Na Teia da Aranha
Narcisa correu e jogou-se nos braços de Severo, bem no meio do saguão de entrada. Alguns alunos olharam para o garoto, verdes de inveja. Mas quem realmente não gostou nada foi Abigail Phillips, que torceu o nariz e saiu pisando duro em direção as masmorras.
- Ela deveria tentar ser mais compreensiva. – Lúcio comentou enquanto se aproximava dos dois, carregando suas malas e as de Narcisa. - Você e Narcisa já eram inseparáveis antes de eu entrar na vida dela e antes da Abby entrar na sua.
Severo deu ombros. Lúcio apertou a mão de Severo e deu uma batidinha nas costas dele e os três foram para as masmorras.
A volta para Hogwarts fora tranqüila. Lúcio aparatara em Hogsmeade, levando Narcisa de carona, onde uma carruagem estava a espera deles. Como Bellatrix havia previsto, Andrômeda tinha aparecido em casa no dia anterior a noite e de manhã bem cedo fizera as malas de tinha ido para a escola no Nôitibus.
Narcisa pensava que o feriado havia sido gratificante. Além dela ter se entendido com Bellatrix e ter ido pra Paris assistir o ballet, ela tinha conhecido mais de Lúcio. Ela o admirava cada vez mais.
Depois daquela noite em que ficaram conversando com Bellatrix e Rodolfo, Narcisa queria saber mais e mais. Como no dia seguinte eles viriam para Hogwarts, ela foi a mansão Malfoy logo depois do almoço. Lúcio se assustara quando vira a cabeça da namorada nas chamas. Eles passaram o dia inteiro conversando.
Depois de guardar os malões, juntaram-se a Severo na sala comunal e lhe contaram tudo em detalhes. As explicações de Bellatrix sobre a passagem secreta, a conversa com ela e Rodolfo, a viagem a Paris.
Abigail entrou na sala comunal e ficou olhando com cara feia, mas embora todos achassem a garota agradável, o assunto era íntimo demais e eles não tinham a mínima intenção de convidá-la a se juntar a eles. Severo contou que eles não estavam muito bem, porquê do nada ela tinha ficado obsessivamente ciumenta com relação a Narcisa.
- Eu acho que me enganei com relação a Abigail. Eu esperei dela algo impossível para uma menina da Sonserina. – Severo comentou cabisbaixo. –
- O quê? – Narcisa perguntou, curiosa. –
- Que ela não tivesse inveja de você. Mas ela tem. Eu percebi imediatamente na festa de Natal, ela ficava falando mal de você e do seu vestido. Realmente estúpido.
No dia seguinte, Narcisa descobriu que Abigail não era a única que tinha inveja. Durante a aula de poções, quando ela não entregou uma poção perfeita como a de Lilian, alguém comentou que se ela continuasse assim, ela poderia perder o posto de Rainha do Clube do Slugh.
Narcisa ignorou. Estava aprendendo a se controlar. O namoro com Lúcio, que era uma pessoa muito madura, tinha lhe aberto os olhos. Eles tinham mesmo muito a aprender em Hogwarts, e não eram apenas as matérias. Ela tinha que aprender a controlar suas emoções.
Era uma burrice ficar brigando com McGonagall e Dumbledore, e ela decidira que queria trégua. Parou de provocar Lilian ou qualquer outro e de se exibir com arrogância. Dedicava-se as aulas mais que nunca, embora seu talento não a tivesse deixado na mão. Praticava repetidamente e procurava usar feitiços não-verbais.
Depois do jantar, foi para a biblioteca. Estava fazendo seu dever de Herbologia enquanto Severo terminava de revisar o dever de Poções dela, quando Lúcio se juntou a eles com um ar cansado.
- Narcisa, alguém já veio te contar?
- Contar o quê? – ela nem tirou os olhos do pergaminho. –
- Sobre Andrômeda.
- O que tem Andrômeda? – ela continuava sem interesse. –
- Ela desmaiou na aula de Astronomia. Está na ala hospitalar.
- Eu vou visitá-la quando acabar aqui.
