” e – Gina parou – “Eu amo você”.

O esboço de um sorriso formou-se nos lábios da garota, mas então um sentimento horrível de perda tomou posse de seu coração, e Gina sentiu seus olhos arderem com lágrimas. Mal reconheceu a sua própria voz ao responder a chamada, mas aparentemente ninguém reparou na forma embargada com que seu “aqui, professor” soou.

A aula de Defesa Contra as Artes das Trevas transcorreu como de costume. O professor dividiu a turma em duplas para praticar um feitiço de paralisação dos membros inferiores através de congelamento. Gina teve alguma dificuldade no começo, mas pegou o jeito após alguns minutos.

Depois que a aula terminou, a garota ainda demorou alguns tempo guardando seu material. Saindo da sala de aula, no entanto, reparou em algo que a entrigou: Luna, alguns metros adiante, estava mancando. Gina franziu o senho, intrigada e ligeiramente aflita. O que teria acontecido a Luna? Estaria ela machucada? A menina mordeu o lábio inferior, pensativa, mas Luna desapareceu na curva do corredor antes que Gina tivesse tempo de analisá-la mais cuidadosamente. O som das vozes animadas dos alunos do terceiro ano chegando para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas trouxe a garota de volta para a realidade, e ela afastou-se a caminho da sala de Transfiguração.

Estava preocupada com Luna. Sabia que era bobagem, a garota provavelmente batera a perna em algum lugar, ou escorregara numa escada... Nada consideravelmente grave a que devesse dar importância. Ela estava bem, não estava? Aparentemente sim, pelo menos. Mas o fato é que aquela visão de Luna que tivera no corredor a deixara estranhamente angustiada. Sabia que não havia motivos para aquilo, mas estava com um pressentimento ruim. Péssimo, diga-se de passagem.

Ela caminhava distraída quando ouviu alguns ruídos vindo de uma sala de aula há muito inutilizada. Aproximou-se, curiosa, para ver do que se tratava. Encostou a orelha na porta, esforçando-se para ouvir melhor. Gina franziu o cenho, intrigada. Era impressão sua, ou aquelas eram as vozes de Rony e Hermione?

- Eu sou muito burra, muito burra...

- É, nesse caso eu sou obrigado a concordar, você realmente está sendo uma tapada.

- Não acredito que isso esteja acontecendo comigo!

Não havia dúvidas, eram realmente eles. Gina não pensou duas vezes antes de colocar a mão na maçaneta da porta e entrar. Jamais imaginara presenciar a cena que viu ao entrar na sala. Rony estava sentado sobre uma larga mesa de madeira, com Hermione deitada com a cabeça apoiada em seu colo. No momento em que viu a porta abrir, a garota se sentou rapidamente. Era óbvio que ela estava chorando. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, e havia marcas de lágrimas em suas bochechas.

- Ah, é só você, Gina – Rony disse com um tom de voz entediado. – Achei que fosse a McGonagall... se fosse a McGonagall, nós estaríamos ferrados.

Gina não respondeu, os olhos fixos em Hermione. Tinha certeza absoluta de que ela estava chorando por causa de Harry, e não sabia definir exatamente qual era o seu sentimento com relação a isso. Era a primeira vez que via Hermione chorando. Ela sempre fora muito forte e decidida demais para se dar ao luxo de chorar, especialmente na frente de seus amigos. Sempre achara que Hermione devia ser o tipo de pessoa que só se entrega às lagrimas com o rosto enterrado no travesseiro, durante a noite, quando ninguém pode presenciar o seu momento de fraqueza. E agora lá estava ela, chorando por causa de um garoto, e não qualquer garoto, mas seu melhor amigo Harry Potter.

Gina suspirou. Deixou a mochila escorregar dos seus ombros e cair no chão com um ruído seco. Aproximou-se de Hermione, que desviou os olhos para não ter que encará-la.

- Por que você está chorando?

- Eu não estou chorando – Hermione resmungou.

Gina revirou os olhos, e dirigiu-se a Rony.

- Por que ela está chorando?

Rony abriu a boca para falar, mas mudou de idéia. Não estava certo de que devia responder a pergunta de Gina. Buscou o olhar de Hermione, mas ela não estava olhando para ele. Parecia envergonhada. Gina tinha certeza de que ela estava envergonhada. Sorriu internamente sob esse pensamento.

- É por causa do Harry – Rony falou, afinal. – Por causa do imbecil do Harry. Ele sabe que a Hermione gosta dele, e fica tentando colocar ciúmes em você dando mole para ela. Mas depois ele simplesmente vira as costas, como hoje, e sai agarrando a Cho Chang. É a coisa mais desprezível que alguém poderia fazer, eu realmente não acredito que o Harry tenha se tornado um cretino desse tipo. E é tudo sua culpa, Gina!

