Tempo de perdoar, tempo de ama
A neve tinha alcançado dois metros de altura naquele dia, obrigando Narcisa a ficar trancada dentro de casa. Apesar disso, ela estava feliz. Sentada na biblioteca, lendo o livro que Severo lhe dera, ela pensava que em alguns dias estaria em Paris com Lúcio.
O garoto tinha a acompanhado até em casa e pedido formalmente pra viajar com ela aos pais dela, que não se opuseram. Andrômeda tinha misteriosamente desaparecido, mas ninguém ligava.
Observando as fotografias das bailarinas e seus movimentos graciosos, Narcisa sonhava em estar naqueles palcos, dançando.
- Não desista. – alguém sussurrou no seu ouvido. –
Narcisa assustou-se e deu um pulo, virando-se para ver quem era, em um reflexo espontâneo, porquê ela facilmente reconhecera a voz.
- Não está feliz em me ver, Cissy?
- Como vai, Bella? – Narcisa perguntou friamente. –
- Você não está feliz. O que eu fiz?
- Além de esquecer meu aniversário?
Narcisa sabia que Bellatrix entenderia que era a única coisa errada que tinha feito e se arrependeu pela má formulação da pergunta. Mas realmente não tinha a intenção de formular a lista de coisas que a presença de Bellatrix implicava.
- Eu não esqueci o seu aniversário, Cissy. Você é minha melhor amiga, eu não esqueceria. Mas eu não podia lhe enviar nada de onde eu estava.
- Onde você estava? – Narcisa perguntou, ainda sem se convencer. –
- Eu não posso te contar.
- Claro. Estava trabalhando para o Lord das Trevas.
Bellatrix olhou para Narcisa, que não sabia dizer se era surpresa nos olhos da irmã ou se ela pularia no seu pescoço.
- As pessoas na escola falam, Bella.
- Não dê ouvidos. – era uma ordem. –
- Por quê? É verdade, não é?
Bellatrix não respondeu, apenas levantou-se e saiu. Narcisa voltou-se para o seu livro, mas não conseguiu se concentrar. Seu rosto estava ardendo em brasa e ela podia sentir todos os seus músculos pulsando. Tentou respirar fundo algumas vezes.
Continuou lendo o livro, mas não assimilava nada, de forma que as histórias das grandes peças e das grandes bailarinas bruxas passavam por seu cérebro sem deixar vestígio.
Bellatrix voltou, parou de frente para Narcisa e lhe estendeu um pacote. Narcisa pegou, sem cerimônia e sem entusiasmo. Abriu. Era um perfume que ela queria há muito tempo. Caro, maravilhoso.
- Obrigada. – ainda friamente. – Devo considerar presente de aniversário ou de Natal?
- Natal. Eu vou compensar seu aniversário com algo inesquecível.
- Mal posso esperar. – balbuciou com deboche. –
- Soube que você está indo para Paris com Lúcio.
- Sim. Assistir o “Lago dos Cisnes”.
- Observe bem o movimento das bailarinas, você está meio enferrujada.
Narcisa olhou para ela sem entender.
- Eu consegui um teste pra você na famosa London Royal Ballet.
Narcisa pulou no pescoço da irmã da mesma maneira que tinha feito com Lúcio e as duas caíram no chão, então ela começou a beijar a irmã no rosto.
- Mas como eu vou freqüentar a Royal Ballet e Hogwarts?
- Você vai ter que freqüentar a escola nas suas férias de Hogwarts até que tenha terminado, e possa se dedicar inteiramente ao Ballet.
- Bella, eu não danço há anos. Eu não vou conseguir. Talvez seja melhor voltar a escola de ballet pra bruxos por um tempo...
- Mas você não pode perder a oportunidade. É uma escola de trouxas, eu não tenho nenhuma influência lá, foi muito difícil lhe conseguir esse teste. É importante dançar com os trouxas. Lhe ensina a fazer tudo da maneira mais difícil, a ter disciplina, isso é importante no ballet. Além do que, as grandes bailarinas bruxas sempre acabam tendo que dançar em espetáculos trouxas, ou ficam sem trabalho.
- Eu não acho que eu vá gostar de ficar com os trouxas, Bella. Isso é péssimo. Me juntar aos trouxas ou encerrar meu sonho.