Narcisa já estava cansada de Andrômeda. Mas mesmo assim foi visitá-la. Elas eram irmãs, e Narcisa precisava manter a falsa cortesia entre elas. Depois de ver que ela estava bem, Narcisa desejou-lhe melhoras e saiu. Já estava bem tarde e todos já tinham se recolhido.
Narcisa observou uma janela com um amontoado de neve e suspirou. Últimos dias de neve. Estava agradecida que fosse acabar logo. Fechou a sua capa e ajeitou o cachecol e seguiu seu caminho para as masmorras.
Mas antes que pudesse chegar a escada, ficou paralisada. Viu uma sombra vindo em sua direção. Se escondeu rapidamente. Esperava que fosse um professor, ou Filch, mas se enganou.
De qualquer forma, ela conhecia aquele homem e não poderia estar mais curiosa ou apavorada agora. Ela ainda carregava a lembrança nítida dele no casamento de sua irmã. O convidado que tinha atraído toda a atenção de Bellatrix, o convidado que a tinha feito sorrir. E ela fazia uma ligeira idéia de quem esse convidado realmente era.
A essa idéia, ela estremeceu. Seu corpo todo se arrepiou. Sabia que só tinha que esperar ele ir embora e ir para as masmorras, mas a curiosidade era mais forte. Tomada de um impulso, Narcisa começou a seguí-lo discretamente.
Esperou ele atingir o saguão de entrada e desceu pela escada sem fazer barulho. Sabia que estava muito exposta, se ele apenas se virasse, teria uma visão nítida dela, mas tinha que arriscar.
Assim que atingiu o saguão, se jogou atrás de um gárgula até que ele estivesse do lado de fora. Do topo da escada, ela o observou chegar aos terrenos.
Esperou que ele se afastasse um pouco e desceu as escadas, abaixada. Quando chegou aos terrenos se jogou atrás de uma moita. E correu, protegida pela vegetação, atrás do alvo que se afastava, enquanto amaldiçoava a neve que a fazia escorregar.
Quando ele saiu pelo portão, ela deixou seu esconderijo e correu, saindo também. Já do lado de fora, percebeu que era tarde, ele tinha aparatado.
Então sentiu uma presença inesperada, uma sombra se movimentando atrás de si na escuridão. Tinha sido seguida, e definitivamente seria expulsa. Se virou. Antes que pudesse ver qualquer coisa, sentiu uma mão se fechando sobre o seu braço, e seu pés deixaram o chão. Tudo ficou escuro e começou a girar.
Ela sabia o que estava acontecendo. Tinha passado pela mesma experiência no tinha anterior. Alguém estava aparatando e levando-a consigo.
Sentiu seus pés tocando o chão e uma onda de pânico a invadiu. Começou a tremer violentamente e suar frio, como quando esteva doente. Não queria abrir os olhos de maneira alguma. Queria que tudo fosse um sonho.
- Abra os olhos. – uma voz fria falou. –
Com medo, ela obedeceu. Era o homem que ela estava seguindo. Ele sorriu e ela soube que estava com sérios problemas dessa vez. Se encolheu institivamente. Calmamente, ele tirou a capa e depois de jogá-la sobre a cama, acendeu a lareira com um movimento de sua varinha.
Narcisa o observou, paralisada. Ele era lindo, sem dúvida, mas estava bastante pálido. Ela sentia um misto de atração e medo por sua figura.
Ele pegou um cobertor e enrolou na garota, embora muito provavelmente soubesse que não era de frio que ela tremia, forçando-a a sentar-se na cama em seguida.
Segurando os braços de Narcisa com firmeza, ele ajoelhou-se e ficou bem próximo dela.
- Não tenha medo. Eu não vou machucá-la.
- Que... quem é você? – ela gaguejou. –
- Você deveria saber estava. Estava me seguindo.
Ela não respondeu. Não sabia se era pior se sua suspeita se confirmasse ou não.
- Eu sou Lord Voldemort. – os olhos dele brilharam assustadoramente enquanto ele proferia as palavras. – E está tudo bem, eu não estou zangado por você ter me seguido, Narcisa.