- Eu não tenho culpa de não gostar dele – Gina disse com irritação. – Não é algo que se pode escolher, sabe. Porque se fosse assim simples, você não gostaria da Hermione sabendo que ela gosta do Harry, a Hermione não gostaria do Harry sabendo que ele gosta de mim, e o Harry não gostaria de mim sabendo que eu não gosto dele.

Rony fechou a cara. Gina voltou novamente a sua atenção para Hermione. Caminhou alguns passos, até que existissem apenas alguns centímetros entre elas.

- Não é irônico? – Gina disse calmamente. – Você não acha muito irônico, Hermione?

A garota não respondeu. Gina podia ver as lágrimas escorrendo novamente pelo seu rosto.

“Graças a você, ele só tem olhos para mim. E agora que você percebeu que o quer, é muito tarde para mudar as coisas.”

Hermione não pronunciava uma única palavra. Gina deu um pequeno sorriso.

- Hermione! – chamou.

A garota ergueu os olhos para Gina, e não teve tempo de desviar-se do tapa.

Um momento de silêncio suspenso no tempo.

Hermione colocou a mão sobre o rosto, onde lentamente surgia a marca vermelha da mão de Gina. Rony estava boquiaberto.

- O que... - ele balbuciou, chocado.

- Isso é para você aprender a manter sempre a guarda – Gina falou lentamente, olhando Hermione de cima com desprezo. – Nunca desperdice as suas lágrimas com quem não as merece. E isso – Ela passou os braços ao redor do pescoço da menina e a abraçou com força contra seu peito. Sussurrou – Isso é só para humilhar você.

Gina soltou Hermione e se afastou sob o olhar intrigado de Rony. Caminhou calmamente até a sua mochila e apanhou-a, dirigindo-se em seguida para a porta.

- A propósito – Gina disse antes de sair, sem se virar. – Se aceita um conselho, você devia esquecer o Harry e dar alguma atenção ao Rony. Ele é um panaca, mas gosta sinceramente de você.

Gina poderia jurar que ouvira o irmão engasgar com a própria saliva.

***

Escapar das aulas era a sua especialidade. Em dias como aquele, quando as aulas estavam simplesmente insuportáveis, Gina apenas inventava uma desculpa qualquer para sair da sala e não voltava mais. Os professores não reparavam, estavam sempre ocupados demais com os outros alunos. E se por acaso notavam, não tomavam qualquer atitude. Gina era uma boa aluna, e desde que ela continuasse assim, não havia grandes problemas em deixar que ela desse umas voltinhas quando desejasse.

Então lá estava Gina, naquele que era o seu lugar favorito em todo o castelo. Sentada sobre a murada da Torre de Astronomia, observava o sol se pôr pintando o céu com um tom alaranjado melancólico. Não estava muito diferente do humor de Gina, nos últimos tempos.

Os dias pareciam se arrastar, e toda vez que acordava numa nova manhã tinha a desagradável sensação de estar recomeçando o dia anterior. Estava cansada, física e emocionalmente. Sentia tanta falta de Luna que machucava. Tinha certeza absoluta de que, provavelmente, era tarde demais para se dar conta disso, mas agora entendia claramente o quanto precisava da garota.

Uma vida sem amor não é uma vida. Gina lembrava-se de ter lido essa frase em algum lugar, mas não recordava onde. Na época achara insignificante, mas naquele momento nada fazia mais sentido. Luna era amor. Não podia viver sem ela, estava definhando de tristeza. Também não podia esquecer. A todo momento lembranças dos momentos que passara junto com ela lhe vinham à cabeça. Havia pedaços de Luna espalhados por todos os cantos do castelo, lembranças que não conseguia ignorar e, sinceramente, não queria.

Gina fechou os olhos e encostou a cabeça na pedra.

- Luna...

Ela abriu os olhos para encarar uma Luna sorridente, que a acordara da maneira mais deliciosa do mundo: com beijinhos no pescoço. Gina tinha certeza de que ela fazia isso para não correr o risco de precisar enfrentar o seu mal humor, mas Luna não sabia que o simples fato de ser ela quem a estava acordando já anulava qualquer possibilidade de irritação da sua parte.

- Será que algum dia você vai deixar de fazer isso? – Gina murmurou.

- Quando você não quiser mais que eu venha – Luna respondeu calmamente.

- Não, por favor, não pare nunca – Gina respondeu, passando os braços ao redor do pescoço da amiga e puxando-a para um beijo.

Empurrou Luna para o lado e começou a desabotoar calmamente a camisa da garota.

- Por que você nunca aparece aqui com roupas de dormir? Facilitaria bastante as coisas, sabe...

- Perderia a graça – Luna disse simplesmente. – Além disso, eu sei que você adora me despir lentamente. Botão por botão, peça por peça...

- É mesmo? Eu sempre achei que fosse porque você gosta que eu tire a sua roupa – Gina disse com um sorrisinho, escorregando a mão para a barriga de Luna.

- Por isso também – Luna suspirou, fechando os olhos.

Elas fizeram amor. Os corpos enroscados, ficavam se olhando fixamente nos olhos e sorrindo, os narizes encostados. Os olhos de Luna começaram a fechar lentamente.