- Eu detesto trouxas. Mas eu fui lá. Eu corri atrás pra você, só porquê é seu sonho. Então pelo menos tente, Cissy.
- Eu vou tentar.
Ela voltou a beijar a irmã e depois as duas se separaram, mas continuaram deitadas uma do lado da outra, no chão frio, em silêncio por um longo tempo.
- Eu realmente me tornei uma comensal da morte. – Bellatrix finalmente falou. –
O coração de Narcisa pulou uma batida e ela virou o rosto tão rápido que pensou ter quebrado o pescoço. Era uma sensação estranha ouvir aquelas palavras saindo da boca da irmã. As duas ficaram se olhando.
- Você tem praticado oclumência? – Bellatrix perguntou de repente, assustada. –
- Você estava tentando ler minha mente?
- Sim, porquê você não respondia. Eu precisava saber o que você estava pensando.
- Aprenda a perguntar. Porquê eu não vou deixar mais você ler minha mente.
- O que você está tentando esconder, Narcisa?
- Nada. Eu só não quero você usando o que encontra na minha mente contra min.
- Eu nunca faria isso.
- Você faz isso o tempo todo. Você fica procurando maneiras de me manipular. Pra min, chega.
- Você está apaixonada. É isso que está tentando esconder tão desesperadamente.
- Sim, eu estou. Por Lúcio. Não é segredo. Não precisa ler minha mente. Eu teria dito se você tivesse perguntado, ou ao menos se tivesse surgido a oportunidade.
- Eu esperava isso de Andrômeda, mas não de você.
- Qual é o problema de se estar apaixonada Bella?
- Te enfraquece.
- Eu não acho que eu esteja mais fraca. Muito pelo contrário. Eu aprendi muito com Lúcio e Severo esse ano.
- Severo? Aquele seu amiguinho que não lava o cabelo? Tenha dó. Você tem a min.
- E o quê você tem de tão especial?
- Eu aprendi direto com o Lord das Trevas. Eu conheço feitiços poderosos que esse seu amiguinho nunca saberá.
- Bella, por que você não assume sua paixão pelo Lord das Trevas?
Bellatrix ficou branca e muda.
- Você não pode me enganar. Como você mesma disse, eu sou sua melhor amiga. Eu sei que você só se casou com o Rodolfo porquê ele lhe aconselhou. Ele escolheu Rodolfo e exaltou todas as qualidades dele, não você.
- Rodolfo é um ótimo marido. Nós somos grandes amigos.
- Mas você ama o Lord das Trevas.
Narcisa levantou-se e saiu da sala. Bellatrix estava lívida. Ouvir aquilo da boca de uma criança era irritante.
Narcisa e Bellatrix não voltaram a se falar e se evitaram o resto da semana. No Sábado de manhã, Lúcio foi buscar Narcisa e os dois usaram uma chave de portal para viajar para Paris.
Foi uma noite mágica. Narcisa ficou encantada com as bailarinas. Depois eles passearam por Paris e jantaram em um restaurante maravilhoso. Se tinha uma coisa que Narcisa não podia reclamar com relação aos trouxas, era com relação a sua comida. Principalmente a francesa.
Quando retornou, no Domingo, Narcisa encontrou Bellatrix sentada no jardim, que estava sob neve, a esperando. Se despediu de Lúcio, que desaparatou e sentou-se ao lado da irmã, jogando o casaco de pele sobre o ombro dela.
- Já vai amanhecer. O nascer do Sol é belo.
- Você está aqui fora congelando por causa do nascer do Sol? – Narcisa perguntou incrédula. –
- Não. Eu estava esperando por você.
As duas não falaram mais nada. Logo, o Sol estava nascendo e as duas observavam, hipnotizadas. Então entraram em casa, pediram ao elfo que preparasse chocolates quentes e foram se aquecer em frente a lareira da biblioteca. Depois de tomar um grande gole de seu chocolate, Narcisa se virou para a irmã.
- Bella?
- Ãhn? – ela respondeu sem tirar os olhos do fogo. –
- No verão, Rabastan, Andrômeda, Sirius e eu encontramos algo realmente estranho na casa dos Lestrange. – Narcisa escolhia cuidadosamente as palavras. – Nós nos perdemos na mansão, acho que entramos em algum tipo de passagem secreta, e fomos parar em um lugar muito estranho.
