Feitos do Passado
Harry e Rony saíram apressados pelas portas do fundo, e encontraram uma manha fria de outono. Havia orvalho gelado na grama, e alguns poucos passarinhos assoviavam tristemente. Harry inalou o cheiro de grama, e uma súbita esperança tomou conta de seu corpo; havia chegado o dia em que ele, Harry, finalmente visitaria seus pais, os pais que deram suas vidas por ele.
Chegou à orla o bosque, onde havia arvores centenárias, que proporcionavam uma imensa sombra sobre o chão úmido, que fazia lembrar a Harry, a Floresta Proibida em Hogwarts. E lá, sob a proteção dos gigantescos galhos havia uma meia dúzia de túmulos enterrados no solo.
Harry localizou o de seus pais quase que imediatamente; estava mais escondido na floresta, e havia um gigantesco anjo de pedra sobre os túmulos, no qual havia uma placa indicando: “Lílian e Tiago Potter, casal honrado pelo Ministério da Magia, por serviços prestados a Comunidade Bruxa”.
Harry deixou-se cair de joelhos sob a grama úmida, os olhos marejados, e as mãos firmemente apoiadas no chão.
Rony ajoelhou-se ao seu lado, calado, mas com a mão amigavelmente sobre o ombro do amigo. Esperou alguns minutos e pediu:
-Cara, você está bem?
Harry demorou alguns instantes para perceber que a pergunta havia sido direcionada a si próprio. Secou uma lágrima solitária com as costas da mão, e virou-se para Rony.
-Está tudo bem, fico feliz de poder ter vindo vê-los! –respondeu, tentando ocultar os verdadeiros sentimentos. Sua cabeça borbulhava de pensamentos de vingança contra Voldemort e seus Comensais da Morte. Todos pagariam caro pelas vidas que tomaram. –Mas não vamos nos deter no passado, vamos pensar em nossos futuros não é mesmo? Vamos explorar o local, Dobby me disse alguns dias atrás que o bosque tem coisas maravilhosas a nos mostrar...
E levantou-se, seguindo em direção ao fundo do bosque, onde a copa das arvores tapavam qualquer raio de sol. Rony o seguiu ainda calado, com as mãos no bolso. Ambos caminharam lado a lado, por demorados minutos.
-E então... Percebi que você e a Mione andam muito mais calmos um com o outro do que o habitual, o que houve? –perguntou Harry, para quebrar o silêncio. As orelhas e a face de Rony, repentinamente mudaram de cor, para um tom vermelho vivo, enquanto sua voz falhava, ao tentar responder para Harry.
-É, sabe como é... Estamos juntos para ajudar você Harry, não podemos criar briguinhas bobas... –respondeu ele, coçando a nuca, visivelmente envergonhado.
-Isso nunca impediu vocês dois de brigarem! Qual é Rony, fala a verdade, o que está acontecendo? Já superou a Lilá? –cutucou Harry, repentinamente alegre.
-Não é nada disso, Harry, deixa para lá... –respondeu ele, ainda contrariado.
Harry resolveu não mais implicar, mas apenas sorriu maliciosamente para o amigo, e continuou a caminhada. Instantes depois, depararam-se com uma imensa estufa no meio das árvores. Era do tamanho das grandes estufas de Hogwarts, e Harry ficou espantado ao constatar que tudo estava em perfeita ordem.
Havia uma grande variedade de plantas embasadas, prateleiras com pacotes etiquetados, e até algumas plantas que se mexiam e capturavam alguns insetos que por ali passavam.
-Hermione vai amar isso... –falou baixinho Rony, após soltar um longo assovio. –Olha só as coisas que tem aqui... –falou ele espiando as prateleiras atulhadas de plantas e fungos.
Harry observava uma plantinha pegajosa em um canto da estufa, e tornou-se claro que já a conhecia. Tinha aspecto de vários rabos de rato entrelaçados e pegajosos.
-Rony! –chamou Harry segurando a erva. –Isso é guelricho!
-Cara, isso é realmente raro! –exclamou Rony surpreso. –Quem se daria ao trabalho de plantar tudo isso? Teria de ser um herbologista, claro...
-Não, Rony, foi minha mãe que cuidou dessa estufa! –respondeu Harry, com os olhos brilhando de excitação, ao reparar em uma pequena prancheta colocada sobre uma mesa próxima.
