Eu Te Amo



Naquela noite, todos jantaram juntos. Lúcio geralmente era a estrela, mas Narcisa dominou as atenções contando em detalhes sobre o que acontecera na aula de Transfiguração.
- A Narcisa deixou todo mundo arrasado. Ela destruiu, pisou e cuspiu em cima. Foi cruel, Narcisa. – foi o único comentário de Severo. –
- Obrigada, Severo. Por tudo.
Ela sorriu. Não esqueceria o que ele havia feito por ela. Se não fosse por ele, ela seria apenas mais um das destruídas em uma briga sem campeões. Ele trouxe a vitória para o lado deles e ele havia dito em voz alta que a amava e respeitava. Aquilo era tudo pra ela.
Lúcio se inflou de orgulho, como se ele é que tivesse criado aquele monstro. Narcisa e ele eram mais parecidos do que imaginavam. Rabastan já não parecia não animado com o feito da namorada. Ele olhou para os dois, abraçados. Ele sabia que o amigo não dera o devido valor a que Narcisa tinha conseguido.
Ele também sabia que amava muito aquela garota e que estava perdendo para alguém que não era amado por ela, que não lhe dava o devido valor, que não a compreendia como ele. E decidiu que lutaria. Ele lutaria por Narcisa, pelo amor dos dois, por uma relação que seria tão perfeita e maravilhosa que deveria ser um crime que ela não chegasse a se concretizar.

***

Apesar do clima idêntico ao do dia anterior, para Narcisa parecia que era uma manhã ensolarada e maravilhosa, apesar da detenção que teria que cumprir mais tarde naquele dia.
Ela estava na biblioteca fazendo seus deveres com Severo quando perceberam que já eram quase cinco e se dirigiram para a sala de McGonagall.
Ela os estava esperando e pareceu bem melhor do que eles a haviam deixado naquele dia. Parecia ter recuperado sua segurança e autoridade.
- Eu ganhei a aposta com Lúcio. – Severo cochichou no ouvido de Narcisa e ela sorriu. –
Lúcio tinha apostado com Severo que McGonagall se afundaria em autopiedade por algum tempo. Mas Severo sabia que a professora não perderia a ‘pose” tão facilmente.
- Bom, agora que estão todos aqui, vocês podem começar o seu castigo. Vocês terão que limpar todos os banheiros do castelo.
Narcisa torceu o nariz na mesma hora.
- Sem ajuda de mágica.
Todos ficaram boquiabertos, mas antes que qualquer um protestasse a professora continuou.
- Sim, de maneira trouxa. Seu sangue ou seu talento mágico não farão nenhuma diferença nessa tarefa. E Filch ficará inspecionando o tempo todo. Boa sorte.
Estava claro que aquela tarefa era especificamente destinada a Narcisa, mas ficava contente que todos os outros fossem limpar privadas. Ele tinha uma vantagem clara sobre os outros, que era o fato ser muito bom com feitiços não-verbais, que os outros ainda nem sabiam fazer. E logicamente ele usaria de sua posição privilegiada para salvar Narcisa de um trabalho penoso.
Ele ficou enrolando dentro do box um tempo, para ninguém perceber. Depois saiu, dizendo que já tinha terminado e se ofereceu para ajudar Narcisa. Não se surpreendeu nenhum um pouco ao constatar que ela não tinha mexido um dedo para completar a tarefa.
- Obrigada por me salvar. – ela agradeceu enquanto eles voltavam às masmorras. –
- De nada. Mas você precisa aprender feitiços não-verbais urgentemente.
- Por favor. Você me ensina?
- Bom, sim.
Quando eles entraram na sala comunal, Lúcio estava sozinho. Narcisa ia se retirando, mas Severo a puxou pelo braço até onde Lúcio estava.
- Lúcio, tudo bem pra você que Narcisa passe a treinar conosco?
Narcisa olhou para Severo e depois para Lúcio, sem entender.
- Claro. Você já deveria ter feito o convite há muito tempo. Eu te disse pra chamá-la logo que ela te contou sobre os livros de magia negra.
- Você conta tudo que eu lhe conte pro Lúcio, Severo?
- Não, tudo não. Mas eu não achei que era segredo que nós estávamos praticando oclumência e achei que o fato de você se interessar por arte das trevas era interessante.
- Eu e Severo estudamos a arte das trevas e praticamos as maldições e azarações em duelos desde o ano passado. Severo até inventou algumas azarações.
- Por que vocês nunca me contaram?