Agora Narcisa tinha a total atenção de Bellatrix.
- Era cheio de água na altura do meu joelho e teve uma hora que nós vimos uma luz realmente brilhante ao longe...
- Então foram atacados por dementadores. – Bellatrix completou com cara de espanto. –
- E inferis. – Narcisa acrescentou. –
- Vocês são loucos? Não tente me enganar, eu sei que vocês não chegaram lá por acaso, eu já tinha flagrado Rabastan bisbilhotando. Vocês poderiam ter morrido.
- Se não fosse pelo seu livro, eu acho que nós não teríamos saído de lá. Eu não teria atrasado os inferis e eu teria traduzido as runas, mas jamais teria entendido a metáfora e jamais saberia qual era a resposta da charada.
- Eu sei, Narcisa. – Bellatrix exclamou impaciente. - Eu te dei o livro porquê temia que vocês fossem se meter em confusão.
- Que lugar era aquele? O que tinha lá?
- Eu só posso dizer que vocês não estavam mais na mansão Lestrange, ou em qualquer lugar perto dali.
- Bella, você precisa confiar em min.
- Quem mais sabe?
- Além de nós quatro, Lúcio e Severo.
- Ótimo. Isso são seis. Mais os amiguinhos de Sirius, que já devem saber, são mais três.
- Eu poderia dizer que eu não vou contar pra ninguém. Mas você sabe que eu confio tudo ao Lúcio e ao Severo. E eu não acho que você deva se preocupar. Eles me ensinaram tudo o que eu sei. Oclumência, legilimência, magia negra.
- Vocês tem estudado magia negra?
- Sim. Eles estudam há mais de um ano e agora estão me ajudando.
Bellatrix pensou muito.
- Eu não deveria te contar Narcisa, mas eu acredito que você será sensata com relação a essa informação. Eu estou confiando em você, Cissy. – ela se sentou de frente para Narcisa e ajeitou a postura. – Se vocês tivessem andado mais em direção a luz branca, vocês teriam morrido. Existe um complexo sistema de magia negra ali, pra proteção. Quanto mais perto você chega, mais perigos te rodeiam. Você tem que estar pronto pra lidar com cada um.
- O que esse sistema protege?
- A verdade é que nem eu sei direito. Nem o pai do Rodolfo, que é quem está guardando aquele lugar e aquela passagem secreta, sabe exatamente o que o Lord das Trevas guarda lá. A verdade é que é mais de uma coisa. Além do super segredo do Lord das Trevas, tem uma chave de portal que dá no quartel general dos comensais. Nós não podemos aparatar lá e aquela chave foi criada pelo próprio Lord das Trevas.
- Existem outras?
- Claro. Bruxos mais velhos, do alto escalão no exército do Lord, todos possuem a sua. Mas você não só precisaria ler o livro inteiro, como precisaria de muitas aulas e orientação pra chegar a essa chave. Você nunca saberia o que ela é. E isso eu não vou te contar.
Narcisa estava mordendo os lábios de tanta curiosidade. Quando Bellatrix encerrou seu relato, ela parou e sentiu o sangue escorrendo para dentro de sua boca. Levantou-se correndo, antes que a irmã percebesse, e foi cuspir.
A noite de Natal chegou. Os Black deram uma festa e convidaram todas as importantes famílias, as mesmas que tinham sido convidadas ao casamento. Narcisa sentia que Severo tivesse preferido ficar no castelo, mesmo depois que ela insistira que sua família adoraria receber o herói de sua filha. E finalmente a ausência de Andrômeda tinha sido notada.
Os pais de Narcisa tinham perturbado Bellatrix até que ela saísse para procurar Andrômeda, coisa que ela não fez, Narcisa soube mais tarde. Tinha ido visitar Rodolfo e tinha voltado dizendo que não tinha encontrado Andrômeda e que esperava que ela não voltasse nunca mais, de qualquer forma.
Quando perguntada por Narcisa se ela estava preocupada, Bellatrix apenas riu ruidosamente.
- Andrômeda está bem, Cissy. Não se preocupe.
- Como você tem certeza?