- Como você sabe meu nome? – ela perguntou horrorizada antes que pudesse pensar. –
- Eu a reconheci no exato momento em que eu a vi.
- Você me viu no casamento. – Narcisa deduziu. –
- Sim. Mas eu havia conhecido você muito antes, nas memórias da Bella enquanto eu ensinava oclumência pra ela. Você está em uma boa quantidade de pensamentos na cabeça da sua irmã. E mesmo que eu não a tivesse visto antes, eu saberia. O mesmo brilho nos olhos, o mesmo sorriso, o mesmo andar, a mesma maneira de jogar o cabelo, o mesmo ar calmamente arrogante. Eu estou fascinado. –
Os longos e bancos dedos dele percorriam a face de boneca dela, que continha uma expressão céptica e ainda apavorada. Ele parecia estar hipnotizado.
- Desculpe, Narcisa. – Voldemort falou de repente, rindo, como se acordasse de um transe. – Eu fui rude. Não lhe ofereci nada para beber. Eu vou buscar.
Narcisa queria fugir dali imediatamente e correr até o castelo, onde estaria segura, mas suas pernas não obedeceram. Voldemort voltou minutos depois, trazendo duas canecas de cerveja amanteigada. Depois de entregar uma à Narcisa, sentou-se um uma poltrona, de frente pra ela e sorriu.
- Beba.
Ela obedeceu, mas nem chegou a sentir o gosto. Ele bebia um pouco e a observava por longos momentos, sorrindo.
- Pare de tentar ler minha mente. – o tom dela era frio e despreocupado. –
- Você tem medo que eu consiga?
- Por que você me trouxe pra cá? – ela perguntou impaciente. -
- Eu queria conhecê-la. Eu nunca tive a oportunidade de conversar com você. Eu queria saber porquê você é tão especial pra Bella. E é claro, eu achei tão engraçado você me seguir. Eu não pude resistir.
- Não é só isso. Não me subestime dessa maneira.
Ele respirou fundo, paciente. Narcisa não esperava que ele fosse responder. Ela sabia que ele estava manobrando uma maneira de fugir do assunto, e ainda tentava entrar em sua mente, mas ela não deixaria. Esvaziou sua mente.
- Eu queria saber porquê a Bella é tão especial pra você. – ela acrescentou depois de um tempo. –
Ele sorriu.
- Ela é uma aluna fascinante. Uma colaboradora perfeita. Eu me orgulho de ensiná-la.
- Sei. Seu mais novo projeto. Uma arma perfeita e letal nas suas mãos.
O sorriso desapareceu da face dele.
- Você a manipula e a usa. Ela é seu brinquedinho. Dizendo a ela o que pensar, o que fazer, com quem se casar. – Narcisa falava sem pensar. – E um dia você vai se cansar. Ela nunca vai ter sido nada tão importante pra você, mas você é muito importante pra ela, sabia? Ela te ama. Ela te adora cegamente, como um Deus.
- Eu nunca vou descartá-la, Narcisa. Eu sei reconhecer a importância da lealdade de uma pessoa como a Bella. Eu não vou machucá-la dessa maneira, eu prometo.
- Eu não acredito. Eu não sou ingênua como você pensa, ou como a Bella pensa.
- Eu vejo agora. Você é muito mais inteligente do que eu imaginei, muito mais observadora. Você já pensou em se juntar a sua irmã?
- Eu penso que sim. Eu concordo com suas idéias e seus métodos. Mas não espere de min a mesma servidão cega da Bella.
- Não a julgue dessa maneira. Você também está apaixonada, entende muito bem.
Ela crispou os lábios e abaixou a cabeça.
- Eu amo a minha irmã mais que tudo. – disse ela, baixinho. –
Voldemort levantou-se e caminhou até ela, ajoelhando-se perto da cama novamente.
- Eu sei. – ele a olhou nos olhos por um longo tempo, dessa vez ela deixou que ele visse o que quisesse, não tinha mais nada a esconder. – Eu vejo uma menina com sede de aprender, disciplinada, ambiciosa, leal e... brilhante. – ele completou um sorriso sedutor. – Você terá um futuro brilhante ao meu lado, Narcisa. Você terá tudo que sempre quis e estará ao lado das pessoas que você tanto ama. Eu quero você ao meu lado.
