Enfrentando o Erro



Narcisa se revirou na cama inquieta. Teria sido tudo um sonho? Ficou ali, de olhos fechados, relembrando cada segundo, cada sensação, envolta a uma felicidade maravilhosa.
Quando abriu os olhos percebeu que estava sozinha no dormitório. Levantou-se e mexeu no malão. Encontrou o espelho que Bellatrix lhe dera. Uma enorme vontade de chamar a irmã e lhe contar tudo. Jogou o espelho rapidamente de volta no malão, se condenando por continuar tão ligada a Bella.
Quando chegou a sala comunal, estava vazia. “O que será que aconteceu com todo mundo?”, pensou. Foi para o salão principal, que também estava vazio, exceto por alguns poucos alunos que comiam apressados.
Percorreu com os olhos a mesa da Sonserina. No final, Severo e Lúcio estavam sentados sozinhos e conversavam, contentes. Ela se juntou a eles.
- Bom dia.
Discreta, deu um beijo carinhosos na bochecha de Lúcio, que retribuiu da mesma forma.
- O salão está praticamente vazio, vocês não precisam ser tão reservados.
- Lúcio já te contou tudo então?
- Claro. Se eu não contasse, ele descobriria.
- Não use legilimência em nós, Severo.
- Nunca. Eu conheço vocês dois bem demais pra ter que usar um truque tão sujo. Eu prefiro ler expressões e olhares do que ler mentes.
Lúcio estava colocando algumas salsichas que cheiravam muito bem no prato de Narcisa. Ela deu mais uma olhada em volta.
- Cadê todo mundo?
- Primeiro dia de neve. – Severo respondeu. –
Ela começou a comer e Lúcio lhe serviu um pouco de suco de abóbora.
- E cadê o Rabastan?
- Tá lá fora. – Lúcio respondeu depois de trocar um longo e significativo olhar com Severo. –
- Essa troca de olhares de vocês dois significou o quê?
- Nada. Apenas que nós teremos que ir atrás dele, porquê nós vamos ter que conversar. E não será nem um pouco agradável. – Lúcio explicou. –
- Nem me fale, que meu estômago começa a se revirar. Fui eu quem fiz um discurso sobre ser leal aos amigos no outro dia.
Ninguém falou nada. O que tinham feito não tinha sido certo, mas eles não puderam se controlar. Narcisa não gostava nenhum um pouco de neve, então voltou para a sala comunal com Severo e se enrolou em vários cobertores, no mesmo sofá de sempre, enquanto Severo acendia a lareira.
Passado um tempo que parecia ter sido uma eternidade, Lúcio e Rabastan entraram. Narcisa ainda tremia de frio, no entanto estava molhada de suor.
Severo sentou-se do lado dela de maneira que Rabastan não pôde se sentar perto dela. Persistente, ele deu a volta para beija-la, mas ela se jogou em cima de Severo e se encolheu.
- O que houve, linda? Tá tudo bem?
- Rabastan, agente precisa conversar.
- Eu sei Lúcio. Você já disse isso. Conversar sobre o quê?
Todos se entreolharam. Ninguém sabia o que falar.
- Não importa. Eu já sei. Você convenceu a Narcisa a ficar com você e ela vai terminar comigo, não é?
Todos ficaram em silêncio.
- E não me admira nada que você tenha ficado do lado deles, Severo.
- Você é meu amigo, Rabastan. Mas eles são meus melhores amigos. Eu jurei que apoiaria qualquer um que fizesse a Narcisa feliz. Ela estava feliz antes, com você, e eu apoiei. Agora ela não está mais. E tem o meu total apoio.
- Eu não podia simplesmente dizer: Eu não vou mais amar. E o amor iria embora. Eu tentei Rabastan. Você sabe que eu tentei. – Narcisa tentou explicar. -
- Eu pensei que você estava feliz ao meu lado.
- Eu também pensei que estava tudo bem. Mas é só eu estar com Lúcio pra perceber que sem ele minha felicidade fica incompleta.
- Eu não fiz nada todo esse tempo. Eu deixei vocês dois viverem em paz, Rabastan. O quê aconteceu, foi um acidente. Eu não pude controlar.