- Porquê Andrômeda é boba e eu entro nos pensamentos dela facilmente. Ela tem estado apaixonada por um sangue ruim chamado Tonks, ou alguma coisa parecida. Eu aposto quanto você quiser que ela está com ele e vai aparecer quando tiverem que voltar a Hogwarts. Ela valoriza os estúpidos exames mais que tudo.
Narcisa então parou de pensar em Andrômeda e voltou a pensar em Lúcio. Ele viria para a festa e ela estava se arrumando especialmente pra ele.
Ele chegou cerca de meia hora depois que ela tinha descido, ela estava cumprimentando os convidados. No casamento todas as atenções estiveram voltadas para Bellatrix, mas agora a beleza nórdica de Narcisa conquistava todos os olhares e ofuscava a irmã, que estava agradecida por poder ficar sentada em paz na biblioteca conversando com Rodolfo.
Assim que Lúcio se juntou a ela os dois começaram a ser alvos de perguntas, todos comentavam que eles formavam um lindo casal. Abraxas, pai de Lúcio, estava conversando com o pai de Narcisa. E ela sabia o que isso significava.
Lúcio lhe entregou seu presente de Natal e depois que ela guardou no quarto, os dois saíram e ficaram namorando. Estavam se beijando quando uma sombra parou ao lados deles. Lúcio percebeu e parou de beijar Narcisa.
- O que você quer Sirius? – ele perguntou irritado. –
- Estão chamando vocês para o brinde e a ceia.
Eles entraram, mas voltaram a fugir assim que tiveram uma brecha. Desta vez Bellatrix e Rodolfo se juntaram a eles.
- Quais são suas intenções com a minha irmã? – Bellatrix brincou. –
- As melhores e mais sérias possíveis.
Rodolfo catou alguns galhos e eles ascenderam uma fogueira para se aquecer. Narcisa entrou e pegou o casaco de pele, no qual ela e Bellatrix se enrolaram.
- Eu ouvi dizer que você tem muito interesse em magia negra, Lúcio. – Bellatrix comentou. –
- Sim. Eu tenho.
- Então devo supor que você se interessa pelo trabalho do Lord das Trevas? – Rodolfo perguntou. –
Lúcio olhou para Narcisa. Sabia que o assunto a incomodava. Mas ela não enviou nenhum sinal de perturbação.
- Sim, e muito. Pra falar a verdade, eu não consigo pensar em nenhuma outra ocupação para assumir depois de Hogwarts.
- Então você pretende se tornar comensal da morte? – Bellatrix debochou. – É muito difícil se qualificar pra isso, Lúcio. Você tem que mostrar uma certa gama de habilidades, entre outras coisas.
- Eu imagino. Frieza, lealdade, devoção, disciplina. Eu sei que tenho tudo isso. Você acha que eu me importo com o estúpido quadribol? Jamais. Mas não existe melhor maneira de treinar suas habilidades de liderança, de planejamento, de concentração. Sua dedicação, sua disciplina. E pergunte a quem quiser, eu sou muito bom.
Seus olhos encontraram os de Narcisa. Ela finalmente havia compreendido. Seus olhos irradiavam orgulho.
- Eu ouvi falar. – Rodolfo comentou. – Mas eu prefiro esperar até que vocês ganhem.
Bellatrix logo resolveu que tinha que provar por si mesma se Lúcio tinha realmente algo aproveitável para o Lord, então eles começaram a discutir hipóteses e planos. Lúcio era realmente um líder e um planejador nato.
Mas ela foi realmente surpreendida por sua irmã. Ela veio com soluções realmente brilhantes para situações complicadas. Ela e Lúcio se completavam. Onde Lúcio deixava a lacuna, a garota ia lá e preenchia. Eles seriam perfeitos juntos, agindo para o Lord das Trevas.
- Eu realmente pretendo falar de vocês para o Lord das Trevas. – Bellatrix finalizou, enquanto eles voltavam a mansão. –
Já estava tarde e o elfo tinha vindo avisar que os Malfoy desejavam partir. Bellatrix e Rodolfo também seguiriam viajem direto da festa e já haviam se demorado demais. Depois de se despedir dos três, Narcisa, cansada, subiu para o seu quarto e dormiu como um anjo.
N/A: Por favor, comentem!!!
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