Ele sorriu e pela primeira vez naquela noite, ela sorriu de volta.
***
Em seu escritório, Dumbledore andava de um lado para o outro. Haviam se passado várias horas desde que Horace tinha lhe contatado sobre o sumisso de Narcisa, e depois de várias buscas no castelo, eles ainda não tinham encontrado nada.
Dumbledore foi tirado de seus devaneios por uma coruja parda que bicava ferozmente a janela. Ele abriu a janela deixando o ar gelado penetrar e se esticou para tirar o pedaço de pergaminho da perna da coruja.
Sentado na sua escrivaninha, ele abriu a carta. A medida que lia, sua expressão de horror aumentava. Dumbledore nunca tinha ficado tão assustado. Nunca tinha passado por tal situação anteriormente também.
“Caro Dumbledore,
Resolvi fazer a gentileza de lhe avisar. Estou com Narcisa. Estou adorando a oportunidade de conhecer melhor a irmã de Bellatrix. Ela é uma menina doce e adorável. Ela está bem, mas não venha atrás de min, ou posso ter de machucá-la.
Lord Voldemort.”
Dumbledore mal podia acreditar no que seus olhos estavam vendo. Tom havia pego uma de suas alunas, ele a estava usando para se vingar. Lívido, saiu correndo de seu escritório e foi procurar Slughorn.
O encontrou no saguão de entrada, acompanhado das professoras McGonagall e Sprout.
- Narcisa está extrapolando todos os limites da minha paciência esse ano. – McGonaggal comentava. –
- Nós vamos procurar lá fora. – Slughorn explicou assim que viu Dumbledore. – Ela pode ter entrado na floresta novamente.
- Ela não está na floresta. Ela não está em Hogwarts.
- Você já sabe onde ela está? – Sprout perguntou. –
- Sim.
Trêmulo, ele estendeu a carta. Os três juntaram suas cabeças para ler. Sprout soltou um gritinho agudo de horror, McGonagall levou a mão a boca, branca como um fantasma, enquanto Slughorn murmurava repetidamente:
- Impossível. Impossível.
- Infelizmente, é muito possível meu Horace.
- E como ele entrou aqui?
- Ele veio requisitar o cargo de professor. Deve Ter persuadido Narcisa a sair do castelo e aparatado.
- Temos que fazer alguma coisa. – McGonagall exclamou. –
- Você leu a carta, se nós formos atrás dele, ele pode machucar a menina.
- E se não formos ele pode machucá-la de qualquer maneira.
- Eu acho que não. De acordo com os rumores, Tom tomou Bellatrix como sua aprendiz assim que ela tirou os pés de Hogwarts. Por isso eu não acredito que ele vá machucar Narcisa. Fazendo alguma coisa contra a irmã que Bellatrix tanto adora, ele poderia faze-la mudar de lado e usar tudo que ele a ensinou contra ele.
- Você acha que ele se importa em perder um servo?
- Bellatrix não é apenas uma serva. Ela é como um projeto escolar no qual ele vem trabalhando há anos. Vocês conhecem ele. Acham que ele jogaria o projeto quase terminado no lixo por nada? Tanto tempo e dedicação desperdiçados? Não. Ele espera que ela se torne uma arma poderosa nas mãos dele.
- Ele provavelmente não vai traze-la pra cá. Então o mais óbvio é que ele a leve direto para Bellatrix. – McGonagall deduziu. –
- Pobre garota. Deve estar assustada. – Sprout murmurou. –
- Eu duvido. Tom deve tê-la convencido. Ele não gostaria nada de viajar com uma refém hostil.
- Então tudo o que podemos fazer é esperar?
- Sim, Minerva. Esperar.
N/A: Talvez eu tenha viajado um pouco nesse capítulo, mas vai ser daí que eu vou estruturar a parte mais importante da história. Espero que tenha ficado bom. Comentem.
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