Harry aproximou-se e reparou no pergaminho envelhecido. Era um relatório escrito em pequenas e apertadas letras. Harry não sabia como nem porquê daquela sensação, mas sabia que pertencera a sua mãe. Sorriu, e observou atento o local.
-Isto aqui esta cheio de pura mágica! Olha essas plantas! Estão conservadas a mais de dezessete anos! –falou ele.
-É Mione realmente vai pirar quando contarmos para ela! –falou Rony, enquanto examinava uma plantinha de folhas arroxeadas. –Hei, aquilo não é Visgo do Diabo? –completou ele, apontando para um canto escuro. Harry concordou com a cabeça, lembrando-se repentinamente de seu primeiro ano em Hogwarts.
-Vamos, outro dia voltamos aqui... –falou ele, e saiu da estufa caminhando mais rapidamente pelo meio das árvores.
Mione tinha razão, quantas coisas impressionantes sobre seus pais, Harry poderia descobrir naquele lugar?
-Sua mãe devia realmente ser uma ótima bruxa, afinal, os feitiços de conservação geralmente não agüentam por mais de dez anos... –respondeu Rony. –Eles devem ser retocados...
Harry sorriu orgulhoso. Continuaram a caminhar por uma longa hora, passando por pequenas clareiras em meio as arvores, e parando para descansar.
-Harry, o que é aquilo? –perguntou Rony, indicando um precipício logo à frente.
Harry encaminhou-se para o tal lugar até chegar à beirada do morro.
-Venha ver, a vista é impressionante! –gritou Harry para o amigo.
Rony aproximou-se e soltou uma exclamação ao observar a paisagem. Depois do morro, onde terminava a propriedade dos Potter, havia gigantescas montanhas relvadas, e lá no fundo, havia um pequeno borrão azul. Estavam próximos do mar, e nem sequer sabiam.
-Cara, aquilo é o mar? –perguntou Rony, com a voz excitada, indicando o borrão. –Nunca vi o mar! Podemos chegar mais perto, certo? –completou com os olhos fixos nos de Harry.
-Bom, não caminhando, creio que levaria o dia todo, mas bem... Sempre há outras opções... –respondeu Harry hesitante.
-Ora essa, somos bruxos maiores de idade! Vamos aparatar! –respondeu ele, indignado, e antes que Harry percebesse, Rony havia girado e sumido. Animado, Harry o seguiu.
Estavam a beira de um mar muito agitado, porém muito limpo.Havia gaivotas sobrevoando o mar, e Rony estampou um sorriso em seu rosto. Correu como uma criança pela areia fofa, de braços abertos, imitando um pássaro. Harry riu, ao perceber a felicidade do amigo.
-Aquilo é um porto? –gritou Harry, para poder ser ouvido pelo amigo. O vento rugia em suas orelhas, enquanto observava, de longe, um cais de madeira, onde algumas pequenas embarcações haviam atracado.
-Onde estiveram? Estava morrendo de preocupação! –gritou Hermione, ao ouvir o barulho de porta se fechando na cozinha. Provavelmente era muito tarde, Harry não saberia dizer. O sol já havia se posto, e o céu claro estava salpicado de estrelas luminosas.
Harry e Rony adentraram na sala de estar quente e aconchegante, e jogaram-se em poltronas a frente da lareira, para se esquentar.
-E então? –perguntou ela, com a cara feroz, enquanto acariciava as orelhas laranja de seu gato, Bichento, que ronronava em seu colo.
-Então o que? –indagou Rony, tirando os tênis molhados.
-Como, então o que? Onde estiveram? –perguntou Mione ansiosa.
-Conhecendo a propriedade... –respondeu Harry, cansado.
-Até essa hora? Sabia que já jantei?
-Encontramos coisas que mereciam ser exploradas... –respondeu Harry novamente. –Encontramos uma estufa da minha mãe, ainda conservada. –Hermione, há guelrichos lá!
-Como assim? É uma erva extremamente rara!
-É, mas pelo visto era um hobby da minha mãe cuidar de ervas e plantas...
-Mione, vimos o mar! –falou Rony excitado, cansado de ser deixado de lado na conversa dos amigos. –De areias finas e brancas... Diverti-me muito! –riu ele.