- Não durma – Gina murmurou.

- Não vou dormir – Luna respondeu sem abrir os olhos.

- Vai sim. Eu sei que acabei com você hoje, reconheço isso.

Luna deu uma risadinha.

- Você é tão presunçosa...

- Não sou, apenas sei o quanto faço você pirar, Lu... você fala o tempo todo, enquanto estamos...

Luna abriu os olhos. Se não tivesse escuro demais para que pudesse Ter certeza, Gina teria jurado que as bochechas da garota estavam ligeiramente vermelhas.

- Eu não lembro disso.

- Lembra sim.

Luna sorriu um de seus sorrisos indecifráveis.

- Prove...

- Eu não posso provar, é claro que... – Gina parou de falar, percebendo as verdadeiras intenções de Luna.

Foi a sua vez de sorrir. Deslizou para cima dela, beijando e mordendo seu pescoço. Luna respirava muito próximo ao seu ouvido, deixando-a arrepiada. Sabia que ela fazia de propósito, era uma provocação. Gina roçou os lábios pelas bochechas da garota, e lambeu de leve os seus lábios. Luna tentou beijá-la, mas a ruivinha evitou. O cabelo caindo sobre os olhos, ela encarou a amiga com um sorriso maldoso.

- Me beije – Luna pediu.

- Não.

- Por favor...

Gina encostou sua boca na de Luna, e deixou sua língua encostar na da menina, afastando-se rapidamente em seguida.

- Oh, Merlin, você é má – Luna gemeu.

- Eu sou – Gina sussurrou no ouvido dela em resposta. – Diga, Lu...

- Eu amo você.

- Não estou falando disso.

Luna resmungou alguma coisa, contorcendo-se de insatisfação.

- Você me deixa...

- Diga...

- Muito louca...

Gina sorriu satisfeita, e deu a Luna o seu beijo como recompensa.

Gina começou a chorar. Não devia pensar naquilo, não devia se torturar daquela forma. Seu corpo reagia instantaneamente àquelas lembranças, mas ela se recusava a tomar alguma atitude para satisfazer o seu desejo. Doía. Gina escorregou para o chão, enxugando as lágrimas na manga do casaco.

- Você não vai descer a esse nível – murmurou para si mesma.

Olhou para o céu, já totalmente encoberto pelo manto negro da noite. O jantar provavelmente já fora servido.

Gina apanhou sua mochila e desceu, pulando de dois em dois os degraus da escada. Repetia para si mesma, mentalmente “Snape, Snape, Snape, Snape...”

***

Luna tirou a atadura e analisou o ferimento. Ao contrário do que esperava, ele não estava cicatrizando. Ao contrário, parecia piorar a cada dia. Amanhecera com uma cor estranhamente esverdeada, naquele dia, e Luna estava começando a se preocupar de verdade. Não era o tipo de reação que apareceria num machucado normal.

Sua perna estava terrivelmente dolorida, como se tivesse sido esmagada por alguma coisa consideravelmente pesada. Para piorar, começara a sentir umas coisas estranhas ao longo do dia. Tremia de frio, mas estavam no meio da primavera! Durante a aula de História da Magia, sentiu-se subitamente nauseada. Vomitou todo o seu café da manhã no banheiro, depois. E agora, conforme acabara de constatar, estava com febre.

Podia muito bem ser apenas os sintomas de uma infeção alimentar, mas Luna tinha certeza absoluta de que a causa era aquela maldita ferida em sua perna. Não devia ter sido tão negligente e procurado Madame Ponfrey logo no primeiro dia.

Ela suspirou. Não adiantava ficar se condenando, podia sentir que as coisas ficariam muito piores em breve. O melhor a fazer era ir até a ala hospitalar o mais rápido que a sua perna machucada permitisse.

***

Gina desceu as escadas para o segundo andar, os pensamentos distantes. Fixar-se na imagem do prof. Snape ajudara a reprimir os seus desejos, mas aquela dorzinha chata ainda a incomodava.

As pessoas não deveriam ficar excitadas quando não podiam fazer sexo, Gina pensava com irritação. É uma situação muito cretina para se viver.
Ela fez a curva no corredor, distraída, pensando no seu jantar. Não comia bem há dias, mas hoje, por algum motivo, estava faminta.

O som do que depois Gina descobriria ser o elmo de uma armadura batendo no chão a trouxe de volta para a realidade com um susto. Ela apertou os olhos para enxergar a pessoas que estava do outro lado do corredor.

Seu sangue congelou nas veias. Era Luna, e visivelmente havia algo errado com ela. A garota estava parada com as costas apoiadas na parede respirando de forma agoniada. Gina caminhou até ela, assustada. O rosto da garota estava completamente pálido, e um suor frio escorria pela sua testa.

- Você – Gina começou, mas Luna a interrompeu.

- Eu vou desmaiar.

E foi a única coisa que disse antes de apagar completamente.

***

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