- Nós não queremos que vire um clube, Narcisa. Mas Lúcio e eu concordamos que não tem problema que você participe.
- Nós sempre treinamos um pouco de oclumência, e não faz sentido que Severo treine com você, depois treine comigo, tudo pra guardar um segredo que não tem importância que você saiba. Você pode treinar oclumência, legilimência e muito mais conosco e Severo não precisa ficar se dividindo e tentando achar horários. O que você acha?
- Eu adorei. É claro que eu quero treinar com vocês.
- Então está resolvido. – Severo pois um ponto final na conversa e Narcisa foi dormir. – Você estava me esperando?
- Estava.
- Fala.
Lúcio se certificou de que Narcisa não estava mais no corredor, mas mesmo assim abaixou a voz.
- Eu estou disposto a lutar pela Narcisa, Severo.
- Eu fico feliz. Mas eu já tentei ajudar, você sabe. Ela está com Rabastan agora. Eu só espero que você não vá tirá-la dele, com quem ela está bem, para faze-la sofrer. Ela minha amiga, Lúcio, eu não vou deixar você machucá-la de novo.
- Eu não vou, eu prometo. Eu a amo. E eu vou lutar por ela. Agora que ela vai treinar conosco eu estou tendo a chance perfeita e não vou deixar escapar. E pro aniversário dela, eu vou fazer algo inesquecível.
- Falta bastante tempo para o aniversário dela, mas é realmente legal que você já esteja pensando nisso. Mas, você já pensou no que pode acontecer se ela der o fora no Rabastan pra ficar com você? Vocês podem não voltar a ser amigos nunca mais.
- Eu sei. E honestamente eu estou mais preocupado se ela não der o fora nele pra ficar comigo. Eu a amo demais, Severo. Ela é mais importante.
- Boa sorte. E... você tem o meu consentimento pra lutar por ela. É isso que você queria?
- É. Eu queria ter certeza que você estaria o.k. com isso. A sua opinião conta e muito pra Narcisa. E pra min também, foi você quem me abriu os olhos.
Os dois sorriram e trocaram um abraço fraternal. Então foram cada um para seu dormitório.

***

O dia do jogo amanheceu claro. Apenas uma chuva fininha e insistente caía. A temperatura por sua vez era congelante e chegava a machucar.
Narcisa estava encolhida em sua cama, enrolada nos grossos cobertores. A voz esquiniçada de Rachel entrou em sua mente como pregos pontiagudos, causando dor.
- Narcisa, você vai perder o jogo se não se levantar logo. Seu namorado vai jogar, eu acho que ele vai querer um beijo de boa sorte antes do jogo.
Ignorou Rachel e enfiou a cara no travesseiro que Bellatrix tinha enfeitiçado para cheirar exatamente como um outro travesseiro, que elas costumavam dividir quando eram pequenas.
- Vai trazer você pra mais perto de casa. – ela argumentara. –
Ficou pensando em dias como aqueles em que as duas ficavam na cama comendo e treinando feitiços. Sentiu-se só como nuca havia se sentindo. A sensação de frio foi ofuscada por um enorme vontade de chorar.
Segurou as lágrimas e levantou-se da cama em um pulo. Se arrumou rapidamente e desceu para a sala comunal. O time da Sonserina ainda estava ali, cercado por um bando de alunos. Severo estava encolhido em frente a lareira, com um cobertor e um livro. Ela foi para junto dele e se meteu debaixo do cobertor.
- Eu pensei que a primeira coisa que você fosse fazer era falar com Rabastan.
- Eu decidi não disputar a atenção dele com todas as outras.
Ela deu um sorriso falso, o que não fez a mínima diferença porquê Severo não desviou os olhos do livro. Ela ainda se sentia só e queria um abraço, mas Severo estava distante e ela não pularia no pescoço dele por pura carência.
- Vamos subir? – ela decidiu quebrar o gelo, ainda sem graça. –
- Tá.
Ele fechou o livro, mas o carregou até o salão principal e voltou a enfiar a cara nele quando sentaram a mesa. Logo o time entrou no salão e as muitas salvas e palmas vindos da mesa da Sonserina encheram o salão. Todo mundo queria cumprimentar Lúcio e Rabastan e eles fizeram várias paradas antes de chegar até eles.
Rabastan se sentou ao lado de Narcisa, lhe beijou na boca e puxou um prato para si. Ela ficou mal-humorada e olhou feio pra ele, que não percebeu. Quando finalmente virou os rosto, seus olhos encontraram os olhos acinzentados de Lúcio. Eles estavam cheios de doçura e compreensão. Ele segurou a mão dela por um instante, como se dissesse que tudo ia ficar bem e depois voltou-se para o seu próprio prato.