-Imaginei que estávamos por perto do mar... É bonito lá então? –perguntou ela, já mais calma.
-Muito... E há várias gaivotas, e um rochedo enorme, Mione! Eu levo você lá se quiser... - respondeu ele, esperançoso.
Harry engasgou-se com o hidromel que estava tomando, provocando um sonoro e agourento barulho, e salpicando o suéter que vestia de gotas cor de âmbar.
-Harry, você está bem? –perguntou Hermione, correndo depressa para ajudar o amigo. Apontou a varinha e lançou-lhe um feitiço não-verbal, que o fez respirar aliviado.
-Obrigada, sim estou bem... –falou ele, olhando significativamente para Rony. –Bom, estou cansado e vou dormir... –falou ele, esperando deixar os amigos a sós por algum tempo, mas logo Hermione o segurou pelo ombro.
-Espera só um minutinho Harry! Encontrei uma coisa esta manhã lá no sótão, que você realmente precisa ver... –falou ela, com um brilho no olhar.
Puxou novamente sua varinha, e uma caixa de papelão veio ao encontro deles.
-O que é isso? –perguntou Rony.
-Encontrei algumas coisas dos seus pais Harry! Fotos e documentos...
Harry pegou uma pequena foto desbotada, onde ele e seus pais se movimentavam alegremente por uma praia tranqüila. Harry sorriu. Passou a mão pela foto, e Harry percebeu uma estranha luz emanar do pescoço de sua mãe. Focalizou novamente o olhar, mas não viu mais nada, apenas um pingente de pedra em torno de seu pescoço.
-Harry, olha só isso... –chamou Rony, com um pergaminho amarelado em mãos. –É do seu pai... –completou, entregando o pergaminho nas mãos do amigo.
-É um certificado de auror! –falou Harry.
-É isso ai... E olha só isso, Harry, é da sua mãe... –confirmou Mione, com outro pergaminho em mãos. –É uma Ordem de Merlin, segunda classe. Parece que sua mãe contribuiu em algo muito importante ao Departamento de Mistérios!
-Como assim, ao departamento de mistérios? –perguntou Harry.
-Sua mãe trabalhou lá... E tem mais uma porção de condecorações... Ao seu pai também há uma Ordem de Merlin, primeira classe, por enfrentar Comensais e Você-sabe-quem juntos... E há mais coisas lá em cima, e...
Mas Hermione foi interrompida por Rony.
-Olhem lá, uma coruja! –falou ele, apontando em direção a uma janela, onde descansava uma coruja parda, que carregava um pergaminho em seu bico.
Hermione correu a janela, e a abriu para permitir ao pássaro entrar. Este por sua vez, sobrevoou perigosamente a cabeça de Harry e deixou cair a mensagem em seu colo.
-“Harry, gostaria de convidar você, o Sr. Ronald Weasley e a srta. Hermione Granger para comparecerem a Hogwarts neste fim de semana, para conversarmos sobre alguns assuntos importantes. Atenciosamente, e aguardando sua coruja, Minerva Mc.Gonagal.” - leu Harry em voz alta para os amigos.
-O que será que ela quer? –perguntou Hermione, mais para si mesma do que para os garotos.
Harry deu de ombros.
-Pensei que Hogwarts havia fechado... -falou Rony.
-Isso não impede os professores de continuarem dar aulas aos alunos que se arriscam a voltar para lá, Rony! –respondeu Hermione, astutamente.
-Hermione, pode me emprestar uma pena para avisá-la de que vamos? –perguntou Harry.
Uma pena materializou-se a frente de Harry, e enquanto ele respondia a professora, Rony comentou.
-Você está realmente boa nesses feitiços não-verbais, não é mesmo? –comentou. –Gostaria de saber como você...
-É como aparatação! Você só precisa concentrar-se o suficiente... –respondeu ela simplesmente, com um sorriso nos lábios.
Rony resmungou alguma coisa que Harry não conseguiu ouvir, e Hermione respondeu com uma careta.
-Finalmente vocês dois estão de volta! Sei que pedi para que não brigassem, mas a vida se tornou monótona ultimamente sabia? –falou Harry, repentinamente alegre e confortável.
-Agradeça ao Uon-uon... –falou Hermione, ao deixar a sala, em direção ao seu quarto, um ar superior, muito familiar aos rapazes, envolvendo seu rosto.
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