- O quê aconteceu?
- Eu e a Narcisa nos beijamos, ontem, depois do jogo.
Rabastan ficou branco, depois vermelho. E a cor da sua pele já estava tendendo pro roxo. Seus olhos estavam cheios de fúria e magoa.
- Vocês me traíram dessa forma suja?
- Me desculpe. – Narcisa falou. – Mil perdões. Nós perdemos a cabeça.
Rabastan pegou a primeira coisa que viu e jogou longe. Narcisa se encolheu e Severo a abraçou. Lúcio foi na direção do amigo, mas ele jogou uma cadeira em cima dele. Desviada por um feitiço de Severo a tempo.
Enquanto todos se recuperavam do susto, ele saiu correndo, furioso. Lúcio fez menção de ir atrás, mas Severo o segurou pelo braço.
- Deixa que eu vou. Fica com a Narcisa.
Ele assentiu. Assim que o garoto saiu, Lúcio se sentou ao lado de Narcisa. Ela estava tremendo. Ele passou a mão pelo rosto dela e sua expressão ficou ainda mais preocupada.
- Narcisa, você está com febre. É melhor eu levá-la a ala hospitalar.
Ela se desenrolou dos cobertores e foi aí que ele viu que ela estava suada, sua pele brilhava a luz das chamas crepitando. Ele a pegou nos braços em um gesto ágil e foi o mais rápido possível para a ala hospitalar.
No caminho, Narcisa desmaiou.
- Narcisa, por favor, acorda. Por favor. Narcisa. – ele tentava reanimá-la desesperado. –
Correu ainda mais. Ao cruzar o saguão de entrada deu com Severo vindo lá de fora.
- O que aconteceu?
- Ela está ardendo em febre. E agora ela desmaiou.
- Meu Deus.
Os dois seguiram correndo. Quando chegaram colocaram a menina em uma cama e Madame Pomfrey veio atendê-la.
- Ela vai ficar bem? – perguntava Lúcio a cada 5 segundos. –
- Saiam daqui. Eu estou tentando atendê-la.
Severo puxou Lúcio para uma outra cama e o forçou a se sentar.
- Calma. É só uma febre. Madame Pomfrey vai curá-la num minuto.
- Você não ia falar com Rabastan?
- Ele não quis falar comigo. Acho melhor sairmos e respirarmos um ar. Você também não parece nada bem.
Lúcio estava branco como um fantasma e suava. Severo o puxou para fora e o encaminhou para o lado de fora do castelo. Ele parecia estar em transe. Como se não bastasse a briga com Rabastan, agora Narcisa estava mal e ele não sabia o quê ela tinha. Os dois se sentaram nos degraus e respiraram fundo. O ar estava gelado e perfurava seus pulmões. Doía, mas era melhor do que ar viciado das masmorras.
Ficaram calados por um longo tempo, apenas refletindo.
- Narcisa e eu vamos sofrer por conta desse beijo. A escola toda vai comentar. Será duro pra ela.
- Ela vai sobreviver. A escola toda comenta coisas muito piores que nem chegam aos ouvidos dela.
- O quê por exemplo?
- Que Bellatrix se tornou comensal da morte e está matando gente por exemplo. Bom, ela sabe agora que o imbecil do Tiago jogou na cara dela.
Lúcio olhou surpreso. Ao mesmo tempo sua uma raiva incontrolável se espalhou pelo seu rosto. Ele ficou rígido. Narcisa tinha omitido esse pequeno detalhe da história.
- E como ela reagiu? – ele perguntou tentando se controlar. Não queria descontar em Severo. -
- Bem. Na hora pareceu que tinham jogado água congelada na cara dela, ela entrou em pânico. Ela sempre soube, mas ouvir isso da boca de alguém é diferente. Depois ela se recuperou. Mas eu sei que está corroendo ela por dentro.
- Eu vou matar esse idiota do Tiago. Quem ele pensa que é?
- Eu já joguei um feitiço bem ruim nele. Mas ele merece muito mais por atacar a Narcisa daquela maneira.