Os quatro foram para fora juntos e caminharam em silêncio. Narcisa e Rabastan de mãos dadas. Ela olhou de esguelha para Lúcio, que estava completamente concentrado.
Se separaram e ela foi com Severo tentar encontrar um bom lugar na arquibancada. Mesmo em meio a uma multidão, ela ainda se sentia só. Vasculhou o estádio com os olhos, embora não soubesse o que estava procurando. Parou em Sirius e os amigos, que se divertiam. A solidão deu lugar à raiva.
Um tempo depois o time da Lufa-Lufa entrou em campo e os sonserinos se puseram de pé e começaram a vaiar. Depois entrou o time da Sonserina e todos aplaudiram. Lúcio sabia se impor, ele tinha a postura de um campeão. Ele apertou a mão do capitão da Lufa-Lufa.
O apito soou e os quatorze jogadores foram para o ar. Rabastan foi imediatamente para o gol e Lúcio se pôs a procurar o pomo.
O jogo rolava. Rabastan era muito bom e ainda não tinha deixado a Lufa-Lufa marcar. Estava 30x0. Um balaço foi direto na direção de Lúcio e Narcisa soltou um gritinho agudo de desespero, mas ele desviou habilmente.
Passado mais um tempo, Rabastan tinha feito mais defesas sensacionais, mas a Lufa-Lufa tinha conseguido marcar três vezes. Nada preocupante. O placar era 80x30.
Narcisa sentia que seu corpo estava congelando. Avery lançou um balaço que atingiu o goleiro da Lufa-Lufa em cheio e enquanto ele se recuperava a Sonserina marcou mais duas vezes.
Lúcio parecia calmo e parecia apenas estar se assegurando que o apanhador do outro time não pegaria o pomo, porquê ele não estava muito emprenhado em procurar. Aparentemente queria um placar maior.
Estava 130x40. Lúcio virou a vassoura bruscamente e desceu rapidamente em direção a um brilho dourado. O apanhador da Lufa-Lufa foi atrás dele mas não deu tempo. Lúcio pegou o pomo e encerrou o jogo.
O apito soou e os humilhados jogadores da Lufa-Lufa desceram, enquanto os da Sonserina comemoravam, sem pressa de atingir o chão. Narcisa vibrou, Severo também. Eles desceram correndo para encontrar os jogadores lá embaixo.
Do lado de fora, os garotos saíam e Narcisa correu para parabenizar Rabastan. Ele a beijou. Ela ficou corada e tentou se soltar dos braços dele. Ele a colocou no chão e eles seguiram com a multidão para as masmorras.
Os sonserinos estavam fazendo uma grande comemoração. Logo Rabastan foi cercado por um bando de meninas histéricas e Narcisa saiu de perto. Olhou em volta, mas não viu Lúcio nem Severo em lugar algum.
Sentou-se sozinha em frente a lareira, mas então Severo entrou na sala comunal e se juntou a ela.
- Onde você estava?
- Estava procurando o Lúcio.
- E você encontrou?
- Está no lago. Mas eu achei que ele queria ficar sozinho e resolvi entrar.
Num impulso, Narcisa se levantou e saiu correndo. Andava inconscientemente pelo castelo. Sabia que estava indo ao lago atrás de Lúcio, mas não sabia porquê. Não sentia mais as pernas, então começou a correr e se aqueceu um pouco.
Atravessou os terrenos e foi para o lago. Logo pôde avistar os cabelos louros de Lúcio brilhando ao Sol. Ele estava de pé, parado, observando a água. Ela caminhou sem fazer barulho e parou ao lado dele. Ele parecia estar em transe.
- Está tendo uma festa pra você lá dentro. Está quentinho e tem bebidas e você está aqui fora, sozinho e virando picolé depois de uma vitória fenomenal.
- Não importa. Eu me sentiria só de qualquer maneira.
Ela entendeu. E sem pensar no que estava fazendo o abraçou. Uma vibração estranha percorreu o corpo de Narcisa. Ela não sabia o que era, mas sabia que não se sentia mais só. O calor do corpo dele a englobando, suas mãos afagando seu cabelo. Ela queria ficar ali pra sempre.
Ela não pôde conter as lágrimas dessa vez.
- Eu queria tanto que você me desculpasse, Lúcio. Eu fiz o que eu fiz porquê eles queriam me levar daqui e eu não pude suportar a idéia de que me separassem de você. Eu não pensei, eu apenas... apenas agi com o coração. Eu sei que fui fraca, mas...
