O Destino de Hogwarts
O sol de verão estava nascendo calmo e sereno, como se absolutamente nada tivesse ocorrido no dia anterior. Pareceria um dia normal, uma semana normal, mas nada, nem mesmo o lugar onde estava dormindo, era normal da vida de Harry Potter. O garoto de, ainda, dezesseis anos abriu os olhos verdes e logo os fechou, como se para provar a si mesmo que nada daquilo havia acontecido, que ele não vira Dumbledore, o diretor de sua Hogwarts, sua escola; ter sido jogado do andar mais alto da torre por Snape, o mais odioso de todos os seus professores, e nem que no dia anterior Harry tivera que assistir ao enterro daquele que podia ser considerado seu maior mestre.
Depois de passados dois minutos, nos quais Harry se deliciava com as últimas cenas de seu sonho aquela noite (ele, Dumbledore, seu padrinho Sirius e seus pais caminhavam alegres e conversando bastante sobre coisas normais, sobre assuntos normais, sobre uma vida normal que jamais existira), o menino resolveu finalmente levantar. Apalpou a mesinha de cabeceira até achar seus óculos e se sentou antes de pô-los. Olhou de canto a canto do quarto onde dormia, e agradecia por ainda estar em Hogwarts (faltava apenas dois dias para voltar ao entediante lar de seus tios, onde viveria até completar dezessete anos, em um mês). Lá estavam, ainda dormindo, seus colegas de quarto, Simas, Neville, Dino e seu melhor amigo, Rony Weasley.
Harry foi tomado repentinamente por uma onda de angústia maior do que tudo que já sentira. Primeiro havia sido seus pais, mortos por um louco assassino no ápice da insanidade, depois um colega morrera na sua frente dois anos antes, um ano depois seu padrinho e há alguns dias atrás, Dumbledore. O próprio Harry se perguntava como alguém agüentava tudo aquilo. Nem ele soube responder. Foi quando lhe surgiu a mais sábia de todas as idéias desde que Dumbledore morrera. Ele tinha visto na fatídica noite da morte do diretor, seu quadro aparecer na parede da sala dos diretores. Harry sabia que os quadros podiam conversar com as pessoas, e naquele momento de angústia, uma conversa com Dumbledore já seria suficiente. Harry se levantou de um salto, se trocou o mais rápido que pôde e rumou correndo para a sala dos diretores.
Enquanto Harry passava pelos corredores, pôde perceber que muitos deles ainda possuíam as marcas da noite em que os Comensais invadiram Hogwarts e, embora estivesse indo conversar com o quadro de Dumbledore, a angústia de Harry aumentou um pouco. Harry chegou à gárgula que levava a sala dos diretores, e ficou encarando-a. Ele não sabia a senha, mas sabia que pelo menos naquele lugar, todas as senhas tinham nomes de doces.
- Doce de batata! Delícias gasosas! Feijõezinhos de todos os sabo...! – Harry gritou para a gárgula em vão.
- Ave, Alvo! – disse uma voz atrás dele. A gárgula começou a se mexer e revelou o caminho que levava até a sala dos diretores. Harry olhou impressionado para trás para ver quem havia aberto a porta para ele. Era Horácio Slughorn, o professor de Poções que ocupara o lugar de Snape no ano anterior.
- Obrigado, professor – disse Harry rápido e começando a subir as escadas.
- Vai conversar com o quadro, Harry? – perguntou Slughorn. Harry se virou um pouco assustado com a pergunta.
- Quem deu permissão ao senhor de usar Legilimência em mim? – perguntou Harry.
- Eu não precisei usar isso, Harry. Tivemos uma madrugada cheia, Harry. Várias pessoas queriam conversar com Dumbledore, no quadro – disse Slughorn, com ar de importância.
- Que interessante – disse Harry, irônico.
- O Rufus demorou bastante, sabe... umas duas horas mais ou menos – começou Slughorn, Harry desceu alguns degraus para ver o professor mais claramente – Na minha opinião, eles estavam conversando sobre o que ocorrerá com Hogwarts agora, já que a Minerva estava junto. O irmão daquele seu amigo ruivo me disse alguma coisa sobre o Rufus estar interessado em assumir a escola no lugar de Minerva.
- O Percy te disse isso? – perguntou Harry, cada vez mais horrorizado.
- Ah, sim... esse é o nome dele, né? Percy... é mais informado do que o irmão dele – disse Slughorn, provavelmente sonhando com algum cargo no Ministério da Magia, que pudesse ser conseguido com a ajuda de Percy.
- Obrigado, professor, você foi muito bondoso em abrir a porta pra mim – disse Harry.
- Ei, Harry! Espere – chamou Slughorn – Será que você podia trazer pra mim um dos utensílios da sala de Dumbledore, sabe aquelas coisas de prata, são bem valiosas.