Os dois ficaram em silêncio por mais um longo tempo. Provavelmente pensando em maneiras bem ruins de dar o troco em Tiago.
- Eu acho melhor nós irmos ver como ela está. – foi Severo quem finalmente falou. –
- É. Você tem razão. Vamos.
Os dois voltaram a ala hospitalar. Narcisa ainda estava desacordada, mas Madame Pomfrey garantiu que ela estava bem e poderia ir para seu próprio dormitório, assim que acordasse. Lúcio e Severo ficaram do lado dela até que ela acordasse. Então Lúcio a carregou de volta para as masmorras.
Ela estava cansada e um tanto zonza. Seu estômago se revirava e ela rezava para não encontrar acidentalmente com Rabastan. Ela foi direto para o dormitório e com medo de que o rumor já tivesse se espalhado, se enfiou na cama e puxou as cortinas antes que suas companheiras de quarto a tivessem visto.
No dia seguinte, quando desceu, Lúcio e Severo a estavam esperando. Eles conversavam baixo e jogavam xadrez bruxo e sorriram quando a viram.
- Você está melhor? – Lúcio perguntou. –
- Um pouco.
Eles se levantaram imediatamente e Lúcio a abraçou.
- Era tudo o que eu precisava pra ficar boa logo.
- Tudo?
- Sim. Mas eu aceito um beijo também.
Ele riu e a beijou. Os três seguiram para o salão principal. Narcisa e Lúcio queriam ser discretos, então andaram afastados. Mas mesmo assim o salão inteiro se virou para o trio quando eles entraram.
- Que desconfortável. – resmungou Severo. –
- Vocês acham que todo mundo já sabe que eu traí o Rabastan?
Narcisa parecia miserável com aquilo tudo. Rabastan estava sentado na ponta da mesa, com Avery. Eles resolveram sentar distante. Apesar de saber que isso só pioraria as coisas, seria hipocrisia e desrespeito sentar ao lado de Rabastan como se nada tivesse acontecido.
Narcisa estava sem fome. Os garotos pareciam compartilhar da falta de apetite da garota.
- Narcisa, coma alguma coisa. Você está doente. – pediu Severo. –
- Severo tem razão. Você está fraca. Precisa recuperar suas energias.
Ele puxou um prato e colocou pouca coisa pra ela. Ela começou a beliscar e mexer na comida.
- Se você não parar de brincar com a comida eu vou te dar na boca. – Lúcio sussurrou com um sorriso no rosto. -
Ela sorriu e tentou comer mais. Andrômeda entrou no salão e veio correndo até eles.
- Você está bem Narcisa?
- Sim.
- Todos estão falando que você estava muito doente ontem. Lúcio até teve que te carregar porquê você estava inconsciente.
- Já passou. Obrigada pela preocupação, Andie.
A menina se afastou em direção a um grupo de meninas do sétimo ano.
- Então, era disso que todos estavam falando. – ponderou Severo enquanto tentava empurrar pela garganta uma torrada. –
- Bom, não importa. Se ninguém sabia, sabem agora.
Ela tomou um longo gole de suco de abóbora.
- Vamos embora?
- Vamos, claro.
Os três se levantaram e saíram apressadamente. Mais um pouco a frente, se separaram e Narcisa e Severo seguiram para a aula de poções. Lúcio tinha DCAT, com Rabastan.

***

Rapidamente as fofocas sobre o rompimento de Rabastan e Narcisa se espalhou por toda escola. Apesar da raiva, Rabastan tinha sido um amigo, e não tinha contado a ninguém sobre a traição de Narcisa. Discrição pela qual ela estava muito agradecida, pois sua semana havia sido desconfortável e constrangedora o suficiente sem os comentários maldosos que viriam quando a verdade se espalhasse.
Ela e Lúcio procuravam ser discretos e quase não ficavam juntos. Severo havia brigado umas tantas vezes com Tiago, o quê se tornara um hábito infantil que irritava Narcisa, apesar dela ter se divertido bastante quando um privada que ele estava limpando explodiu.