Ela olhou pra cima. Ele estava chorando também. Ela ficou sem fala. Ele olhou para baixo. Seus olhos intensos a encarando pela segunda vez aquele dia.
- Eu é que tenho que me desculpar. Eu arruinei tudo. Eu é que fui estúpido. Você tinha acabado de ser atacada e eu estava pensando apenas em tirar aquele velho irritante dessa escola. Eu fui frio. Se eu tivesse agido com o coração como você, nada disso teria acontecido. Porquê meu coração te ama, Narcisa.
- Eu te amo também.
Foi a única coisa que ela conseguiu dizer. Os dois estavam cada vez mais próximos. Seus lábios se encontraram. E então não puderam pensar em mais nada.
Narcisa tremia, mas não era de frio, era de excitação. Sua línguas se procuravam desesperadamente, mas se tocavam carinhosa e delicadamente. Ela não podia ouvir nada, além da respiração do garoto na sua bochecha.
Sentia-se feliz e segura e protegida. E ao mesmo tempo sentia-se completamente vulnerável. Mas não tinha medo. Lúcio poderia fazer o que quisesse, era maravilhoso e ela não queria que acabasse.
Depois do que pareceu uma eternidade, mas ainda sim pouco tempo, eles se separaram e ficaram se observando, ofegantes. Os rostos ainda muito próximos. Lúcio passou seu dedo gelado pela bochecha agora corada da menina.
- Eu não quis fazer você chorar.
- Não tem importância agora. Eu me sinto mais feliz do que eu jamais senti.
- Eu não te mereço.
- Eu sinto muito que você não seja digno, mas meu coração escolheu você. – ela brincou, sorrindo. –
Lúcio passou a mão pelos cabelos dela e a beijou novamente. Foi ainda melhor, mais intenso. Lúcio sentiu como seu corpo estivesse sendo percorrido por impulsos elétricos. Era como se não estivesse mais em Hogwarts ou em lugar algum. Como se tivesse flutuando em um espaço indefinido, onde o tempo não passava.
Ela estava nos seus braços. Completamente sua. A mão que não estava nos cabelos dela percorria cada cantinho de seu corpo maravilhoso, lhe dizendo que era verdade.
Ele a tocava com delicadeza e ela não se importava. Suas mãos estavam protegidas do frio debaixo da roupa dele. Seus dedos percorrendo os músculos tão bem definidos das costas e do abdômen dele.
Se separaram para tomar ar. Narcisa soltou uma risada de felicidade que encheu o ar e ecoou nas árvores em volta deles. De repente ela ficou séria.
- O que houve?
- Eu não pensei nem um pouco em Rabastan. Ele ainda é o meu namorado. Eu fui infiel, Lúcio, e com o melhor amigo dele.
Lúcio também ficou sério. Desviou os olhos e voltou aquele estado de reflexão no qual ela o havia encontrado.
- O que nós vamos fazer? Eu não quero que o Rabastan sofra, mas eu amo você. Só que eu o traí. É horrível.
- Nós vamos fazer o que é certo. Contar a verdade.
- Ele vai nos odiar pra sempre. Vocês são amigos há anos, Lúcio. Vai destruir tudo por minha causa?
- Não é culpa sua. Eu tomei a decisão de que o seu amor era mais importante do que a amizade do Rabastan no momento em que eu decidi lutar por você.
- Bom, você não lutou muito. Eu me entreguei bem rápido. – ela brincou. –
Os dois ficaram abraçados, em silêncio. Era o suficiente. O Sol começou a se pôr e eles assistiram aquela cena mais que linda. Devido a chuva, um arco-íris surgiu no céu.
- Acho melhor voltarmos para o castelo.
- Também acho.
Já estava escuro e ficara ainda mais frio. Lúcio abraçou Narcisa, que tremia. Quando chegaram perto das masmorras, eles se separam. Não queriam chamar a atenção.
A festa continuava. Severo tinha sumido, provavelmente já tinha ido dormir.
- Eu acho melhor nós conversarmos com Rabastan amanhã. – ele cochichou no ouvido dela. -
- É. Com certeza. Eu vou dormir.
- Eu também.
Ela sorriu e então foi discretamente até o dormitório. Suas colegas ainda estavam na festa. Trocou de roupa, enrolou nos cobertores e enfiou a cara no travesseiro. Se sentiu em casa. Dormiu logo. Sonhou que estava nos braços de Lúcio. E era maravilhoso.

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