Já acostumado com os interesses de Slughorn, e sabendo que ele nunca dava ponto sem nó, Harry concordou friamente subindo as escadas correndo. O garoto subiu até a porta da sala e abriu-a devagar, provocando um eco muito audível do ranger da porta, e entrou.
A sala de Dumbledore estava exatamente como ele deixara, vários objetos de prata enfeitando a mesa e as prateleiras e, embora alguns deles tivessem aparentemente perdido o ânimo de continuar funcionando, muitos ainda giravam em órbitas, soltavam fumaça ou faziam algum barulho peculiar. Harry andou pela sala olhando para as paredes. Não conseguia se lembrar onde o quadro de Dumbledore tinha aparecido no dia de sua morte.
- Professor Dumbledore! Professor Dumbledore! – gritou Harry, acordando os quadros aos poucos. Foi uma algazarra enorme em protesto por Harry tê-los acordado, mas o garoto nem se importou, continuou a gritar pelo ex-diretor.
- Aqui tão cedo, Harry? – alguém disse às costas de Harry. O coração de Harry deu um salto dentro do peito, enquanto ele se virava. Aquela voz era inconfundível.
- Diretor – disse Harry, tomado por uma alegria que há dias não fazia parte da sua dieta diária de sentimentos, quando viu o quadro de Dumbledore – Eu tenho sentido tanto a sua falta.
- Essa sempre foi sua principal arma, Harry – disse Dumbledore, no quadro. Seu rosto não estava cansado, como estivera dias antes, nem aparentava ter passado por tudo que passara, estava sereno, calmo e tão bondoso como o Harry o viu no seu primeiro dia em Hogwarts – Mas essa tão pode ser a principal arma de Voldemort contra você.
- Como assim? – perguntou Harry, afinal sempre reiterava que seu amor era a grande diferença entre Voldemort e Harry.
- Eu já devia ter percebido isso e dito a você há muito tempo, Harry – disse Dumbledore. Ele não falava num tom pesaroso ou triste. Ele falava tão normalmente sobre tudo aquilo, que era como se tomasse um chá com Harry durante uma conversa animada sobre Quadribol – Harry, Lorde Voldemort está tirando de você tudo aquilo que realmente lhe importa.
- Eu já percebi isso, professor. Tive medo que ele fizesse algo contra Gina, e por isso me afastei dela – disse Harry, triste.
Dumbledore olhou pra Harry pelos oclinhos de meia-lua, como costumeiramente fazia, e sorriu – Vamos falar sobre isso outra hora, Harry. Quem sabe durante o próximo ano. Podemos continuar a conversar sobre qualquer coisa, mas temo que você terá um ano bem difícil com os NIEM’s se aproximando.
- Próximo ano? – Harry arregalou os olhos, assustado – A Profª McGonagall me disse que poderiam fechar a escola...
- Realmente, Harry, mas depois da conversa que tivemos com Rufus... Bem, digamos que a escola continuará a existir, mesmo que não nos moldes anteriores – disse Dumbledore.
- Então Rufus assumirá a escola, como Slughorn me disse há pouco? Ele será o novo diretor? – perguntou Harry, atônito.
- Não, Rufus não tem tempo de manter nem mesmo o Ministério atualmente, Harry, que dirá Hogwarts – disse Dumbledore – Receberemos de Rufus um documento nas próximas semanas, informando que ele escolheu para assumir a escola em meu lugar.
- Pensei que a Profª Minerva ficaria, caso Rufus não aceitasse – disse Harry.
- Não. Minerva continuará a lecionar Transfiguração, assim como todos os antigos professores continuarão em seus antigos cargos, com exceção de – Dumbledore hesitou por um momento, o que raramente fazia, mas por fim disse – Severus.
- Ele nos traiu, professor – disse Harry, que a essa altura sentiu uma vontade enorme de dizer a Dumbledore que sempre desconfiara de Snape – Mas eu juro ao senhor que vou mata-lo.
- Espero que esqueça esse juramento tolo, Harry – disse Dumbledore, sem elevar o tom de voz.
- Mas ele nos traiu, professor. Ele merece pagar – disse Harry, ficando nervoso com a piedade de Dumbledore com o traidor Snape.
- Ele terá o que merece, quando for a hora certa, Harry – disse Dumbledore - Mas agora se concentre em Voldemort e, é claro, em passar nos NIEM’s. Sua mãe sempre quis que você seguisse a profissão dela, Harry.
Harry parou um pouco para pensar. Nunca tinha pensado sobre o que seus pais tinham sido, mas a idéia de um casal de Aurores sempre rondou subconscientemente sua mente, mas não se conteve em perguntar – E qual era a profissão dela?
- Obliviadora. Uma das melhores que o Ministério já teve – disse Dumbledore.