Como felizmente eles tinham conseguido pôr os deveres em dia, no sábado combinaram de treinar. Narcisa e Severo tomaram café da manhã e esperaram Lúcio voltar de mais um tentativa inútil de desculpar com Rabastan e foram para a sala precisa.
- Eu acho que nós teremos um probleminha. – comentou Lúcio. –
- Que probleminha?
- Eu e Severo estudamos arte das trevas juntos desde o ano passado. Você está atrasada.
- Bom, se isso ajuda, a Bellatrix me ensinou um monte de azarações e maldições. Nós costumávamos duelar.
- Ajuda.
Quando chegaram, Lúcio passou três vezes em frente a tapeçaria e uma porta apareceu. Eles entraram.
Primeiro, um treinaram um pouco de oclumência e ensinaram Narcisa a usar legilimência. Severo ensinou a garota como usar os feitiços não-verbais. Depois, repassaram algumas azarações e maldições e ensinaram a Narcisa aquelas que ela não conhecia e se revezaram em duelos. Quando pararam, estavam exaustos. Tinham passado quatro horas treinando.
Narcisa deitou no chão frio e os garotos resolveram se sentar e descansar um pouco também. Depois de meses, uma coisa ocorreu a garota.
- Vocês conseguem fazer um patrono com forma?
- Sim. – Severo respondeu. – Não é magia negra, mas pode ser útil. Por quê?
- Mas eles ensinam isso em Hogwarts?
- Não. Por quê? – Lúcio perguntou curioso. –
- Porquê a Andrômeda conseguiu um patrono perfeito esse verão. Eu pensei que fosse das aulas. Porquê é a Andrômeda, ela não é muito inteligente, mas agora...
- Pera aí, Narcisa. Você tá me dizendo que a Andrômeda conseguiu um patrono com forma?
- A pergunta não é se ela conseguiu, Lúcio. Narcisa, por quê a Andrômeda usou um patrono?
- Eu esqueci de contar pra vocês.
Narcisa começou a contar toda a sua aventura ao lado de Rabastan, Sirius e Andrômeda. A passagem secreta, os dementadores, os inferis. Como ela soube o que fazer apenas porquê tinha estudado um livro de Bellatrix. Tudo. Quando acabou, os garotos não disseram uma palavra. Um silêncio desconfortável encheu a sala.
Narcisa levantou e olhou os dois. Eles estavam pensativos e distantes.
- Você já perguntou a Bellatrix o quê ela sabe? – Lúcio perguntou. –
- Eu não falei com a Bella depois do casamento. E ela já tinha partido pra Lua de Mel quando isso aconteceu. Eu pensei que era melhor não escrever uma coisa dessas, eu poderia colocar a Bella e os Lestrange em confusão.
- E você estava certa. Eu não sei o que aconteceu, mas não foi nada bom. O que você acha Severo?
- A única conclusão a que eu cheguei é a mais que óbvia de que aquele local estava sendo protegido por um complexo sistema de magia negra. Mas só quem pode explicar isso melhor é Bellatrix. Ou Rodolfo.
- Acho melhor nós pesquisarmos. Nós podemos esperar e Bella pode não querer dizer nada.
- É você tem razão. – Lúcio ponderou. – Mas você foi bastante corajosa e ainda salvou a vida daquele traidor de sangue.
- Desse ser por isso que ele me impediu de duelar com Tiago no trem. Porquê você se colocou entre nós e ele quis te proteger.
- É. Mas eu não preciso da proteção dele. – ela resmungou enquanto se levantava. – Vamos?
- Narcisa, por que você e Lúcio não aproveitam um pouco a privacidade e o tempo disponível? Eu vou pra biblioteca.
Ele os deixou a sós e Lúcio estendeu a mão para Narcisa, chamando para se juntar a ele. Ela passou as pernas em volta da cintura dele e se sentou no chão, de frente pra ele.
Ele passou o dedo pálido pela boca rosada dela. Estava queimando de desejo. Encarou os olhos brilhantes da menina, que lhe davam permissão para ir frente. Passou a mão por trás da sua cintura e a puxou para si, beijando-a ardentemente.

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