Babá
Entre o barulho infernal que a torcida fazia, ninguém reparou no grito de horror de Narcisa quando Lúcio foi atingido por um balaço e quase caiu da vassoura. Recuperando-se rapidamente, ele voltou a procurar o pomo.
A Sonserina certamente estava jogando melhor, mas derrotar o time da Corvinal não era tão fácil quanto derrotar o time da Lufa-Lufa. Rabastan estava tendo muito trabalho, pois os artilheiros do outro time eram bons.
Mas o time de Lúcio era muito melhor treinado e tinha artilheiros melhores. Ela não entendia nada de quadribol, mas a prova incontestável era que o jogo estava 170x110 para a Sonserina.
Então, Lúcio virou bruscamente, passou por cima da cabeça de Avery em uma manobra que fez a platéia vibrar, desceu em linha reta e pegou o pomo perto do chão.
O apito soou e a Sonserina venceu novamente, se tornando a favorita absoluta ao título. A chance de Lula-Lufa e Corvinal eram nulas a essa altura, mas a Grifinória vinha insistente correndo atrás e o último jogo seria contra eles. A Grifinória, que também tinha vencido as duas partidas, tinha que vencer a Sonserina por 200 pontos.
Na sala comunal, o barulho insuportável continuou, enquanto os alunos festejavam em volta do time. Lúcio escapou do tumulto assim que pôde e levou Narcisa para um lugar mais calmo.
- Você não vai comemorar?
- Vou. Com você.
Os dois foram para o lago, onde tinha sido seu primeiro beijo. Ele a abraçou. Embebida no perfume embriagante dele, ela se deixou existir. Sem pensar, ou agir, apenas existindo.
Ele a beijou, e ela correspondeu. Sem perceber, os dois estavam deitados no chão, se beijando ardentemente. Ela o empurrou afim de tomar fôlego e só então percebeu.
Tentou se ajeitar, mas ele a empurrou de volta e a calou com um longo e maravilhoso beijo. Foi a vez dele parar para tomar fôlego. Ele sorriu maliciosamente pra ela.
- O quê foi? No quê você está pensando?
- Que você está meio sujinha.
- Ãhn?
Em um lance de extrema rapidez, como aqueles do jogo, ele a pegou nos braços e se encaminhou para o lago.
- Lúcio, não!!! Pára!!!
Mas ele entrou na água. E quando eles já estavam a uma boa distância da margem, ele a soltou. Ela mergulhou na água fria. Tentou se recuperar e abrir os olhos e tomar fôlego, mas antes que pudesse se preocupar realmente, sentiu um puxão e voltou a superfície.
- Seu artífice sem piedade!! – ela berrou enquanto socava o peito de Lúcio, que ria ruidosamente. – Seu calhorda, criança, imbecil.
Sem parar de rir, ele a puxou para si e a beijou. Ela derreteu instantaneamente nos braços fortes do garoto, esquecendo completamente que estava encharcada.
***
Narcisa passou a estudar com Remo, já que Severo por algum motivo misterioso, parara de lhe dirigir a palavra. Seu desempenho em poções estava começando a ficar digno de pena.
Narcisa estava na biblioteca, enquanto Remo lhe explicava com precisão as posições das estrelas no diagrama que eles tinham que fazer para Astronomia, quando os marotos entraram de cara feia e se sentaram na mesa deles.
- O que vocês querem? – Narcisa perguntou imediatamente. –
- Calma, Narcisa. Eles são meus amigos também. Eu só espero que vocês não tenham vindo aqui insultá-la.
- Não, Aluado. Nós resolvemos que queremos trégua com a minha priminha, pra quê agente não perca sua amizade. Desde que ela não nos ofenda.
Remo olhou para Narcisa.
- Eu vou ficar quieta, eu prometo.