- E meu pai? – perguntou Harry, tentando não parecer surpreso com a última resposta do ex-diretor.
- Seu pai? Seu pai era o gerente do Gringotes. Herdou esse cargo de seu avô, Harry, Maximilian Potter – disse Dumbledore.
- Isso explica muita coisa – disse Harry baixinho, lembrando da fortuna imensa que havia em seu cofre no banco dos bruxos.
- Sirius herdou um dos cinco maiores cofres do Gringotes inglês, Harry, o que torna você o mais rico bruxo do país, juntando as duas fortunas que você herdou – disse Dumbledore.
- Professor, será que eu poderia passar um cofre inteiro para o nome de outra pessoa? – perguntou Harry.
- Depois que você completar dezessete anos, sim – disse Dumbledore – Mas quem seria o sortudo?
- Na verdade, seriam os sortudos. Estou pretendendo deixar toda a herança de Sirius para os Weasley – disse Harry, feliz.
- Ah, claro. Nada mais justo. Mas, e a senhorita Granger? Ela não ficaria com ciúmes ou algo do tipo? – perguntou Dumbledore. Esse era o tipo de pergunta que Dumbledore jamais faria, mas Harry sabia qual pergunta estava subentendida naquela.
- Acho que quando eu digo os Weasley, também estou incluindo os futuros Weasley, professor – disse Harry, sorrindo.
Dumbledore sorriu em seguida. Era relaxante vê-lo sorrir e Harry estava se sentindo bem melhor agora do que antes. Mesmo que sua conversa com Dumbledore fosse tão pequena, Harry sabia que Dumbledore não havia desaparecido para sempre, assim como Sirius. Mesmo que preso a uma moldura, Dumbledore ainda significava muito para Harry, e sua companhia e palavras sábias eram bem mais especiais do que o diretor podia imaginar, achava Harry. De repente, antes que pudesse perceber a porta se abriu.
- Dumbledore – disse a Profª Minerva, entrando apressada na sala – Ah, Potter.
- Bom dia, Minerva. Harry estava me fazendo uma visitinha imprevista, não é agradável? – disse o diretor. Harry tentava não parecer sem graça com a presença da diretora por lá.
- Sim, sim... bastante agradável – disse a professora, que tinha um ritmo apressado na voz – Ele está aqui, Dumbledore.
- Ele quem? – Harry não se conteve.
- O novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, eu presumo. Estou certo, Minerva? – disse Dumbledore.
- Sim, está – respondeu secamente a professora.
- Pensei que o novo professor seria escolhido pelo Ministério, professor – disse Harry.
- Uma das minhas condições em permitir que o Ministério dirigisse de vez essa escola, Harry, foi a de que eu pudesse escolher um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas a meu gosto – respondeu Dumbledore.
- Potter ficará aqui enquanto Gabuc estiver conosco, Dumbledore? – perguntou a professora McGonagall.
- Absolutamente. Harry, terei que pedir que saia, e volte outro dia, preferencialmente quando voltar a escola – disse Dumbledore.
Harry estava se dirigindo a porta, depois de se despedir de Dumbledore com um aceno, quando se lembrou das Horcruxes, e quanto trabalho isso lhe daria até que Voldemort estivesse devidamente destruído.
- Diretor, e quanto... bem... – Harry sabia que não podia dizer “Horcruxes” na frente da professora Minerva, e por isso hesitou – bem... quanto ao medalhão de R.A.B.?
- Ah, sim. Quanto ao medalhão de R.A.B.? Espero que você encontre um jeito de acha-lo sozinho enquanto estiver de férias. Seria mais fácil se você voltasse à escola já com todo o serviço feito.
- Não vejo meios de fazer isso sozinho – disse Harry. A professora Minerva parecia perturbadamente curiosa.
- Descubra-os. Não estou mais com você, Harry. Pelo menos não o suficiente para ajuda-lo – disse Dumbledore, ainda em seu costumeiro tom sereno.
- Tudo bem... tchau, então.
Harry saiu da sala e ao sair de deparou com aquele que provavelmente era o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas para o próximo ano. Ele tinha uma aparência velha, era magro até o último fio de cabelo.Suas mãos eram finas e magras, as veias saltando. Possuía enormes covas no lugar das bochechas, às quais lembravam muito fundas crateras. Seu queixo era prolongado e fino, terminando em uma quase-ponta. A única coisa que disfarçava um pouco a velhice aparente eram os cabelos, lisos e muito pretos, penteados para trás.
Ele olhou para Harry e sorriu, mas curiosamente não notou a cicatriz do garoto. Harry retribuiu o sorriso e desceu as escadas, se dirigindo para o Salão Principal. Os corredores estavam começando a se encher, com os alunos indo tomar café da manhã pra aproveitar os últimos dias de aula antes das férias de verão.
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