O Castelo de Gelo
Dumbledore conjurou pra si próprio um nodoso cajado de madeira, onde apoiou-se. Moody lançou-lhe um olhar risonho, debochado, ao qual ele respondeu com delicadeza:
-Apesar de minha ótima aparência, preciso de uma ajudinha... Esse gelo é escorregadio o suficiente para um ogro cair e quebrar todos seus pequeninos ossos!
-Acha que irão nos alcançar? –perguntou Harry, ofegante, interferindo no assunto. Olhava diretamente para o lado oposto do precipício que há pouco atravessaram.
Se eles, com Dumbledore ao seu lado, quase morreram, como poderiam Gina, Hermione, Mc. Gonagall, Lupin e Tonks atravessa-lo ilesos?
-Harry, para tudo se tem uma resposta. Pode acreditar em mim, eles vão conseguir... –falou Dumbledore, passando o braço ao redor dos ombros de Harry e conduzindo-o na direção oposta.
Em direção ao castelo sombrio, erguido em pedra, incrustado em meio as montanhas mais rochosas e enevoadas que Harry já vira na vida. A fortaleza de Voldemort. O ninho do demônio.
-Se não nos apressarmos a tempestade nos pegará, e ficará impossível chegar até lá... –resmungou Moody, apontando o dedo em direção a construção que se erguia para eles a medida que avançavam.
-Ou pior... –completou Rony, temeroso. A adrenalina de minutos antes já havia se evaporado completa, e totalmente de seu corpo. –Voldemort e seus comparsas podem nos ver, e atacar antes que estejamos prontos.
-Acredite Sr. Weasley, quando digo que Voldemort já sabe de nossa presença. –respondeu Dumbledore, adiantando-se e caminhando na frente de todos. –Mas creio que ele prefere esperar que seus truques e armadilhas façam o trabalho sujo por ele. Ou talvez prefira atacar em território seguro para ele. –completou erguendo as sobrancelhas prateadas, a fim de indicar o castelo.
Dito isto, puxou o chapéu pontudo para baixo, de forma a proteger as orelhas do vento gélido e cortante.
Continuaram sua jornada a caminho do inimigo, tosos intimamente torcendo para que os reforços chegassem logo. Dumbledore cabeceava o grupo, Harry vinha atrás, seguido de perto por Rony. Moody fechava o cortejo, batendo sua perna de pau contra o gelo a cada passo que dava.
-Como irei ajudar? –perguntou de repente Rony, interrompendo o denso silêncio que se instalara entre os quatro bruxos. –Quer dizer, minha varinha caiu do precipício.
-Oh, sim um pequeno detalhe a resolver... –murmurou Dumbledore.
-Um pequeno? –repetiu Moody, incrédulo. –Corrija-me se estiver errado Dumbledore, mas realmente, no que o rapaz será útil se não possuir uma varinha para pelo menos salvar ao próprio pescoço?
-Sabe que a ajuda virá na hora certa. –respondeu Dumbledore, de modo a mostrar que o assunto estava encerrado. –E creio que estamos chegando...
Harry ergueu os olhos, que a muito olhavam apenas para seus pés, evitando escorregar. Enxergou a enorme fortaleza, cercada por altos muros de pedra. A única entrada visível era um portão alto, de metal enferrujado, cujo estava trancado por uma grossa corrente que rangia. O lugar era apavorante. Nenhum ser vivo, animal ou planta, parecia habitar o lugar.
-Como vamos entrar? –perguntou Rony, aproximando-se de um fosso que contornava as muralhas. –Isso aqui com certeza não é um fosso amigável. –completou. Harry concordou intimamente. Nada amigável seria assim tão plácido.
Dumbledore não se deu ao trabalho de responder. Deteu-se em observar o portão, a mão cheia de anéis a acariciar a longa barba prateada.
-Vamos esperar... –finalmente disse ele, sentando-se em uma pedra gasta próxima ao portão, onde qualquer um poderia vê-lo.