Eles continuaram fazendo os deveres, e quando Tiago contou uma piada que milagrosamente não tinha nada a ver com Severo, ou Lúcio, ou qualquer outro de quem Narcisa gostasse, a loura não pôde deixar de cair na gargalhada juntos com os marotos.
Nesse exato momento, Severo entrou. Narcisa tentou parar, mas já era tarde. A face do garoto se contorceu em ódio, e ela abaixou a cabeça, triste.
- O quê foi? – Tiago pergunta. -
- Acho que essa história de eu andar com o Remo e agora com vocês ofendeu e magoou o Severo.
- E daí?
- Ele é meu melhor amigo, Sirius. É desleal eu estar aqui com vocês e ele estar lá, sozinho. Não é como deveria ser.
- Mas é ele quem anda te ignorando. – Remo argumentou. –
- Não importa. Eu não tentei me entender com ele. Meu lugar não é aqui.
Ela se levantou e andou até a mesa de Severo, que nem olhou pra ela.
- Severo, me desculpa. Eu já deveria ter pedido desculpas antes, eu sei, mas... Eu não queria falar sobre o que eu estava sentindo. E de qualquer forma, você já estava distante antes disso, eu estava triste e você nem notou.
Ele levantou os olhos e a encarou.
- Me desculpe. – ele falou secamente. – Mas eu estou muito preocupado com os N.O.M.s e eu também cansei de segurar vela para você e o Lúcio. Eu achei que seria um melhor amigo se desse mais privacidade a vocês dois, mas no minuto que Lúcio também estava ocupado e você se viu sem atenção, você ficou deprimida e tratou de achar outros amigos.
- Foram semanas de solidão, Severo. E eu não corri atrás de ninguém. Só que o Remo esteve do meu lado na hora que eu mais precisei e você e Lúcio estavam ocupados com exames e quadribol. – ela rebateu furiosa e já com lágrimas nos olhos. –
Ele abaixou a cabeça e voltou sua atenção para o livro de poções.
- Tá bom. Não precisa falar comigo. – ela jogou os livros pesados em cima da mesa. – Mas eu vou ficar aqui do mesmo jeito.
Sem se falar ou olhar, os dois ficaram fazendo os deveres. Remo continuou os dele com os amigos. Quando ela acabou, antes deles, que brincavam mais do que trabalhavam, ela saiu e lançou um olhar ansioso pra ele. O garoto correspondeu.
- Obrigada e desculpe. – ela murmuro tão baixo que ele apenas pôde ler os lábios dela. –
Em resposta, ele lhe deu um sorriso sincero que lhe dizia que estava tudo bem.
***
Narcisa passou a semana inteira colada em um mal-humorado e frio Severo, mas no final tinha conseguido que ele voltasse a falar com ela aos poucos.
Todavia, Narcisa não tinha conseguido fazer com que ele passasse menos tempo na biblioteca, então ela se encaminhou sozinha para o salão principal para tomar café da manhã no Sábado, já que ela não tinha conseguido encontrar Lúcio.
Ela entrou distraidamente no salão, procurando Remo na mesa da Grifinória para cumprimentá-lo, como já havia se tornado costume. Mas quando seus olhos pousaram na mesa dos professores, ela entrou em choque.
Paralisada, ela piscava na tentativa de que seu cérebro voltasse a funcionar. Ele sorriu pra ela e ela não pôde deixar de achar que ele estava debochando da cara dela. Ele havia vencido.
Esqueceu completamente o café da manhã, deu meia volta e foi procurar Lúcio. Deu de cara com ele no saguão de entrada, vindo lá de fora. Ele estava pálido e visivelmente perturbado.
- Eu imagino que você já saiba que Dumbledore voltou.
- Sim. Eu também recebi uma carta do meu pai avisando. – ele mostrou um pergaminho amassado na mão direita. – Mas eu vi Dumbledore antes.
- Lúcio, nós perdemos. Ele vai pegar no nosso pé pra sempre.
- Não se preocupe. O ministério vai continuar no pé dele por um tempo, então ele estará ocupado demais para ser uma pedra no nosso sapato.
- Você estará fora daqui logo, mas eu ainda tenho mais de dois anos.
- Não se preocupe. Ele não é assim. É cheio de moralidade, e senso de justiça. Ele não a prejudicará diretamente, ele fará com classe. Mas você não vai deixar ele fazer isso, vai?
- É claro que não.
- A melhor defesa é o ataque, minha Rainha. – ele cochichou no ouvido dela. -
- E quem liga pra sutileza? – ela acrescentou com um sorriso. – Eu atacarei diretamente antes que ele possa pensar em acabar comigo.
Mas alguns dias depois, Narcisa foi retirada de sua aula de Aritmancia e levada para a sala do diretor. Ela não gostava nada de fazer aquele caminho, pois geralmente significava que ela teria que implorar aos pais para ficar em Hogwarts e ocasionalmente mentir.
Mas quando entrou acompanhada pela professora McGonagall, ela se deparou com um escritório vazio, exceto pelo diretor e sua bela Fênix, que sempre encantara Narcisa. Ela se sentou de frente para ele.
- Eu imagino que saiba porquê está aqui, Senhorita Black.
Ela tentou se lembrar de alguma coisa errada que tivesse feito recentemente. Ela havia enfeitiçado Sirius e Tiago, mas isso já estava para fazer aniversário de um mês e as anotações da monitoria e as detenções eram dadas a cada quinzena.
- Não, senhor. Eu não faço idéia. – ela respondeu educadamente. –
- Bom, eu fiquei afastado um bom tempo da escola, já que seus pais consideraram que minha administração punha em perigo a sua segurança.
Ela fechou a mente, mas o sinal mais óbvio de seu nervosismo a expunha totalmente. Ela estava mordendo a boca com força e logo começaria a sangrar.
- Eu convenci a comissão e voltei a Hogwarts. Mas seus pais ainda acharam que não era suficiente. – ela o observou com cuidado. Ele não parecia irritado, ou perturbado por o que quer que fosse que seus pais tinham feito, provavelmente por conselho de Lúcio. – O ministério aprovou o pedido do seus pais para que alguém da confiança deles venha para Hogwarts e cuide de você.
Ela quase caiu da cadeira.
- Uma babá? – ela exclamou, revoltada. –
O diretor fez sinais com as mãos, como que para dizer que não havia nada que ele pudesse fazer. Mas uma idéia brilhante passou pela cabeça da garota e ela se acalmou imediatamente.
- E como isso vai funcionar? – ela tentou disfarçar. –
- Bom, essa pessoa ficará hospedada em Hogsmeade e virá para o castelo e ficará com você, se certificando de que estará bem, essas coisas.
- Mais como um guarda-costas. Entendi. E o senhor tem idéia de quem virá?
- Não, ninguém me disse nada. Mas a pessoa deverá chegar nessa semana ou na outra e me pediram que avisasse a você.
Ela sorriu falsamente.
- Obrigada, senhor. Mais alguma coisa?
- Não, você pode ir.
Ainda sorrindo e se divertindo muito com a possibilidade que vislumbrara, ela tirou um pergaminho e sua pena da mochila e escreveu enquanto se dirigia ao corujal.
“Mamãe e Papai,
Dumbledore já me contou que mandarão alguém. Fico feliz que alguém competente vá cuidar de minha segurança. Me sentirei mais protegida. Mas por favor, não mandem ninguém estranho, que possa me fazer sentir como se minha vida tivesse sendo invadida.
Eu sei que provavelmente ela estará ocupada, mas peçam a Bellatrix. Eu me sentiria a pessoa mais segura e feliz do mundo com ela ao meu lado. Por favor.
Com amor,
Cissy.”
Ela enviou a carta, cheia de esperança e correu para a sala comunal, para falar com Lúcio. Ele certamente adoraria ouvir isso.
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