-Esperar... Esperar? –perguntou Harry incrédulo. Sabia que Dumbledore era um gênio, que raramente errava, mas sua filha estava correndo imenso perigo lá dentro.
Dumbledore não teve tempo de responder. Mal abrira a boca, e ouviram o rangido dos portões se abrindo. Pelo lado de dentro. Disso, tinham certeza.
Quem estaria fazendo tal coisa? Algum membro da ordem talvez? Um espião de Dumbledore? Voldemort, convidando-os a entregarem seus pescoços para ele?
Harry concluiu que a resposta mais óbvia seria a segunda, e imaginou se a pessoa que abria o portão para eles seria alguém que há muito ele não via. Imaginou se quando a ponte do fosso abaixasse, e eles a atravessassem, seria ao seu antigo professor Snape que veriam?
Snape estaria ainda com sua antiga aparência? Cabelos oleosos, nariz adunco, olhos frios e sem compaixão?
Dumbledore adiantou-se quando a ponte tocou o solo aos seus pés, e atravessou-a rapidamente. Harry apressou-se em alcança-lo, a varinha em riste, pronta para atacar a qualquer sinal de perigo. Rony e Moody os seguiram de perto.
Mas Harry não estava pronto para ver quem fora a pessoa que abaixara a ponte para eles. Que deixara talvez Voldemort sem quaisquer defesas.
A sua frente estava alguém que há muito Harry realmente não vira. Não era Snape, mas seus temperamentos eram muito parecidos. Com seu rosto comprido e fino, seus olhos cinzas e seu cabelo loiro, a sua frente encontrava-se Draco Malfoy. Estava igual ao que Harry lembrava-se, apenas em dois aspectos que não. Draco Malfoy agora não carregava mais consigo o ar arrogante e superior que outrora era sua marca registrada. E se Harry descrevesse ele agora a alguém, e dissesse que o vira em carne e osso estaria de fato mentindo.
Seu corpo agora era de um prata perolado e meio transparente, e ele flutuava a alguns centímetros do chão congelado. Então, de fato Malfoy morrera, a matéria que Harry vira no profeta há alguns anos atrás de fato estava correta.
Malfoy temera a morte, e então voltara como um fantasma. Nada difícil de se imaginar. Coragem nunca fora seu ponto forte. Mas que fazia ele ali, abrindo portões aos bruxos que pretendiam derrotar seu mestre em vida?
Harry observou, enquanto Dumbledore murmurava rápido e sem disfarces com ele, que em seu braço, a marca negra ainda refulgia. Nem na morte abandonava seus postos como Comensais da Morte. Mas então, que diabo fazia ele ali?
-Vamos, não podemos ficar aqui, vamos! –chamou Dumbledore, que corria por um pátio a céu aberto. Harry pode ver para onde ele se direcionava. Para algumas escadas engastadas de pedra no lado oposto ao lugar onde se encontravam.
Harry olhou uma última vez para Draco Malfoy, ainda incrédulo, e virou-se para Dumbledore, a fim de o acompanhar. Ele devia saber onde estava indo. Ou não. Dumbledore era um homem difícil de se entender.
Harry puxou Rony pelo braço, que continuava a observar descaradamente o fantasma de Malfoy. Este cedeu e começou a correr atrás de Harry.
-Você viu que ele estava cheio de gotas de sangue? –comentou Rony, enquanto corriam para alcançar Dumbledore e Moody.
-Não reparei nisso... –murmurou Harry em resposta.
-Ei, pelo menos agora ele não precisa mais ser comensal, não é?
-Hm, tanto faz... –respondeu Harry. Não estava mais interessado em Draco. Estava mais interessado em não ser visto.
-Se o Barão Sangrento se aposentar como fantasma das masmorras da Sonserina, ele pode tomar seu lugar... –riu Rony. Parecia relaxado demais com a ocasião. Parecia ter se esquecido para onde iam.
-Rony, por favor, isso não é importante agora... Será que da de você se concentrar em não ser pego, por favor? –resmungou Harry, quando chegaram as escadas, onde há muito, Dumbledore e Moody já haviam decido. –Estamos indo direto e de bom grado aos braços de Voldemort, pelo menos não vamos deixar ser tudo tão fácil para ele.
Então Rony percebeu e lembrou-se do terrível fardo que Harry carregava em seus ombros. Restava a ele, o garoto que sobrevivera, o escolhido, a desferir o golpe final em Voldemort. E sabia ele, que não era apenas a sua a vida de Harry que estava nas próprias mãos, mas também a da esposa e da filha.
Desceram apressadamente as escadas gastas, o cheiro de mofo sendo inalado continuamente, o ouvido atento aos barulhos de goteiras ao longe. Harry não se atreveu a acender a varinha, acreditava que naquele lugar as trevas talvez fossem mais seguras que a própria luz.
Algum tempo depois, Dumbledore e Moody surgiram de algum lugar, e os quatro passaram a andar unidos, as varinhas em riste, exceto por Rony, que caminhava ao encalço de Harry, inseguro sem algo para defender-se.
-Sabe onde estamos, professor? –perguntou Harry, igualando o passo com Dumbledore, que adotara novamente o semblante sério, sábio.
-Imagino... Certeza jamais terei. Creio que estes corredores sejam encantados, os que aqui não conhecem, daqui sozinhos é que não iram sair, tenha certeza. –murmurou Dumbledore, parando de chofre.
Harry não podia ver, mas tinha certeza de que os olhos azuis de Dumbledore agora estavam arregalados a espreita de qualquer coisa fora do comum. Este correu apressado em direção a uma parede, e pelo barulho, Harry concluiu que passava os dedos com grande pressa sobre a superfície áspera.
Harry o seguiu, e percebeu que os outros fizeram o mesmo. Passou os dedos cuidadosamente pelas paredes, e percebeu que algo estava escrito ou desenhado em relevo.
Alguém estalou os dedos ao lado de Harry, e uma pequena chama iluminou o estranho local, que revelou-se muito maior do que se sentia ser. Era do tamanho de uma catedral. Do exato tamanho da Sala das Profecias, onde Harry já havia estado uma vez. Mas esta não era entulhada de grandes e imponentes prateleiras, contendo bolinhas de vidro onde eram armazenadas as profecias.
Era vazia exceto por um grande altar ao fundo, onde apenas uma grande cadeira de espaldar fora colocada. Harry voltou sua atenção para o relevo que chamara a atenção de Dumbledore. Não podia ver muita coisa, apenas uma espécie de pintura que retratava rostos moribundos, sujos, e o que mais apavorou Harry, apavorados.
Harry afastou-se para poder enxergar melhor. Uma gigantesca e grotesca mão, de unhas compridas e sujas segurava um crânio logo acima. Uma cobra preparava-se para pegar sua caça em algum outro ponto da figura, e mais acima o par da grotesca mão, segurava uma varinha.
Uma varinha que Harry e Dumbledore conheciam muito bem.
Uma varinha gêmea a de Harry, cujo núcleo era formado pela cauda de uma fênix. Uma varinha que já fizera muitas vidas se extinguirem. Uma varinha que causou dor, perda, abandono. A varinha culpada por tudo.
A varinha de Voldemort.
-Como viemos parar nesse lugar tão rápido? –perguntou Harry, temeroso com o que podia acontecer.
-Acho que não merecemos o crédito, Potter... –resmungou Moody, a varinha apontando para todas as direções. –Entramos no covil do demônio.
O mesmo estalar de dedos que acendera aquela pequena chama, agora a apagara. Tudo estava escuro como breu. Um escuro mágico, sem escapatórias. E Harry percebeu que a hora chegara.
E então palmas puderam ser ouvidas do fundo do estranho local.
E a risada fria e cruel ecoou, arrepiando os pelos da nuca de Harry.
O momento de fato, chegara.
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